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domingo, 28 de maio de 2017

Guiné 61/74 - P17405: Falsificações da história (1): a fantasiosa versão do repórter de guerra e escritor sul-africano Al J. Venter sobre o ataque a Bambadinca em 28/5/1969


Guiné > Zona Leste > Setor L1 > Bambadinca > CCS/BCAÇ 2852 (1968/70) > O alf mil  trms Fernando Calado, de braço ao peito, junto à parede, crivada de estilhaços de granada de morteiro, das instalações do comando, messe e dormitórios de oficiais e sargentos, na sequência do ataque de 28 de maio de 1969.

Esta era a parte exterior dos quartos dos oficiais (vd. ponto 6 da foto aérea abaixo reproduzida),  que dava para as valas, o arame farpado e a bolanha, nas traseiras do edifício do comando... Era uma parte mais exposta, uma vez que o ataque partiu do lado da pista de aviação.

Pelo menos aqui, caíram duas morteiradas:

(i) Uma das morteiradas atingiu o quarto onde dormia, com outros camaradas,  o fur mil amanuense José Carlos Lopes. Tinha acabado de sair.. Ainda hoje conserva um lençol crivado de estilhaços... Está vivo por uma fração de segundos... (Bancário reformado do BNU, vive em Linda a Velha e é membro da nossa Tabanca Grande.);

(ii) Outra morteirada atingiu o quarto onde dormia o Fernando Calado e o Ismael Augusto.  O Fernando ainda apanhou o efeito de sopro, tendo sido menos lesto que o Ismael, a sair logo que rebentou a "trovoada"...

Também podia ter "lerpado", como a gente dizia na época... Apesar de tudo, a sorte (ou a má pontaria dos artilheiros da força atacante, estimada em 100 homens, o que equivalente a 3 bigrupos) protegeu os nossos camaradas da CCS/BCAÇ 2852 e subunidades adidas (, entre elas, o Pel Caç Nat 63 cujos soldados, guineenses, dormiam a essa hora, com as suas bajudas, nas duas tabancas de Bambadinca, e que portanto estavam fora do arame farpado)...

Na foto acima , o Fernando Calado, membro da nossa Tabanca Grande (tal como o Ismael Augusto), traz o braço ao peito, não por se ter ferido no ataque mas sim por o ter partido antes, num desafio de... futebol. Infelizmente  temos poucas fotos dos efeitos (de resto, pouco visíveis) deste ataque.

Foto: © Fernando Calado (2007). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Guiné > Zona leste > Setor L1 > Bambadinca > CCS/BCAÇ 2852 (1968/70) >  Invólucros de granadas de canhão s/r, deixadas na orla da mata contígua à pista de aviação, na noite do ataque a Bambadinca, 28 de maio de 1969... Ainda tenho bem presente, na minha memória, estes "objetos" de guerra, na nossa passagem por Bambadinca, a caminho de Contuboel, em 2 de junho de 1969...



Guiné > Zona leste > Setor L1 > Bambadinca > CCS/BCAÇ 2852 (1968/70) > Bidões de combustível atingidos pelo fogo do IN, no ataque da noite de 28 de maio de 1969. Recorde-se aqui o sistema de cores dos nossos bidões de combustíveis e lubrificantes: Vermelho (gasolina), verde claro (petróleo branco), azul (gasóleo), amarelo (óleos)...No caso dos combustíveis para aeronaves, os bidões também eram verde-claro, mas de tampa (topo do bidão) de cor branca.

Fotos: © José Carlos Lopes (2013). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Guiné > Zona Leste > Setor L1 > Bambadinca > CCS/BCAÇ 2852 (1968/70) > c. 1970 > Vista aérea do aquartelamento, tirada no sentido leste-oeste, ou seja, do lado da grande bolanha de Bambadinca

Do lado esquerdo da imagem, para oeste, era a pista de aviação (1) e o cruzamento das estradas para Nhabijões (a oeste), o Xime (a sudoeste) e Mansambo e Xitole (a sudeste). Vê-se ainda uma nesga do heliporto (2) e o campo de futebol (3). A CCAÇ 12 (julho de 1969/março de 1971) começou também a construir um campo de futebol de salão (4), com cimento "roubado" à engenharia nas colunas logísticas para o Xitole.

De acordo com a fotografia, em frente, pode ver-se o conjunto de edifícios em U: constituía o complexo do comando do batalhão (5) e as instalações de oficiais (6) e sargentos (7), para além da messe e bar dos oficiais (8) e dos sargentos (9). As messes de oficiais e sargentos, tinham uma cozinha comum (10).  Na noite de 28 de maio de 1969, uma granada de morteiro explodiu no ponto 7.

Do lado direito, ao fundo, a menos de um quilómetro corria o Rio Geba, o chamado Geba Estreito, entre o Xime e Bafatá. O aquartelamento de Bambadinca situava-se numa pequena elevação de terreno, sobranceira a uma extensa bolanha (a leste). São visíveis as valas de protecção (22), abertas ao longo do perímetro do aquartelamento que era todo, ele, cercado de arame farpado e de holofotes (24). A luz eléctrica era produzida por gerador... Junto ao arame farpado, ficavam vários abrigos (26), o espaldão de morteiro (23), o abrigo da metralhadora pesada Browning (25). Em 1969/71, na altura em que lá estivemos, ainda não havia artilharia (obuses 14).

A caserna das praças da CCS (11) ficava do lado oeste, junto ao campo de futebol (3). Julgava-se que o pessoal do pelotão de morteiros e/ou do pelotão Daimler ficava instalado no edifício (12), que ficava do outro lado da parada, em frente ao edifício em U. Mais à direita, situava-se a capela (13) e a secretaria da CCAÇ 12 (14). Creio que por detrás ficava o refeitório das praças. Em frente havia um complexo de edifícios de que é possível identificar o depósito de engenharia (15) e as oficinas auto (16); à esquerda da secretaria, eram as oficinas de rádio (17).

Do lado leste do aquartelamento, tínhamos o armazém de víveres (20), a parada e os memoriais (18), a escola primária antiga (19) e depósito da água (de que se vê apenas uma nesga). Ainda mais para esquerda, o edifício dos correios, a casa do administrador de posto, e outras instalações que chegaram a ser utilizadas por camaradas nossos que trouxeram as esposas para Bambadinca (foi o caso, por exemplo, do alf mil António Carlão, nosso camarada da CCAÇ 12).

Esta reconstituição foi feita por Humberto Reis, Gabriel Gonçalves e Luís Graça.

Foto do arquivo de Humberto Reis (ex-furriel miliciano de operações especiais, CCAÇ 12, Bambadinca, 1969/71)

Foto: © Humberto Reis (2006). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].


1. Já muito se escreveu aqui sobre o célebre ataque a Bambadinca em 28 de maio de 1969 (*), por coincidência uma data simbólica para o regime político então em vigor: em 28 de maio de 1926 deu-se um golpe de Estado que pôs fim à I República, instaurou a Ditadura Militar e institucionalizou o Estado Novo, derrubado 48 anos depois, em 25 de abril de 1974.

A data nunca foi esquecida por quem, como o Fernando Calado e o Ismael Augusto, estava em Bambadinca nessa noite e foi brutalmente acordado pelas explosões dos canhões sem recuo e dos morteiros 82, e pelas rajadas de armas automáticas... 

O simbolismo da data é reforçado pelo facto de tudo ter acontecido  pouco mais de dois meses depois da grande Op Lança Afiada, em que as NT varreram  toda a margem direita do Rio Corubal, desde a foz do mítico rio até à floresta do Fiofioli, considerado um bastião do PAIGC. Cerca de 4 mil almas deveriam viver, sob controlo do PAIGC, desde o início da guerra, nos subsetores do Xime e do Xitole. Cerca de 1300 homens, entre militares e carregadores civis. participaram nesta grande "operação de limpeza". de 10 dias, que não se voltaria a repetir, no setor L1.

Refeito dos desaires sofridos (nomedamente, a desarticulação e/ou destruição de boa parte dos seus meios logísticos, incluindo moranças e meios de subsistência da guerrilha e das populações sob o seu controlo: toneladas de arroz, dezenas e dezenas de cabeças de gado, centenas de galináceos e porcos...), o PAIGC decidiu atacar em força Bambadinca, porta de entrada da zona keste. 

Na história do BCAÇ 2852, o ataque (ou melhor, "flagelação") a Bambadinca é dado em três linhas, em estilo seco, telegráfico:

"Em 28 [de Maio de 1969], às 00H25, um Gr In de mais de 100 elementos flagelou com 3 Can s/r, Mort 82, LGFog, ML, MP e PM, durante cerca de 40 minutos, o aquartelamento de Bambadinca, causando 2 feridos ligeiros. " (...).


2. Sobre este ataque a Bambadinca lemos há dias o seguinte excerto da versão contada pelo escritor e jornalista sul-africano Al J. Venter que, em missão de reportagem à Guiné,  visitou o aquartelamento, um ano depois, já no tempo do BART 2917 (1970/72) e que falou, entre outros com o comandante de batalhão. O excerto é reproduzido pelo nosso crítico literário, Mário Beja Santos (**):


(...) “O último ataque [a Bambadinca] ocorrera exatamente um ano antes de eu chegar: um grupo infiltrado tinha-se dirigido para Norte do outro lado da fronteira  [com a República da Guiné-Conacri] a partir de Kandiafara [corredor de Guileje] para tentar cortar a estrada de Bafatá. 

"Num final da tarde, os guerrilheiros atacaram Bambadinca a partir do outro lado do rio [ Corubal ? ],  retirando-se depois para uma posição pré-determinada, onde esperaram pelo dia seguinte antes de se juntarem a outros dois grupos. Esta força combinada iria então atacar outras posições durante o assalto. Foi então que algo correu mal. 

"Um grupo de pisteiros da força atacante colidiu com uma patrulha de Bambadinca e foi capturada intacta, sem ter sido disparado um único tiro. Um dos homens era um alto oficial do PAIGC. 

"Os quatro homens foram levados de helicóptero para Bambadinca onde foi oferecida ao oficial a opção de contar tudo ou aceitar as consequências. Era uma situação sem saída, e o rebelde foi suficientemente inteligente para aceitar”. (...)

O referido ataque a Bambadinca foi a 28/5/1969 (ou "flagelação", segundo a história da unidade...), estava o Mário Beja Santos em Missirá, a comandar o Pel Caç Nat 52,  e eu a chegar a Bissau no "Niassa", ainda deu no dia 2 de junho, ao passar por lá, vindo de Bissau de LDG até ao Xime, a caminho de Contuboel, para ver os estragos (relativamente poucos... ) mas sobretudo sentir as reações e emoções da malta da CCS/BCAÇ 2852 e subunidades adidas...

Ora eu nunca ouvi esta versão Al J. Venter / Domingos Magalhães Filipe, ou a melhor, a versão contada pelo comandante do BART 2917 (que rendeu o BCAÇ 2852) e registada pelo escritor e jornalista sul-alfricana... Será que o inglês do Magalhães Filipe e o português do Venter eram assim tão maus ?

Parece que alguém está a delirar... ou trocou as cassetes... ou está deliberadamente a falsificar a história. Não fazemos "juízos de valor", interessa-nos apenas a verdade dos factos.

Recorde-se que o BART 2917 chegou a Bambadinca em finais de maio de 1970... O BART 2917 foi mobilizado pelo RAP 2. Embarcou para a Guiné em 17/5/1970 e regressou à Metrópole em 24/3/1972. Foi colocado no Sector L1, em Bambadinca, substituindo o BCAÇ 2852 (1968/70). O seu primeiro comandante foi o ten cor art Domingos Magalhães Filipe. Unidades de
quadrícula: CART 2714 (Mansambo); CART 2715 (Xime; teve 5 ncomandantes); e CART 2716 (Xitole).

O Venter deve, portanto, ter falado, talvez em junho ou mesmo princípios de junho de 1970, com o então ten cor art Domingos Magalhães Filipe, que irá ser substituído pelo famoso ten cor inf Polidoro Monteiro. O Spínola, recorde-se, pôs-lhe os "patins"...

Por que não me parecia que esta história tivesse pés e cabeça, confrontei alguns camaradas de Bambadinca desse tempo, e nomeadamente   o Fernando Calado e o Ismael Augusto, dois bem colocados oficiais milicianos da CCS/BCAÇ 2852, ambos membros da nossa Tabanca Grande.

Mais uma vez o Fernando Calado, que foi  alf mil trms (e, portanto, um oficial bem por dentro do sistema de informação e comunicação do setor L1) contou-me ao telefone a sua versão, que vem desmentir a versão do Al J. Venter / Domingos Magalhães Filipe,  e que ele prometeu passar a escrito, para "memória futura":

(i) o relato do escritor sul-africano Al J. Venter é uma falsificação da história;

(ii) ele e o Ismael já estavam deitados, o ataque terá sido perto da 1 hora da noite; e apanhou toda a cheia desprevenida;

(iii) a sorte de Bambadinca foi os canhões s/r (ele diz que eram seis, a história da unidade fala em três...) ao fazerem tiro direto, no fundo da pista, se terem enterrado ligeiramente (, estava-se já na época das chuvas), pelo que as canhoadas passaram a razar as instalações do quartel; mais certeiras foram algumas morteiradas que fizeram estragados (inckuindo nos quartos dos sargentos);

(iv) não houve prisioneiros nenhuns, nem muito menos foi apanhado à unha nenhuma figura grada do PAIGC; em suma, ninguém foi trazido de helicóptero para Bambadinca para ser interrogado;;

(v) o comandante do BCAÇ 2852, ten cor Manuel Maria Pimentel Basto (, de alcunha, o "Pimbas"),  não estava em Bambadinca nem ele nem a esposa; [o que é difícil de comfirmar a partir da história da unidade: a 14 de maio, o cor Hélio Felgas, cmdt do Comando de Agrupamento 2957 (Bafatá) tinha, juntamente com o ten cor Pimentel Basto, visitado Mansambo, Ponte dos Fulas, Xitole, Saltinho, Quirafo, Dulombi e Galomaro; e a 25, Bambadinca tinah sido visitada pelo Cmdt Militar e e pelo Cmdt Agr 2957; onde é que poderia estar o Pimentel Basto em 28 ? Em Bissau ?]

(vi) a única senhora que vivia no quartel era a esposa do tenente SGE Manuel Antunes Pinheiro, o chefe de secretaria do comando do BCAÇ 2852, e que era açoriano (se não erro);

(vii) o Fernando Calado conirma que houve algumas "cenas de histeria" a nível do comando de Bambadinca... (entre o major  inf Viriato Amílcar Pires da Silva, oficil de op inf, e o 2º cmdt, o maj inf Manuel Domingues Duarte Bispo).

Sabemos, pela história da unidade, que a 2 de junho de 1969, cinco depois do ataque a Bambadicna,os destacamentos de milícias e tabancas autodefesa de Amedalai,  Dembataco e Moricanhe foram flagelados, durante a noite, em simultâneo por 3 grupos não estimados, usando um arsenal impressionante: 7 canhões s/r, 8 mort 82, 13 LGFog, metralhadoras pesadas 12.7, além de armas automáticas, "causando 1 morto e 3 feridos milícias, 1 morto e 4 feridos civis, e danos materiais nas tabancas"... O mês de junho de 1969, já em plena época das chuvas,  foi, de resto, um mês de intensa atividade operacional do PAIGC no setor L1...

Para o comando e CCS do BCAÇ 2852, houve de imediato consequência deste ousado ataque do PAIGC:

(i) ainda em maio  o maj op info Herberto Alfredo do Amaral Sampaio vem substituir o maj Manuel Domingues Duarte Bispo, "transferido para o QG" (sic);

(ii) em julho o ten cor Pimentel Basto, "transferido por motivos disciplinares" (sic), é substituído pelo ten cor inf Jovelino Pamplona Corte Real;

(iii) em agosto, o cap inf Eugénio Batista Neves, cmdt da CCS, é também "transferido por motivos disciplinares", sendo substituído pelo cap art António Dias Lopes (que fica pouco tempo em Bamabadinca: logo em setembro é também substituido, pelos mesmos motivos, pelo cap inf Manuel Maria Fontes Figueiras);

(iv) nesse mesmo mês de setembro, chega a vez do maj inf Viriato Amílcar Pires da Silva: "transferido por motivos disciplinares", é substituído pelo maj art Ângelo Augusto Cunha Ribeiro, o nosso conhecido "major elétrico"...

Em suma, o comando do BCAÇ 2852 é completamente "decapitado" devido ao ataque a Bambadinca de 28/5/1969... que não conseguiu prever e para o qual também não se preparou convenientemente (em termos de defesa e de resposta)...



Lisboa > Casa do Alentejo > 26 de outubro de 2013 > Sessão de lançamento do livro do José Saúde, "Guiné-Bissau, as minhas memórias de Gabu, 1973/74" (Beja: CCA - Cooperativa Editorial Alentejana, 170 pp. + c. 50 fotos) > Aspeto parcial da assistência: em primeiro plano, o Fernando Calado  e o Ismael Augusto, dois oficiais milicianos da CCS/BCAÇ 2852 (1968/70) que estava em Bambadinca na noite do ataque do PAIGC, em 28/5/1969; o primeiro era o oficial de transmissões e o segundo o oficial de manutenção.

Foto (e legenda) : © Luís Graça (2013). Todos os direitos reservados



3. Seria interessante que os camaradas da CCS/BART 2917 se lembrassem da visita deste jornalista e escritor Al J. Venter, a Bambadinca, logo no início da comissão, portanto em finais de maio ou princípios de  junho de 1970.

Eu estava lá e não dei por nada, mas também não admira, já que a malta da CCAÇ 12 andava sempre por fora, no mato... Mas, de vez em quando, apareciam por Bambadincas jornalistas e personalidades estrangeiras que em geral "simpatizavam" com o regime de então... Eram visitas discretas, a maioria da malta não se apercebia... Vinham de heli ou DO 27 diretamente de Bissau, com carta branca do Spínola... Lembro-me de um grão-duque qualquer, com um título pomposo... mas também de dignitários religiosos muçulmanos... como o Cherno Rachid...


Em 28/5/1969, as forças que estavam em Bambadinca, sede do setor L1 eram as seguintes:

(i) o comando e a CCS/BCAÇ 2852;

(ii) o Pel Caç Nat 63;

(iii) o Pel Rec Daimler 2046;

e (iv) o Pel Mort 2106 (com secções destacadas em Xime, Mansambo, Xitole e Saltinho.

No total seriam apenas 200 homens em armas...Só a partir de 18 de julho de 1969, Bambadinca passa a ter a mais 160 homens, a CCAÇ 2590 (futura CCAÇ 12), constituída por 60 graduados e especialistas metropolitanos e 100 praça do recrutamento local...

Por sua vez, as subunidades de quadrícula, no setor L1, em 28/5/1969, eram as seguintes:

(i) CART 1746 no Xime;

(ii) CART 2339 em Mansambo (irá depois. no dia seguinte, destacar um pelotão para a defesa da ponte do Rio Udunduma, na estrada Xime-Bambadinca, ponte que fora dinamitada e parcialmente destruída);

(iii) CART 2413 no Xitole (com um pelotão destacado na Ponte dos Fulas´);

(iv) CART 2405 em Galomaro (com um pelotão destacado em Samba Cumbera e outro, depois, na ponte do Rio Udunduma, e outro ainda, mas reduzido, em Fá Mandinga):

(v) CCAÇ 2406 no Saltinho  (com um pelotão depois destacado para a ponte do Rio Udunduma);

(vi) Pel Caç Nat 52 em Missirá;

(vii) o 8º Pel Art / BAC  (-) em Mansambo;

(viii) e pelotões de milícias em Missirá e Cansamange (101), Finete (102), Quirafo (103), Taibatá e Amedalai (104),  Dembataco e Amedalai (105=) Dulombi (144), Moricanhe (145),  Madina Bonco (146), Madina Xaquili (147)...



Guiné > Zona leste > Setor L1 > Bambadinca > CCS/BCAÇ 2852 (1968/70) >  Ponte do Rio Udunduma, afluente do Rio Geba, na estrada Xime-Bambadinca > Possivelmente no(s) dia(s) seguinte(s) ao ataque ao quartel de Bambadinca, em 28 de maio de 1969. Nessa noite, esta ponte, vital para as comunicações com todo o leste da província (o eixo Xime-Bambadinca era a porta de entrada do leste), foi objeto do "trabalho" dos sapadores do PAIGC... Os estragos, embora visíveis, não abalaram felizmente a sua estrutura. Era uma bela ponte, em cimento armado, construída no início dos anos 50. Continuou a funcionar, sem quaisquer reparações por parte da engenharia militar... Passou a ser defendida permanentemente por um grupo de combate (que ia rodando pelas subunidades de quadrícula do batalhão e subunidades adidas), até à inauguração anos depois da nova estrada alcatroada Xime-Bambadinca.

Esta foto é "histórica". O José Carlos Lopes, furriel mil  amanuense do conselho administrativo da CCS/BCAÇ 2852, teve de "alinhar no mato", nesta dramática ocasião,  posando aqui para... a "posteridade".

Foto: © José Carlos Lopes (2013). Todos os direitos reservados. [Edição  e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

quarta-feira, 30 de março de 2016

Guiné 63/74 - P15915: Fotos à procura de... uma legenda (72): Três anos e meio separam estas duas fotos, tiradas no mesmo lugar, no destacamento da ponte do Rio Udunduma, estrada Xime-Bambadinca... Ou melhor, num sítio de nenhures... (Jorge Araújo, 1973 / Humberto Reis, 1970)



Foto nº 1 

Guiné > Zona leste > Setor L1 > Estrada Bambadinca-Xime > Ponte do Rio Udunduma > Destacamento da CART 3494, Xime e Mansambo, 1972/1974) > Julho de 1973 > O fur mil op esp Jorge Araújo à entrada do abrigo (?) (*)...

(...) "Imagem de um buraco aberto no chão, coberto de troncos de palmeira, terra e chapas de zinco a cobri-los, protegido no exterior com bidões de gasóleo cheios de terra, com uma pequena abertura, tendo no seu interior uma cama de ferro, especial do mobiliário militar, com colchão adequado …a um sono tranquilo [que enorme ironia] (...)


Foto (e legenda): © Jorge Araújo (2014). Todos os direitos reservados



Foto nº 2

Guiné > Zona leste > Setor L1 > Estrada Bambadinca-Xime > Ponte do Rio Udunduma > Destacamento da CCAÇ 12 > 2º Grupo de Combate > 1970 > O fu mil op esp Humberto Reis, à entrada do abrigo (?) (**)...


(...) "Com este destacamento passou-se um episódio que diz bem do carácter que presidia à união de todos os operacionais (operacionais eram aqueles que iam para o mato e as sentiram assobiar e não os que viviam no bem bom dentro dos arames farpados e que nunca sentiram o medo de levar um tiro).

"Um domingo à noite estávamos a jantar na messe [, em Bambadinca], nesse dia calhou-me estar dentro do arame, e de repente começámos a ouvir rebentamentos para os lados da ponte. Pensámos que era o destacamento que estava a embrulhar e automaticamente nos levantámos (eu e mais alguns até estávamos vestidos à civil), fomos a correr aos respectivos quartos buscar as armas e quando chegámos à parada já lá estavam alguns Unimog com os respectivos condutores à espera (ninguém lhes tinha dito nada mas a ideia foi a mesma - é a malta da ponte a embrulhar, temos de os ir socorrer ). Até um dos morteiros 81 levámos e aí vai o fur mil. do Pel Mort com uma esquadra, o Lopes que era natural de Angola (tão bem organizada que era a nossa administração militar, que o colocaram na Guiné!).

"Felizmente, quando chegámos à ponte, verificámos que não era aí, mas sim 2 km mais à frente, na tabanca de Amedalai, pelo que seguimos até lá. Escusado será dizer que quando o IN notou que chegaram reforços fechou a mala e foi embora" (...)

Foto (e legenda): © Humberto Reis (2006). Todos os direitos reservados




Guiné > Zona Leste > Setor L1 (Bambadinca) > Localização da Ponte sobre o Rio Udunduma (e não Undunduma...), afluente do Rio Geba (ou Xaianga), a meio caminho entre Bambadinca e Xime...

A ponte foi dinamitada e parcialmente destruída por acção do PAIGC, na noite de 28 parta 29 de Maio de 1969, por ocasião do ataque a Bambadinca (quatro/cinco km a nordeste), levado a cabo por 2 bigrupos (cerca de 100 homens)... A partir desse ataque, passou a ser destacado um grupo de combate para defender este ponto nevrálgico... Durante anos, até à construção da nova estrada (alcatroada) Xime-Bambadinca, milhares e milhares de homens e viaturas, desembarcados em LDG no Xime passaram por aqui a caminho do leste (e vice-versa)...

O nosso camarada Carlos Marques Santos (ex-fur mil, CART 2339, Fá e Mansambo, 1968/69) diz que foi o primeiro a avançar, para a Ponte do Rio Udunduma, logo no dia 29 de Maio de 1969, com o 3º Gr Comb da sua companhia, vindo em marcha forçada de Mansambo...

Infogravura: Pormenor da carta de Bambadinca (1955), escala 1/50000.



1.  Três anos e meio, pelo menos,  separam, estas duas fotos (***)... Era muito tempo, ou pelo menos o tempo suficiente para passarem três batalhões distintos por Bambadinca, sede do setor L1, desde que foi montado, em finais de maio de 1969, à pressa,  um destacamento na ponte do Rio Udunduma, afluente do Rio Geba, importante ponto estratégico na ligação do porto fluvial do Xime com Bambadinca e o resto da zona leste... 

Referimo-nos ao BCAÇ 2852 (1968/70), ao BART 2917 (1970/72) e o BART 3873 (1972/74).

Houve outros destacamentos não menos célebres no TO da Guiné, como o da ponte Caium ou ponte do Rio Caium, também no leste, na região de Gabu, subsetor de Piche... Ou de ponte Balana, na região de Tombali, perto de Gandembel.

Se calhar, já está tudo dito... sobre estes sítios de nenhures! Ou talvez não, há sempre um leitor, novo, que chega,,, e que tem alguma curiosidade pelos sítios do mundo a que nós podemos chamar "de nenhures"...

O destacamento do ponte do rio Udunduma nunca existiu ou nunca existiu para a história... COmo nunca existiu Caium ou Balana... Só existe emquanto formos vivos, e se mantiver no nosso imaginário o topónimo e o nosso blogue se mantiver ativo...  Era um sítio de nenhures, como a grande maioria dos bu...rakos onde nos meteram ou nós nos metemos.

Acham,  os nossos queridos leitores, que as duas fotos ainda merecem uma legendagem complementar ?

Já nos faltam as forças, a pachorra, o tempo, a imaginação, a curiosidade, a paixão...  Doze anos a blogar é muito tempo, confesso... E o tempo (e a saúde, o patação, a lucidez,,, ) é a coisa que sentimos que nos está a (ou vai) faltar...

De qualquer modo, amigos e camaradas da Guiné,  vai continuar a ser preciso alimentar o blogue, todos os dias... O blogue é um ser vivo, que precisa de comer e beber todos os dias. Obrigado àqueles que o alimentam... LG. (***)

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domingo, 21 de junho de 2015

Guiné 63/74 - P14777: Memória dos lugares (294): Ponte do Rio Udunduma, onde de três em três semanas lá estávamos "caídos" sem termos as mínimas condições (José Nascimento)

1. Mensagem do nosso camarada José Nascimento (ex-Fur Mil Art da CART 2520, Xime, Enxalé, Mansambo e Quinhamel, 1969/71) com data de 6 de Junho de 2015:

Caro amigo Carlos Vinhal
Foram várias as vezes que o meu pelotão teve que fazer segurança à ponte sobre o rio Udunduma, que fica já nas proximidades de Bambadinca, partindo do Xime e passando pela tabanca de Amedalai.

Esta segurança foi efectuada pela Cart 2520, de Julho a Dezembro de 1969. Como durante este período de tempo tínhamos menos um pelotão no Xime, de três em três semanas lá estávamos "caídos" sem termos as mínimas condições. Não dormíamos directamente no chão porque os nossos colchões de espuma resolviam este problema. A nossa alimentação era fornecida por Bambadinca, muitas vezes o pequeno almoço chegava a horas tardias, o almoço quase a meio da tarde e o jantar quantas e quantas vezes também chegou fora de horas.

Na higiene pessoal não houve problemas, porque foi assegurada pela água corrente do rio. O rio serviu para o pessoal se dedicar à pesca com anzóis que eram comprados numa loja de comerciantes libaneses em Bambadinca. Também dávamos uns mergulhos a partir da ponte e assim refrescávamos os nossos corpos e as nossas almas. Lembro-me que foi a mergulho que recuperei a prótese dentária que um dos meus militares deixou cair ao rio.

Felizmente não nos aconteceu nada de mal durante os períodos de tempo que aqui permanecemos, além de pequenos percalços que fomos ultrapassando, como foi o caso do Júlio Custódio ter um ataque de paludismo no princípio de noite e só poder ser evacuado na manhã do dia seguinte.

Recordo-me do dia em o Sebastião Carrega, abateu em pleno voo, com um tiro de G3, um daqueles enormes patos que normal e curiosamente voavam aos pares. Lembro-me também do João Moura ter abatido a tiro uma águia de uma enorme envergadura, que estava pousada numa árvore na envolvência do nosso pequeno destacamento.

Curiosamente e apesar das dificuldades, estas seguranças à ponte livraram-nos da intensa actividade que decorreu no Xime e até de alguns ataques e flagelações executadas pelos elementos do PAIGC.

Entretanto recebe um grande abraço deste camarada de armas.
José Nascimento

Ponte sobre o Rio Udunduma

Ponte sobre o Rio Udunduma. O Moura à esquerda ajudando a segurar a águia

 Ponte sobre o Rio Udunduma
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Nota do editor

Último poste da série de 14 de maio de 2015 > Guiné 63/74 - P14613: Memória dos lugares (291): Bissau, Bambadinca e Farim, em 2011 (José Maria Sousa Ferreira, ex-viola solo do conjunto musical "Os Bambas d'Incas", Bambadinca, 1968/70)

domingo, 23 de fevereiro de 2014

Guiné 63/74 - P12762: Manuscrito(s) (Luís Graça) (22): O espírito de corpo ou a navalha de ponta e mola da solidariedade entre combatentes: recordando 3 episódios do meu tempo e lugar




Guiné > Zona Leste > Setor L1 (Bambadinca) > Pessoal do 2º Grupo de Combate da CCAÇ 12 atravessando em coluna apeada a bolanha de Finete na margem direita do Rio Geba. A tabanca, em autodefesa, guarnecida pelo Pelotão de Milicia nº 102, é visível ao fundo. No primeiro plano, para além de municiador da Metralhadora Ligeira HK 21, Mamadú Uri Colubali (se não erro), vê-se o fur mil op esp Humberto Reis, nosso colaborador permanente,  e o saudoso 1º cabo José Marques Alves, de alcunha "Alfredo" (1947-2013)...(Natural de Campanhã, Porto, vivia em Fânzeres, Gondomar).

Foto do Arquivo pessoal de Humberto Reis (ex-furriel miliciano de operações especiais, CCAÇ 12, Bambadinca, 1969/71).

Foto: © Humberto Reis (2006) / Blogue Luíos Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.


1. Quantas vezes, à noite em Bambadinca, fumando um cigarro, depois do jantar, descontraídos, de copo de uísque na mão, gozando o merecido repouso dos guerreiros, nas traseiras do aquartelamento, no conforto relativo  do bar e messe de sargentos,  sobranceiro à bolanha, não assistimos ao "fogo de artifício", ao longe, ao mesmo tempo que tentávamos advinhar, em voz alta,  quase em disputa uns com os outros, quem eram os "desgraçados", tabanca em autodefesa, destacamento  ou aquartelamento, dentro ou fora do setor L1, que estavam a "embrulhar", a levar porrada, o tipo de granadas que explodiam, os quilómetros que distavam da nossa posição,  enfim, cronometrando o ataque ou a flagelação, estimando baixas...Por vezes, os gajos do PAIGC usavam inclusive balas tracejantes, tornando ainda mais real,  e ao mesmo tempo fantasmagórico,  o "espetáculo"...

E tudo isto, sem nada fazer ou sem nada poder fazer... Nessas noites tínhamos pelo menos a certeza de poder dormir numa cama com lençóis lavados, na nossa cama, com colchão de espuma... Era dia (ou noite) de folgar as costas, de poupar o coirão, e, se possível, sonhar com coisas boas...

2. Mas também é verdade que éramos capazes de pegar na trouxa e zarpar, em socorro de camaradas em perigo, de dia ou de noite. Ou de trazer às costas os nossos mortes e feridos, ou os mortos e feridos de outras companhias... De resto, o ser humano em grupo é capaz de fazer o melhor e o pior, as coisas mais sublimes como as mais perversas (como, por exemplo, acordar de noite e limpar a parada de Bambadinca de todos os cães vadios que nos perturbavam o sono...).

Podía contar aqui alguns episódios do tal "espírito de corpo": lembro-me, por exemplo, de um coluna de socorro a Nhabijões, justamente quando eu lá estava destacado, a comandar aquela tropa fandanga, e houve uma alerta de turras na tabanca (que estava em fase de reordenamento)... Sei que recebi, de imediato, o reconfortante apoio do piquete de Bambadinca, reforçado por mais alguns voluntários, entre os quais o Beja Santos... E nessa noite pude dormir mais descansado (mas já não me lembro se, mesmo assim,  o consegui...). O destacamento era constituído por "básicos" e "convalescentes"... E a enorme tabanca (c. de 1600 habitantes, maioritariamente balantas e alguns mandingas) era considerada, desde o início da guerra,  como estando "sob duplo controlo",,,

Nessa noite, alguns elementos IN (provavelmente pop e não propriamente guerrilheiros) tinham entrado na povoação, para se abastecer, como o faziam regularmente. Nhabijões era jum "entreposto" do PAIGC...A populaçaõ abastecia-se em Bambadinca (no Zé Maria,no Rendeiro...).

Nessa noite, em data que já posso precisar, os nossso "bufos" deram o alerta, mas a notícia de "turras na tabanca" era manifestamente exagerada...Se nessa noite vieram turras, armados, a acompanhar a população, eles ficaram só para jantar e deixaram as Kalash no bengaleiro... Aliás, não era do seu interesse alterar o "status quo"...De dia a tabanca era "nossa", de noite eles entravam e saíam com a maior das calmas (, pelo menos aparente...), cambando o rio Geba para o outro lado (, Enxalé e Cuor) ou metendo-se a pé a caminho do Baio Buruntoni, no subsetor do Xime

Repare-se que, de noite, e nestas circunstâncias, as nossas viaturas arriscavam a pisar uma mina... Como nos acontecerá uns meses depois, aos 20 meses de comissão, à entrada (ou à saída) de Nhabijões, em 13 de janeiro de 1971... Mas, quando se vai em missão de socorro, subestimamos os riscos e sobrevalorizamos as nossas forças, fazendo apelo ao tal espírito de corpo para o qual fomos treinados...


Guiné >  Região de Bafatá > Antiga Estrada Xime - Bambadinca > 1997 > A antiga Ponte do Rio Udunduma, vista da nova estrada Xime-Bambadinca. Neste destacamento estava permanente um Grupo de Combate da CCAÇ 12, que vivia em buracos como as toupeiras (rodava todas as semanas). Ou melhor dizendo: eram três apartamentos subterrâneos tipo T Zero" (HR)...

Foto (e legenda): © Humberto Reis (2005) (com a colaboração do Braima Samá, professor de Bambadinca)


3. Mas houve mais outros episódios em que a solidariedade entre combatentes funcionava como uma verdadeira navalha de ponte e mola...

Recorde-se aqui uma história, já contado pelo Humberto Reis, na I Série, há manga de tempo, e que tem a ver com o destacamento da ponte do Rio Udunduma:

"Com este destacamento [do ponte do Rio Udunduma] passou-se um episódio que diz bem do carácter que presidia à união de todos os operacionais [...].

"Um domingo à noite estávamos a jantar na messe [, em Bambadinca], nesse dia calhou-me estar dentro do arame, e de repente começámos a ouvir rebentamentos para os lados da ponte. Pensámos que era o destacamento que estava a embrulhar e automaticamente nos levantámos (eu e mais alguns até estávamos vestidos à civil), fomos a correr aos respectivos quartos buscar as armas e quando chegámos à parada já lá estavam alguns Unimog com os respectivos condutores à espera (ninguém lhes tinha dito nada mas a ideia foi a mesma - é a malta da ponte a embrulhar, temos de os ir socorrer).

"Até um dos morteiros 81 levámos e aí vai o Fur Mil Lopes, do Pelotão de Morteiros com uma esquadra - o Lopes, natural de Angola (tão bem organizada que era a nossa administração militar, que o colocaram na Guiné!).

"Felizmente, quando chegámos à ponte, verificámos que não era aí, mas sim dois Km mais à frente, na tabanca de Amedalai, pelo que seguimos até lá. [Amedalai ficava a caminho do Xime, antes da temível Ponta Coli]...

"Escusado será dizer que quando o IN notou que chegaram reforços desarmou a tenda, fez a mala e foi-se embora" [Relato de Humberto Reis]...


Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Estrada Finete-Missirá > 17 de outuibro de 1969 > O fur mil op esp Humberto Reis (à esquerda) e o alf mil at inf António Carlão (à direita), do 2º Gr Comb da CCAÇ 12, vistoriando, no dia seguinte,  os restos da viatura (Unimog 404) em que seguia o alf mil Beja Santos, comandante do Pel Caç Nat 52, quando accionou uma mina anticarro, no dia 16 de Outubro de 1969, por volta das 18h00, na zona de Canturé (entre Finete e Missirá: vd. carta de Bambadinca, de 1/50.000).

Foto: © Humberto Reis (2006)/Bogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados


4. Outro episódio de que me lembro bem,  foi  quando o Beja Santos e parte do seu Pel Caç Nat 52 caíram num mina A/C, seguida de emboscada, quando iam de  regresso a Missirá, já ao fim da tarde... Na história oficial ou oficiosa das crónicas da Guiné, o evento foi assim secamente relatado:

"Em 16 [de Outubro de 1969] , IN não estimado emboscou no lado direito da estrada Finete-Missirá, próximo de Canturé, uma coluna de reabastecimerntos do Pel Caç Nat 52, composto por 15 elementos, simultaneramente ao accionamento de mina A/C, causando 1 morto e 3 feridos graves às NT. O IN sofreu 1 morto quando provocava assalto." (Fonte:Históira da CCAÇ 12, Bambadinca, 1969/71).

Lembro-me bem deste fatídico acontecimento, que causou emoção em Bambadinca, até porque integrei a coluna de socorro que partiu daqui, atravessando o Rio Geba, de piroga,   e a bolanha de Finete, a pé. Tudo se passou quase à nossa frente. O local da emboscada estava inclusive ao alcance dos nossos morteiros. Na altura ainda não havia obuses em Bambadinca, mas apenas um esquadrão do Pel Mort 2106 (espalhado, de resto, pelos ouytros aquartelamentos do Setor L1: Xime, Mansambo, Xitole, Saltinho).

Mal ouvimos a explosão, foi de pronto organizada um coluna de socorro, composta pelo pelotão de piquete, o  2º Gr Comb do lf mil Carlão e dos furriéis mil Humberto Reis e Tony Levezinho,  reforçado com  Pel Rec Inf da CCS/BCAÇ 2852.

Era voz corrente que o Beja Santos, conhecido entre os seus camaradas milicianos como o "tigre de Missirá" (nome de guerra que lhe terá sido posto pelo "major elétrico", 2º comandante do BCAÇ 2852) tinha a cabeça a prémio no regulado do Cuor... Exagero ou não, o próprio Beja Santos reconhece publicamente este facto num dos muitos postes que ele já escreveu, com as suas memórias deste tempo e lugar:

"A 15 [, ou melhor, 16] de Outubro devíamos ter regressado mais cedo. O Comandante local do PAIGC, Corca Só [antigo futebolista dos balantas de Mansoa] já me tinha ameaçado de morte, tendo mesmo deixado um bilhete na estrada. Saímos tardíssimo de Finete, o sol a cair a pique, como acontece nos trópicos" (...).

De facto, não foi a 15, mas sim a 16. Felizmente que o Corca Só não levou para Madina/Belel o escalpe do Beja Santos. Pelo contrário, voltou para casa com um morto às costas. Nesse dia, ficámos quites, foi um jogo de empate, se é que podemos brincar com uma tragédia como esta, em que houve mortos e feridos de um lado e do outro...

O Beja Santos não foi apanhado à mão por um triz. E isso é o mais importante: ele hoje está vivo e entre nós, partilhando connosco as alegrias e as tristezas de um tempo e de um espaço que nos coube em sorte, nos nossos verdes (e loucos) vinte anos.

PS - O episódio da emboscada com mina, em Canturé, em 16/10/1969,  passou-se antes do episódio de Nhabijões...Que terá sido no 1º trimestre de 1970, estava já o Beja Santos em Bambadinca, com o seu Pel Caç Nat 52, a terminar a sua comissão, de rendição individual... Não posso, de momento, precisar a data e o mês. De qualquer modo, eu e o Beja Santos ficámos quites... Mas também na guerra o altruísmo é egoista: é um por todos e todos por um...

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Guiné 63/74 - P12734: O Destacamento da Ponte do Rio Udunduma - Contrastes do mesmo cenário [parte III] (Jorge Araújo)

1. Mensagem do nosso camarada Jorge Araújo (ex-Fur Mil Op Esp / Ranger, CART 3494, Xime e Mansambo, 1972/1974), com data de 9 de Fevereiro de 2014:

Caríssimos Camaradas Editores:
Luís Graça, Carlos Vinhal e Eduardo Magalhães. 
Os meus melhores cumprimentos.
O presente texto, ainda que continue a ter por panorâmica histórica o cenário do Destacamento da Ponte do Rio Udunduma, e o modus vivendi de quem por lá passou [1973], a sua introdução foge um pouco do que tem sido meu hábito em situações anteriores.
Este desvio, enquanto espaço de liberdade, foi influenciado por algumas reflexões surgidas recentemente neste espaço plural de partilha e, daí, deu este resultado.

Obrigado pela vossa compreensão!
Um abraço.
Jorge Araújo.
09Fev2014


O DESTACAMENTO DA PONTE DO RIO UDUNDUMA 
(XIME-BAMBADINCA)

- Contrastes do mesmo cenário [parte III] -

1. Introdução

De acordo com a intensão expressa nos textos anteriores [P12565 e P12586], volto hoje à vossa presença com o mesmo propósito de sempre: o de relatar, na primeira pessoa, os factos mais relevantes que marcaram a vida de um miliciano na sua passagem pelo CTIGuiné.

Assim, continuaremos a aprofundar o tema relacionado com o Destacamento da Ponte do Rio Udunduma, onde estivemos o segundo semestre do ano de 1973 [já fez quarenta anos!], decisão confortada com as palavras solidárias do camarada António Rosinha ao defender que “cada um deve ter a coragem de dizer aquilo que na realidade presenciou e aprendeu”.

Mas, antes do mais, é justo endereçar aos camaradas, grã-tabanqueiros desta Tabanca que não pára de crescer, os meus sinceros agradecimentos pelos diferentes contributos/comentários produzidos neste âmbito, adicionando-lhe mais valor reflexivo e histórico, por efeito de aí terem passado uma parcela do seu precioso tempo, ainda que em momentos diferentes, em obediência à missão militar que lhes foi confiada/imposta.

Estão nesse caso os camaradas: Carlos Marques Santos [CArt 2339], Luís Graça, António (Tony) Levezinho e Humberto Reis [CCaç 2590/CCaç 12], Jorge Cabral [PCN 63], Paulo Santiago [PCN 53], Beja Santos [PCN 52] e Joaquim Mexia Alves [CArt 3492 e PCN 52], com especial deferência para o Carlos Marques Santos, por ter sido o primeiro a assentar arraial naquele espaço, no longínquo dia 29Mai1969, com tendas de três panos da 2.ª Guerra Mundial, e daí considerar-se, simbólica e carinhosamente, como o DINOSSAURO… da Ponte.
Estou de acordo!

No alinhamento deste texto, entendi incluir e apreciar a pertinência da reflexão do nosso amigo e camarada Pereira da Costa [que foi, durante cinco meses, CMDT da CART 3494, tempo suficiente para ter estado envolvido, entre outros, no episódio estúpido do Rio Geba] ao colocar a problemática do conflito militar a partir de duas perguntas filosóficas; porquê e para quê?

Com efeito, estas são, pela intemporalidade da sua pertinência, duas das principais questões em que nos deveríamos deter ao longo das diferentes fases da nossa vida [unindo o presente ao passado e aprendendo com ele, encontrando novos rumos para a dignificação do Homem], sendo o como e o quando, outras tantas a considerar de igual modo, pois sabemos que tudo é efémero neste nosso cosmos: tem princípio, meio e fim.

Mas, de facto, não tenho uma resposta assertiva e convincente, por ausência de dados, quiçá mais importantes do que aqueles que possuo, na medida em que a nossa ignorância se evidencia e cresce com o saber, em resultado do número de questões ser sempre superior ao das respostas, e daí não haver explicações definitivas.

Retenho-me, por ora, num simples mas importante detalhe que influenciou o nosso comportamento naquele contexto. Quando, dando cumprimento ao programa de treino multidisciplinar de preparação para a guerra, me diziam: “Ranger-Araújo: tu-vais-ser-chefe!” [futuro], omitiam em que condições e com que recursos materiais e humanos tal ia acontecer, para logo a seguir afirmarem: “tu-és-carne-para-canhão!”, expressão [massificada] que viria a ser repetida manga de vezes ao longo da comissão, em particular quando o psicológico dava sinais de algum desânimo, deixando, assim, ao livre arbítrio a construção/reconstrução de um conceito ideológico temperado pela prática concreta do dia-a-dia.

Pelo exposto, e como ficou demonstrado ao longo do tempo, nunca me conseguiram explicar o porquê e para quê, uma vez que a explicação pressupõe antes uma compreensão, que é um processo incompleto e equivocado, e daí haver um deficit dessa compreensão em cadeia. Ou seja, primeiro será necessário compreender para, depois, tentar explicar, pelo que este é um processo que ainda não se encontra encerrado.

Num cosmos onde tudo muda: as pessoas, a sociedade e o mundo, e em que só a mudança é imutável; depois duma ordem, vem a desordem para dar lugar a uma nova ordem [sociologia da ordem e do progresso], por influência da tríade [tróica] TER-PODER-SABER – eis, então, a fórmula que nos comandou… e continua…!

Ainda assim avanço com um elemento mais desta fenomenologia, para prosseguir a reflexão.

Pode ler-se na brochura editada sobre a História do BART 3873 [de autor(es) desconhecido(s)] que “A sede do BArt 3873, decorridos já 5 meses, não teve qualquer ataque ou flagelação o que se percebe pelo cordão protector que a rodeia a dificultar, ou a impedir mesmo, a retirada da força atacante” [p.70].

Da interpretação deste parágrafo nasceu em nós uma outra dúvida: será que o efectivo reduzido a doze unidades, existente no Destacamento da Ponte do Rio Udunduma, no âmbito da missão de fazer segurança a duas Pontes, era também parte desse cordão?

Do ponto de vista do significado/significante, o conceito “Segurança” significa acto ou efeito de segurar; afastamento de todo o perigo; condição do que está seguro; garantia; confiança; tranquilidade de espírito por não haver perigo [Dicionário da Língua Portuguesa. Lisboa: Texto Editora. Abril/2004; p.1339].

Será que esta era a questão principal da nossa missão?

Importa salientar, todavia, que nenhum fenómeno sociocultural, no qual se inclui o socio-militar, é neutral, na justa medida em que não há nenhum sistema totalmente fechado em si, nem é plenamente autónomo. Isto significa que qualquer que seja o seu objecto [de estudo] este emerge de um processo construído pela filosofia da época, a partir do funcionamento sistémico entre todos os elementos que o constituem, como foi referido anteriormente.

Daí julgar que se devem aceitar estas pequenas histórias, com a sua independência e cronologia específica, mais que não seja para se identificarem os contrastes ocorridos nos mesmos cenários [diferenças/semelhanças], e ainda como legado particular de um tempo de vida, que foi o meu, em que, felizmente, saí vitorioso em todos os “contextos”, o mesmo não acontecendo com outros meus semelhantes que não tiveram, lamentavelmente, direito a “bilhete de volta” [expressão do camarada Tony Levezinho], aos quais presto, neste espaço, uma sentida homenagem.

Deste modo, o porquê e o para quê continuará a fazer todo o sentido se antes das decisões a tomar, eles contribuírem para esclarecer as consequências de cada uma delas, numa dupla dimensão: qualitativa e quantitativa. Como teriam feito todo o sentido se tivessem sido colocadas a Winston Churchill (1874-1965), enquanto primeiro-ministro britânico, após o discurso proferido no âmbito de uma Moção de Confiança ao seu governo, em 13Mai1940, a propósito da sua visão futurista no conflito militar emergente da 2.ª Guerra Mundial, quando afirmou: “não dou pré, nem quartéis, nem provisões. Dou fama, sede, marchas forçadas, batalhas e morte”, plagiando a ideia expressa anteriormente pelo general italiano Giuseppe Garibaldi (1807-1882).

Curiosamente, estávamos, então, na época da adolescência dos nossos pais e/ou nos primeiros anos de vida daqueles que foram os pioneiros da Guerra Ultramarina. Eis como os factos históricos continuam a ser cruéis para a humanidade.

Daquela expressão brutal, nasceu uma outra mais reduzida: “Sangue, suor e lágrimas”, e que, entre tantas apropriações, deu nome ao poema “Fado Sangue, suor e lágrimas” [P9122] do camarada Manuel V. Moreira, da CArt 1746, nosso antepassado nas lides da Ponta do Inglês e do Xime - 1967/69, e escrito, segundo creio, em 20Dez1968, no Xime.

Em suma, com o decorrer dos anos, o Poder [pois é ele que decide sobre estas e outras matérias] continua a ser cego, surdo [ou faz de conta!]… e é teimoso, até que o “cordão”… se parte e se desfaz.

Dito isto, avancemos para o ponto seguinte, apresentando mais algumas imagens referentes ao enquadramento geográfico onde nasceu o “Destacamento da Ponte…” e o modo de vida de um tempo organizado em interface com outros tempos, onde a natureza de cada tempo influenciava o outro que vinha a seguir.


2. O Contexto do Destacamento da Ponte do Rio Udunduma

Foto 27 – Estrada Xime-Bambadinca [Destacamento da Ponte do Rio Udunduma] – imagem aérea dos espaços circunvolventes às duas Pontes: a velha danificada em 28/29Mai1969, a cima, e a nova construída pela empresa TECNIL e inaugurada no início do ano de 1972, paralela, a baixo.

O rectângulo a vermelho corresponde à área onde foram construídas as primeiras instalações de apoio aos sucessivos contingentes militares para ali enviados, vulgo abrigos, concebidos a partir de buracos abertos no chão e alinhados entre si, virados para a mata/o mato.

É de referir, em nome da verdade, que o camarada Carlos Marques Santos e o efectivo do seu Gr Comb (o 3.º), da CArt 2339, sediada em Mansambo, e que liderou, foram os primeiros habitantes daquele território.

A imagem de fundo é de Humberto Reis [P12647], com a devida vénia.

Foto 28 – Estrada Xime-Bambadinca [Pontes do Rio Udunduma - 1973] – As duas pontes vistas de frente e o Rio Udunduma. Bambadinca fica para a esquerda e o Xime para a direita.

Foto 29 – Estrada Xime-Bambadinca [Destacamento da Ponte do Rio Udunduma - 1973] – Imagem longitudinal da estrada nova, à esquerda, e a velha, à direita. Ao fundo fica Bambadinca, a quatro quilómetros, e à esquerda a estrada termina no Cais do Xime, localizado a sete quilómetros, em cujo Aquartelamento, à data, esta instalada a CCAÇ 12.

Foto 30 – Estrada Xime-Bambadinca [Destacamento da Ponte do Rio Udunduma - 1973] – Imagem da estrutura da nova ponte.

Imagens [postal] dos contrastes no roteiro triangular: Bambadinca – Xime – Destacamento da Ponte do Rio Udunduma, entre 1972/1973. 

Bambadinca, sede de Batalhão, era o local identificado do “ar condicionado”, onde tudo estava muito limpinho e arranjadinho… O Xime foi o destino inicial da CART 3494, onde permanecemos treze meses: de finais de Janeiro/1972 a início de Março/1973 e onde vivemos muitas emoções… O Destacamento da Ponte foi um tempo e um espaço, e um modo de vida… pouco/nada digno, mas que acabou por ser superado com alguma criatividade.

Foto 31 – Estrada Xime-Bambadinca [Destacamento da Ponte do Rio Udunduma - 1973] – Imagem de um plano de água do Rio Udunduma, procurando-se identificar potenciais locais de “armadilhas” e outros de risco efectivo…

Foto 32 – Estrada Xime-Bambadinca [Destacamento da Ponte do Rio Udunduma - 1973] – População do Aldeamento A/D de Amedalai que ali se deslocava diariamente para lavar roupa e fazer a sua higiene pessoal. Ficava a 1 km [+/-], na direcção do Xime. Estávamos, com efeito, na Estação das Chuvas… o caudal do rio era, naturalmente, maior.

Foto 33 – Estrada Xime-Bambadinca [Destacamento da Ponte do Rio Udunduma - 1973] – O mesmo da legenda anterior, reforçada com a presença do camarada Joaquim Cerqueira, para compor o enquadramento.

O Cerqueira, como era conhecido, foi o militar da CArt 3494 que nas saídas para o mato, no Xime, era quase sempre o último a transpor o arame farpado e, naturalmente, o último a chegar ao Aquartelamento. Por isso, vastas foram as vezes que lhe dissemos para ter cuidado, pois um dia poderia ser apanhado à mão. Felizmente que não lhe aconteceu nada. Um abraço para ele.


3. O Tempo de novas Emoções versus Tensões

O dia 13 de Setembro de 1973, 5.ª feira, estava a ser semelhante à grande maioria dos já contabilizados, até então, no Destacamento da Ponte. Porém, deixou de o ser quando no exterior dos buracos, aos quais se chamavam “abrigos”, o pessoal se organizava para superar mais uma noite, depois de ter ingerido a terceira refeição da jornada: o jantar.

O sol já se tinha escondido no horizonte e a claridade do dia diminuía a cada minuto. O equipamento que nos auxiliava na visão de proximidade [petromax] estava a ser preparado. E eis senão quando a nossa atenção mudou de sentido por efeito de mais um “festival pirotécnico”, pleno de luz e som, que se apresentava à nossa frente. Rebentamentos e rajadas de kalashnikov, também conhecidas por “costureirinhas”, entravam pelos nossos ouvidos, provocando um natural aumento do ritmo cardíaco. Não vinham na nossa direcção [por enquanto!], mas não estavam muito longe. Quem estaria, naquele momento, a “embrulhar”? Era a pergunta mais banal naqueles momentos dramáticos.

Como o som dos rebentamentos tinham níveis diferentes, muito provavelmente estaríamos perante vários ataques em simultâneo na direcção do Xime. E nós…? O que fazer naquelas circunstâncias…? Iríamos, também, ser contemplados com uma visita relâmpago…? Estas e outras interrogações nos surgiram no pensamento… E agora o que devo fazer… na qualidade de líder [chefe] do Grupo… com apenas doze elementos.

Lidar com ele, entre emoções e tensões, aliás como acontece com todos os Humanos que estão em situações complexas, como foi o nosso caso no CTIG… e como serão certamente em todas as guerras, independentemente dos lugares.

Sei/sabemos hoje, no quadro teórico das neurociências, por exemplo, que o conceito emoção traz à mente uma taxonomia de seis emoções ditas primárias ou universais; alegria, tristeza, medo, cólera, surpresa ou aversão. O rótulo emoção também tem sido aplicado por impulsos e motivações e a estados de dor e prazer.

Como já tinha estado em situações francamente mais difíceis, como já dei conta nas narrativas sobre as duas emboscadas na “Ponta Coli” [P9698; P9802 e P12232] e a do “Naufrágio no Rio Geba”, em 10Ago1972 [P10246], ou ainda nas várias flagelações sofridas pelo colectivo da CART 3494, no Aquartelamento do Xime, durante os treze meses que aí permanecemos, procurei/procurámos, em função do quadro que estávamos a observar, manter o melhor autocontrolo possível.

Para saber algo mais concreto, recorremos ao único instrumento de comunicação aí existente – um rádio emissor/receptor AVP1 – mas sem sucesso. Ruídos e interferências… e mais ruídos… e mais interferências… até que desistimos. E os rebentamentos continuavam ali tão perto ajudando a iluminar a noite… que já o era.

Largos minutos depois surgiram, ao longe, as primeiras viaturas militares vindas do lado de Bambadinca, o que nos permitiu entender o contexto com mais tranquilidade. Mas, como elas não pararam na Ponte… que “cena” estaria a acontecer, na medida em que a duração do[s] ataque[s] levava já um tempo francamente excessivo em relação a situações anteriores?

Por exclusão de partes, chegámos a conclusão de que o ataque mais próximo de nós seria no Aldeamento em Auto-Defesa [A/D] de Amedalai, situado a escassos mil metros [+/-]. O outro, muito provavelmente, seria no Aquartelamento do Xime, onde estava agora a CCAÇ 12. E bateu certo!

Essa noite foi, como seria de esperar, passada ao relento e mais uma em “branco” num cenário de Lua Nova; escura como breu. Porque não abandonámos o nosso contexto, os relatos acima correspondem, tão só e apenas, ao que sentimos e vivemos naquela noite. Porém, para completar esta ocorrência histórica, recorremos ao que se encontra expresso na publicação sobre a História do BART 3873. Eis a sua transcrição na íntegra:

“Em 131835SET73 [a hora não corresponde aos meus registos; seria mais tarde!], o Xime e Amedalai são flagelados simultaneamente durante 15 e 45 minutos respectivamente, por numeroso grupo IN. Sobre o 1.º, o inimigo utilizou R.P.G, Morteiro 82 e Canhão s/Recuo. Sobre o 2.º, R.P.G. e armas automáticas. 1 GrComb da CCS/BART 3873 e 2 viaturas do Pel. Rec. Daimler 8681, acorreram em socorro da A/D de Amedalai, sofrendo uma emboscada na Estrada Xime/Bambadinca. NT e Pel Mil. 241 (Amedalai) sem consequências, bem como os civis. Houve apenas a registar o incêndio de 2 moranças daquela A/D.

O inimigo deu mostras de maior agressividade nas referidas flagelações, ao prolongar a sua acção contra a A/D por três quartos de hora, sabendo que o acesso das NT a Amedalai seria facilitado pela estrada asfaltada e proximidade de Bambadinca e Destacamento da Ponte do Rio Udunduma. As forças IN, provenientes do Poindon/Ponta do Inglês, vinham reforçadas pelo grupo de Artilharia do Quinara” [pp 119/120].

Termino esta terceira narrativa sobre o “Destacamento da Ponte…” dando conta de um facto omisso na História da Unidade relacionado com a imagem abaixo.

Foto 34 – Estrada Xime-Bambadinca [Aldeamento A/D de Amedalai a 1 km do Destacamento da Ponte do Rio Udunduma] – Estado em que ficou uma Daimler na sequência do ataque.

Porque pertenço à última geração de ex-combatentes que viveu, conviveu e sobreviveu no contexto do Destacamento da Ponte do Rio Udunduma, tenciono voltar a este tema, numa próxima oportunidade, dando continuidade ao seu aprofundamento histórico, divulgando outras peripécias enquadradas por novas imagens.

Estes meus relatos históricos poderão ser, de facto, os últimos, na medida em que, se a memória não me atraiçoa, o contingente da CART 3494 ali destacado, foi substituído, em Fevereiro/74, por um PCN, como, aliás, acontecera em situações anteriores.

Não é crível, por isso, saber-se o que, entretanto, aí aconteceu até ao 25 de Abril.

Obrigado pela atenção!
Um forte abraço para todos.
Jorge Araújo.
09.Fev/2014.
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Nota do editor

Vd. Postes anteriores da série de:

10 DE JANEIRO DE 2014 > Guiné 63/74 - P12565: O Destacamento da Ponte do Rio Udunduma - As acções especiais durante o segundo semestre de 1973 (parte I) (Jorge Araújo)
e
15 DE JANEIRO DE 2014 > Guiné 63/74 - P12586: O Destacamento da Ponte do Rio Udunduma - As acções especiais durante o segundo semestre de 1973 (parte II) (Jorge Araújo)

terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Guiné 63/74 - P12647: (Ex)citações (229): O 'pesadelo', à noite, do destacamento da ponte do Rio Udunduma (Tony Levezinho, ex-fur mil, CCAÇ 12, Bambadinca, 1969/71)



Guiné > Zona Leste > Setor L1 (Bambadinca) > CCAÇ 12 (1969/71) > Destacamento da ponte do Rio Udunduma > Um bu...rako de muitas estrelas... Na foto, o Humberto Reis,  fur mil op esp,  a comandar o 2º Gr Comb da CCAÇ 12, na ausência do alf mil at inf António Manuel Carlão, destacado para o reordenamento de Nhabijões, "ali ai lado", do outro ladod a bolanha...

Do lado direito, os três cabos, metropolitanos, do 2º Gr Comb:  de cócoras, o saudoso José Marques Alves (1947-2013) [2ª secção, a do Humberto Reis]; de pé, em primeiro plano e de perfil, o  Arménio Monteiro da Fonseca [1ª secção; vive no Porto, onde é ou era taxista]; em segundo plano, ao lado do Humberto, o Manuel Alberto Faria Branco [3ª secção, a do Tony Levezinho]. Este grupo de combate só tinah 2 furriéis. E depressa ficou sem o alferes...

Foto: © Humberto Reis (2006) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados [Edição: L.G.]

1. Mensagem de António Levezinho, 23/1/2014, 22:38:

Velho Amigo:

Obrigado pelos "lembretes" (*)

Tenho daquele local a memória de que, apesar de calmo durante o dia, as precárias instalações, como tu bem as descreves, tornavam as noites de quem lá ficava em missão, longas e convidativas ao pesadelo
sistemático.

Porquê? Pois, se bem te recordas, tais abrigos estavam implantados praticamente ao nível do solo, como, aliás, tinha que ser, mas num terreno em declive, descendo no sentido Xime-Bambadinca. Em tais circunstâncias, torna-se óbvio que aquelas instalações seriam alvo fácil de serem tomadas de assalto.

Recordo que, entre nós, comentávamos: "Se os turras quiserem um dia atacar a guarda da ponte terão apenas que fazer rolar algumas granadas pela ribanceira abaixo".

Enfim, é também por questões de mero detalhe, como este caso sugere que, ainda hoje, muitos de nós se interrogam se todos esses setecentos e tal dias ali vividos [, na Guiné,], não terão passado de uma "brincadeira de mau gosto", de participação obrigatória e que, para muitos, acabou mal. (**)

Um abraço,

Tony Levezinho 

(**) Último poste da série > 15 de outubro de 2013 > Guiné 63/74 - P12152: (Ex)citações (228): Confirmo que o Mário Mendes, chefe de bigrupo do PAIGG; no subsetor do Xime, foi morto pela CCAÇ 12, em maio de 1972 (António Duarte, ex-fur mil, CART 3493 e CCAÇ 12, 1971/74)

quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Guiné 63/74 - P12626: Memória dos lugares (262): Ponte do Rio Udunduma: os 'dias felizes' do Humberto Reis e do Tony Levezinho, 2º Gr Comb, CCAÇ 12 (1969/71) (Texto de L.G. / Fotos de H.R.)



Guiné > Zona leste > Setor L1 > Estrada Bambadinca- Xime > Ponte Rio Udunduma > 1970 >

A estrada Xime (à direita) - Bambadinca (à esquerda), com a respectiva ponte. Vísivel também o troço da nova estrada que estava em construção, a cargo da empresa Tecnil, e que implicou a construção de uma nova ponte. Na empresa Tecnil, irá trabalhar mais tarde, como "cooperante, o nosso amigo e camarada António Rosinha, entre 1979 e 1993. Esta estrada ficará alcatroada e pronta em princípios de 1972, se não erro (LG).

Foto: © Humberto Reis (2006). Todos os direitos reservados



Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Estrada Xime - Bambadinca > 1997 : Ponte (velha) do Rio Udunduma. Em 1969/71, no tempo da CCAÇ 12, a segurança desta ponte, construída em 1952, era de importância estratégica para toda a região leste. Ficava a 4 km de Bambadinca e a 7 do Xime. No ataque em força, a Bambadinca, em na noite de 28 para 29 de Maio de 1969, os guerrilheiros do PAIGC tentara dinamitá-la. Embora parcialmente destruída (era de bom cimento armado e resistiu...), continuou operacional. Já sabemos que a partir daí passou a ser defendida permanentemente por uma força a nível de pelotão, a cargo das unidades do BCAÇ 2852. A primeira subunidade a ir para lá, a nível de Gr Comb, foi a CART 2339 (Mansambo, 1968/69) (*).

A partir de 16 de Dezembro de 1969 a segurança permanente passou a ser feita pelos Gr Comb da CCAÇ 12 e pelo Pel Caç Nat  53 (Bambadinca). Havia apenas abrigos individuais, extremamente precários: bidões de areia com cobertura de chapa de zinco, e valas comunicando entre os abrigos individuais.

Foto: © Humberto Reis (2005) (com a colaboração do Braima Samá, professor em Bambadinca). Todos os direitos reservados.




Guiné > Zona leste > Setor L1 > Estrada Bambadinca-Xime > Ponte do Rio Udunduma > Destacamento da CCAÇ 12 >  2º Grupo de Combate > 1970 >

O Humberto, à ré, mais soldado de transmissões,  à proa, treinando as suas perícias na difícil modalidade da canoagem local...  "Era o António Dias Santos, de alcunha, não sei porquê, O Bacalhau.  Quando estava em Bambadinca normalmente andava pela tabanca ao cheiro das bajudas e quase sempre com uma varinha na mão a imitar um pingalim.   Há uns [ largos] anos, quando organizei um dos primeiros almoços da rapaziada, procurei na lista telefónica o nome dele na zona da Régua, pois sabia que ele tinha sido funcionário da CP e que morava ali. Descobri-o, mas quando falei com a senhora é que fiquei a saber que ela já era viúva do Bacalhau" (HR)

Foto: © Humberto Reis (2006). Todos os direitos reservados


1. Comentava há uns largos (**), ainda na I Série (abril de 2004/maio de 2006) o Jorge Cabral, com uma ponta de fina ironia, que nós éramos demasiado sérios e que escrevíamos de maneira sofrida,  como se a guerra (da Guine) ainda não tivesse acabado para nós. Os nossos relatos eram  dramáticos. As nossas memórias estavan carregadas da tensão dos dias, do cansaço dos meses e do silêncio dos anos.

Se calhar o Jorge até tinha  razão. Pelo menos, alguma razão. Os nossos sentimentos eram em 2006 (e continuam a ser)  contraditórios. Alguns de nós conseguem ter (ou mostrar) uma visão mais diurna e positiva da Guiné do tempo da guerra. São capazes de se encantar com as imagens e as recordações da Guiné. Alguns conseguiram até lá voltar e fazer as pazes com os jagudis ou os sinistros fantasmas que os perseguiam.

Uma parte de nós (não há estatíticas...) voltaram lá. Outros ainda querem lá voltar, antes de morrer (nem que seja de canadianas!...)  ou andam a arranjar coragem para fazer a viagem de retorno, divididos entre uma certa imagem mítica do passado e o medo (traumático) do desencanto e do pesadelo dos dias de hoje.

Enfim, outros continuarão a ter uma visão mais noturna e negativa dos acontecimentos que os marcaram: as emboscadas, as minas, os ataques,  as flagelações, a morte, a dor, o sofrimento, a solidão, a angústia, os mosquitos, a fome, a sede, o absurdo da guerra que fomos obrigados a fazer...

Já deixámos, porém, aqui sobejas provas do nosso bom humor, já aqui contámos estórias, mais pícaras, mais divertidas ou mais banais, tentando dar cor, cheiro e sabor àqueles 700 ou mais dias das nossas vidas que passámos na Guiné... O próprio Jorge deu o exemplo, deliciando-nos com as suas pequenas estórias que eu chamei cabralianas... O Jorge sempre teve uma maneira muito própria, desalinhada, talvez até marginal, de ser e de estar na tropa e, por extensõa, na guerra... O nosso convívio era esporádico mas foi o suficiente para eu o sinalizar como uma das figuras impagáveis que passaram por Bambadinca...

Tens razão, Jorge. Nem todos os dias eram sofridos, dramáticos, tensos, esgotantes... Nem todos os dias eram de vida ou de morte... Também houve dias ou tardes ou manhãs, calmos, poéticos, bem dispostos e até felizes. Por exemplo, os dias que passávamos no destacamento da Ponte do Rio Udunduma (e tu em Fá Mandinga).  Udunduma e nºão Unduma, como eu comecei a escrever, na I Série, dando origem a um erro sistemático...

Eu, pessoalmente, não guardo lá grandes memórias dos dias em que era obrigado a lá ficar. De dia, sempre lia e escrevia...Não havia mais nada para fazer, a não ser estar ali... À noite, aquilo era um pesadelo, por causa dos mosquistos e demais bicharada... Já o Humberto, a avaliar pelas suas fotos, soube tirar partido da situação: por exemplo, pescava, que era uma coisa que eu não sabia fazer... E tomar banho, nem pensar: eu tinha medo, que me pelava, da bilharziose...

Enfim, a recordação mais nítida que tenho é a de 3  de fevereiro de  1971 quando o Spínola  passou por lá e nos cumprimentou,  de visita aos trabalhos da estrada Bambadinca-Xime (***)... Três semanas atrás, tinha saltado com a GMC numa mina, ali perto... Agora levava uma piçada de um dos coronéis da comitiva do Com-Chefe,  a mês e meio de regressar a casa... Mas a tropa era assim mesmo, e a guerra ainda pior: quem se lixava era sempre o mexilhão... (LG)

PS1 - Mas não sejamos injustos em relação ao resort da ponte do Rio Udunduma: afinal, enquanto lá estávamos, não andávamos a foder o coirão nas matas do Xime e do Corubal, na guerra do gato e do rato. (****).

PS2 - Já agora lembro os nossos amigos e camaradas Carlos Marques dos Santos (CMS) e Jorge Araújo quem, em épocas diferentes, conheceram esta estância turística... Ainda recentemenete o CMS  nso veio l
lembrar o seu estatuto de... dinossauro, em mail de 15 do corrente:

[...] Ácerca da ponte do Udunduma não se esqueçam cá do DINOSSAURO. Em 29 de maio eu estava lá com tendas de 3 panos da 2ª guerra mundial. Fomos nós que fomos defender Bambadinca. Os primeiros. É história, não estória. Quanto a mim uma farsa,  o ataque [de 28 de maio de 1969]. Vi passar a tua companhia [CCAÇ 2590/CCAÇ 12] em princípios de junho [2 de junho], como vi passar outros. Luxos como os que foram vistos no blogue já não são do meu tempo. Estava na PELUDA. Um Abraço. CMS. [...]




Guiné > Zona Leste > Setor  L1 > Estrada Bambadinca-Xime > Ponte do Rio Udunduma > Destacamento da CCAÇ 12 >  2º Grupo de Combate > 1970 >

O Humberto Reis,  ranger, fotogénico...Passados mais de meio ano, ainda eram visíveis os sinais da tentativa de destruição da ponte,. na noye de 28 de maio de 1969, aquando do ataque a Bambadinca.



Guiné > Zona Leste > Setor  L1 > Estrada Bambadinca-Xime > Ponte do Rio Udunduma > Destacamento da CCAÇ 12 >  2º Grupo de Combate > 1970


O Tony (Levezinho) e o Humberto sentados na manjedoura... Era ali, protegidos da canícula, que tomavámos em conjunto as nossas refeições, escrevíamos as nossas cartas e aerogramas, jogávamos à lerpa, bebíamos um copo, matávamos o tédio...O Tony (Levezinho), à esquerda, segurando uma granada LGFog de 3.7.  Também à esquerda, de pé, em segundo plano o saudoso 1º cabo José Marques Alves (1947-2013).



Guiné > Zona Leste > Setor  L1 > Estrada Bambadinca-Xime > Ponte do Rio Udunduma > Destacamento da CCAÇ 12 >  2º Grupo de Combate > 1970

Crianças ou adolescentes, provavelmente de Amedalai, a tabanca mais próxima da ponte, divertem-se, dando saltos para a água, sob a supervisão de um dos nosso militares.,




Guiné > Zona leste > Setor L1 > Estrada Bambadinca-Xime  >   Ponte do Rio Udunduma > Destacamento da CCAÇ 12 >  2º Grupo de Combate > 1970 >

Pesca à linha, banho à fula, um dia descontraído de canoa...

 

Guiné > Rio Udunduma > Destacamento da CCAÇ 12, 2º Grupo de Combate > 1970 > Da esquerda para a direita:

O soldado Arménio e os furriéis milicianos Humberto Reis e Tony Levezinho, em concurso de pesca..

Fotos: © Humberto Reis (2006). Todos os direitos reservados  [Edição e legendagem complementar: L.G.]
_______

Notas do editor:

(*) Vd,. I Série > poste do Carlos Marques dos Santos, de 4 de Janeiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDXIX: Os Solitários da CART 2339 na Ponte do Rio Udunduma e em Fá

(...) "Em 28 de Maio de 1969 ouvimos rebentamentos para aqueles lados e pensámos ser na tabanca Moricanhe. Afinal, para nosso espanto, era mesmo em Bambadinca, sede do Batalhão.

"Dia 29, pela 05.30 da manhã, seguimos para reforço da sede de Batalhão. 15 dias. Salvo erro com o Pel Caç Nat 63 estivemos em tendas (panos de tenda com botões), em vigília constante, àquela que era uma passagem importante [,a ponte sobre o Rio Undunduma, na estrada Xime-Bambadinca]" (...).

(**) Vd.  I Série > poste de 4 de fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDXCVIII: Os dias felizes na ponte do Rio Udunduma (CCAÇ 12) (Humberto Reis / Luís Graça)


(***)  Vd  I Série > poste de Luís Graça, de 3 de Janeiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDXVI: Herr Spínola na ponte do Rio Udunduma

(...) "Ponte do Rio Udunduma, 3 de Fevereiro de 1971:

De visita aos trabalhos da estrada Bambadinca-Xime, esteve aqui de passagem, com uma matilha de cães grandes atrás, Sexa General António de Spínola, Governador-Geral e Comandante-Chefe (vulgo, o Homem Grande). Eu gosto mais de chamar-lhe Herr Spínola, tout court. De monóculo, luvas pretas e pingalim, dá-me sempre a impressão de ser um fantasma da II Guerra Mundial, um sobrevivente da Wermacht nazi

(...).Cumprimentou-me mecanicamente. Eu devia ter um aspecto miserável. Eu e os meus nharros, vivendo como bichos em valas protegidas por bidões de areia e chapa de zinco. O coronel (?) que vinha atrás do General chamou-me depois à parte e ordenou-me que, no regresso a Bambadinca, cortasse o cabelo e a barba"...


(****) Último poste da série > 22 de janeiro de 2014 > Guiné 63/74 - P12620: Memória dos lugares (261): Bachile, 1973/74 (Duarte Cunha)