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quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Guiné 63/74 – P5796: Histórias do Eduardo Campos (8): CCAÇ 4540, 1972/74 - Somos um caso sério (Parte 8): Nhacra 3


1. O nosso camarada Eduardo Ferreira Campos, ex-1º Cabo Trms da CCAÇ 4540, Cumeré, Bigene, Cadique, Cufar e Nhacra, 1972/74, dando continuidade às suas histórias da Companhia, iniciadas nos postes P5711 e P5729, enviou-nos a 8ª fracção e 4 documentos históricos do seu vasto arquivo pessoal:

CCAÇ 4540 – 72/74
"SOMOS UM CASO SÉRIO"

PARTE 8

NHACRA 3

Como nada de importante se passava em Nhacra, os dias eram passados de uma forma totalmente diferente das Matas do Cantanhez, e, acreditem que por vezes, surgiam-nos as saudades. A vida era tornava-se demasiado sedentária.

As alternativas encontradas, para fugir à rotina, eram as idas a Bissau, e, já que a alimentação nunca foi algo digno desse nome em Nhacra, aproveitava estas saídas para ir ao Pelicano, à Churrascaria de Santa Luzia, ao Bento, etc. Assim, evitava que a “dieta” que me tinha sido imposta, fosse levada muito a sério.

Por falar de alimentação, enquanto no Cantanhez suportamos tudo, por vezes até com um sorriso, em Nhacra as coisas eram diferentes. O pessoal ficou mais rebelde e negou-se a comer duas vezes (2 levantamentos de rancho). Um dos quais teve como resultado, que passadas duas horas do início do levantamento, estávamos a comer um bacalhau cozido com batatas, que parecia ter sido confeccionado no Hotel Hilton.

Embora não estivesse de oficial de dia nessa data, foi o nosso camarada e amigo tabanqueiro Vasco Ferreira (ex-Alferes da CAÇ 4540), que resolveu o problema.

A dificuldade em adquirir gado bovino (como já disse no poste anterior, o povo por motivos religiosos e tradicionais não o vendia), dava origem a que, um grupo de camaradas acompanhado de um especialista em ”ginecologia”, fossem às tabancas, de madrugada, á procura de gado. Então o nosso “especialista” apalpava… apalpava e, não estando prenha a vaca, toca a roubá-la.

Logicamente, o dono da rês vinha atrás deles a gritar e a chorar, mas não havia nada a fazer. Chegados ao aquartelamento, acabavam por fazer negócio e diziam que lhe pagavam um preço justo.

A minha eterna dúvida, nestes negócios forçados, é: “Mas que raio de preço justo era esse, se o homem não queria vender o animal!?”

A minha curiosidade sobre o desenvolvimento destas operações, levou-me a que, um belo dia, os acompanhasse para ver como decorria a captura da vaca seleccionada.

Nesse dia, logo por azar, o “ginecologista” improvisado enganou-se e trouxe mesmo uma vaca prenha. Foi remédio santo para mim, nunca mais comi carne bovina até ao fim da comissão.

A partir de determinada altura, mesmo cabritos, galinhas e porcos os nativos resistiam em vender. Aqui chegados, um camarada das transmissões, inventou uma fórmula original, na época, para roubar galinhas, que constava do seguinte: Um fio de pesca com vários anzóis, onde colocava uns grãos de milho. Depois pela tabanca fora ia espalhando mais alguns grãos de milho pelo chão. As galinhas vinham por ali adiante a comer os grãos e acabavam, quase sempre, por engolir um dos anzóis. Quando o tal camarada via que a bicha tinha caído na esparrela, saía rapidamente da tabanca com a “vítima” atrás dele.

DOCUMENTOS HISTÓRICOS DE COLECÇÃO

A história também se faz de notícias, pelo que, hoje, seleccionei 4 peças do meu arquivo pessoal, para publicação, relacionadas principalmente com a Guiné e a Guerra do Ultramar, que nos chegam com 37 anos de idade.





Um abraço Amigo,
Eduardo Campos
1º Cabo Telegrafista da CCAÇ 4540

Fotos: © Eduardo Campos (2009). Direitos reservados.
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Notas de M.R.:

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sábado, 30 de janeiro de 2010

Guiné 63/74 – P5729: Histórias do Eduardo Campos (7): CCAÇ 4540, 1972/74 - Somos um caso sério (Parte 7): Nhacra 2


1. O nosso camarada Eduardo Ferreira Campos, ex-1º Cabo Trms da CCAÇ 4540, Cumeré, Bigene, Cadique, Cufar e Nhacra, 1972/74, enviou-nos a 7ª fracção da história da sua Companhia:

CCAÇ 4540 – 72/74
"SOMOS UM CASO SÉRIO"

PARTE 7

NHACRA 2


Em Nhacra, fomos encontrar os camaradas do Pelotão de Morteiros 4581/72 e os do 3º Pelotão AA da Batª AA 7040, além de dois pelotões de Milícias: o 329 aquartelado em Oco Grande e o 230 aquartelado em Bupe, ambos pertencendo à Companhia de Milícias de Nhacra e que ficaram adidos à CCAÇ 4540.

O IN não possuía dentro da ZA, pessoal suficiente em quadros e grupos que lhe permitisse desenvolver uma actividade dinâmica e poderosa, quer para flagelar e atacar o aquartelamento e o Centro Emissor de Nhacra, quer para emboscar as NT fora do aquartelamento.

No entanto, fomos informados que Nhacra e o Centro Emissor foram flagelados pelo IN duas vezes: a primeira ao tempo da CCAÇ 3326, em Maio de 1972, por um grupo equipado com armas automáticas e RPG-2 e 7, e a segunda em Agosto de 1972, utilizando também um canhão s/r. Em ambos os casos sem qualquer consequência material ou pessoal para as NT.

Sabíamos que o IN andava por ali perto e que atravessava, frequentemente, algumas linhas principais de infiltração, para o interior da nossa ZA a saber: de Choquemone, Infaide, Biambe, pela península de Unche para Iuncume, quando se dirigiam para Nhacra.

As principais prioridades da nossa Companhia eram: a garantia da segurança do Centro Emissor de Nhacra, o itinerário Bissau–Mansoa e, através de intensa actividade (patrulhamentos e reconhecimentos), evitar que o IN se aproximasse de forma a evitar que pudesse atacar a cidade/capital de Bissau, o Aeroporto de Bissalanca, os complexos miltares de Brá e da Sacor, bem como as instalações militares e civis do Cumeré.

Em onze meses de permanência em Nhacra, nunca tivemos contacto com IN, nem as instalações sofreram qualquer ataque.

Os aglomerados populacionais da ZA da nossa Companhia, distribuíam-se por dois regulados: o Regulado de Nhacra com as tabancas de Nhacra (Nhacra, Teda, Sal, Bupe, Sucuto, Incume, Sumo, Nhoma e Cholufe) e o Regulado do Cumeré com as tabancas do Cumeré, Com, Cuntanga, Quide, Birla, Caiana, Som Caramacó, Cola, Nague, Ocozinho, Rucuto e Oco Grande (reordenamento zincado).

A estrutura agrícola existente baseava-se numa economia básica de subsistência, cujos produtos, que ocupavam lugares especiais de relevo, eram o amendoim, o arroz, o milho, a mandioca, o feijão, a cana sacarina e pouco mais.Na pecuária existiam boas condições para a criação de gado, condicionante porém pelo ancestral costume tribal, que considerava o gado como um sinal exterior de respeito e riqueza e não com um factor económico.

Era evidente e manifesto o desagrado em abater, ou mesmo vender, qualquer cabeça de gado, fosse para alimentação ou para outros fins industriais. Em toda aquela zona predominava a etnia Balanta, coexistindo com algumas minorias étnicas que se estabeleceram em chão Balanta, vindas de outras regiões, escorraçadas pela insegurança que a guerra originava, principalmente Fulas, Mandingas e alguns Manjacos.

Os Balantas eram dotados de uma impressionante constituição física, trabalhadores, valentes, enérgicos e com grande força de vontade pela vida, ao que acrescentaria que eram bons agricultores, arrancando da terra os meios de subsistência de que necessitavam, alimentando-se à base de arroz, azeite de palma, milho e mandioca. Além disso, eram polígamos e condenavam o celibato. Extremamente supersticiosos, acreditavam na transfiguração da alma, atribuindo à feitiçaria as suas desgraças.

Praticavam o roubo, em especial de gado, com a consciência de um acto não criminoso, mas sim um admirável e enaltecedor sinal que revelava a perícia pessoal, bem com de toda a sua própria tribo. O gado bovino que possuíam destinavam-no às cerimónias de sacrifício, nomeadamente nos seus rituais de acompanhamentos fúnebres (choros).

Os Fulas de um modo geral eram hospitaleiros, considerando mesmo a hospitalidade como um dever sagrado.Apesar da influência que o Islamismo tinha entre eles, praticavam ainda o feiticismo e criavam gado, considerado este facto como um sinal de respeito e nobreza.

A acção psicológica desenvolvida pela NT na zona era bastante intensiva, apesar de se constatar em alguns núcleos, certa reserva em relação à mesma, quando não nula, com maior evidência nas tabancas de Sal e Bupe.

As populações tinham apoio médico/sanitário, transporte em viaturas militares, assistência educativa prestada por missões religiosas em várias escolas, um professor militar e vários elementos africanos que estavam adidos à Companhia, sendo também de salientar a assistência religiosa prestada por padres missionários aos domingos.


A Capela dentro do Aquartelamento de Nhacra. Eu (à esquerda) e o Charneca


No posto Rádio, "afogando" as nossas mágoas e saudades (da esquerda para a direita): Cristóvão, Saraiva e Eu


Amigos inesquecíveis (da esquerda para direita): Adriano, Cristóvão, Pinto, Eu e Charneca


Igreja, escola e campo de futebol em Nhacra


Mulher Balanta transportando lenha e as redes das lides da pesca do camarão e lenha


Armas de guerra artesanais em madeira, autênticas obras de arte, capturadas ao IN (serviam-lhes para instrução do seu pessoal), perto do Cumeré


A casa do Administrador em Nhacra

Um abraço Amigo,
Eduardo Campos
1º Cabo Telegrafista da CCaç 4540

Fotos: © Eduardo Campos (2009). Direitos reservados.
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Notas de M.R.:

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terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Guiné 63/74 – P5711: Histórias do Eduardo Campos (6): CCAÇ 4540, 1972/74 - Somos um caso sério (Parte 6): Nhacra


1. O nosso camarada Eduardo Ferreira Campos, ex-1º
Cabo Trms da CCAÇ 4540, Cumeré, Bigene, Cadique, Cufar e Nhacra, 1972/74, enviou-nos a 6ª fracção da história da sua Companhia, em 24 de Janeiro de 2010:

CCAÇ 4540 – 72/74
"SOMOS UM CASO SÉRIO"

PARTE 6

NHACRA

Como nesta região não tenho, felizmente, episódios de guerra para narrar, vou tentar descrever, o mais pormenorizado possível, como era constituído o terreno desta região.

A área do subsector de Nhacra, tinha por limite a Norte o Rio Mansoa, a sul o Rio Geba, a Oeste o Canal do Impernal e, a leste, confinava com o Dugal.

Era atravessada, nos seus limites, por uma estrada asfaltada (com grande movimento de pessoas e viaturas), que ligava Bissau a Mansoa e, ainda, pela ligação entre Nhacra e Cumeré, também ela em estrada asfaltada.As tabancas mais populosas tinham ligações com as estradas principais, através de picadas largas.Sobre o Canal de Impernal e no itinerário Bissau – Mansoa, encontrava-se a Ponte de Ensalmá, onde se mantinha em permanência um destacamento da Companhia, dada a sua importância estratégica e pelo facto capital de ser a única Ponte, que permitia a ligação por terra, entre Bissau e o resto do território da Guiné.

O terreno apresentava uma uniformidade e configuração incaracterísticas, em que os relevos praticamente não existiam, apenas entrecortado pelas bolanhas que abundavam nessa região, visto formarem-se a cotas inferiores às do terreno.

Hidrográficamente a região era rica, com os importantes rios Mansoa e Geba bastante caudalosos na preia-mar, que chegavam a atingir cerca de três metros de amplitude e invadiam uma série de canais, do qual se destacava o Canal do Impernal, que estabelecia a ligação entre eles, dando origem à ilha de Bissau… Sim disse ilha, porque Bissau era uma ilha e, curiosamente, muitos dos nossos camaradas desconheciam o facto.

A mata era muita reduzida nessa região, exceptuando-se pequenas manchas existentes no extremo norte do Rio Geba e nas proximidades do Canal do Impernal.Na zona interior a savana arbustiva, era salpicada aqui e além, por árvores de grande porte (poilões), mangueiros e cajueiros.

Nas Zonas marginais dos rios e dos canais, zonas extremamente pantanosos, abundavam as plantas hidrófilas que se ramificavam em múltiplas raízes, formando o que se designava por “tarrafo”.A fauna, sem ser abundante, poderia considerar-se rica em diversas espécies.

Além dos animais considerados domésticos (bovinos, caprinos, suínos e galináceos), destacavam-se as gazelas, os porcos-espinhos, os macacos, as hienas e as cabras do mato.

Nas aves destacavam-se os pelicanos, as garças os piriquitos, perdizes, rolas, codornizes, galinha-do-mato, patos e os jagudis.

Aspecto da entrada e porta-de-armas do Quartel (Nhacra)

A banhos na piscina em Nhacra

Continuando os banhos na piscina de Nhacra

Jogando o King

Nós e os putos

Na tabanca dos Balantas (Nhacra)


Um baga-baga de respeito

Aspecto do interior do Quartel em Nhacra

Um abraço Amigo,
Eduardo Campos
1º Cabo Telegrafista da CCaç 4540

Fotos: © Eduardo Campos (2009). Direitos reservados.
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Notas de M.R.:

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domingo, 10 de janeiro de 2010

Guiné 63/74 – P5621: Histórias do Eduardo Campos (5): CCAÇ 4540, 1972/74 - Somos um caso sério, Cadique/Cantanhez (Parte 5): Destino Nhacra


1. O nosso camarada Eduardo Ferreira Campos, ex-1º Cabo Trms da CCAÇ 4540, Cumeré, Bigene, Cadique, Cufar e Nhacra, 1972/74, enviou-nos a 5ª fracção da história da sua Companhia, em 9 de Janeiro de 2010:

CAÇ 4540 – 72/74
"SOMOS UM CASO SÉRIO"

PARTE 5

CADIQUE/CANTANHEZ

Com um nome de guerra tão pomposo, a minha Companhia teria de ter direito a um desertor.

De vez em quando chegavam a Cadique, camaradas vindos de outras paragens, era um “prémio” que as suas chefias militares lhes davam, por eventuais comportamentos menos felizes.

Um deles (cujo nome não interessa mencionar), saía e regressava do aquartelamento quando lhe apetecia e, por vezes, até trazia uma arma ou algumas granadas.

O capitão começou a ficar preocupado com tal comportamento e tratou de o enviar para Cufar, onde esteve uns dias no COP 4 e foi interrogado.

Depois de apanhar umas bofetadas e algo mais, para falar do seu estranho comportamento, voltou para Cadique, porque aí é que era o local apropriado para “despachar” os meninos maus.

O nosso camarada não aguentou a pressão (penso eu) e, no dia seguinte, disse adeus a Cadique, e desapareceu, levando a sua arma, ao encontro do inimigo.

Após o 25 de Abril, voltei a ter notícias do referido camarada (creio que no Jornal República), através de uma sua entrevista, dizendo que se encontrava, nessa altura, na Suécia.

Note-se que eu tenho em meu poder um manuscrito retirado de uma entrevista, que o mesmo deu á rádio de Brazzaville, em que fazia referência à sua fuga e pelos locais por onde tinha passado, e, como já se vinha tornando moda, impregnada de exagerados rasgos de determinado tipo de propaganda política, pouco abonatório para nós, ex-Combatentes. De quem veio tais afirmações, também não seria de esperar outra coisa.

Por falar em fugas, a guerra em que todos nós participamos tinha coisas espantosas, a ver um caso:

De vez em quando apanhávamos um homem africano “suspeito”. Se fosse velho ainda se safava, mas se fosse jovem era logo apelidado de turra e era enviado para Bissau. Andava por lá uns tempos, regressava de novo com ar satisfeito e um rádio nas mãos e era incorporado nas milícias. Davam-lhe uma farda e uma arma e, passados uns dias, o homem desaparecia no meio do mato. Espantoso não é?

Em 20/06/73, desembarcou em Cadique a CCS/BCaç 4514 e, a partir dessa data, iria constituir ali a sede do seu batalhão e dar continuidade aos trabalhos já iniciados e desenvolvidos pelas anteriores unidades na zona.

Não sei se houve acordo entre os “senhores da guerra”, mas em 19/07/73, arranjou-se tempo para organizar uma grande festa em Cadique.

Se fosse hoje, eu diria que iriam decorrer ali, em breve, eleições, já que foram feitas várias inaugurações: o Posto Sanitário, a Escola, o Monumento de Homenagem aos Reordenamentos do Cantanhez e foram descerradas duas Lápides de Homenagem ao Comandante Araújo e Sá e aos mortos do Cantanhez. Também se aproveitou a festa, para inaugurar duas ruas a que se deu os nomes do 1º e 2º chefes da POP de Cadique Imbitina, Banan, Nadum e Nanqueca Nandefa.

Tudo me leva a crer, que nosso amigo e Camarada António Carvalho (da CArt 6250, Mampatá), andou por lá perto e foi mesmo nessas bandas que aprendeu a fazer as suas brilhantes campanhas eleitorais (?).

Esteve presente o Comandante do CAOP 1, o Coronel Pára-quedista Curado Leitão. Quem sabe se o nosso amigo António Graça Abreu também lá esteve?

E a paróquia de Cadique estava representada pelo Comandante do Batalhão 4514, Tenente-coronel Sousa Teles, muitos militares, inúmeros população e muito provavelmente, misturados na multidão, vários guerrilheiros do PAIGC.

O almoço nesse dia foi mesmo de “ronco” e ainda deu tempo para “estragar” uma bola de futebol, num desafio a rigor entre a CCS do BCaç 4514 e da CCaç 4540.

A 22/07/73: Desembarcou em Cadique a 1º Companhia do BCaç 4514, que veio substituir a CCaç 4540.

Quase um mês depois, mais precisamente em 17/08/73, a CCaç 4540 disse adeus a Cadique, a bordo mais uma vez, da LDG Bombarda, tendo chegado a Bissau no dia seguinte e sendo conduzida para o D.A., em Brá, onde ficou instalada.

Nessa altura já não me encontrava em Cadique, pois tinha sido chamado para uma “missão” já programada há algum tempo (35 dias de férias na Metrópole). Apanhei um helicóptero (coisa rara nessa altura) e voei para Bissau.

Neste preciso momento, tentei imaginar o que teria sentido na despedida de Cadique, conjuntamente com a minha Companhia, e, a única coisa que me ocorria, nessa data, era pensar: “A merd. do barco nunca mais sai daqui.”

Se fosse hoje, creio bem sério, pensaria: “Foi com certa nostalgia e saudade que deixei para trás aquelas paragens, que, com sacrifício sem conta, ajudei a desenvolver e prosperar ficando ligado para sempre a Cadique.”

Depois de ter gozado as merecidas férias, regressei a Bissau em 31/08/73 e, quando entrei nos Adidos, deparei com muitas viaturas na parada prontas para saírem. Foi nessa altura que tomei conhecimento que a minha Companhia se encontrava ali, ao ver camaradas meus em cima das mencionadas viaturas.

Na recruta, o aspirante do meu pelotão, dizia com alguma frequência que existiam duas formas de ultrapassar os obstáculos que a vida militar nos opunha:

Primeira: Tentar passar o mais despercebido possível daquilo que nos rodeava, não dando nas vistas;

Segunda: Nunca se armar em herói, já que os cemitérios estavam cheios deles.

Eu, ao entrar nos Adidos, quando tomei conhecimento que o pessoal e as viaturas, que eu vira momentos antes, iriam escoltar uma coluna que se deslocaria de Bissau para Farim, cometi precisamente o primeiro erro “não passar despercebido”, e reconheço que terei cometido uma imprevidência, “mandando umas bocas foleiras”.

O nosso capitão ao ver quem era o “artista” das “bocas” (que mais parecia desfilar numa passerelle, para trás e para a frente), deve ter pensado lá para ele: “Tens a mania que és fino, então toma lá”, pois virou-se para mim e disse:

- Ó Campos larga o saco e sobe para cima de uma viatura!

- Eu meu Capitão? – perguntei.

- Não a tua prima.

- Mas eu nem sequer tenho uma arma – exclamei.

- Nem precisas, os turras sabendo que vais na coluna não nos atacam. Logo não precisas de arma nenhuma!

E lá fomos até Farim. A partir de Mansoa vi imensos vestígios arrepiantes e desagradáveis de emboscadas, ainda por cima sob uma chuva copiosa, durante toda a viagem de ida e de volta, que jamais esquecerei.

Nesse tempo, quase todas as colunas que faziam esse percurso, eram surpreendidas com emboscadas, das quais, infelizmente, resultaram muitas mortes de Camaradas nossos. Alguns dos corpos ainda se encontravam nos Adidos a aguardar embarque de regresso ao Continente.

O capitão teve razão, ia na coluna um militar que “impunha muito respeito” ao IN e de facto não aconteceu nada em toda o percurso e devo acrescentar, que, em quase vinte quatro meses de Guiné, nunca tive distribuída uma arma e nem um tiro disparei. É verdade, nem aos pombos!

No entanto fui ferido várias vezes e também tive o meu momento de glória.

Os ferimentos (várias escoriações), foram fruto das “aterragens” mal feitas nas valas. Umas vezes mal calculadas e outras porque entrava de bruços, cabeça, etc.

Por favor não se riam porque muitos de vós também as fizeram.

Quanto ao acto de grande de heroísmo, tudo se passou durante um ataque do PAIGC, com armas ligeiras ao nosso aquartelamento. O meu camarada de serviço foi para o abrigo, não tendo levado o rádio como lhe competia e nada nem ninguém o demoveu, para o ir buscar.

Eu, com uma calma que não me era habitual, saí do abrigo e fui buscar o rádio, regressando ao brigo com toda a calma deste mundo. A justificação para tal feito, só a encontro num bom copo de whisky que emborcara momentos antes.

Para surpresa minha, não surgiu nenhuma proposta para o prémio Governador ou mesmo um simples louvor. Senti-me deveras injustiçado pela atitude das minhas chefias militares.

Em 08/09/73, saímos do Depósito de Adidos, com destino a Nhacra, onde iríamos substituir a CCaç 3477 – “Os Gringos de Guileje”.

A partir de 19/09/73, a Companhia passou a ter á sua responsabilidade o sector de Nhacra, sob as ordens do COP 8, instalado no local.

Meus amigos, para mim e para a minha Companhia a guerra tinha terminado, iria ter cerca de um ano de férias e ainda foram remuneradas.

Duas notas finais:

- Aproveito para saudar, todos os ex-Combatentes e, em particular, os Açorianos, pois foram muitos os que por passaram na Guiné. Encontrei-os em Bigene, Cufar e Nhacra.

- Em primeira mão e em exclusivo, informo o pessoal tertuliano, que fruto de mexer em papéis antigos e de dizer umas ”asneiritas” no blogue, sobre a minha Companhia, não resisti à nostalgia que se tem vindo a apoderar de mim e, em Abril próximo, vou retornar à Guiné.


Guiné-Bissau > Região de Tombali > Cacine > Cadique > Junho de 2007 > Pedras que falam da CCAÇ 4540 - Somos um Caso Sério -que esteve aqui, em Cadique, em pleno coração do Cantanhez, na margem esquerda do Rio Cumbijã, de 12 de Dezembro de 1972 a 17 de Agosto de 1973. Foto: Pepito / AD - Acção para o Desenvolvimento (2007). Direitos reservados.

Um abraço Amigo,
Eduardo Campos
1º Cabo Telegrafista da CCaç 4540

Fotos 31, 32 e 33: © Eduardo Campos (2009). Direitos reservados.
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Notas de M.R.:

Vd. último poste desta série em:


sábado, 9 de janeiro de 2010

Guiné 63/74 – P5615: Histórias do Eduardo Campos (4): CCAÇ 4540, 1972/74 - Somos um caso sério, Cadique/Cantanhez (Parte 4): Ataques e flagelações do


1. O nosso camarada Eduardo Ferreira Campos, ex-1º Cabo Trms da CCAÇ 4540, Cumeré, Bigene, Cadique, Cufar e Nhacra, 1972/74, enviou-nos mais uma mensagem (a 4ª), em 7 de Janeiro de 2010:

CAÇ 4540 – 72/74
"SOMOS UM CASO SÉRIO"

PARTE 4

CADIQUE/CANTANHEZ

A actividade operacional de constante patrulhamento da Zona, incidiu sobremaneira no esforço desenvolvido pela CCAÇ 4540, com o começo da concretização do projecto de construção da estrada Cadique-Jemberém, na actividade de protecção aos trabalhos e segurança às máquinas.

Terminada que foi a construção da estrada, houve necessidade de continuar com a actividade operacional normal, agora acrescida com as necessárias escoltas às colunas, que se deslocavam no sentido de Cadique – Jemberém e vice-versa.

Além das referidas actividades, ainda se procedia aos reordenamentos e à contrução das instalações militares do aldeamento, que eram feitos também por militares. Imaginem o que estes homens passaram.

O facto de eu ser Rádio Telegrafista, originou que fosse poupado nas tarefas mais duras, podendo afirmar que fui um privilegiado.

FLAGELAÇÕES – ATAQUES - EMBOSCADAS:

13/12/72: Um Grupo IN atacou n/posição Estacionamento Provisório, cerca das 18h30m, com RPG 7 tendo disparado cerca de 8 granadas.

15/12/72: Um Grupo IN, flagelou n/posição Estacionamento Provisório cerca das 19h30m, tendo disparado durante cerca de 15 minutos, com o Morteiro de 82 mm, despejando sobre nós cerca de 19 granadas, sem consequências pessoais e materiais.

04/01/73: O IN flagelou Cadique com foguetões e 43 granadas de Morteiro de 82 mm pelas 21h20m, durante 25 minutos.

04/01/73: Um Grupo IN atacou Cadique com armas ligeiras, Metr. Dectyarev, RPG 2 e RPG 7, pelas 22h30m, durante 35 minutos.

08/01/73: O IN flagelou Cadique com cerca de 20 granadas de Canhão s/r e 6 RPG 2, pelas 18h40m, durante 10 minutos, acertando no centro do aquartelamento e provocando um ferido.

27/01/73: O IN flagelou Cadique pelas 20h00m, tendo iniciado o ataque com granadas 2 RPG 7, seguidas de Morteiro de 82 mm e Canhão s/r, tendo sido ouvidos no total cerca de 35 rebentamentos.

05/02/73: O IN flagelou Cadique pelas 19h15m, terminando às 19h35m. No ataque foi utilizado o Canhão s/r, Morteiro de 82 mm e RPG 7.

16/02/73: Um Grupo IN emboscou 2 Grupos de Combate da CCaç 4540, sem consequências pessoais.

23/02/73: O IN flagelou Cadique pelas 21h30m e pelas 22h00m, tendo iniciado o seu ataque com Morteiro de 82 mm e Canhão s/r, simultaneamente, consumindo no 1º ataque 12 granadas de Morteiro de 82 mm e 7 de Canhão s/r, no 2º ataque 5 granadas de Morteiro de 82 mm e 6 de Canhão s/r. Não houve consequências pessoais, havendo diversas destruições materiais.

27/02/73: Um Grupo IN numa emboscada no mato, causou 3 feridos ligeiros a militares da Companhia.

MARÇO/73: Verificaram-se 11 flagelações aos trabalhos da construção da estrada Cadique/Jemberém, e, numa emboscada na mesma estrada, causou 4 feridos às NT e 6 feridos ao pessoal da demarcação da Brigada de Engenharia.

03/03/73: O IN flagelou Cadique pelas 18h40m, terminando às 18h50m, tendo dado início ao ataque com Morteiro de 82 mm, com cerca de 10 granadas.

ABRIL/73: O IN efectuou 7 flagelações à estrada Cadique/Jemberém, colocou uma mina A/C no alcatrão junto á berma, que foi accionada por uma moto-niveladora da Brigada de Engenharia.

Fez outra tentativa de colocação de minas, tendo rebentado uma, julgamos que no momento da colocação da mesma. O inimigo abandonou no preciso local três minas sobre o alcatrão.

Também fez accionar dois fornilhos numa tentativa de cortar a estrada, ou dificultar a progressão da coluna, que ia fazer a colocação do destacamento de Jemberém.

Montou duas emboscadas seguidas na zona da frente de trabalhos a uma patrulha, causando 1 morto e 7 feridos, na primeira acção e 2 feridos na segunda.

01/04/73: O IN flagelou Cadique pelas 20h00, com Morteiro de 82 mm, disparando cerca de 15 granadas. Apenas 3 caíram dentro do aquartelamento.

03/05/73: O IN fez accionar, à passagem da coluna na estrada CADIQUE JEMBEREM, uma mina A/Carro.

Feito o reconhecimento foram levantadas três minas sem qualquer ocorrência.

04/05/73: Um Grupo IN, com cerca dez elementos, emboscou, na estrada, uma viatura da Brigada de Estudos e Construção de Estradas, que transportava exclusivamente pessoal africano civil, causando dois mortos e nove feridos graves.

13/05/73: O IN emboscou uma coluna que partiu de Cadique para Jemberém, abrindo fogo com granadas de RPG 2 e 7 e accionando ao mesmo tempo duas minas A/Carro.

Feito o reconhecimento ao local da emboscada, foram detectadas mais 4 minas A/Carro, que foram levantadas.

As NT tiveram 11 feridos evacuados para Bissau. Mais tarde recebemos a notícia da morte de um militar da Brigada Engenharia, que estava adido à CCaç 4540.

17/05/73: O IN iniciou uma flagelação pelas 20h05, com granadas de RPG 7 e RPG 2, durante cerca de 5 minutos, tendo intercalado o fogo com espaços curtos de tempo. Foram ouvidos mais 12 rebentamentos e detectou-se o local da base de fogo.

As NT reagiram com granadas de Morteiro de 81 mm, tendo calado o fogo do IN aos primeiros rebentamentos sobre a posição detectada.

Saiu uma força da CCP 122 com a CCaç 4540, para reconhecimento, nada tendo encontrado.

19/05/73: O IN iniciou uma flagelação pelas 00h30, com 6 granadas de RPG 2 e LGF 8,9 cm em simultâneo. Após o 1º rebentamento cessou o fogo, que reiniciou cerca de 15 minutos depois, para voltar de novo com 2 granadas de LGF 8,9 cm, que não rebentaram. Passados mais alguns minutos repetiram-se novos rebentamentos de RPG 2.

Esta situação durou cerca de 3 horas e meia, mantendo IN o mesmo tipo de acção. Foram ouvidos no total de cerca de 45 rebentamentos e detectadas e levantadas 7 granadas LGF que não rebentaram.

As NT, por dificuldades de visibilidade das saídas dos disparos do inimigo, apenas reagiu ao fogo IN quando se conseguiram detectar 2 das suas posições de flagelação.

O IN, após a concentração de 7 granadas de Morteiro 81 mm, numa das bases, cessou o fogo, não voltando a fazê-lo daquela posição. Tendo-se feito mais fogo para outros locais de onde, esporadicamente, se viam as saídas.

Foram pedidos, ao PelArt 17, alguns tiros de apoio sobre as eventuais localizações do IN, cuja resposta foi imediata.

26/05/73: O IN iniciou uma flagelação pelas 18h05, com Canhão s/r. O ataque prosseguiu com violência e rapidez, calculando-se que tenham sido lançadas pelo inimigo 20 granadas, das quais foram encontradas diversas embalagens vazias.

Dada a dificuldade da localização das saídas das granadas, acentuada pelo facto de ainda ser dia, mantivemo-nos por momentos na expectativa para não disparamos “à balda”, até nos ter sido comunicada as coordenadas da posição dos guerrilheiros do PAIGC, por um bigrupo que se encontrava a fazer a segurança próximo do quartel.

Reagimos então com o Morteiro de 81mm, efectuando a concentração de 15 tiros no local indicado pelo nosso bigrupo. Ao mesmo tempo foi ordenado pelo capitão ao bigrupo, que se encontrava na frente, que reagisse com Morteiro de 60mm e batesse a retirada do IN.

10/06/73: O IN flagelou Cadique com Canhão s/r e Morteiro de 82 mm, tendo sido contados cerca de 23 explosões. Foram detectadas duas posições de flagelação usadas pelo inimigo e nós reagimos com granadas de Morteiro 81 mm.

Algumas granadas de Morteiro do PAIGC, caíram na zona Norte/Leste do aquartelamento, sobre a estrada do Porto de Cadique, onde circulavam viaturas, e, várias granadas detonaram, junto á LDG Bombarda, em terra e no rio.

A LDG que se encontrava ancorada, com carga a bordo, para ser descarregada, reagiu, por sua vez, com o seu poder de fogo.

Foi pedido ao PelArt 5 apoio de Obus, que respondeu, com prontidão e com precisão, batendo as duas bases de fogo inimigas.

A LDG, quase de imediato, deu meia volta e regressou à sua base com a carga a bordo.

Após as hostilidades, saiu em reconhecimento um grupo da companhia, que fez reconhecimento à base de Morteiro 82 mm utilizada pelo IN, tendo encontrado diversos vestígios seus.

As granadas que caíram dentro do aquartelamento destruíram dois telheiros.

12/06/73: Mais uma emboscada com RPG 2 e 7, que originaram 3 feridos no pessoal da Brigada de Engenharia.

21/06/73: O dia mais trágico da Companhia: Num ataque efectuado pelo PAIGC, pouco depois da saída da vedação do aquartelamento, um simples estilhaço de RPG, foi suficiente para ceifar a vida de um camarada de nome: Vitorino Susano Simão.

Este triste acontecimento teve precursões que marcariam (digo eu), para sempre o seu Comandante de Pelotão - Alferes Pereira.

Segundo a rotina do pelotão, os homens da frente não eram sempre os mesmos e nesse dia não seria a vez do Simão ir à frente, o que originou que o alferes, ética e moralmente, assumisse a responsabilidade da morte do mesmo.

Quem mantém o contacto com o mesmo, como os nossos amigos Manuel Reis e Vasco Ferreira, sabem que não exagero, dizendo, que uma parte da sua alma ficou, nesse dia e com essa triste e lamentável morte, na mata do Cantanhez.

Em relação a este facto, pessoalmente, direi que: “Também tive, neste dia, a minha dose traumática.”

O Simão morreu quase de imediato e, cumprindo ordens superiores, o corpo iria para Cufar, mas de forma que a população não se apercebesse que o mesmo já tinha falecido. Assim, foi transportado de maca com uma agulha espetada no braço, tendo-me tocado a mim segurar no frasco do soro. Partirmos para Cufar, onde apanhamos mais um choque, pois não haviam caixões e, ali ficou o corpo na maca, escondido numa arrecadação.

03/07/73: O IN iniciou nova flagelação e ataque pelas 20h30 empregando RPG 2, RPG 7 e armas ligeiras.

Logo após os primeiros rebentamentos, os militares da CCaç 4540 e da CCS/BCaç 4514, responderam de imediato.

O ataque IN foi efectuado a partir de três pontos diferentes, colocando todo o aquartelamento debaixo de ferro e fogo.

Foi pedido pelo Comandante do BCaç 4514 ao 5º Pel Art apoio de Obus, de modo a bater os prováveis caminhos de retirada do IN.

13/07/73: Pelas 19h45, foram vistos 2 Very Lights, pelos sentinelas do aquartelamento, sendo um vermelho e outro amarelado.

O IN iniciou a flagelação com uma rajada de arma ligeira, seguida de disparos de RPG 2 e 7.

Respondemos com fogo de armas ligeiras, Morteiro de 60 mm e Bazuca, fazendo calar o IN. Foram também efectuados alguns tiros de Morteiro 81 mm, para bater os prováveis caminhos de retirada.

Mais uma vez foi solicitado tiro de Obus.

Saiu uma força da CCaç 4540, que reconheceu a base de ataque do IN, tendo sido encontradas duas granadas de RPG 2.

21/07/73: Mais um dia negro para a Companhia, desta vez por doença, falecendo o nosso camarada Mário da Conceição Vieira.

30.07.73: Para montar a segurança de uma coluna de reabastecimento a Cadique/Jemberém, foram destacados um bigrupo da CCaç 4540 e um Pel. Rec da CCS/BCaç 4514, que seguiam a pé ladeando a estrada (para protecção aos picadores), um elemento da CCS accionou uma mina A/P, ficando com a perna decepada. Na zona foram detectados mais seis explosivos do mesmo tipo que foram destruídas.

30/07/73: Pelas 20h30 o IN flagelou Cadique com RPG 2, 7 e 8, tendo iniciado o ataque com uma rajada de Kalashnikov.

Após ter terminado a flagelação com RPG e armas ligeiras, abriram fogo de Canhão s/r sobre o nosso aquartelamento.

Foram localizadas três bases de fogos na direcção de Cacine.

O potencial de fogo IN, sobretudo o de RPG, foi intensíssimo e os rebentamentos localizaram-se todos juntos as áreas dos grupos de combate, que circulavam em defesa periférica, o mesmo acontecendo na flagelação de Canhão s/r, da qual se estimaram 25 rebentamentos.

Na manhã seguinte foram encontradas na mata 4 Granadas de Canhão s/r não deflagradas.

Da nossa parte foram utilizadas armas ligeiras, Morteiro de 60 mm, Morteiro de 81 mm, LGF 8 e 9 cm, e dilagramas.

No reconhecimento feito de manhã, foram encontradas granadas de RPG com cargas, uma bolsa com três carregadores de Kalashnikov, com munições, e vestígios de sangue que nos levou a concluir que o IN teve, pelo menos, alguns feridos.

Da flagelação IN resultaram danos materiais em várias barracas de lona, casas da população e um ferido da Companhia.

O PAIGC colocava com frequência minas Anti-carro e fornilhos, camufladas no alcatrão na estrada Cadique/Jemberém.

Estas datas terão sido as mais marcantes, no entanto muito fica por contar, principalmente no caso de emboscadas e levantamento de minas, mas continuar, exaustivamente, com este rol tornar-se-ia maçador.

Um abraço Amigo,
Eduardo Campos
1º Cabo Telegrafista da CCaç 4540

Fotos: © Eduardo Campos (2009). Direitos reservados.
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Notas de M.R.: