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quarta-feira, 29 de julho de 2020

Guiné 61/74 - P21208: Os nossos regressos (37): O pessoal do Comando e CCS/BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968 / 70) chegou a Lisboa, no T/T Carvalho Araújo, a 26 de junho de 1970 (Fernando Calado)

I. Mensagem de Fernando Calado (ex-alf mil trms, CCS/BCAÇ 2852, Bambadinca, 1968/70) [, na foto ao lado, em Brá, no início da comissão, é o primeiro à direita, acompanhado do nosso saudoso João Rocha, 1955-2018]

Data:  segunda, 27/07/2020 à(s) 16:00

Assunto: Regresso da guerra na Guiné

Caro amigo,


Relativamente à data da chegada a Lisboa, a bordo do "Carvalho Araujo", da CCS do BCaç 2852, esclareço seguinte  (*):

1- A data referida de 19.07.70 está registada no único documento que anexei e que me foi  entregue no dia da chegada em Abrantes (**). É referido ainda que o documento substitui a caderneta militar e dele consta a passagem à disponibilidade no dia seguinte. Tanto quanto me lembro os oficiais milicianos não tinham caderneta militar.

2- Naturalmente que fui sensível às dúvidas levantadas e consultei dois  camaradas e amigos que vieram comigo no barco e ainda detentores de caderneta militar onde foram registadas as datas de partida  e de chegada do "Carvalho Araújo#. Refiro-me ao Furriel Miliciano de Transmissões Sérgio Fernandes Velho e ao Furriel Miliciano do Pelotão de Sapadores José Manuel Amaral Soares.

3- Na verdade aqueles registos referem que o barco que transportou a nossa companhia, partiu de Bissau em 16.06.70 e chegou a Lisboa em 25.06.70.

Já agora a companhia saiu de Bambadinca para Bissau via Xime [, em LDG,] , no dia 08.06.70, de acordo com o registo que consta da colectânea de documentos reservados da autoria do Furriel Miliciano José Duarte Martins Pinto dos Santos.

4- Assim, apresento as minhas desculpas pela informação errada, que resultou provavelmente de um lapso de quem há 50 anos preencheu o documento.

Um grande abraço

Fernando Calado

II. Comentário do editor:

 Consultada a história da Unidade, em formato de papel, lê-se a seguinte informação sucinta (HU - Cap Ii - Pág. 153):

(...) "No dia 29 e 31 de maio [de 1970] chegaram as forlas do BART 2917, começando-se assim a sobreposição. Durante este período, para que as novas companhias [CART 2714, Mansambo; CART 2715, Ximee CART 2716, Xitole] ficassem a conhecer as suas zonas de ação, realizaram-se várias ações.

"Em 8 de junho de 1970, o BCAÇ2852 deixou o Setor L-1, indo para Bissau, aguardando embarque para a Metrópole".

A História da Unidade acaba com o resumo, de 4 páginas, dos "factos e feitos mais importantes do batalhão" que talvez valha a pena, um dia, publicar aqui no blogue. Fica ao cuidado do Fernando Calado...

________________

Notas do editor: 


(*) Último poste da série > 25 de julho de  2020 > Guiné 61/74 - P21196: Os nossos regressos (37): Comando e CCS/BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70): foi há 50 anos, no T/T Carvalho Araújo, com algumas pequenas peripécias... (Fernando Calado)


(**) Vd. poste de 19 de julho de 2020 > Guiné 61/74 - P21185: Efemérides (330): Faz hoje 50 anos que regressou, do CTIG, o BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70) (Fernando Calado)

terça-feira, 26 de maio de 2020

Guiné 61/74 - P21011: (In)citações (162): Agradecimento pela homenagem que me foi feita, por ocasião do meu 84º aniversário; espero para o ano poder ir ao convívio do pessoal do meu batalhão (Arsénio Puim, ex-alf mil capelão, CCS / BART 2917, Bambadinca, maio 1970 / maio 1971)

1. Mensagem do nosso camarada, amigo e grã-tabanqueiro Arsénio Puim [. ex-alf mil capelão, CCS / BART 2917, Bambadinca, maio 70/ maio 72; natural da ilha de Santa Maria, RA Açores, vive na  ilha de São Miguel]: 

Date: terça, 26/05/2020 à(s) 13:13

Subject: agradecimento

Grande amigo Luís


Muito obrigado pelas tuas palavras de apreço e indesmentível amizade que quiseste incluir no registo de testemunhos organizado pelos meus filhos no meu 84.º aniversário.

Quero também transmitir o meu agradecimento ao Machadinho, o Guimarães, o Levezinho e o Beja Santos pelas suas mensagens de felicitações e apreço que me escreveram. Semesquecer o lino Bicari. Com tempo, hei-de responder individualmente. (`)

Envio também os meus cumprimentos amistosos a todos os camaradas da Guiné, cujo convívio durante um ano ou um ano e 20 meses para alguns, apreciei muito e a quem procurei servir, conciliando, quanto possível, a minha qualidade de capelão militar e de padre da Igreja de Cristo.

Neste contexto de pandemia, e atento o facto de pertencer a um grupo de risco, vivi os últimos dois meses e meio, e vou continuar mais algum tempo, «internado» em casa mais a Leonor. E foi nestas condições que celebrei os meus anos, dum modo muito «sui generis», conjuntamente com a esposa, filho, nora e netas: nós dentro de casa, na sala, eles fora, debaixo do alpendre, separados uns dos outros por uma janela grande; dentro o bolo dos anos, fora uma réplica do bolo; soprei as velas e cantámos, todos, os parabéns; através dos vidros, saudámo-nos e «atirei beijinhos» às netinhas, que corresponderam com o mesmo gesto.

Posso dizer-vos que gostaria de ainda participar mais uma vez num encontro do Batalhão. Talvez para o ano, se Deus quiser.

Um grande abraço para ti e esposa

Arsénio Puim
____________

Nota do editor:

(*) Vd. postes de:

9 de maio de 2020 > Guiné 61/74 - P20957: (In)citações (160): Homenagem ao ex-alf mil capelão, Arsénio Puim, CCS / BART 2917 (Bambadinca, 1970/72), no seu 84º aniversário - Parte VI (a): Muita saúde e longa vida, Arsénio Puim, porque tu mereces tudo! (Luís Graça)


9 de maio de 2020 > Guiné 61/74 - P20957: (In)citações (160): Homenagem ao ex-alf mil capelão, Arsénio Puim, CCS / BART 2917 (Bambadinca, 1970/72), no seu 84º aniversário - Parte VI (a): Muita saúde e longa vida, Arsénio Puim, porque tu mereces tudo! (Luís Graça)

9 de maio de 2020 > Guiné 61/74 - P20955: (In)citações (149): Homenagem ao ex-alf mil capelão, Arsénio Puim, CCS / BART 2917 (Bambadinca, 1970/72), no seu 84º aniversário - Parte V: lembranças do capelão do BART 2917 (Beja Santos)

8 de março de 2020 > Guiné 61/74 - P20954: (In)citações (148): Homenagem ao ex-alf mil capelão, Arsénio Puim, CCS / BART 2917 (Bambadinca, 1970/72), no seu 84º aniversário - Parte IV: o termos vivido e sofrido a mesma contradição numa realidade que nos obrigou, cada um de sua maneira, a uma reviravolta na vida (Lino Bicari)

8 de maio de 2020 > Guiné 61/74 - P20952: (In)citações (147): Homenagem ao ex-alf mil capelão, Arsénio Puim, CCS / BART 2917 (Bambadinca, 1970/72), no seu 84º aniversário - Parte II: Mais um de nós (Tony Levezinho); Parte III: O único santo que conheci em Bambadinca (Luís Graça)

sábado, 9 de maio de 2020

Guiné 61/74 - P20955: (In)citações (149): Homenagem ao ex-alf mil capelão, Arsénio Puim, CCS / BART 2917 (Bambadinca, 1970/72), no seu 84º aniversário - Parte V: lembranças do capelão do BART 2917 (Beja Santos)


Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá > Setor L1 > Bambinca > CCS/ BART 2917 (1970/72) > O Mário Beja Santos, cmdt do Pel Caç Nat 52, em fim de comissão, junto ao edifício de comando, messe  e instalações de oficiais. Era aqui o quarto do médico e do capelão... (Do lado esquerdo, eram as instalações dos sargentos; o edifício em U fora construído pela Engenharia Militar, BENG 447, ao tempo do BART 1904 (, que será substituído pelo BCAÇ 2852, 1968/70)... O Beja Santos, que esteve em Missirá, conheceu estes 3 batalhões).

Arquivo do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné


1. Lembranças do capelão do BART 2919

por Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70)

Arsénio Puim. Foto do cmdt da CCS / BART 2917,
Cap Art Gualberto Magno Passos Marques,
Convivi com três batalhões, dependi sempre das respetivas CCS, tudo que tinha a ver com cimento e arame farpado, tratamentos de enfermaria, visitas do médico ao Cuor, ou doentes do Cuor à consulta médica, manutenção de viaturas, pagamentos à tropa (caçadores nativos e milícias), munições, caixas com bacalhau e barricas de pé de porco, tinha que ser tratado com o respetivo comandante ou seu substituto. 

Comecei com o BART 1904, até setembro de 1968, com o BCAÇ 2852, até maio de 1970, e até fins de julho com o BART 2919. 

Tivemos vários capelães de passagem, dormiam no quarto com o médico, a recordação mais bizarra que conservo eram as discussões fora de horas entre o Dr. Vidal Saraiva e o capelão, tudo aos gritos, dizia o médico que Deus não existia, pois se existisse não consentiria naquela carnificina. Gritavam um com o outro, o Vidal Saraiva atirava violentamente com a porta e vinha queixar-se para outros quartos, amainava com um copo de uísque e retirava-se com uns livros do Tio Patinhas.

Isto tudo para explicar que tenho fugazes lembranças do Arsénio Puim, era muito comedido nas suas homilias, muito reservado na messe, nós tínhamos um tema em comum que eram os Açores, originário da Ilha de Santa Maria, devo tê-lo aborrecido a contar as peripécias com um pelotão de marienses que apareceu nos Arrifes, não puderam ir passar o Natal de 1967 com as famílias, procurou-se colmatar o desgosto organizando uma festa em que houve imensa participação de gente amiga, assim se amainou a saudade daqueles jovens que passavam o primeiro Natal longe de entes-queridos. 

Guardo as melhores lembranças do batalhão recém-chegado. Ciente de que estava a atingir 24 meses de comissão, e já num estado físico pouco lisonjeiro, o tenente-coronel Domingos Magalhães Filipe deu-me como prato de substância o apoio aos trabalhos do alcatroamento da estrada do Xime, entre Amedalai e Ponta Coli, um non-stop das cinco da manhã às cinco da tarde e as noites horríficas na ponte do rio Undunduma, a título excecional aquele trabalho árduo que era a organização das colunas de Bambadinca ao Xitole, onde íamos com a CCAÇ 12.

Nos 84 anos do Arsénio Puim, posso dizer que lhe desejo uma longa vida plena de alegrias, que lhe estou grato pelo conforto espiritual que me ofereceu, tanto não o esqueço que tenho procurado enviar-lhes correio eletrónico e que bom seria que ele viesse à liça, que nos deixasse as suas memórias, pois só dispomos de testemunhos raros e de um modo geral fragmentados, ponto curioso é que muitos de nós não os esquecemos, há testemunhos tocantes de capelães que suavizaram a vida de quem penava nos confins do mato e carecia de arrimo religioso. 

Será muito bem-vindo tudo quanto o Arsénio Puim escrever das suas lembranças em Bambadinca e arredores. E, Arsénio, receba um abraço muito afetuoso do Mário Beja Santos
_____________

Nota do editor:

sexta-feira, 8 de maio de 2020

Guiné 61/74 - P20951: (In)citações (146): Homenagem ao ex-alf mil capelão, Arsénio Puim, CCS / BART 2917 (Bambadinca, 1970/72), no seu 84º aniversário - Parte I: "A coragem de um padre que não abdicou de o ser lá onde era o seu sítio: o altar" (Abílio Machado)


Viana do Castelo > 16 de Maio de 2009 > 3º Convívio do pessoal da CCS do BART 2917 (Bambadinca, , 1970/72). > O ex-alf mil capelão Arsénio Puim veio propositadamente dos Açores. (Aliás, voltaria no ano seguinte, para o 4º convívio, que se realizou em Corcuhe, em 27 de março de 2010.)

Há 38 anos que não via nem abraçava os seus camaradas e amigos do batalhão e subunidades adidas (**).  Para ele, o fim da comissão de serviço, no TO da Guiné. acabou abruptamente, ao cabo de 12 meses, em maio de 1971, com a sua expulsão das fileiras do exército e do CTIG.

Foto (e legenda):  © Benjamim Durães (2009). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Do Miguel Puim, economista, filho mais novo do nosso camarada Arsénio Puim, recebemos, há mais de dois meses, o seguinte pedido:

Data: domingo, 16/02, 16:54

Assunto: Guiné, Arsénio Puim


Caro Luís Graça,

Apresento-me,  referindo que sou filho de Arsénio Puim, com o qual conviveu na Guiné. No próximo dia 8 de maio, Arsénio Puim fará 84 anos. (*)

Neste contexto, encontro-me a juntar um conjunto de felicitações / depoimentos sobre o meu pai, feitos por quem o conhece e com ele conviveu em diferentes etapas da vida, com o intuito de lhe ser oferecido no seu dia de aniversário.

Neste sentido, gostaria muito de poder contar com uma mensagem sua de felicitação. Tendo em conta igualmente que conviveu com o meu pai na Guiné, gostaria ainda de lhe pedir um testemunho sobre o meu pai, destacando algo que entenda relevante relativamente à sua ação na Guiné.

Poderia igualmente indicar-me a quem acha que devo pedir um testemunho (e se possível respetivos contactos de e-mail)? 

Tendo em conta que se pretende (vamos ver se será possível!) manter a surpresa, agradeço que não lhe refira este pedido até à data do aniversário.

Muito obrigado, Miguel Puim.


2. O nosso editor Luís Graça prontificou-se, de imediato, a colaborar com o Miguel, e fez contactos com outros camaradas que conviveram com o ex-alf mil capelão Arsénio Puim, em Bambadinca, ao tempo da CCS/BART 2917 (1970/72), da CCAÇ 12 (1969/71) e de outras subunidades, como o Pel Caç Nat 52, o Pel Caç Nta 63, o Pel Rec Daimler 2206, etc.

Foi possível juntar, em tempo útil,  com discreção, e em plena pandemia de COVID-19, alguns testemunhos, que aqui reproduzimos, com a devida autorização dos próprios e do Miguel Puim.

Um dos camaradas mais próximos do Puim foi o Abílio Machado, ex-alf mil, da CCS. No mail em que mandou, em anexo, o seu depoimento, escreveu o seguinte:

 "(...) O Puim (...) está seguramente entre  as pessoas que me marcaram e com quem convivi mais estreitamente em Bambadinca (além dos furriéis  da CCAÇ 12 - ainda hoje me pergunto porque me fui juntar a tal grupo de malandros, eu, o Bilocas"... ).

O Abílio Machado  tem 15 referências no nosso blogue.   Foi alferes miliciano, com a especialidade de contabilidade e administração, pertenceu à CCS (Companhia de Comando e Serviços) / BART (Batalhão de Artilharia) 2917, sediado em Bambadinca, 1970/72.

Foi também  um dos fundadores do grupo musical "Toque de Caixa"; vive na Maia; é autor do "Diário dos Caminhos de Santiago" (Porto, 2013). 

Profissionalmente, foi quadro superior da indústria farmacêutica. É pai de filhos e avô de netos...É natural de Riba D'Ave, Vila Nova de Famalicão... A malta da CCAÇ 12 (, eu, o Tony Levezinho, o Humberto Reis, o Gabriel Gonçalves...) tratávamo-lo, com todo o respeito e ternura, por "Bilocas", o "Bilocas da Cooperativa"... Referência às suas origens, em Riba d'Ave.

O Machado era "habitué" das nossas noites loucas no bar de sargentos de Bambadinca, um "bar aberto", se bem que o Arsénio não o frequentasse, a não ser pontualmente: falávamos mal, bebíamos em excesso, ladrávamos contra os "cães grandes", invectávamos Deus e o Diabo... Havia mais alferes, como o J. L: Vacas de Carvalho, do Pel Rec Daimler 220que tocava viola, bem como  praças, por exemplo, o 1º cabo cripto da CCAÇ 12, o GG, o Gabriel Gonçalves, também outro exímio tocador de viola...O bar de sargento de Bambadinca, naquela época, era a única "ilha"  da "cova do lagarto" (nome de Bambadinca, em mandinga) onde não havia "apartheid"...


Lisboa > Centro Comercial Colombo > Loja FNAC > 12 de março de 2010 > Apresentação, ao vivo,.  do novo CD ", "Cruzes Canhoro", do grupo musical "Toque de Caixa" Edição: Ocarina. N foto, de pé, à esquerda, o porta-voz (e co-fundador) do grupo: Abílio Machado (que esteve connosco em Bambadinca, entre maio de 1970 e março de 1971; ex-Alf Mil, CCS / BART 2917, Bambadinca, 1970/72. fizemos lá uma bela amizade: ele, um periquito, um alferes de secretaria da CCS, e nós, operacionais, "pretos de 1ª classe", da CCAÇ 12, uma companhia de intervenção africana, ao serviço dos senhores da guerra de Bambadinca e de Bafatá; nós, eu, o Humberto Reis, o Tony Levezinho, o Zé da Ilha, o GG - Gabriel Gonçalves e outros, noctívagos, que gostávamos de cantar, beber, conviver, de preferência, pelas altas horas da noite... 
A malta de Bambadinca apareceu em força: aqui o Machado troca impressões com  ex-alf mil sapador Luis R. Moreira (DFA,  reformado como professor do ensino secundário) e Júlio Campos, ex-fur mil sapador, ambos da CCS / BART 2917... O Júlio, de rendição individual, chegará a Bambadinca em março de 1971, quando a malta da CCAÇ 12 faziam as maltas, aguardando o respectivo periquito... Menos de dis meses seria expulso das fileiras do exército e do TO da Guiné o ex-alf mil capelão Arsénio Puim.

Foto (e legenda): © Luís Graça (2010). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


3. Depoimento de Abílio Machdo > Arsénio Chaves Puim:  A coragem de um padre que não abdicou de o ser lá onde era o seu sítio: o altar. 

Dizem-me que botas já p’ra riba de dois carros, não sei se em Sta. Maria que te deu à luz usam vocês estes ditos quando se quer dizer que alguém tem mais de 80; seremos só nós aqui no Minho a usá-los, meio galegos somos, e rurais, que até avaliamos a idade do vizinho pelos alqueires de milho que uma junta de bois carrega.

Mas vamos ao que aqui me trouxe.

Pediram-me um testemunho, testemunho darei, porque testemunha fui de tudo o que vou contar. E interveniente.

Se isto tribunal fora e juiz houvera, diria que abono em favor da vítima… e da vítima direi que, cordeiro imolado, julgada vencida, ressurgiu vencedora. Dos réus, que os há, alguns já lá estão; outros, se o não saldaram neste mundo, no outro o pagarão: é a esperança que fica a quem, incréu como eu, já não crê em outros mundos, tão assustador lhe parece este.

* 1

Alguém me fez chegar a notícia que algo se passava com o Pe. Puim.  Larguei o serviço. Entrei. Irrompi, diria melhor, pelo quarto dentro.

O Puim, sentado na cama, enxovalhado ( o enxovalho só deslustra quem o lança… ), mas não humilhado (só nos humilha quem nós deixamos)…

Sento-me ao seu lado, pergunto mais por gesto que palavras “que se passa?“.  Não responde…

Vasculhavam o quarto, dois ou mais serventuários…

- Nosso alferes, não pode estar aqui… - alguém me diz.

Tive de sair, expulso do quarto.  Já não fui para o gabinete, fiquei por ali, na parada, à espera do desenlace.  O tempo passou… vi passar o Puim a caminho do DO 27, mais sereno, apesar do terror que tal barcarola sempre lhe causou.

E fiquei-me por ali a pensar que negro destino lhe reservariam… e a rememorar o companheiro de tantos momentos e desabafos.

( A coragem de um padre que não abdicou de o ser lá onde era o seu sítio: o altar.

Já corriam, porventura trazidos pela brisa que vinda de certa Casa ribeirinha se espalhava às vezes serena, às vezes inquieta pela parada do quartel, uns ditos de que o padre Puim se desmandava nas homilias. – escrevi eu no blog Luis Graça e camaradas da Guiné).


No dia 1 de Janeiro de 1971, Dia Mundial da Paz, sobre a paz predicaste. Disseste-mo.

Eu não ia às tuas missas, como sabias: as minhas missas contigo eram grandes conversas, edificantes, pela noite fora.

( Lembro que uma das últimas missas a que assisti, à boca de ser arregimentado para Mafra, foi em Macieira da Lixa: oficiava o Padre Mário, corriam gentes dos quatro cantos do Norte a ouvi-lo, não crentes dos mistérios divinos muitos deles, mas sequiosos todos da palavra.

Só mais tarde – ironias que o Olimpo nos reserva – vim a saber que o Pe. Mário tivera, anos antes, o destino que te estava reservado.

Também despadrou, como tu… tenho comigo que é mandinga que a Guiné lança aos padres jovens e generosos, a dizer-lhes que o seu reino é deste mundo e nele devem exercer a palavra, o Verbo).

Poderá ter sido a ajuda, o desvelo com que trataste as mulheres e crianças capturadas em certa operação e abandonadas à sua sorte, sem eira nem beira, como dizemos por cá, sem

grão para comer nem palha para deitar.

Poderá… mas para mim, foi a palavra que te condenou.

Verba volant, scripta manent: as que são ditas do altar não as leva o vento, calam dentro dos espíritos como recados escritos na pedra.

Não esqueças que em certos domingos deixávamos o quartel, descíamos ambos a ladeira que levava ao Geba e ancorávamos em certa casa: Casa Gouveia.

A umas entradas de banana-pão salteada de pequenos cubos de salpicão frito, seguia-se um chabéu (que, como a Coca-Cola, primeiro se estranha e depois se entranha, como dizia o outro ) arrastado, lento pela tarde fora: os fígados jovens a deslaçar o óleo de palma.

E uma ou duas bazucas a acompanhar, que calor está hoje, santo Deus!

Varreu-se-me de todo de como surgiu o convite e criámos o hábito de tais repastos: ao invés lembro bem que o dono da casa se dava por Mesquita e que fora nado e criado em Joane, V. N. de Famalicão, a dois passos da minha terra, do outro lado do cabeço do monte.

Mal te levaram, nunca mais lá voltei… ainda veio um convite, não houve segundo.
*2

O caso do furriel Uloma, da cabeça decepada e das fotos é agora contado …

Tu eras um dos presentes, por certo. Era o fim do jantar em que passávamos ao bar para os digestivos… retomávamos o debate tido durante o repasto sobre a natureza do exército, a sua intervenção na sociedade, o problema da guerra, das guerras, com o comandante Magalhães Filipe a sustentar a controvérsia… eis senão quando, a uma observação sua sobre a ética militar, rapo do bolso duas fotos da cabeça que trazia comigo e mostro-lhas:

- Diga-me, meu comandante, como é que um exército que se pauta por esses princípios se permite actos destes?

Um silêncio de cemitério…

De imediato, reunião do comando e, com o 2.º comandante a coordenar a caçada, ordens para chamar os autores das fotos, saber a lista dos compradores e proceder à recolha de todas.

Compreenda-se o pânico do comando, o país via-se isolado no contexto internacional, devi-do à ditadura e à sua política colonial… o Papa Paulo VI, amigos, recebera os líderes dos movimentos rebeldes, a psico do Spínola caminhava o seu caminho, fotos daquelas eram fogo nas mãos do inimigo.

Quem fosse por essa altura iniciado na política – eu passara por Coimbra nos anos da brasa – sabia que documentos desse tipo dariam não pequeno desassossego ao ministro Rui Patrício.

Eu próprio - tinha comprado 6 fotos – fui com o cabo Silva, do meu departamento e um dos autores das fotos, ao local onde se depositava o lixo e, miraculosamente, consegui, de dedo no nariz, três ou quatro bocados de fotos que comprovavam o que dissera, que às minhas, agoniado, as deitara ao lixo.

Algumas chegaram à Metrópole (duas trouxe eu: estão nas mãos de um conhecido comentador político e hoje com uma obra meritória de recolha de material de interesse histórico, “efémero” ou não…). Quebremos a confidencialidade, vamos aos arcanos da memória: o citado comentador, pelos fins dos anos 60 era visita assídua da minha terra e de casa do meu futuro sogro, e, por alturas de 73, recruta-me para o CMLP( Comité Marxista-Leninista Português), passando a ser o meu controleiro.

Numa conversa sobre a guerra, falei das fotos: entreguei-lhas… pelo meticuloso que é, não duvido que as tenha ainda hoje em sua posse.

*3

Li, num dos excertos do teu diário, publicado no blog, que também andaste no barco turra.  Sim, eu fui contigo para Bissau, em missão de patacão… irias tu prestar contas ao [Major Capelão] Gamboa?

O Batalhão rejubilava quando o Machado (Machadinho, na tua versão), a cada mês, pasta na mão, rumava a Bissau ao BNU levantar manga de patacão.

Não pouco trabalho me deu a missão nos primeiros meses: as notas bem eu as acadimava, agora as moedas (traze-me moedas para pagar aos praças – pedia-me o 1.º Brito ) enchiam um saco militar de uns bons vinte quilos.

Com o tempo, conheci outros tesoureiros: sincronizávamos a ida a Bissau, ao jantar, um ficava de atalaia ao patacão de três ou quatro batalhões, dormíamos em sobressalto, por travesseiro um monte de notas como nunca mais veria em dias da minha vida…


*4

E lembro, claramente lembro a noite em que no teu quarto ouvimos (sigilosamente, como se fora a Rádio Moscovo) na Rádio Conacri as primeiras declarações do tenente Januário sobre o assalto à cidade capital da ex-Guiné francesa.

Após a passagem, certa noite, dos Comandos Africanos por Bambadinca (manga de ronco, nosso alferes!), em que a expectativa se juntava ao secretismo da missão, uma barafunda tamanha, euforia que anunciava coisa grossa, as declarações do Januário foram para nós a certeza de que o ataque fora obra nossa e nem tudo correra bem ( guardei para mim um secreto contentamento…)

O regresso dos Comandos (uma feira: kalash.s à venda, guitarras eléctricas, chapéus cubanos, alguém me presenteou com um ), mais cimentou a ideia de que todo o espalhafato, o ronco, mal escondiam o desaire da missão.


*5

Termino, em jeito de memória:

Foi mais ou menos assim
que se passou com o Puim,
padre daquela fornada
do Vaticano segundo
e capelão militar:
criticou a hierarquia
por usar e abusar
dos prisioneiros de guerra,
velhos, mulheres e crianças…

O romanceiro do Padre Puim que o Carlos Rebelo escreveu…

Carlos com quem me encontrei um dia, aqui nesta parvónia encostada à Maia: morava à distância de uma pedrada de mim. E que, malfadadamente pelo que tinha ainda para dar à vida e dela receber, a doença levou tão jovem. Vi-o bastas vezes, umas debilitado, outras como ressurgido, até que a morte o levou consigo.

Para onde um dia todos iremos.

Não tu, Arsénio Chaves Puim, que não te deixamos ir: nos nossos corações permaneces porque da tua vida fizeste exemplo que orientou a nossa, a dos que te estimam e amam.

Abílio Machado (***)

________________

Notas  do editor:

(*)  Vd. poste de 8 de maio de 2020 > Guiné 61/74 - P20950: Parabéns a você (1799): Arsénio Puim, ex-Alf Mil Capelão do BART 2917 (Bambadinca, 1970/72)

(**)  Vd. poste de 23 de maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4404: Convívios (136): CCS do BART 2917: a emoção do reencontro, 38 anos depois (Arsénio Puim)

terça-feira, 26 de novembro de 2019

Guiné 61/74 - P20384: Efemérides (315): Relembrando a sangrenta Op Abencerragem Candente (subsetor do Xime, 25-26 de novembro de 1970) e homenageando o 1º comandante da CART 2715 (Xime, 1970/72), Vitor Manuel Amaro dos Santos (1944-2014)


Vitor Manuel Amaro dos Santos (1944-2014)


1. Vitor Manuel Amaro dos Santos (1944-2014), cor art ref, DFA, ex-cmdt CART 2715 (Xime, 1970/72).  Membro da Tabanca Grande, nº 781, a título póstumo, entrado em 26/11/2018, 48 anos depois da trágica Op Abencerragem Candente (sobre a qual temos 20 referências no nosso blogue).

Faltava-nos as duas fotos da praxe, uma do Vitor como militar no CTIG, e outra mais recente, digamos dos últimos 10/20 anos. O Benjamim Durães mandou-nos há dias  esta, que reproduzimos acima. 

O Vitor Manuel Amaro dos Santos tem uma dezena de referências no nosso blogue.

Recorde-se o que aqui dissemos sobre o falecido cor art ref, DFA, Vítor Manuel Amaro dos Santos (Lousã, 22/11/1944- Coimbra, 28/2/2014), ex-cmdt da CART 2715 (Xime, 1970/72):

(i) em 2012 falei, em vida,com ele  ao telefone algumas diversas vezes (, primeira, em 13/1/2012);

(ii) ele mandou-me também diversas mensagens de telemóvel que já transcrevi, em grande parte, no nosso blogue, em que ele me falava do pesadelo do "inferno do Xime" (sic), um pesadelo que ele ainda vivia ao fim destes anos todos;:

(iii) ao mesmo tempo, procurava defender não apenas o seu bom nome e honra, como militar, mas também a memória dos mortos e feridos da sua companhia. 

Esta operação ditou o fim da sua comissão de serviço no TO da Guiné. Um mês e pouco depois, por razões de saúde,  é evacuado para o HM 241, em Bissau, e substituído pelo alf mil art José Fernando de Andrade Rodrigues, também já falecido. (*)

2. Da Op Abencerragem Candente, há 49 anos atrás (**),  a mais sangrenta (para as NT) operação no subsetor do Xime, durante a guerra colonial,  de que temos registo e memória, resultaram pesadas baixas: 6 mortos e 9 feridos graves, do nosso lado... Não nos cansamos de os relembrar:

(i) Da CCS/BART 2917, ao serviço da CCAÇ 12: guia e picador SECO CAMARÁ, assalariado; está sepultado em Nova Lamego:

(ii) Da CART 2715 / BART 2917 (Xime, 1970/72):

- Furriel Mil Mec Auto JOAQUIM ARAÚJO CUNHA 14138068; sepultado em Barcelos;

- 1º Cabo Atirador JOSÉ MANUEL RIBEIRO 18849069; sepultado em Lousada.

- Soldado Atirador FERNANDO SOARES 06638369; sepultado em Fafe;

- Soldado Atirador MANUEL SILVA MONTEIRO 17554169; sepultado em em Condeixa-a-Nova;

- Soldado Atirador RUFINO CORREIA OLIVEIRA 17563169; sepultado em Oliveira de Azeméis...

Dos feridos graves (9), helievacuados, não temos infelizmente registo dos seus nomes, tirando o Sold Sajuma Jaló (apontador de bazuca do 4º GR Comb/CCAÇ 12, onde eu ia integrado, como comandante de secção). 

A emboscada, em L, apanhou na "zona de morte"  os 3 Gr Comb do Agr C [ CART 2715] e 1 Gr Comb (4º) do Agr B [CCAÇ 12]. Estiveram envolvidos nesta operação 3 agrupamentos, 8 grupos de combate, cerca de 250 homens em armas.

"O ataque durou cerca de 20 minutos, sendo a retirada do IN apoiada com tiros de mort 82 e canhão s/r (!) que incidiram sobre a antiga estrada Xime-Ponta do Inglês, e especialmente sobre os 2 últimos Gr Comb (1° e 2º) da CCAÇ 12, assim como rajadas enervantes de pistola-metralhadora, de posições que ainda não se haviam revelado, nomeadamente de cima das árvores." (Fonte: poste P1318).

3.  A CART 2715, sita no Xime, teve os seguintes comandantes:

(i) cap art Vitor Manuel Amaro dos Santos;

(ii)  alf mil art José Fernando de Andrade Rodrigues;

(iii) cap art Gualberto Magno Passos Marques;

(iv)  cap inf Artur Bernardino Fontes Monteiro;

(v)  cap inf José Domingos Ferros de Azevedo.

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Notas do editor LG:

segunda-feira, 23 de setembro de 2019

Guiné 61/74 - P20169: In Memoriam (349): António Manuel Carlão (1947-2018): testemunhos e comentários (Abel Rodrigues, Fernando Calado, Arsénio Puim, Jorge Cabral, Luís Graça)



Esposende > Fão > 1994 > A primeira vez que a  malta de Bambadinca (1968/71), camaradas da CCAÇ 12, e outras subunidades adidas ao comando do BCAÇ 2852, mas também malta do BART 2917 (1970/72)... Este primeiro encontro foi organizado pelo António Carlão, ao centro, assinalado com um retângulo a amarelo:

Na primeira fila, da esquerda para a direita: 

(i) Fur Mil MAR Joaquim Moreira Gomes [, vivia no Porto, na altura ]; 

(ii)  sold cond auto Diniz Giblot Dalot [, empresário, vivia em Aljubarrota, Prazeres]; 

(iii) um antigo escriturário da CCS/ BART 2917 (morava em Fão, Esposende); 

(iv) Alf Mil Inf António Manuel Carlão (1947-2018) [,casado com a Helena, comerciante, vivia em Fão, Esposende];

(v)  Fur Mil Arlindo Teixeira Roda [, natural de Pousos, Leiria; professor em Setúbal; damista, grande jogador de king e de lerpa, no nosso tempo, a par do Humberto Reis]; 

(vi)  Fur Mil Armas Pesadas Inf Luís [Manuel da ]  Graça [ Henriques]  [, prof univ., fundador deste blogue, vivia em Alfragide / Amadora]; 

(vii) Arménio Monteiro Fonseca (taxista, no Porto, da empresa Invictuas, táxi nº 69, mais conhecido no nosso tempo como o "vermelhinha"); 

(viii) Fur Mil José Luís Vieira de Sousa [, natural do Funchal, onde vivia, agente de seguros reformado]...


Na segunda fila de pé, da esquerda para a direita: 

(ix) Fernando [Carvalho Taco]  Calado, Alf Mil Trms, CCS/BCAÇ 2852 [, vivia em Lisboa];

(x) Alf Mil Manutenção Ismael Quitério Augusto, CCS/BCAÇ 2852 ], vivia em 

(xi)  Fur Mil António Eugénio Silva Levezinho [, Tony para os amigos, reformado da Petrogal, vivia em Martingal, Sagres, Vila do Bispo]; 

(xii)  Capitão Inf Carlos Alberto Machado Brito [, Cor Inf Ref, vivia em Braga, tendo passado pela GNR]; 

(xiii) camarada, de óculos escuros, que não sei identificar [, diz-me o Fernando Andrade Sousa que se trata do Pinto dos Santos, ex-furriel mil de Operações e Informações, CCS / BCAÇ 2852, natural de Resende];

(xiv) major àngelo Augusto Cunha Ribeiro, mais conhecido por "major elétrico", 2º comandante do BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70); 

(xv) Fur Mil Op Esp Humberto Simões dos Reis [, engenheiro técnico, vive Alfragide / Amadora; na foto, escondido, de óculos escuros]; 

(xvi) camarada não identificado;

(xvii) Alf Mil Cav José Luís Vacas de Carvalho, Pel Rec Daimler 2206; 

(xviii) Alf Mil Inf Mário Beja Santos, cmdt do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70; vive em Lisboa, nosso colaborador permanente]

(xix)  Fur Mil António Fernando R. Marques [, natural de Abrantes, vive em Cascais, empresário reformado]; 

(xx)  Manuel Monteiro Valente [de bigode e de perfil, ex-1º Cabo, 1º Gr Comb, CCAÇ 12, apontador de dilagrama, vive no Porto, organizou o convívio, em 2019, do pessoal de Bambadinca, 1968/71]

(xxi) Abel Maria Rodrigues [hoje bancário reformado, vive em Mirando do Douro, ex-Alf Mil, 3º Gr Comb, CCAÇ 12]; 

(xxii) Alf Mil Op Esp Francisco Magalhães Moreira [, vive em V. N. Famalicão, se não erro; nunca mais o vi, desde deste 1º encontro, em 1994; não é membro daTabanca Grande]; 

(xxiii) Fur Mil Joaquim Augusto Matos Fernandes [, de óculos escuros, engenheiro técnico, vive ou vivia no Barreiro; não é membro da Tabanca Grande ]; 

(xxiv) 1º Cabo Carlos Alberto Alves Galvão [, o homem que foi ferido duas vezes numa operação, vive na Covilhã,: não integra a Tabanca Grande]; 

(xxv)  Fernando Andrade Sousa (ex-1º Cabo Enf, CCAÇ 12, vive na Trofa); 

(xxvi) e, por fim, 2º Sarg Inf Alberto Martins Videira [, vive ou vivia em Vila Real].


Foto (e legenda): © Fernando Calado (2019). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

1. Cinco mensagens ou  comentários de membros da nossa Tabanca Grande que conheceram (e conviveram com) o  António Carlão (*):


(i) Abel Maria Rodrigues [, vive em Mirando do Douro, ex-alf mil at inf, CCAÇ 12, Bambadinca, 1969/71, cmdt do 3º Gr Comb]

Olá, Luis!
Obrigado pela tua comunicação sobre o falecimento do Carlão. No dia 30/8/2019 o Duraes publicou a triste notícia no grupo [, fechado,] Bambdainca, do Facebook,  de que è administrador. 
Eu era o único da companhia [, CCAÇ 12,]  que mantinha contacto regular com ele, pois ia muitas vezes jantar ao restaurante dele [, em Fão, Esposende,]  com a minha família e cheguei a ir também com o Branco, o Sousa e o Mateus.
Tinha falado com ele por telefone pouco antes de falecer e disse-me que tinha fechado o restaurante e passava a vida entre Fao e o Canada onde vivia uma filha.
Fiquei chateado com a Helena por não me ter comunicado, pois ele costumava caçar com primos meus na minha aldeia e também não souberam nada.Quanto á duvida que tens ele veio do CSM mas não passou pelos Rangers [,em Lamego]..
Paz para alma dele e dos camaradas já falecidos e saúde para os que por cá continuamos.
Grande abraço, Abel
(ii) Fernando Calado [, vive em Lisboa, ex-alf mil trms, CCS / BCAÇ 2852, Bambadinca, 1968/70]
Junto foto do 1º. encontro da malta que esteve em Bambadinca no período 1968/1971, que teve lugar em Fão e que foi organizado pelo Carlão. O almoço decorreu num restaurante cujo proprietário, julgo, era o próprio Carlão.

Estamos todos bastante mais novos mas não tenho registo da data de realização do evento [, 1994].

Um grande abraço para todos.

Fernando Calado

(iii) Arsénio Puim [, vive na ilha de São Miguel,  RA Açores, ex-alf mil capelão, BART 2917, Bambadinc, 1970/72]

Amigo Luís Graça:

Obrigado pela informação sobre a morte do ex-alferes Carlão, que eu sinto, como acontece sempre que tenho conhecimento do falecimento de algum colega do nosso Batalhão. Nos dois encontros do Batalhão em que participei, lembrei-me e perguntei informações dele, que, na verdade, eram escassas.
Contactei, naturalmente, várias vezes com o António Carlão. Pessoa porventura um pouco polémica, mas sempre muito atencioso para comigo.

Na referida coluna para o Saltinho, que eu aproveitei para me deslocar para Mansambo, a sua esposa Helena ia no mesmo camião que eu, «à minha guarda», como vocês dizem por graça. Numa altura, o Carlão veio dizer-me para eu ir lá à frente à cabeça da coluna, porque havia problemas. Realmente, lá estavam dois picadores nativos gravemente feridos. Um deles pareceu-me mesmo estar morto, merecendo todo o meu respeito. Ao outro dei-lhe um momento de apoio e simpatia.

A lembrança que tenho da Helena é de uma mulher simpática e engraçada e com consideráveis dotes para cantar, que bem contribuiu para animar os nossos serões em Bambadinca. Pois, como dizia um professor meu de História a respeito da «guerra das damas», ela era «uma nota de ternura no meio daquele ambiente belicoso».

Daqui e por este meio, envio à Helena e família os meus sinceros pêsames. Para ti, Luís, um grande abraço. Arsénio Puim

(iv)  Jorge Cabral [, vive em Lisboa, ex-alf mil art, cmdt Pel CAÇ nAT 63, Fá Mandinga e Missirá, 1969/71]

A minha total solidariedade com a Helena! Creio que estiveram num Encontro em Montemor Novo, há anos. A Helena era uma miúda, quando apareceu em Bambadinca. No referido encontro, conversei muito com ela. Lembro-me dela dizer à minha mulher: "O Cabral era um rapaz muito bonito".

É a vida...O Carlão , a Helena...todos nós tão jovens! Carlão Amigo, até qualquer dia, mas não uses o dilagrama...Jorge Cabral

(v) Luís Graça [, editor do blogue, ex-fur nil, CCAÇ 12, Bambadinca, 1969/71]


Uma das nossas 14 obras de misericórdia é enterrar os mortos e a outra é cuidar dos vivos... "Alfero" Cabral, não fui a esse encontro de Montemor-o-Novo, razão por que, desde 1994, nunca mais vi o casal Carlão...

A Helena, embora muito jovem, foi corajosa em meter-se naquele "vespeiro" que era Bambadinca... Quando foi para lá era a única branca no perímetro do arame farpado, depois da professora cabo-verdiana que vivia "enclausurada" na escola, com a mãe, e que não convivia com os militares... 

Portanto, a Lena foi a primeira mulher de um militar, metropolitano, a vir viver para Bambadinca, depois do ataque ao quartel em 28 de maio de 1969... Ao tempo do BCAÇ 2852, que terminou a sua comissão em maio de 1970, um ano depois...A Lena deve ter chegado a Bambamdinca depois das férias do Carlão, talvez já no fim do ano de 1969 ou princípio de 1970. Só mais tarde, com o BART 2917, vieram outras senhoras...

Continuo a pensar que terá sido uma decisão errada, a do meu cap inf Carlos Brito, ter autorizado um dos seus oficiais a trazer a esposa, recém.casada... Era (é, ainda está vivo) um bom homem, mas deixou-se ir na cantiga do Carlão... A Lena podia ter regressado viúva à sua terra...A CCAÇ  12 (e o seu setor de intervenção, o setor L1) não era companhia para se passar "luas de mel"...
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Nota do editor:

Último poste da série > 21 de setembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20164: In Memoriam (348): António Manuel Carlão (Mirandela, 1947- Esposende, 2018), ex-alf mil at inf, CCAÇ 2590 / CCAÇ 12 (Contuboel, Nhabijões e Bambadinca, 1969/71... Entra para a Tabanca Grande, a título póstumo, sob o nº 797.

domingo, 7 de julho de 2019

Guine 61/74 - P19953: O Cancioneiro da Nossa Guerra (11): o fado "Brito, que és militar" (Bambadinca, 1970, ao tempo da CCS/BART 2917 e CCAÇ 12) (recolha de Gabriel Gonçalves, ex-1º cabo cripto, CCAÇ 12, Contuboel e Bambadinca, 1969/71)


Guiné > Região de Bafatá > Setor L1 > Bambadinca > CCS/BART 2917 (1970/72) > Convívio no bar de sargentos, em meados 1970, ou em 30 de novemhro de 1970, no 38º aniversário do 1º sargento Fernando Brito; ou ainda, festa de Natal de 1970?

Inicialmente inclinava-me para a hipótese de ter sido em "meados de 1970", ainda estávamos em "lua de mel", os "velhinhos" da CCAÇ 12, e os "piras" do BART 2917, aqui representados, à direita,  pelo 2º Comandante, maj art José António Anjos de Carvalho, sempre fardado, hoje cor art ref, e à esquerda, pelo  1º srgt art Fernando Brito (1932-2014)...

As senhoras: à direita do Brito, a Helena, mulher do alf mil at inf António Manuel Carlão, do 2º Gr Comb da CCAÇ 12 (o casal vive hoje em Fão, Esposende); à direita do Anjos de Carvalho, a esposa do major art, Jorge Vieira de Barros e Bastos (mais familiarmente conhecido por Bê Bê, era o major de operações do comando do BART 2917; hoje cor art ref); e à sua direita, Isabel, a esposa do José Alberto Coelho, o fur mil enf da CCS/BART 2917 ) (o casal vive hoje em Beja).

Mas tudo indica que se trata da festa de aniversário do 1º Brito, em 30/11/1970, apesar de, nessa altura, as relações com o major art Anjos de Carvalho, a três meses de acabar a nossa comissão, serem  muito crispadas e tensas... Dias antes, tínhamos sofrido em brutal revés, no subsetor do Xime, com 6 mortos e 9 feridos graves (Op Abencerragem Candente)...

A CCAÇ 12, como companhia de intervenção, africana, estava adida ao comando do setor L1. Inclino-me mais para a festa de anos do 1º Brito, que era de facto um "senhor 1º sargento", e que mantinha com a malta da CCAÇ 12 uma "relação muito especial"... Se se reparar bem na imagem, o Brito  ostenta uma chucha, ao pescoço, sinal de que fazia anos...  38 anos!... A festa não poderá, pois, ter ocorrido nos primeiros tempos, após a chegada do BART 2917 a Bambadinca, que veio render o BCAÇ 2852 (1968/70), em finais de maio de 1970...

Na altura, estas eram as três senhoras, brancas, que existiam no quartel de Bambadinca (, não contando com a senhora professora do ensino primário, cabo-verdiana, que raramente era vista, mas que vivia dentro das nossas instalações militares, no edifício da escola, a dona Violete da Silva Aires). E não havia miúdos, a não ser os da escola e da população local... Os militares guineenses (da CCAÇ 12 e outras subunidades, como os Pel Caç Nat que estiveram connosco) em geral eram casados e tinham consigo as famílias mas fora do arame farpado, vivendo em Bambadinca ou em Bambadincazinho.

Foto (e legenda): © Vitor Raposeiro (2009). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Coimbra > 2012 > O Fernando Brito, major art ref, (1932-2014) e o neto, Claúdio Brito,   finalista da Universidade de Coimbra, ano letivo de 2011/2012 (Cortesia do Cláudio Brito, da sua página no Facebook).

Foto (e legenda): © Cláudio Brito (2018). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

Fado "Brito... que és militar!"(*)

Letra: Tony Levezinho

[Adapt: Fado "Povo que lavas no rio"

[Música: Fado Victória, composição original de Joaquim Campos (1911-1981)


Letra:
Pedro Homem de Melo 


Criação de Amália Rodrigues, 1961] [Uma interpretação de Amália
pode ser aqui ouvida, no YouTube -ficheio apenas áudio]

Refrão

Brito, que és militar,
Que vieste p'rá Guiné,
Em mais uma comissão.
Na CCS ficaste,
Para aturar o Baldé,
A pedir-te patacão.


Fui ver à secretaria,
Por ouvir a gritaria
Que fazia confusão:
- Mim quer saco de bianda!
- Põe-te nas putas, desanda,
Que a mim cá têm patacão!

Filho da puta e sacana,
É o que eles te chamam,
Tenho a mesma condição:
- Mamadús, eu vos adoro,

Se for preciso eu choro,
Mas Patacão... é que não!

Refrão

Brito, que és militar,
Que vieste p'rá Guiné,
Em mais uma comissão.
Na CCS ficaste,
Para aturar o Baldé,
A pedir-te patacão.


[Recolha: Gabriel Gonçalves / Revisão, fixação de texto: LG]



1. Este fado faz parte do Cancioneiro de Bambadinca, logo, deve integrar o Cancioneiro da Nossa Guerra (**). 

Quem o salvou, do limbo do esquecimento, foi o Gabriel Gonçalves, o 1º Cabo Cripto da CCAÇ 2590/CCAÇ 12 (Contuboel e Bambadinca, 1969/71). Eu reconheci a letra e o autor da letra, o nosso querido amigo Tony Levezinho.

Quanto ao homenageado, era o Fernando Brito, o 1º Sargento da CCS/BART 2917, que chegou a Bambadinca, para tomar conta do Sector L1, em finais de maio de 1970, quando a malta da CCAÇ 12 já pertencia à velhice, com um ano de porrada e outro batalhão em cima (CCS/BCAÇ 2852, Bambadinca, 1968/70)..

O Fernando Brito (1932-2014) era um senhor, que se impunha não só pelo seu físico e pelo verbo fácil como pela tarimba e pela autoridade... Naturalmente, suscitava amores e ódios, devido à sua personalidade excessiva... Era sobretudo um grande sedutor... 

Tinha uma cultura acima da média, se considerarmos o meio social de origem dos sargentos do quadro. Fazia gala de referir-se à esposa, de ascendência ou de apelido russo, Natacha.

Fazia questão de sublinhar, perante os reles infantes, que pertencia à orgulhosa arma de artilharia. Quando ouvíamos um disparo de obus, no Xime ou em Mansambo, comentava ele:
- Lá se foi mais um fato completo, com gravata se seda e tudo!... (Era o preço de uma granada de obus 10.5; em Bambadinca, nesse tempo, não havia artilharia)...

Não sei porquê, criámos - os furriéis da CCAÇ 12, já velhinhos - uma relação de empatia com o nosso Primeiro Brito, o chefão dos periquitos da CCS do BART 2917 (Bambadinca, 1970/72).

A nossa CCAÇ 2590/CCAÇ 12 tinha deixado cedo de ter 1º sargento (O Fragata, de cavalaria, foi tirar o curso de oficial, na Escola Central de Sargentos, em Águeda), sendo essas funções desempenhadas interionamente pelo nosso querido 2º sargento inf José Manuel Rosado Piça, alentejano dos quatro costados, grande cúmplice, grande camarada, grande compincha, grande amigo... [Tinha 37 ou 38 anos mas não se foi embora da Guiné sem levar o seu baptismo de fogo... Já no final, nos princípios de 1971, obrigámo-lo a ir ao Poindon, desenfurrejar as pernas e a G-3]...

Qualquer deles, o Brito e o Piça, alinhavam nas nossas noitadas, loucas, de Bambadinca. O Brito tinha, além disso, um "tabanca" (leia-se: uma morança, dentro do perímetro de arame farpado do quartel, mas na parte civil, junto aos correios, escola, casa do chefe de posto)... Era um refúgio, para nós... Íamos lá beber uns copos... Ele e o 2º comandante, o Anjos de Carvalho, não se coziam lá muito bem (, segundo ele me confirmou, mais tarde, ainda em vida)... Nós, por nosso lado, detestávamos o "militarista" do 2º comandante, o senhor professor da Academia Militar Anjos de Carvalho... Mas a "tabanca do Brito" provocava algumas ciumeiras, já que nem todos tinham acesso ao "sítio"... Só os amigos ou os que ele considerava como tais...

Há 43 anos, desde março de 1971, que deixei de ter notícias dele, do nosso "primeiro Brito"... Acabei por ter a felicidade de ainda o apanhar com vida, a um mês de ele morrer, subitamente, antes de completar os 82 anos... Falámos longamente ao telefone... Vivia em Coimbra, já viúvo. Era major, reformado. Fez ainda uma segunda comissão no CTIG, como 1º sargento [1ª CCAÇ / BART 6523 (Madina Mandinga, 1972/74)], antes de frequentar a extinta Escola Central de Sargentos, em Águeda.

Morreu em 19 de fevereiro de 2014. Era (é) o nosso grã-tabanqueiro nº 641. O seu neto Cláudio Brito honra-nos também com a sua presença na Tabanca Grande, com o nº 697.   
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 6 de Dezembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9144: O nosso fad...ário (5): Fado Brito que és militar (Letra de Tony Levezinho, ex-Fur Mil At Inf, CCAÇ 2590/CCAÇ 12, Bambadinca, 1969/71)

(**) Postes anteriores da série:

16 de setembro de 2018 > Guiné 61/74 - P19020: O Cancioneiro da Nossa Guerra (10): O fado "Tudo isto é tropa" (recolha de Gabriel Gonçalves, ex-1º cabo cripto, CCAÇ 12, Contuboel e Bambadinca, 1969/71)

14 de agosto de 2018 > Guiné 61/74 - P18921: O Cancioneiro da Nossa Guerra (9): Os bravos de Bambadinca

29 de maio de 2018 > Guiné 61/74 - P18692: O Cancioneiro da Nossa Guerra (8): A Balada de Béli (recolha de José Loureiro, ex-alf mil at inf, CCAÇ 1790 / BCAÇ 1933, Madina do Boé e Béli, 1967/69)

19 de abril de 2018 > Guiné 61/74 - P18537: O Cancioneiro da Nossa Guerra (7): "Marcha de Regresso" (Recolha de Mário Gaspar, ex-fur mil at art, MA, CART 1659, "Zorba", Gadamael e Ganturé, 1967/ 68)

16 de abril de 2018 > Guiné 61/74 - P18528: O Cancioneiro da Nossa Guerra (6): "Os Homens não Morrem" (Recolha de Mário Gaspar, ex-fur mil at art, MA, CART 1659, "Zorba", Gadamael e Ganturé, 1967/ 68)

28 de janeiro de 2018 > Guiné 61/74 - P18261: O Cancioneiro da Nossa Guerra (5): O hino dos "Unidos de Mampatá", a CART 6250/72 (Mampatá, 1972/74)

27 de janeiro de 2018 > Guiné 61/74 - P18261: O cancioneiro da nossa guerra (4): "o tango dos periquitos" ou o hino da revolta da CCAÇ 557 (Cachil, Bissau e Bafatá, 1963/65) (Silvino Oliveira / José Colaço)

27 de janeiro de 2018 > Guiné 61/74 - P18259: O cancioneiro da nossa guerra (3): mais quatro letras, ao gosto popular alentejano, do Edmundo Santos, ex-fur mil, CART 2519, Os Morcegos de Mampatá (Buba, Aldeia Formosa e Mampatá, 1969/71)

8 de novembro de 2017> Guiné 61/74 - P17944: O cancioneiro da nossa guerra (2): três letras do Edmundo Santos, ex-fur mil, CART 2519, Os Morcegos de Mampatá (Buba, Aldeia Formosa e Mampatá, 1969/71): (i) Os Morcegos; (ii) Estou farto deles, tirem-me daqui; (iii) Fado da Metralha

30 de setembro de 2017 > Guiné 61/74 - P17811: O cancioneiro da nossa guerra (1): "Asssim fui tendo fé, pedindo a Deus que me ajude"... 4 dezenas de quadras populares, do açoriano Eduardo Manuel Simas, ex-sold at inf, CCAÇ 4740, Cufar

segunda-feira, 26 de novembro de 2018

Guiné 61/74 - P19235: Tabanca Grande (470): Vítor Manuel Amaro dos Santos (1944-2014), cor art ref, DFA, cmtd da CART 2715 (Xime, 1970/72), senta-se, a título póstumo, à sombra do nosso poilão, no lugar nº 781, no dia em que se comemoram os 48 anos da Op Abencerrragem Candente, em que as NT tiveram 6 mortos e 9 feridos graves na antiga picada da Ponta do Inglês


Guiné > Região de Bafatá > Setor L1 (Bambadinca) > Xime > c. 1969/70 > Vista aérea (parcial) da tabanca do Xime, onde estava sediada uma unidade de quadrícula... Entre maio de 1970 e março de 1972, era a CART 2715 / BART 2917, comandada até ao fim do ano de 1970 pelo cap art Vítor Manuel Amaro dos Santos (1944-2014), que entra agora, a título póstumo, para a Tabanca Grande, sob o nº 781. Infelizmente não temos nenhuma foto dele.

Foto: © Humberto Reis (2006). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Por lamentável lapso, o nosso camarada Vítor Manuel Amaro dos Santos não entrou, na devida altura, em 2014, para  a Tabanca Grande, como era sua expressa vontade, em vida,  e nossa intenção publicamente manifestada após a sua morte, aos 69 anos. (*)

Recorde-se que o falecido cor art ref, DAF, Vítor Manuel Amaro dos Santos (Lousã, 22/11/1944- Coimbra, 28/2/2014), ex-cmdt da CART 2715 (Xime, 1970/72),  tem 7 referências no nosso blogue. (**). 

Em 2012 falámos ao telefone diversas vezes (a primeira vez, em 13/1/2012) e ele mandou-me diversas mensagens de telemóvel que já transcrevi, em grande parte, no nosso blogue, em que ele me falava do pesadelo do "inferno do Xime" que ainda vivia e procurava defender não apenas o seu bom nome e honra, como militar, mas também a memória dos mortos e feridos da sua companhia (***).

Na altura escrevi em comentário ao poste P9335 (***):

(...) "O Amaro dos Santos como comandante operacional é um camarada nosso, e como tal acima de qualquer crítica (neste blogue)... Tem direito ao seu bom nome: razão porque não faz sentido o seu nome completo figurar, entre parênteses retos, no poste P6368... Foi já retirado, não vinha aliás no documento original (onde é referido apenas como o comandante da CART 2715)...

"Por outro lado, convidei-o para integrar a nossa Tabanca Grande; ficou surpreendido por ele lhe dizer... que "'eu também estava lá', na Op Abencerragem Candente... E que fui um dos homens da CCAÇ 12 que foi à frente da coluna - éramos mais de 250 homens em pleno mato, dois agrupamentos - resgatar os corpos dos nossos infelizes camaradas, o Cunha e mais cinco; um dos nossos homens que trouxe o cadáver do Cunha  às costas, o nosso "bom gigante" Abibo Jau, será fuzilado pelo PAIGC, logo a seguir à independência - creio que em 11 de Março de 1975, se não erro -, juntamente com o comandante da CCAÇ 21, o tenente 'comando' graduado Jamanca... (Correu o boato, entre os homens da CART 2715, que os 'pretos' da CCAÇ 12 se recusaram a socorrer os 'tugas' da CART 2715, o que é falso; eu fui um dos 'pretos' que estive na testa da coluna, logo que acabou o fogo, a socorrer os feridos e a transportar os mortos).

"Um abraço para o Cor Amaro dos Santos... que nunca mais vi desde esse fatídico dia 26/11/1970!" (...)


Em 26 de novembro de 2016, no dia em que se completavam 46 anos da trágica Op Abencerragem Candente (Xime, 25 e 26 de novembro de 1970),  eu escrevi o seguinte, a seu respeito:

(...) "Do Amaro dos Santos, só posso dizer que em combate teve um comportamento heróico. Em contrapartida, como camarada que 'da lei da morte já se libertou', só posso desejar lhe que descanse finalmente em paz. Creio que ele era crente e encontrou na fé algum conforto em vida. Por fim, a sua memória é honrada, por todos nós, aos olhos de todos nós, incluindo a sua família, filhos e netos, e os seus antigos camaradas da CART 2715 e do BART 2917, com a sua integração, a título póstumo, na lista dos membros da Tabanca Grande. (*)

Há tempos deu-me conta que o seu nome não contava, como eu pensava,  da lista alfabética dos membros da Tabanca Grande, publicada na coluna do lado esquerdo do blogue.  Hoje, quando passam 48 anos sobre os trágicos acontecimentos do Xime, e 4 anos e meio sobre a morte do cmdt da CART 2715, eu venho reparar essa lamentável anomalia. Para este camarada não fique na vala comum do esquievimento.

O Vítor Manuel Amaro dos Santos, que esteve na Academia Militar, com outros camaradas nossos, grã-tabanqueiros, como o António J. Pereira da Costa, também da arma de artilharia, passa a figurar na nossa lista, infelizmente a título póstumo, com o nº 781 (****).

Não temos, lamentavelmente, até agora, nenhuma foto de jeito da sua pessoa, quer como civil quer como militar, a não ser uma de grupo. 

Fazemos aqui um apelo, aos camaradas do BART 2917, em geral, e aos da CART 2715, em especial, para que nos façam chegar uma foto, individual, ou em grupo, do nosso Vitor Manuel Amaro ds Santos, que tinha família na Lousã (onde nasceu) e em Coimbra (onde viveu e morreu).  (LG).

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Notas do editor:




(**) Mais postes com referência ao nosso camarada Vitor Manuel Amaro dos Santos e à Op Abencerragem Candente:

28 de novembro de  2016 > Guiné 63/74 - P16768: (De)Caras (62): O Amaro dos Santos [1944-2014] que eu conheci (António J. Pereira da Costa, cor art ref)


11 de novembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13871: In Memoriam (205): José Fernando de Andrade Rodrigues (Ribeira das Taínhas, Vila Franca do Campo, 1947- Rio de Mouro, Sintra, 2014)... O único açoriano do BART 2917, além do 2º srgt Saúl Ernesto Jesus Silva, e de mim próprio (Arsénio Puim, ex-alf mil capelão, CCS/BART 2917, Bambadinca, 1970/72)




(****) Último poste da série >  11 de novembro de  2018 > Guiné 61/74 - P19183: Tabanca Grande (469): Fernando de Sousa Ribeiro, ex-alf mil, CCaç 3535 / BCaç 3880 (Angola, 1972 / 74); nosso grã-tabanqueiro, nº 780.