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sexta-feira, 19 de setembro de 2014

Guiné 63/74 - P13628: História do BART 3873 (Bambadinca, 1972/74) (António Duarte): Parte X: novembro de 1972, início da época seca: (i) desmantelamento de uma célula clandestina do PAIGC, com a prisão de caboverdianos em Bambadinca; e (ii) continuação das visitas ao Enxalé de elementos pop sob controlo IN

1. Continuação da publicação da história do BART 3873 (Bambadinca, 1972/74), a partir de cópia digitalizada da história da unidade, em formato pdf, gentilmente disponibilizada pelo António Duarte.

[António Duarte, ex-fur mil da CART 3493, companhia do BART 3873, que esteve em Mansambo, Fá Mandinga, Cobumba e Bissau, 1972/74; foi voluntário para a CCAÇ 12 (em 1973/74); economista, bancário reformado, foto atual à esquerda].


Dois destaques, no mês de novembro de 1972, início da época seca:

(i) distribuição de panfletos clandestinos com a denúncia, por parte do PAIGC; da prisão de caboverdianos em Bambadinca; presume-se que as prisões tenham sido efetuadas pela PIDE/DGS, de Bafatá; o comando do BART 3873 admite a existência de uma célula clandestina do PAIGC, na vila de Bambadinca, "núcleo populacional, militar e económico de importância";

(ii) apresentaram-se, no Enxalé, mais 3 elementos da população controlada pelo PAIGC, e ao mesmo tempo o destacamento e tabanca recebeu a visita de 74 elementos pop; esta "desproporção" entre  "apresentações" e "visitas" é explicada pelo receio de represálias por parte do PAIGC sobre as populações que controla "no mato"; no entanto, estas visitas, cada vez mais frequentes, parecem ser toleradas ou até desejadas pela guerrilha...



Guiné-Bissau > Cuor > Belel > 2010 > Mneinos da escola de Belel... Muito provavelmente netos e filhos de "gente do mato", da zona de Madina / Belel  (a sul da região do Morés) que o PAIGC controlava, no tempo da guerra colonial, e que iam visitar os seus parentes ao Enxalé, a sul, na margem direita do Rio Geba, frente ao Xime...

"Seguiu-se para Belel. Esta é uma enternecedora memória, a escola de Belel. Curiosamente, o professor, vemo-lo na primeira fila de pé, também se chama Sori, recebeu-nos efusivamente, propôs fotografia. O Tangoamu gosta a valer desta imagem, mais do que futuro temos aqui a hospitalidade guineense. Aqui se interrompe a viagem, a motocicleta está cada vez pior e o narrador quer ter mais história para contar, amanhã. Vamos continuar, está prometido" (MBS).


Foto (e legenda): © Mário Beja Santos (2010). Todos os direitos reservados.




Guiné > Zona Leste > Mapa do Xime (1955), 1/50000 > Detalhe: o Rio Geba, o Rio Corubal, à esquerda,  o Xime e, do outro lado do Rio Geba, o Enxalé... Em novembro de 1972, a unidade de quadrícula do Xime era a CART 3494, com um 1 Gr Com destacado no Enxalé. Estava tanb+em no Xime o 20º Pel Art, com 3 obuses 10,5, além de um esquadrão do Pel Mort 2268 (, sediado em Bambadinca). O Enxalé tinha ainda 2 GEMIL, 309 e 310. A população era balanta (Enxalé) e mandinga (Xime)..

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2014).


Novembro de 1972, início da época seca: (i) desmantelamento de uma célula clandestina do PAIGC, com a prisão de caboverdianos em Bambadinca; e (ii) continuação das visitas ao Enxalé de elementos pop sob controlo IN







(Continua)
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Nota do editor:

Último poste da série > 9 de setembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13590: História do BART 3873 (Bambadinca, 1972/74) (António Duarte): Parte IX: outubro de 1972: (i) no final das chuvas, e ao fim de dez meses de comissão, o primeiro ataque a um barco civil, o "Mampatá", no Rio Geba Estreito, à 1 hora da noite, de que resultaram feridos, 1 militar e 3 civis; (ii) Spínola no encerramento do 3º turno de instrução de milícias; e (iii) 37 balantas de Mero recebem instrução militar...

sábado, 30 de junho de 2012

Guiné 63/74 - P10094: A minha CCAÇ 12 (25): Setembro de 1970: Levando 50 toneladas de arroz às populações da área do Xitole/Saltinho, e aguardando o macaréu no Rio Xaianga (Luís Graça)



Guiné > Zona leste > Setor L1 (Bambadinca) > CCS/BART 2917 ( 1970/72) > O Fur Mil Op Esp, do Pel Rec Inf, CCS/BART 2917, no espaldão do Mort 81... Nessa época, Bambadinca não tinha artilharia (só no Xime).








Guiné > Zona leste > Setor L1 (Bambadinca) > CCS/BART 2917 ( 1970/72) > Pessoal do Pel Rec Inf (?), CCS/BART 2917, algures a atravessar uma bolanha (ou uma lala).





Guiné > Zona leste > Setor L1 (Bambadinca) > CCS/BART 2917 ( 1970/72) > O Fur Mil Op Esp, do Pel Rec Inf, CCS/BART 2917, de costas, algures, numa coluna logística (?).





Guiné > Zona leste > Setor L1 (Bambadinca) > CCS/BART 2917 ( 1970/72) > Uma tabanca fula, algures no setor, não identificada, mas presumivelmente do regulado de Badora.




Guiné > Zona leste > Setor L1 (Bambadinca) > CCS/BART 2917 ( 1970/72) > Estrada Bambadinca -Mansambo - Xitole - Saltinho (?)




Guiné > Zona leste > Setor L1 (Bambadinca) > CCS/BART 2917 ( 1970/72) > Máquinas da TECNIL na abertura da estrada Bambadinca- Xime.






Guiné > Zona leste > Setor L1 (Bambadinca) > CCS/BART 2917 ( 1970/72) > Máquina da TECNIL abrindo clareiras na mata...





Guiné > Zona leste > Setor L1 (Bambadinca) > CCS/BART 2917 ( 1970/72) > Abertura da estrada Bambadinca- Xime, nas imediações de Bambadinca (ou, melhor, do reordenamento de Bambadincazinha)




Guiné > Zona leste > Setor L1 (Bambadinca) > CCS/BART 2917 ( 1970/72) > O Rio Geba ou Xaianga...




Guiné > Zona leste > Setor L1 (Bambadinca) > CCS/BART 2917 ( 1970/72) > Uma das raras fotos do fenómeno do macaréu, no delta do Rio Geba...





Imagens de diapositivos digitalizados. Álbum do Benjamim Durães, ex-fur mil op es, Pel Rec Info, CCS / BART 2917 (1970/72). Edição e legendagem: L.G.


Fotos: © Benjamim Durães (2010) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.






A. Continuação da série A Minha CCAÇ 12 (*), por Luís Graça [, foto acima, Bambadinca, 1970] 



...








Fonte: Excertos de CCAÇ 12: história da unidade. Bambadinca, 1971, 
mimeog., pp. 39-40



Sobre este mês (em que a CCAÇ 2590/CCAÇ 12 perfazia 16 meses de comissão), pode ainda ler-se o seguinte na história do BART 2917 (p. 62, do ficheiro da autoria do Benjamim Durães, num total de 182 pp., em formato  pdf):



03.SETEMBRO.70:


Um grupo IN estimado em cerca de 50 elementos abriu fogo; pelas 08H15, de Mort 82, LGFog e armas automáticas, contra o aquartelamento do Xime durante cerca de 15 minutos.


As NT sofreram um ferido muito ligeiro. Houve um outro ferido ligeiro na população.


09.SETEMBRO.70:


Um Grupo de Combate da CART 2716 [, Xitole], que fazia a segurança a uma coluna de reabastecimento vinda de Bambadinca, detectou e levantou uma mina anti-pessoal reforçada com 7 kg de trotil, entre a Ponte do Rio Jagarajá e a Ponte do Rio Pulon em [XIME 7B1-63].


14.SETEMBRO.70:


Efetuou-se o 2º reabastecimento de arroz para as populações da área do Xitole – Saltinho, sem qualquer incidente.


15.SETEMBRO.70:


Um Grupo de Combate da CART 2714 [, Mansambo], quando se deslocava afim de fazer a segurança a uma coluna vinda de Bambadinca (3º reabastecimento de arroz num total de 50 toneladas), seria emboscado por um grupo IN, simultaneamente ao acionamento de uma mina A/P reforçada na Estrada entre Mansambo e Ponte do Rio Timinco em [XIME 8B2-74], escassos minutos antes da coluna Bambadinca – Xitole passar. O accionamento da mina causou a morte a um picador (Mussa Baldé) e feriu gravemente outro.
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Mortos do Ultramara > TO da Guiné > 15 de setembro de 1970


Apelido Nome Posto Ramo Teatro de operações Data Motivo
BALDÉ MUSSÁ BALDÉ Sold Exército Guiné 15/09/1970 Combate
Apelido Nome Posto Ramo Teatro de operações Data Motivo



Fonte: Liga dos Combatentes > Mortos no Ultramar
___________


Um Gr Comb da CCAÇ 12 que seguia na testa da coluna procedeu depois ao reconhecimento da área, tendo detectado 30 abrigos individuais e a posição dum Mort 82, a 1 Km de estrada.


18.SETEMBRO.70:


Grupo IN de efectivo não estimado abriu fogo, pelas 16H30, de Mort 82, LGFog e armas automáticas sobre o aquartelamento do Xime sem consequência para as NT e população.


Um grupo IN estimado em cerca de 10 elementos abriu fogo da PONTA VARELA, de PM, LROCK e MORT 82 sobre os barcos Badora e Manuel Barbosa, de [XIME 3D4-52], tendo causado um morto (mulher) e 2 feridos muito ligeiros, todos da população.


21.SETEMBRO.70:


Quando uma Secção do Grupo de Combate destacado no Enxalé [, CART 2715,] se dirigia de Porto Velho para o aquartelamento, pelas 19H00, e a cerca de 50 metros deste, a viatura avariou-se tendo então o pessoal que nela seguia começado a empurrá-la nos poucos metros que faltavam, acionando então uma mina conjugada com uma emboscada da qual as NT tiveram 3 feridos graves e a perda de diverso material.


Simultaneamente um outro grupo IN com 200 homens vindos da base de Madina, começou a flagelar o aquartelamento com Mort 82, LGFog e armas automáticas sem consequências para as NT, que reagindo com Mort 81 e artilharia do Xime [, CART 2715 + 20º PEL ART / GAC 7, 10,5 cm, ] puseram o IN em fuga com vários mortos e feridos confirmados pelos numerosos rastos de sangue, ligaduras, algodão e frascos de soro vazios abandonados.


Notícias posteriores de diversas origens admitiam ter morrido nessa acção o Comissário Político António do grupo de André e pertencente ao acampamento Ide Sará.


24.SETEMBRO.70


Grupo IN de efetivo não estimado abriu fogo de Can s/r, Mort 82, LGF e armas automáticas sobre o aquartelamento do Xime. A flagelação inimiga não causou quaisquer espécies de danos, nem materiais pessoais.


29.SETEMBRO.70


Inicia-se a Acção Gruta com 2 Grupos de Combate da CCAÇ 12 que consiste de uma patrulha de reconhecimento entre Finete e São Belchior. Foram reconhecidos entre Saliquinhé e São Belchior vestígios deixados pelo IN após a última ação contra as NT aquarteladas em Enxalé.




Guiné > Zona Leste > Croquis do Sector L1 (Bambadinca) > 1969/71 (vd.
Sinais e legendas).
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Nota do editor:


Último poste da série > 21 de maio de 2012 > Guiné 63/74 - P9930: A minha CCAÇ 12 (24): Agosto de 1970: em socorro da tabanca em autodefesa de Amedalai, terra do nosso hoje grã-tabanqueiro J. C. Suleimane Baldé (Luís Graça)

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Guiné 63/74 - P8388: A minha CCAÇ 12 (18): Tugas, poucos, mas loucos...30 de Março-1 de Abril de 1970, a dramática e temerária Op Tigre Vadio (Luís Graça)

Guiné > Zona Leste > Sector L1 (Bambadinca) > CCAÇ 12 (1969/71) (*) > A sempre penosa progressão no mato...


Foto: © Arlindo T. Roda (2010) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné.  Todos os direitos reservados



Guiné > Zona Leste > Sector L1 (Bambadinca) > CCS/BART 2917 (1970/72) >  Um heli Al III, no heliporto de Bambadinca...



Guiné > Zona Leste > Sector L1 (Bambadinca) > CCS/BART 2917 (1970/72) >  Pescadores do Rio Udunduma, afluente do Rio Geba... Na margem direita do Geba Estreito começava o regulado do Cuor... No Sector L1, só havia dois destacamentos no Cuor: Missirá (1 Pel Caç Nat + 1 Pel Mil) e Finete (1 Pel Mil)... Era uma região (o regulado do Cuor), a sul do Oio,  onde o PAIGC se movimentava com relativa à vontade. Segundo o comando do BART 29917, a população sob o controlo do IN, nesta região, na península de Madina/Belel,  andaria à volta dos 1900 habitantes (**)...


Guiné > Zona Leste > Sector L1 (Bambadinca) > CCS/BART 2917 (1970/72) >  O Rio Geba (Estreito) em Bambadinca ou Bafatá (?)..
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Guiné > Zona Leste > Sector L1 (Bambadinca) > CCS/BART 2917 (1970/72) > O espaldão do morteiro 81... 

 Fotos: © Benjamim Durães (2010) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné.  Todos os direitos reservados




A. Continuação da série A Minha CCAÇ 12 (*), por Luís Graç


(9) Março de 1970: Op Tigre Vadio, 300 homens na península de Madina/Belel, no regulado do Cuor


Esta foi seguramente a mais dramática (e talvez a mais temerária) operação conjunta que a CCAÇ 12 efectuou enquanto esteve de intervenção ao Sector L1, às ordens do Comando do BCAÇ 2852. Podia ter dado para o torto...

A missão confiada às NT era bater chamada península de Madina/Belel, no limite do regulado do Cuor, a fim de aniquilar as posições IN referenciadas do antecedente e eventualmente capturar a população que nela vivesse (espalhada por locais como Madina, Quebá Jilã, Belel e Banir, esta localização já no Oio).

Em Madina, localizada em MAMBONCÓ 8G-1, havia uma população sob controlo do IN, estimada em 1500 habitantes. Mais 400, em Banir, cuja localização era em MAMBONCÓ 8H-9 (**).

Segundo as informações de que se dispunha, existiria 1 bigrupo nesta região, pertencente à base do Enxalé e dispondo de 2 Morteiros 60, 1 Metralhadora Pesada Goryonov, além de armas ligeiras (Metr Degtyarev, Esp Kalashnikov, Pist Metr PPSH, etc).

Admitia-se também que este bigrupo estivesse reforçado com 1 grupo de Mort 82, pertencente ao Grupo de Artilharia de Sara-Sarauol [a noroeste de Madina/Belel, vd. carta de Mambonco].

A última operação com forças terrestres realizara-se em Fevereiro de 1969, não tendo as NT atingido o objectivo devido à fuga do prisioneiro-guia e ao accionamento dum engenho explosivo que alertou o IN. Verificaram-se ainda vários casos de insolação (Op Anda Cá)[ Vd. poste de 23 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1542: Operação Macaréu à Vista (Beja Santos) (34): Uma desastrada e desastrosa operação a Madina/Belel ].



Veja-se este diálogo saboroso, mas surreal, entre o Ten Cor Pimentel Bastos, comandante do BCAÇ 2852, e o seu subordinado (e amigo), Alf Mil Beja Santos, comandante do Pel Caç Nat 52:


"- Meu Comandante, há duas noites que não durmo a pensar nesta operação que dentro de dias vem para o Cuor. O que me foi dito pelo Major Pires da Silva é que há dois destacamentos que deviam partir juntos e teme-se que não haja condições para tal. Gostava que revêssemos outras possibilidades para não deslocarmos mais de 300 militares em bicha, com todas as desvantagens. Por favor, peço-lhe como seu amigo que converse comigo em particular nas próximas horas. (...)


"O Pimbas cofiava o bigode, aclarou a voz, olhou-me com estima e não escondeu as suas dificuldades:
- Ouve lá, tu até és capaz de ter razão mas o Pires da Silva tem desenhado esta operação com minúcia e está muito determinado. Faz-me o favor de não o causticares, actua como se ele tivesse razão" (...).



Releia-se outro escrito do Mário, aqui publicado no blogue (em 29 de Junho de 2006):


(...) "Soube da Tigre Vadio  em finais de Fevereiro de 1970, quando o Major de operações de Bambadinca [, Sampaio,] me convidou para um passeio numa Dornier sobre os céus do Cuor. Foi uma viagem que permitiu medir o crescimento militar e populacional de Madina/Belel e a sua ligação a Sara/Sarauol, uma enorme base do PAIGC com um hospital de campanha.

"No regresso desse prolongado voo de reconhecimento, o oficial informou-me discretamente que lá para os finais de Março eu iria revisitar Madina. Era o que menos me interessava a 15 dias do meu casamento, que se veio a realizar na Sé Catedral de Bissau, [com a Cristina Allen]. O ano tinha-se iniciado da pior maneira. Desde que, em Novembro anterior, passara a prestar serviço em Bambadinca, não havia um dia de descanso: colunas ao Xitole, correio a Bafatá, noites na ponte de Udunduma, patrulhamentos alucinantes à volta da pista, toda ela bem iluminada, operações no Xime, emboscadas, segurança nas obras do alcatroamento da estrada Xime-Bambadinca" ...


Mais recentemente, em 5 de Março de 1970, forças heli-transportadas tinham destruído vários acampamentos na área de Mamboncó, reagindo o IN com mort 60 na região de Belel durante a Op Prato Verde. Os RVIS apontavam para a existência de uma razoável, e já mal dissimulada, rede de comunicações (trilhos bem batidos) que, do Oio, permitiam fazer infiltrações de homens e material, na zona leste, através do Sector L1.

Participaram na Op Tigre Vadio as seguintes forças (num total de 300 homens, incluindo carregadores civis que transportaram 2 morteiros 81, granadas de morteiro 81 e de bazuca, ... mas alguém se esqueceu dos jericãs com o precioso líquido chamado... água!):

(i) CCAÇ 2636 (2 Gr Comb) + Pel Caç Nat 52 (Destacamento A)

(ii) CCAÇ 12 a 3 Gr Comb reforçados (Destacamento B)

(iii) Pel Caç Nat 54 + 1 Esq Mort 81 / Pel Mort 2106 (Destacamento C).




Guiné-Bissau > Região Leste > Sector L1 (Bambadinca) > Missirá > 1970 > Pel Caç Nat 54 >  Uma unidade constituída por nharros, tugas e até turras!... A legenda é do açoriano Mário Armas de Sousa: " 1ª fila da direita para esquerda: do pessoal metropolitano, o primeiro sou eu, furriel miliciano Mário Armas; o terceiro é o 1º cabo Capitão; 2ª fila da direita para a esquerda: o primeiro é o soldado Amarante; o segundo é o soldado Bulo; o quinto é o furriel miliciano Inácio; o sexto é o 1º cabo Tomé; o nono é o soldado Samba; 3ª fila da direita para a esquerda: do pessoal metropolitano, o primeiro é o furriel miliciano Sousa Pereira; o quinto é o alferes miliciano Correia (comandante de pelotão); o sétimo é o 1º cabo Monteiro; o oitavo, africano, é o soldado Pucha (era guerrilheiro do PAIGC, foi capturado e ficou no nosso exército)"...


Foto: © Mário Armas de Sousa (2005) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.

O verdadeiro comandante das NT, envolvidas na Op Tigre Vadio, foi na prática o Alferes Mil Beja Santos, o nosso Mário, profundo conhecedor da região, na qualidade de comandante do Pel Caç Nat 52, agora colocado em Bambadinca. Depois do desastre da Op Anda Cá, repetiu-se a cena, com o comando do BCAÇ 2852 a querer fazer ronco, à conta dos pretos e dos açorianos... (Estava-se no término da comissão, não se quis sacrificar nenhumas das subunidades de quadrícula do batalhão, espelhadas pelo Sector L1)...


No 2º volume do seu livro de memórias (Diário da Guiné: 1969-1970: o Tigre Vadio), o próprio Mário dá a entender que esta missão terá sido uma espécie de prenda de casamento, mas envenenada… Antes de o deixarem ir a Bissau para casar, embora com baixa psiquiátrica (por ter levado uma porrada, não podia ir de férias...), o comandante do BCAÇ 2852, Ten Cor Pamplona Corte Real (que substituiu o famoso Pimbas), e o major Sampaio (que foi para o lugar do Pires da Silva), preparam-no para "o banho de sangue no corredor do Oio" (sic) (p. 271).

Quem são as forças que o comando de Bambadinca quer meter na boca do lobo, para vingar o desaire da Op Anda Cá ? Como se disse atrás, mais uma vez  "os pretos e os açorianos"...




A CCAÇ 2636, mobilizada pelo BII 18, tinha partido para o CTIG em 22/10/1969, ainda era portanto periquita (menos de seis meses de Guiné). Era comandada pelo Cap Mil Inf Manuel Medina e Matos. Passou por Có, Bafatá e Sare Bacar. Regressaria a casa em 6/9/1971. Em Março de 1970, a açoriana CCAÇ 2636 estava aquartelada em Bafatá. 

[Imagem à esquerda: Guião da CCAÇ 2636 a companhia açoriana a que pertenceu o nosso camarada João Varanda (Có/Pelundo e Teixeira Pinto, 1969/70; Bafatá, Saré Bacar e Pirada, 1970/71)].

A africana CCAÇ 12, por sua vez, era comandada pelo Cap Inf C
arlos Brito, a escassos meses de ser promovido a major. Deste o fim da época das chuvas, que não tínhamos tempo para nos coçarmos... 


Desenrolar da acção:

Em 30 de Março de 1970, as forças empenhadas na Op Tigre Vadio concentrar-se-iam em Missirá (destacamento agora guarnecido pelo Pel Caç Nat 54, por troca com o Pel Caç Nat 52, comandado pelo Alf Mil Beja Santos, então conhecido como o Tigre de Missirá, que fora colocado desde Novembro de 1969 em Bambadinca).

A marcha em direcção ao objectivo (Madina e Belel) iniciou-se às 23h00.  Anteriormente, para despistar e confundir os olhos e os ouvidos do PAIGC em Bambadinca, as NT seguiram não para Finete (como seria normal), mas para Fá. Atravessaram o Rio Geba de sintex (uma cambança morosa...), e dali seguiram para Missirá.

Por falta de trilhos e por dificuldade do terreno, muito arborizado, não foi possível fazer a progressão por itinerários paralelos, como estava inicialmente previsto, pelo que o Dest B (CCAÇ 12) teve de seguir na rectaguarda do Dest C (Pel Caç Nat 52 + Esq Mort 81 /Pel Mort 2106).

Sancorlá só foi atingida três horas e meia depois, pelas 2.45h do dia 31 de Março, por dificuldades de orientação dos guias e pelas frequentes paragens no decorrer da acção.

Quase seis horas depois da partida, por volta das 4h40, fez-se uma paragem de meia hora para descanso do pessoal.

Atingir-se-ia Salà às 7h e Queba Jilã às 8h, não se tendo detectado até aqui quaisquer sinais da presença ou passagem do IN e utilizando-se sempre um antigo trilho, muito arborizado dos lados, o que impossibilitava a progressão por colunas paralelas.

Depois de um novo alto em que se entrou em contacto com o PCV [Posto de Comando Volante], as NT atingiram o início da península onde depararam, pelas 9h, com uma extensa cortina de fogo, em frente a Madina. Pediu-se então ao PCV novas indicações e orientação, uma vez que já não se podia cumprir o plano estabelecido para a batida a desenvolver em linha conjuntamente pelos Dest A e B.

Dada ordem pelo PCV para seguirem na direcção W, torneando a queimada linear feita pelo IN, as NT encontrariam um trilho muito batido no sentido N/S e na direcção de Belel.

Seguindo o trilho, iriam detectar por volta das 14h, no píncaro do calor, um acampamento IN do lado direito, composto por oito moranças de colmo e sete de adobo. O Dest A (Pel Caç Nat 52 + açorianos) tomou imediatamente posição para o assalto enquanto 1 Gr Comb do Dest B (CCAÇ 12) se dispunha de maneira a cortar a retirada ou o eventual afluxo de reforços vindos de Madina e os outros montavam à rectaguarda e à direita a fim de interceptar quaisquer fugas para Norte.

Desencadeado o assalto com bazuca, foi abatida imediatamente a sentinela e incendiadas as barracas de colmo. Como o IN reagisse com RPSH (costureirinhas) e RPG-2 enquanto iniciava a fuga para NW, foi aberto fogo de armas automáticas, dilagrama e morteiro 60.

O Dest C (Pel Caç Nat 54 + Esq Mort 81 / Pel Mort 2106), instalado na rectaguarda dos grupos de assalto,  fez fogo com os dois Mort 81, batendo a mata para onde os elementos IN se refugiaram. 
  


Os Gr Comb que montavam segurança à direita (CCAÇ 12), viram aparecer na orla da mata vários grupos fugindo para norte, pelo que imediatamente abriram fogo, tendo uma das granadas caído no meio dum grupo de 3 elementos que não mais foram vistos (sic). Numa rápida batida à orla da mata, encontraram-se muitos rastos de sangue que conduziam à mata onde o IN se internou.

Depois do assalto foram referenciados mais onze elementos abatidos e nove rastos nítidos de sangue na direcção NW, além de ouvidos gritos de dor nas imediações (segundo o relatório da Op Tigre Vadio). Na busca realizada ao acampamento, verificou-se haver numa das barracas a arder seis armas carbonizadas que pareciam ser Pist Metr PPSH. Também foi vista uma bicicleta no meio do incêndio, o que vinha comprovar a utilização por parte do IN daquele meio de transporte e comunicação no corredor do Oio.

As oito casas de colmo arderam completamente, tendo-se depois completado a destruição das sete casas de adobe, assim como de todos os meios de vida existentes. Foi impossível recolher ou capturar armamento ou munições pois o fogo ateado desenvolveu-se rapidamente, começando também a mata a arder devido ao vento que soprava.

No assalto ficou ferido o soldado Mauro Balbé (3° Gr Comb da CCAÇ 12), com um tiro no antebraço, além dum outro soldado do Pel Caç Nat 52 com um estilhaço de granada de RPG-2 no peito.

Devido ao violento ataque de abelhas que se seguiu, muito material e munições (principalmente o que era transportado pelos carregadores civis) ficaram abandonados, não tendo sido possível a sua recuperação total.

Entretanto, não se conseguiu pedir mais evacuações devida à avaria dos micros do único AN/PRC-10 que nessa altura ainda funcionava (!), nem aliás a DO e o helicóptero com o reabastecimento de água chegariam já a localizar as NT naquele dia. 



O que aconteceu nessa tarde ? Eis mais um excerto do testemunho Beja Santos, de 29 de Junho de 2009 (reproduzido, de resto, no seu livro de 2008):


(...) "Foi nessa altura que pedi um helicóptero para ir buscar água a Bambadinca. Negociámos uma clareira com o oficial aviador e, ao levantar, uma rajada estilhaçou o vidro. Ainda hoje me interrogo sobre a proveniência do fogo, e longe de mim insinuar que foi gente menos calma entre os nossos. O que interessa é que quando cheguei a Bambadinca, o Comandante [do BCAÇ 2852] perguntou-me porque é que eu deixara o teatro de operações. Olhei-o a direito e perguntei-lhe se ele sabia o que era um estado de desidratação total, desafiando-o a vir comigo...

"Lá regressei à mata cheio de garrafões, o helicóptero dançava com os vidros partidos, a ligação ar/terra não se fez e o oficial convidou-me a desembarcar com os garrafões num sítio qualquer. Perguntei-lhe se ele tinha consciência que não estávamos num filme de aventuras na selva e então levou-me até ao Xime, dizendo que regressava a Bissau e que depois da reparação me viria buscar. Até hoje. Dormi no Xime, sem nenhum êxito na tentativa de comunicar com as forças do Tigre Vadio" (...).



O helicóptero trouxe também o médico do batalhão, o Alf Mil Med Vidal nSaraiva... que acabaria por perder a boleia, de regresso a Bambadinca. Andou todo o resto da tarde, de 31, e toda a noite, do dia 1 de Abril, com a destroçada e desmoralizada tropa...


Os Destacamentos continuaram a progressão a corta-mato em direcção a Enxalé, transportando os feridos em macas (improvisadas) e amparando os elementos mais debilitados.

Devido à escuridão e à vegetação densa, os Destacamentos acabaram inevitavelmente a fraccionar-se, perdendo-se completamente a unidade de comando, enquanto o Pel Caç Nat 52 caminhava na vanguarda orientando-se pela bússola, uma vez que os guias, da inteira confiança do Alf Mil Beja Santos,  davam provas de não conhecer a zona. 



A progressão tornou-se, de resto, cada vez mais penosa devido aos crescentes casos de esgotamento físico e psicológico provocado pela marcha quase ininterrupta durante uma noite e um dia (31 de Março), e sobretudo pela terrível desidratação e pelo brutal ataque de abelhas.

Pelas 22h, as várias fracções dos Destacamentos que, embora seguissem trilho feito pelo Gr Comb que ia na frente, não tinham ligação visual ou contacto-rádio entre si, estacionaram para pernoitar a uns 8 quilómetros do Enxalé.

Reiniciou-se a marcha, ao amanhecer, a 1 de Abril, depois dos 3 Destacamentos se reorganizarem, tendo o grupo da frente atingido o Enxalé por volta das 10h da manhã, com o auxílio do PCV que orientou o deslocamento. A maior parte do pessoal, porém foi transportado de viatura a partir do cruzamento de São Belchior, depois de se ter sofregamente dessedentado com água trazida em bidões. (Assisti a cenas que julgava nunca poder ver em vida, e que são reveladoras do mais básico instinto de sobrevivência do ser humano; essas cenas inspirara-me o texto poético, já aqui publicado, O Relim Não é um Poema).


Em resultado da acção das NT, o IN sofreu quinze mortos (entre referenciados e confirmados), dez feridos confirmados e baixas prováveis, não sendo possível discriminar os elementos combatentes dos elementos pop. (Cito o relatório da operação).

Desta operação o Comando colheu os seguintes ensinamentos, conforme também consta no dito documento:

(i) A surpresa conseguida deve-se ao facto de se ter atingido o objectivo pelas 14h, hora que o IN abranda a vigilância por que sabe que as NT fazem habitualmente um alto entre as 11h e as 16h;

(ii)  Outra razão foi ter-se convencido que as NT retiravam devido à cortina de fogo que havia lançado ao capim;

(iii) Um ataque de abelhas tem pior consequências que uma flagelação, pois que naquele caso as NT entram em estado de pânico, abandonando armamento e equipamento num instinto de defesa e tornando impossível a manobra de comando.
 Faz-se por fim, para os devidos efeitos,  a transcrição da mensagem 1404/C do Com-Chefe (Rep Oper):  



COM-CHEFE MANIFESTA SEU AGRADO REALIZAÇÃO RESULTADOS OBTIDOS OP TIGRE VADIO. Fontes consultadas:


(i) Diário de um Tuga, de Luís Graça. Manuscrito.

(ii) História da Companhia de Caçadores 12 (CCAÇ 2590): Guiné 1969/71. Bambadinca: CCAÇ 12. 1971. Cap. II. pp. 28-29.Policopiado

(iii) História do BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70). Policopiado

(iv) Santos, Mário Beja - Diário da Guiné: 1969-1970: o Tigre Vadio. Lisboa: Círculo de Leitores / Temas & Debates. 2008. 

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quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Guiné 63/74 - P7852: A minha CCAÇ 12 (12): Dezembro de 1969, tiritando de frio, à noite, na zona de Biro/Galoiel, subsector de Mansambo (Luís Graça / Humberto Reis)



Guiné > Zona leste > Sector L1 (Bambadinca) > Xime > CART 2520 (1969/71) >  s/d > O Fur Mil At Inf Arlindo Roda  (CCAÇ 12, Bambdaionca, 1969/71) junto ao um dos obuses 10.5 que defendiam o aquartelamento e tabanca do Xime... A CCAÇ 12 fez inúmeras operações no sector do Xime (bem como no de Mansambo, a sul, entre Bambadinca  e o Xitole).






Guiné > Zona leste > Sector L1 (Bambadinca) > s/d > CCAÇ 12 (1969/71) > Algures numa nas numerosas tabancas fulas em autodefesa, o Fur Mil At Armas Pesadas Inf, Henriques, posando para a fotografia com um RPG2, que estava distribuído à milícia local, reforçada (temporiaramente com uma secção da CCAÇ 12).







Guiné > Zona leste > Sector L1 (Bambadinca) > s/d > CCAÇ 12 (1969/71) > Algures numa nas numerosas tabancas fulas em autodefesa, o Fur Mil At Inf Mil Luciano Severo de Almeida, posando para a fotografia com um RPG2... O Luciano de Almeida, que era natural de (ou residia em) um dos concelhos ribeirinhos da margem sul do Tejo (Montijo ?),  morreu (em circunstâncias violentas, ao que me disseram), anos depois do regresso à Metrópole. Fiquei chocado com a sua morte.

Fotos: © Arlindo T. Roda (2010) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados







Guiné > Zona leste > Sector L1 (Bambadinca) > s/d > CCAÇ 12 (1969/71) > Destacamento da Ponte sobre o Rio Udunduma (dinamitada pelo PAIGC em 28 de Maio de 1969). A partir de Dezembro de 1969, a sua defesa (até então a cargo da unidade de quadrícula do Xime, a CART 2520) passou a ser da CCAÇ 12, do Pel Caç Nat 52 e da CCS/BCAÇ 2852 e mais tarde do BART 2917.




Guiné > Zona leste > Sector L1 (Bambadinca) > s/d > CCS/BART 2917 (1970/72) O Fur Mil Op Esp, Pel Rec Inf, CCS/BART 2917 (1970/72),  no alto da ponte, na "prancha de saltos"... O rio (afluente do Geba) ajudava a matar o tédio dos dias, já que as noites eram infernais (por causa do calor e dos mosquitos, no tempo das chuvas)... Só havia valas, protegidas por bidões de areia e chapas de zinco... No nosso tempo, nunca chegou haver nenhum ataque ou flagelação do PAIGC...






Guiné > Zona leste > Sector L1 (Bambadinca) > s/d > CCAÇ 12 (1969/71) (?) > Um militar africano, com a famigerada bazuca 8,9 cm, M20, de origem americana...

Fotos: © Benjamim Durães (2010) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados






A. Continuação da série A Minha CCAÇ 12 (*), por Luís Graça 

(6) Bamdabinca, Dezembro de 1969: Tiritando de frio, à noite, na zona de Biro/Galoiel, subsector de Mansambo



(6.1) Op Estrela Grandiosa


A 5 de Dezembro de 1969, 2 Gr Comb da CCAÇ 12, juntamente com forças da CART 2520 [, unidade de quadrícula do Xime,] e do Pel Caç Nat 63 (, Fá Mandinga, comandada pelo Alf Mil Art Jorge Cabral, o nosso querido Alfero Cabral,) efectuam a Op Estrela Grandiosa em repetição da Op Tigre Valente (patrulhamento ofensivo na região de Ponta Varela /Poindon, passando pelo antigo acampamento IN destruído em Setembro passado). Não houve contacto nem se detectaram vestígios do IN.


(6.2) Acção Hindu


A 7, o 1º Gr Comb da CCAÇ 12, comandado pelo Alf Mil Op Esp, Francisco Moreira, e o Pel Caç Nat 52 (Missirá, comandado pelo Alf Mil Beja Santos) levam a efeito a Acção Hindu, patrulhando as tabancas a sueste de Bambadinca (Sinchã Dembel, Iero Nhapa, Aliu Jai, Queroane, Queca e Sare Nhado).


(6.3) Op Lua Nova


A 13, realizava-se uma operação a nível de Batalhão no subsector de Mansambo, a fim de bater a área de Sangué-Bemba (Danejo), Galoiel e Biro (Op Lua Nova).


Desde há muito que estavam referenciados trilhos do IN, vindos de Mina e dirigindo-se para a área de Mansambo, com passagem por Biro e Galoiel. O IN tinha-se aqui instalado montando destacamentos avançados e/ acampamentos temporários. Ainda recentemente, em Agosto, forças heli-transportadas haviam destruído as instalações de Biro, capturando diverso material, na exploração imediata de informações dadas por uma prisioneiro, o Malan Mané, roqueteiro do bigrupo comandado por Mamadu Indjai.


Depois disso, esta era a primeira operação que as NT realizavam a Biro. Admitia-se que o IN voltasse mais cedo ou mais tarde a esta região a fim de levar a cabo acções no subsector de Mansambo, com especial incidência sobre a estrada Bambadinca-Mansambo-Xitole.


A progressão e batida foi executada por 2 Dest apoiando-se mutuamente. Participaram na operação forças da CCAÇ 2404 (a nova unidade de quadrícula de Mansambo que viera substituir a CART 2339, dos nossos camarigos Carlos Marques dos Santos e Torcato Mendonça;  tinha passado por Teixeira Pinto e Binar, pertencendo ao BCAÇ 2852,  Bambadinca, 1968/70), Pel Caç Nat 52 (Missirá) e Pel Caç Nat 63 (Fá), além de 2 Gr Comb da CCAÇ 12.

Como se estava na altura do ano em que a humidade atmosférica é mais elevada, atingindo a temperatura à noite valores mínimos de 15º, as NT foram duramente afectadas pelo frio no decurso desta operação, enquanto ficaram emboscadas em Galoiel. (Pessoalmente, não me lembro de ter rapado tanto frio em toda a minha vida!)


A tabanca de Biro foi assaltada ao amanhecer, verificando-se que estava abandonada há meses. Todos os vestígios do IN eram antigos. Constatou-se que Galoiel e Biro eram uma zona que reunia condições ideais para refúgio e instalação do IN devido ao relevo e arborização do terreno. Os Dest regressaramn a Mansambo ao longo da margem esquerda do Rio Bissari.




(6.4) Destacamento da Ponte do Rio Udunduma


A partir de 16, a segurança da ponte do Rio Udunduma deixa de ser da responsabilidade da CART 2520 (1que tinha ali 2 secções destacadas desde Junho), passando a ser feita pelos Gr Com da CCAÇ 12, Pel Caç Nat 52 e outras subunidades afectas ao comando de Bambadinca (como o Pel Caç Nat 63). A importância estratégica deste ponto sensível justificava que houvesse ali um destacamento permanente. No primeiro ataque a Bambadinca, em 28 de Maio de 1969, o IN tentara dinamitar a ponte, a fim de cortar a estrada Bambadinca-Xime.




(6.5) Op Punhal Resistente



A 21, tem lugar outra operação a nível de Batalhão com forças da CART 2520 (Xime), CCAÇ 2404 (Mansambo), Pel Caç Nat 52, além do 2º Gr Comb da CCAÇ 12 (que deixou de ter a comandandá-lo o Alf Mil At Inf António Manuel Carlão , destacado para o reordenamento de Nhabijões, em Novembro de 1969)  para uma batida à região de Baio/Buruntoni, onde do antecendente estava referenciado 1 bigrupo. O facto do IN, durante o tempo seco, não ter uma acampamento certo nesta região, pernoitando na mata sempre em sítios diferentes, tornava a missão das NT mais difícil e perigos (Op Punhal Resistente).


As NT, de resto, não chegariam a cumprir a missão  uma vez que se perderam. A região de Baio/Buruntoni é de floresta densa, sendo percorrida por numerosos cursos de água. Pontos há em, que não se vê a luz do sol e só se pode andar de rastos. Não se dispondo de guias conhecedores da região, e tornando-se impossível a orientação pela carta e mês,o pela bússola (porque não existiam pontos de referência no terreno e era necessário muitas vezes ir abrir caminho), este tipo de operações (batida com 2 destacamentos partindo um de Mansambo e outro do Xime para se encontrarem no ponto de coordenação) só são realizáveis nos… transparentes do gabinete do comando de operações

Na Op Punhal resistente, os 2 destacamentos depois de terem pernoitado em locais diferentes, só conseguiram localizar-se um ao outro graças ao PCV, tendo-se feito a sua junção com o auxílio de uma granada cujo rebentamento indicou a direcção a tomar.


Não houve contacto com o IN que, no entanto, fez fogo de morteiro ao anoitecer no dia D (21) para zona imediatamente a norte do Buruntoni, pressupondo porventura que as NT pernoitassem ali…


(6.6) Acção Guilhotina e Op Faca Húmida na quadra natalícia



A 24 a 24, 2 Gr Comb da CCAÇ 12, em cooperação com a autoridade administrativa de Bambadinca, onde estava aquartelada a companhia, levam a efeito uma rusga (com cerco) à tabanca de Mero, aldeia balanta, junto ao Rio Geba. Apesar de alguns indícios suspeitos, não foram detectados elementos IN ou população sob o seu conbtrolo, que vem aqui reabastecer-se, oriunda de Madina/Belel (no extremo noroeste do regulado do Cuor).


Para efeitos de controlo populacional, completou-se e actualizou-se o recenseamento dos habitantes de Mero (Acção Guilotina, nome de código da operação). Nas duas semanas anteriores, o IN tinha desencadeado várias acções de intimidação contra as populações de Canxicame, Nhabijão Bedinca e Bissaque, a última das quais levada a efeito por um grupo enquadrado por brancos (cubanos ?) que retirou para a região de Bucol, atravessando o Rio Geba de canoa, para norte.

Escrevi na altura, no meu diário: "Guardo, na memória, a hostilidade passiva com que a população nos recebe, a nós, tugas, e aos soldados fulas… Que pensará esta pobre gente balanta que não tem outro remédio senão fazer o jogo duplo ? De dia, acatam (mal) a autoridade administrativa de Bambadinca; à noite, recebem os seus parentes que estão no mato"...


Por outro lado, prevendo-se a possibilidade o IN atacar os aquartelamentos das NT durante a quadra festiva do Natal e Ano Novo, foi reforçado o dispositivo de defesa de Bambadinca. Assim, além da emboscada diária até às 1 a 3 horas da noite, a nível de secção reforçada num raio de 3 a 5 km (segurança próxima), passou a ser destacado 1 Gr Comb para Bambadincazinho (ou ...Bambadincazinha, como chamávamos à tabanca, em fase de reordenamento, a sul do quartel), todas as noites, no edifício da antiga Missão do Sono,  até às 6h da manhã, constituindo uma força de intervenção com a missão de fazer malograr o eventual ataque ao aquartelamento e/ou às tabancas da periferia, actuando pela manobra e pelo fogo sobre as prováveis linhas de infiltração e locais de instalação das bases de fogo do IN, ou no mínimo detê-lo e repeli-lo pelo fogo .


A 26 de Dezembro de 1969, forças da CART 2520 (Xime), reforçadas por um 1 Gr Comb da CCAÇ 12 realizam um patrulhamento ofensivo na região do Xime, Madina Colhido, Chacali, Colicumbel e Amedalai, sem detectarem vestígios do IN (Op Faca Húmida).


A 30, o Comandante Chefe, General António de Spínola, visita Bambadinca para apresentar cumprimentos de Ano Novo a todos os oficiais, sargentos e praças do Comando e CCS/BCAÇ 2852 e sub-unidades adidas, a CCAÇ 12 incluída.


Luís Graça

B. Comentário do Humberto Reis:



(...)  A desgraçada da CCAÇ 12, naqueles sectores L1 e L5 (do Enxalé, na margem Norte do rio Geba, até Galomaro e ao Saltinho), era pau para toda a obra.Tinha, em permanência, um pelotão no destacamento da Ponte (estrada Bambadinca-Xime) e tinha que TODAS AS NOITES colocar um outro pelotão nos arredores de Bambadinca a fazer a segurança ao aquartelamento para que "dentro do arame farpado" se pudesse dormir mais descansado.

De manhã, após uma bela noite a alimentar os mosquitos e depois dos Senhores da Guerra já terem feito o seu soninho mais tranquilo, quando o pelotão regressasse estava sujeito a sair para mais uma operação.

Aquando da abertura do novo itinerário Bambadinca-Xime (quando viemos embora em Março de 71, ainda não estava totalmente asfaltado) era exactamente o pelotão que tinha estado toda a noite emboscado que tinha de ir, com mais outro, fazer a segurança ao pessoal civil (era a empresa TECNIL) que estava a trabalhar nesse empreendimento. Só da parte da tarde estes dois pelotões eram substituídos por pelotões do Xime e regressavam então a Bambadinca.

Houve uma altura em que o comando do Batalhão sediado em Bambadinca (tinha a CCS com um Pel Rec, um Pel Sap, um Pel Morteiros, um Pel Daimler, um Pel Intendência e um Destacamento de Engenharia) ainda queria que o pessoal operacional da CCAÇ 12 fizesse serviços dentro do aquartelamento (oficial de dia, sargento de dia, cabo de dia, reforços, etc.).

Claro que eles pagavam HORAS EXTRAORDINÁRIAS, davam SUBSÍDIO DE REFEIÇÃO (em vales da Ticket Restaurante), um mês de férias com SUBSÍDIO, um 13º MÊS e uma mama de fora. Reclamei junto do nosso Capitão Brito (arrisquei levar uma porrada mas não levei por duas razões, nem eu fui malcriado ao ponto de ultrapassar os limites e ele é um bom homem) - Ele lá se convenceu e convenceu também o comando, da injustiça de tal situação e isso acabou logo após alguns dias.

Estórias que ajudam a fazer a História do nosso país, daquele país, daquele povo tão massacrado. Merecem melhor sorte. (...)

Fonte: Luis Graça & Camaradas da Guiné, I Série > 16 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCLXXIV: Aquelas noites frias de Dezembro (1) (L. Graça; H. Reis)


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Fontes consultadas:


História da Companhia de Caçadores 12 (CCAÇ 2590): Guiné 1969/71. Bambadinca: CCAÇ 12. 1971. Cap. II. 19-21.

História do BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70)
 
Diário de um Tuga
 

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Nota de L.G.:
 
Último poste da série > 22 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7655: A minha CCAÇ 12 (11): Início do reordenamento de Nhabijões, em Novembro de 1969 (Luís Graça)

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Guiné 63/74 - P7557: Operação Tangomau (Mário Beja Santos) (10): O dia no Enxalé, em Madina e Belel

1. Mensagem de Mário Beja Santos* (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 29 de Dezembro de 2010:

Malta,

É um tempo de dias excepcionais, boa colheita para o coração disponível.
Deixo aqui muito trabalho para a malta que viveu no Enxalé, segui depois para Madina e Belel, confirmei que tudo é áspero, penoso e até pobre. Mas o povo recebeu o Tangomau com calor, quis perceber o sentido da viagem, manda cumprimentos para quem ali combateu.

Um abraço do
Mário



Operação Tangomau (10)

Beja Santos

O dia no Enxalé, em Madina e Belel

1. Tudo quanto se vai ver, até a própria comunicação bem-sucedida com o recurso ao crioulo, deve-se ao infatigável desempenho do prestador de serviços Lânsana Sori. Sem ele, o Tangomau ficaria apeado, impossibilitado de visitar pontos ermos, inacessíveis a viaturas. Lânsana aparece na vida do Tangomau graças a Calilo Dahaba, condutor de ligeiros, que detectou a expectativa e encontrou uma resposta. Durante três dias, até ao termo da digressão em terras de Bambadinca e arredores, Lânsana será omnipresente, prestável, sorridente e compreensivo. 

Nesse dia 26, começou-se por ir ao mercado, depositaram-se as vitualhas no Bairro Joli, passou-se pela Bantajã Mandinga, inflectiu-se à esquerda, em direcção a Finete. Manga de cumprimentos na encruzilhada entre Finete e Canturé. O Sr. Biloche mostra casa, sabe-se lá até para dar um sinal da sua competência como construtor civil, ele andou com o Tangomau por Finete e discutiram com o chefe de tabanca a cedência de terreno para o anarca Jorge Cabral se transferir de Miami para ali. Há orçamentos, agora o anarca que tome decisões. 

O Tangomau não esquece a luminosidade do dia, o ar cheio de odores da floresta e os sons de Novembro. Não se vêem macacos mas há borboletas, os pássaros multicolores atravessam o Geba nos dois sentidos. O ronrom da máquina trepidante embala os viajantes. É uma sensação única ir falando para o ouvido do condutor e depois apontar com o nosso próprio ouvido para os lábios de quem fala. E assim se seguiu por Mato de Cão, Saliquinhé, São Belchior, sempre a avistar Samba Silate, na outra margem do Geba. Depois a curva para o Enxalé, é um dos trajectos mais gostosos para quem vê sem precisar de estar atento às rugosidades do estradão traiçoeiro. Feitas as apresentações, o Tangomau é conduzido por Suleimane Sanhá, chefe de tabanca, e dois antigos combatentes, Malã Tchamo e Sadjo Tchamo.


2. Em primeiro lugar, o Tangomau pediu esclarecimentos sobre o Enxalé de ontem e o de hoje. No passado, o Enxalé da guerra era abastecido por dois caminhos: o chamado porto novo, mais curto, na margem do Geba, em frente a Samba Silate; e o porto do Xime, um caminho de alguns quilómetros entre o Enxalé e o Geba. Hoje, estes dois portos estão desactivados. O que se está a mostrar era o início da estrada para o Porto Novo. 

O Tangomau não esconde a sua atracção pelos vestígios, pensa sempre nos sacrifícios, nas escoltas, nos cuidados, em aprovisionar em condições tão difíceis. A natureza ainda não mudou tudo. Certamente que quem viveu e combateu no Enxalé terá recordações deste caminho, um ponto de partida ou um ponto de chegada, consoante a situação, quem desembarcava não era só a comida nem as munições, eram também os homens que faziam a guerra.


3. Um plinto com história, alguém ali gravou nomes, talvez mortos em combate, sabe-se lá. O importante é que temos uma memória, os habitantes do Enxalé e cultores deste blogue terão histórias para contar. Tivesse havido tempo e tomava-se nota de tudo, até se teria fotografado em melhores condições. Agora, quem esteve no Enxalé conte a sua versão da história. Um esclarecimento: o Enxalé expandiu-se mas as edificações, disseram os acompanhantes do Tangomau, estão ali praticamente todas, à excepção dos abrigos e das vedações. 

Depois do Xitole, o Enxalé é um verdadeiro alfobre de vestígios. Oxalá que alguém os queira preservar.


4. Alto lá, aqui temos um sinal de uma companhia, a 556 (**), parece, está lá dentro um crocodilo e a legenda diz "Os Sem Pavor". Eles que se apresentem e que se orgulhem de que o tempo inclemente poupou a lembrança da sua passagem. O Tangomau ia cogitando: quem viveu e combateu no Enxalé tem razões de sobra para aqui vir em romagem de saudade.


5. Aqui está a prova provada da presença da Companhia dos madeirenses [, a CCAÇ 1439,]  os mesmos que habitaram em Missirá, que percorreram as mesmas estradas, que viram o sangue derramado no Cuor. O Tangomau foi convidado para o último convívio, que se realizou em Coruche e gostou muito. Agora pede-se a todos que escrevam sobre este monumento, certamente que lembranças não faltam.


6. Aqui temos um armazém, ou oficina, ou até caserna, a caminho da destruição total. Houve várias versões sobre a função do edifício, nem tem sentido andarmos a especular. Isto porque alguém avançou que se tratava de instalação comercial, anterior à guerra, mostrou os restos do telhado, dizendo que pertencia às instalações usadas por um comerciante. Compete à malta do blogue ler e identificar. Até teria mesmo sentido, caso seja possível, mostrar todas as fotografias de décadas atrás, de múltiplas presenças, e juntar agora estas imagens, para clarificar a memória.


7. Este edifício cheira a instalação do comando, seja para tratar do expediente ou local de convívio. Aqui também se ouviram opiniões díspares, houve quem argumentasse que era a casa de um antigo comerciante, nada da Casa Gouveia ou Ultramarina, um comerciante que ali viveu. Seja como for, tem função e está preservada. Agora, os antigos habitantes do Enxalé que se pronunciem.


8. Os guias foram peremptórios: aqui era refeitório, talvez dos oficiais ou dos sargentos, ou de ambos. Mais material para descodificar. Felizmente, que lhe puseram cobertura: será escola? Terá funções de mesquita? Era tal o afã do Tangomau em tudo registar que nem se pôs com conversa fiada, e bem gostaria. 

Não é preciso ser antropólogo para se saber que isto de conversar não é atar e pôr ao fumeiro, é preciso estar, criar atmosfera, deixar as mentes confiarem nas suas memórias; é preciso tempo para ganhar confiança. Talvez mais um motivo para voltar, assim pensa o Tangomau, este Enxalé está cheio de preciosidades, apetece andar por estes caminhos até ao rio, beleza natural não falta.


9. Quem terá vivido aqui? Mais discordância: para uns, aqui trabalhava o capitão e aqui vivia; para outros, era sala de convívio; houve reticentes, disseram que a construção era anterior à guerra. O Tangomau mantinha-se indiferente a tantas razões inconclusivas, o que ele queria era captar todos os vestígios, todas as marcas, ninguém o incumbiu da missão, foi ele que inventou esta obra asseada. Vamos a ver o que dizem os bloguers que lá viveram.


10. Armazém? Caserna? Escola? Edificação da tropa ou de comerciante? Que é de estrutura impressionante, não restam dúvidas. Quando se percorre o Enxalé fica-se com a noção de que a povoação já tinha história e um certo passado de residência e estadão comercial. Na reunião de Coruche compareceu uma senhora que ali viveu na infância, salvo erro filha de um comerciante. (**) O que se espera é que alguém lhe faça chegar estas imagens e a convoque para rememorar, mais não seja com base no seu acervo fotográfico.


11. Do Enxalé partiu-se à procura de Madina. Saiu-se de um território amplo, com vistas largas e com história. Entra-se num espaço hermético, árido e até inóspito. Não é difícil perceber como o PAIGC aqui estava aninhado e bem protegido. Este caminho fala de secura, de pouca fertilidade, de distâncias longínquas. Como se irá comprovar, deu que fazer os primeiros quatro quilómetros até Cabuca, passou-se ao largo, mas deu para ver que ali havia tabanca, e não pequena. 

É tudo aspereza à volta de Madina. O chefe de tabanca não estava, andava na faina. Foi o Sr. Sebastião Mendes quem nos acolheu, já Lânsana Sori dava sinais de esgotamento, graças àquele maldito pneu furado, que vê na primeira imagem. O que o Tangomau quis captar foi o futuro, as crianças à sombra, pois cá fora temos a ameaçadora fornalha do sol. E pensarmos nós que aqui houve combates terríveis, que morreram homens, mulheres e crianças, aqui se sinistraram Quebá Soncó e Fodé Dahaba. A cabeça do Tangomau não pára de girar. Sente-se apaziguado mas reserva para si este dever de memória.


12. Seguiu-se para Belel. Esta é uma enternecedora memória, a escola de Belel. Curiosamente, o professor, vemo-lo na primeira fila de pé, também se chama Sori, recebeu-nos efusivamente, propôs fotografia. O Tangoamu gosta a valer desta imagem, mais do que futuro temos aqui a hospitalidade guineense. Aqui se interrompe a viagem, a motocicleta está cada vez pior e o narrador quer ter mais história para contar, amanhã. Vamos continuar, está prometido.


(Continua)

Fotos: © Mário Beja Santos (2010). Todos os direitos reservados.
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Notas de CV/LG:

Vd. último poste da série de 30 de Dezembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7528: Operação Tangomau (Mário Beja Santos) (9): O dia no Xitole e o regresso a Finete

(*)  CCAÇ 556 foi mobilizada pelo RI 6, partiu para a Guiné em 4/11/1963 e regressou a 28/10/1965. Esteve em Bissau, Enxalé e Bambadinca. Comandantes: Cap Inf José Abílio Lomba M;artins, Cap Inf Carlos Alberto Gonçalves, Ten Inf Fernando Gonçalves Foitinho.

(**) Vd. poste de 6 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6116: O Nosso Livro de Visitas (85): Maria Helena Carvalho, filha do Pereira do Enxalé, localidade onde nasceu há 60 anos, hoje residente nas Caldas da Rainha (Luís Graça)

(...) Na sequência do encontro da CCAÇ 1439 (Enxalé, Porto Gole, Missirá, 1965/67) , em Coruche, contactou-me, por telefone,  a Maria Helena Carvalho, nascida no Enxalé, e actualmente casada, residente nas Caldas da Rainha (...) (Telef. 262 842 990). 

Seu pai, Amadeu Abrantes Pereira, natural de Seia, era um conhecido comerciante, o Pereira do Enxalé. Era dono um importante destilaria de aguardente cana, bem como de outras instalações e casas, que ainda hoje estão de pé. A família era muito estimada pela população local. 

A Maria Helena nasceu no Enxalé em 1950, se não erro. Saiu cedo de lá, creio que com sete ou oito anos, por volta de 1958, para ir estudar em Bissau e depois na Metrópole. Mas regressava nas férias grandes. As suas memórias de infância (e os seus amigos de infância) estão indelevelmente ligados a esse tempo e a esse lugar. Os pais acabaram por sair do Enxalé, fixando-se em Bissau, em 1962. Já havia nuvens negras que prenunciavam a chegada da borrasca da guerra. A matéria-prima (a cana de açúcar) que abastecia a destilaria começou a escassear. Os caminhos tornavam-se perigosos. O PAIGC fazia o seu trabalho de sapa. Entretanto, a mãe morreu e a Maria Helena ficou definitivamente entregue aos cuidados dos padrinhos, das Caldas da Rainha.

O património da família ainda lá está, no Enxalé, arruinado. Também tinham prédios em Bissau. Em 1989, a Maria Helena voltou aos lugares da sua infância. Ainda encontrou, no Enxalé, gente que trabalhava para o seu pai e amigos de infância.

Ela ainda fala do Enxalé e da Guiné com emoção. (...)