Mostrar mensagens com a etiqueta (Ex)citações. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta (Ex)citações. Mostrar todas as mensagens

quinta-feira, 16 de junho de 2022

Guiné 61/74 – P23356: (Ex)citações (408): Da parte operacional, pouco sei para além do que os meus amigos, quando vinham a Bissau, me contavam parte do que por lá passaram e também do meu serviço no Centro de Mensagens do QG (Carlos Pinheiro, ex-1.º Cabo TRMS/CTM/QG/CTIG)

1. Comentário do nosso camarada Carlos Pinheiro (ex-1.º Cabo TRMS Op MSG, Centro de Mensagens do STM/QG/CTIG, 1968/70), publicado no dia 14 de Junho no Poste P23344: Agenda cultural (814): Tabanca dos Melros, 11 de junho de 2022: apresentação do livro do Joaquim Costa, "Memórias de Guerra de um Tigre Azul" (2021) - Parte I: Intervenção de Luís Graça, representado pelo escritor António Carvalho, ex-fur mil enf, CART 6250 (Mampatá, 1972/74):

Caro e grande Camarigo Luís Graça
Primeiro que tudo os meus votos de boa recuperação do teu joelho que te deve ter obrigado a uma paragem sempre inconveniente em todos os sentidos, mas ao mesmo tempo te deve ter dado oportunidade para ires pondo a escrita em dia. Boas melhoras são os meus desejos sinceros.
joaquim costa
Agora quero dar-te os meus parabéns por esta magnifica apresentação, mesmo à distância, do livro do Camarigo Joaquim Costa “Memórias de Guerra de um Tigre Azul”, que foi uma autêntica lição de história que merecia ser bem divulgada, especialmente junto das entidades do poder, que ainda hoje não sabem, nem querem saber, que o País esteve em guerra durante 14 longos anos.

Como sabes e aliás desde o primeiro dia em que abriguei à sombra da Tabanca Grande, em todos os meus escritos sempre me referi a Bissau onde passei os meus 25 meses de comissão. Portanto, da parte operacional, pouco sei para além do que os camaradas meus amigos, quando vinham a Bissau, me contavam parte do que por lá passaram e também do meu serviço no Centro de Mensagens do QG, quando, infelizmente, eramos confrontados a qualquer hora do dia ou da noite, com os pedidos de apoio aéreo e pior do que isso, do pedido de evacuações derivadas da guerra.

Tenho lido muitos livros escritos por camaradas que passaram por lá as passas do Algarve como se costuma dizer, mas há um livro, “Nos Celeiros da Guiné, Memórias de Guerra” da autoria de Albano Dias Costa que em 1963, com a especialidade de Sapador de Infantaria e com o curso de explosivos, minas e armadilhas, foi mobilizado para a Guiné como Alferes Miliciano Atirador e de José Jorge de Campos Sá-Chaves que, como militar, frequentou o CEPM e estagiou no CIOE. Mobilizado em Julho de 1962 integrou a CCAÇ 413 tendo cumprido missão como Alferes Miliciano, na antiga Província Ultramarina da Guiné, (Dados retirados das badanas da capa e contracapa do referido livro) e Prefácio “Metamorfose dolorosa” do General Ramalho Eanes, que me escuso de transcrever na totalidade, apesar ser merecida a sua transcrição, porque são sete páginas, mas mesmo assim permito-me transcrever a 1.ª frase deste Prefácio, páginas 11 a 17:
“Poderia esta obra ter por titulo “Duas variações dramáticas sobre o mesmo tema”, dado que o tema, fundamental, são os jovens soldados na guerra – na guerra da Guiné -, que a guerra definitivamente marcou, roubando a uns, a vida, incapacitando, fisicamente, outros, marcando de angústia indelével o subconsciente e a memória não só destes últimos mas, também, a de todos os que lhe sobreviveram.” Mas permito-me ainda transcrever a última frese deste Prefácio: “Sentindo-me um irmão ex-combatente, destes ex-combatentes da CC 413, entendi não os abraçar com uma frase para a capa do livro, como me pediram, mas, sim, abraçá-los com este manifesto despretensioso, pequeno, mas sentido manifesto de solidariedade.” António Ramalho Eanes.

Sem querer ser fastidioso, ainda tenho que transcrever parte da “Dedicatória” dos autores, inserta na página 9, do citado Livro: “À memória dos camaradas da CC 413 que não envelheceram, tombados na Guiné, no cumprimento da comissão de serviço que lhes foi imposta, o Ataliba Pereira Faustino, o Francisco Matos Valério, o José Gonçalves Pereira, o José Basílio Moreira, o José Rosa Camacho, o José Pereira Rodrigues, o José Ramos Picão e o Joaquim Maria Lopes, em relação aos quais carregamos a culpa de continuarmos vivos.”

E refiro-me especialmente a este livro porque o mesmo, para além de tudo o mais, este livro regista a primeira morte, no conjunto dos três teatros de operações, de um conterrâneo meu, natural de Alcanena, o José Gonçalves Pereira, que despareceu em combate, cujos restos mortais vieram a ser recuperados mais tarde.

As minhas desculpas por este longo comentário
Um grande abraço.
Carlos Pinheiro
14.06.2022

____________

Nota do editor

Último poste da série de 8 DE MAIO DE 2022 > Guiné 61/74 – P23247: (Ex)citações (407): Pedaços da vida militar. A tropa e o caminho rumo à Guiné. (José Saúde)

domingo, 8 de maio de 2022

Guiné 61/74 – P23247: (Ex)citações (407): Pedaços da vida militar. A tropa e o caminho rumo à Guiné. (José Saúde)



1. O nosso Camarada José Saúde, ex-Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523 (Nova Lamego, Gabu) - 1973/74, enviou-nos a seguinte mensagem:

Guiné: Pedaços da vida militar

Camaradas,

Sim, há pedaços da vida militar que recrudescem enquadrados com os nossos tempos idos. Tempos que se enquadram, na plenitude, com as nossas comissões numa Guiné a ferro e fogo. E é neste constante vaguear pelas fronteiras da liberdade, que ouso trazer à estampa mais um texto, embora resumido, inserido no meu livro intitulado “Um Ranger na Guerra Colonial Guiné/Bissau 1973/1974 Memórias de Gabu”, Edições Colibri, Lisboa.

Trata-se, no essencial, partilhar com os camaradas experiências comuns que ditaram situações pelas quais todos nós passámos.

A tropa e o caminho rumo à Guiné


“… A tropa assumia-se, para todos nós, como um beco sem saída. A necessidade premente ao recurso de seres humanos que engrossavam as fileiras do exército, impunham colaterais apuramentos dos mancebos. Não olhassem ao aspeto físico da criatura e nem tão-pouco a pequenos defeitos congénitos que o rapaz, com 20 anos, apresentava. O apuramento da rapaziada era transversal. Os livres foram chãos que já tinham dado uvas.

Aportei em solo guineense cerca das 14 horas locais no dia 2 de agosto de 1973. Ao descer do avião deparei-me, de imediato, com um bafo deveras incomodativo. Faltava-me o ar e o suor escorria-me pelo rosto abaixo. A minha respiração parecia ávida dos ares lusitanos. O cheiro a África era-me uma realidade completamente desconhecida. O clima parecia de todo adverso. Confesso que o calor sempre me fascinou, todavia, este apresentava-se com contornos adversos e literalmente sufocante, assim sendo o meu ego de pronto interiorizou o que lhe ia na alma: “eis-me num território agreste onde a guerra se apresentava como uma irreversível realidade”.

Os primeiros contactos com os nativos transmitiam odores natos de gentes que se predispunham a contemplar aqueles tímidos jovens que chegavam. Na pista do aeroporto de Bissalanca, e com o Boeing 727 que nos transportara a preparar-se para efetuar a viagem de regresso a Lisboa, deparei-me com uma verdade diametralmente diferente daquela que dantes havia idealizado.

Lembro de sobrevoar o deserto do Saara e olhar as dunas lá do alto, os oásis e as pequenas aldeias isoladas num extenso areal. Tudo observado a uma distância que minusculamente não contemporizava uma visão autêntica com o espaço visualizado. Ficava a imaginação de um jovem que cruzava fronteiras aéreas a caminho da guerra.

Todas as histórias têm um vínculo que nos transporta a vidas dispersas ao cimo deste imenso globo universal chamado Terra. Nesta obra relato factos verídicos por mim vividos enquanto prestei serviço militar obrigatório, sendo o fim uma comissão numa fase em que a luta atormentava o mais incauto comum dos mortais. Felizmente tive, aliás, tivemos a sorte que nos instantes finais do conflito nos deparássemos com dois tempos diametralmente oposto: a guerra e a paz.

A guerrilha na Guiné tinha contornos buliçosos. As condições do terreno, o clima e a forma como o PAIGC atuava, formava um tridente que não dava tréguas ao mais astuto militar da metrópole. É verdade que o exército português jamais se apresentou como uma arma maleável para o IN (inimigo). Comprovámos, sempre, que as nossas capacidades de reação foram evidentes nos campos de batalhas.

Do conflito da Guiné há retratos que ao longo dos anos têm chegado ao nosso conhecimento, com testemunhos verídicos, que relatam de como foi dura a peleja guerrilheira. Sabendo nós, principalmente aqueles que conviveram o dia-a-dia com os problemas da escaramuça, que o contingente luso na Guiné registava cerca de 45 mil efetivos nos três ramos das Forças Armadas – Marinha, Força Aérea e Exército -, enquanto o PAIGC dispunha nos tempos finais perto de 10 mil, logo, numa análise feita à pressuposta quantidade de operacionais que cada exército dispunha, o cenário parecia favorável às forças lusitanas.

Teoricamente seria essa a intenção dos homens de Comando, indivíduos que instalados nos seus gabinetes estudavam o conflito, mas… ao longe. Examinavam os mapas de cada região ao pormenor e idealizavam ações no palanque operacional, mas no interior de quatro paredes. Era, quiçá, a guerra operacional dos galões amarelos.

Porém, a prática dizia-nos uma verdade oposta. As condições deparadas na frente de batalha, essencialmente a forma como a guerrilha atuava a que acresce a maneira como o IN conhecia o palco real e a forma como os seus movimentos no mato se desenhavam, deixavam a nossa tropa perplexa diante a imprevisibilidade de um eventual contacto direto.

Hoje, e com a distância do tempo a prevalecer, faço uma visita aos corredores da minha já apertada memória e vergo-me perante a coragem de antigos companheiros que, de uma ou de outra forma, conseguiram dissuadir as intenções do IN no momento em que o ziguezague das balas se cruzavam no infinito do horizonte. Neste contexto, é justo enaltecer o valor individual de cada combatente no instante em que o confronto se pautava pela dureza.

Sabe-se que foram muitos os que morreram no palco da peleja, outros que ficaram estropiados e outros que regressaram, felizmente, sem nenhuma beliscadura. Há, igualmente, aqueles que ainda hoje padecem de distúrbios mentais que o conflito lhes proporcionou.

O stress de guerra é há muito uma patologia aguda que tem levado muitos dos ex-combatentes a um pasmo de dificuldades que conduzem o potencial portador da doença a situações variadas. Conflitos a nível do emprego e familiares, designadamente, traduzem que os valores herdados da guerra têm transformado intelectos que evidenciam quebras memoriais, resultantes de hostis ensejos deparados perante ocasionais instantes de autêntico desespero”.…

Adiante:


… “Cresci como homem, não o escondo, e descobri que todos temos uma listagem imensa de ferramentas no nosso interior e que só a elas recorremos a partir do momento em que precisemos de uma milagrosa ajuda.

De Lamego para Nova Lamego – Gabu – foi o azimute invariavelmente atingido. Na região de Gabu conheci os meandros da guerra. Aprendi a conviver com realidades trágicas. A mata adensada escondia o imprevisto. Em incursões feitas ao mato um simples mexer do capim provocava um momentâneo alvoroço. “Não é nada” comentava-se de seguida. “Furriel, olhe que vale mais um cobarde vivo que um herói morto” comentava o nosso cabo Martins, um homem do Norte, bem formado, e que ostentava um bigode farfalhudo.

Recordo as dolorosas noites passadas no mato ao depararmo-nos com o patente breu noturno. Sair do quartel, na época do cacimbo, ainda com o sol muito brilhante e com uma temperatura que rondava os 35º, e de repente a sua vertiginosa descida a meio da noite, era francamente um martírio. Valia o aconchego do camarada ponche.

Em épocas de chuvas eram as trovoadas intensas que teimavam romper o silêncio da escuridão. O soldado, acomodado em buracos das árvores de grande porte, lançava de vez em quando pequenos desabafos que lhe aliviavam a alma e a razão do seu sofrimento: “bolas, que padecimento furriel?”. Ao lado, um soldado aparentando uma maior calma, aconselhava: “fala baixo porque isto aqui é perigoso!”. Tinha razão.

Um abraço, camaradas,
José Saúde
Fur Mil OpEsp/RANGER da CCS do BART 6523

Mini-guião de colecção particular: © Carlos Coutinho (2011). Direitos reservados.
___________ 

Nota de M.R.: 

Vd. último poste desta série em: 

7 DE ABRIL DE 2021 > Guiné 61/74 – P22079: (Ex)citações (383): Os conflitos e a dedicação do povo. Gratidão. (José Saúde)

quinta-feira, 14 de abril de 2022

Guiné 61/74 - P23166: (Ex)citações (406): Mudo-me, de vez, depois da Páscoa, para Key-West, Florida, EUA: foi um privilégio poder contactar, através do nosso blogue, camaradas que não conhecia, alguns dos quais se tornaram amigos (José Belo, régulo vitalício da Tabanca da Lapónia)


José Belo, jurista, o nosso luso-sueco, cidadão do mundo, membro da Tabanca Grande, repartia, até agora. a sua vida entre a Lapónia (sueca), Estocolmo e os EUA (Key West, Florida; (ii) foi nomeado por nós régulo (vitalício) da Tabanca da Lapónia, agora jubilado; (iii) na outra vida, foi alf mil inf, CCAÇ 2391, "Os Maiorais", Ingoré, Buba, Aldeia Formosa, Mampatá e Empada, 1968/70); (iv) é cap inf ref do exército português; (v) durante anos alimentou, no nosso blogue, a série "Da Suécia com Saudade"; (vi) tem cerca de 220 referências no nosso blogue.


1. Mensagem do Joseph Belo:

Data - quarta, 13/04/2022, 23:31   
Assunto - O último pombo-correio... congelado

Este é o último pombo-correio desde o extremo do extremo Norte da Escandinávia.

Depois da Páscoa,  a mudança para o outro lado do Atlântico é definitiva, passando o meu “centro operacional “ a ser a minha casa de Key West onde estarei à disposição de Amigos e Camaradas.

Mantenho o meu apartamento em Estocolmo para visitas “turísticas” à Suécia.

Foi um privilégio ter tido a oportunidade de, através do teu blogue, ter tido a oportunidade de contactar com Camaradas da Guiné. Alguns dos quais, não os conhecendo a
nteriormente, se tornaram Amigos.

Um grande abraço com votos, para Ti e Família, de uma Feliz Páscoa. 
J. Brelo


2. Comentário do editor LG:

Publico a tua mensagem, por entender que não é pessoal, nem sequer uma despedida. É apenas um Olá, Mudas-te para Key West, onde já tinhas casa, mas agora a título definitivo: afinal, é nos EUA que tens a tua família, filhos e netos, e os negócios da família. Fico com a ideia que a Lapónia fica agora ainda mais longe, mas tu serás sempre, até ao fim dos teus e nossos dias, o nosso mítico régulo da mítica Tabanca da Lapónia. E passas a ter o raro privilégio de acumular o cargo: também já tinhas sido investido do alto cargo de régulo da Tabanca de Key West, Florida. (Não indico a morada nem a localização GPS por causa dos mísseis balísticos que andam para aí meio perdidos ou desnorteados, nunca sabendo nós quando é que algum nos pode cair no prato da sopa.)

Permite-me só fazer uma correção: o blogue que te aproximou dos camaradas da Guiné, e onde fizeste amigos, não é meu, é teu, é nosso... E continuará a ser nosso, enquanto todos nós quisermos. Haja saúde e paz e algum patacão para pagar o aluguer... e alimentar o "bicho".

Daqui da Tabanca de Candoz, desejo-te o melhor para a tua "nova vida". E espero poder continuar a contar com a tua colaboração. Em vez de pombos-correios congelados, vais-nos mandar agora uns inofensivos aligatores... Boa viagem até Kew West.  E nunca percas a ponta do fio de Ariadne que começaste a tecer em terras lusas... Um alfabraço. Doce Páscoa para ti e os teus. Luís
__________

Nota do editor:

terça-feira, 12 de abril de 2022

Guiné 61/74 - P23161: (Ex)citações (405): A Lapónia (ou "Sápmi") que muitos lusitanos desconhecem... (José Belo, Suécia)


Mapa da Lapónia (na língua local, "Sápmi"), um vasto território, que inclui o Círculo Polar Ártico, e que vai da Noruega à Rússia, passando pela Suécia e a Finlândia.



Lapónia: um aeroporto servido pela SAS - Scandinavian Airlines



José Belo, jurista, o nosso luso-sueco, cidadão do mundo, membro da Tabanca Grande, reparte a sua vida entre a Lapónia (sueca), Estocolmo e os EUA (Key West, Nova Orleans...); (ii) foi nomeado por nós régulo (vitalício) da Tabanca da Lapónia, agora jubilado; (iii) na outra vida, foi alf mil inf, CCAÇ 2391, "Os Maiorais", Ingoré, Buba, Aldeia Formosa, Mampatá e Empada, 1968/70); (iv) é cap inf ref do exército português; (v) durante anos alimentou, no nosso blogue, a série "Da Suécia com Saudade"; (vi) tem cerca de 220 referências no nosso blogue.



1. Mensagem de Joseph Belo:

Data - domingo, 10/04/2022, 13:40



Assunto - Os mistérios profundos do Círculo Polar Árctico



Nos últimos 10 anos tem havido um aumento muito considerável de turistas interessados pela vastíssima área da Lapónia, seja ela a sueca, norueguesa ou finlandesa.

De um tipo de turismo anteriormente centrado nas visitas, por parte de famílias com crianças, à casa do Pai Natal ou a exóticas deslocações em trenós de cães ou renas, passou-se a um turismo mais diversificado.

Desde as Auroras Boreais do Inverno,às semanas de 24 horas do Sol da Meia-noite, até aos  modernos e muito confortáveis “safaris”.

Nestes, os turistas são transportados de helicóptero para acampamentos pré-colocados nas melhores zonas de pesca e caça que é verdadeiramente abundante!

O turismo e o artesanato estão hoje intimamente ligados. O artesanato escandinavo, e especialmente o da Lapónia, é reconhecido pela qualidade dos materiais, originalidade e bom gosto.



Lapónia; faca típica


Surgem novas oportunidades de negócios vantajosos proporcionadas pelos visitantes. Um dos artefactos mais procurado são as facas de mato com lâmina de aço de primeiríssima qualidade e cabo e bainha feitos de corno de rena altamente trabalhado.

Os turistas pagam desde mil euros pelas mais simples até cinco mil euros (ou mais) pelas de originalidade superior. E vendem-se até esgotar!

Um “Chico esperto “ local lembrou-se de moer cornos de rena num fino pó branco. Colocá-lo em pequenos e bonitos frascos de cristal embrulhados em macia pela de rena e……vendê-los aos turistas como produto natural que aumenta a potência sexual!

Na descrição que acompanha o produto afirma-se (falsamente) que este tipo de pó é usado na Lapónia desde tempos imemoriais….com bons resultados nos quarenta e tal graus negativos dos invernos locais. Bom reclame tendo em conta as condições “envolventes “!

Os vendedores locais riem-se à gargalhada com o oportunismo do negócio e do muito dinheiro que têm vindo a render ao “Chico-esperto” inventor.

Curiosamente o produto é muito popular entre os numerosos grupos de turistas asiáticos que cada vez são mais frequentes por aqui.

Um abraço.

J. Belo (*)

PS - E,inesperadamente,surge uma possível, e muito vantajosa, troca comercial entre os “Pós” do Círculo Polar Árctico e as”Penas Amarelas” dos perus asiáticos referidos pelo Amigo, Camarada e Poeta Graça de Abreu em texto anterior (*)
___________

domingo, 27 de março de 2022

Guiné 61/74 - P23117: (Ex)citações (404): Um célebre escritor sueco de finais do séc. XVIII afirmou: “Depois dos setenta anos as únicas verdadeiras surpresas que a vida nos traz são todas relacionadas com a saúde" - Teria de mudar de opinião se lesse alguns comentários do nosso blogue... (José Belo, EUA)


José Belo, jurista, o nosso luso-sueco, cidadão do mundo, membro da Tabanca Grande, reparte a sua vida entre a Lapónia (sueca), Estocolmo e os EUA (Key West, Nova Orleans...); (ii) foi nomeado por nós régulo (vitalício) da Tabanca da Lapónia, agora jubilado; (iii) na outra vida, foi alf mil inf, CCAÇ 2391, "Os Maiorais", Ingoré, Buba, Aldeia Formosa, Mampatá e Empada, 1968/70); (iv) é cap inf ref do exército português; (v) durante anos alimentou, no nosso blogue, a série "Da Suécia com Saudade"; (vi) tem cerca de 220 referências no nosso blogue.


Aqui segue foto actualizada para quando é necessário.....Dar a Cara! Um abraco .....Luso / Sueco / Lapäo / Americano...o que é uma já boa colecäo de identidades difíceis de coordenar em momentos..."patrioteiros"!



1. Mensagem do Joseph Belo:

Data - quinta, 24/03/2022, 21:25 


Assunto -  O “tal” minuto antes das zero.


Célebre escritor sueco dos finais do século dezoito afirmou: “Depois dos setenta anos as únicas verdadeiras surpresas que a vida nos traz são todas relacionadas com a saúde".

Teria que mudar de opinião se tivesse tido a oportunidade de ler alguns dos comentários do nosso Amigo, Camarada e Poeta Graça de Abreu (*).

Estamos em 2022. São outros os parâmetros que enquadram as sociedades actuais. As “armas de arremesso“ que alguns continuam a utilizar,  estão já há muito ultrapassadas pelos novos contextos sociais. Cai-se numa agressividade contínua, pessoalizada, que acaba por raiar áreas de patologias várias.

A propósito de um texto sobre Amílcar Cabral, salta-se compulsivamente para afirmações como: “Mário Beja Santos a caminho da Ucrânia ou da Bielorrússia... suprema inteligência tuga neste blogue, debruçado sobre as bandas de Moscovo” (*).

Felizmente que este tipo de compulsividade analítica de áreas e situações já abrangidas pela paleontologia, se limita a um reduzido número de irredutíveis “passadistas”.

Só humoristas de gabarito se lembrariam hoje, tendo em conta o passado de activista maoísta do Sr. Dr. Durão Barroso aquando estudante, de sugerirem o seu abandono do alto cargo em renomado banco da alta finança internacional para ...ir beber chá com os seus camaradas de Xangai. Enfim, quase o tal... vomitar a gargalhar!

Quando activista nas lutas estudantis contra a ditadura,  não estive “debruçado sobre as bandas de Moscovo“, e muito menos fui leitor de um certo livro, fosse ele vermelho, castanho, ou furta-cores.
Não serão essas as razões deste meu despretensioso texto.

As razões que aqui me trazem foram criadas pela (feliz e oportuna) correção efectuada pelo Amigo e Camarada Graça de Abreu a uma lista valorativa de personagens apresentada pela BBC.(*).

Verifica-se que um aí citado imperador chinês mais não era que uma imperatriz. Correção feliz e oportuna (e aqui repito-me conscientemente!) por nos levar direitamente ao "clitoris" da dita senhora e a muitas das consequências político-históricas do mesmo na vida social da corte chinesa.

Tendo sido um homem de “casernas” durante mais de uma década, e, como tal, sempre com um profundo interesse por tudo que é a problemática deontológica clitoriana, quase me atrevo a perguntar ao camarada corretor se a vida da senhora imperatriz referida se encontra publicada em inocente vídeo do YouTube? (Ou talvez em alguns dos “sites” mais resguardados por explícitos?)

E já agora, algumas referências bibliográficas que venham a contribuir para uma penetração mais profunda (salvo seja!) em tudo o relacionado com a dita senhora.

Infelizmente, uma atenta e nova consulta ao Clássico português dos finais dos anos cinquenta, que circulava entre os “filhos maus de boas famílias", e que tinha por título histórico... ”A Marca dos Avelares",  não me levou a encontrar referências detalhadas à madame imperatriz e, muito menos, às suas partes, no caso não púdicas mas antes... públicas!

Espera-se bibliografia... detalhada, detalhada, detalhada!

Como se diz nos States… Another Day Another Dollar.

Um respeitoso abraço do J. Belo (**)
_________

Notas do editor:

21 de março de  2022 > Guiné 61/74 - P23097: Notas de leitura (1430): “Amílcar Cabral - Pensar para Melhor Agir”; edição da Fundação Amílcar Cabral, Praia, 2014 (5) (Mário Beja Santos)

(...) antonio graça de abreu disse...

Tanta traição, não é Rosinha?

Mário Beja Santos, já, a caminho da Ucrânia, ou da Bielorússia... Acho que precisam dele, suprema inteligência tuga neste blogue, debruçado sobre as bandas de Moscovo.

Pois, as teses do Amílcar Cabral, o "génio africano" segundo as palavras e o entendimento de Mário Beja Santos. Sabemos hoje que tais teses resultaram em coisa nenhuma, nada funcionou. A África esqueceu-se da luminosidade do pensamento de Amílcar Cabral, as boas intenções não deram resultado em nenhum centímetro quadrado da nossa querida África. Que nos valha o Mário Beja Santos para, com Amílcar Cabral, nos explicar, depois do colonialismo, as maravilhas que iam acontecer e que nunca aconteceram. Depois da independência, foram milhares de mortos em lutas fratricidas. Onde estava o pensamento de Amílcar Cabral?

O Mário Santos continua a vender-nos a banha da cobra. Tristeza...

Abraço,

António Graça de Abreu21 de março de 2022 às 15:48 


(...) antonio graça de abreu disse...


Curiosa a lista dos grandes líderes, elaborada por historiadores anti-colonialistas primários como Hakim Adi. Até conseguem falar num milhão de guineenses reunidos por Amilcar Cabral quando em 1973 a população total da Guiné não chegava aos 600 mil habitantes.

Curiosa também a referência a Wu Zutian (624-705) que aparece na lista da BBC como imperador da China quando na realidade foi imperatriz, do sexo feminino. Antiga concubina, serviu dois imperadores e para usurpar o poder envenenou vários candidatos ao trono. Viúva, tinha o gosto de mandar matar os homens que com ela dormiam e utilizava para o seu prazer sexual. Em algumas audiências na corte, vestia um longo casaco de brocado. Nua da cintura para baixo, fazia ajoelhar os ministros, entreabria o casaco e obrigava-os a beijar o seu exercitado clitóris. Mulher hábil, forte e determinada, ficou na História da China também por algumas medidas que tomou e que deram mais força ao império chinês. Era a figura preferida de Jiang Qing (1914-1991), a quarta esposa de Mao Zedong, a mais proeminente criatura do famoso "bando dos quatro" que se suicidou aos 77 anos.


(**) Último poste da série > 5 de fevereiro de 2022 > Guiné 61/74 - P22971: (Ex)citações (403): no país onde nascemos, nem as "iscas com elas" eram para todos (Eduardo Estrela, Cacela Velha, Vila Real de Stº António; ex-fur mil at inf, CCAÇ 14, Cuntima e Farim, 1969/71)

sábado, 5 de fevereiro de 2022

Guiné 61/74 - P22971: (Ex)citações (403): no país onde nascemos, nem as "iscas com elas" eram para todos (Eduardo Estrela, Cacela Velha, Vila Real de Stº António; ex-fur mil at inf, CCAÇ 14, Cuntima e Farim, 1969/71)

1. Mensagem do nosso amigo e camarada Eduardo Estrela (ex-fur mil at inf, CCAÇ 14, Cuntima e Farim, 1969/71; vive em Cacela Velha,  a jóia da Ria Formosa, cantada por Sophia; um das suas paixões é o teatro amador, mas também comeu, na infância, órfão de pai,  "o pão que o diabo amassou" (*).

Data - 1 dez 2021 23h31

 Data - sexta, 4 fev 2022 , 21:06 
Assunto  - Iscas com elas (*)


Caro amigo camarada e companheiro!

Imagina fins da década de 50,  início da de 60. 

Imagina um puto de 10 ou poucos mais, cujo pai, seu herói como são todos os pais, tinha ficado chateado com a puta da vida e decidido partir.

Na tropa,  tal como hoje, calçava n° 40, mas à época e com a idade atrás referida, esse puto tinha o "privilégio" de calçar sapatos n° 41 ou 42, com jornais na frente interior para não caírem dos pés.

Uma sopa confeccionada com o requinte de dez tostões de ossos comprados no talho e algumas, poucas vezes, iscas normalmente acompanhadas com elas, de modo a melhor lastrar a vasilha digestiva, eram um verdadeiro requinte e um manjar a que infelizmente muitos jovens Portugueses, àquela época, não tinham sequer acesso.

Esse era o País onde ambos nascemos! E esse puto era eu! (**)

Espero que tudo esteja a correr bem com a tua saúde.

Abraço fraterno.

Eduardo

P.S. - Podes publicar no blog com as notas pessoais que achares por bem incluir. 

__________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 3 de fevereiro de  2022 > Guiné 61/74 - P22960: No céu não há disto... Comes & bebes: sugestões dos 'vagomestres' da Tabanca Grande (31): "Iscas com elas..."

(**) Último poste da série > 5 de fevereiro de  2022 > Guiné 61/74 - P22969: (Ex)citações (402): adeus, Fajonquito!... Abandonámos o quartel quando vimos o primeiro macaco-cão "sorridente" (dentes ensanguentados à mostra), a ser arrastado para a cozinha... (Cherno Baldé)

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2022

Guiné 61/74 - P22966: (Ex)citações (401): A Suécia... sempre original (José Belo) - Parte II: A cidade de Södertälje, com mais de 70 mil habitantes (,sede de grandes empresas conhecidas como a Scania, a AstraZeneca e a Alfa Laval), vai usar corvos-da-nova-caledónia para recolher as beatas do chão


 

Corvo-da-nova-caledónia (Corvus moneduloides). Gravura de John Gerrard Keulemans,
1877. Fonte Catálogo dos Pássaros no Museu Britânico,  Volume 3. Imagem do domínio público. Cortesia da Wikimedia Commons.



José Belo

José Belo, jurista, o nosso luso-sueco, cidadão do mundo, membro da Tabanca Grande, reparte a sua vida entre a Lapónia (sueca), Estocolmo e os EUA (Key West, Nova Orleans...); (ii) foi nomeado por nós régulo (vitalício) da Tabanca da Lapónia, agora jubilado; (iii) na outra vida, foi alf mil inf, CCAÇ 2391, "Os Maiorais", Ingoré, Buba, Aldeia Formosa, Mampatá e Empada, 1968/70); (iv) é cap inf ref do exército português; (v) durante anos alimentou, no nosso blogue, a série "Da Suécia com Saudade"; (vi) tem 215 referências no nosso blogue; e (vii( faz hoje anos.


1. Mensagem do José Belo:

Data - terça, 1 fev 2022, 12:34

Assunto - A Suécia... sempre original (*)

Caro Luís

Um pouco de ar de New Orleans (ou NOLA como se diz localalmente)...

Seguem dois artigos, do jornal inglês "The Guardian", um sobre corvos "funcionários camarários" para apanhar "beatas", e outro relacionado com as pontes construídas para as renas sobre algumas autoestradas da Laponia.

Um grande abraco com votos de saúde. J. Belo

https://www.theguardian.com/world/2021/jan/20/sweden-to-build-bridges-for-reindeer-to-safely-cross-roads-and-railways

https://www.theguardian.com/environment/2022/feb/01/swedish-crows-pick-up-cigarette-butts-litter
.

2. Comentário do editor Luís Graça:

José, a tua segunda pátria, a terra dos teus filhos, onde vives há quatro décadas,  é de facto um país "sui generis"... (muito mais rico, de resto,  que o nosso, embora equivalente em população, com um PIB per capita de 45, 9 mil euros , contra os 19,4 mil euros de Portugal).

E o segundo exemplo que nos mandas (*)  não deixa também de nos fazer sorrir e sobretudo refletir... Pôr corvos (de uma espécie que é oriunda da Nova Caledónia, e que revelam um grau de inteligência pouco vulgar entre as aves e os demais animais não primatas), a apanhar as beatas dos fumadores sem educação cívica, é uma ideia original... Faz parte de um projeto de uma autarquia sueca que quer manter as ruas limpas e reduzir os custos da limpeza urbana...

O artigo do Guardian, citando fontes suecas, diz que mil milhões de pontas de cigarro (!), equivalemte a 50 mil milhões de maços de cigarros, são deitadas para o chão, todos os anos, na Suécia, representando 62% de todo o lixo das ruas (!). E ainda dizem que a Suécia é um modelo de virtudes... cívicas.

A cidade de Södertälje, com mais de 70 mil habitantes (,sede de grandes empresas conhecidas como a Scania, a AstraZeneca e a Alfa Laval, e que fica acerca de 30km a sudoeste de Estocolmo), gasta 20 milhões de coroas suecas (mais de 1,9 milhões de euros) na limpeza das ruas. A redução de custos da limpeza de beatas,  feitas pelos "novos almeidas",  poderia atingir os 75%.

Aqui vão mais alguns excertos do artigo, fazendo eu (e o resto da Tabanca Grande, em coro!) votos de que estejas  a passar um maravilhoso dia de aniversário!...

PS - Só espero que o corvo-da-nova-caledónia. agora nacionalziado sueco, não se envaideça com o seu novo cargo  e não caia na esparrela do paleio das matreiras raposas deste mundo, como acontece na fábula O Corvo e a Raposa, de La Fontaine...


3. Suécia: município usa corvos para recolhar as beatas do chão

Os corvos-da-nova-caledónia (Corvus moneduloides) estão a ser cobaias de uma experiência-piloto na cidade de Södertälje, perto de Estocolmo, ao serem utilizados para apanhar, com o bico, as beatas lançadas no chão. Por cada beata, recolhida e depositada numa máquina desenhada para o efeito, o corvo recebe um pouco de comida.

Christian Günther-Hanssen, fundador da Corvid Cleaning, empresa que está por detrás do projeto, diz que os corvos da Nova Caledônia, membros da família dos pássaros corvídeos, são tão bons em raciocínio quanto uma criança humana de sete anos, de acordo com a investigação mais recente, pelo que seriam os pássaros mais adequados para este tipo de tarefa.

Günther-Hanssen acrescenta: “Eles são mais fáceis de ensinar e também há uma chance maior de aprenderem uns com os outros. Ao mesmo tempo, há um risco menor de eles comerem qualquer lixo por engano." 

A saúde das aves terá de ser acautelada, antes que a operação se estenda a toda a cidade. Se a experiência tiver sucesso, abrem-se perspetivas interessantes para a aplicação do método em outros ambientes...

[ Tradução, resumo, adaptação livre, fixaçáo de texto, para efeitos de publicação neste poste: LG]

Fonte: Daniel Boffey - Swedish firm deploys crows to pick up cigarette butts. The Guardian, Tue 1 Feb 2022 09.35 GMT... Com a devida vénia...
_________

Nota do editor:

Guiné 61/74 - P22965: (Ex)citações (400): A Suécia... sempre original (José Belo) - Parte I: as "renoducts", pontes para as renas sobre as linhas férreas e estradas da Laponia...


No país dos Samis (, lapões, é um termo racista...)... As renas do Zé Belo, que também estão ser a vítimas das alterações climáticas... Foto do álbum do autor (2021)



José Belo

José Belo, jurista, o nosso luso-sueco, cidadão do mundo, membro da Tabanca Grande, reparte a sua vida entre a Lapónia (sueca), Estocolmo e os EUA (Key West,  Nova Orleans...); (ii) foi nomeado por nós régulo (vitalício) da Tabanca da Lapónia, agora jubilado; (iii) na outra vida, foi alf mil inf, CCAÇ 2391, "Os Maiorais", Ingoré, Buba, Aldeia Formosa, Mampatá e Empada, 1968/70); (iv) é cap inf ref do exército português; (v) durante anos alimentou, no nosso blogue, a série "Da Suécia com Saudade"; (vi) tem 215 referências no nosso blogue; e (vii( faz hoje anos.


1. Mensagem do José Belo:


Data - terça, 1 fev 2022, 12:34

Assunto - A Suécia... sempre original (*)


Caro Luís


Um pouco de ar de New Orleans (ou NOLA como se diz localalmente)...

Seguem dois artigos, do jornal inglês "The Guardian", um sobre corvos "funcionários camarários" para apanhar "beatas", e outro relacionado com as pontes construídas para as renas sobre algumas autoestradas da Laponia.

Um grande abraco com votos de saúde. J. Belo

https://www.theguardian.com/world/2021/jan/20/sweden-to-build-bridges-for-reindeer-to-safely-cross-roads-and-railways

https://www.theguardian.com/environment/2022/feb/01/swedish-crows-pick-up-cigarette-butts-litter


2. Comentário do editor Luís Graça

Tens razão, a tua segunda pátria (?) , a terra dos teus filhos,  onde já vives há mais anos do que aqueles que viveste em Portugal e no seu ex-império, é um país... "original".  Pelo menos onde se pode dizer que economia, concertação social, democracia, equidade social (igualdade de oportunidades) e ecologia até podem "rimar"...

Essa de construir pontes para renas sobre estradas e linhas férreas na Lapónia, nunca lembraria ao diabo em Portugal... Primeiro porque não há renas, muito menos rebanhos de renas,  em Portugal  (, a não ser no "jardim zoológico"...) e o diabo é capaz de ser mais amigo dos contribuintes portugueses do que das renas samis... Não há renas, mas há outra bicharada, dos linces aos veados, que também são trucidados nas autoestradas e caminhos de ferro... 

Vamos ao "teu" primeiro artigo, deixando o outro para melhor ocasião, ou para a II parte deste poste...

O primeiro é  da autoria de  Jon Henley, e foi publicado no jornal inglês The Guardian, quarta-feira, 20 de janeiro de 2021 13h16 GMT... Tem mais de um ano, avisam-nos. Faço uma adaptação, com tradução mais ou menos livre, e nalguns casos reproduzindo alguns excertos.

Espero que este poste seja, em 4 de fevereiro de 2022,  no dia dos teus anos, uma boa "prenda de aniversário" para ti (**)... e para as tuas renas!... Se tivesses ovelhas no Alentejo estavas bem pior... com a seca com que começámos o primeiro mês do  ano da graça de 2022...  Ainda me lembro do tempo, em que os putos da escola praguejavam, para poder fazer fazer gazeta: "Quem dera que chova três dias sem parar!"...  Eram cheias certas no Rio Grande da minha vilória, construída em antigo leito de mar... (LG)


3. A Suécia, para fazer face às alterações climáticas,  está a construir pontes para renas sobre estradas e linhas férreas

A Suécia vai construir uma dúzia de pontes para que as renas possam atravessar,  em segurança,  as linhas férruas e as principais estradas do Norte do país,  como resposta ao problema do  aquecimento global  que obriga os animais  a percorrer maiores distâncias em busca de comida.  

A medida tem o apoio de investigadores na área da ecologia e das ciências agrárias...para quem “num clima em mudança com condições difíceis de neve, será extremamente importante encontrar e ter acesso a  pastagens alternativas”...Os  pastores de renas também foram consultados sobre a localização e as especificações técnicas  das pontes bem como sobre este projeto, deveras original.

A primeira destas pontes terá começado já  a ser construída  (ou estará construída) em 2021,  na cidade oriental de Umea, segundo a emissora pública Sveriges Radio. “Renoducts” é o nome destas pontes,  uma junção da palavra reno (renas) e  de viaduct (viaduto). 

O  aquecimento global está já ter  um impacto devastador nas 250 mil  renas da Suécia e nos 4.500 proprietários indígenas Sami (lapões),  com licença para as pastorear. (Em média, 55,5 renas por rebanho..).  Algumas pastagens de inverno ainda estão a  recuperar de secas e incêndios florestais que atingiram, sem precedentes,  o Norte da Suécia.

Os líquens  constituem uma parte fundamental da dieta das renas. Ora está-se a tornar difícil para elas encontrar os líquens, no inverno, agora mais quente e húmido. Em vez de neve, cai chuva. Quando as temperaturas descem abaixo de zero,  formam-se  entretanto camadas impenetráveis ​​de gelo  no solo  em vez da normal  crosta de neve macia. Nestas circunstâncias, as renas são incapazes de sentir o cheiro do líquen  ou de escavar para chegar até ele...

Estes animais, para além do sua função ecológico e cultural, têm grande importância económica para as populações locais, sendo criadas pelo valor  da sua  carne, da sua pele e das suas hastes...

As renas são agora obrigadas a deslocar-se  para  mais longe em busca de comida. Pelo caminho, têm de atravesar  linhas férreas ou estradas principais, muitas vezes vedadas,   e onde correm o risco de serem atropeladas e mortas.

As doze "renoducts" cuja construção está planeada   n Norte, nos condados de Norrbotten e Västerbotten,  pretendem mitigar ou aliviar a situação...  E, pelo menos,  as autoridades já não terão, 
de futuro,  de fechar a principal autoestrada norte-sul, a  E4,  quando um rebanho estiver em  trânsito.

[ Tradução, adaptação livre, fixaçáo  de texto, para efeitos de publicação neste poste: LG]

Fonte: Jon Henley - Sweden to build reindeer bridges over roads and railways. The Guardian, 20Wed 20 Jan 2021 13.16 GMT... Com a devida vénia...

 
___________

Notas do editor:

(*) Último poste da série > 19 de janeiro de 2022 > Guiné 61/74 - P22920: (Ex)citações (399): Ética na guerra ? O caso do "matador" do comandante de bigrupo Mário Mendes (1943-1972): "Não se mata um homem de costas", disse ao António Duarte, o apontador da HK 21, do 4º Gr Comb da CCAÇ 12... (Seria o Cherno Baldé ?)

quarta-feira, 19 de janeiro de 2022

Guiné 61/74 - P22920: (Ex)citações (399): Ética na guerra? O caso do "matador" do comandante de bigrupo Mário Mendes (1943-1972): "Não se mata um homem de costas", disse ao António Duarte, o apontador da HK 21, do 4º Gr Comb da CCAÇ 12... (Seria o Cherno Baldé?)


Guiné > Zona leste > Região de Bafatá > Contuboel > CIM de Contuboel > 1969 > CART 2479 / CART 11 (1969/70) > > O Valdemar Queiroz, com os recrutas Cherno Baldé, Sori (Jau ou Baldé) e Umaru Baldé (que, feita a recruta, irão depois para a CCAÇ 2590, futura CCAÇ 12, a partir de 18 de junho de 1970). Estes mancebos aparentavam ter 16 ou menos anos de idade (!). Eram do recrutamento local e, originalmente, não falavam português. Terá sido este Cherno Baldé o "matador" do Mário Mendes? Em 1969/71, havia dois soldados com este nome, ambos fulas, um deles o sold nº 82115269 Ap Metr Lig HK 21, da 1.ª secção do 4.º Gr Comb (que eu, Luís Graça, integrei muitas vezes ao longo da comissão).

Foto (e legenda): © Valdemar Queiroz (2014). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. C
omentário de António Duarte [ex-fur mil da CART 3493, a companhia do BART 3873, que esteve em Mansambo, Fá Mandinga, Cobumba e Bissau, 1972-1974; foi transferido para a CCAC 12 (em novembro de 1972, e onde esteve em rendição individual até março de 1974; economista, bancário reformado, formador, com larga experiência em Angola; tem mais de meia centena de referências no nosso blogue] (*)


Boa noite Camaradas.

O homem do PAIGC, Mário Mendes, lidera a operação de colocação de minas. Mata e provoca feridos à CCAÇ 12  e, passado mais de um ano,  morre às mãos da mesma companhia de caçadores.

Casualidades da guerra, bem tristes por sinal. Há uma curiosidade sobre a morte do Mário Mendes. À época eu pertencia à companhia de Mansambo, a CART 3493 / BART 3873 e assisti a uma conversa entre o furriel que comandava a secção de HK 21 e o soldado fula que o abateu, em Bambadinca. 

A CCAÇ 12 estava no mato e detetou a presença de tropa do PAIGC. Ficou também claro que a CCAÇ 12 estava detetada, Os dois grupos evoluíram com muito cuidado e, a determinada altura, penso já perto da Ponta Varela,  a CCAÇ 12  abandonou o trilho e emboscou dentro do mato, ficando a HK 21  apontada na direção de onde se pensava que poderiam vir as tropas do PAIGC. 

Passados alguns minutos vem ao trilho um homem deles, que se ajoelhou e percebe-se que tenta "ler" as pegadas. Os restantes estavam emboscados no lado inverso ao da CCAÇ 12. O furriel faz sinal ao nosso militar para abrir fogo. Para espanto dele, em vez de disparar e apanhar o guerrilheiro em causa,  debruçado e de costas, o homem do quarto pelotão emite um ruído do género "pst pst", o guerrilheiro volta-se e nesse momento é abatido. 

Justificou-se então o nosso apontador, que ele nunca mataria um homem pelas costas.

Entretanto fui para a CCAÇ 12  em janeiro de 73 e tive a oportunidade de confirmar com o próprio e reafirmou-me que não matava ninguém pelas costas. 

Em síntese um código ético pouco compatível com a guerra.

Um abraço
António Duarte
Ex fur atirador, CART 3493 e CCAÇ 12 (Mansambo e Xime, dez 71 /jan de 74)


18 de janeiro de 2022 às 19:32

2. Comentário do editor LG:

O nosso coeditor Jorge Araújo já aqui deu mais informação detalhada sobre este encontro fatal do Mário Mendes. (***)

O comandante de bigrupo Mário Mendes (1943-1972)  morreu em 25 de maio de 1972, 5.ª feira, no decurso da Acção Gaspar 5, realizada por seis Grupos de Combate,  três da CART 3494 e outros três da CCAÇ 12. 

O encontro fatal deu-se em Ponta Varela, tendo sido capturada a sua Kalashnikov, três carregadores da mesma arma e ainda documentação que dava conta do calendário de acções planeadas para a zona, atuava no Sector 2, da Frente Xitole-Bafatá (, nomenclatura do PAIGC), em particular no triângulo Xitole-Bambadinca-Xime.  (****)

Quem teria sido o "matador" do Mário Mendes?

No meu tempo, no 4º Gr Comb da CCAÇ 12 (Bambadinca, julho de 1969 / março de 1971), a HK21 fazia parte da 1.ª secção. E o apontador era o Cherno Baldé, fula (F):

4.º Gr Comb | Comandante: alf mil  cav 10548668 José António G. Rodrigues [, já falecido, vivia em Lisboa]

1.ª secção | fur mil 15265768 Joaquim Augusto Matos Fernandes [, engenheiro técnico, vive no Barreiro; destacado para o redoordenamento de Nhabijões, logo em finais de 1969; substituído, em muitas ocasiões, pelo fur mil arm pes inf, Luís Manuel da Graça Henriques]

1º Cabo 18861568 Luciano Pereira da Silva [, morada actual desconhecida];
Soldado Arvorado 82115469 Samba Só (F)
Soldado 82109869 Samba Jau (Mun Metr Lig HK 21) (F)
Sold 82115269 Cherno Baldé (Ap Metr Lig HK 21) (F)
Sold 82117569 Mamai Baldé (F)
Sold 82117869 Ansumane Baldé (Ap Dilagrama) (F)
Sold 82118269 Mussa Jaló (Ap Dilagrama) (FF)
Sold 82118969 Galé Sanhá (FF)

2.ª secção (a do Mort 60 e do dilagrama) era comandada pelo  fur mil at inf 11941567 António Fernando R. Marques [, vive em Cascais, empresário reformado] e  3.ª secção (a do LGFog 8,9) pelo 1.º Cabo 00520869 Virgílio S. A. Encarnação [, vive em Barcarena]:

É de todo provável que o Cherno Baldé, sold nº 82115269 tenha sido louvado (ou até ganho uma cruz de guerra) por este feito. Mas havia outro Cherno Baldé, também fula, soldado 82109669, Mun Metr Lig HK 21, que pertencia à 3.ª secção do 3.º Gr Comb (comandado pelo alf mil at inf Abel Maria Rodrigues [, bancário reformado, Miranda do Douro]. 

A 3.ª secção era comandada pelo fur mil at inf n.º 06559968 José Luís Vieira de Sousa [, natural do Funchal, agente de seguros reformado]. 
___________

Notas do editor:


(***) Vd. poste de:

17 de maio de  2017 > Guiné 61/74 - P17368: Efemérides (251): ... em abril de 2017: o 13º aniversário do nosso blogue, o XII Encontro Nacional da Tabanca Grande, os 43 anos do regresso da minha CART 3494, o 25 de Abril e o fim da guerra, o meu batismo de fogo há 45 anos em emboscada comandada pelo Mário Mendes (que viria a ser abatido um mês depois)...enfim, os nossos encontros e desencontros (Jorge Araújo)

21 de dezembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16865: (D)o outro lado do combate (Jorge Araújo) (3): Mário Mendes (1943-1972): o último cmdt do PAIGC a morrer no Xime... Elementos para a sociodemografia do seu bigrupo em 1972: tinha 27.9 anos de idade e 8.9 anos de experiência de conflito...

quinta-feira, 13 de janeiro de 2022

Guiné 61/74 - P22902: (Ex)citações (398): Topónimos de origem árabe: Missirá, Amedalai, Medina, Meca... Curiosidades, controvérsias (Cherno Baldé, Bissau / Fernando Ribeiro, Porto)


Guiné > Região de Bafatá >  Sector L1 (Bambadinca)  > Regulado do Cuor >  Missirá > Pel Caç Nat 52 > c. 1968/69.

"Um momento de Missirá: à esquerda. Madiu Colubali, baixo de corpo, grande de coragem. Grande conhecedor do Corão e da escrita marabu; à direita, o régulo Malã Soncó, em perfeito traje de chefe mandinga - figura bíblica, bravura sem igual. Atrás, o pequeno monumento que os rebeldes destruíram e nós reconstruímos. Ao fundo, à esquerda, a mesquita. À direita, cubata destruída no ataque de [6 de ] setembro [de 1968]. Tudo tão belo"...

Foto (e legenda): ©  Mário Beja Santos (2006). Todos os Direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné] 


1. Comentários ao poste P22891 (*):




Caros amigos,

Com a partida do "Alfero" Jorge Cabral, o unico, o Blogue, os Veteranos da Guerra da Guiné e todos nós, perdemos um Homem bom e invulgar, um excelente Humorista e Comediante nato. Aproveito esta oportunidade para endereçar os meus sentimentos de pesar à familia enlutada e aos amigos mais próximos.

Sobre o Poste de hoje (*), gostaria de apresentar algumas notas, a titulo de curiosidades, que, certamente, o "Alfero" e todos os que passaram pela região, gostariam de saber.

No último parágrafo do seu Conto de Natal o "Alfero" Cabral escreve: 

"Foi em Novembro, estava calor, o Menino era Braima e não Jesus, nenhuma estrela iluminava o céu, e o Alferes não se parecia com os Reis Magos. Porém ainda hoje, ele acredita, que ali no meio do mato, naquela tarde, aconteceu Natal".

Num comentario a um dos Postes anteriores escrevi, mais ou menos isto: Não era o menino Jesus, mas estava o menino Braima que é o maior dos Profetas das trés religiões conhecidas. Braima ou Ibrahima vem do Árabe "Ibrahim" e que corresponde ao Abrão ou Abraham dos Cristãos.

O topónimo Missirá (nas línguas dos povos muçulmanos da Senegâmbia) vem, também, do Árabe "Misr" ou "Misra", ou seja o nome dado, pelos árabes, ao Egipto. 

São da mesma origem topónimos como Hamdalaye (cidade de Allah), Keruane ou Quereuane (cidade de Cairo), Madina (Medina, cidade do Profeta, na Arábia Saudita onde foi enterrrado o Profeta Mohammed) e muitos outros. 

Curiosamente, não tenho ouvido nenhuma localidade com o nome de Maca (Meca) que, mesmo sendo considerada a cidade santa, não merece muita reverência, provavelmente devido ao facto da sua longa resistência e luta tenaz movida pelo clã dos Kuraisitas (Clã do proprio Profeta) contra a religião islâmica e ao próprio Profeta,  obrigando-o a fugir e refugiar-se na região mais ao Norte onde encontrou apoio entre os clãs de Medica.

Na região da Africa Ocidental, especialmente nos paises de maioria muçulmana, são muitos os topónimos de origem Árabe devido  influência da religião islâmica que aconteceu nos séculos anteriores à colonizaçao europeia, e fundamentalmente no século XIX com a entrada em cena dos povos Fulbés ou fulanis (fulas, em português) e a fundação de importantes reinos teocráticos que alteraram radicalmente o cenário politico, demográfico e sócio-cultural da região, desde o Oceano Atlântico (Senegal/Mauritânia) até à África Central (Camarões e RCA). 

Estes movimentos e reinos nascidos das "Djihads" de letrados Fulbhées da região foram depois vencidos ou subjugados através de politicas de Protectorados pelas potências coloniais. Todavia, assistimos de novo ao recrudescer do fenómeno "Djihadista" sob outras roupagens e caracteristicas, fundamentalmente fruto de políticas erradas e de governos exclusivos e a marginalização de povos inteiros que não se reconhecem nos governos e lideranças nascidos das independências precipitadas e mal geridas, cujas consequências e impactos ninguém pode prever, por enquanto.

Com um abraço amigo,

Cherno Baldé

9 de janeiro de 2022 às 13:51

(ii) Fernando de Sousa Ribeiro

Caro amigo Cherno Baldé e restante pessoal

Existe em Portugal uma localidade chamada Meca. É uma pequena aldeia situada a norte de Alenquer. Fui lá uma vez há muitos anos e deparei-me com uma grande e imponente igreja, grande e imponente demais para uma aldeia tão pequena, o que não é caso único em Portugal. Todos os anos realiza-se no adro fronteiro à igreja uma cerimónia de bênção do gado. Os criadores de gado da região reunem as suas ovelhas, cabras e bois no largo, para que o padre abençoe os animais, aspegindo-os com água benta.

Embora a igreja e o ritual sejam católicos, o nome Meca pode ter origem muçulmana, pois os árabes ocuparam a região durante cerca de quatro séculos e deixaram numerosos vestígios. O topónimo Alenquer, por exemplo, é de origem árabe. Por outro lado, um vulcão extinto existente nas proximidades da aldeia poderia ter sido um local para rituais pagãos realizados muitos séculos atrás, dos quais a bênção do gado poderia ser um sobrevivente.

sábado, 8 de janeiro de 2022

Guiné 61/74 - P22888: (Ex)citações (397): Surpreendido com o aumento do nº de leitores do blogue, a partir da Suécia (José Belo, Key West, Florida, EUA)


 
A bola de cristal para se olhar o novo ano 2022... Imagem fornecida pro J. Belo (2022)




1. Mensagem de Joseph Belo, foto acima:  

(i)  José Belo, jurista, o nosso luso-sueco, cidadão do mundo, membro da Tabanca Grande, reparte a sua vida entre a Lapónia (sueca), Estocolmo e Key-West (Flórida, EUA); (ii) foi nomeado por nós régulo (vitalício) da Tabanca da Lapónia, agora jubilado;  (iii) na outra vida, foi alf mil inf, CCAÇ 2391, "Os Maiorais", Ingoré, Buba, Aldeia Formosa, Mampatá e Empada, 1968/70); (iv) é cap inf ref do exército português; (v) durante anos alimentou, no nosso blogue, a série "Da Suécia com Saudade";  (v) tem 213 referências no nosso blogue.

Data - 7 jan 2022 20:37  
Assunto - E….o tempo passa!

Caro Luís:

Surpreendido com o aumento de leitores do blogue desde a Suécia. (*) 

Nos últimos anos as minhas leituras do blogue são mais frequentes desde os Estados Unidos, Key West/Florida, onde realmente passo grande parte do ano.

Existe actualmente na Suécia um número de estudantes portugueses, somados a alguns outros que aqui se especializam depois de terminarem aí os seus cursos. Mas as suas idades não levam a crer que se interessem por blogues de ex-combatentes de África. Se é que sabem que no passado (!) houve umas guerras em África.

Quanto às minhas renas a “computar” desde há muito que estão proibidas de o fazer. Seguiam unicamente os “sites” ligados à pornografia da mais avançada.

A última explicação possível (, apesar de não querer ir por aí!) poderá estar ligada às nossas idades avançadas, quase bíblicas, que, com os inerentes esquecimentos, nos poderão levar até ao blogue 40 vezes por dia sem nunca nos recordarmos de o ter já feito anteriormente!

Um abraço

J. Belo 

PS - Aqui segue a tal bola de cristal para se olhar o novo ano 2022.
O céu está azul…em imagem invertida. Esperemos que. invertida ou não, seja céu azul todo o ano.

_________

Notas do editor:


(**) Último poste da série >  20 de novembro de 2021 > Guiné 61/74 - P22732: (Ex)citações (396): A maldição da canoa papel está ainda na cabeça daqueles guineenses, etnocêntricos e xenófobos, que continuam a ter muita dificuldade em aceitar a unidade na diversidade (Cherno Baldé, Bissau)

sábado, 20 de novembro de 2021

Guiné 61/74 - P22732: (Ex)citações (396): A maldição da canoa papel está ainda na cabeça daqueles guineenses, etnocêntricos e xenófobos, que continuam a ter muita dificuldade em aceitar a unidade na diversidade (Cherno Baldé, Bissau)



Guiné > Bissau > s/d [. c 1960/70] > "Praça Honório Barreto e Hotel Portugal"... Bilhete postal, nº 130, Edição "Foto Serra" (Colecção "Guiné Portuguesa") (Detalhe).... Colecção: Agostinho Gaspar / Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2010).

A Praça, com o nome do "colonialista" e "esclavagista" Honório Barreto (1813-1859) (um guineense, de mãe guineense e pai cabo-verdiano, que foi governador do território, ou nelhor, capitão-mor do Cacheu, e também de Bissau,  por diversas vezes, e que como tal defendeu a integralidade da terra que é hoje a Guiné-Bissau, o que não impediu de, um século depois depois, ter sido diabolizado pelo PAIGC), seria rebatizada, em 1975, como Praça Che Guevara, um "internacionalista revolucionário", de origem argentina, e herói da revolução cubana,  que nunca pôs os pés na Guiné... 

E era aqui, neste sítio da  Bissauvelha,  onde, dizia a lenda, estaria enterrada a canoa papel...  Recorde-se a maldição lançada pelos balobeiros papéis: "Quando os estrangeiros se forem embora, esta canoa tem que ser desenterrada, e feita uma cerimónia para acabar com esta maldição, senão nunca mais haverá paz e felicidade na Guiné, por isso os pais têm que passar estas palavras para os seus filhos. Não se podem esquecer de fazer a cerimónia!" (*)
.
Foto (e legenda): © Luís Graça (2009). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

1. A propósito de "a lenda da canoa papel", aqui (re)contada, no  Poste P22726 (*), comentou o Cherno Baldé:


 [ Cherno Baldé: nosso colaborador permanente, e nosso especialista em questões etno-linguísticas, nasceu no chão fula, e é muçulmano; tem formação universitária tirada na antiga União Soviética e em Portugal; é e um acérrimo crítico dos "demónios étnicos" que estão longe de ter sido esconjurados e expulsos do seu país;  além disso, é  membro da nossa Tabanca Grande desde 16/8/2009; com mais de 235  referências no nosso blogue, é autor da notável série "Memórias do Chico, menino e moço"]

Pudera que fosse só uma lenda como todas as lendas do mundo, mas na realidade trata-se de uma maldição com contornos reais na vida politica e social do nosso país e que impregnou fortemente o núcleo da ideologia e dos dirigentes do Paigc que dirigiram o país com mão de ferro. 

Inclusive a própria constituição está contaminada com os resquícios desta xenofobia anti-alienígena que pode constituir um forte obstáculo a construção dos fundamentos da unidade nacional. O ambiente politico e social na Guiné-Bissau ainda respira este sentimento que está associado as origens e a manutenção da lenda da canoa papel.

A lenda dá enfâse ao nome de N'tsinha Té, ou Intchinate,  que conseguiu vencer os rivais e ocupar o lugar do conhecido rei Papel, Bacampoló Có, quem, na realidade, teria concedido o terreno para instalação dos portugueses. Todavia o N'tsinha Té ter-se-ia notabilizado devido ao seu temperamento belicoso que criou sérios problemas na construção do forte, arrastando-se ao longo do tempo desde o séc. XVII.

Também é preciso dizer que, entre os "indígenas" da Guiné não existiam os conceitos de compra e venda quando se tratava da terra, pois que. não sendo seus reais detentores, de forma alguma podiam alienar um bem colectivo (comunitário) à guarda dos espíritos (Irãs). Esta incompreensão criou mal-entendidos e gerou muitos conflitos, mormente na Guiné, dita portuguesa.

Se há uma característa que particulariza os povos do litoral (ditos animistas) em relação  aos do interior (muçulmanos) é o forte espírito de ligação ao seu Chão (o solo) e o sentido patrimonialista que os leva, não raras vezes, a ostracizar os seus próprios compatriotas oriundos de outros Chãos do mesmo país. E isto reflecte-se imenso nas disputas políticas, eleitorais o que, muitas vezes, empresta o modo étnico-tribal como as diferentes comunidades e grupos sociais se posicionam no terreno político-partidário. 

O Paigc, designadamente, apesar do discurso aparentemente apaziguador e unitário nunca foi seguido de uma prática de justiça e de governação unificadoras, dai o desnorte e cacofonias actuais.

No âmbito da politica de reconstrução pós-independência empreendida pelo partido único, fui professor voluntário, na regiāo de Biombo, de 1981/85, e só muito tardiamente constatei que era visto e tratado como um estrangeiro e, sempre que prestava um serviço ou fazia um favor a alguém, no fundo, era percebido como uma obrigação, o pagamento do direito que me concediam pelo direito de viver no seu Chão, igual ao 'Dacha" que exigiam aos portugueses que viviam nas suas terras. 

Esse é o espírito patrimonialista típico do guineense e que, porventura, pode ser muito mais acentuado nos grupos do litoral, designadamente entre os Papéis de Bissau, e quiçá da região de Biombo.

Para terminar, quero confirmar que, efectivamente foram feitas escavações na rotunda Che-Guevara (antiga praça Honório Barreto),  após o golpe de 14 de Novembro de 1980 e foi um desperdício de tempo e dinheiro. A canoa que buscavam no interior da terra, na realidade, estava na cabeça das pessoas que têm dificuldades enormes em aceitar a unidade na diversidade que é a maior riqueza da Guiné-Bissau e a única via para a construção de uma nação forte e unida.(**)

Com um abraço amigo, Cherno Baldé (***)
_______

Notas do editor:

(*) Vd. poste da série > 18 de novembro de 2021 > Guiné 61/74 - P22726: "Lendas e contos da Guiné-Bissau": Um projeto literário, lusófono e solidário (Carlos Fortunato, presidente da ONGD Ajuda Amiga) - Parte VIII: A lenda da canoa papel (...ou a maldição da pátria de Cabral)

(**) Vd. também postes de :