quinta-feira, 30 de novembro de 2023

Guiné 61/74 - P24900: Os nossos seres, saberes e lazeres (602): Abandono do Património Histórico (Victor Costa, ex-Fur Mil At Inf)

1. Mensagem do nosso camarada Victor Costa, ex-Fur Mil At Inf, CCAÇ 4541/72 (Safim, 1974), com data de 7 de Novembro de 2023:

Amigos e camaradas da Guiné,
Os Salgados da Guérande, Noirmoutier e a ilha de Ré no Norte de França são muito antigos e começaram a degradar-se após a 2.ª Guerra Mundial. O Governo Central, assumindo que estas salinas eram uma parte da História de França, decidiu proceder à sua recuperação.
Foi aprovado um plano de longo prazo, assumiram que competia às Comunas a construção dos acessos, rede viária, limpeza, manutenção e iniciaram parcerias com o sector privado para apoiar a recuperação das Salinas.

O resultado foi a recuperação do património histórico, recuperou as profissões ancestrais da produção de sal artesanal e Flor de sal, valorizou a indústria turística e teve o retorno económico de volta.
O sucesso francês reside na sua forma de organização política. Este plano de longo prazo, contou também com o envolvimento dos Presidentes das Comunas e dos seus antecessores que apesar de perderem as eleições continuam a participar e a serem ouvidos.

Neste Salgado o escoamento da produção de sal era feito através do Braço Sul e Norte do Rio Mondego para os armazéns do Porto de Lavos e para o "trapiche"! do Porto da Figueira da Foz, cada barco de sal transportava 10 Ton, mas devido aos custos do seu transporte a actividade tornou-se inviável a partir do final dos anos 60.
Coube à Organização de produtores FozSal e à sua Direção alterar a forma de escoamento da produção de sal.

Como mostra a escritura de aforamento de 1765 que junto em anexo, desde o tempo da construção das salinas que existiam caminhos, para a deslocação de gentes e gados no Salgado da Figueira. A FozSal aproveitou parte desses caminhos para construir a atual rede viária existente.
Coube também à FozSal a manutenção dos caminhos e isso permitiu travar o abandono das salinas e manter activo o Salgado, mas como todos usam, estes tornaram-se públicos.

Hoje estes caminhos são mantidos à custa dos produtores e depois de mais de 20 anos na Direção da FozSal os velhos como eu cansaram-se e deram o lugar aos novos, mas a tendência de abandono mantém-se. Hoje em Portugal "importamos" o que há de pior no mundo, mas os bons exemplos como o francês acima citado, que vi com os meus olhos em 2005 quando integrei a delegação do Salgado da Figueira da Foz na minha deslocação aqueles Salgados do Norte de França não são aplicados.

Em nome da Democracia e da Descentralização compete às Autarquias construir e manter os caminhos rurais, mas a jurisdição do DPM pertence à APA e como esta depende do Poder Central e nada faz, continua o público a usar recaindo sobre os privados a construção e a manutenção dos caminhos.

Conclusão:
Todos usam os caminhos do Salgado e querem manter os seus direitos, gostam de ver os "escravos" perdão quis dizer as salinas a funcionar, mas no que toca a deveres, ninguém tem nada a ver com isso e muito menos o Poder Central.
Esta nova geração também é mais "fina", já não trabalha por amor à camisola, não respeita a História e as actividades dos nossos antepassados, é egoísta e pensa que só tem direitos e não tem deveres para com a sociedade.

Esta é uma pequena parte da História do Salgado da Figueira da Foz.

Segue a história da salina das Craveiras ou de D. Dulce, e o aforamento da Tapada do Sul por Fernando Gomes de Quadros.

Doc. 1- Aforamento feito pela Rainha D. Dulce (D. Sancho I) de uma marinha no termo da vila de Lavos, feita no mês de Janeiro. Era 1255 (1217).

Ao longo dos tempos a superfície de evaporação e cristalização desta marinha, foi sendo partilhada por vários produtores, mas no essencial manteve o seu traçado original até que um dos proprietários decidiu provocar algumas modificações em 1988.
Doc. 2 - Localização geográfica de parte da salina acima citada na Planta do Cap. de Fragata Francisco M. P. da Silva de 1862.
Doc. 3 - Planta de localização no mapa da CRPQF de 1955.
Doc. 4 - Cartão Profissional de Mestre de marinhas cuja cópia me foi oferecida pelo seu titular José Maria Ferreira, também conhecido por José Maria Fana, antes de falecer.
Doc. 5 - Escritura de aforamento da Tapada do Sul.
Doc. 6 - José dos Santos Pinheiro citado na escritura era na verdade José Joaquim dos Santos Pinheiro Cavaleiro na Ordem de Cristo.

Tal como no Salgado de Castro Marim, o Salgado de Lavos está muito ligado à Ordem dos Templários, mas com a decisão de D. Dinis de os mandar de "férias" durante quatro anos lá para baixo, ficaram a pertencer à Ordem de Cristo.

"Lavos Nove Séculos de História" foi apenas uma pequena parte, mas haverá sempre alguém numa "Torre" ou num Arquivo qualquer que virá acrescentar algo.

Escrever sobre o Salgado exige investigação, nas Craveiras foi o Capitão Mano e na Tapada do Sul foi o ex-Fur Mil Victor Costa mas quando nos agarramos a uma narrativa escrevemos apenas para alguns e perdemos a credibilidade.

Um abraço,
Victor Costa
Ex-Fur Mil At Inf da CCaç 4541/72


Nota: Clicar nas imagens para ampliar
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Notas do editor:

Vd. poste de 31 DE MARÇO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24181: Os nossos seres, saberes e lazeres (565): Diferenças entre o Estado de Direito e o Estado de Direito democrático (Victor Costa, ex-Fur Mil At Inf)

Último poste da série de 25 DE NOVEMBRO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24886: Os nossos seres, saberes e lazeres (601): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (130): Querubim Lapa, mago da cerâmica azulejar, mas irrefutável pintor e desenhador neorrealista (1) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P24899: A minha ida à guerra (João Moreira, ex-Fur Mil At Cav MA da CCAV 2721, Olossato e Nhacra, 1970/72) (19): HISTÓRIA DA COMPANHIA DE CAVALARIA 2721: Capítulo II - Actividades no TO da Guiné - Mês de Agosto de 1970



"A MINHA IDA À GUERRA"

19 - HISTÓRIA DA COMPANHIA DE CAVALARIA 2721: CAPÍTULO II - ACTIVIDADES NO TO DA GUINÉ

MÊS DE AGOSTO DE 1970

João Moreira



SITUAÇÃO
1. TERRENO
O capim cresceu desmesuradamente, as bolanhas estão alagadas. Os percursos tornam-se mais difíceis embora de dia a chuva ajude pois refresca.
Emboscadas noturnas insuportáveis pois a chuva é permanente.

2. NT
Mais experientes e adaptados, como é natural. Actuação calma.

b. ACTIVIDADE
Actividade normal com 1 saída diária.
Em 07AGO70 operação ALMA MINHA do BCAÇ 2861.
Uma série de notícias referem concentração de Grupo IN (MAQUÉ) na região de NHANE, BISSAJAR, BANCOLENE.
A CCAÇ 13 de BISSORÃ e a CCAV 2721 seguem juntas até BISSAJAR onde se separam. A CCAV 2721 para se dirigir a NHANE a CCAÇ 13 para BANCOLENE e JAGALI MANCANHA. Dois contactos da CCAÇ 13 em que sofre 1 ferido grave e provoca 2 mortos confirmados ao IN, recupera 3 (M) e 3 (C), captura 1 pistola e 1 canhangulo e destrói 5 casas de mato e meios de vida.
A CCAV 2721 não contacta e recupera 1 (M) em NHANE.
A operação foi comandada por PCV pelo Cmdt. Batalhão e foi apoiada por 1 heli-canhão.
Em 19 fugiram 2 mulheres que tinham sido recuperadas em JULHO em IRACUNDA.
Domingo, 231700, grupo IN não estimado flagelou o quartel e povoação com morteiro 82 durante 10 minutos, de BINTA 7E6 provavelmente. Provocou 1 ferido grave e 1 ligeiro, ambos civis. Foi pedido apoio aéreo visto ser a melhor maneira de provocar baixas. Dois FIAT não se fizeram esperar e metralharam a zona.
Mais tarde, série de notícias C-3 recebidas da CCAÇ 2465 refere que o IN sofreu 5 mortos nesta flagelação, entre os quais um comandante de grupo. Estas notícias são no entanto improváveis no julgar deste comando.
Em 26 fugiu 1 homem que fazia parte do grupo recuperado em IRACUNDA. Com este homem iam a fugir mais 4 mulheres que no entanto foram impedidas por elementos da população nos trabalhos agrícolas.
Nota-se já com a experiência que fica de Companhias anteriores que os MANDINGAS fogem muito enquanto que os BALANTAS pouco.
Este facto não deverá ser só atribuído a idiossincrasia étnica, a mentalização, etc.
Assim o facto mereceu uma pequena investigação, e algumas conclusões expostas no relatório A/P.

​EXTRACTO DO RELATÓRIO PERIÓDICO DE ACÇÃO PSICOLÓGICA N.º 5/70

FACTORES DA SITUAÇÃO PSICOLÓGICA

POPULAÇÃO

Motivações susceptíveis de virem a ser exploradas pelo IN
Acerca da fuga de recuperados mandingas, muito mais frequentemente que de outras etnias, provoquei uma discussão aberta entre os chefes da população fixados no OLOSSATO e elementos recuperados tendo chegado a uma conclusão que é possível tenha interesse:
(a) Um dos motivos que os levam a fugir são laços afectivos com elementos que ficaram no mato, por ordem de importância: filhos, maridos, mulheres e irmãos.
(b) No entanto há um outro, talvez ainda mais importante e que segundo concluí, conhecida mesmo entre a população controlada pelo IN e que pode ser um dos factores impeditivos de apresentações além de, como já disse, provocar fugas:
- Os recuperados, quando são libertados para se integrarem na população, vão, como é natural, para casas de parentes com os quais habitam e colaboram até poderem adquirir a autonomia social e económica.
Ora, enquanto entre fulas e balantas existe uma verdadeira vontade de entreajuda, entre os mandingas (nos quais se nota desde a chegada dos parentes um excesso de zelo e de afinidades de parentesco) persiste um certo espírito de exploração económica e de cobiça sexual, que tentam efectivar à sombra da bondade e vontade de ajuda do parente desprotegido.
Assim este último, ao fim de algum tempo começa a sentir-se alvo de pressões a que dificilmente tem coragem para resistir (não têm os parentes as "costas largas" com o apoio e confiança das autoridades civis e militares, enquanto elas são as réprobas, têm a "cabeça cheia de vergonha" e não devem merecer a total confiança das autoridades? - possivelmente serão os próprios parentes que lho faz "ver" explícita ou implicitamente por meio de observações, conversas, insinuações, censuras) e vai cedendo lentamente, parte das vezes permitindo até violações à tradição que tão fortemente o marca. A rapariga que tem o noivo no mato e se vê a casar com um camafeu estabelecido. O artífice que vai começando a ganhar "patacão" e é explorado "ab início" sob a alegação que está a ser ajudado pelo anfitrião. O "tio"ganancioso que recolheu em casa a rapariga recuperada e põe dificuldades ao seu casamento com o rapaz de que gostou porque quer receber o pagamento respectivo, (pois o pai dela está no mato, "sabe-se lá onde e como coitado") mas não tem direito a esse pagamento enquanto o pai dela for vivo, podendo aparecer em qualquer altura e exigir o dote à família do rapaz que não está para pagar duas vezes (não se trata aqui de respeitar um direito de tutor visto a rapariga ter já entrado na maioridade). O velho ou quase, que cobiça os braços da rapariga para a lavoura e a sua beleza e juventude para carinho e prestígio senil, forçando-a sob pretexto de gratidão a união desigual.
Enfim, um sem número de pressões, pequenos ultrajes, a que recuperado se vê sujeito no seio dos seus próprios irmãos e que forçosamente afectam a sua vontade de permanência.
Quase me arriscaria a dizer que o problema dos familiares (mesmo os filhos) ficados no mato, é de somenos importância, perante a submissão a que se veem obrigados, até porque a psicologia gentílica é muito mais atreita a factores de ordem económica e social do que propriamente a uma afectividade na maior parte das vezes consequência daqueles mesmos factores.
Suponho que o problema existe realmente e não é de desprezar para recuperação e integração dos Mandingas.

Em 27 durante a picagem da estrada para BISSORÃ, para uma coluna de reabastecimento, foidetectada e levantada 1 mina A/C reforçada com 1 mina A/P em BINTA1I8.31.

Da crítica à Act. Op. n.º 78 do COMANDO-CHEFE consta que:
"A CCAV 2721, que vinha desenvolvendo apreciável actividade, acusou, no período, ligeira quebra de rendimento".
A esta crítica respondeu o BCAÇ 2861: "Em referência à crítica supra, informo V. Exª. que a ligeira quebra de rendimento da CCAV 2721 foi devido ao facto de nos dias 29 e 30 de Julho, embora previstas acções nas regiões de BISSAJARINDIM e COLI SARE, conforme constava do Planeamento da Actividade Operacional elaborado pela CCAV 2721, aprovado por este Comando, do qual se envia 1 cópia, se terem realizado colunas auto entre OLOSSATO-BISSORÃ e BISSORÃ-OLOSSATO.
Por lapso não foi mencionado no n/SITREP n.º 529, a realização da coluna auto, BISSORÃ-OLOSSATO, a cargo da CCAV 2721.

Da crítica n.º 80 transcreve-se:
" . . . anotando-se ausência da actividade noturna da guarnição do OLOSSATO (CCAV 2721)."

(c) RESULTADOS
- Baixas ao IN
Recuperado - 1 elemento da população
Apresentado - 1 Elemento da população

- Material capturado
Mina A/C - 1 levantada
Mina A/P - 1 levantada

- Baixas NT
feridos - 2 elementos da população


Com baixa para saídas, por ter arrancado uma unha e não poder calçar.
Bilhete de Identidade Militar

(continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 23 DE NOVEMBRO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24877: A minha ida à guerra (João Moreira, ex-Fur Mil At Cav MA da CCAV 2721, Olossato e Nhacra, 1970/72) (18): HISTÓRIA DA COMPANHIA DE CAVALARIA 2721: Capítulo II - Actividades no TO da Guiné - Julho de 1970 - Acção "Bacará"

Guiné 61/74 - P24898: Coisas & loisas do nosso tempo de meninos e moços (23): Pequeno glossário do português... à moda do Porto


Porto > 2016 > Zona Histórica do Porto > "Pormenor do Morro de Penaventosa visto do miradouro da Vitória. Casario, Sé Catedral, Paço Episcopal e Igreja de S. Lourenço, mais conhecida como Igreja dos Grilos"... 

Foto (e legenda) do nosso saudoso camarada, e grande fotógrafo, amante da "Invicta", o Jorge Teixeira (Portojo) (1945-2017) (ex-Fur Mil Arm Pes Inf, Pelotão de Canhões S/R 2054, Catió, 1968/70), membro do Bando do Café Progresso.  Publicada  no seu blogue A Vida em Fotos (2 de setembro de 2016), que ele criou em março de 2010 e que alimentou, com grande rigor e  paixão, até fevereiro de 2017, a escassos dois meses de morrer (7 de abril de 2017). É  uma das mais completas fotogalerias do Porto, que eu conheço.  Foto reproduzida aqui com a devida vénia... e com muita saudade.


1. Nesta série sobre os "falares" da gente do nosso tempo de meninos e moços (*), não podia faltar o calão e a gíria do Porto, que é mais do que a cidade, a zona histórica, a  Invicta... "O Porto é uma "Naçom", o Porto e o Grande Porto, ultrapassando as barreiras físicas do rio Douro e da estrada da circunvalação.  

Os nossos camaradas do Norte até trocavavam os bês pelos vês, de indignação,  se a gente não postasse aqui o "galizo" deles... Ora eu não quero que eles digam que eu tenho a mania de ser "dono da estação de São Bento", até porque já tenho uma costela nortenha (daqui a dois anos  vai fazer meio século desde que "cambei" pela primeira vez o rio Douro, na Arrábida, e depois o Tâmega,  em Canaveses)... 

Para que não me chamem mouro, sarraceno, sulista, e outros mimos, aqui vai uma pequena amostra que recolhi, em cima do joelho,  e que atesta a riqueza, a plasticidade, a criatividade, a graça, a verve, o pícaro, o humor  dos falantes da língua portuguesa da "Inbicta"... Outros contributos, e nomeadamente dos camaradas nortenhos, serão bem vindos. Naturalmente que algumas  destas pérolas linguísticas também circulam pelo Sul. E outras podem ter caido em desuso...
LG


Pequeno glossário do português
... à moda do Porto

Alapar –  Assentar
Amarfanhar – Apertar, roubar
Amassos – Troca de carícias
Andar à gosma – Viver à custa dos outros, andar na moinice
Andar de calcantes  Andar a pé
Andor biolete - Desanda
Andrades - Adeptos do FC Porto (não cofundir com "tripeiros")
Apanhador – Pá para o lixo
Arpoar - Fazer uma conquista amorosa
Arreganhar a tachá – Rir à  gargalhada
Arrostar postas de pescada –  Rir à gargalhada
Azeiteiro – Rufia, malandro, chulo

Badalhoca – Porca, desmazelada, prostituta; também nome de uma famosa tasca no Porto
Badeleira  – Mulher que fala demais
Barona – Beata, ponta do cigarro
Basqueiro – Barulho ("Alto basqueiro)
Benha ! – Venha! (termo usado pelos arrumadores de carros)
Besuntas – Mulher muito gorda
Bezana – Bebedeira
Bisga – Escarro
Bitaites – Palpites, dicas, bocas
Bófia –  Polícia
Bóias  Mamas, seios
Bolacha – Bofetada
Boa (boua) como milho  – Diz-se de uma mulher gira
Briol  Frio
 

Cabeça de giz – Polícia sinaleiro (figura cada vez mais rara)
Cachaço – Bofetada no pescoço
Caga e tosse –  Não anda nem desanda
Calacantes baris – Sapato fino
Canalha – Criançada
Carago –  Caraças; forma eufemística de dizer c...alho (o falo, o orgão sexual masculino; do esanhol, "carago")
Cav(b)alão  –  Mulher "atoucinhada" (como diria o Camilo Castel Branco) e de pêlo na venta
Chá de bico – Clister
Chaço – Carro velho,  também "chocolateira"
Choninhas  Gajo mole, sem iniciativa (também se diz "Cunanas")
Chotegane – Arma, arma de cano curto (do inglês, "short gun")
Chica –  Menstruação 
Chuço – Guarda chuva
Coiras – Chatas, más. 
Coirão –  Indivíduo reles com cabedal de respeito
Cor de burro quando foge – Diz-se quando não se sabe a cor de algo
Cresce e aparece  Desanda
Croque – Pequeno murro na cabeça com os nós dos dedos
 

Dar corda aos sapatos 
– Deitar a fugir
Dar corda aos v(b)itorinos – Correr
Dar de frosques – Fugir
Dar lhe a filoxera  Desmaiar
Dar o garfeiro todo – Doer os dentes
Dia de pica-boi  Dia de trabalho
Deitar a fateixa  Conquistar (uma mulher)
Desatinar Dar uma volta
Dobradiças – Joelhos

Encher a mula – Comer muito
Enchousadela – Bater, tareia
Engrupir – Enganar
Estapor – Estupor, mau, cruel
Estar de beiços – Estar amuado
Estar de gesso – Diz-se de alguém que não trabalha
Estar com os bitorinos encharcados – Estar bêbado
Esticar o pernil – Morrer
Estrugido – Sarilho, encrenca ("Meter-se num estrugido"). mas também ligação amorosa ("Ter um estrugido")


Fajardice Trafulhice
Falar para a central – Falar sem ser ouvido ou ouvir sem prestar atenção. 
Faneca – Gaja boa, bonita
Fino  Imperial (cerveja)
Fino como um alho  – Esperto, vivaço, sagaz, astucioso
Fisgar –  Engatar
Flauta 
– Pénis
Foguete – Buraco nas meias (collants)
Foleiro das garulas  – 

Gabardina 
 Preservativo (masculino)
Galga  Mentira, mas também pénis
Galgueiro – Mentiroso
Gangada – Seita, grupo de rapazes, normalmente organizado
Garulas  –  Pernas ("foleiro das garulas", mal ds pernas)
Grav(b)eto  Dinheiro
Grito  Frio
Guna – Ranhoso; rapaz ou rapariga de origem social baixa, de "bairro camarário" que usa roupas de marca, por vezes brincos e boné de pala virado ao contrário

Ir de saco – Ser preso
Ir fazer tijolos  – Morrer
Ir medir caixotes – Morrer

Jeco – Cão

Laurear / laurear a pev(b)ide – Passear, pavonear-se 
Labagice – Porcaria, mistura de comida
Lázaro – Idoso, asilado
Leiteira  Sorte
Leiteirão – Sortudo
Lontra – Pessoa obesa, gorda, que come muito
Lostra  Chapada, estalo

Mais v (b)ale uma rua do Porto que a Gaia toda (lê-se: "cagai-a toda") 
Mamona – Pessoa interesseira
Mandar uma bisga  Escarrar para o chão
Mandar uma traulitada – Dar um murro
Mânfio – Sabidola, astuto
Manguela – Malandro, indivíduo preguiçoso
Martelar – Fazer sexo
Matrona – Mulher desmazelada
Meter os garfos    Palmar, tirar dos bolsos de alguém
Micar  – Perceber, entender,observar
Mijão – Sortudo, "leiteiro"
Mitra - Infiltrado
Moina – Polícia
Molete – Pão, carcaça
Mor – Termo utilizado pelas vendedeiras, abreviatura de «amor» 
Morcão – Estúpido, lorpa

Nardo  – Pénis (também se diz sarda, morcela)
Narizinho de cheiro – Diz-se de alguém que se ofende facilmente, vidrinho
Negócio das carnes – Prostituição

Ouras (Ter) – Ficar atordoado, enjoado

Paiba – Cigarro de substância ilegal
Paleógrafo – Conversa fiada ( “Gajo cheio de paleógrafo”)
Pandeireta – Mulher velha
Pandorca –  Badalhoca, mostrengo, vasculho
Pasteleira – Bicicleta velha, pesada
Passar a ferro – Possuir sexualmente; atropelar
Pastelão – Omeleta; patanisca;  pessoa muito lenta
Pastor – Palerma
Peixão –  Mulher que dá nas vistas, lasca, traço
Picar o ponto – Namorar
Pinoca –   Indivíduo bem arranjado
Pipi da tabela   Todo pinoca, bem vestido, efeminado
Pito - Crica, vagina, mas também frango ("Bibó Pito da Maria")
Play-mobil – Polícia; agente da autoridade
Pôr-se a fancos  – Estar atento, ter cautela
Presunto  – Parolo

Quilhar  – Usado como em “vai-te lixar”

Rópia 
 Vaidade
 
Sameira – Carica, sama,
Selo – Mancha, sujidade nas cuecas
Sêmea – Rabo de mulher
Sertã – Frigideiram da cabeça
Sofrer da cuca –  Não regular bem da cabeça
Sostra – Pessoa preguiçosa

Tecla Três – Anormal, deficiente (por analogia da tecla 3 dos telemóveis)
Toura – Mulher jeitosa
Trav(b)esseira - almofada
Trengo – Atrasado, apalermado
Tripas a moda do Porto  Dobrada
Tripeiro  – Natural do Porto (não confundir com "andrade", adepto do FCP)
Tótil – Muito, “bué”, "manga de" (como se dizia na Guiné)
Trombil – Cara, "fuças"

V(b)ai-te, Afonso 
 Vai-te quilhar, lixar, f...der
V(b)ai no Batalha – Mentira, filme (referência ao cinema Batalha)
V(b)agem – Feijão verde
V(b)ergar a mola – Trabalhar
V(b)idrinho  Diz-se de alguém que é muito suscetível
V(b)ira-v(b)entos  Volúvel

Zaruca 
 O mesmo que sofrer da cuca
Zequinha – Pessoa meio apalermada

Com os contributos de: António Graça de Abreu, Carlos Vinhal, Fernando Ribeiro, Joaquim Costa, Jorge Teixeira, Valdemar Queiroz
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Fontes (além dos dicionários de português e da Net):
  • Almeida, José João - Dicionário aberto de calão e expressões idiomáticas (recolha de José João Almeida,. Universidade do Minho. 2023. Disponível em https://natura.di.uminho.pt/~jj/pln/calao/dicionario.pdf
  • Brito, João Carlos - Dicionário de Calão do Porto. Editora Lugar da Palavra, 2016 (Tem mais de 4 mil verbetes ou entradas)
  • Pacheco, Hélder - Porto: outra cidade. Porto: Campo das Letars, 1997.
  • Praça, Afonso - Novo Dicionário de Calão", 2ª ed. rev. Lisboa, Editorial Notícias, 2001.
  • Simões, Guilherme Augusto - Dicionário de Expressões Populares Portuguesas. Lisboa: Perspectivas & Realidades, 1985.
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Nota do editor:

quarta-feira, 29 de novembro de 2023

Guiné 61/74 - P24897: Historiografia da presença portuguesa em África (396): "Viagem ao arquipélago dos Bijagós", 1879, por Maximin Astrié (1) (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 25 de Abril de 2023:

Queridos amigos,
Há para aqui um sexto sentido que me alerta para o facto de, pelo menos, ter folheado este opúsculo, não acredito tê-lo traduzido como hoje pretendo. Não é só rico em termos antropológicos. Temos forçosamente de nos interrogar o que era a nossa presença nos Bijagós, é inequívoco que a presença francesa tinha gradualmente ganho peso, eram as tais pretensões de ficar na posse das ilhas e estender o seu domínio até ao rio Nuno, sabemos como a diplomacia francesa saiu vitoriosa ao levar-nos a assinar a convenção luso-francesa de 12 de maio de 1886, tomaram posse de toda a região do Casamansa, cortaram-nos o caminho para os entrepostos da Serra Leoa. Devemos a este negociante francês um relato bem urdido, há que questionar porque nunca tenha sido publicado em português.

Um abraço do
Mário



Viagem ao arquipélago dos Bijagós, 1879 (1)

Mário Beja Santos

A Biblioteca da Sociedade de Geografia de Lisboa possui um exemplar de Viagem ao Arquipélago dos Bijagós, por Maximin Astrié, negociante francês em Bolama, Luchon, 1880, o exemplar foi uma oferta de Godefroy Gairaud, vice-cônsul de Portugal em Carcassonne. Lembro-me perfeitamente de ter deitado uma vista de olhos a este texto, mas não me recordo de o ter traduzido no essencial, tem elementos até de caráter antropológico do maior interesse. E ficamos claramente a perceber que em 1878 a nossa presença nos Bijagós era por demais ténue. Vamos então ao essencial do texto. Astrié começa por informar o leitor que o arquipélago dos Bijagós está situado na costa ocidental africana entre a Senegâmbia e a Serra Leoa. Com exceção de Bolama, que tem sido civilizada há cerca de 2 séculos pelos portugueses, servindo de entreposto no tráfico de escravos durante muito tempo, estas ilhas são praticamente desconhecidas.

Estamos em Bolama em 1878, recebi de Marselha um telegrama convidando-me a explorar os Bijagós, em caso afirmativo deveria viajar rapidamente até Marselha. O telegrama fora-me enviado pelo sr. Aimé Olivier, homem extraordinário que fundara estabelecimentos na Ásia e África. Acedi viajar até Marselha, fui recebido com um calor tão comunicativo, tinha tal entusiasmo a expor as esperanças que depositava no futuro comercial do país nestas regiões. Não hesitei um instante em aceitar a missão. Cheguei a Bolama em 1 de fevereiro de 1879. Comecei as minhas explorações por Orango, havia dois motivos para me ter decidido primeiramente por esta ilha: é a mais importante do arquipélago e possuiu o mistério de ruídos misteriosos.

É governada pelo rei Oumpané Bijougoth, é um déspota, possuidor de uma tal crueldade que afasta do seu território todos os estrangeiros. Embarquei na chalupa Marie com mais cinco homens na equipagem, incluindo um intérprete de nome Samba Sala, um piloto e um cozinheiro. Recebera na véspera do agente consular francês em Bolama uma carta do seguinte teor: “Meu caro senhor Astrié, tomei conhecimento que se quer aventurar na ilha de Orango. Na minha qualidade de compatriota e amigo, creio dever-lhe pedir energicamente que desista deste projeto. O rei dessa ilha pratica tais atrocidades, como é o caso agora dos marinheiros austríacos que naufragaram nessas terras. Não gostava de o ver exposto a tais perigos, a prejuízos pessoais que porventura exigiriam a intervenção do governo francês; e assinava." Não me demovi, a resolução estava tomada.

Ultrapassadas as dificuldades, viajou-se até Orango. Confesso que não foi sem uma certa emoção que munido de um óculo fui verificando as sinuosidades desta terra, donde talvez eu não voltasse. Fomos recebidos com demonstração de grande regozijo, o intérprete parlamentou com os indígenas, fiquei a saber que o rei me receberia na sua morada.

A tabanca ou residência do rei ficava a cerca de 1,5 km da praia. Chegámos a uma autêntica floresta de laranjeiras no meio da qual ficava a residência do rei, uma casa redonda composta de uma paliçada de bambus e com teto de palha. O rei esperava-me sobre um pódio, uma espécie de peristilo informe onde ele habitualmente praticava a justiça. Estava sentado sobre um escabelo em madeira. Era um homem de cerca de 35 anos, olhos penetrantes, nariz de abutre, coberto por uma tanga. Trazia uma espécie de chapéu alto, tal como usam todos os reis do arquipélago. Vi que tinha na sua coxa direita uma ferida horrível, asquerosa, com pus esbranquiçado, indicador de uma doença muito espalhada pelas populações da costa ocidental africana. De tempos a tempos sua majestade pressionava esta ferida horrenda com os seus dedos e depois limpava-se com um gesto desprovido de nobreza no seu ministro da Justiça. Ofereceu-nos escabelos e começámos a conversar, com recurso a intérpretes.

Muitos viajantes têm o hábito deplorável de se apresentar como se estivessem a conversas diretamente com os indígenas para lhes conhecer a língua. Com o recurso de Samba Sala, o rei dirigiu-me as seguintes palavras: “Quer o Irã, o mais poderoso dos deuses, que tudo o que vou dizer seja a expressão da verdade. Quer o Irã que da tua parte não me mintas. Vou imediatamente oferecer um sacrifício a todos os deuses. Fala, o que vieste fazer a estas ilhas?”

A população envolvia-nos, o círculo fechava-se cada vez mais, senti um odor nauseabundo que exalavam todos estes corpos untados de óleo de palma rançoso. O rei fez um gesto significativo com o bastão que empunhava, a multidão obedeceu-lhe alargando o círculo, ficando mais distantes de nós. Ofereci a sua majestade os presentes da praxe (um lenço para o pescoço, uma faca de talho, tabaco em folhas, um garrafão de aguardente). Recorrendo a Samba Sala, respondi nos seguintes termos: “Diz ao rei que estou pronto a satisfazer todas as suas questões com sinceridade. Vim a Orango para fazer com ele o comércio das nozes de palma, amendoim e borracha. Trago-lhe todos os produtos dos brancos (dinheiro em guinéus, tabaco e aguardente)”. Ao ouvir a palavra aguardente cresceu um murmúrio na multidão. E o rei respondeu: “Diz a este branco que compreendi todas as suas palavras. Vamos agora oferecer um sacrifício aos deuses e agiremos segundo a sua resposta.” E retirou-se, encarregando dois ministros de preparar a cerimónia. Durante os preparativos, trouxeram-nos laranjas, ananases e vinho de palma.

Reparei que uma jovem negra que se colocou atrás de mim com as pontas dos dedos procurava tocar-me o pescoço e manifestava o desejo de me ver o peito. Entendi não lhe recusar este favor e abri ligeiramente a minha camisa e a minha camisola de flanela. A multidão deixou escapar um clamor de espanto, tal a surpresa que lhe causava a brancura da minha pele. Não quis ficar sem resposta. É usual naquelas tribos da costa africana manifestar a sua galantaria às mulheres pressionando com delicadeza os seios e a extremidade superior do fémur, e o maior elogio que se possa fazer da sua beleza é a de mostrar admiração causada pela firmeza destas partes do corpo. Aproximei-me dela e cumpri o dever de responder à sua delicadeza. Mas nesse tempo o rei apareceu no limiar da porta e lançou-me um olhar que não tinha nada de amistoso, aquela jovem era uma das suas favoritas. Será a este fútil incidente que devo atribuir os acontecimentos seguintes?

A uma centena de metros do alpendre onde tínhamos conversado havia uma espécie de praça publicada cercada de laranjeiras e bananeiras. Tinham trazido todos os ídolos da ilha. Os mais belos eram grotescas estátuas em madeira, grosseiramente esculpidas e encimadas com uma espécie de chapéu alto. Havia também divindades secundárias, com cornos de cabra. A multidão esperava a chegada do rei para presidir ao sacrifício. Apareceu finalmente, pôs-se ao meu lado, sempre acompanhado dos seus ministros. A um sinal do rei, o sacerdote, após alguns salamaleques apresentou ao ministro da Guerra um soberbo galo que abanava vigorosamente a cabeça enquanto o ministro da Justiça o segurava pelas patas. Finalmente, o facalhão do sacerdote abateu-se sobre o pescoço do galo que caiu, decapitado, e se revolteou por terra em convulsões de agonia. O galo afastava-se claramente de mim e acabou estendido uns metros à frente. A assistência parecia ter ficado atónita e o rei levantou-se, sem proferir uma palavra. Os deuses tinham-se revelado desfavoráveis para mim. Anunciaram-me que eu estava preso.

Costumes bijagós, imagem publicada em Panorama, revista portuguesa de arte e turismo, Secretariado Nacional de Informação, Cultura Popular e Turismo, nº10/11, 1954
Régulos bijagós, fotografia de Luís Paulo Ferraz, com a devida vénia
Figura feminina ancestral bijagó, Irã, 1890, coleção particular
Pescador bijagó lançando redes, retirado do Correio da Manhã, com a devida vénia

(continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 22 DE NOVEMBRO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24872: Historiografia da presença portuguesa em África (395): O problema das florestas da Guiné portuguesa, anos 1950 (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P24896: Álbum fotográfico do António Alves da Cruz, ex-fur mil at inf, 1ª C/BCAÇ 4513/72 (Buba, 1973/74) (13): cerimónia da desactivação e entrega do aquartelamento ao PAIGC, em 4 de setembro de 1974 - Parte I


Foto nº 64 >  A LDG 105 "Bombarda" abicada em Buba. 


Foto nº  65 > O dia da entrega de Buba ao PAIGC, à espera da LDG: da esquerda para a direita: (i) de costas, militar que não identifico; (ii) o furriel Corola, do quadro permanente; e (iii) e o ex-fur mil Reis.


Foto nº 66 >  - A LDG  105, "Bombarda",  a chegar a Buba pela ultima vez, no dia 4 de setembro de 1974.


Foto nº  67 > A Companhia a preparar-se para a cerimónia da entrega das instalações ao PAIGC, com o arrear da bandeira nacional e hastear da bandeira da Guiné-Bissau.


Foto nº 67A > Pormenor da companhia em formatura (1)


Foto nº 67B > Foto nº 67A > Pormenor da companhia em formatura (2)


Foto nº 68A > Pormenor da companhia em formatura (3)


Foto nº 68B >  Pormenor da companhia em formatura (4) 


Foto nº 68 > Mais outro plano  da companhia  em formatura
 

Foto nº 69 > Mais alguns militares da nossa companhia.


Foto nº 70 > Outro aspeto da formatura.


Foto nº 71 > O ex-cap mil Braz Dias, comandante da 1ª C/BCAÇ  4513/72 (Bula, 1973/74)


Foto nº 72 > Ao fundo a tropa do PAIGC. Escassa população local assistiu à cerimónia, a avalitar pela reportagem fotográfica.
 
Guiné > Região de Quínara > Buba > 1ª C/BCAÇ 4513/72 (Bula, 1973/74) > 4 de setembro de 1974:   

Fotos (e legendas): © António Alves da Cruz (2023). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Último lote de fotos  (por ordem cronológica) do álbum do António Alves da Cruz (ex-fur mil at inf, 1ª C/BCAÇ 4513/72, Buba, 1973/74), que tem já mais de duas dezenas de referências no nosso blogue (foto à direita; lisboeta, vive em Almada onde trabalhou na Lisnave). 

Vão ser publicadas em três postes, e dizem respeito ao último dia da estadia em Buba, em 4 de setembro de 1974, na sequência da execução do plano de retracção do dispositivo e a desactivação e entrega do aquartelamento ao PAIGC,  de acordo com os compromissos assunidos no  Acordo de Argel, assinado em 25 de agosto de 1974, e que fixou a independência da Guiné-Bissau em 1o de setembro desse ano.

Dois dias depois, a 6 de setembro de 1974, o Anónio Alves da Cruz estava em casa (regresso de avião,  através dos TAM).

As fotos (renumeradas pelo nosso editor) foram enviadas em 4 de setembro último, às 19:34:

 Amigo Luís:

Dia 04/09/ 2023 faz 49 anos que saímos de Buba,  entregando depois de tanto sacrifício aquela pequena parcela do território da Guiné ao PAIGC. Vou enviar alguns slides desse dia, se quiseres publicar pela data tudo bem, se preferires seguir a sequência de fotos tudo Ok, na mesma. 
Ab, Cruz.

(Continua)
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Nota do editor:

Último poste da série > 21 de novembro de 2023 > Guiné 61/74 - P24870: Álbum fotográfico do António Alves da Cruz, ex-fur mil at inf, 1ª C/BCAÇ 4513/72 (Buba, 1973/74) (12): agosto de 74, momentos de convívio e descontração

terça-feira, 28 de novembro de 2023

Guiné 61/74 - P24895: O nosso livro de estilo (14): Proverbiário da Tabanca Grande, 5ª edição, revista e aumentada: "Protésicos, radioativos, parkinsónicos e/ou al(zhei)mareados"

"Não há tabanca.. sem poilão!"

Guiné-Bissau > Região do Óio > Maqué > 20 de Novembro de 2006 > Poilão, árvore sagrada, habitada pelos irãs... Mais uma chapa do famoso poilão de Maqué. Tirada pelo nosso camarada Carlos Fortunato, ex-Fur Mil da CCAÇ 13 (Os Leões Negros), na sua viagem de 2006 à Guiné-Bissau e à região do Óio.

Foto (e legenda): © Carlos Fortunato (2007). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1.  Em vias de comemorarmos, daqui a cinco meses, em 23/4/2024 (se lá chegarmos...),  os vinte anos de existência do nosso blogue, queremos continuar a ser a Tabanca Grande, "a mãe de todas as tabancas", mas também um espaço de partilha de memórias (e de afetos), um lugar de (re)encontros,  um espaço, na Net, "onde todos cabemos com tudo o que nos une e até com aquilo que nos separa", tendo por base a tolerância, o respeito mútuo ,  o pluralismo, a verdade, a boa fé, a camaradagem, a liberdade e a responsabilidade.

Referimo-nos, naturalmente, aos "amigos e camaradas da Guiné", e nomeadamente aos "antigos combatentes" que estiveram no teatro de operações da Guiné, entre 1961 e 1974...

"Proverbiário" (vocábulo que ainda não foi grafado nos nossos dicionários): é mais do que  uma simples coleção de provérbios e outros lugares comuns da língua portuguesa. 

São "frases feitas", "títulos de caixa alta do nosso blogue", "títulos dos nossos livros e séries",  "bocarras de tabanqueiro", "tiradas de humor de caserna", "expressões idiomáticas usadas no nosso blogue", umas mais efémeras do que outras, enfim, frases, comentários. máximas, etc., umas mais ligadas ao nosso Livro de Estilo, outras que, por uma razão ou outra, despertaram a nossa atenção... Ou são muito apropriadas à nossa condição de "espécie em vias de extinção", como aquela de que gosto muito, e que cai muito bem a alguns de nós, "autogestores" já de uma boa meia dúzia de doenças crónicas:   "Protésicos, radioativos, parkinsónicos e/ou al(zhei)mareados".

Muitas outras nos escaparam ao longo destes vinte anos a blogar, de 25 mil postes (ou postagens) publicados, de 100 mil comentários... De vez em quando, lá vamos repescando uma ou outra que ficou para trás... 

Os nossos leitores que acrescentem o que bem entenderem, desde que tenha relação, direta ou indireta, com o nosso blogue,as  nossas tabancas, a tropa e a guerra, enfim, a Guiné do nosso tempo...

A 4ª edição (revista e aumentada) já tem uns aninhos (2018) (*). Estava na altura de aparecer a 5ª edição, em 2023 (**).


O NOSSO PROVERBIÁRIO

A blogar é a que a gente... se entende.

A nossa Guinezinha, dizia a Cilinha

A 'roupa suja' lava-se na caserna, não na parada.

A sopa nossa de cada dia nos dai hoje!

A tropa vai fazer de ti... um homem!

Adeus, e até à... próstata!

Água de Lisboa, "manga di sabi".

Alfero Cabral cá mori!

Ainda pior do que o inferno da guerra, 
é o inverno do esquecimento dos combatentes.

Amigo do seu amigo, camarada do seu camarada.

Amigo traz amigo e amigo fica.

Ao luar, entre nevões, até as renas parecem pavões! (Zé Belo dixit)

Aponta, Bruno! (uma das muitas alcunha do nosso Com-Chefe, o gen Spinola)

Aqui o povo é quem mais... "ordenha".

A(r)didos e... mal pagos!

As nossas queridas enfermeiras paraquedistas: 
os anjos que desciam do céu.

As vacas roubadas que andam de mão em mão, acabam sempre comidas em boa ocasião (Salgueiro Maia dixit)

Até aos cem, ainda se aguenta, depois dos cem, só com água benta.

Até aos cem é sempre em frente!... E depois dos cem, 
é só para quem for resiliente...

Até aos entas, bem eu passo, dos entas em diante, 
ai a minha perna, ai o meu braço!...

Autogestores... de doenças crónicas.

Bazuca: o que fazia mal ao fígado, fazia bem à alma.

Beber a água do Geba.

Boa continuação da viagem pela picada da vida!... 
Cuidado com as minas e armadilhas!

Bom amigo, melhor camarada.

Bons tempos, Cabral, consigo ia ficando maluco! (Barbosa Henriques, capitão "comando" dixit)... E eu ia ficando "comando"!... (Alfero Cabral retorquiu)


Brincando por fora, sangrando por dentro.

Cabral só há um, o de Missirá e mais nenhum.

Cabrito pé de rocha [macaco] , "manga di sabi". 

Camarada e amigo... é camarigo!

Camarada não tem que ser amigo: é o que dorme contigo, 
no mesmo buraco, na mesma cama, no mesmo abrigo.

Camarada, mais do que um dever, é uma honra que te é devida, 
ir a Monte Real pelo menos uma vez na vida.

Camarada, que a terra da tua Pátria te seja leve!

Camarada, salvo seja!

Camaradas, na nossa já "bíblica" idade, a queda na "calçada portuguesa", pode ser desastrosa... 

Coitadinho de quem morre, morre e para a glória vai; quem cá fica, come e bebe e o pesar logo se vai.

Com a sua licença, meu general, a merda... que a gente come!

Combatente um vez, combatente para sempre!

Como camaradas que fomos (e continuamos a ser), tratamo-nos por tu!


Dão-se lições de artilharia para infantes.

Deportados para a Guiné... sem culpa formada!

Desaparecidos: aqueles que nem no caixão regressaram.

Desarmados, jubilados, reformados, aposentados mas não... arrumados.

Dezanove anos a blogar... são dez comissões na Guiné!

Diga se me escuta, oubo! (... Diga se me ouve, escuto!).

E depois da peluda... a luta continua! 

E quem não bebeu a água do Geba, nunca poderá entender
a vida, o conteúdo e o continente das nossas estórias.

E também lá vamos facebook...ando e andando.

E viva a Pátria! E viva o nosso General!... Puuum!!! [Gasparinho dixit]

É proibido fazer juízos de valor sobre o comportamento de um camarada (do ponto de vista operacional, disciplinar, ético, moral, social).

Encontro Nacional da Tabanca Grande: orar, comer.. 
e amar em Monte Real!

Entra e senta-te à sombra do nosso poilão.

Estás porreiro ou vais p'ró carreiro!?...

Estorninhos e pardais, aqui somos todos iguais.

Exorcizar os nossos fantasmas.

F... idos e mal pagos.

For the Portuguese Armed Forces from Scotland with love... 
[Da Escócia com amor, para as Forças Armadas Portuguesas.]

Futebol, política, religião... e sexo (ou falta dele) são 99% das nossas conversas... da treta.


Guerra do Ultramar, guerra de África, guerra colonial
(como se queira, ao gosto do freguês).

Guerra ganha, guerra perdida? 
Camarada, não percas tempo com a discussão do sexo dos anjos...

Guiné, da floresta verde e do chão vermelho.

Guiné, terra verde-rubra.

Guiné? ... Não era pior nem melhor, era diferente.

Guiné?... Não, nunca ouvi falar!


Há comentadores e comentadores: alguns são como o peixe e o hóspede, ao fim de três dias fedem...

Havia os desertores, os refratários, os faltosos... e nós.

Humor com humor se (a)paga.


In Memoriam: para que não fiques, pobre camarada, 
na vala comum do esquecimento.

Já estás com o bioxene, já estás com os copos, já estás! ()[Valdemar Queiroz dixit]

Já estou mal da cachimónia, / E eu aqui no treco-lareco, / A ouvir o próprio eco, / Na Tabanca da Lapónia.

Lá vamos blogando, recordando, (sor)rindo, 
e às vezes cantando, gemendo e chorando!

Lá vamos contando (e cantando) os quilómetros pela picada da vida fora!

Lembras-te, combatente, que és pó e em que em pó hás de tornar-te.

Lembra-te, ó português, a tua bandeira é a das cinco quinas, 
a dos cinco pagodes é na loja... do chinês!

Lugares ao sol, não temos... Só à sombra, do nosso poilão!

Luso-lapão só há um, o Zé Belo, e mais nenhum.

Mais morto de alma do que vivo de corpo.

Mais peixeiro do que carneiro... mais facebook...eiro do que blogueiro.. 

Mais vale andar neste mundo em muletas do que no outro em carretas.

Mais vale um camarada vivo do que um herói... morto!

Melhor que as bajudas, era a 'água de Lisboa' que nos fazia esquecer as bajudas.

Meu pai, meu velho, meu camarada...

Miguel & Giselda, o casal mais 'strelado' do mundo.

Muita saúde e longa vida, porque tu, camarada, mereces tudo.


Não deixes que o teu espólio de memórias 
vá parar à Feira da Ladra ou ao OLX.

Não deixes que sejam os outros a contar a tua história por ti.

Não é o Panteão Nacional, é melhor, é... a Tabanca Grande.

Não fazemos a História com H grande, mas a História não se fará 
sem a nossa... pequena história.

Não há tabanca sem poilão.

Nem mais um soldado... para as colónias! 

Nem medalhas ao peito nem cicatrizes nas costas.

Nem todos os dias faz anos aqui... um general.

Ninguém leva a mal: em cima o camarada, em baixo o general.

No céu... não há disto: comes & bebes!


O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande!

O mundo é só fumaça, e enquanto nele se passa, toca a... blogar!

O nosso maior inimigo: o Alzheimer (de que Deus nos livre!)...

Ó Pimbas, não tenhas medo!

O povo é sereno, é só fumaça!

O seu a seu dono: respeita os direitos de autor.

Ó Sitafá, deixa lá, cabeças e rabos de sardinha não são bem a mesma cois  [
Alfero Cabral dixit]

O último a morrer, que feche a tampa... do caixão.

Olhe que não, sr. general, olhe que não!

Os bravos não se medem aos palmos.

Os bu...rakos em que vivemos.

Os camaradas tratam-se por tu.

Os camaradas da Guiné dão a cara, não se escondem por detrás do bagabaga.

Os filhos dos nossos camaradas, nossos filhos são.

Os netos dos nossos camaradas, nossos netos são.

Os nossos queridos 'nharros'...


Para que os teus filhos e netos não digam, desprezando o teu sacrifício: "Guiné? Guerra do Ultramar? Guerra Colonial? 
Não, nunca ouvi falar!"...

Partilhamos memórias e afetos.

Patrício Ribeiro, o "pai dos tugas" em Bissau.

Periquito, salta pró blogue, que a velhice já cá está!

Periquitos até aos 6 meses, maçaricos até a um ano... 
e depois vê-cês-cês (velhinhos comó c...)

Porra, porra, lá iam lixando o Comandante-Chefe (Spinola dixit, quando o seu heli aterrou, por engano, numa "área libertada")

P'rós insultos, não há contemplações nem indultos.

Protésicos, radioativos, parkinsónicos e/ou al(zhei)mareados

Quando o último eucalipto deste país arder, despeçam o último bombeiro, por extinção do posto de trabalho.

Que Deus, Alá e os bons irãs te protejam!

Quem não faz 69, não chega... aos 100!

Quem não sabe beber, beba... merda!

Quem não tem poilão, acolhe-se à sombra do chaparro.

Quem não tem "turpeça", senta-se no chão... e quem "turpeça" também cai.

Rapa o fundo ao teu baú da memória.

Recorda os sítios por onde passaste, viveste, combateste, amaste,
sofreste, viste morrer e matar, mataste,
e perdeste, eventualmente, um parte do teu corpo e da tua alma...


Saber resolver os nossos diferendos, os nossos conflitos... 
sem puxar da G3!

Santo António de Bissau, / Bravo, meu bem, / De todos o mais casmurro,/ Quer do preto fazer branco, / Bravo, meu bem, / E do branco fazer burro.

Sempre presentes, aqueles que da lei da morte já se foram libertando.

Siga a Marinha!

Só há três coisas de que aqui não falamos: futebol, política e religião.

Somos uma espécie em vias de extinção.

Soubemos fazer a guerra e a paz.

Spinolândia, sim, Guiné, não.

Tabanca do Atira-te ao Mar (... e Não Tenhas!)

Tabanca Grande: a mãe de todas as tabancas.

Tabanca Grande: onde todos cabemos com tudo o que nos une 
e até com aquilo que nos separa.

Tabanca Grande: onde não há portas nem janelas  
nem arame farpado   nem cavalos de frisa

Tuga, que Deus te livre da doença do... Alemão.

T/T Niassa, Uíge, Ana Rita, Angra do Heroísmo... Os cruzeiros das nossas vidas.


Um blogue de veteranos, nostálgicos da sua juventude (René Pélissier dixit).

Um povo que sabe rir-se de si próprio, não precisa de ir ao psiquiatra.

Uma geração que soube fazer a guerra e a paz.

Uma guerra... a petróleo! (Tó Zé dixit)

Uma noite nos braços de Vénus, três semanas por conta de Mercúrio.  

Vamos à guerra, que a morte é certa.

Vê-cês-cês (velhinhos comó c...)
 
Vinte anos a blogar... são, no mínimo,  dez comissões na Guiné!

Volta, Zé Belo, estás perdoado! (disseram  os "sámi" ao régulo que queria "desertar" da Tabanca da Lapónia).
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Notas do editor:


(**) Último poste da série > 4 de agosto de  2021 > Guiné 61/74 - P22431: O nosso livro de estilo (13): Cumprir e fazer cumprir as nossas regras editoriais, prevenindo o risco do nosso blogue, respeitável e velhinho, com mais de 17 anos, ser bloqueado ou até banido do Blogger, como aconteceu ontem com o "apagão" de 3 horas (Os editores)