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segunda-feira, 28 de dezembro de 2020

Guiné 61/74 - P21702: (De)Caras (167): o ten inf Esteves Pinto (1934-2020), que foi instrutor de alguns de nós no CISMI, em Tavira, e que morreu no passado dia 18, com o posto de cor inf ref



Tavira > CISMI > Parada > Outubro de 1968 > Atiradores de infantaria > 6º Pelotão, 3ª Companhia  > Da esquerda para a direita, de pé: Eduardo Estrela (, futuro fur mil. CCAÇ 14, Cuntima, 1969/71), Fonseca, Pereira, João, Torres, Chichorro (já falecido)  e Joaquim Fernandes (, futuro fur mil, CCAÇ 12, Contuboel e Bambadinca, 1969/71). Na primeira fila, tambémda esquerda para a direita: Santos, Chora, Salas, Paulo , Loureiro e Saramago.

Foto (e legenda): © Eduardo Francisco Estrela (2020). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Tavira > Quartel da Atalaia > Antigo CISMI, hoje RI 1 > 1 de fevereiro de 2014 > Belo exemplar da nossa arquitetura militar, fica situado na Rua Isidoro Pais. Imóvel classificado como de interesse público, segundo o excelente síio da Câmara Municipald e Tavira

 O Quartel da Atalaia, um dos mais antigos do país, foi começado a construir em 1795, sob o reinado de D. Maria I. Mas a sja construção foi entretanto interrompia e só retomada em 1856 devido á conjuntura nacional desfavorável (ida da corte para o Brasil, invasões napoleónicas, revolução liberal de 1820, guerra civuil de 1828-1834, etc.). Com a extinção das Ordens Religiosas, é entregue ao exército o antigo Convento de Nossa Senhora da Graça, que alguns de nós também conheceram. O Quartel da Atalaia, ainda por concluir, serviu ainda de hospital das vítimas de peste de cólera que se abateu sobre a cidade (e grande parte do país, a começar pela capital) em 1833, em plena guerra civil. Em boa verdade o edifício só ficará concluído  nos primeiros anos do século XX, sendo  então para lá transferida a guarnição de Tavira. Sofreu alguns alterações funcionais em 1950, 1954 e 1970.

Foto (e legenda): © Luís Graça (2014). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Tavira > CISMI > Julho de 1968 >   A chegada ao quartel da Atalaia dos novos instruendos do 1º Ciclo do CSM, vindos de todo o país.  Fila do pessoal para receber fardamento, Foto do Fernando Hipólito, gentilmente cedida ao César Dias e ao nosso blogue.

Esta rapaziada de finais da década de 1960 já tem um outro "look", a começar pelo vestuário... Presume-se que as belas cabeleiras, à moda dos "Beatles", já tinham ficado ingloriamente no chão do barbearia lá da terra ou de Tavira... Muitos fotam tosquiados à máquina zero, suprema humilhação para um jovem da época!... Não, já não é a mesma malta que parte, de caqui amarelo e mauser, para defender as Índias & as Angolas, uns anos antes ... O velho Portugal onde tínhamos nascido,  estava a mudar, lenta mas inexoravelmente.  E a nossa geração já não estava disposta a suportar os mesmos sacrifícios dos seus pais.


Foto (e legenda).  © Fernando Hipólito (2014). Todos os direitos reservados.[Edição e legendagem complementar: logue Luís Graça & Camaradas da Guiné]]

 


1. Através do nosso leitor e camarada cor inf ref Manuel Bernardo tivemos a triste notícia  do falecimento do cor inf António Rebordão Esteves Pinto, instrutor no CISMI, em Tavira, no tempo em que alguns de nós, membros da Tabanca Grande, lá fizemos a recruta e/ou a especialidade. (Estou-me a lembrar de camaradas como o César Dias, o António Levezinho, o Humberti Reis, o Eduardo Estrela, o Joaquim Fernanses, o José Fernando Almeida, o Manuel  Carvalho, o Carlos Silva, u próprio e tantos outros.)

O cor inf ref  Esteves Pinto faleceu no dia 18 do corrente mês. Nunca esteve no TO da Guiné. Mas queremos lembrá-lo aqui, na qualidade de nosso antigo instrutor e comandante de companhia no CISMI, Tavira. À família enlutada a Tabanca Grande apresenta as suas condolências. (****).

De acordo com o seu currículo militar, o cor inf Esteves Pinto:

(i) era natural do Fundão;

(ii)  estudante na Faculdade de Medicina Veterinária de Lisboa,  em 1957, foi  chamado a cumprir o Serviço Militar Obrigatório, tendo assentado praça em Mafra;

(iii) fez uma primeira comissão de serviço (1961/63), em Angola como o posto de alferes miliciano;

(iv) foi condecorado em 1963 com a Cruz de Guerra de 4ª classe, por atos de bravura em combate;

(v) de regresso à Metrópole, foi convidado a frequentar a Academia Militar,. tendo seguido a carreira militar:

(vi) tenente do quadro, foi  colocado, em 1965 (e até 1969), juntamente com o ten Fernando Robles, em Tavira, como instrutor do CISMI - Centro de Instrução de Sargentos Milicianos;

(vii) foi mobilizado, de novo  desta vez para Timor, terra que ficou no seu coração, como comandante da CCAÇ 2682 (1970-1972);

(viii) terminou a sua carreira militar com o posto de coronel, não sem ter passado ainda por Angola, em 1975.

Uma nota biográfica mais detalhada está disponível no portal UTW - Dos Veteranos da Guerra do Ultramar, 1954-1975.


2. Da notícia do falecimento do cor Esteves Pinto demos conhecimento de alguns camaradas que o conheceram, em Tavira, e que comentaram, em resposta ao meu mail de 26 do corrente:

(i) César Dias (ex-Fur Mil Sapador da CCS/BCAÇ 2885, Mansoa, Maio de 1969 / Março de 1971)

Luis, lembro-me do Esteves Pinto (Tenente), foi o nosso comandante da 2ª companhia, tentava moralizar as tropas, " O militar é a parte válida do povo", daí ter que ser forte, "não há fim de semana para ninguém",,, ,  isto na formatura de 6ª feira após o almoço.

Fiquei com boa impressão dele, embora os nossos caminhos não se tivessem cruzado mais
Presto-lhe homenagem.. Aos seus familiares e amigos manifesto o meu pesar.


(ii) Eduardo Estrela (ex-Fur Mil da CCAÇ 14, Cuntima, 1969/71)

Morreu o (do nosso tempo no CISMI ) ten Esteves Pinto, que comandava no último trimestre de 1968 a 2ª  Companhia. O homem que, nas marchas finais de Dezembro de 68, perto do Cerro da Cabeça em Quelfes/Moncarapacho , perante o dilúvio que se abateu sobre a zona do acampamento dizia: " o rei manda marchar, não manda chover ".

Á família enlutada os meus pêsames. Que descanse em paz.


3. Algumas referência no nosso blogue ao nosso antigo instrutor ten Esteves Pinto e a outros instrutores do CISMI de Tavira (1965/69), militares que, de uma maneira ou de outra, nos marcaram, tal como nos marcou a passagem por Tavira, na recruta e/ou especialidade. 

Temos meia centena de referências ao CISMI  e sessenta a Tavira


(i) Eduardo Estrela [ fez recruta no CISMI,  e a instrução de especialidade de atirador de infantaria, integrado  no 3º Pelotão da 4ª Companhia, no 2º semestre de 1968; foi fur mil, CCAÇ 14, Cuntina, 1969/71]:

(...) O comandante da 3ª Companhia do CISMI, Tavira, era o cap Eduardo Fernandes, militar íntegro e respeitador.

O ten Madeira era o adjunto e era uma flor sem cheiro. Mau e sádico. Uma vez, levou durante a noite a  
companhia para as salinas (, o capitão estava ausente). Dei-lhe a volta e vim de lá com trampa só até aos joelhos. 

Já tive o privilégio de lhe dizer isso pessoalmente num almoço no CISMI. O homem agora é coronel reformado e mora, como sempre morou, em Castro Marim. (...) (*)

(ii) César Dias:

(...) Concordo com os adjectivos de classificação atribuídos quer ao Capitão Fernandes quer ao seu adjunto nesse terceiro turno de 68, e no caso do Tenente Madeira os adjectivos poderiam ir mais além. 

Também integrei esse grupo nessa noite das salinas,  aproveitando a ausência do Comandante foi uma diversão para ele, já passaram quase 52 anos mas são coisas que não esquecem, apesar de tudo o que se passou na Guiné. 

Já agora digo que era do 7º pelotão do Aspirante Coelho, outro homem integro. (...) (*)

(iii) Eduardo Estrela:

(...) Acabo de ver o comentário do César Dias no blogue, a propósito do agora coronel Madeira e a sua referência ao Aspirante Coelho. O Asp Coelho era realmente um homem íntegro e respeitador. Lembro-me bem dele e da sua já visível falta de cabelo á época. Abraço fraterno a todos. (...) (*)

(iv) Manuel Carvalho (ex-Fur Mil Armas Pesadas Inf, CCAÇ 2366 / BCAÇ 2845, Jolmete, 1968/70):

(...) Também andei por Tavira no verão de 67, 3º turno,  Armas Pesadas.

Tenho algumas memórias do dia em que fizemos fogo para a ilha de Tavira a partir da costa. O comandante de companhoa era o Cap Madeira,  natural de Cabo Verde,  e de Pelotão era o Alf Chumbinho,  exigente mas que nos tratava com respeito,  por 'senhor instruendo'. 

Quando íamos iniciar o fogo de canhão sem recuo 10,6 vimos que estavam na zona dois barcos pequenos com um pescador cada. o Chumbinho disse que resolvia o problema com uma canhoada e resolveu,  embora um oficial superior que lá estava tivesse dito:  não me arranje problemas".

Ainda hoje me rio com a cena dos dois homens a remar cada um para seu lado e nem a recolha do material fizeram. Na ilha havia um silvado que foi incendiado com uma granada de fósforo e depois apagado com uma normal que atirou areia para cima do lume. Alguém pôs um burnal velho atrás do canhão para vermos o efeito e vimos que não é lugar para se estar.

Também fui dos que escolheram Armas Pesadas a pensar que ficaria mais resguardado mas tinha uma secção distribuída como qualquer Atirador e muitas vezes o Pelotão todo, é a vida. (...)

(v) Luís Graça:
 
 (...) Passei pelo RI 5 (Caldas da Rainha) (15 de Julho de 1968) e CISMI (Tavira) (29 de Setembro de 1968)... 

De quem me lembro, [em Tavira,] foi do Tenente Esteves [Pinto], que era o comandante da minha companhia [, a 2º,]  (estava a tirar a especialidade de Armas Pesadas de Infantaria), e do parvo de um alferes miliciano, lateiro, que nos dava instrução, no campo da feira (adorava, o sádico, pôr-nos a rebolar em cima da bosta de boi, enquanto ele passava o tempo a "namorar" à janela, uma das meninas ou coironas lá da terra....). Era algarvio, com sotaque, nunca pusera os pés em África... Deve ter apodrecido nos CISMI...

 (...) Do Esteves recordo-me apenas a sua lengalenga patrioteira e já gasta, lembrando-nos, a propósito e a despropósito, que "nós éramos a fina flor da nação"... Nós: emendávamos, entre dentes: "a fina flor do entulho"...

E, claro, não posso esquecer o inefável comandante do CISMI que me proibiu, a mim e mais um camarada, a inauguração de um exposição documental sobre a II Guerra Mundial (que estávamos a organizar, na caserna, e estava praticamente pronta...) com o argumento, mesquinho, safado, de que "para guerras já bastava a nossa" (...) 
 (**)

(vi) Mário Fitas (ex-fur mil inf op esp, CCAÇ 763, "Os Lassas", Cufar, 1965/67);

(...) Fui para o CISMI em Agosto de 1963 e acabei o curso em Dezembro do mesmo ano. O curso de sargentos milicianos era composto de dois meses de Instrução Básica e mais dois de especialidade.

Não esperava ir parar ao Ultramar, nem tão pouco à Guiné. Pois...só que precisamente em Janeiro de 1964 os cursos passaram a seis meses. Aqui tens como o teu camarada Mário Fitas foi fornicado e ir parar com os costados na Guiné. Fomos os últimos a envergar a célebre farda colonial amarela.

(...) Por curiosidade, o comandante do meu pelotão em Tavira foi o então alferes, hoje coronel Cadete, que esteve em Mejo,  julgo que com o José Brás, já mais tarde em Moçambique o Cadete levou um tiro no ventre. Um dos instrutores de Lamego, o alferes hoje tenente general Rino, que comandou a CCAÇ. 764 em Cumbijã. O mundo é muito pequeno! (,,,)

Hoje em dia o meu amigo coronel Manuel Amaro Bernardo,  dos comandos e escritor, era o comandante da 1ª. Companhia de instrução em Tavira.(...) (**)


(vii) José Brás (ex-Fur Mil da CCAÇ 1622, Aldeia Formosa e Mejo, 1966/68)

(...) Aqui, neste terraço de que se avista o quadriculado da antepara, vivi eu uma aventura imoderada.

Sexta-Feira, formutura para saída, o oficial de dia, Ajferes Cadete, olha-me na cara e diz que tenho as botas mal engraxadas. 

Formatura desfeita, volto à caserna e, ainda que sabendo da mentira, ponho as botas a brilhar. Nova formatura e lá vou eu de novo e o gajo olha-me para as botas e diz que tenho a barba mal aparada. De novo na caserna, espero por nova formatura para tentar ir passar o fim de semana na Ilha, de novo entro para a revista e o bicho diz-me: 'você é parvo, não viu já que não sai?'

 A minha vontade era mesmo partir-lhe o focinho e, nessa altura, sendo o que era, juro que o machucaria bem. Contive a raiva e puz-me a estudar a forma de sair dali, aparecendo-me o terraço como a única salvação. Disfarcei, andei por alí, subi as escadas, atrás de mim veio um camarada amedrontado mas desejoso de sair também. Passei para fora da antepara, desci para uma das janelas ainda agarrado acima, ajudei o camarada medroso a descer e saltámos correndo de imediato dali para fora. 

No Domingo, na praia, camaradas que sairam nesse dia,  avisaram-me que o Cadete dera pela minha falta e andara de bicicleta a ver os riscos da borracha das botas na parede, jurando que me esperaria na entrada na Segunda de manhã. De facto, apesar da apreensão, entrei sem problemas e ninguém me perguntou por onde tinha andado. Já antes, eu havia tido uma questão com o Cadete que não era o Comandante do meu Pelotão mas tinha metido o bico numa pega comigo. Acabei por reencontrá-lo quando a minha Companhia saiu de Aldeia Formosa e, por troca com a dele, fomos para Medjo onde ele estava antes. (...) (***)
__________

Notas do editor:

(**) Vd. poste de 30 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6496: Controvérsias (79): Os nossos instrutores militares não tinham experiência de contra-guerrilha (Manuel Joaquim)

 (***) 10 de fevereiro de 2014 > Guiné 63/74 - P12703: CISMI - Centro de Instrução de Sargentos Milicianos de Infantaria, Tavira, 1968: Guia do Instruendo (documento, de 21 pp., inumeradas, recolhido por Fernando Hipólito e digitalizado por César Dias) (1) : Parte I (1-6 pp.)

Vd. também:


21 de fevereiro de 2014 > Guiné 63/74 - P12750: CISMI - Centro de Instrução de Sargentos Milicianos de Infantaria, Tavira, 1968: Guia do Instruendo (documento, de 21 pp., inumeradas, recolhidi por Fernando Hipólito o digitalizado por César Dias) (3) : Parte III (pp. 13-16)

22 de fevereiro de 2014 > Guiné 63/74 - P12759: CISMI - Centro de Instrução de Sargentos Milicianos de Infantaria, Tavira, 1968: Guia do Instruendo (documento, de 21 pp., inumeradas, recolhido por Fernando Hipólito e digitalizado por César Dias) (4) : Parte IV (pp. 16-18): Regime disciplinar; Pretensões, dispensas e licenças


sábado, 21 de março de 2020

Guiné 61/74 - P20756: Os nossos seres, saberes e lazeres (382): Itinerâncias pelo Sotavento Algarvio (2) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 29 de Agosto de 2019:

Queridos amigos,
Traziam-se sonhos e quimeras, havia a previsão de subir ou descer a Serra do Caldeirão, ir mesmo a Sevilha, anteviam-se opulentos banhos de mar, nem tudo correu de feição. As praias, sem exceção, pareciam lagos de algas, o calor não abrandava, optou-se por deambular pela bela Tavira, sempre com bons resultados, igrejas não faltam. Se o leitor for a tempo, vá ao Palácio da Galeria ver o Artur Pastor, Vila Real de Santo António está sempre convidativa, Tavira e esta Vila Real estão recheadas de belo património.
Foram só itinerâncias, e como a viagem nunca acaba escreveu-se num caderno o muito que há a fazer no próximo regresso a estes lugares admiráveis.

Um abraço do
Mário


Itinerâncias pelo Sotavento Algarvio (2)

Beja Santos

Ir a Tavira e não visitar o seu Museu Municipal é como ir a Roma e não ver o Papa. O edifício é muito belo e capricha por apresentar com regularidade exposições de estalo. De março a novembro de 2019 quem ali acorre tem para se deleitar uma exposição ímpar “Artur Pastor e os Mundos do Sul”. Grande fotógrafo entre os maiores, iniciou a sua atividade na fotografia em Tavira, aos 23 anos, quando prestava serviço militar, captando imagens das almadravas da pesca do atum. Como fotógrafo do Ministério da Agricultura, legou à cultura portuguesa um corpo de imagens único. Nesta exposição, o visitante pode deleitar-se com fotografias que vão desde a agricultura às atividades artesanais. É imperdível. Para quem gosta da arte fotográfica ao mais alto nível, vale a pena adquirir o catálogo.


Tavira não é só um lugar de igrejas, capelas, ermidas, a sua arquitetura civil é de nomeada e quem deambula entre a Igreja da Misericórdia, a Igreja de S. José do Hospital, ou a Capela de S. Sebastião, por exemplo, tem fachadas, portadas, muralhas do tempo islâmico e medieval, uma aprazível biblioteca municipal, pontes e até o Mercado da Ribeira, tudo é digno de visita.


O viandante pulou de contente frente à Igreja-matriz de Santiago, a sobriedade da fachada principal com o medalhão de Santiago Mata Mouros é deveras impressionante.


Igreja e antigo Convento de São Francisco.


Há os recantos pejados de história, há os poços rituais fenícios e a muralha fenícia, o Núcleo Museológico Islâmico, as ruas que nos levam ao castelo, as portas góticas do centro histórico, vai-se por uma rua por onde formigam turistas em pleno shopping e escancara-se uma capela, dá pelo nome de Nossa Senhora da Conceição, o viandante rende-se perante o altar-mor e a pintura lateral, um Cristo a caminho do calvário.

Capela de Nossa Senhora da Conceição.


Foram curtas férias, houve aquele elegante perturbador que a imprensa noticiou, as praias inundadas de algas, mas tudo se suportou com belos banhos de mar. Está na hora da abalada, é o último jantar nesta varanda de um edifício na Mata do Santo Espírito, recebe-se a graça de um céu afogueado, simula um incêndio colossal a atravessar o Sotavento, é tudo fantasia, ficará como lembrança suprema destes tempos aprazíveis.



Na abalada, foi-se cumprimentar Ayamonte, nada de especial a comentar, mas não se pôde resistir a uma planta bem florida a enrolar-se pela palmeira acima, e na praça, talvez maior, esta azulejaria encantadora. E ruma-se para Lisboa, logo que possível, e com muito fervor, retorna-se à região, pois o Sotavento Algarvio sabe bem, acolhe bem.


____________

Nota do editor

Último poste da série de 14 de março de 2020 > Guiné 61/74 - P20733: Os nossos seres, saberes e lazeres (381): Itinerâncias pelo Sotavento Algarvio (1) (Mário Beja Santos)

terça-feira, 17 de março de 2020

Guiné 61/74 - P20742: Memória dos lugares (405): Cacela, a fadista Lucinda Cordeiro e o grupo "Cantar de Amigos", num vídeo do Zeca Romão (ex-Fur Mil At Inf, CCAÇ 3461 / BCAÇ 3863, Teixeira Pinto, e CCAÇ 16, Bachile, 1971/73)


Vídeo (2' 58'') > Alojado no You Tube > Romão José

Título: Cantar de Amigos - Lucinda Cordeiro - canta: Miúdo da Rua

Sinopse: Um pequeno vídeo dedicado à nossa amiga Lucinda Cordeiro, uma das maiores fadistas,do nosso concelho [, Vila Real de Santo António[. Acompanhada pelo seu esposo, José Gonçalves e por Toy Dourado, Lucinda, canta "Miúdo da Rua", fado gravado no CD nº 9 de "Cantar de Amigos" [, grupo fundado em 1993]. As fotografias são de Cacela Velha, localidade que faz parte do concelho de Vila Real de Santo António. Vídeo: realização de Zeca Romão, 17 de março de 2010.


José Romão no Bachile, c. 1972/74
Arquivo do autor (2010)
1. O nosso camarada José Romão, de Vila Real de Santo  António, tem um especial carinho pela sua terra (e tem uma segunda terra, a Guiné-Bissau, e em especial o "chão manjaco", do qual  guarda "recordações inesquecíveis" do tempo em que foi Fur Mil At Inf, CCAÇ 3461 / BCAÇ 3863, Teixeira Pinto, e CCAÇ 16, Bachile, 1971/73).  Tem 16 referências no nosso blogue. 

Há dias mandou-nos um vídeo seu, de 2010, e que é um tripla homenagem a três "joias" vila-realenses:  Cacela, a fadista Lucinda Cordeiro e o grupo Cantar de Amigos. 

Os nossos camaradas, que fizeram o Curso de Sargentos Milicianos, no CISMI em Tavira, a recruta e/ ou a especialidade, nos anos 60/70, vão adorar a música e as imagens, que lhes vão avivar memórias...

Obrigado, Zeca Romão!


2. Sobre Tavira, e o sítio onde fizemos os fogos, no último  trimestre de 1968, escreveu o Eduardo Estrela o seguinte  comentário ao poste P20732 (*):

"Bom dia Luís! É uma alegria enorme ouvir falar da nossa terra com tanto carinho e amor. Obrigado pelas tuas palavras elogiosas. Façamos votos que haja coragem de preservar a autenticidade desta parte do Algarve denominada Sotavento.

Seguindo o percurso da EN 125, no sentido Tavira-Vila Real Sto. António, passamos Conceição de Tavira e, cerca de 3 km mais á frente,  há uma estrada à direita que vai ter ao sítio do Lacem. Foi neste sítio, local de confluência dos concelhos de Tavira e Vila Real, que fizemos os fogos reais, numa arriba sobranceira á ria e ao mar. Dista de Cacela Velha em linha recta, mais ou menos 1 km. 

O fabuloso tasco da Fábrica era do Costa, onde se comiam todas as iguarias da Ria, com a particularidade de saberem divinalmente. O Costa era compadre do meu sogro, pois era padrinho de baptismo duma das minhas cunhadas. 'O mundo é pequeno e a nossa Tabanca... é grande.' Abraço fraterno.

P.S. Fica pois o Lacem para a direita da fotografia da fortaleza de  Cacela Velha. A estrada da ilha é a das quatro águas."


3. Comentário de Luís Graça (*):

Fantástico, Eduardo!...Tens uma invejável memória topográfica!... É certo que jogas em casa...Esse é o teu reino, mas já me deste uma ajuda estupenda para "relocalizar" o sítio onde fizemos os nossos fogos reais, no final da instrução do 2º ciclo do CSM, no último trimestre de 1968... Que, reconheça-se, foi importante para nós, que fizemos fogo, pela primeira vez (, os que nunca foram caçadores...) na carreira de tiro e depois no tal sítio do Lacem. Quando aí voltar, ao teu/nosso querido Sotavento, quero revisitar esse sítio. E, se possível, contigo, se estiveres por aí, disponível, como cicerone!

sábado, 14 de março de 2020

Guiné 61/74 - P20732: Memória dos lugares (404): Tavira, o CISMI, e Cacela A Velha... (Eduardo Estrela, ex-fur mil at inf, CCAÇ 14, Cuntima, 1969/71)


Vila Real de Santo António  > Cacela A Velha  > Fortaleza de Cacela A Velha (séc. XVII) com vista sobre a Ria Formosa


A conquista de Cacela


As praças fortes foram conquistadas
por seu poder e foram sitiadas
as cidades do mar pela riqueza

Porém Cacela
foi desejada só pela beleza


Livro Sexto (1962, Lisboa, Livraria Morais Editora)

Sophia de Mello Breyner Andresen (Porto, 1920 - Lisboa, 2004)


Foto (e legenda): © Eduardo Francisco Estrela (2020). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Eduardo Estrela (2012)
 1. Mensagem do Eduardo Estrela [ ex-Fur Mil da CCAÇ 14, Cuntima, 1969/71]

natural de Faro, vive em Cacela (que já não é Tavira, mas Vila Real de Santo António, entre Tavira e a Manta Rota);  estivemos juntos no CISMI, em Tavira, no último trimestre de 1968, ele a na 3ª companhia (a "tirar" a especialidade de atirador de infantaria), eu na 2º companhia, do tenente Esteves Pinto, a fazer uma inútil especialidade de armas pesadas de infantaria; foi comigo e mais umas centenas de camaradas para o TO da Guiné, no T/T Niassa, em 24/5/1969; também ia connosco o camarada  Jerónimo de Sousa, Soldado Condutor Auto da Companhia Polícia Militar  (CPM) 2537 (Bissau, 1969/71): mas só soubemos uns dos outros muitoso anos depois; é membro da nossa Tabanca Grande desde o início de 2012; faz teatro, integrando o Grupo de Teatro Lethes, também gosta de ler e escrever poesia (, obrigatório paar quem ama Cacela  A Velha).

Data: 13 mar 2020, 17:28

Assunto: Cacela

Fotografia acabada de fazer [segue, em anexo].

O comandante da 3ª  Companhia do CISMI, Tavira,  era o cap Eduardo Fernandes, militar íntegro e respeitador. 

O ten Madeira era o adjunto e era uma flor sem cheiro. Mau e sádico. Uma vez, levou durante a noite a companhia para as salinas (, o capitão estava ausente). Dei-lhe a volta e vim de lá com trampa só até aos joelhos. 

Já tive o privilégio de lhe dizer isso pessoalmente num almoço no CISMI. O homem agora é coronel reformado e mora, como sempre morou, em Castro Marim. 

Abraço. Eduardo Estrela

2. Comentário de LG:
Capa do "Livro Sexto" (1962)

Eduardo, quando estive em Tavira, no CISMI, entre outubro e dezembro de 1969, devo ter ido a Cacela A Velha (como eu gosto de "grafar"), e lá ter lido e  relido aquele e outros poemas do Livro Sexto de Sophia (que levei comigo para a Guiné, numa mala cheia de livros, convencido que ia passar umas férias tropicais... pobre de mim!).

Tavira ficava longe da minha terra, o comboio era ronceiro, parava em todas as estações e apeadeiros, perdia-se o fim de semana em viagens... Depois de chegar ao Barreiro, era preciso apanhar o barco e depois a camioneta, na Rua da Palma,  que ia até à Lourinhã, último concelho do distrito de Lisboa, e eram mais horas três de caminho!...

Penso que só fui a casa uma vez quando estive em Tavira, na minha instrução de especialiidade... Valeu-me a beleza da ria Formosa, Tavira, Cacela e a poesia dos poetas, como a Sophia,  que se encantaram pela tua terra... Obrigado pela tua foto: aquela ria Formosa e aquela fortaleza parada no tempo são um mar de emoções e de sabores...Foi lá que comi o melhor  arroz de lingueirão do céu e da terra, no sítio da Fábrica, num tasco que tinha um telheiro...

Voltei a Tavira, algumas vezes (poucas...), a última em abril de 2014 (*)... Aí, sím, com olhos de ver e rever... Mas não tive tempo de revistar Cacela. Não ia sozinho, em grupo temos que abdicar de algo de nós.... Escrevi, nesta altura no blogue, um conjunto de seis textos, e à laia de conclusão o seguinte:

(... ) Damos por encerrado aqui o roteiro (breve) de Tavira, aonde regressei, com "olhos de ver" e sem "mágoa no coração", 45 anos depois de ter feito o 2º Ciclo do CSM, no quartel da Atalaia, CISMI, no último trimestre de 1968 (...)

Fiquei alojado dois dias no Convento das Bernardas Residence, acessível na época baixa... É um notável projeto de recuperação arquitetónico, com a assinatura de Eduardo Souto de Moura... Aproveitei, obviamente, para percorrer o caminho que ia dar à ilha de Tavira, a famosa estrada dos Quatro Caminhos, onde se toma o barco para, atravessando o Gilão, se chegar à ilha de Tavira que alguns de nós conheceram, no tempo da recruta e/ou especialidade...

Essa estrada era também uma das estações do calvário dos milicianos, havendo instrutores que adoravam pôr-nos de salmoura, nas salinas.. Também fui (...)  a Santa Luzia, zona piscatória de Tavira, para provar as especialidades gastronómicas de Tavira onde o polvo continua a ser rei... E ainda houve tempo para dar um salto à pombalina Vila Real de Santo António...

Faltou, por manifesta escassez de tempo, revisitar a Cacela Velha, um dos lugares mais mágicos da costa algarvia (, pertence já ao concelho vizinho, de Vila Real de Santo António, ) e sobre o qual escreveu a nossa grande poetisa Sophia de Mello Breyner Andersen (Porto, 1919-Lisboa, 2004) [o poema antológico que acima se reproduz] (...)


Mas já dexei, em tempos, no blogue,  em jeito de  confissão uma das minhas "penas" (**):

(...) Dos sítios que nos calhou, a alguns de nós, no nosso percurso militar, da metrópole até à Guiné, Tavira é possivelmente um dos quais com que mantemos uma relação de amor/ódio.

(....). Nos escassos dois meses e meio em que lá fiz a especialidade de armas pesadas de infantaria (na 2ª companhia, em set/dez de 1968), não tive condições físicas e psicólogicas para descobrir a cidade, as suas ruas, o seu património e as suas gentes... O fantasma da Guiné (, não sei porquê nunca pensei em Angola ou Moçambique) já estava na minha cabeça...

Claro que deambulei pela cidade e arredores (Santa Luzia, Ilha de Tavira...) mas não tinha cabeça para aprofundar o conhecimento da sua história e do seu património... Voltei lá há um mês, com outra disponibilidade mental... Passei lá um fim de semana, dois dias, alojado no Convento das Bernardas, junto às salinas, (...) e depois fui visitar o velho quartel da Atalaia onde funcionou o CISMI, e por onde passámos, muitos de nós furriéis milicianos, antes de irmos parar à Guiné (...)


Obrigado, Eduardo, por este "regalo", nesta sexta feira, 13, em que estou/estamos trancado(s) em casa por causa da maldita pandemia do Covid-19. Mas olho a ria Formosa e vêm-me à lembrança aquele tempo em que havia ali, talvez mais à direita, uma nesga de terra e de mar, onde fazíamos fogo real, com as armas pesadas, a Breda, o morteiro 81, o canhão s/r...

Era uma dor de alma,  para mim,  ter que violar toda aquela beleza de areal e mar... Será que ainda te lembras desse sítio da costa onde se fazia fogo real  de armas pesadas ? Havia lá, em baixo, muita sucata, incluindo granadas por explodir... Tinha que ser uma faixa da linha costeira,. sob estrita jurisdição militar. Já não tenho ideia se era mais à esquerda ou à  direita de Tavira... Ou não seria na própria ilha ?... Não, não, devia ser, tenho uma vaga ideia de estar a fazer a fogo de Breda ou Browning, de uma arriba para o mar... (***)   
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Notas do editor:



sexta-feira, 13 de março de 2020

Guiné 61/74 - P20728: Em busca de... (302): instruendos do CISMI, Tavira, a tirar a especialidade de atiradores de infantaria, 6º Pelotão / 3ª Companhia, outubro de 1968: "Eu, o Torres, o Joaquim Fernandes, o Loureiro e o Saramago fomos todos para o CTIG...mas dos outros gostava de saber do paradeiro"... (Eduardo Francisco Estrela, ex-fur mil at inf, CCAÇ 14, Cuntima, 1969/71; vive em Cacela)




Tavira > CISMI > Parada > Outubro de 1968 > Atiradores de infantaria  > 6º Pelotão, 3ª Companhia > Da esquerda para a direita, de pé:

(i) Estrela (1), Fonseca (2), Pereira (3), João (4), Torres (5), Chichorro (6) e Joaquim Fernandes (7)

(ii) Santos (1a), Chora (2a), Salas (3a), Paulo (4a), Loureiro (5a), Saramago (6a)

Foto (e legenda): © Eduardo Francisco Estrela  (2020). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem do Eduardo Estrela [ ex-Fur Mil da CCAÇ 14, Cuntima, 1969/71]


Data: 9 mar 2020 21h42
Assunto:  Por onde andam eles ?

Meu caro Luís!
Junto fotografia tirada na parada do CISMI, Tavira,  em outubro de 1968. São os "galardoados " com a especialidade de atirador de infantaria que tinham acabado a recruta integrados no 6º Pelotão da 3ª Companhia.

Sempre a contar da esquerda, o 1º  de pé sou eu,  o Torres é o 5º  e o Joaquim Fernandes, o último. Em baixo o Loureiro é o 5º,  e o Saramago o último. 

Todos fomos para a Guiné e sabemos do paradeiro uns dos outros.

O Salas, o  3º [a]. em baixo, vive em Vila Real de  Sto. Antônio e foi para Angola. 

Gostava de saber do paradeiro dos outros que são a contar, da esquerda  e de pé,   o Fonseca (2), o Pereira (3),  o João (4),  e  o Chichorro (6) e Joaquim Fernandes (7); e em baixo   o Santos (1a), o Chora (2a) e o Paulo (4a).

Publica no blogue por favor, pode ser que algum camarada saiba por onde eles andam. 

Abraço fraterno. Eduardo Estrela.

2. Comentário do editor:

Há dias, à procura do João Barrote, ex-alf mil, da CCAÇ 16 (Bachile, 1971/72), troquei mensagens e telefonemas com o Eduardo Francisco Estrela, um "rapaz do meu tempo" (de Tavira e da Guiné), eu da CCAÇ 12 (Contuboel e Bambadinca, 1969/71) e ele da CCAÇ 14 (Cuntima, 1969/71). Fomos no mesmo navio, o T/T Niassa, em 24 de maio de 1969.

Estivemos no CMS,  no CISMI, em Tavira, a tirar a a especialidade, no último trimestre de 1968, antes de nos mandarem para a Guiné. Ele era atirador de infantaria, eu de armas pesadas de infantaria, nunca cheguei a perceber a diferença, porque lá na guerra deram-nos, a cada um de nós, uma G3.

Reencontrámo-nos através do blogue, comprovando aquilo que gostamos de dizer, que o  Mundo, afinal, é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande. (Os CISMI tem cerca de meia centena de referências no nosso blogue.)
Fiquei a saber que o Eduardo Estrela, natural de Cacela (, tendo feito a sua vida escolar e profissional em Faro,) concelho de Tavira, a escassos quilómetros do João Barrote (que vive em Tavira, há 40 e tal anos, embora seja de Olhão). Trocámos coordenadas e disse-lhe, ao telefone, que "adorava Cacela, a ria, Tavira (locais deslumbrantes, mágicos, do nosso Portugal, não os deixes estragar!)".
E ele respondeu-me, por email, nestes termos, começando por citar um dos muitos poemas que foram dedicados a Cacela (, sendo este da sua autoria):

Cacela tem aroma de mulher
e a elegância perfumada de um arbusto.
Seus olhos da cor da lua
bailam ao som da música do mar.
Cacela é sonho luz poema.
É vontade de não partir
e de sempre voltar.


E ele aproveitou para acrescentar algo mais sobre o que tem feito na vida:

(...) "Dividi a minha actividade profissional entre uma empresa de venda de automóveis durante 20 anos e como profissional de seguros na área da regularização de sinistros no resto do tempo, até atingir a idade da reforma.

"Desde 1965 sou amador de teatro, integrado no Grupo de Teatro Lethes, que é um dos grupos mais antigos do país. Actualmente temos apresentado a "Relíquia", do Eça de Queiroz [, adaptação teatral de Sttau Monteiro e Artur Ramos]. O último espectáculo foi há duas semanas. O próximo estava previsto para amanhã [, dia 7 de março,], mas imponderáveis fizeram adiar o mesmo. 

"Se vieres fazer algum 'patrulhamento' cá para baixo, dá um toque. Abraço fraterno. (...)"

Voltando agora ao seu pedido, confesso que só reconheço o Joaquim A. M. Fernandes, meu camarada de armas da CCAÇ 12, e que depois trabalhou, profissionalmente, na Quimigal, Barreiro, como engenheiro técnico. Já não nos vemos há uns largos anos. Temos aqui no blogue algumas referências a ele (e fotos).


Castro Daire > Freguesia de Monteiras > Zona Industrial da Ouvida > Restaurante P/P > 30 de Maio de 2009 > 15º Convívio do pessoal de Bambadinca, 1968/71, CCS do BCAÇ 2852, CCAÇ 12 e outras subunidades adidas

Três camaradas da CCAÇ 12 (Contuboel e Bambadinca, Junho 69/ Março 71): da esquerda para a direita; (i) o ex-Fur Mil Joaquim Fernandes, (ii) o ex-1º Cabo Aux Enf Fernando Sousa;  e (iii)  o ex-Fur Mil António Marques... 
O Fernandes e o Marques foram vítimas de explosão de minas A/C, à saída do reordenamento de Nhabijões, a 13 de Janeiro de 1971, com vinte meses de comissão... O Marques, que teve às portas da morte (se não fora a evacuação Y para o Hospital de Bissau), "ganhou" mais "dois anos de comissão" (desta vez, no "estaleiro")...
Foto (e legenda): © Luis Graça (2009). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
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Nota do editor:

Último poste da série > 24 de fevereiro de  2020 > Guiné 61/74 - P20682: Em busca de... (301): Raul Fernandes Coelho, natural de Braga, piloto de Heli AL III e de caça-bombardeiro T 6, do meu tempo (Francisco José Rato Mendonça, ex-1º cabo esp MARME, BA 12, Bissalanca, 1972/74)

sábado, 7 de dezembro de 2019

Guiné 61/74 - P20423: Facebook...ando (54): António Rios, ex-fur mil mecânico de artilharia (GA 7, Bissau, 1972/74), algarvio de Vila Real de Santo António, a viver em Tavira




1. Na nossa página do Facebook,  o António Rios escreveu em  4 de dezembro, a propósito da Acção Mabecos (subsetor de Piche, 22-24 de fevereiro de 1971):

"Também por lá andei [, na Guiné],  em  1972/74.  Furriel Mecânico de Artilharia".

2. O editor, Tabanca Grande Luís Graça, comentou:

António, esta foto é um raridade!... Foste furriel mecânico de artilharia... Presumo que no GAC7 (1972/74)... Saías de Bissau ? Se sim, o que é conheceste ? Tens, por certo, histórias para contar, e mais fotos para divulgar... Escreve-nos: luis.graca.prof@gmail.com... Estamos no Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné.

Confesso que o António Rios devia ser uma "avis rara" (, sem ofensa)... Eu, pessoalmente, nunca vi nenhum mecânico de artilharia no CTIG... E a havê-los (na BAC 1 / GAC 7 / GA 7), como é caso deste nosso camarada, algarvio,  deviam ser poucos... mas bons.

De qualquer modo, os mecânicos de artilharia tinham também competências raras e a sua arte era imprescindível para o bom andamento da guerra, já que estes "brinquedos de guerra" (os obuses 8.8. 10.5 e 14 e as peças de artilharia 11.4) também se avariavam, danificavam, partiam,  desgastavam, etc.
Pela sua apresentação no Facebook, sabemos que o António Rios:

(i) foi eletrotécnico de energias, hoje na reforma;
(ii)  trabalhou na PT - Portugal Telecom, Faro;
(iii) colabora na Rádio Gilão. e está ligado ao Rancho Folclórico de Tavira;
(iv) andou na escola Escola Técnica de Tavira (1962/69);
(v) vive em Tavira;
(vi) é natural de  Vila Real de Santo António;
(vii) nasceu a 14 de agosto de 1951;
(viii) temos 22 amigos em comum (no Facebook).

Fica aqui o nosso convite para o António Rios  integrar a Tabanca Grande, a tertúlia do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné.  Sabemos, pela foto abaixo, que só regressou a casa já depois do 25 de Abril de 1974.




Guiné > Bissau > HM 241 > 13 de junho de 1974 > Almoço convívio no hospital militar de Bissau. O António Rios parece-nos ser o primeiro da segunda fila, a contar da direita para a esquerda.

Já agora um desafio ao autor, o nosso camarada António Rios (e aos leitores):

António, nesta foto, de uma almoço-convívio, em 13/6/1974, no Hospital Militar de Bissau, diz-me onde é que tu estás, e o que lá estavas a fazer... (Pareces-me ser o primeiro da 2ª fila, a contar da direita...). Não estavas doente para estar no HM 241... Tinhas lá malta conhecida, é isso ?!... Por mera curiosidade, pergunto-te o que é que vocês estavam a comer ?... Parecem-me bivalves... Ostras, não, não me parecem ser cascas de  ostras, eram  maiores... Ameijoas, não havia na Guiné, que eu saiba... Frango ? Passarinhos ?... Que raio de petisco era esse ?... E a cerveja, em lata, era Sagres, ou não ?... 

Fotos (e legendas): © António Reis (2019). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

sábado, 31 de agosto de 2019

Guiné 61/74 - P20111: Os nossos seres, saberes e lazeres (351): Tavira, a encruzilhada de civilizações (3) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 5 de Abril de 2019:

Queridos amigos,
Regresso sempre a Tavira com curiosidade e nunca dali saio dececionado com aquele caleidoscópio cultural, os vestígios da Antiguidade bem prezados (intriga-me o que vai ser a pesquisa arqueológica do espaço romano de Balsa, ainda não percebi onde começa a fronteira da presença romana e acaba a fantasia), as belas igrejas, os passeios ao longo do Gilão, o espaço rural envolvente... E a Ria Formosa ali ao lado, e a sucessão de povoados, como Luz de Tavira, ainda a ecoar uma vida piscatória e aquele passado em que Tavira era inevitável ponto de passagem de e para as praças do Norte de África.
À falta de frase mais imaginativa, direi que Tavira propicia uma viagem que nunca acaba, tem tais e tantos atrativos que só apetece regressar.

Um abraço do
Mário


Tavira, a encruzilhada de civilizações (3)

Beja Santos

O viandante dá-se muito bem com a História, a urbanística, a arquitetura civil, militar e religiosa, é impressionante o diálogo de confluências que aqui se estabelecem, é o peso natural de uma região onde se imanam, com flagrante coexistência, civilização e cultura. Percorre-se esta zona do rio Gilão, aqui se está extasiado com o incêndio do poente, já se foi muitíssimo mais adiante junto de ruínas de uma fortaleza, outrora importante para prevenir incursões de um vizinho hostil, sabe-se lá se até de piratas magrebinos, por ali se passeia entre muralhas que parecem ossadas jurássicas depositadas no areal, produto do assoreamento, assim se entra na cidade para este céu limpo percorrido por um cometa de fogo.


Tavira é o ponto do Algarve que mais diálogo oferece sobre civilizações, é possível entrar numa pousada e descer ao passado a falar fenício ou romano, é verdade que não há mesquitas mas a cultura árabe deixou impressionantes marcas de água, é cidade de igrejas cheias de caráter, mosteiros e ermidas, imagens preciosas a distintos cultos a santos, e há até mesmo uma ponte que parece simbolizar a ponte dessas culturas, o rio atravessa a cidade e parece não chegar ao mar, pura ilusão, cidade caleidoscópica, possuidora de uma arquitetura civil cheia de requinte, cidade de escala humana, naquele casco histórico um arranha-céus seria clara monstruosidade.




Já se disse, e qualquer viandante o pode confirmar, a arquitetura civil tavirense tem património prodigioso, próprio de uma rica burguesia argentária ou rural, não esquecer as ricas pescarias e a indústria de conservas, um mundo agonizante a caminho da Ria Formosa. O Palácio da Galeria, o mesmo é dizer Museu Municipal foi restaurado a preceito, vale a pena quem o visita deliciar-se com os seus tetos pintados. Visitar a Igreja da Misericórdia é ser confrontado com azulejaria requintada, assim como não faltam vestígios flagrantes de fenícios ou árabes, medievos ou modernos, há barroco de alta qualidade, é tudo uma questão de pedir informações sobre as igrejas, que são muitas. O viandante bem procurou uma publicação sobre casas solarengas, nada encontrou, o que não diminuiu o prazer da deambulação.



Nos escaninhos da memória, o viandante recorda o seu primeiro passeio fora de Lisboa, tinha 7 anos, a mãe comprou bilhetes na Rodarte para ir ver as amendoeiras em flor. A memória reteve campos que pareciam floridos pelos flocos de neve, isto passou-se em 1952, havia então um Algarve de quintas e muitas pitas, carroças, uma agricultura de subsistência, vendiam-se na berma da estrada figos com amêndoa, e a fruta local. Um modo de viver que entrou em ebulição na década seguinte, com a enxurrada do turismo de massas e as empreitadas para gente altamente abonada, veio a descaraterização de Olhão, Albufeira e Quarteira. Há poetas como Nuno Júdice que cantam essa maldição.




Nos arredores de Tavira, encontrou-se um parque para piquenicar, falava-se em gamos e eles apareceram, não com pezinhos de lã mas com olhar desconfiado e por ali andaram a mordiscar, a criançada em alvoroço, os gamos não lhes deram troco, foram buscar comida um pouco mais longe. A viagem chegou ao seu termo, regressa-se a Tavira e de saco às costas parte-se para a estação da CP, antes porém colhem-se duas imagens de registo antigo, com imenso prazer, é indício seguro que se descobre sempre algo de cativante, são os tais atrativos que asseguram a vontade de regressar. Como vai acontecer.



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Notas do editor

Poste anterior de 24 de agosto de 2019 > Guiné 61/74 - P20090: Os nossos seres, saberes e lazeres (349): Tavira, a encruzilhada de civilizações (2) (Mário Beja Santos)

Último poste da série de 30 de agosto de 2019 > Guiné 61/74 - P20110: Os nossos seres, saberes e lazeres (350): a mítica estrada nacional, EN 304, em pleno Parque Natural do Alvão, entre Mondim de Basto e Vila Real... E finalmente conheci o "Ginho", "ao vivo e a cores", na sua terra natal, em terras de Basto, na "Casa do Lago"...(Luís Graça)

sábado, 24 de agosto de 2019

Guiné 61/74 - P20090: Os nossos seres, saberes e lazeres (349): Tavira, a encruzilhada de civilizações (2) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 25 de Março de 2019:

Queridos amigos,
Era o embaraço da escolha, tal a oferta farfalhuda de núcleos museológicos, de ermidas, igrejas e exposições. Vir a Tavira e não pôr o nariz no Palácio da Galeria é como ir a Roma e não visitar os museus do Vaticano. O Palácio da Galeria/Museu Municipal de Tavira tem valor excecional, no subsolo temos vestígios da presença fenícia, depois há as molduras góticas, o edifício está moldado pela moderna estética renascentista. Nele habitaram os Aragão de Sousa, família nobre ligada à defesa das praças lusas do Norte de África, durante o século XVI, estas praças muito contribuíram para momentos áureos de Tavira. Há depois os elementos barrocos, está preservada a Galeria Quinhentista. Palácio recuperado e adaptado para fins culturais em 2001, é aqui que venho visitar mestre Almada Negreiros e daqui o viandante irá partir, bem consolado, percorrendo o centro de Tavira à beira rio, dia de sorte, culminou com um poente mediterrânico.
É assim a vida, a surpresa com que não se contava na viagem.

Um abraço do
Mário


Tavira, a encruzilhada de civilizações (2)

Beja Santos

Entra-se no Museu Municipal de Tavira/Palácio da Galeria para ver a mulher representada por Almada Negreiros, nada menos nada mais do que 55 obras, desenhos e pintura, a larga maioria pertencentes ao acervo da coleção moderna do Museu Calouste Gulbenkian, bem assim como excertos da sua obra literária e textos publicados nos jornais e revistas da época. A exposição visa mostrar a representação da mulher com um “olhar moderno”.




A curadora da exposição prestou declarações a uma agência noticiosa ao tempo da exposição tendo dito que “o olhar sobre a mulher ao longo da história da arte ocidental é um olhar masculino e aqui também não fugimos a essa regra. Estamos a falar de um homem que olha a mulher, que a retrata e que a torna objecto da sua pintura, do seu desenho ou da sua obra literária”. A curadora lembrou que Almada foi “um artista que abraçou a modernidade, que quis ser moderno acima de tudo, representou uma mulher emancipada”. E, mais adiante: “As mulheres já não são só objectos de contemplação ou representadas como passivas na obra dele, vamos sistematicamente encontrar mulheres activas, mulheres desportivas – sobre as quais aliás ele escreve também –, mulheres bailarinas, cantoras, e que não estão em nenhuma posição necessariamente subalterna, pelo menos não são mostradas dessa forma e isso, mostrá-las de maneira diferente, era também sinal de modernidade”.




Almada Negreiros (1893-1970) viveu as primeiras décadas do século XX – período a que pertencem as obras expostas, enalteceu nos seus trabalhos este fenómeno da emancipação da mulher, por vezes associada a uma certa libertação de costumes e a uma vida boémia dos chamados anos loucos de 1920.

Um óleo célebre de Almada em que se representa com a sua mulher, a pintora Sarah Afonso.



Exposição magnífica, se é necessário adjetivar o que tão impressivas imagens oferecem ao leitor. Tavira tem presença fenícia, muçulmana, vestígios medievais, tem marcas do tardo-gótico e de um majestoso barroco, isto para já não falar de palácios e habitações solarengas de grande porte, algumas delas flanqueando o Rio Gilão, a caminho da Ria Formosa. Vamos passear, há um pôr do sol magnífico que espera por nós.





É fascinante descer do Palácio da Galeria até chegar aqui, onde o Rio Gibão vai abraçar a Ria Formosa, o viandante é um sortudo, com o dia e a hora, um poente magnífico no dia cálido, apetece caminhar mais para ganhar apetite para um jantar de peixe. E depois preparar, entre estes cheiros de maresia o dia de amanhã, o último em Tavira, mas sempre com uma enorme vontade de regressar.

(continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 17 de Agosto de 2019 > Guiné 61/74 - P20067: Os nossos seres, saberes e lazeres (348): Tavira, a encruzilhada de civilizações (1) (Mário Beja Santos)