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sexta-feira, 16 de julho de 2021

Guiné 61/74 - P22374: Tabanca do Atira-te Ao Mar (8): "Círio" à Senhora dos Remédios, Cabo Carvoeiro, Peniche, 13/7/2021 - Parte II: uma capela, que merece uma visita, totalmente revestida por painéis cerâmicos, a azul e branco, do séc. XVIII, representando cenas da Virgem Maria



Foto nº 1 > Peniche >Largo dos Remédios > Capela de Senhora dos Remedios > Painel de azulejos no lado do Evangelho > Pormenor:   "Nascimento da Virgem"  



Foto nº  2 > Peniche >Largo dos Remédios > Capela de Senhora dos Remédios > Painel de azulejos no lado do Evangelho > Pormenor: "Apresentação da Virgem no Templo"



Foto nº 3 > Peniche >Largo dos Remédios > Capela de Senhora dos Remédios > 13 de julho de 2021 > Nave: painel de azulejos na parede fundeira (do lado do Evangelho) (i)



Foto nº 4 > Peniche >Largo dos Remédios > Capela de Senhora dos Remédios > 13 de julho de 2021 > Nave: painel de azulejos na parede fundeira (do lado do Evangelho) (ii)


Foto nº 5 >  Peniche >Largo dos Remédios > Capela de Senhora dos Remédios > 13 de julho de 2021 >  Painel de azulejos no lado da Epístola > Pormenor: "Adoração dos Pastores"


Foto nº  6 > Peniche > Largo dos Remédios > Capela de Senhora dos Remédios > 13 de julho de 2021 >  Painel de azulejos no lado da Epístola > Pormenor: "Adoração dos Pastores" e  cartela com a inscrição, em latim, "C(h)ristum Canamus Principem Natum Maria Virginae": Cantemos a Cristo, nosso príncipe, nascido da Virgem Maria


Foto nº  7 > Peniche >Largo dos Remédios > Capela de Senhora dos Remédios > Painel de azulejos no lado do Evangelho > Pormenor: "Apresentação do Menino no Templo"  ou será a  "Adoração dos Reis Magos" ? Ficamos na dúvida...
  > Na cartela pode ler-se: "Vocatum est nomem eius Iesus" ("Então era esse o nome de Jesus").



Foto nº 8 > Peniche >Largo dos Remédios > Santuário da Senhora dos Remédios > Fachada lateral direita (muro do adro), lado Norte, com o mar em frente. Está situada junto à costa o num nível mais baixo em relação aos edifícios que o circundam.



Foto nº 9 > Peniche >Largo dos Remédios > Santuário da Senhora dos Remédios > Entrada, virada para nascente.

Fotos (e legendas): © Luís Graça (2021). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1.  A capela da Senhora dos Remédios está classificada como imóvel de interesse público desde 1996. Confesso que já só tinha uma vaga ideia do seu interior, devo ter cá vindo  na segunda metade da década de 1970. E lembrava-me, não tanto dos fabulosos azulejos que revestem toda a nave da capela, como sobretudo da sala dos ex-votos, alguns deles ofertados por antigos combatentes da guerra do ultramar / guerra colonial, e que me causaram alguma impressão por serem moldes em cera de certas partes do corpo, com destaque para pernas e braços. Mas desta vez a sala de oferenas  e a tribuna não estavam acessíveis... (São revestidos, as paredes e o tecto, a azulejos polícromos seiscentistas, que não pude observar nem fotografar.)

Há sempre uma "lenda" por detrás destes locais de culto cristão, em geral mariano. No caso da Senhora dos Remédios, tudo remonta à ocupação da península ibérica pelos "inféis" (sic), vindos do Norte África, a partir de 711...

Segundo a lenda, os cristãos da região da Atouguia, atemorizados, teriam escondido uma imagem de Nossa Senhora, numa pequena gruta ou caverna junto ao mar, a norte do Cabo Carvoeiro, com as Berlengas ao fundo... "Milagrosamente", a imagem é encontrada no séc. XII, por um foragido...que calhou entrar na gruta... Nessa altura, Peniche era um ilha e a Atouguia da Baleia... um dos portos mais importantes do novo reino. (A "descoberta" da imagem da Virgem seria mais ou menos contemporânea da da Senhora da Nazaré, por volta de 1179, ou seja, 3 dezenas de anos depois da "reconquista" da região que é hoje o oeste estremenho. Diz a tradição a capela-mor terá sido construida na tal gruta onde terá "aparecido" a pequena imagem da Virgém com o Menino Jesus nos braços...e foi a partir deste local que se desenvolveu o santuário,)

O culto da Sra dos Remédios estará, pois, associado à "Reconquista Cristã"... Com o tempo tornou-se importante, à escala regional. E mantém-se até aos nossos dias, cm peregrinações anuais, os "círios", que vêm das redondezas (, desde Mafra à Nazaré, de Torres Vedras a Alcobaça, da Lourinhã a Óbidos), mas também até, imaginem!, da vizinha Espanha (Valladolid)...

 2. A capela, que chegou aos nossos dias,  é  de pequenas dimensões, e de estilo maneirista e barroco, e tem planta retangular, sendo  composta por: (i) capela-mor (onde se venera a imagem da Virgem com o Menino Jesus nos braços) e nave, abobadadas; (ii) com espaço de culto prolongado por um grande alpendre (que  estabelece a comunicação com a zona exterior e sala de oferendas );  e (iii) adro e pátio envolventes. (O extenso pátio ou terreiro fronteiriço é orlada das casas destinadas ao ermitão, aos mordomos e aos romeiros, incluindo as indispensáveis cocheiras ou  cavalariças; hoje é local de feira, em dias de romaria).

No adro, que é vedado, ergue-se, do lado poente, a fachada do santuário e a torre sineira,

A  criação do atual  santuário remonta ao séc. XVII (, embora a sua origem seja mais antiga). As paredes da nave são totalmente revestidas por azulejos azuis e brancos, setecentistas, que representam episódios da vida da Virgem, sobre um rodapé com cartelas de emblemas marianos. Esta exuberância de painéis cerâmicos significava que, na altura, o santuário era rico ou tinha benfeitores ricos.

Do lado do Evangelho, os painéis de azulejos representam cenas do Nascimento da Virgem (Foto nº 1), da Apresentação do Templo  (Foto nº 2) e o Casamento. 

Da parte da Epístola, a Anunciação foi interrompida pelo púlpito, sendo, por isso mesmo, posterior aos azulejos, e seguindo-se  a "Adoração dos Pastores"  (Foto nº 5). 
 
A cobertura da nave é também revestida a azulejos. A Assunção da Virgem é o tema principal,envolto pela figuração das virtudes. 

Lê-se no sítio Património Cultural:

(...) Assinados, na nave, por António de Oliveira Bernardes, estes azulejos constituem um importante testemunho da fortuna que este género de decoração alcançou no nosso país, e em particular em Peniche, onde pela mesma época (década de 1720), encontramos mais duas igrejas totalmente revestidas por painéis cerâmicos - Nossa Senhora da Ajuda e Nossa Senhor da Conceição. Uma diferença, no entanto, isola a ermida dos Remédios neste contexto, e que é a ausência de talha dourada, aqui substituída por talha a imitar mármore, no retábulo-mor, denotando um certo afastamento dos modelos nacionais e reflectindo um gosto mais erudito e "joanino". (Rosário Carvalho) (..:)

Horário de culto e visitas: todos os dias, exceto à sexta-feira, das 10h00 às 17h30. O santuário pertence à freguesia da Ajuda, Peniche. Pároco: padre Diogo Correia.

Fico com vontade de, um dia destes, visitar as duas referidas igrejas, Nossa Senhora da Ajuda e Nossa Senhor da Conceição. Confesso que sou fã da nossa azulejaria, uma arte única que nos veio dos árabes, e tem 500 anos de produção. "O azulejo português é uma das marcas que representa a cultura de Portugal", diz o National Geographic. E devemos ter orgulho nisso!

quinta-feira, 15 de julho de 2021

Guiné 61/74 - P22373: Tabanca do Atira-te Ao Mar (7): "Círio" à Senhora dos Remédios, Cabo Carvoeiro, Peniche, 13/7/2021 - Parte I: "Pagadores de promessas"

Foto nº 1 > Peniche > Santuário de Nossa Sra dos Remédios > Adro > 13 de julho de 2021 > O grupo de "romeiros" fotografaddos no adro, tendo ao fundo a achada principal da igreja: da esquerda para a direita (...e para "memória futura"), o Joaquim Pinto Carvalho (Porto das Barcas, Lourinhã) o António Pinto da Fonseca (Estrada, Peniche),o Joaquim Jorge (Ferrel, Peniche), a Esmeralda Silva Costa (irmã do Jaime) e o marido, Francisco Costa (Lourinhã), a Lurdinhas (a prima do Jaime e da Esmeralda) (Seixal, Lourinhã), a Alice Carneiro (Lourinhã), o Jaime Silva (Seixal, Lourinhã) e o José Carvalho (Roliça, Bombarral). O fotógrafo foi o nosso editor, Luís Graça.



Foto nº 2 > Peniche > Santuário de Nossa Sra dos Remédios > Adro > 13 de julho de 2021 > Os "quatro magníficos", os "romeiros" que vieram a pé desde a Praia da Areia Branca e chegaram à meta: da esquerda para a direita, Maria do Céu Pinteus, Joaquim Pinto Carvalho, Jaime Silva e Esmeralda Silva Costa.



Foto nº 3 > Peniche > Santuário de Nossa Sra dos Remédios > Adro > 13 de julho de 2021 > Painel de azulejos afixado na parede do lado sul, com listagem, por ordem alfabética, dos círios que aqui vêm (ou vinham) tradicionalmente.  O painel foi oferta da Misericórdia de Óbidos e remonta a 2008. Oito das povoações que realizam (ou realizavam) círios, num total de 33, são da Lourinhã (Atalaia, Areia Branca, Miragaia, Moledo, Reguengo Grande, Reguengo Pequeno, Toledo e Vimeiro)... Só um é da terra (Peniche), o que vem dar razão ao provérbio popular, "Santos da casa, não fazem milagres"...



Foto nº 4 > Peniche > Santuário de Nossa Sra dos Remédios > Terreiro >  13 de julho de 2021 >  Jaime Silva, um "pagador de promessas"...


Foto nº 5 > Peniche > Restaurante "Toca do Texugo" >  13 de julho de 2021 >   O José Carvalho, um "barão do K3", que veio expressamente do Bombarral, para se juntar, na parte final,  aos "caminheiros" da Tabanca do Atira-te ao Mar... Viu, a tempo, a notícia no nosso blogue (*)...  Aqui à conversa com o régulo Joaquim Pinto Carvalho, seu vizinho do Cadaval... Contemporâneos na Guiné , descobriram agora que andaram no mesmo colégio, pelo menos um ano...



Foto nº 6 > Peniche > Santuário de Nossa Sra dos Remédios > Terreiro >  13 de julho de 2021 > Sala de oferendas, onde se acendem velas à Virgem e se depositam ex-votos.


Fotos (e legendas): © Luís Graça (2021). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Os tabanqueiros da Tabanca do Atira-te ao Mar andam agora... "numa" de peregrinações, romarias, romagens, círios, caminhadas a pé até a um lugar de culto sacro-profano... desde que seja num raio de 20/30 km... 

Uns movidos pela fé, outros para pagar promessas antigas, outros ainda pela nostalgia da infância, e a maior parte... pela simples vontade de (con)viver!... Bolas, três anos de tropa e guerra e, agora, ano e meio de pandemia, não há cristão que aguente!... É caso para erguer as mãos aos céus e perguntar: "Que mal fiz eu a Deus ?!... Se foi o pecado original, bolas, já está mais que pago pago ao fim de tantas e tantas gerações!"...

Há dias foi o "círio" ao Senhor Jesus do Carvalhal (c. 26 km / cinco horas, da Lourinhã ao Carvalhal, no concelho vizinho de Bombarral). Anteontem, 13,  foi a "romaria" à Sra. dos Remédios, em Peniche, a caminho do Cabo Carvoeiro (c.18 km / 4 horas, pela orla costeira, partindo da Praia da Areia Branca, e seguindo por Paimogo, São Bernardino, Consolação. Peniche, Remédios).

A organização foi da parelha Joaquim Pinto de Carvalho / Jaime Silva, dois "antigos combatentes", o primeiro na Guiné (alf mil at inf, CCAÇ 3398, e CCAÇ 6, Bula e Bedanda, 1971/73) e o segundo em Angola (alf mil paraquedista, BCP 21, Angola, 1970/72), e ambos membros da nossa Tabanca Grande.

O Jaime contou-nos, em grupo, que foi pagar uma promessa, atrasada, de meio século. E ele não me levará a mal que eu partilhe aqui esse "pequeno segredo"...com a Tabanca Grande.

Quando ele regressou de Angola, "são e salvo", depois de uma dura comissão, sobretudo no Leste, que lhe deu direito a uma cruz de guerra, a mãe, naturalmente aliviada mas emocionada, confessou-lhe:
– Agora, meu filho, temos que ir a pé à Senhora dos Remédios, pagar a promessa...
– Ó senhora minha mãe, temos que ir ?!...Que história é essa ?... Eu não fiz nenhuma promessa!... E muito menos a de ir a pé à Senhora dos Remédios!
– Ó filho, fui eu que pensei por ti!...
– Então, vá a mãe, que eu estou cansado de andar a pé pelas chanas do leste de Angola...

Fez-se silêncio, criou-se um impasse... Mas a mana mais nova, a Esmeralda, que estava a assistir à conversa, veio salvar a honra da família:
– Ó mano, se não te importas, eu vou por ti!...

E foi, com a mãe, a pé, do Seixal da Lourinhã até aos Remédios, em Peniche,  pagar a promessa à santa, que era devida pelo facto de o Jaime ter regressado "são e salvo"... Enfim, uma "história bonita"...

Quase cinquenta anos depois, em homenagem ao gesto solidário da irmã mas também à grandeza de alma e coração da mãe (já falecida), o nosso camarada Jaime Silva planeou este "círio" (sem vela...). E liderou o grupo dos 4 magníficos que, partindo às 7h30  da Praia da Lourinhã, e seguindo pela costa, chegaram, frescos e felizes, à meta, por volta das 12h30, com uma "paragem técnica", pelo caminho... para "verter águas" e beber um café... (Fotos nº 1 e 2).


2. Os "círios" e os "pagadores de promessas"

Nos anos 60/70 do século passado, os nossos santuários (a começar, "naturalmente", pelo de Fátima) eram locais, muito concorridos, por peregrinos, muitos deles "pagadores de promessas", como os militares, regressados do Ultramar, e/ou suas famílias... (Isso está devidamente documentado nas reportagens da RTP antes e depois do 25 de Abril: Soldados em peregrinação a Fátima (11 de julho de 1965); Peregrinação a Fátima ( 13 de agosto de 1969); Silva Cunha recebe peregrinos da Guiné (22 de maio de 1972);  Assistência aos Peregrinos em Fátima (17 de novembro de 1975)...

"Manifestações de fé" do povo português, escreviam em títulos de caixa alta os jornais da época (, mais apolegéticos do que críticos, e sobretudo rigorosamente vigiados pelos "senhores coronéis da comissão de censura"), sobre as peregrinações a Fátima (Nossa Senhora do Rosário), que ocorriam ao dia 13 de cada mês, entre maio e outubro.

Fátima era então (e continua a ser) o mais "mediático" e "popular" santuário mariano do país. Mas havia (e há)  outros, inúmeros, alguns não  menos conhecidos do que Fátima, de Norte a Sul do país: São Bento da Porta Aberta (Terras de Bouro), Sameiro (Braga), Bom Jesus do Monte (Braga), Nossa Senhora dos Remédios (Lamego), Nossa Senhora da Abadia (Amares), Penha (Guimarães), etc.  todos no Norte, curiosamente...

Outros há, espalhados pelo país, que também eram (e continuam a ser) procurados pelos fiéis, embora a uma escala mais reduzida, local e regional... É o caso, por exemplo, do Senhor Jesus do Carvalhal (Bombarral) e da Senhora dos Remédios (Peniche) ou ainda o da Nossa Senhora da Misericórdia (Misericórdia, Moita dos Ferreiros, Lourinhã)...

O êxodo rural, a emigração (interna e externa), a guerra do ultramar / guerra colonial, a industrialização e urbanização do país, a par do aumento da escolaridade, tiveram reflexos na mudança de "usos e costumes", incluindo as normas e as práticas da religiosidade dos portugueses...

Com a emigração e a guerra do ultramar / guerra colonial, muitas terras ficaram  sem homens adultos... E a incerteza dos tempos terá ajudado a retomar e/ou a fomentar práticas mais tradicionais de religiosidadee como as "peregrinações" e o "pagamento de promessas"... Ia-se a Fátima ou à Senhora dos Remédios (tanto em Lamego como em Peniche) "pedir graças" e "pagar promessas", que a religi~so dos portugueses também era a do "deve e haver": dás-me isto (o "milagre" da cura ou do regresso de um filho da guerra, "são e salco") e eu pago-te (em orações, penitências, ex-votos, dinheiro, géneros...).

Numa época em que a mobilidade ainda era reduzida, e o poder de comnpra reduzido,  e ir a Fátima ficava longe e era caro, ia-se de preferência aos santuários da região, a pé, ou de carroça (só depois de motocultivador, tractor e carro...).

Em todo o lado, este culto é sacro-profano, realizando-se de preferência no verão, findo o essencial dos trabalhos agrícolas... Não é só uma "manifestação de fé", tem sempre uma componete lúdica e festiva. As romarias no Norte metem sempre muito fogo de artifício, música, comes & bebes...

Mas voltemos ao início da nossa conversa... ou ao ponto em que estávamos...

(Continua)
___________

Nota do editor:

terça-feira, 13 de julho de 2021

Guiné 61/74 - P22368: Tabanca do Atira-te ao Mar (6): Já os romeiros partem, às 7h30, da Praia da Areia Branca a caminho da Senhora dos Remédios, Cabo Carvoeiro, Peniche. Almoço (sardinhada), na "Toca do Texugo", por volta das 13h00 (aberto a quem quiser lá aparecer, não há inscrições nem reservas)...


Peniche > Santuário de Nossa Senhora dos Remédios > Fachada lateral direita (muro do adro). Cortesia de Património Cultural  (República Portuguesa, Direção Geral do Património Cultural)


1. A organização é da dupla Joaquim Pinto Carvalho - Jaime Silva, da Tabanca do Atira-te ao Mar (... e Não Tenhas Medo), tabanca da nossa Tabanca Grande, aquartelada no Porto das Barcas, Lourinhã,  que já está toda vacinada contra a maldita Covid-19, e que agora anda a celebrar a vida, a amizade e a camaradagem, sempre que pode ou sempre que haja um pretexto. Porque, amigos e camaradas da Guiné,  a morte é certa e a fé, e sobretudo as forças, vão vacilando...

Depois do Senhor Jesus do Carvalhal (Bombarra) (*), os romeiros vão hoje à Senhora dos Remédios, não em Lamego, mas aqui mais perto, Largo dos Remédios, Peniche, a caminho do Cabo Carvoeiro. 

São cerca de 18 quilómetros, ao longo da costa (via Praia de Paimogo, Praia das Pombas, Geraldes, Praia da Consolação, Peniche...). Nada que  qualquer bom cristão não faça, em cerca de 4 horas...

Haverá carros de apoio para o regresso (à Praia da Areia Branca). A ideia é ir almoçar ao restaurante "Toca do Texugo" (ali nas imediações), por volta das 13h00, e depois visitar à tarde a capela da Senhora dos Remédios (que está aberta das 10h00 às 17h30, todos os dias, exceto às sextas-feiras). 

É um programa aberto a todos os tabanqueiros da Tabanca Grande...No restaurante, há excelentes grelhados (a carvão)  de peixe fresco, a começar pela nossa bela sardinha do Mar do Cerro...

Às 7h30 partem hoje, da Praia da Areia Branca, os caminheiros. Um pequeno grupo. Outros, como eu, irão lá ter de carro, ( Local de encontri: o restaurante "Toca do Texugo", aberto, das 12h00 às 15h00). No meu caso, idepois da sessão de fisioterapia que acaba às 12h20. (LG)

2. Igreja de Nossa Senhora dos Remédios, também denominada «Ermida de Nossa Senhora dos Remédios» ou «Santuário da Senhora dos Remédios» > Nota Histórico-Artistica


(...) "Situada junto à costa, a ermida de Nossa Senhora dos Remédios é um santuário de romaria implantado num nível mais baixo em relação aos edifícios que o circundam, antecedido por um átrio e por um amplo adro murado.

Não se sabe, ao certo, em que época foi edificado, muito embora a estrutura actual deva remontar ao século XVII, com uma campanha decorativa da centúria seguinte. A tradição revela, no entanto, que a primitiva ermida corresponderia a uma capela talhada na rocha, e que hoje se encontra integrada na nave, do lado do Evangelho, sendo dedicada ao Senhor Morto (Calado, 1991, p. 272).

O muro que delimita o adro apresenta cunhais em cantaria e é aberto por um portal encimado por frontão de aletas, flanqueado por duas janelas. No mesmo eixo, mas na outra extremidade, um arco de volta perfeita, encimado por frontão semicircular, permite o acesso ao átrio que antecede a capela, num patamar inferior. A torre sineira, de planta hexagonal e cúpula bolbosa, encontra-se adossada num dos ângulos do adro.

Na capela, a nave única, coberta por abóbada de berço, articula-se com a capela-mor através de um arco de volta perfeita em cantaria. Do lado do Evangelho, a referida capela do Senhor Morto, talhada na rocha e abre-se para a nave por arco de pilastras com capitéis coríntios, em mármore.

As paredes da nave são totalmente revestidas por azulejos azuis e brancos, que representam episódios da vida da Virgem, sobre um rodapé com cartelas de emblemas marianos. Do lado do Evangelho encontramos o Nascimento da Virgem, Apresentação do Templo e o Casamento. Da parte da Epístola, a Anunciação foi interrompida pelo púlpito, que é, por isso mesmo, posterior aos azulejos, seguindo-se a e a Adoração dos pastores . Na abóbada, também azulejada, a Assunção da Virgem é o tema principal, envolto pela figuração das virtudes.

Na capela-mor, os azulejos de figura avulsa enquadram o Trânsito de Nossa Senhora. Assinados, na nave, por António de Oliveira Bernardes, estes azulejos constituem um importante testemunho da fortuna que este género de decoração alcançou no nosso país, e em particular em Peniche, onde pela mesma época (década de 1720), encontramos mais duas igrejas totalmente revestidas por painéis cerâmicos - Nossa Senhora da Ajuda e Nossa Senhor da Conceição. Uma diferença, no entanto, isola a ermida dos Remédios neste contexto, e que é a ausência de talha dourada, aqui substituída por talha a imitar mármore, no retábulo-mor, denotando um certo afastamento dos modelos nacionais e reflectindo um gosto mais erudito e "joanino". (Rosário Carvalho)

Fonte: Património Cultural (com a devida vénia).

Vd. também Ficha em www.monumentos.gov.pt)

3. Em páginas eternas (Os Pescadores, 1923), o grande (mas injustamente esquecido) Raul Brandão (Porto, 1867 - Lisboa, 1930), escreveu o seguinte sobre este lugar, em agosto de 1919 (quando visitou as Berlengas):

(...) A Senhora dos Remédios és escavada na rocha subterrânea, junto a fragas enormes que mal  se sustentam de pé e que os vagalhões assaltam formidavelmente. Que voz lá no fundo, e que esplendor de luz nesta mole negra e cenográfica que se esboroa na extremidade, tomando o aspecto estranho de torres medievais, que ficam a cinquenta metros de profundidade e que repercutem ecos, ameaças, uivos e lamentos de desespero, súplicas dramáticas! É o Castelo do Diabo!... E no fundo do horizonte sempre aquelas três nuvens pousadas sobre o mar, chamando por mim. Atraem-me e fascinam-me" (...) (pág. 108).

Fonte: A vida e o sonho : inéditos, antologia e guia de leitura / Raul Brandão ; org. de Vasco Rosa. - 1ª ed. - Silveira : E-Primatur, 2017. - 619, [2] p. ; 25 cm. - ISBN 978-989-99715-3-0

4.   Círios ao Santuário de Nossa Senhora dos Remédios

(...) Este Santuário de âmbito regional, próximo do Cabo Carvoeiro, recebe círios de vários concelhos vizinhos tais como Mafra, Torres Vedras, Lourinhã, Peniche, Bombarral, Óbidos, Caldas da Rainha e Nazaré, a par dos muitos peregrinos a título individual, contabilizando milhares de romeiros. O culto a Nossa Senhora dos Remédios verifica-se essencialmente de julho a novembro, mas tem especial incidência no mês de outubro (3º Domingo). Os círios ao Santuário terão a sua origem provavelmente do século XVII.

Embora com algumas alterações ao longo das décadas, são diversos os atos de culto praticados pelos romeiros dos quais destacamos, a par da cerimónia eucarística, da procissão em honra de Nossa Senhora dos Remédios e da oferta de círios, ou velas, para “pagar promessas”, as três voltas ao Santuário e as loas (hinos de louvor a Maria), cantadas pelos anjos (crianças) que acompanham os diversos círios.

Nos dias em que o Santuário recebe os romeiros, uma feira é montada, na qual, às tradicionais bancas de frutos secos, se juntam mais recentemente o vestuário e material variado. (,,,)

Fonte: Oeste, comunidade intermunicipal, com a devida vénia


5. A lenda da Sra. dos Remédios

(...) Conta esta lenda que, tendo os muçulmanos ocupado este território no séc. VIII, os cristãos aqui instalados receosos que a imagem da Virgem, muito venerada, fosse profanada pelos ditos infiéis, a procuraram esconder numa gruta junto ao actual Cabo Carvoeiro, tendo esta aí ficado guardada durante muitos anos.

Entretanto, durante o séc. XII, no reinado de D. Afonso Henriques, um criminoso, fugido à justiça, procurava refúgio nas cavidades rochosas da vertente ocidental da então ilha de Peniche, quando de forma providencial encontra numa pequena gruta a imagem da Virgem, que havia sido escondida quase quinhentos anos antes.

Maravilhado com a descoberta, não se atreveu porém de imediato a dela dar notícia aos habitantes locais, devido à sua situação de foragido.

Todavia não se conseguindo conter revela este segredo a um grupo de crianças, que brincavam junto aos rochedos vizinhos, e que surpreendidas correram para casa informando do magnífico achado. Em breve, toda a povoação se deslocou à dita gruta para admirar a imagem da Virgem.

Receando que naquele sítio a imagem estivesse sujeita a roubo ou profanação, trataram os habitantes de a levar para a então existente igreja de S. Vicente, em Peniche de Cima.

Porém, de todas as vezes que o tentaram a imagem misteriosamente desaparecia do seu altar, voltando a ser encontrada na mesma gruta onde havia sido descoberta.

Certos de que tal fenómeno correspondia à vontade da Santa, ergueram sobre a dita cavidade uma pequena capelinha, antecessora da actual Capela de Nossa Senhora dos Remédios, onde ainda hoje se conserva a sagrada imagem. (Texto adaptado de "Peniche na História e na Lenda", de Mariano Calado)

quinta-feira, 1 de julho de 2021

Guiné 61/74 - P22331: Tabanca do Atira-te ao Mar (5): O "círio" ao Santuário do Senhor Jesus do Carvalhal - Parte III: Os painéis de azulejos com os nomes dos círios


Foto nº 1 > Bombarral > Carvalhal > Recinto do Santuário do Senhor Jesus do Carvalhal > 29 de junho de 2021 > O 1º "círio" da Tabanca do Atira-te ao Mar (Porto das Barcas, Lourinhã) > Altar campal no sítio das antigas cocheiras > Painel com os nomes das terras da região (Bombarral, Cadaval, Lourinhã, Peniche e Torres Vedras) que, historicamente, realizam os círios ao Santuário



Foto nº 2 > Bombarral > Carvalhal > Recinto do Santuário do Senhor Jesus do Carvalhal > 29 de junho de 2021 > O 1º "círio" da Tabanca do Atira-te ao Mar (Porto das Barcas, Lourinhã) > Altar campal no sítio das antigas cocheiras >  Painel do Merendeito (Lourinhã), Carvalhal (Bombarral), Papagovas (Lourinhã)  e Seixal (Lourinhã)



Foto nº 3 > Bombarral > Carvalhal > Recinto do Santuário do Senhor Jesus do Carvalhal > 29 de junho de 2021 > O 1º "círio" da Tabanca do Atira-te ao Mar (Porto das Barcas, Lourinhã) >  Altar campal no sítio das antigas cocheiras > Painel  de Ribeira de Palheiros (Lourinhã), Maxial  (Torres Vedras), Ferrel (Peniche), Atouguia da Baleia (Peniche) e Bolhos (Peniche)



Foto nº 4 > Bombarral > Carvalhal > Recinto do Santuário do Senhor Jesus do Carvalhal > 29 de junho de 2021 > O 1º "círio" da Tabanca do Atira-te ao Mar (Porto das Barcas, Lourinhã) > 
 Altar campal no sítio das antigas cocheiras > Painel de Casais do Rijo e das Campaínhas (Lourinhã), Carrasqueira (Torres Vedras), Sobral do Parelhão (Bombarral) e Casalinho das Oliveiras (Lourinhã)
 


Foto nº 5 > Bombarral > Carvalhal > Recinto do Santuário do Senhor Jesus do Carvalhal > 29 de junho de 2021 > O 1º "círio" da Tabanca do Atira-te ao Mar (Porto das Barcas, Lourinhã) >  Altar campal no sítio das antigas cocheiras > Painel  da Marquiteira (Lourinhã), Adão Lobo (Cadaval), Campelos (Torres Vedras), Cabeça Gorda (Lourinhã e Torres Vedras)


 1. Azulejos, pintados à mão, do altar campal, construído no sítio das antigas cocheiras. Não sabemos a data nem conseguimos identificar o autor e a fábrica. Mas devem ser relativamente recentes. Talvez de finais do séc. XX. (Talvez sejam da Oficina Brito, Caldas da Rainha.)

Para além do eventual valor estético e documental, têm inegável interesse socioantropológico, para o estudo daquele santuário e da história dos seus círios. Não resisti a fotografá-los, por ocasião do 1º "círio" da Tabanca do Atira-te ao Mar (Porto das Barcas, Lourinhã).(*)

A Lourinhã, com 8 círios, é o concelho que mais vezes aflui a este Santuário ao longo do ano. Segue-se Torres Verdas (com 4), Peniche (com 3), Bombarral (com 2) e Cadaval (com 1). Mas parece que fica aqui o círio da Bufarda (Peniche), que se realiza a 29 de junho. (De qualquer modo, este ano não vimos lá ninguém, talvez devido à pandemia; e a verdade é que o da Bufrada não consta do registo da página oficial do Santuário.)

Para o ano, a Tabanca do Atira-te ao Mar vai oficializar a sua candidatura a Círio do Santuário do Senhor Jesus do Carvalhal. Os tabanqueiros gostaram e já apontaram a data nas agendas: 29 de junho de 2022... 

O próximo "círio" será ao Santuário de Nossa Senhora dos Remédios, Cabo Carvoeiro, Peniche. Em data a anunciar.... Aceitam-se inscrições. Almoço: Restaurante Toca do Texugo.

sábado, 13 de fevereiro de 2021

Guiné 61/74 - P21896: Os nossos seres, saberes e lazeres (437): Andar a um certo vapor na Linha do Oeste (6): A despedida de Óbidos, regresso a Lisboa (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 28 de Dezembro de 2020:

Queridos amigos,
Diz o anexim que o que é bom nem sempre dura, ensina a experiência que assim é, felizmente que regressámos desta viagem com vontade de a continuar, talvez noutra estação do ano, por aqui andámos com a prudência que exigia o tempo de pandemia, guardando imagens que vão do castelo às igrejas, das livrarias aos museus, cirandou-se pelos arredores, desde as Caldas da Rainha até Peniche, contemplou-se o mar, aqui por definição com densa neblina e de ondas bravias, a intimidar os banhistas. Assentou-se em grupo que há muita coisa que merece ser revista, talvez com outra luz, põe-se a hipótese de se regressar na primavera e por ali andar, entre o Santuário do Senhor Jesus da Pedra, um dos ícones barrocos de Óbidos, percorrer as muralhas, já que a cerca é tão bela e dá um pleno desfrute dos telhados do casario, visitar a pousada e as livrarias, está prometido e por isso se sugere a quem nos lê e que não conheça devidamente este sítio que o ponha na agenda, ele é merecedor da visita de todos nós.

Um abraço do
Mário


Andar a um certo vapor na Linha do Oeste (6):
A despedida de Óbidos, regresso a Lisboa


Mário Beja Santos

É nosso desejo aproveitar o princípio da tarde fazendo um périplo rápido por algumas das riquezas que mais nos impressionaram em igrejas, livrarias, museus, o castelo e a sua espantosa cerca. Fomos diretos ao Museu Municipal tentar ver com outros olhos a bela pintura de Josefa d’Óbidos, mas não só, o museu conserva no seu acervo outras preciosidades. Coisa curiosa, terá sido outrora este espaço Paço do Concelho como se lê no livro Linha do Oeste: “De pequena casa, onde apenas cabiam duas arcas, uma mesa e um banco, este local de audiências dos juízes medievais da vila e de reunião da vereação substituído nas assembleias magnas pelo próprio adro da igreja que lhe ficava em frente, veio a dar lugar no século XVI a um edifício de maiores dimensões e de maior dignidade arquitectónica localizado, ao que tudo indica, no espaço hoje preenchido pelo Museu de Óbidos”. São alguns dos vestígios artísticos do seu passado fluorescente que aqui se conservam. Falando da arte da pintura entre os séculos XVI e XVII, Vítor Serrão, o indiscutível especialista no Maneirismo, recorda que o conjunto de pintura dos séculos XVI e XVII se distribui por diversas igrejas, conventos, palácios, museus e demais coleções públicas e privadas da região estremenha definida pelos concelhos Caldas da Rainha, Óbidos, Alcobaça e Peniche, constitui sem dúvida (em termos plásticos, documentais, iconográficos e históricos, pela diversidade de testemunhos, estilos e épocas) um dos mais interessantes do nosso país. Não se pode cingir toda esta arte a Josefa d’Óbidos, há Diogo Teixeira, Belchior de Matos e mesmo Baltazar Gomes Figueira, não podendo ser esquecido André Reinoso. Vamos ver algumas dessas preciosidades.
Vale a pena dar de novo a palavra a Vítor Serrão: “A paleta de Josefa é sempre peculiar, saborosa, inventiva e acesa de sensibilidade: o seu cromatismo é cálido, sensual e luminoso, o claro-escuro é assaz correto na transposição de zonas de sombra e nas gradações de luz esbatida, e as ingenuidades de debuxo das figuras dilui-se no preciosismo da decoração garrida e barroca com que se envolve”. Reconheça-se como estas naturezas-mortas são primorosas, não são?
Já se disse que este museu foi anteriormente a residência do pintor Eduardo Malta, um retratista muito procurado no seu tempo. Aqui se mostra o retrato da sua mulher, guardo dele a recordação de um grande desenhador, como se sabe os artistas preferem o quadro a óleo por razões financeiras, muitos deles não escondem que a sua paixão passa pelo desenho. Malta aceitou encomendas oficiais, uma delas foi a Exposição Colonial do Porto de 1934. Aqui se mostram dois desenhos de traço inatacável, consegue deslumbrar-nos pela captação da pose, a dimensão do porte, tudo com pequenos recursos de um lápis que viaja a dar formas ou a sublinhar aqueles aspetos que ele considera que devem ser o foco da nossa atenção, ainda hoje contemplo com prazer desenhos como estes.
A mulher de Eduardo Malta
Régulo Mamadu Sissé, desenho de Eduardo Malta
Abdulai Sissé, filho do régulo, desenho de Eduardo Malta

Há no centro da vila o Museu Abílio de Mattos e Silva, dele já falámos, foi um cenógrafo muito procurado e pintor atraído pela escola modernista. Há obras suas no Museu Municipal de Óbidos, vila que ele tanto apreciava, fez uma doação dos seus trabalhos, merecem ser vistos.
Quadro de Abílio Mattos e Silva

Saímos do museu e vamos cirandar pelo castelo e cerca, é impressionante pelas suas linhas majestosas, lembremo-nos que por aqui andaram romanos e que o primeiro rei de Portugal apostou em Óbidos como lugar defensivo, exigências da Reconquista, a mourama costumava fazer razias, havia que lhes fazer frente, passou o perigo e ficou o testemunho eloquente desses tempos agitados, a vila está pejada de vestígios de tão importante passado, e não deixou de nos sensibilizar aquele símbolo gravado à porta de uma igreja que não soubemos interpretar mas não deve estar ali por acaso, Óbidos sofreu imenso com o terramoto de 1755, houve muitíssima reconstrução e aproveitou-se para novos embelezamentos, as fachadas das igrejas também foram revistas, de onde este símbolo deve ter importante significado, senão teria sido apagado nos trabalhos de restauro.
E pronto, disse-se adeus a Óbidos, há muito para recordar e todos apostam num regresso, quanto mais cedo melhor. Feita a despedida, pesarosa, segue-se para Peniche, vamos amesendar. Nada de perdas de tempo, todos clamam por uma boa pratada de peixe, aqui o mar é fértil em substância dessa natureza. E é a caminho de uma casa de pasto já conhecida que se olha para uma parede, digamos que na correnteza de um conjunto de prédios de arquitetura desenxabida se encontra este vestígio do passado, o posto de despacho da Alfândega de Lisboa, com as armas reais, é pena que num contexto de prédio expectante, oxalá na pior das hipóteses estas pedras de um tempo impressivo para Peniche vão parar a um museu. É coisa estranha, mas acontece com frequência, acabarmos uma viagem a deplorar o desprezo dos homens pelos importantes símbolos de um passado que nos marcam a um lugar. Terminou a viagem mas aqui se deixa um grito à navegação.
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Nota do editor

Último poste da série de 6 de fevereiro de 2021 > Guiné 61/74 - P21859: Os nossos seres, saberes e lazeres (436): Andar a um certo vapor na Linha do Oeste (5): A despedida de Óbidos, em breve regresso (Mário Beja Santos)

sábado, 16 de janeiro de 2021

Guiné 61/74 - P21773: Os nossos seres, saberes e lazeres (433): Andar a um certo vapor na Linha do Oeste (2): Conservas de peixe, um naufrágio com grande riqueza, uma fortaleza-prisão: Peniche (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 7 de Setembro de 2020:

Queridos amigos,
Desta feita, dei por bem registar dois períodos de férias aos ziguezagues, umas vezes estou na Serra da Estrela, outras em Óbidos ou Peniche, posso passar para o Vale Glaciar da Serra da Estrela e descer a Pedrógão Pequeno ou percorrer as Caldas da Rainha e entrar no Museu José Malhoa, não ofende ninguém, o que está em causa é o escrutínio de imagens apropriadas. Andava eu às voltas com memórias de Peniche e já tinha uma correnteza de outras imagens associadas a fábricas de burel, uma matéria-prima de que nos devemos orgulhar e que Manteigas capricha, preferi Peniche, só por razões sentimentais, memórias com 60 anos de padrinhos que foram tão influentes na minha vida, e até a recordação daquela conferência dentro da Fortaleza de Peniche em que veio à baila um dos mais importantes naufrágios de navio espanhol, se não se tivesse recuperado a carga teria sido um cataclismo económico para o nosso vizinho da Península, felizmente que quase tudo se recuperou, mas ainda ficou o suficiente para deslumbramento de quem anda na arqueologia subaquática.

Um abraço do
Mário


Andar a um certo vapor na Linha do Oeste (2):
Conservas de peixe, um naufrágio com grande riqueza, uma fortaleza-prisão: Peniche


Naquela semana de férias em Óbidos, lancei a proposta de passarmos um dia em Peniche, terra de memórias da juventude e mais recentes, não há muito tempo ali tinha arribado para voltar às Berlengas. O meu padrinho de batismo chamava-se Filipe da Nazaré Fernandes, era o filho mais velho de Agostinho Fernandes, um rico conserveiro, proprietário da Portugália Editora e seguramente o maior colecionador de Arte da primeira metade do século XX. Estando a passar férias em casa dos meus padrinhos na Foz do Arelho, não era incomum ele sugerir idas a Peniche, por assuntos da fábrica. No caminho, abastecia-se de vinho rosé, tanto quanto me recordo num fornecedor das Gaeiras. Enquanto ele tratava de assuntos da fábrica eu passeava pelo Bairro dos Pescadores e metia conversa com quem, na soleira da porta, fazia de bordadeira, os bordados de Peniche são requintadíssimos, felizmente hoje são credores de museu penicheiro. Outra recordação que guardo, muito mais recente, foi quando um amigo penicheiro me levou a uma conferência do arqueólogo Jean-Yves Blot na Fortaleza de Peniche sobre os achados arqueológicos então recentes do naufrágio do navio San Pedro de Alcantara, que saiu de Callao, Perú, em 1784, um navio de 64 canhões, que naufragou na Península da Papoa, Peniche em 2 de fevereiro de 1786, trazia um carregamento fundamental para a economia espanhola: 156 toneladas de metais preciosos com um valor de 7,6 milhões de pesos. Durante meses procedeu-se à recuperação desse tesouro, ficaram vestígios que Jean-Yves Blot e outros recuperaram graças à arqueologia subaquática. Perderam-se muitas vidas, 128, conseguiu sobreviver Fernando Tupac-Amaru, filho mais novo do chefe rebelde índio executado em Cuzco, em 1781. Uma belíssima comunicação, mostrando achados, pinturas, estudo de ossadas no cemitério onde foram sepultadas as vítimas.

Fábrica do Algarve Exportador em Peniche

Pintura alusiva ao naufrágio do navio San Pedro de Alcantara, perto de Peniche

Monumento evocativo às vítimas do naufrágio

Vista aérea da fortaleza que foi prisão do Estado Novo

Uma das singularidades destas habitações penicheiras assentes no alcantilado é a cor, o magnífico contraste entre as águas em cachão a ribombar sobre a rocha, a vegetação rala e o casario colorido


Fizemos as honras da casa, um bom passeio pedestre pela Peniche antiga, sem descurar a área portuária. Chegou a hora de amesendar, a neta reclamou arroz com marisco, a restante comitiva atirou-se a carapaus, sardinhas e chocos. Satisfeita a gula, marcha-se para esse maciço de pedra que o Conde da Atouguia implorou a D. João III, para intimidar a pirataria e o corso até então impune. Foi satisfeita a vontade, vê-se rapidamente que andou ali projeto importado, a localização é magnífica, respira-se poderio e segurança, é preciso entrar e ver que aquela fortaleza que servia de intimidação ao corso foi uma terrível prisão que funcionou até ao 25 de Abril. As panorâmicas são deslumbrantes, quando nos viramos para a massa líquida. Olhando lá de cima, vê-se então a prisão que começou a funcionar na Ditadura Militar, deu-se depois honra a oposicionistas de vários matizes, consagrando-lhe uma prisão que hoje é visitável. Ali viveram vários dirigentes comunistas, seus militantes, outros opositores ao regime. Houve fugas audaciosas, como aquela em que se escapuliu Álvaro Cunhal e mais outros. Passeia-se à volta deste maciço e então recorda-se a viagem de barco para as Berlengas que permite entender a extensão de toda esta nave de pedra, passear à volta de Peniche pode deslumbrar com todos estes pélagos, fragas alcantiladas, o permanente rumorejar das águas sobre os rochedos. Havia obras de conservação, certos espaços estavam interditos, deu para visitar o parlatório, ali os presos recebiam os familiares.
A neta de nove anos impacienta-se, quer ver praia, no mínimo molhar os pés no Baleal. E partimos, há o cheiro da maresia, muda-se de direção, a imponente fortaleza de Peniche fica para trás, há que voltar, e tentar descobrir por onde andam os achados arqueológicos de San Pedro de Alcantara, uns ficaram no Museu Nacional de Arqueologia mas eu quero mostrar à neta as piastras negras de Peniche, são as moedas de prata escapadas ao naufrágio que sofreram uma corrosão em presença da água do mar que dá a este betão um aspeto enegrecido. Está prometido, neta, voltamos, desde que depois vamos até ao banho de mar...

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Nota do editor

Último poste da série de 9 de janeiro de 2021 > Guiné 61/74 - P21750: Os nossos seres, saberes e lazeres (432): Andar a um certo vapor na Linha do Oeste (1): Hoje em Óbidos (Mário Beja Santos)

quarta-feira, 3 de junho de 2020

Guiné 61/74 - P21037: Manuscrito(s) (Luís Graça) (184): a magia do pôr do sol no Mar do Cerro, Porto das Barcas, Lourinhã, na casa "Atira-te ao Mar!", dos "Duques do Cadaval"










Lourinhã > Porto das Barcas > 2 de junho de 2020 > Casa do meu amigo, camarada e grã-tabanqueiro Joaquim António Pinto Carvalho, onde ele mais a sua Céu(zinha)  têm passado o "confinamento"... O casal, que habitualmente vive em Carnaxide, e tem um turismo no Cadaval, nunca passou tanto tempo nesta casa de férias como agora...

De vez em quando eu e a Alice damos lá um salto, para beber um copo ou ver o pôr do sol e dar dois dedos de conversa...Os "Duques do Cadaval" (, como eu lhes chamo com ternura,) são excelentes na arte de bem receber... Enfim, também gostamos de os receber na nossa casa e partilhar com eles os petiscos da "Chef" Alice Carneiro. E pertencemos os quatro à Tabanca do Porto Dinheiro / Lourinhã... que continua triste depois da morte do nosso querido régulo Eduardo Jorge Ferreira.

E hoje (, ontem, dia 2...) até fomos juntos comer um choco frito  e uns caracóis no "100 Pratus" (, passe a publicidade,) na Praia da Areia Branca... Andamos a praticar a ciência & a arte do desconfinamento progressivo... Foi quando soubémos que o Pinto Carvalho tinha feito anos, no passado sábado, dia 30... (Toma boa nota,  Carlos Vinhal, que para o ano ele gostava de ver o boneco dele no blogue...).

Ainda a tempo, vai aqui, sob a forma destas fotos tiradas na sua casa do "Atira-te ao Mar!", a nossa manifestação (tranquila) de regozijo... Que a sua "picada" da vida seja longa (pelo menos, até ao km 100), e sem minas nem armadilhas (, que é o mais difícil para os SEXAS... como nós; aliás, SEXA é a Céu; SEPTUAS, somos nós, o Joaquim, eu e a Alice).

Parabéns, Joaquim, chicorações, ainda meio confinados da malta da Tabanca Grande que te conhece e estima.


Lourinhã > Porto das Barcas > 3 de junho de 2020 > 16h00 > Casa dos "Duques do Cadaval"

Foi bonito ver e ouvir (os motores de) as traineiras de Peniche (ontem contei 10,  a pescar sardinha, no nosso mar do Cerro, (aqui em frnte da nossa costa...que é um grande viveiro de sardinha... não sei por que é, bairrismos à parte,   lhe chamam sardinha de Peniche)... Hoje voltei lá para o  café o digestivo, e "partir mantenhas" a outro camarada da Guiné, o João Rebelo (, é cliente da Tabanca da Linha mas ainda não se fez grã-tabanqueiro por falta de pachorra...). À tarde, frente ao "miradouro envidraçado" do "Atira-te ao Mar!", havia já meia dúzia de traneiras... Dizem que ainda é pequenina e magricela...Mss até aos Santos vai engordar... Mais improtante: os nossos pescadores aindam felizes por poderem voltar à sardinha, cuja pesca estava proibida desde outubro passado... Oxalá a Dona Covide os deixe trabalhar...

Fotos (e legendas): © Luís Graça (2020). Todos os direitos reservados [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

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Nota do editor:

Último poste da série > 28 de maio de 2020 > Guiné 61/74 - P21017: Manuscrito(s) (Luís Graça) (183): Paimogo, poema para dizer em voz alta à janela ou à varanda, uma boa terapia contra os "irãs maus" que infestam agora os poilões das nossas tabancas, em tempos de COVID-19