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domingo, 3 de janeiro de 2021

Guiné 61/74 - P21730: Blogpoesia (712): "Nunca esperei...", "Vultos na noite" e "Folhas caídas", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

1. A habitual colaboração semanal do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) com estes belíssimos poemas, enviados, entre outros, ao nosso blogue durante esta semana:



Nunca esperei...

Passaram milénios na minha ausência total.
Uns, suaves e pacíficos.
Outros, com tumultos, revoluções e convulsões de terror ocorreram na terra.
Pois, quase no fim da minha vida,
Calhou a desgraça, com garras mortais.
Uma ameaça total.
Soçobram os fortes e fracos.
Ricos e pobres.
Tudo a eito.
Onde irá parar?
Se elevam clamores.
Pedindo perdão.
Se fazem promessas.
De emenda. Conversão.
Pode ser que o Criador as oiça
E ainda volte a paz e a esperança de que tudo passou.
Oxalá!


Berlim, 27 de Dezembro de 2020
9h29m
Jlmg


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Vultos na noite

Há vultos negros para lá das janelas.
Parecem sem vida.
Têm alma e têm corpo.
Um coração a bater.
Se alimentam de sonhos.
Sofreram desfeitas.
Ajudas também.
Avançam no tempo.
No rio da vida.
Cachos maduros.
Sabem ler e contar.
Os filhos se foram.
Trouxeram os netos.
Que prendas mais lindas.
Consoadas de mel.
Até aqui a vida valeu.
O futuro que vem,
Logo se verá...


Berlim, 29 de Dezembroe 2020
15h30m
Jlmg


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Folhas caídas

Somos folhas de árvore
Que ameaçam cair a todo o momento.
Dá-lhes o vento e o sol.
Até que um dia, cansadas, voam para o chão.
Têm o destino marcado.
Se não for de velhice,
Basta um grãozinho minúsculo,
Entope-lhes as veias
E záz!
Aí vai.
Não há uma que fique.
Em qualquer dia e hora do ano.
Fadista, pintor?
Craque da bola?
Ninguém lhes escapa.
É a lei...


(a propósito da perda do Carlos do Carmo)

Berlim, 1 de Janeiro de 2021
10h59m
Jlmg

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Nota do editor

Último poste da série de 27 de dezembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21698: Blogpoesia (711): "Nunca desistir", "Poemas de oiro" e "Concerto n.º 3 de Rachmaninov para piano", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

domingo, 27 de dezembro de 2020

Guiné 61/74 - P21698: Blogpoesia (711): "Nunca desistir", "Poemas de oiro" e "Concerto n.º 3 de Rachmaninov para piano", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

1. A habitual colaboração semanal do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) com estes belíssimos poemas, enviados, entre outros, ao nosso blogue durante esta semana:


Nunca desistir

Se a obra foi bem concebida e desejada,
Nunca se deve desistir dela.
As coisas perfeitas nunca se conseguem à primeira.
A perfeição está sempre no fim do caminho
Que pode ser longo.
Todas as grandes obras-primas da humanidade tiveram suas histórias de desânimo.
Só porque venceu a resistência elas chegaram ao seu fim.
O abandono é a morte da obra-prima.
Não passará nunca de um esboço mais ou menos avançado.
Passará a vida num canto da oficina
à espera do abandono e sua destruição.
As boas ideias que a mente, gratuitamente, propõe ao seu autor devem ser por ele tentadas e executadas.
Sob pena de ser um ingrato artista, jogando fora o que lhe deu a inspiração.


Berlim, 19 de Dezembro de 2020
9h2m
Jlmg


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Poemas de oiro

Minha eira de oiro
Estendo na eira meus poemas de oiro.
Os banho de sol.
Os lavo de chuva.
Colho-os maduros, caiados de oiro.
Os ordeno por lotes.
Conforme os temas.
Lanço-os ao vento.
Que a sorte os benfazeje.
Não caiam nas pedras.
Brilhem nas mentes
E lhes adocem as vidas.
Não espero as loas.
Só quero as bênçãos.


Berlim, 21 de Dezembro de 2020
9h13m
Jlmg


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Concerto n.º 3 de Rachmaninov para piano

O expoente máximo de vilolência.
Um sobe e desce, fugindo aos precipícios.
O piano espuma enraivecido.
A pianista, a jovem Khatya Buniatilis, péga as teclas como às crinas dum cavalo.
O maestro sabe que tem um cancro.
Cláudio Abado.
Veterano e firme na sua carreira.
Seu rosto esmaecido dá nota do roedor.
Que não sabe perdoar.
Apesar de tudo, sobe ao palco, seguro e decidido.
Como se nada haja.
A orquestra se lhe entrega.
Galvanizada.
A plateia cerra os olhos.
Deixa-se levar por aquele rio vigoroso de melodia.
O tempo flui e arrasta furiosamente toda a gente.
Entre suaves açudes e cataratas.
Sem dúvida.
É o concerto expoente do génio que o compôs.


Ouvindo Hélène Grimaud e Cládio Abado

Berlim, 23 de Dezembro de 2020
20h36m
Jlmg

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Nota do editor

Último poste da série de 20 de dezembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21665: Blogpoesia (710): "É preciso enfrentar a tempestade", "Originalidade" e "Desgarradas da pandemia", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

sexta-feira, 25 de dezembro de 2020

Guiné 61/74 - P21691: Boas Festas 2020/21: Em rede, ligados e solidários, uns com os outros, lutando contra a pandemia de Covid-19 (30): Joaquim Luís Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf e José Câmara, ex-Fur Mil Inf


1. Mensagem natalícia do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) com data de 24 de Dezembro de 2020:

Estrela de Natal

Entre miríades de estrelas,
Brilha no céu uma, no oriente.
Um clarão de esperança
Que ilumina o mundo inteiro. Para sempre.


O cobre de esperança imperecível.
Incendiou-o, à humanidade,
Com o fogo da imortalidade.
Tudo perecerá com o tempo.
Menos a alma.
Sopro de vida.
O Criador a fez à sua imagem.
Um menino nasceu em Belém.
Na noite de Natal.
Veio resgatar o homem da pena aplicada ao Adão e Eva.
Pela sua desobediência à vontade do Criador.
Um mistério por desvendar...


Berlim, 24 de Dezembro de 2020
14h14m
Jlmg


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2. Mensagem natalícia do nosso camarada José Câmara (ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 3327 e Pel Caç Nat 56, Brá, Bachile e Teixeira Pinto, 1971/73), com data de 25 de Dezembro de 2020:

“Natal é a ternura do passado, o valor do presente e a esperança de um futuro melhor”, assim escreveu alguém.

Convido-vos a meditarem comigo sobre o que foi e é as nossas vidas, nas nossas relações com os outros e com as nossas instituições.
Mais importante que tudo, convido-vos a acreditar firmemente que os nossos melhores dias de vida ainda serão aqueles que estão na nossa frente.


O Menino nasceu no dia 25 de Dezembro de Dezembro, mas a Sua mensagem, a da Natividade, é de todos dias!

Convosco ficam os meus votos de um Feliz Natal e Bons Anos.
Que a saúde seja sempre vossa companheira e daqueles que vos são queridos.

Com amizade e respeito, um abraço amigo do
José Câmara

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Nota do editor

Último poste da série de 25 de Dezembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21689: Boas Festas 2020/21: Em rede, ligados e solidários, uns com os outros, lutando contra a pandemia de Covid-19 (29): O Natal agridoce de 2020... (E um "In Memoriam" à Isabel Levezinho que acaba de deixar a "Terra da Alegria") (Luís Graça)

domingo, 20 de dezembro de 2020

Guiné 61/74 - P21665: Blogpoesia (710): "É preciso enfrentar a tempestade", "Originalidade" e "Desgarradas da pandemia", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

1. A habitual colaboração semanal do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) com estes belíssimos poemas, enviados, entre outros, ao nosso blogue durante esta semana:


É preciso enfrentar a tempestade

É preciso enfrentar a tempestade
Fugir nem sempre é a melhor atitude.
Devemos calcular os riscos.
A tempestade é passageira.
É uma excepção na Natureza.
Tomar as devidas cautelas.
Arranjar um abrigo.
Recorrer à ajuda dum vizinho.
Até que ela vá.
O mesmo acontece com as interiores da nossa vida.
Para muitas, o tempo é o melhor remédio.
Se não o for, então, há que pedir a mão de alguém.
A solidariedade é tudo o que se pode à nossa
Mas, o certo é nunca estamos sós.
Vai ao lado o Criador que tudo pode e nunca nega o que for preciso.


Berlim, 14 de Dezembro de 2020
7h31m
Jlmg


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Originalidade

Mais do mesmo não é ser original.
É preciso ir acrescentando.
aqui adoça.
Ali, alisa.
Até venha ao de cima a forma bela.
A idealizada.
Num sonho de arte.
Um canto de lira.
Um canto de harpa.
Silvo de rouxinol
ou de seabá.
A beleza voa no ar.
Libelinha às cores.
De flores um mar.


Ouvindo "Rainbow"

Berlim, 14 de Dezembro de 2020
9h21m
Jlmg


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Desgarradas da pandemia

Tem garras e não é lião.
Não é tigre nem é macaco.
Come bananas a toda a hora.
Ele é de noite e é de dia.
No inverno e no verão.
Quem a quiser a leve ou fique com ela.
Só mata quem tem que matar.
Com vacina ou sem vacina.
Não há para onde fugir.
Quem a mandou sabe porquê.
A lição é para todos nós.
Foi por mim ou foi pelo outro.
Ou a aprendem,
Com atenção ou não,
Mais vale tarde do que nunca.
Quem escapou vai aprender.
Se é por ser arrogante,
Que espere a sua hora.
Oxalá não a derradeira.
Quem te avisa amigo é.


Berlim, 15 de Dezembro de 2020
10h55m
Jlmg

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Nota do editor

Último poste da série de 13 de dezembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21640: Blogpoesia (710): "O fim da linha", "O ócio" e "Ofensas merecidas", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

sábado, 19 de dezembro de 2020

Guiné 61/74 - P21662: Boas Festas 2020/21: Em rede, ligados e solidários, uns com os outros, lutando contra a pandemia de Covid-19 (15): Carlos Silva (ex-Fur Mil Inf CCAÇ 2548); Ernestino Caniço (ex-Alf Mil Cav, CMDT do Pel Rec Daimler 2208); Luís Paulino, (ex-Fur Mil da CCAÇ 2726); Luís Fonseca (ex-Fur Mil TRMS da CCAV 3366/BCAV 3846) e Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728)

1. Mensagem do nosso camarada Carlos Silva (ex-Fur Mil Inf CCAÇ 2548/BCAÇ 2879, Jumbembem, 1969/71), Régulo da Tabanca dos Melros, com data de 18 de Dezembro de 2020:

Caros Amigos & Camaradas
Dado que nem todos acedem à nossa página do Facebook, aproveito esta via para vos desejar um Feliz Natal e aos vossos familiares dentro dos condicionalismos impostos por este maldito "bicho".

Abraço
Carlos Silva


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2. Mensagem do nosso camarada Ernestino Caniço (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Rec Daimler 2208, MansabáMansoa e Bissau, 1970/71):

Caro amigo Carlos
Anexo Boas Festas para todos os camaradas e amigos, fazendo votos para que a situação melhore no próximo ano, com menos Covid.

Um abraço
Ernestino Caniço


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3. Mensagem do nosso camarada Luís Paulino, (ex-Fur Mil da CCAÇ 2726 Cacine e Cameconde, 1970/72), com data de 16 de Dezembro de 2020:

Feliz Natal
Bom ano 2021

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4. Mensagem natalícia do nosso camarada Luís Fonseca, ex-Fur Mil TRMS da CCAV 3366/BCAV 3846, Suzana e Varela, 1971/73, com data de 9 de Dezembro de 2020:

Para todos os meus sinceros votos de Boas Festas

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1. Mensagem natalícia do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) com data de 15 de Dezembro de 2020:

Prelúdio de Natal

Ainda faltam umas semanas mas a azáfama domina o interior das famílias.
Cristãs e não cristãs.
Os preparativos abrangem muitas dimensões.
A das prendas. Um sem fim.
Vai da esposa aos filhos e aos netos.
Uma doce obrigação.
A dos preparativos para a consoada.
Nunca as coisas sabem tão bem como as do Natal.
Toda a gente o sente.
Anda no ar uma nuvem carregadinha de bênçãos,
Apesar dos ventos malsãs da pandemia.
Descansem.
Isto vai passar dum momento para o outro.
Depois, ninguém vai acreditar no que se passou.
Para esquecer.


Berlim, 15 de Dezembro de 2020
6h58m
Jlmg

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Nota do editor

Último poste da série de 19 de Dezembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21660: Boas Festas 2020/21: Em rede, ligados e solidários, uns com os outros, lutando contra a pandemia de Covid-19 (14): Ernestino Caniço, ex-comandante do Pel Rec Daimler 2208, Mansabá e Mansoa, 1970/71; hoje médico, que teima em continuar ao serviço dos outros

domingo, 13 de dezembro de 2020

Guiné 61/74 - P21640: Blogpoesia (710): "O fim da linha", "O ócio" e "Ofensas merecidas", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

1. A habitual colaboração semanal do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) com estes belíssimos poemas, enviados, entre outros, ao nosso blogue durante esta semana:


O fim da linha

Não será o fim do mundo.
Apenas que o comboio chegou ao fim.
É esse seu fadário.
Feito caneco de nora a regar as nossas vidas.
Nos leva a todo lado, todo ufano.
Circulando pelas aldeias e encostas coloridas,
Nos pinta a vida de sonho eterno.
Saúda os rios mesmo no fundo dos vinhedos.
Carrega as pipas, desde a origem para as adegas.
Faz de recoveiro para as mercadorias.
Num constante vai e vem.
Sem nunca reclamar.
É o comboio que vem de além.
Passa as fronteiras sem as cortar.


Ouvindo Schubert "Impromptus"

Berlim, 6 de Novembro de 2020
Jlmg


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O ócio

Quem quiser viver ocioso é melhor mudar de planeta.
Este pode ser o dos macacos. De ociosos nunca.
Quem quiser fruir dele tem de dar a sua parte.
Parasitas, nunca.
Ninguém suporta trabalhar para parasitas.
A primeira encomenda deles já seguiu para a Lua.
Quando chegar a hora, outra irá.
Aqui, não!
A ociosidade é mãe de todos os vícios.
Já bastam os naturais.
Esses se vão ceifando para jogar no lixo.
Nem para pentear macacos servem!


Berlim, 7 de Dezembro de 2020
9h16m
Jlmg


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Ofensas imerecidas

Há pessoas, de estatura tão alta,
Ninguém consegue ofender.
Sua altura supera tanto
Que os mais arrogantes ficam desarmados e irritados.
O desempenho da sua função,
Tão nobre e competentemente desempenhada,
Fica a salvo de qualquer mancha.
É o caso da ministra da Saúde.
Jovem. Generosa. Entregue à causa.
Não há modo de a denegrir.
Só com baixezas e ordinarices.
Essas ficam sempre em quem as usa.


Berlim, 9h9m de Dezembro de 2020
Jlmg

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Nota do editor

Último poste da série de 6 de dezembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21615: Blogpoesia (709): "O bem que faz", "A vida é uma lição" e "Se deu certo", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

domingo, 6 de dezembro de 2020

Guiné 61/74 - P21615: Blogpoesia (709): "O bem que faz", "A vida é uma lição" e "Se deu certo", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

1. A habitual colaboração semanal do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) com estes belíssimos poemas, enviados, entre outros, ao nosso blogue durante esta semana:


O bem que faz

O bem que faz
Uma palavra fugaz.
Um jesto atento.
A cada um que passa,
Pode causar a falta que sente
E preenchê-lo de paz.
Todos temos horas carentes.
Como a chuvinha que veio
Na hora seca de sede.
Pode reacender para sempre
A esperança que se suponha perdida.
Por isso, sempre se perde e se ganha,
Se nega ou se dê
A quem à nossa porta bater.


Ouvindo Schubert

Berlim, 1 de Dezembro de 2020
11h21m
Jlmg


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A vida é uma lição

Nossos erros são a aprendizagem.
Quem os desperdiça despreza a vida
E as lições que ela nos dá.
Eles são nosso caminho
Que os pés aprendem bem.
Não importa voltar para trás.
É maior o bem que o que custa.
Para é perder tempo.
Para ganhar há que perder.
Não haveria grandes obras
Se seus autores tivessem desistido.
Não importa o tempo que falta.
Enquanto há vida há que viver.


Ouvindo "Liebestraum" de Lizt

Berlim, 3 de Novembro de 2020
18h27m
Jlmg


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Se deu certo

Se depois do esforço veio o resultado certo e bom,
Dá por bem empregado o tempo.
Aquilo que não custa a alcançar, depressa perde o valor e se despreza.
Tempo perdido e esforço.
Não é racional.
Viver é um privilégio.
É preciso merecê-lo.
Cada um tem seus talentos.
Daí vem a riqueza e a variedade.
Se, por cima, se se opera, com sentido de solidariedade,
Aí surge a nobreza de alma e a união.
A dignidade e nota específica do ser humano.
Com sentido do divino.


Berlim, 5 de Dezembro de 2020
8h36m
Jlmg

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Notas do editor:

Último poste de J. L. Mendes Gomes de 29 de novembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21592: Blogpoesia (707): "Hecatombe de estrelas", "A Criação" e "A sobriedade dos gestos", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

Último poste da série de 1 de dezembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21600: Blogpoesia (708): Prosema "Novembro neste ano de pandemia" (Paulo Salgado, ex-Alf Mil Inf Op Esp)

domingo, 29 de novembro de 2020

Guiné 61/74 - P21592: Blogpoesia (707): "Hecatombe de estrelas", "A Criação" e "A sobriedade dos gestos", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

1. A habitual colaboração semanal do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) com estes belíssimos poemas, enviados, entre outros, ao nosso blogue durante esta semana:


Hecatombe de estrelas

Hecatombe de estrelas,
perdidas pelo universo,
deambulam penadas,
curtindo e penando suas penas.
Uma reabilião entre elas,
Pôs fim ao estado de paz e felicidade
Que lhes brindara o Criador.
Grassa nelas a angústia e o desespero.
Nunca mais verão céu.
Se lhe apagou a luz.
Viajam negras.
Perdidas.
Secaram-lhes todas as cores.
Passam e ninguém as vê.
Ficarão assim, eternamente.


Berlim, 24 de Novembro de 2020
8h52m
Jlmg


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A Criação

Criar é amar. Cada ser é um acto de amor.
Por isso, existe este universo, imenso e esplendoroso.
Das galáxias em altar.
Desta Terra onde viaja a humanidade.
Utilizando-a como um navio no mar alteroso da vida.
Ao seu serviço, pronto e total.
Desde os tempos das cavernas.
Quando o homem vestia sua nudez,
Com a pele de animais.
Para chegar à modernidade,
Com maus tratos de toda a ordem.
Desvirtuando-lhe o clima.
Com experiências atómicas
E as mixórdias da poluição.
Tudo, pela sua voragem irracional.
Do ter e do poder.
Por isso, advêm as hecatombes.
Os dilúvios e tsunamis.
Até que um dia, O Criador, cansado, a lançará, com sua ira,
No deserto da inexistência.


Berlim, 25 de Novembro de 2020
8h54m
Jlmg


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A sobriedade dos gestos

Com toucados e vestes arrojadas,
Não germina a sobriedade.
Virtude vital
Onde a vida cresce e frutifica.
Ser belo só por si,
É ociosidade.
Onde cresce o erro e se manifesta a frustação.
Ser feliz só para si,
Também não é bem.
A felicidade só surge da partilha desinteressada.
Dar só para alardear,
É terreno da vaidade.
Ostentação e vacuidade.
Jardim de cactos.
Onde crescem os espinhos e a tentação.
A fonte de todos os vícios e também do mal.
Para isso, a vida nada vale.


Berlim, 27 de Novembro de 2020
9h58m
Jlmg

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Nota do editor

Último poste da série de 22 de novembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21567: Blogpoesia (706): "Pedra a pedra", "Onde mora a alegria?" e "Rude e rústica", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

domingo, 22 de novembro de 2020

Guiné 61/74 - P21567: Blogpoesia (706): "Pedra a pedra", "Onde mora a alegria?" e "Rude e rústica", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

1. A habitual colaboração semanal do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) com estes belíssimos poemas, enviados, entre outros, ao nosso blogue durante esta semana:


Pedra a pedra

Pedra a pedra, justaposta,
Bloco a bloco,
Se sobe a encosta.
Se ergue o muro
Que cerca a horta.
Se ergue a casa
Que é albergue.
Passo a passo,
Se faz caminho.
Sempre adiante.
E, num instante, se passa vida.
Quem não o disfruta é quem a perde.
Uma só vez, não vai e volta.
Quem não viu não mais a vê.


Berlim, 16 de Novembro de 2020
12h36m
Jlmg


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Onde mora a alegria?

Ela espreita em todo o lado.
Atrás da porta.
Pelas frestas.
O que importa é estar atento
E vê-la.
Senti-la dentro.
Só a sente quem é persistente e teima.
Nem lhe fecha a porta.
Morre cedo quem a mata cedo.
Irriga a vida.
Se seca, morre.
Sem ela, tudo é negro.
Tudo é triste.
Como o sol,
Ilumina tudo.
Sua perda, significa a morte.
Sem algazarra, não há recreio.
A escola é morta.
Não ensina.
Logo encerra.
Porque se torna inútil.


Berlim, 16 de Novembro de 2020
13h9m
Jlmg


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Rude e rústica

Rude e rústica como a terra húmus,
Túrgida de vermes e terra arada.
Deixem vir a Primavera e me dirão.
Como tudo dela fica verde e florido.
As aparências dizem muito pouco da realidade.
Aquela capacidade de gerar vida.
Só a tem a Natureza.
Que bojudo rio passa nela.
Como deixa as margens cheias de vida!
Campinas e searas verdes.
Quando o sol as rega,
Reluzem de cor e luz.
Respeitar a terra negra.
Alfobre rico de verde e vida.


Berlim, 17 de Novembro de 2020
12h26m
Jlmg

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Nota do editor

Último poste da série de 15 de novembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21545: Blogpoesia (705): "As vielas das casas", "Quando se avizinha a noite" e "Rostos frios, malévolos", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

domingo, 15 de novembro de 2020

Guiné 61/74 - P21545: Blogpoesia (705): "As vielas das casas", "Quando se avizinha a noite" e "Rostos frios, malévolos", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

1. A habitual colaboração semanal do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) com estes belíssimos poemas, enviados, entre outros, ao nosso blogue durante esta semana:


As vielas das casas

Tecem lendas
São inversas as vielas das casas, na cidade.
Traçam ruas paralelas, oblíquas.
São avessas as travessas cruzadas.
Traçam praças, cruzamentos, inquinados.
Tecem lendas. Com enigmas.
Rezam fados.
Caçam vento. São moinhos.
Opacos. Helicoidais.
Têm fendas. Resquícios.
Cheias d'ervas.
Opíparas. Comem traças.
Desalmadas. São secretas.
Repelentes. Têm penas.
Eremitérios.
Almas penadas, esvoaçantes.
Têm postes. Guarda-fios.
Guardam espíritos.
Como morcegos.
Fogem delas.
Erram vadios.
Cumprem penas.
Têm estigmas.
De tão ermas.
Ficam desertas.


Berlim, 10 de Novembro de 2020
9h19m
Jlmg


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Quando se avizinha a noite

Quando se avizinha a noite e se acendem as estrelas.
Chegou a hora de fazer as contas.
Valeu a pena o dia?
O que há que corrigir?
Viver só por viver não vale a pena.
É preciso operar o bem e fugir do mal.
Deixar entrar o sol na nossa vida.
Acender o fogo do nosso amor.
Ir à luta em cada dia para frutificar.
A árvore que não presta só serve para queimar.
Aproveitar o que falta viver para ser o se deve ser.
Todos temos o nosso dom.
Ninguém possui o nosso jeito.
Temos a obrigação de o exercer.


Berlim, 12 de Novembro de 2020
9h10m
Jlmg


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Rostos frios, malévolos

Rostos frios, malévolos.
A vida para eles não tem valor.
A morte é um instrumento.
Usá-lo quando for preciso.
A todos que têm poder ou lutam contra a opressão.
Onde quer que seja e seja lá onde for.
Se infiltram pelas escadas.
Se espalham pelos corredores.
Cátedras e catedrais são seu pelouro.
Só descansam quando as derrubarem.
Instrumentos do mal.
Não desarmam enquanto não derrubarem tudo.
Sementes do mal que crescem por toda a parte.
Mal dos tempos.
Sinal de que o mundo inteiro se tresmalhou.
Só a nova ordem será o remédio santo.
Aquela que só o Criador poderá arquitectar.


Berlim, 12 de Novembro de 2020
14h33m
Jlmg

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Nota do editor

Último poste da série de 8 de novembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21525: Blogpoesia (704): "O comboio que chega", "Rotação da Terra" e "A paz do silêncio", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

domingo, 8 de novembro de 2020

Guiné 61/74 - P21525: Blogpoesia (704): "O comboio que chega", "Rotação da Terra" e "A paz do silêncio", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

1. A habitual colaboração semanal do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) com estes belíssimos poemas, enviados, entre outros, ao nosso blogue durante esta semana:


O comboio que chega

Ei-lo que chega cansado.
Galgou terras serranas. Campestres.
Atravessou túneis compridos, escuros.
Não corre a carvão.
Uma carruagem fidalga.
As outras, com bancos de pau,
Leva o refugo e não vale.
Mesmo assim é u luxo.
Liga as aldeias com festa.
Transporta de tudo.
Sacos.
Galinhas e patos.
Até o compasso, na altura da Páscoa.
As gentes alegres
Acolhem-no festivas.
Cobrem a estação com verduras de cheiro.
O comboio acompanha apitando.
Como gostava de vê-lo
Em Caíde d'El-Rei,
Quando era jovem menino...


Berlim, 2 de Novembro de 2020
17h4m
Jlmg


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Rotação da Terra

Navega pelo universo como um navio gigantesco.
Leva a bordo a humanidade.
Sua bandeira é a paz e a liberdade.
De vez em quando há turbulência e tempestade.
Mas tem à frente um Timoneiro que
Assegura a ordem e a leva sempre a bom porto.
Não tem classes na tripulação.
Há total igualdade nos passageiros.
Sem discriminações absurdas.
Sua rota é o infinito.
Seu diário de bordo é a fraternidade.
Vai largando os mortos onde faz escala.
Admite entradas a todo o momento.
Quem o apanha é um privilegiado da vida,
Porque sem o saber, se candidatou à vida eterna.


Ouvindo Schubert
Berlim, 6 de Novembro de 2020
15h29m Jlmg


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A paz do silêncio

Quem anda no meio da multidão não ouve a voz da consciência.
Assim, erradamente, procura a paz.
A consciência nos desperta e assinala os nossos erros e imperfeições.
Nos louva o bem e o bom que fazemos e repartimos.
É a corda a que nos agarramos nos caminhos mais alcantilados.
É o relógio que lembra nossos deveres e devoções.
Andar sem ele, nos arriscamos a perder o trem da nossa viagem.
Ninguém pode queixar-se de que não foi avisado à beira do precipício.
Será da nossa conta se resvalarmos por ele ao fundo.
Depois, já não haverá remédio.
Teremos o que merecemos.


Ouvindo Schubert
Berlim, 7 de Novembro de 2020
8h56m
Jlmg

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Nota do editor

Último poste da série de 1 de novembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21503: Blogpoesia (703): "Dia de finados", "As Trindades" e "O sabor das coisas", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

domingo, 1 de novembro de 2020

Guiné 61/74 - P21503: Blogpoesia (703): "Dia de finados", "As Trindades" e "O sabor das coisas", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

1. A habitual colaboração semanal do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) com estes belíssimos poemas, enviados, entre outros, ao nosso blogue durante esta semana:


Dia de finados

Pela costeira, frente à minha casa,
Um cortejo de gente.
Carrega flores. Uma vassoura e um balde.
Se dirigem ao campo santo.
Ali, repousam os corpos dos seus.
As almas, essas subiram.
E, ou entram na glória da paz,
Ou, penam as penas das ofensas cometidas
Na luta da vida, contra outros irmãos.
A pequenada correndo para cima e para baixo,
Não vê razões para a tristeza
E rapa as campas abandonas das ervas
E enfeita-as como sabem,
Com as flores que sobram.
Tudo, lembranças que doem e deixam saudade.


Berlim, 1 de Novembro de 2020
10h22m
Jlmg


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As Trindades

Soavam brandas as trindades lá do alto do campanário.
Três vezes, em cada dia.
Benditas Ave-Marias.
Rogando ao céu bênçãos abundantes para as gentes da aldeia.
Linda prática que me lembra a meninice.
Quando as gentes laboriosas sustinham seus labores para erguer a alma ao Criador.
O princípio de tudo e do alimento que cultivavam.
Como estava certa aquela atitude e devoção.
Quando se posicionavam humildes, mas verticais, as gentes.
Entre a terra e os céus.
Tempos de verdade e correcção.
Se prostrava e arrasava a arrogância dos fortes e dos fracos.
A vida é um dom e não a fonte da riqueza e do poder de uns sobre os outros.
Testemunho que havia mais abundância de alegria, apesar das carências tão abundantes do que, na fartura esbanjadora de riqueza de agora...


Berlim, 26 de Outubro de 2020
10h31m
Jlmg


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O sabor das coisas

Procurar apenas o prazer em saborear as coisas pode ser um caminho longo e perigoso.
Se o percorrermos só pelo prazer.
Corremos o risco de ficar prisioneiros.
Tudo o mais deixa de ter interesse.
Mesmo aquelas coisas que nos são vitais.
Aí surge a inversão da vida.
A vida é para ser vivida em paz e felicidade.
Não na escravidão.
Tanta vez é preciso renunciar ao prazer imediato e sedutor para não se cair na escravidão.
Só assim nos sorrirá a felicidade.
A única razão de viver.


Berlim, 30 de Outubro de 2020
9h2m
Jlmg

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Nota do editor

Último poste da série de 25 de outubro de 2020 > Guiné 61/74 - P21480: Blogpoesia (702): "Pesadelos da guerra", "Administrador dos passos" e "As mãos do artista", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

domingo, 25 de outubro de 2020

Guiné 61/74 - P21480: Blogpoesia (702): "Pesadelos da guerra", "Administrador dos passos" e "As mãos do artista", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

1. A habitual colaboração semanal do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) com estes belíssimos poemas, enviados, entre outros, ao nosso blogue durante esta semana:


Pesadelos da guerra

Sofri pesadelos, acordado, na guerra.
Atravessei o adamastor e o cabo da boa esperança.
Regressei intacto.
Esfacelado por dentro.
Esperava a gratidão de quem cá ficou.
A primeira de muitas grandes ilusões.
A humanidade é imprevisível.
Em vez da união entre os regressados,
Campeou o desenfianço.
Cada um, por seu gosto e paladar.
Uma grande maioria atravessou as fronteiras.
Na ilusão de enriquecer.
À procura da árvore das patacas.
Foram servir de moleques
Nas obras dos outros.
Esmigalhou-se a família lusitana.
Vão ser precisas várias gerações
Para curar as feridas...


Berlim, 19 de Outubro de 2020
15h3m
Jlmg


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Administrador dos passos

Não sou senhor dos meus passos.
Os administro como melhor sei e parece.
Nele eu vou, se possível, em tranquilidade.
Sem pressas. Para não tropeçar.
As quedas atrasam ou comprometem a marcha.
E, se quero atingir meu porto,
Não posso desperdiçar o tempo.
Minha bússola é a paciência e a contenção.
Tenho de cuidar bem meu corpo.
Fazer suas revisões à hora.
Parar para descansar, de vez em quando.
Às vezes, a subida é íngreme e espinhosa.
Nunca desligar o motor nas descidas.
Podem faltar os travôes.
O precipício surge quando menos se espera.
Os barrancos estão cheios de carcaças velhas.


Berlim, 22 de Outubro de 2020
9h55m
Jlmg


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As mãos do artista

Ligadas à sua mente por liames insondáveis,
Traduzem sobre a tela suas mensagens.
Seu mundo é a beleza.
Seu mar é o oceano onde navegam.
Sua cor é das flores.
Seu brilho é das estrelas.
Fazem de cor e bem tudo o que sabem.
Não têm segredo os seus caminhos.
Vivem sós seu privilégio.
Usuários.
Revelam seu olhar pelos olhos de sua alma.
Têm o dom que lhes deu a Natureza.
Não é seu.
É para dar a quem vai pelo seu caminho.


Berlim, 23 de Outubro de 2020
15h37m
Jlmg

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Nota do editor

Último poste da série de 18 de outubro de 2020 > Guiné 61/74 - P21461: Blogpoesia (701): "A força do sangue", "Ruela estreitinha" e "Coincidência ou acaso", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

domingo, 18 de outubro de 2020

Guiné 61/74 - P21461: Blogpoesia (701): "A força do sangue", "Ruela estreitinha" e "Coincidência ou acaso", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

1. A habitual colaboração semanal do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) com estes belíssimos poemas, enviados, entre outros, ao nosso blogue durante esta semana:


A força do sangue

Telúrica a força do sangue.
Faz-se ouvir das profundezas do magma humano.
Irrompe infalível e faz estremecer as afinidades dos ancestrais.
Atravessa os oceanos nos barcos da emigração.
Poisa nas margens dos continentes.
Aí germina.
Forma comunidades.
Mantém perpétuas as semelhanças de cada ramo.
Reproduz o modo de viver dos antepassados.
Assim se revestiu de gente a terra e o mundo coloriu.
Dificilmente se misturam com as gentes autóctones.
Reparte e gera saudades das terras donde se partiu.
Melhor seria que não ocorressem.
Sua causa, as mais das vezes são as carências vitais.


Berlim, 13 de Outubro de 2020
14h44m
Jlmg


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Ruela estreitinha

Ruela estreitinha da cidade de Évora.
Mergulhada em silêncio.
Pintada de branco.
Afitada de azul nas ombreiras das portas.
Algumas vermelhas.
Janelas fechadas.
Ninguém à janela.
É hora da sesta.
Solstício de Verão.
Queima para burro.
Ao longe e à volta,
Montados ermos de sobreiros e mansos pinheiros.
Brancas aldeias, de casas serenas,
Baixinhas, um banco corrido de pedra.
A parede é a costa.
Ali sentam pacatos,
alentejanos castiços.
Conversando da sorte da vida.
Não a trocam por nada...

Berlim, 15 de Outubro de 2020
8h30m
Jlmg


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Coincidência ou acaso?

Nossos encontros nas encruzilhadas,
a horas espúrias.
Com alguém que muito queríamos.
Não é obra do acaso.
Há alguém de fora que alcança tudo.
Sem ser árbitro.
Apenas assistente atento.
é bom sabê-lo.
Nunca vamos sós.
Não somos apenas peças dum xadrês anónimo.
Nossos passos têm controlo total.
Não há lugar para receios.
A caminhada está vigiada.
Uma central atenta,
Vinte e quatro horas por dia.
Totalmente grátis...


Bar dos Motocas, arredores de Berlim, 16 de Outubro de 2020
14h11m
Jlmg

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Nota do editor

Último poste da série de 11 de outubro de 2020 > Guiné 61/74 - P21440: Blogpoesia (700): "Santuário de São Bento da Porta Aberta", "A força da inspiração" e "Ser o primeiro", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

domingo, 11 de outubro de 2020

Guiné 61/74 - P21440: Blogpoesia (700): "Santuário de São Bento da Porta Aberta", "A força da inspiração" e "Ser o primeiro", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

1. A habitual colaboração semanal do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) com estes belíssimos poemas, enviados, entre outros, ao nosso blogue durante esta semana:


Santuário de São Bento da Porta Aberta

Terras verdes do alto Minho
Onde o céu azul parece mar.
Ali nasceu a devoção ao santo que faz milagres
Aos aflitos que lhe vêm bater à porta.
Sem discriminações.
Pobres e ricos.
Só é preciso ter a fé.
Procissões de gente sobem até lá constantemente.
Com a esperança na sua alma de uma graça lhes valer.
Aquele Santo que povoou o ocidente de mosteiros.
Ensinou as gentes a lavrar as terras.
Atravessou o mar e foi ao Brasil
Onde é cultuado como em Portugal.
Bendito sejas ó grande santo benfeitor
Como Bento é vosso nome…


Berlim, 9 de Outubro de 2020
16h28m
Jlmg


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A força da inspiração

O rosto se transfigura quando a inspiração lhe banha a alma na execução duma obra bela.
Ondas indefinidas perpassam todo o corpo.
Ficam em brasa as chamas de beleza.
Quase em delírio orgâsmico, os dedos do pianista e do poeta e qualquer artista, incandescem sobre as teclas.
Se evolam as sensações e o ar fica deslumbrante de emoção ao rubro.
Só a alegria do parto dum recém-nascido se lhe assemelha.
Candente manifestação divina é a força da inspiração humana…


Berlim, 9 de Outubro de 2020
18h22m
Jlmg


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Ser o primeiro

Nunca quis ser o primeiro em nada.
Aquele despique das boas notas entre a rapaziada da turma.
Durante algum tempo, fiz parte dos quatro melhores do ano.
Depois, comecei a baixar.
A matéria das cadeiras não me entusiasmava.
Matemática e ciências não me seduziam.
Por fim, estava entre os razoáveis.
A maioria.
Na faculdade, suei as estoupinhas para passar em cada cadeira.
Nalgumas, chumbei.
Só mais tarde, ganhei consciência de que o saber consiste no que fica dentro de nós. E nos alimenta a vida.
Não é a quantidade. Sim, a qualidade, é que conta.
O despique é natural na juventude.
Saber pensar por si é a meta…


Bar dos Motocas, arredores de Berlim,
15h11m
8 de Outubro de 2020
Jlmg

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Nota do editor

Último poste da série de 4 de outubro de 2020 > Guiné 61/74 - P21415: Blogpoesia (699): "O tagarela", "Fidelidade" e "O mistério do talento", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

domingo, 4 de outubro de 2020

Guiné 61/74 - P21415: Blogpoesia (699): "O tagarela", "Fidelidade" e "O mistério do talento", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

1. A habitual colaboração semanal do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) com estes belíssimos poemas, enviados, entre outros, ao nosso blogue durante esta semana:


O tagarela

Infelizmente não é uma avis rara.
Estamos sempre a tropeçar neles.
Uns bazófias.
Nunca leram um livro a sério.
Mas dão ares de que sabem tudo.
Na roda são quem mais fala.
Sua cabeça é oca. Que nem um melão.
Ninguém lhes passa cartão no que dizem.
Mesmo assim, têm sempre de dizer parlapatices.
E, se eles são da nossa família?
O caso é muito sério.
Temos de os gramar.
E viva o velho.
São pessoas.
Embora menores.
Mas, fazem falta.
Para condimentar a vida.
Se todos falassem ajuizadamente, seria uma sensaboria de criar bicho…


Berlim, 3 de Outubro de 2020
12h43m
Jlmg


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Fidelidade

A união gera a solidez.
A amizade é uma força ingente que ata as mãos e cria a fidelidade.
Somos muito mais fortes unidos.
Assim, alcançaremos os nossos sonhos.
Tornaremos nossas vidas mais ricas e viçosas.
Com esta riqueza poderemos comprar tudo. Até o infinito.
A abundância só se consegue com o trabalho de todas as mãos.
Repartir justamente os frutos gera força e não deixa espaço para a exploração nem para o parasitismo.
Só assim se alcança a felicidade que tanto nos seduz e arrasta…


Berlim, 2 de Outubro de 2020
7h17m
Jlmg


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O mistério do talento

Ave misteriosa.
Voa solitária na noite do indefinido.
Poisa em silêncio sobre a presa.
A avassala e condena.
Se apodera de seus caprichos.
A escraviza sem torturar.
Felizardo quem a recebe.
Dá-lhe a volta a vida.
Não mais o larga.
Visionário na escuridão.
Onde aparece, tudo fica brilhante.
São diversos como a natureza.
Fazem uníssono em sinfonia.
Realçam o belo com o rigor dum bisturi.
Abençoado quem o aceita.
Atingirá os cumes da beleza.
Repousará na candura do inefável.
Onde ora o sonho e o silêncio.


Ouvindo o pianista Tiago de Sousa tocando uma peça sua.
Berlim, 1 de Outubro de 2020
11h43m
Jlmg

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Nota do editor

Último poste da série de 27 de setembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21395: Blogpoesia (698): "Tanque sob a ramada", "Folhas de Outono" e "A minha costeira à porta de casa", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

domingo, 27 de setembro de 2020

Guiné 61/74 - P21395: Blogpoesia (698): "Tanque sob a ramada", "Folhas de Outono" e "A minha costeira à porta de casa", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

1. A habitual colaboração semanal do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) com estes belíssimos poemas, enviados, entre outros, ao nosso blogue durante esta semana:


Tanque sob a ramada

Corria incessante a fonte fresca.
A ramada era um dossel onde o sol não atravessava.
Melhor sítio para passar a tarde não havia.
Um banco de pedra ao lado.
Que belas tardes ali passava.
Que ricas férias!...
E, quando o Avô José vinha era ainda melhor.
Tinha vivido por perto as guerras entre miguelistas e dom pedro.
Sabia de cor as histórias todas.
Passaram-lhe perto.
A história do incêndio criminoso da casa dos padres em Santa Quitéria.
Os olhos reluziam-lhe de entusiasmo.
Encontrara quem o gostava de ouvir…


Berlim, 26 de Setembro de 2020
12h39m
Jlmg


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Folhas de Outono

Uma a uma caem silenciosas as folhas secas.
Cobrem de amarelo o chão verde dos relvados.
Preanunciam tristes a chegada do inverno.
Findou seu reinado de ostentação nos toucados do arvoredo.
Se preparam consternadas para o destino da sua morte.
Mais um pouco e virá a neve branca.
Ocultas, esperarão sua destruição e transformação em húmus.
Enquanto a natureza dormirá a sono solto.
É o devir constante e lento do tempo ao ritmo das estações.
O devorador insaciável das vidas que aspiram à eternidade por vocação.


Berlim, 25 de Setembro de 2020
19h24m
Jlmg


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A minha costeira à porta de casa

Antes do alcatrão
Não foi fácil.
Eu vi.
Alisou-se o caminho.
Vieram camiões de granito das pedreiras esmigalhado.
Cobriu-se de cascalho.
Uma cobertura de saibro seco o revestiu.
Um cilindro de pedra repassou-lhe a superfície inúmeras vezes, até ficar liso.
Borrifou-se de água para sedimentar.
Com o vir das chuvas ficava totalmente firme.
Depois, era um regalo percorrer aquele caminho carregado de buracos e de lombas.
Desde a estrada até à capela de Pedra Maria.
Até servia para jogar a bola...


Berlim, 25 de Setembro de 2020
17h49m
Jlmg

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Nota do editor

Último poste da série de 20 de setembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21375: Blogpoesia (697): "Passos perdidos", "O abraço" e "O convite", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

domingo, 20 de setembro de 2020

Guiné 61/74 - P21375: Blogpoesia (697): "Passos perdidos", "O abraço" e "O convite", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

1. A habitual colaboração semanal do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) com estes belíssimos poemas, enviados, entre outros, ao nosso blogue durante esta semana:


Passos perdidos

A caminhada mal calculada origina erros e perdas de tempo irreparáveis.
Quando não é a própria vida.
Escolher sempre segundo a nossa aptidão é a condição básica.
Todos temos nossas tendências naturais.
Aquilo onde somos mais capazes.
Aí, é mais provável o sucesso.
Pelo menos o pessoal.
Cada faz como sabe e pode fazer.
Daí a variedade de ofertas.
E a riqueza da convivência.
Poder escolher onde bater à porta com vista a ser melhor servido.
É notória a existência de frustrados sentados por essas cadeiras do poder.
A todos os níveis.
Servem mal.
Lesionam sempre o bem-comum...


Berlim, 16 de Setembro de 2020
10h38m
Jlmg


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O abraço

A força dum abraço
Dois braços que se abraçam pondo fim a uma ausência.
Dois braços que selam o começo duma nova vida.
Acabam bem o que começou mal.
Somam forças para um novo projecto.
Dois caminhos que se cruzaramo para bem duma união.
E, muitas vezes, são a porta duma nova ausência.
Quantas contrariedades poderiam ter-se evitado com um simples abraço na hora exacta.
Sempre abraçada deve permanecer a humanidade.
Só assim será fraterna e justa.


Berlim, 18 de Setembro de 2020
7h47m
Jlmg


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O convite

Dum rosto límpido, pode surgir a simpatia.
Da simpatia pode vir a aproximação.
Da proximidade pode nascer, como planta verde um simples convite.
Depois, se lhe der sol, poderão nascer muitos frutos.
Vigorosamente, poderão multiplicar-se.
Assim se constroem as amizades.
Daí poderá nascer o amor se vencerem as afinidades.
É como um rio.
Quando abastecido por bons afluentes.
Daí ao mar só é precisa a inclinação.
Nas suas margens crescerão, por certo, os prados amplos e as searas verdes...

Berlim, 19 de Setembro de 2020
10h50m
Jlmg

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Nota do editor

Último poste da série de 13 de setembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21355: Blogpoesia (696): "África tropical", "Sementes de paz" e "Candelabros", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

domingo, 13 de setembro de 2020

Guiné 61/74 - P21355: Blogpoesia (696): "África tropical", "Sementes de paz" e "Candelabros", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

1. A habitual colaboração semanal do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) com estes belíssimos poemas, enviados, entre outros, ao nosso blogue durante esta semana:


África tropical

África profunda, das palmeiras e das savanas.
Das florestas impenetráveis onde campeiam livres os animais.
Poisam nelas os jagudis.
Onde não cheira a mar, mas há queimadas para desinfestar.
Bordadas de pradarias e de bolanhas.
Laboram nelas os lavradores.
Buscando o pão para as cubatas.
Vivi nela sem ser de lá.
Arrisquei a vida inutilmente.
Por sorte, voltei para casa, vivo.
Uma atrás e outra à frente.
Tantos outros, infelizmente, por lá ficaram.
Era a ordem e era a lei.
Em favor dos poderosos.
Eles queriam lá saber.
Foi uma dúzia de anos da juventude quando a vida tem mais sabor.
Só lembrada por quem a sofreu...

Berlim, 11 de Setembro de 2020
9h8m
Jlmg

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Sementes de paz

Chovam dos céus sementes de paz e de amor.
Fertilizem a crosta da terra.
Verdura de bem.
Frescura de frutos.
Se alcance a esperança, enterrando a angústia.
Se calem as calamidades do ódio e poder escravizante.
Que os vírus se extingam.
Regresse a ordem e a humildade.
Reine a crença num futuro melhor.
Que a humanidade inteira se abrace e dê as mãos.
Prossiga o caminho dum porto seguro
Onde fique segura, vivendo a vida, privilégio de poucos, direito de muitos...

Berlim, 6 de Setembro de 2020
8h56m
Jlmg

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Candelabros

Tornam de festa ambientes soturnos de sombra.
Vestem de luz salas onde a alegria pode faltar.
Molham os olhos de cintilações festivas, mesmo que a tristeza seja ameaçadora.
Atraem à paz os corpos cansados do stress da vida.
Simulam constelações brilhantes num universo finito e limitado.
Afugentam sombras como o diabo foge da cruz.
Alcançam um bem-estar atraente e compensador para as salas e salões dos bares.
Se lhes falta a luz, ficam tristemente desarmados, lamentando a sorte de serem dependentes.
Só ao sol prestam justa reverência e agradecem o seu descanso...

Berlim, bar-dos-Motocas, arredores de Berlim, 10 de Setembro de 2020
10h44m
Jlmg
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Nota do editor

Último poste da série de 6 de setembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21329: Blogpoesia (695): "O agitar das águas", "Senhora Marquinhas da venda" e "Apenas agricultor", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

domingo, 6 de setembro de 2020

Guiné 61/74 - P21329: Blogpoesia (695): "O agitar das águas", "Senhora Marquinhas da venda" e "Apenas agricultor", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

1. A habitual colaboração semanal do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) com estes belíssimos poemas, enviados, entre outros, ao nosso blogue durante esta semana:


O agitar das águas

Águas paradas estagnam. Vêm os insectos e as algas, turvam a superfície.
O sol não inunda o seio e a vida definha nelas.
Como um charco. Imundo e fétido.
É a morte.
O que lhe sustenta a vida é o vento em brisa ou na agitação agreste.
Assim se passa no mundo das ideias. A letargia desertifica a
mente.
Tal como a ociosidade como hábito.
A vontade é o motor do corpo.
Se ele pára, a alma desiste e o corpo caminha para a extinção.
Uma amizade se não se demonstra com a presença, a entreajuda e o sacrifício, enfraquece e, depressa, morre.
Porque secaram as flores do belo jardim?
Seu dono deixou de o regar...
A lareira apagou? Se acabaram os cavacos!...

Berlim, 2 de Setembro de 2020
14h39m
Jlmg

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Senhora Marquinhas da venda

Havia na Forca uma tasca. Vinho da pipa e petiscos frescos eram sua bandeira.
Por trás do balcão de madeira,
Andava a senhora Marquinhas, a mãe,
E sua filha também.
Se cuidavam as duas.
Acudiam fregueses, sobretudo, homens.
Ali passavam a tarde.
Cavaqueando de tudo.
Jogavam à sueca e bisca lambida.
Bebiam canecas de tinto, em porcelana.
Umas atrás das outras.
Quando chegava a tardinha,
Recolhiam a casa para o caldo.
Tresandavam a vinho.
Um santuário de paz no seio da Forca.
Não era por ali que o mal vinha ao mundo...

Berlim, 4 de Setembro de 2020
9h41m
Jlmg

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Apenas agricultor

De sacho e enxada nas mãos, sou apenas o agricultor.
Revolvo a terra. Exponho-a ao sol o seu interior.
Tiro as ervas daninhas.
Os vermes a limpam gratuitamente.
A vida dá-a ele.
Me deleita ver crescer a vida verde.
Contemplar suas flores.
Ver seus frutos a amarelecer.
Depois, é um regalo colher tudo e encher de pão o celeiro enxuto.
É o ritmo vital da natureza.
Tudo é gratuito.
A chuva, o sol e a terra.
Uma condição:
Só damos o engenho e a força das nossas mãos.
Que riqueza!...

Berlim, 5 de Setembro de 2020
10h44m
Jlmg
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Nota do editor

Último poste da série de 4 de setembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21324: Blogpoesia (694): poemas para dizer em voz alta, em casa, na varanda, na rua, ou à beira-mar, em tempos de pandemia: António Gedeão, Li Bai, David Mourão Ferreira e Viriato da Cruz (seleção de Mário Gaspar, António Graça de Abreu, Mário Beja Santos e Luís Graça respetivamente)