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sexta-feira, 3 de janeiro de 2020

Guiné 61/74 - P20522: O nosso livro de visitas (204): António Borges, cor inf ref, ex-cap inf, cmdt da CCAÇ 5, "Gatos Pretos", Canjadude, 1970, ao tempo do José Corceiro e do José Martins



Guiné > Região de Gabu > Canjude > CCAÇ 5, "Gatos Pretos > 1970

(...) O capitão Borges com a esposa numa coluna para Nova Lamego. Sentados atrás vão os guarda-costas (elementos dos Comandos, Dragões). Houve autorização superior para o jipe poder integrar a coluna.

É uma atitude arrojada que revela coragem, determinação e cumplicidade no casal, dando provas de coesão, sem se pouparem a sacrifício para consolidar a união dos cônjuges. É evidente que o amor é mais importante que a morte... mas o capitão Borges, com esta sua ousadia, deu provas de combate, segurança e confiança, no porvir.

A senhora do capitão Borges tem que ser uma mulher de alma magnânima e imperturbável, para se arriscar a viver nestas condições, a milhas da civilização e neste isolamento, não deve ser fácil, mas é revelador de acto de afoiteza e amor para com o marido, ao querer trilhar alguns dos perigos e dificuldades inerentes ao teatro de guerra que todos aqui vivemos, só que nós militares, por imposição e obrigação, enquanto a senhora do capitão é de livre vontade, abnegando a possibilidade de bem-estar, provavelmente podendo viver na Metrópole. (...) (*)

[Foto à direita]

Guiné > Região de Gabu > Canjude > CCAÇ 5, "Gatos Pretos > 1970 > Entre o Cheche e o Bormuleo, na margem direita do Rio Corubal, a posar para a foto o capitão Borges, o capitão Costeira e o ahferes Varela (hoje advogado em Almada). É visível a margem oposta do rio Corubal.

[Foto à esquerda]

Guiné > Região de Gabu > Canjude > CCAÇ 5, "Gatos Pretos > 1970 >  Instalados junto àmargem do rio Corubal, ao fim do dia, a comer a ração de combate. 

Na foto, o capitão Borges e mais pessoal da operação; o Silva de Transmissões está de pé; alguns carregadores civis são visíveis assim como os garrafões que transportavam com água. Passámos aqui a noite, onde as formigas nos atacaram.



Guiné > Região de Gabu > Nova Lamego >  14 de março de 1970 >  Recepção do povo de Nova Lamego ao Ministro do Ultramar, Silva Cunha.


Guiné > Região de Gabu > Canjude > CCAÇ 5, "Gatos Pretos > 1970 > O Ramos a cortar o cabelo ao Corceiro em Canjadude. Era normal entre as 10 e as 15h00, intervalo de descanso, andarmos assim vestidos, quando não era pior.

Fotos (e legendas): © José Corceiro  (2010) . Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Troca de mensagens entre o cor inf ref António José G. G. Borges, ex-cap, cmdt da CCAÇ 5, Canjadude, 1970, hoje cor inf ref (**):

(i) António Borges, quarta, 18/12/2019, 12h45

Com os meus afectuosos cumprimentos muito gostaria que me fosse indicado o endereço actual do vosso "tertuliano" José Corceiro que foi Cabo radiotelegrafista da CCaç 5,  de Canjadude (Guiné), Companhia que comandei em 1970.

Antecipadamente agradecido desejo a todos Festas Felizes.
Cor António José G. G. Borges,
ex Capitão Borges / CÇaç 5


(ii) Luís Graça, 18/12(2019, 13h15

Zé Corceiro: Já há tempos que não contactamos... Tens aqui um pedido do ex-cmdt da CCAÇ 5, em 1970, hoje cor ref António Borges. Responde-lhe, com conhecimento a mim, se não te importares... Aproveitas para fazer a "prova de vida"...

Um abraço natalício. Luís Graça


(iii) José Martins, 18/12/2019.18h45:

Boa noite, meu Comandante e Amigo António Borgs:

Espero que se encontre bem, assim como toda a família. Pediram-me para responder a este mail, o que faço com muito gosto.

Já não tenho contacto com o Corceiro há algum tempo mas, os contactos de que disponho são:
e-mail (...)

telemóvel (...)

Telefone fixo (...) 

Aproveito para enviar votos de Boas Festas e um óptimo 2020.

José Martins

 (iv)  António Borges, 2/1/2020 11h15: 

Caros amigos:

A resposta ao meu pedido sagrou-se 100% exitosa tendo "capturado" o Corceiro que era o objectivo principal da operação, mas também o Martins, e estabelecido contacto com o Luís Graça a quem felicito pelo excelente trabalho do "blogue" que vem patrocinando, executando um trabalho que seria legítimo exigir fosse feito pelas instâncias oficiais próprias.

A todos os meus votos de um 2020 pleno de êxitos pessoais.

Um forte abraço do "capitão",

Borges

2. Comentário do editor Luís Graça:

Meu caro coronel António Borges: fico honrado com as suas palavras acerca do nosso blogue, e grato pelos seus votos de bom ano de 2020, que retribuo,. Ao mesmo tempo, fico feliz por termos conseguido "levar a carta a Garcia"... Mas precisamos da presença de mais um "Gato Preto" na nossa Tabanca Grande. Depois desta agradável visita, o seu lugar é aqui ao pé de nós. E começa bem o ano de 2020 se aceitar o nosso convite, sentando-se à sombra do nosso mágico, protetor e fraterno poilão, no lugar nº 802.

 Mande-nos uma pequena nota curricular e as duas fotos da praxe: uma mais recente e outra mais antiga, do tempo do CTIG. Com certeza que terá memórias que possa e queira partilhar connosco. Será muito bem vindo.

PS - Além do José Martins e do José Corceiro, temos ainda o João Carvalho (, "um dos últimos soldados do império"), como dignos representantes da CCAÇ 5. Espero que não me tenha escapado mais nenhum nome. Cito de cor.
______________


(...) Durante a minha permanência na Guiné, de entre os quatro Comandantes de Companhia da CCAÇ 5, que eu conheci em Canjadude, por razões de estilos diversos, cada Comandante deixou cinzelado, na minha memória, recordações e sentimentos distintos uns dos outros. (...)

(...) Estamos integrados numa companhia independente de africanos, cujo quartel tem abrigos enterrados no chão, onde dormimos, os que conseguem, em condições desumanas. O acampamento confina com uma tbanca, onde coexistem civis e militares nativos com as suas famílias, habitando em “morançinhas” familiares tradicionais, cobertas de capim (colmo). (...)


(...) Dia 20 de março, 1970o comandante da CCAÇ 5 é o capitão Manuel de Oliveira (falecido em 31/03/2007,  com a patente de coronel tirocinado na reserva) e é voz corrente que nos vai deixar por ter sido promovido a major e foi destacado para Bissau, para exercer funções relacionadas com actividades no Ministério da Educação. A família do capitão vive em Bissau, cujo agregado familiar é composto por duas filhas e a esposa (Bióloga), que lecciona Ciências no Liceu Honório Barreto. (...)

(...) Dia 21 de março, logo cedo, antes das h00, saiu uma coluna de reabastecimento para Nova Lamego. Eu estou de serviço no posto de rádio, das 4h00 às 8h00 e das 12h00 às 16h00. O José Carlos Freitas saiu hoje na coluna e vai para a Metrópole em gozo de férias.

A coluna regressou cedo do Gabu, por volta do meio-dia. Recebi muita correspondência. Veio para substituir o capitão Oliveira o capitão Borges (hoje coronel na reserva) que era o comandante da CCS do Batalhão de Nova Lamego. (...)

(...) Dia 26, não sei se terá algum fundamento ou se será boato de caserna, mas comenta-se a notícia com honras de veracidade. Fala-se à boca cheia que o capitão Borges vai trazer a esposa, que vive em Nova Lamego, aqui para o destacamento de Canjadude.

Dia 28, houve coluna a Nova Lamego e o capitão Oliveira deixou hoje a CCAÇ 5, foi para Bissau. (...)

(..:) Desde que o Ministro do Ultramar esteve em Nova Lamego, o dia 14 deste mês [de março de 1970], todos os dias têm havido saídas de pelotões para o mato e, tem sido uma constante o movimento de envio e recepção de mensagens, no posto de rádio.

Dia 31, o capitão Borges mandou reunir os militares da Formação e esteve a definir algumas normas de conduta, que quer que sejam cumpridas por todos, principalmente na apresentação do vestuário e comportamentos. (...)

(...) Dia 7 de abril, logo manhãzinha, ao romper da aurora, saiu uma coluna para Nova Lamego. A coluna regressou a Canjadude bem cedinho, tendo recolhido no trajecto o pelotão que estava emboscado.

Ao chegar a coluna ao aquartelamento, ficou tudo surpreendido e de boca aberta… ah! ah!, embora não fosse surpresa para ninguém, pois já todos sabiam, o capitão Borges veio acompanhado da sua esposa que, segundo consta,  vai ficar a viver em Canjadude. (...) [Vd. foto acima, com a respetiva legenda] (...)


(...) Não nos podemos esquecer que estamos no mato e, a partir de agora, da parte de nós, militares, impõe-se nova conduta, mais moderação no verbalismo utilizado na oralidade, mais decoro na postura de apresentação, mormente no vestuário usado, pois tem que haver pundonor e uma determinada probidade no porte, não nos podendo dar à veleidade do desalinho que é ir dos abrigos para os balneários, só de toalha às costas (às vezes suportada por cabide fantasiado) e sabonete na mão. É toda uma atitude comportamental na disciplina, a que temos que nos ajustar. (...)

(...) A esposa do capitão Borges, com todo o respeito, é uma senhora muito simpática e bem-disposta, tem uma auréola de energia positiva. Sempre que passa por algum de nós, indiscriminadamente, não faz distinção, tem a amabilidade de nos dirigir um cumprimento de saudação, sempre com ar de pessoa feliz e sorridente. Só uma senhora que aparenta esta tranquilidade interior e serena generosidade, se sujeitaria a viver neste meio tão hostil e carenciado, onde abundam todo o tipo de privações. (...)

(...) Dia 29 [de março de 1970], por sugestão da esposa do capitão Borges, ao serão reunimo-nos todos os militares no refeitório das praças, para confraternizarmos um pouco e jogar ao loto, presidido pelo comandante da Companhia (desde que eu estou em Canjadude nunca houve uma união e envolvimento de aproximação semelhante a este acto, as águas têm sido muito separadas). Eu logo na primeira jogada fiz Bingo, ganhei 154 pesos, voltei a fazer Bingo na terceira jogada, ganhando 86 pesos, pelo que levou alguém a gracejar que eu já tinha ganho dinheiro, suficiente, para pagar uma rodada de cervejas para todos. (...)

(...) Dia 6, de maio, chegou a Canjadude o capitão Arnaldo Costeira (creio que na época era o capitão com menos idade do QP, se a memória não me falha, ouvi-lhe dizer que comandou, interinamente, uma companhia em Angola tinha ele 20 anos de idade, na altura como alferes e que tinha sido há quatro anos atrás; hoje é coronel na reserva), para substituir o Capitão Borges. (...)

(...) Dia 13, em Canjadude, foi accionado o alarme de perigo, dirigiu-se apressadamente todo o pessoal para os seus postos de defesa, mas afinal era tão só uma demonstração, para testar a eficácia da actuação do pessoal e, para o capitão Borges dar umas explicações da orgânica dos procedimentos a cumprir, em caso de ataque IN, ao capitão Costeira. (...)

(...) Dia 23, realizou-se uma operação, para os lados do Cheche, Corubal, Bormuleo, a nível de Companhia, foram o capitão Borges e o capitão Costeira nesta operação. As viaturas foram-nos levar na direcção do Cheche e apeamos muito próximo das viaturas que estavam abandonadas na picada, por terem sido acidentadas com minas. Após termos desmontado das viaturas, caminhamos bastante tempo, até nos instalarmos para comer a ração de combate. Na parte da tarde começamos a caminhar rumo ao Corubal e no percurso encontrámos um destacamento IN, já abandonado, restando vestígios da actividade humana. Destruímo-lo todo, após o que continuámos a progredir até à margem do Corubal, onde passámos a noite. Instalámo-nos junto de rochas, num lugar paradisíaco, mas para esquecer, pois durante a noite, quase todos nós fomos hostilizados por formigas, que nos queriam papar, as quais tiveram o condão de nos agitar e perturbar a nossa tranquilidade, quando precisávamos de descansar. (...)
(...) Dia 24 de maio  de 1970, veio o furriel de transmissões, Alberto José dos Santos Antunes, substituir o furriel de transmissões, José Martins.

Dia 26 de Maio, de 1970, houve coluna a Nova Lamego. O furriel José da Silva Marcelino Martins (José Martins nosso tertuliano) despediu-se de Canjadude, e da CCAÇ. 5, rumou destino à Metrópole, por ter terminado a sua comissão de serviço na Guerra do Ultramar. Desejo-lhe boa viagem, muita saúde e êxito no percurso que vai iniciar. Que a vida lhe sorria e boa sorte. (...)


(**) Último poste da série >  19 de setembro de 2019 >  Guiné 61/74 - P20156: O nosso livro de visitas (203): O jovem guineense Erickson Té agradece o trabalho que o nosso blogue tem feito pela sua terra e pede autorização para usar algumas das nossas histórias bonitas em página do Instagram

terça-feira, 12 de novembro de 2019

Guiné 61/74 - P20335: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (113): Nha Maria Barba, ou avó Barba, a grande cantadeira de mornas da ilha da Boa Vista, foi minha vizinha, em Bissau: morávamos na antiga Rua Engenheiro Sá Carneiro, a dos serviços metereológicos e da messe de sargentos da FAP... (Nelson Herbert, Mindelo, Cabo Verde)


Guiné > Bissau > s/d>  Nha Maria Barba, com um dos seus netos... Morava na Rua Eng Sá Carneiro, frente à messe de sargentos da FAP. Viveu na Guiné desde os anos 40.

Foto (e legenda): © Nelson Herbert  (2019). Todos os direitos reservados. [Edição elegendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Guiné-Bissau > Bissau > c. 1975 > Roteiro da cidade pós-independência > Rua Eduardo Mondlane (Antiga Rua Engenheiro Sá Carneiro), que parte do Chão de Papel (Av do Brasil), atravessa a Av Amílcar Cabral, a artéria central  (. a antiga Av República, ) e vai até ao Hospital Simão Mendes, ao cemitério municipal  e à antiga zona industrial...

Era a rua dos Serviços Meteorológicos e da messe de sargentos da FAP... O nosso amigo Nelson Herbert lembra-nos que "Nha Maria Barba viveu na Guiné, na então Rua Engenheiro Sá Carneiro, a rua dos Serviços Meteorológicos, numa casa... de três moradias (nasci e cresci numa das moradias adstritas) , mesmo defronte à Messe dos Sargentos da Força Aérea .(Com a independência, foi a primeira chancelaria da embaixada da China.) "


1. Mensagem de anteomtem, dia 10, enviada ao  Nelson Herbert Lopes  [, jornalista, nascido em Bissau, filho da antiga glória do futebol cabo-verdiano e guineense, Armando Duarte Lopes, o "Búfalo Bill; viveu nos EUA, onde trabalhou na VOA - Voice of America; vive hije no Mindelo; tem ceca  de 60 referências no nosso blogue; toto à esquerda]

Meu caro amigo.. e "mano":

O que é que tu sabes (, a gente trata-se por tu, em homenagem aos nossos "velhos" que estiveram como expedicionários, no Mindelo, no RI 21, em 1943) sobre a "história" desta mítica morna, a "Maria Barba", e da sua intérprete original, que seria da Boa Vista, e que terá inclusive morrido na Guiné-Bissau, em 1974 ?...

A morna era ainda muito popular no tempo dos nossos "velhos"... Vê o que podes saber mais... Mantenhas. Luís (*)

2. Resposta imediata do Nelson Herbert,antigo jornalista da Voz da América, agora a viver no Mindelo:

Conheci de facto Nha Maria Barba... ou avó Barba vizinha de toda uma vida e como diria o mindelense “ d’mema solera d’porta”... cresci praticamente com ela por perto... seus netos figuram entre os amigos de berco da Rua Engenheiro Sa Carneiro (, a rua da messe dos sargentos da FAP) (**)...

Mas aqui ficam mais  alguns apontamentos (e um texto, de um investigador da Universidade de Cabo Verde, o António Germano Lima, a publicar posteriormente, na íntegra ou como nota de leitura.) (***)


Morna,  Património Imaterial da Humanidade / UNESCO, por Nelson Herbert


A homenagem de António Germano Lima a uma das mais influentes cantadeiras de mornas... Nha Maria Barba, minha vizinha de uma mesma “solera de porta” na antiga Guiné Portuguesa...

Nha Maria Barba viveu e faleceu na Guiné, estando os seus restos mortais sepultados no Cemitério Municipal de Bissau.

Retenho ainda hoje a imagem desta boavistense, negra e alta, de uma voz singular na interpretação de mornas e acompanhada ao violão por um outro boavistense, também ele emigrado para a Guiné, de então, -refiro-me pois a “Zezinho Caxote”...

Que viva a Morna, Candidata a Patrimóio Imaterial da Humanidade.


______________

Nota do editor:

(*) Vd. poste de 9 de novembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20328: Meu pai, meu velho, meu camarada (59): "Maria Bárbara, canta mais uma morna... / S’nhôr Tenente, ‘m câ pôdê cantá más... Uma morna imortal, numa homenagem à Morna, em vias de ser oficialmente consagrada como "património cultural imaterial da humanidade"

(**) Vd. 11 de outubro de 2014 > Guiné 63/74 - P13718: Recuerdos de uma infância: a Nha Maria Barba, a avó Barba, cantadeira de mornas, da Boavista, minha viziinha de Bissau (Nelson Herbert, VOA - Voice of America)

(...) Nha Maria Barba viveu na Guiné, na então Rua Engenheiro Sá Carneiro, a rua dos Serviços Meteorológicos, numa casa... de três moradias (nasci e cresci numa das moradias adstritas) , mesmo defronte a Messe dos Sargentos da Força Aérea .(Com a independência, foi a primeira chancelaria da embaixada da China) .

Sobre esta senhora postei há uns anos, na minha página do Facebook,. um pequeno texto de homenagem..que aqui partilho...

 (...) Nha Maria Barba ou avó Barba, minha vizinha de soleira de porta geminada, na Guine dé minha infância e adolescência...

Os restos mortais desta senhora, natural da ilha da Boavista, Cabo Verde, repousam hoje no cemitério municipal de Bissau !

Uma das relíquias da música de Cabo Verde é da autoria de Nha Maria Barba, aqui na voz do rei na Morna, Bana ! (...)

 Até à independência da Guiné Bissau, a então Emissora Oficial da Guiné Portuguesa conservava registos da voz desta senhora na interpretação de algumas das mais antigas mornas de Cabo Verde.(...)

Para quem frequentava a Messe dos Sargentos da Força Aérea, esporadicamente era natural, nos serões da noite da nossa/minha rua de infância, ver Nha Maria Barba, com Zezinho "Caxote" ao violão (este um cabo-verdiano amante das serenatas que emigrou para a Guiné) interpretar algumas das lindas mornas de Cabo Verde...

Em jeito de rodapé, recordo-me entretanto, e perfeitamente, apesar da magistral interpretacão da morna em questão pela voz do Bana, de Nha Maria Barba queixar-se da 'adulteração" de algumas estrofes da composição original de sua autoria...

"Nha mae é fraca e nha pai é malandre'
S'un ca bai um' ta bà prese' pa porto
Nha mae é fraca e nha pai é malandre'
S'un ca bai um' ta bà prese' pa porto"

Negava, por exemplo, que no original da composicão, tenha se referido ao pai, nos termos em que a versão interpretada pelo Bana o faz: "Nha Pai e Malandre" ( Meu pai e um malandro)-

Apenas tenho vivas recordaçõees de uma mulher...da avó Barbara, figura que marcou a minha infância e adolescência em Bissau. (...)

(ª***) Último poste da série > 15 de outubro de 019 > Guiné 61/74 - P20243: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (111): Notícias do Fernando Jorge Gonçalves, o "Spinolazinho", mascote da CCAÇ 3373 (Empada, maio de 1971/ maio de 1972), filho da professora da escola primária local, e amigo do alf mil Quintas, infelizmente já falecido

terça-feira, 22 de outubro de 2019

Guiné 61/74 - P20267: Controvérsias (140): é verdade que Contuboel, na zona leste, região de Bafatá, nunca foi atacado ou flagelado ? ( Manuel Oliveira Pereira, ex-fur mil, CCAÇ 3547 / BCAÇ 3884, 1972/74)



Foto nº 1 > A velha ponte de madeira, sobre o rio Geba (Estreito), em Contuboel


Foto nº 2 > No "barco turra", a navegar no rio Geba... O Manuel Oliveira Pereira, à proa, à direita... É bom lembrar que ele foi um dos co-fundadores da famosa Companhia Terminal (Bissau,1973/74) (*) devendo ter feito várias viagens nos "barcos turras", com abastecimentos para o seu batalhão e outros do leste...


Foto nº 3 > No "barco turra", a navegar no rio Geba.. À direita, na margem direita do rio, no sentido Xime / Bamadinca, palmares típicos das margens do rio...


Foto nº 4 > No "barco turra", a navegar no rio Geba... Não parece ser a mesma viagem, o "artista" vai de camuflado... 


Foto nº 5 > No "barco turra", a navegar no rio Geba... O Manuel Oliveira Pereira, para onde iria, em farda nº 3 ?... 


Foto nº 6 > No "Barco turra", a navegar no rio Geba... Comendo a "ração de combate", que a viagem era longa... Adivinham a marca da lata de sumo de fruta...


Foto nº 7 > No "barco turra", a navegar no rio Geba... Noutra viagem, de camuflado e de G3...

Guiné > Região de Bafatá > CCAÇ 3547 / BCAÇ 3884 (Contuboel, 1972//74) > O Manuel Oliveira Pereira, ex-fur mil, membro da nossa Tabanca Grande, da primeira hora. Fotos de álbum do Manuel Oliveira Pereira, cortesia da página do Facebook  da Companhia de Caçadores 3547 - Os Répteis de Contuboel, página criada em 2011.

Fotos (e legenda): © Manuel Oliveira Pereira (2019). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Comentário do Manuel [Oliveira] Pereira,   ex-fur mil, CCAÇ 3547, "Os Répteis de Contuboel", (Contuboel 1972/74), subunidade que pertencia ao BCaç 3884 (Bafatá, 1972/74); hoje advogado, vive em Ponta de Lima (**)


Meu caro Zé Saúde, camarada e amigo. Como me sinto lisonjeado com as tuas palavras. Na verdade, estivemos tão perto (Nova Lamego e Madina Mandinga) e ao mesmo tempo nunca nos encontramos. Depois, já na vida civil, trabalhamos na mesma secção, tivemos cumplicidades múltiplas e viemos também a residir no mesmo prédio.

Foste ao meu casamento, os meus filhos tiveram, durante algum tempo, por "ama" uma tia tua e nesse tempo NUNCA abordámos,  e até julgo desconhecermos, a nossa situação de combatentes e percurso nas "fileiras". Foram precisos anos, muitos anos, para nos "reencontrarmo-nos"!...


Lido o teu texto, aqui vão algumas achegas: A minha Unidade Operacional pertencia ao BCaç 3884 sediado em Bafatá, e tinha por perímetro de acção o sector de Contuboel. Era a CCaç 3547,  conhecida por "Os Répteis de Contuboel" que, devido à sua localização e, não havendo "guerra", funcionava como Centro de Formação de Milícias. 

Assim os seus Grupos de Combate (Pelotões) [, da CCAÇ 3547,] andavam sempre destacados em reforço de outras unidades. Foi deste modo que a CCaç 3547 fez, nos seus quase 28 meses de Guiné,  um "périplo turístico" por Bafatá, Bambadinca Tabanca, Sonaco, Sare Bacar, Nova Lamego, Madina Mandinga, Galomaro e Dulombi. 

Outra curiosidade que também desconheces, talvez, o teu ex-cmdt de Batalhão,  ten-coronel Castelo e Silva, veio a ser meu cmdt, e de quem eu fui  (e continuo a ser) amigo. Vive actualmente em Valpaços. 

Como vez, muitas coincidências! Esqueci de referir que a partir do 3º mês de Guiné e, enquanto operacional, fui sempre Cmdt de Pelotão e em funções administrativas Delegado de Batalhão.

Um abraço. Manuel Oliveira Pereira, Fur Mil,  BCAÇ 3884/CCAÇ 3547.


2. Comentário de Valdemar Queiroz [, ex-fur mil, CART 11,
(Valdemar Queiroz, ex-fur mil, CART 2479 / CART 11, Contuboel, Nova Lamego, Canquelifá, Paunca, Guiro Iero Bocari, 1969/70) 
(**):

Contuboel, um caso interessante na guerra da Guiné.

De Fevereiro a Maio de 1969 estive em Contuboel e não houve o mínimo indício de guerra a não ser ruídos noturnos de outras tabancas a 'embrulhar' e também não tive conhecimento de anteriormente ter havido.

Depois, no resto do ano de 1969 e até Dezembro de 1970, quer em Nova Lamego ou em Paunca, nunca tivemos conhecimento de nenhum ataque a Contuboel.

Agora venho a saber que até 1974, ou seja, até ao final da guerra, Contuboel nunca foi atacada.

3. Comentário do editor LG:
Eu e o Renato Monteiro,
o "homem da piroga", no rio Geba,
com a ponte de madeira ao fundo...,
e que lhe ia seno fatal!

Foto (e legenda): Luís Grça (2005)

É verdade. Zé Saúde e Manel Pereira ? Trabalharam juntos, e nunca tinham falado da Guiné e da guerra , até se encontrarem em Monte Real, num Encontro Nacional da Tabanca Grande ? 

Manuel, Contuboel (, o quartel e a tabanca,)  nunca foi mesmo atacado ou flagelado pelo PAIGC em todos estes anos de guerra ?  Ou, pelo menos, no teu tempo ?

O Valdemar e eu estivemos lá, no 1º trimestre de 1969, na altura Contuboel era um CIM (Centro de Instrução Militar) e e eu descrevia como um "oásis de paz" a ponto de termos feito a IAO (Instrução de Aperfeiçoamento Operacional) nas suas imediações, em farda nº 3, com as nossas praças, do recrutamento local (, refiro-me à CCAÇ 2590 / CCAÇ 12) apenas com balas de salva nas cartucheiras da G3... Só os graduados levavam bala real (***).

Contuboel era local de passagem para quem ia comprar vacas a Sonaco... Quem, da malta do leste, não foi pel menos uma vez a Sonaco ? De facto, também nunca me constou que o quartel tenha sido atacado ou flagelado pela guerrilha do PAIGC, tanto o de Contuboel como o de  Sonaco. É verdade ? (****)

Contuboel tem mais de noventa referências no nosso blogue.

Um abraço especial para o Manel, nosso grã-tabanqueiro da primeira hora. Conhecemo-.nos no I Encontro Nacional da Tabanca Grande, na Ameira, Montemor-o-Novo, em 14 de outubro de 2006, já vão 13 anos!...
_____________

Notas do editor:

(*)  Vd. poste de 2 de outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3264: A Companhia Terminal , Bissau, 1973/74 (Manuel Oliveira Pereira)

(**) Vd. poste de 21 de outubro de 2019 > Guiné 61/74 – P20265: Memórias de Gabú (José Saúde) (88): Manel Pereira, um amigo. (José Saúde)

(***)  Vd. poste de 28 de junho de  2005 > Guiné 63/74 - P86: No oásis de paz de Contuboel (Junho de 1969) (Luís Graça)

(****) Último poste da série > 21 de setembro de  2019 >  Guiné 61/74 - P20165: Controvérsias (139): louvor, em ordem de serviço, do comando do BART 733 (Farim, 1964/66), aos seus militares, pelo pronto, abnegado e eficiente socorro prestado às vítimas do atentado terrorista de 1 de novembro de 1965 (João Parreira, ex-fur mil op esp, CART 730 / BART 733, Bissorã, 1964/65; ex-fur mil cmd, CTIG, Brá, 1965/66)

terça-feira, 15 de outubro de 2019

Guiné 61/74 - P20243: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (112): Notícias do Fernando Jorge Gonçalves, o "Spinolazinho", mascote da CCAÇ 3373 (Empada, maio de 1971/ maio de 1972), filho da professora da escola primária local, e amigo do alf mil Quintas, infelizmente já falecido


Foto nº 1A > Guiné > Região de Quínara > Empada > c. 1971/3 > O "Spinolazinho", a mascote da CCAÇ 3373 (que esteve aqui entre maio de 1971 e maio de 1972).


Fotoi nº 1> Guiné > Região de Quínara > Empada > c. 1971/72  > O "Spinolazinho", a mascote da CCAÇ 3373 (que esteve aqui entre maio de 1971 e maio de 1972).


Foto nº 2A > Guiné > Região de Quínara > Empada > c. 1971/1972 > CCAÇ 3373 > O "Spinolazinho", a mascote da companhia, no jipe do alferes Quintas, mais a mãe, professora da escola primária e que na foto transporta um bebé ao colo


Foto nº 2 > Guiné > Região de Quínara > Empada > c. 1971/1972 > CCAÇ 3373 > O "Spinolazinho", a mascote da companhia, no jipe do alferes Quintas, mais a mãe, professora da escola primária. Ao fundo, aspeto parcial de Empada, "pequena mas bonita vila"


Foto nº 3A > Guiné > Região de Quínara > Empada > c. 1971/1972 > CCAÇ 3373 > O alferes Quintas, um berço com um bebé,  e a mãe do "Spinolazinho", a professora da escola primária local


Foto nº 3 >  Guiné > Região de Quínara > Empada > c. 1971/1972 > CCAÇ 3373 > O alferes Quintas, mais a mãe do "Spinolazinho", e  professora da escola primária.

Fotos (e legendas): ©    Fernando Jorge Gonçalves (2019). [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Recebemos a seguinte mensagem do nosso leitor Artur Araújo, em nome de Fernando Jorge Gonçalves_

Data: segunda, 30/09/2019 à(s) 21:01

Assunto: Procura-se o Alferes Quintas da Companhia de Caçadores 3373 que esteve em Empada (ex-Guiné Portuguesa) entre 1971/1973.


Procura-se um grande amigo da família,  em Empada (Antiga Guiné Portuguesa) no ano 1971/73, o alferes Quintas, que fazia parte da Companhia de Caçadores 3373"...

Por favor contactar pelo e -mail [...] pelo telemóvel [, com indicativo de Portugal]

Sr. Luís Graça, caso saiba do paradeiro do Sr. Alferes Quintas que pertencia à Companhia de Caçadores 3373 que estava em Empada(Guiné-Bissau) entre 1971/73, espero que ainda esteja de vida. agradeço que entre em contacto com ele e informe-lhe que gostaríamos muito de ter notícias dele.

Aguardo a sua resposta.

Melhores cumprimentos.

Artur Ataújo , colega do Sr. Fernando Jorge Gonçalves que quer saber do paradeiro do Alferes Quintas.

Envio fotos em anexo.


O Fernando Jorge Gonçalves, em 2013.
Foto de cronologia do Facebook
2. Mensagem do Fernando Jorge Gonçalves, a partir de Bissau, com data de 3/10/2019:

Prezado Senhor Carlos,

Antes de mais espero que esteja a gozar de uma óptima saúde ao lado dos teus familiares e amigos.

Eu sou um rapaz que pretende encontrar um senhor de quem tenho memórias e algumas fotos, de quando esteve na Guiné Portuguesa. Era o então Alferes Quintas, da Companhia de Caçadores 3373, no Aquartelamento militar de Empada, sul da Guiné.

Eu na altura tinha 3 anitos, sendo filho duma professora de quem esse senhor foi muito amigo e até namorava uma colega da minha mãe de nome, Fátima...Até fui mascote dessa companhia e tenho algumas fotos que poderão provar este facto e, quiçá muito útil para os vossos arquivos históricos. Até me chamavam de "Spinola".

Se por acaso esse Alferes Quintas estiver vivo, o que rezo que sim, ainda irá recordar perfeitamente. Por isso, por via de algumas pesquisas,por parte do senhor Carlos, gostaria de poder ter alguma notícia deste homem que, decorridos quase 50 anos,  nunca mais soubemos dele.

Eu, ao arrumar um velho baú da família,  descobri algumas fotos que me fizeram voltar a esse tempo e ter alguma curiosidade em conseguir ao menos saber deste homem que muito gostava de mim.

Espero não ser muito chato em lhe pedir este favor,  o que, na verdade estou lhe a roubar o seu precioso tempo. Agora sou um homem e com a minha família e gostava mesmo de saber desse senhor Quintas...Os meus contactos são: [dois números de telemóvel,  com indicativo da Guiné-Bissau...]

Sem mais assunto de momento queira aceitar os meus mais respeitosos cumprimentos e, na esperança de boas notícias....

Atentamente Fernando Jorge Gonçalves



Guiné > Região de Quínara > Empada > c. 1971/1972 > CCAÇ 3373 >  O "Cadaval", à esquerda, mais o João Arenga, algarvio de Faro, à direita.

Foto (e legenda): ©    João Arenga  (2019). [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


3. Resposta do nosso coeditor Carlos Vinhal, com data de 3/10/2019:

Caro Fernando Jorge.

As notícias não são as melhores.

Encontrei um antigo condutor auto da CCAÇ 3373, o João Arenga, que me informou que o ex-Alferes Quintas faleceu, vítima de acidente ferroviário, terá sido atropelado por um comboio.
Esse mesmo camarada deu-me o contacto do ex-furriel Ribeiro [, telemóvel nº ..] que vive em Vila Real e que saberá mais pormenores.

Lamento desapontá-lo.
Fico ao dispor,
Abraço,
Carlos Vinhal


4. Resposta do nosso leitor Fernando Jorge Gonçalves

Prezado Carlos Vinhal

É com muita tristeza e consternação que fiquei a saber de que afinal, por ironia do destino, o "Alferes Quintas" tenha tido aquele fatídico acidente e que lhe ceifou a vida...Ontem, por via do seu apoio, recebi a chamada do Sr Arenga, que me deu esta notícia mas, enfim,  é o percurso da vida.

Pese embora, teria muito gosto de o ter encontrado para ver o quão contente estaria em ver o seu " Spinolazinho", que foi mascote dessa companhia. Mas, mesmo assim gostaria de um dia ter um convite da vossa confraternização, podendo-me dirigir a essa plateia e, que com certeza muitos vão recordar de mim como, foi o caso do Sr Arenga,  que logo se lembrou de mim e até da minha mãe que, na altura, era professora [da escola primária].

Aproveito desde já lhe agradecer por me ter dado um momento de felicidade, que me fez voltar no tempo.

Já agora algumas fotos desse tempo.

Esse miudo era eu, de fardas feitas com o resto de tecido (foto nº 1). o alferes Quintas e a minha mãe [. foto nº 3] , e também o Jeep que ele usava [, foto nº 2], e que  era o meu carro preferido para dar voltas naquela pequena e bonita vila de Empada onde passei a minha infância e, tanto assim eu era o miúdo disputado por todos pra quem tinha que ficar comigo pra ser levado a comer no messe dos oficiais.

Os meus cumprimentos
Fernando Jorge Gonçalves ("Spínola")


5. Comentário do nosso editor LG:

Respondendo a uma dúvida do nosso coeditor, Carlos Vinhal, sobre "proteção de dados", não vejo qualquer inconveniente em publicar este material, o alferes Quintas não vem identificado pelo  seu nome completo, nem é referido o seu concelho de naturalidade,  nem sequer o seu último local de residência.

De resto, estes factos são "públicos"... Tudo o que se passou durante a guerra colonial é público, ou deve sê-lo. Neste caso, são também as memórias de uma família. O nosso leitor Fernando Jorge Gonçalves vive na Guiné-Bissau (de acordo com o nº do telemóvel), tem página no Facebook,  tem memória de infância que quer partilhar com a malta que esteve em Empada, em 1971/72... O alferes Quintas, esse, infelizmente já não já está entre nós. É uma história bonita, mesmo sabendo agora que o nosso camarada já morreu...

O Fernando Jorge Gonçalves fica desde já convidado para integrar a nossa Tabanca Grande, tendo ele manifestado  interesse em manter o contacto connosco... Gostaríamos de saber se a mãe ainda é viva, Percebe-se, pelas fotos, que a senhora tinha outro filho-bebé em 1971/72, à  data das fotos.

Presume-se que a professora, mãe do Spinolazinho, fosse cabo-verdiana. Em Bambadinca, também tínhamos uma senhora cabo-verdiana, professora... Os/as  professores/as da metrópole não se ofereciam para vir para a Guiné... As condições de trabalho eram duras, o clima não ajudava nada e muito menos a guerra...

Esta história tem muito interesse documental: também em Bambadinca, no meu temnpo (1969/71) tínhamos um puto desta idade, que era a nossa "mascote"... Andava fardado. comia connosco, era o "Tchombé", era nosso protegido... Não temos aqui falado muito destes "djubis" que eram  mascotes nalguns aquartelamentos do mato...

As nossas saudações para o João Arenga (, nosso camarada da CCAÇ 3373, a quem também convidamos para integrar a Tabanca Grande), para o Fernando Jorge Gonçalves e para o o seu amigo Artur Araújo.


PS  - A CCAÇ 3373 não tem nenhum representante na Tabanca Grande. Tinha até agora 2 referências no nosso blogue. Sabemos que: (i) foi mobilizada pelo RI 1 (Amadora); (ii) partiu para o TO da Guiné em 31/3/1971 e regressou à metrópole em 25/3/1973, com 24 meses de comissão de serviço;  (iii) esteve em Empada (entre maio de 1971 e maio de 1972) e em Brá; (iv) ostentou como Divisa “Os Catedráticos” e “Por Uma Guiné Melhor; e (v) foi comandada pelo Capitão Miliciano de Artilharia Adérito Assis Cadório.


6. Mensagem que seguiu hoje para o Fernando, em Bissau:

Fernando: Aqui estás um poste com algumas memórias do "Spinolazinho"... Infelizmente, o ex-alferes Quintas já não está cá, entre nós, para poder usufruir este momento, conforme notícia (triste) que já recebeu do Carlos Vinhal e do João Arenga.

Aceite o nosso convite para integrar a Tabanca Grande, temos o lugar nº 799 par o Fernando se sentar, à sombra do nosso poilão, com uma vasta comunidade (quase dois batalhões...) de amigos e camaradas da Guiné. Onde quer que ele esteja, o Quintas vai ficar orgulhoso de ver o seu "Spinolazinho", semntad ao lado dos seus camaradas da Guiné (1961/74).

Mantenhas, Luís Graça

PS- Dou conhecimento desta mensagem ao seu amigo Artur Araújo e a alguns camaradas nossos, que passaram por Empada, em diferentes épocas, ou que conheceram Empada... Enfim, dos que me vêm à memória. Pode ser que eles tenham algo a acrescentar...

segunda-feira, 17 de dezembro de 2018

Guiné 61/74 - P19299: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (111): "Estou muito feliz com a minha nota e foi graças a vocês" (Adelise Azevedo, de 14 anos, a viver no norte de França, junto à fronteira com a Bélgica, em Wattrelos; neta do nosso camarada José Alves Pereira, CCAÇ 727, Bissau, Nova Lamego, Canquelifá, Piche, 1964/66)





1. Mensagem de Adelise Azevedo, de 14 anos,  luso-francesa, filha de Isabel Pereira, neta de José Alves Pereira, ex-militar da CCAÇ 727, família que vive no norte de França, junto à fronteira com a Bélgica, em Wattrelos:

Bom dia Senhor Luis Graça,

após a entrega dos diplomas e boletins de notas em novembro, eu queria agradecer a vocês todos de me ter ajudado no meu projeto. (*)

Eu tive 90/100, os membros do júri apreciaram minha escolha de projeto. Era uma professora de História/Geografia e uma professora de Francês. A professora de Francês conhecia as obras do Senhor Mário Beja Santos, as duas ficaram emocionadas com a história dos combatentes da Guinée e a história de meu Avô.

Estou muito feliz com a minha nota e foi graças a vocês.

Aproveito para lhe desejar boas festas de fim de ano.

Beijinhos para todos.

Adelise

2. Comentário do nosso editor LG:

Querida Adelise, mamã Isabel e vôvô Pereira:

Mas que bela prenda de Natal!...A Adelise não pára de nos surpreender... E vemos que tem por detrás um grande família que é farol e porto de abrigo... 

Ficamos felizes por saber que o TPC ("Trabalho Para Casa") (sobre a guerra da Guiné, de 1961 a 1974) está feito e  a Adelise teve uma excelente nota. E vem agora mostrar a sua gratidão pela nossa modesta ajuda

A gratidão é um dos mais nobres sentimentos humanos. Ficamos sensibilizados pelo gesto da nossa amiguinha.  Aqui fica também o agradecimento dos editores do blogue aos nossos vários camaradas (Mário Beja Santos, José Martins, Manuel Luís Lomba, Virgílio Teixeira, António J. Pereira da Costa, Carlos Vinhal...) que responderam ao gentil pedido de ajuda da nossa "neta" Adelise... (Ela entende o português, mas escreve com a ajuda da mãe, Isabel Pereira.)

Deste nosso feliz encontro, fica uma marca (sob a forma de postes publicados). Mas gostaríamos também que o nosso camarada José Alves Pereira, avô da Adelise, que pertenceu à CCAÇ 727, ficasse mais tempo connosco, integrando formalmente a nossa Tabanca Grande... Bastaria, para tanto,  que a filha Isabel ou a neta Adelise nos mandasse duas fotos dele, uma do tempo da Guiné e outra atual, com uma pequena apresentação da sua pessoa... Sabemos que felizmente está vivo e já se tem encontrado, em Portugal, com os seus antigos camaradas de armas. 

Vou pedir também ao Manuel Luís Lomba, de Barcelos, que nos ajude no "acolhimento" deste nosso camarada. O Manuel Luís Lomba foi fur mil da CCAV 703/BCAV 705 (Bissau, Cufar e Buruntuma, 1964/66), é da mesma altura do avô da Adelise, e também passou pelo Leste.

Sabemos que a CCAÇ 727 (Bissau, Nova Lamego, Canquelifá, Piche, 1964/66), só teve um comandante, o já falecido cap inf Joaquim Evónio Rodrigues Vasconcelos, e sofreu 18 mortos na guerra... Infelizmente não temos aqui ninguém que a represente.  Com a entrada do avô da Adelise, os bravos da CCAÇ 727 ficarão mais perto do coração de todos nós. (**)

 ____________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 8 de março de 2018 > Guiné 61/74 - P18392: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (49): Adelise Azevedo, de 14 anos, a viver em Wattrelos, no norte da França, neta do ex-combatente José Alves Pereira (CCAÇ 727, Bissau, Nova Lamego, Canquelifá, Piche, 1964/66) pede-nos bibliografia e outra documentação para um trabalho escolar, "Passeurs de Mémoires", sobre a guerra colonial na Guiné

(...) Bon dia, Senhor Luis Graça,

Meu nome é Adelise Azevedo, sou a neta do Senhor José Alves Pereira (CCAÇ 727). Tenho 14 anos e estou no Colégio "Saint Joseph La Salle" em Wattrelos, no norte da França, perto da fronteira belga.

Eu tenho que preparar um exame chamado "Passeurs de Mémoires" ("Passadores de Memórias") para o mês de maio de 2018. Eu escolhi de falar sobre a guerrilha na Guiné de 1963 a 1974.

Tenho sorte de ter o testemunho do meu avô, mas você poderia, por favor, me enviar documentos, fotos ... deste período da história da Guiné e de Portugal e me comunicar títulos de livros, documentários ...

Com antecedência, agradeço sua ajuda.

Atenciosamente, delise Azevedo (...)



Vd. também postes de:

15 de março de  2018 > Guiné 61/74 - P18420: Consultório militar do José Martins (35): elementos para a história da CAÇ 727 (Nova Lamego, Canquelifá, Piche, 1964/66), que teve 18 mortos em campanha, incluindo o alf mil inf António Angelino Teixeira Xavier, natural de Carrazeda de Montenegro, Valpaços

quarta-feira, 29 de agosto de 2018

Guiné 61/74 - P18963: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (110): Na Tabanca de Candoz fomos reencontrar dois velhos amigos, a irmã e o cunhado do infortunado 1º Grumete Fuzileiro Especial, do DFE 8 (1971/73), José Manuel Ferreira de Jesus Tomé, morto por acidente em 9/12/1971, e homenageado pela sua terra natal, Senhora da Hora, Matosinhos, em 8/10/2016


Matosinhos > Senhora da Hora >  8 de outubro de 2016 >  Homenagem ao filho da terra, José Manuel Ferreira de Jesus Tomé, 1º GR FZE, do DFE nº 8, morto na Guiné por acidente em 9/12/1971 >  Em primeiro plano, à esquerda, as irmãs do nosso infortunado camarada. A iniciativa foi do Núcleo de Matosinhos da Liga dos Combatentes.



Matosinhos > Senhora da Hora >  8 de outubro de 2016 >  Homenagem ao filho da terra, José Manuel Ferreira de Jesus Tomé, 1º GR FZE, do DFE nº 8, morto na Guiné por acidente em 9/12/1971 > Momento em que  a nosssa amiga Maria da Conceição Ferreira de Jesus Tomé Novais Ribeiro e o Vice-Presidente da Câmara Municipal de Matosinhos, dr. Eduardo Pinheiro, descerravam a placa evocativa da memória do único combatente, natural da Senhora da Hora, morto na guerra do ultramar.


Matosinhos > Senhora da Hora >  8 de outubro de 2016 >  Homenagem ao filho da terra, José Manuel Ferreira de Jesus Tomé, 1º GR FZE, do DFE nº 8, morto na Guiné por acidente em 9/12/1971 > Rotunda do Combatente: aspeto geral do monumento.


Matosinhos > Senhora da Hora >  8 de outubro de 2016 >  Homenagem ao filho da terra, José Manuel Ferreira de Jesus Tomé, 1º GR FZE, do DFE nº 8, morto na Guiné por acidente em 9/12/1971. > Placa afixada no monumento da Rotunda do Combatente, frente ao edifício da junta de freguesia.


Matosinhos > Senhora da Hora >  8 de outubro de 2016 >  Homenagem ao filho da terra,  José Manuel Ferreira de Jesus Tomé, 1º GR FZE, do DFE nº 8, morto na Guiné por acidente em 9/12/1971 > A Maria da Conceição Ferreira de Jesus Tomé Novais Ribeiro, ladeada pela sua irmã, agradecendo a homenagem prestada ao irmão de ambas.


Matosinhos > Senhora da Hora >  8 de outubro de 2016 >  Homenagem ao filho da terra, José Manuel Ferreira de Jesus Tomé, 1º GR FZE, do DFE nº 8, morto na Guiné por acidente em 9/12/1971 >  Porto de Honra no Salão Nobre da Junta de Freguesia da Senhora da Hora. Do lado esquerdo, o Comandante da Zona Marítima do Norte.

Fotos (e legendas): © Carlos Vinhal / Núcleo de Matosinhos da Liga dos Combatentes (2016). [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné)


1. Na nossa Quinta de Candoz, Paredes de Viadores, Marco de Canaveses, recebemos hoje a visita de velhos amigos da família, o engº António Novais Ribeiro e a esposa Maria da Conceição, que vivem no Porto. Têm casa aqui perto e almoçaram connosco.

O António, que por sinal nasceu em Paredes de Viadores, onde se situa Candoz, e portanto é também nosso vizinho, foi furriel miliciano de transmissões, entre 1968 e 1970,  no Comando de Agrupamento 2951 (Mansoa), e no Cmd Agrup 2952 (extinto em 7 de janeiro de 1969, sendo o seu pessoal integrado no Combis - Comando de Defesa de Bissau) (**).  Trabalhou, nomeadamente com o, na altura, major inf Carlos Fabião, de quem tem algumas deliciosas histórias. Teve também como camarada alferes o hoje prof catedrático jubilado, da Universidade de Coimbra, o historiador Luís Reis Torgal [Luís Manuel Soares dos Reis Torgal, n. 1942].

O nosso editor já o convidou, de viva voz, para integrar a nossa Tabanca Grande, aguardando agora a sua formalização, por email. O António é, além disso, um grande conversador e exímio tocador de cavaquinho e de bandolim, participando em várias formações musicais de cavaquinho. Pertence ao Lions Clube da Lusofonia, é amigo do Jaime Machado e do José Martins Rodrigues... e, ainda por cima, ele e o nosso Álvaro Basto, cofundador da Tabanca de Matosinhos, são compadres, tendo um neto em comum, o Sebastião...

2. Falando com a sua esposa,  Maria da Conceição, o nosso editor veio a saber que ela teve um irmão, mais novo, morto por acidente no TO da Guiné em 9/12/1971, no dia seguinte ao seu casamento com o António Novais Ribeiro... Um duro golpe para toda a família e amigos. Chamava-se José Manuel Ferreira de Jesus Tomé, era 1º GR FZE, do DFE nº 8.

Em conversa, soubemos que os procedimentos da Marinha, nestes casos, eram muito diferentes do Exército: este mandava um telegrama seco a dar a terrível notícia: a Marinha mandava pessoalmente, a casa dos pais, dois representantes seus...

Fazendo uma pesquisa na Net encontrámos apenas duas referências ao nosso infortunado camarada José Manuel Ferreira de Jesus Tomé: (i) a primeira, no nosso blogue (*); e (ii) uma segunda,  no blogue do DFE 8 (***).

Prometi à Maria Conceição e ao António Novais Ribeiro recordar aqui a saudosa memória do seu irmão e cunhado, publicando este poste que faz juz ao nosso ditado: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". (****)


3. Dois comentários ao poste P16601 (*)

(i) Tabanca Grande [Luís Graça]: 

Carlos [Vinhal], transmite ao Núcleo de Matosinhos da Liga dos Combatentes, de cujos órgãos sociais fazes parte (1.º secretário da da Mesa da Assembleia Geral), o meu apreço por mais esta iniciativa, homenageando um camarada nosso, o 1º grumete fuzileiro do DFE 8, José Tomé, morto por acidente de viação, na Guiné, em 9/12/1971.

Deixa-me também, mais uma vez, destacar o grande brio, competência e dedicação que vocês põem em tudo o que fazem... O vosso Núcleo passa sempre com distinção e deve ser tomado como um exemplo para todos nós, antigos combatentes e respetivas associações de veteranos ou núcleos da LC. 

Um abraço do Luís

(ii) Alcindo [Manuel Pacheco] Ferreira da Silva, ex-1º tenente, cmdt do DFE nº 8 (1971/73)

Caro amigo

Gostava de transmitir ao Núcleo de Matosinhos da Liga dos Combatentes o meu apreço pela homenagem ao Grumete Fuzileiro Tomé. Fez parte do destacamento que tive a honra de comandar, era o mais novo de todos nós e foi o nosso primeiro camarada a partir. Era um jovem alegre, sempre bem disposto. Aproveitava todas as viagens que se tinham de fazer a Bigene para dar uma volta. Numa dela infelizmente teve um acidente.

(**) Vd. poste de 28 de abril de 2014 > Guiné 63/74 - P13059: Comandos de Agrupamento, Operacionais e Temporários (1) (José Martins)

(***) Vd. blogue  Destacamento 8 de FZE (1971-73)

(****) Último poste da série > 15 de junho de  2017 > Guiné 61/74 - P17474: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca ... é Grande (108): Na Lourinhã, fui encontrar o ex-1º cabo at inf Alfredo Ferreira, natural da Murteira, Cadaval, que foi o padeiro da CCAÇ 2382 (Buba, Aldeia Formosa, Mampatá, 1968/70)... e que depois da peluda se tornou um industrial de panificação de sucesso, com a sua empresa na Vermelha (Luís Graça)

quinta-feira, 15 de junho de 2017

Guiné 61/74 - P17474: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca ... é Grande (109): Na Lourinhã, fui encontrar o ex-1º cabo at inf Alfredo Ferreira, natural da Murteira, Cadaval, que foi o padeiro da CCAÇ 2382 (Buba, Aldeia Formosa, Mampatá, 1968/70)... e que depois da peluda se tornou um industrial de panificação de sucesso, com a sua empresa na Vermelha (Luís Graça)


Distintivo da CCAÇ 2382 (Buba, Aldeia Formosa, Mampatá, 1968/70).  Cortesia de Manuel Traquina que descreve o distintivo nestes termos:

"Este era o distintivo da Companhia. Continha na parte central, a figura de um militar com aspecto de veterano de guerra, já com o camuflado e botas um pouco danificados, e a sua inseparável G3.
"Na mão direita segura aquilo a que chamávamos a 'pica', que não era mais que uma vareta de aço afiada e que servia como o nome indica para picar o terreno susceptível de ocultar uma mina. Na extremidade da referida 'pica' encontra-se uma pequena caixa que representa uma mina anti-carro.
Sendo a CCaç 2382 uma Companhia Independente, nos quatro ângulos do distintivo encontram-se as iniciais dos comandos a que pertenceu: o primeiro é o Regimento de Infantaria 2,  de Abrantes,  onde a companhia se formou e foi mobilizada; o segundo é o COSAF -  Comando Operacional de Aldeia Formosa; o terceiro, Batalhão de Caçadores 2834,  ao qual a companhia esteva adida e o quarto, o COP4 (Comando Operacional nº4, sedeado em Buba).

"As duas inscrições laterais poderão levantar algumas interrogações: 'Por Estradas Nunca Picadas'. Esta pequena frase diz-nos que a companhia andou por locais até ali ainda não pesquisados; 'Por Picadas Nunca Estradas' aqui pretende-se dizer o que foi uma realidade, que os militares andaram pelo mato por caminhos que nunca foram estradas.

"Mas voltando à figura central, àquele a que chamámos 'o Zé do olho vivo', por ser uma figura mais ou menos engraçada, valeu-nos na Guiné o título da Companhia dos Palhaços. ".Manuel Batista Traquina".



1. Há dias, na Lourinhã, fui visitar uma das minhas irmãs, a do meio (tenho três, mais novas do que eu). A mana Z... tem um filho, o A..., que está num país árabe a tentar a sua sorte como talentoso adjunto de treinador profissional de futebol. A sua conpanheira, I..., é do Cadaval, concelho vizinho.

Manuel Traquina
Os pais da moça foram-me apresentados. Na hora do chá, conversa puxa conversa, verifico que o pai, Alfredo Ferreira, estivera na Guiné na guerra colonial:
- Quando?
- 1968/70.
- Somos contemporâneos, o meu amigo é mais velho um ano do que eu...
- Pois, sou de 46!
- E eu de 47!... E a sua companhia, já agora, ainda se lembra o número ?
- A 2382, Buba, Aldeia Formosa, Mampatá, Contabane... Éramos a companhia do "Zé do Olho Vivo"! Companhia de Caçadores...
- Se me lembro!... Tenho gente dessa companhia no meu blogue, Luís Graça & Camaradas da Guiné... E o camarada foi operacional? Qual era o posto?
- 1º cabo atirador de infantaria... Mas, como era preciso alguém para
Carlos Nery [, o cap mil Araújo]
fazer o pão, fiquei eu, como padeiro.
- E o capitão?
- Carlos Nery Sousa Gomes de Araújo. Era miliciano.
- Incrível, é meu vizinho de Alfragide!... E quem mais, dos alferes e furriéis...?
- Olhe, o furriel mecânico Manuel Traquina que até escreveu o livro com histórias do pessoal da companhia. É de Abrantes.
- Já estive com ele num dos nossos encontros anuais...

... Emociona-se o ex-1º cabo Alberto Ribeiro C. Ferreira ao falar do ataque a Contabane e das colunas a Gadamael... E do ataque a Buba... E do monumento que foi edificado aos combatentes da sua terra, que regressaram todos, graças a Deus... Sessenta e seis!... Estamos a falar de Murteira, freguesia de Lamas, concelho do Cadaval... Ele escreveu (ou ajudou a escrever) as três quadras de homenagem que estão gravadas na pedra. Recita-me as quadras com um brilhozinho nos olhos. Fica exasperado por lhe faltar o primeiro verso da última quadra... Faz apelo à memória da esposa, a seu lado...

O meu cunhado, M...,   estava banzado com a nossa conversa e a familiaridade dos nomes das terras da Guiné, que ambos testemunhávamos, eu e o Alfredo: de Mampatá a Contabane, do Saltinho a Gandembel, de Buba a Quebo,  e ainda de João Landim a Bula, e o dia em que o Alfredo  ia morrendo afogado no rio Mansoa, agarrado a um frágil tronco de palmeira, ele que nem sabia nadar!...

Falei-lhe do blogue e das referências que temos à malta da companhia do "Zé Olho Vivo"... Não é pessoa de navegar na Net, mas vai todos aos anos aos convívios da CCAÇ 2382... Fala, com calor humano, dos tempos da Guiné e dos seus camaradas... Vê-se que a guerra e a camaradagem marcaram-no para sempre.

Fico a saber que, no regresso (ou ainda antes, logo em 1969), se estabeleceu por conta própria como industrial de panificação. Devido à lei do condicionamento industrial, na época,  o Grémio do setor só o deixou estabelecer-se em Alcoentre, no concelho próximo, Azambuja, transferindo-se mais tarde (presumo que depois do 25 de Abril) para a Vermelha, outra sede de freguesia do concelho de Cadaval. 

O negócio do pão prosperou ao ponto de a clientela se ter alargado a boa parte da região Oeste e à Grande Lisboa... Passou a condução dos negócios ao filho, líder hoje da Panificadora Regional da Vermelha, empresa que tem mais de meia centena de colaboradores e uma apreciável frota automóvel para distribuição diária de pão... que chega às nossas mesas através das redes de hipermercados  e supermercados  onde fazemos compras... Vê-se que sente orgulho na obra feita e na continuidade dada pelo filho (que "não quis continuar a estudar" e é hoje um empresário de sucesso)...

O Zé Manel Cancela
Falámos ainda de amigos do concelho do Cadaval, do Joaquim Pinto de Carvalho, hoje advogado, outro camarada da Guiné, natural do Cadaval, que tem um turismo rural em Vila Nova, a "ArtVila"... Falámos do Miguel Luís Evaristo Nobre, do Vilar, e da sua paixão pelos moinhos de vento... Falámos, inevitavelmente, da serra de Montejunto, e das terras ali à volta, como a "pitoresca" Pragança e o Pereiro (onde se cantam e pintam os Reis) ...

Prometemos, enfim, fazer um visita a Murteira, ao monumento local aos combatentes da guerra do Ultramar e, naturalmente, à casa deste camarada que já ficou avisado:
- Para a próxima, passamos a tratar-nos por tu, como camaradas que somos e continuamos a ser... Tratamo-nos por tu, na Tabanca Grande, do general ao soldado...

2. Não me ocorreu o nome do meu amigo e camarada de Penafiel, o Zé Manuel Cancela, ex-soldado apontador de metralhadora pesada, que também pertenceu à CCAÇ 2382... Na altura não tinha o portátil comigo, pelo que não deu para fazer pesquisas sobre a malta desta companhia que faz parte da nossa Tabanca Grande, e onde se incluem os nomes do Manuel Traquina (ex-furriel miliciano) e do Carlos Nery (ex-cap miliciano, por sinal meu vizinho de Alfragide), além do José Manuel Moreira Cancela e do Alberto Sousa e Silva (ex-soldado de transmissões) (e de quem não temos para já uma foto atualizada).

Apesar da máquina fotográfica andar sempre comigo, também não me ocorreu tirar uma foto... com o Alberto Ferreira e a esposa. A filha I... já a conhecia há uns tempos mas não assistiu a esta conversa. Também ela costumava acompanhar os pais nos convívios anuais da companhia. E conhece bem o Manuel Traquina.

De qualquer modo, pode-se dizer,  mais uma vez, e com toda a propriedade, que o Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca...é Grande!

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017

Guiné 61/74 - P17071: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (108): O reencontro, através do nosso blogue, de dois camaradas da Polícia Aérea, BA 12, Bissalanca, 1972/74: os ex-alf mil Francisco Feijão de Oliveira, nosso próximo grã-tabanqueiro, e o nosso grã-tabanqueiro Eduardo Jorge Ferreira

1. Mensagem do nosso leitor e camarada Francisco Feijão de Oliveira, com data de 20 do corrente:

Meus Caros

Estive na Guiné de 1972 a 1974 na Base Aérea n.º 12, como Alferes Miliciano.

Que devo fazer para pertencer à vossa Tabanca?

Abraço
Francisco Feijão

2. R
esposta dos nossos editores:


Olá,  Francisco: é muito simples, mandas duas fotos, uma do teu tempo de tropa ou de guerra, e outra atual, além de uma pequena apresentação da tua pessoa, com um breve CV militar...

Se tiveres fotos e histórias para partilhar, melhor ainda... Somos já 736 camaradas e amigos ("paisanos", menos de 10%, sobretudo filhos e outros familiares de camaradas falecidos, malta da Guiné, investigadores...), dos quais 52 infelizmente já morreram, desde 2004, ano em que nasceu a Tabanca Grande... Também estamos no Facebook: Tabanca Grande

Do teu tempo da BA12, devemos conhecer ou lembrar-te de camaradas como os pilav Miguel Pessoa e António Martins de Matos ou o alf mil PA Eduardo Ferreira Jorge... Vou-lhes dar conhecimento... (Mas temos mais malta da Força Aérea, malta do BCP 12 e enfermeiras paraquedistas.)

Somos um blogue de partilha de memórias (e de afetos). Como camaradas que somos, tratamo-nos por tu... E costumamos reunir-nos todos os anos em Monte Real, na primavera... Este ano será a 29 de abril... Sê bem vindo à Tabanca Grande..

Um alfabravo do
Luís Graça


3. Resposta do Francisco Feijão:

Do Miguel lembro-me bem pelas razões, sobejamente conhecidas, da sua história na Guiné. Ao Eduardo conheço ainda melhor porque era meu comandante de pelotão na 1.ª Companhia da PA.

Vou arranjar as fotos e enviá-las com o tal descritivo da minha passagem pelas Forças Armadas..

Abraço
Francisco Feijã


4. Comentário do Eduardo Jorge Ferreira [ex-alf mil, Polícia Aérea,  BA 12, Bissalanca, 1973/74, presidente da assembleia geral da Associação para a Memória da Batalha do Vimeiro]

Data: 21 de fevereiro de 2017 às 01:36

Assunto: Tabanca Grande

Boa noite aos dois - meu grande amigo Luís e meu antigo camarada e Comandante de Companhia (a 1ª) da PA da BA 12, Feijão de Oliveira.

Realmente, é bem verdade o que se afirma no blogue: "O mundo é pequeno e a ... nossa tabanca é grande"! Longe estava eu de dar de caras com o Feijão e ele aparece-me no meu mail graças ao Luís Graça.

Já desesperava de "encontrar" mais camaradas da BA12 do meu tempo pois além de alguns Especialistas (que também vou encontrando no respetivo blogue) só tenho mantido contacto (muito pouco, infelizmente) com o [Miguel] Pessoa, o Martins de Matos e a Giselda, frequentadores assíduos da Tabanca Grande e das suas atividades. Mas pilotos, eles, e a Giselda, enfermeira paraquedista muito pouco tempo lhes sobrava para conviver com os camaradas de outras especialidades.

Agora com o Feijão o caso é bem diferente pois partilhávamos os mesmos espaços e as mesmas preocupações no dia a dia, quase posso afirmar, na hora a hora. Nós, os 9 alferes milicianos da Esquadre de Defesa Terrestre da Base éramos bem unidos pese embora o facto de irmos em rendição individual (assim como todos os soldados, sargentos e demais oficiais) e termos frequentado incorporações diferentes. E daí regressarmos em datas diferentes sem contactos uns dos outros e por isso com muito poucas probabilidades de organizar encontros anuais como os camaradas dos outros ramos.

Foi com muita alegria que li o mail do Luís a dar as boas vindas ao novo - assim o espero - Grã-tabanqueiro Feijão de Oliveira! Também eu te dou as Boas vindas e espero com ansiedade o momento de nos reencontrarmos.

Por sinal visitei o Feijão, não sei se te recordas, uns breves anitos depois da vinda da Guiné, no seu/teu local de trabalho no Calhariz em Lisboa. E apenas reencontrei há meses, um camarada desse tempo, o Sérgio Vaz. Dos restantes nada mais sei.

Um grande abraço aos dois
Eduardo Jorge Ferreira
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