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domingo, 27 de novembro de 2016

Guiné 63/74 - P16765: Manuscrito(s) (Luís Graça) (102) : Para ti, camarada, que ainda não sabes que vais morrer, às 8h50 da madrugada do dia 26 de novembro de 1970...

Choro para uma morte anunciada!

por Luís Graça


Em memória 
de todas as vítimas 
da Op Abencerragem Candente,
Xime, 26/11/1970,
ontem, hoje, amanhã; 

em memória do Cunha (1948-1970),
em memória do Amaro dos Santos (1944-2014),
em memória de todos nós, afinal...



Esquecer a Guiné, camarada!,
a salada de atum, cebola e tomate,
que vai ser a tua última ração de combate,
e o copo de vinho verde tinto
que tomas de um trago do teu cantil de fel
e o último cigarro
que partilhas connosco,
nharros de 1ª classe, 
tu,  camarada e amigo, ainda "pira",
que não sabes que vais morrer,
à hora marcada, 
às 8h50…

Um, dois,  três, quatro, cinco, seis homens
vão morrer daqui a três ou quatro horas,
às 8h50,
em vinte e seis de novembro
de mil novecentos e setenta,
no cacimbo da madrugada,
na antiga picada do Xime-Ponta do Inglês.
Cinco brancos e um preto,
a lotaria da morte, em L,
numa emboscada que é cubana, 
numa roleta que é russa,
com os RPG, amarelos, "made in China"...
O génio da morte que é, afinal,
universal!

Qualquer um de nós, 
que está aqui à volta da mesa,
pode vir a morrer, camaradas,
na próxima hora!, 
galhofas tu,
com um sorriso amarelo,
para exorcizar os teus medos,
os nossos medos coletivos...

Ou nem isso,
um gajo que se preza,
não fala da morte na guerra, 
às 3 horas da madrugada,
no Xime de todas as batalhas,
a caminho do vespeiro da Ponta do Inglês,
indo exatamente pelo mesmo trilho da véspera,
porque não há outro,
e os olhos e os ouvidos e a boca dos irãs do Xime
não estão do teu lado,
pobre tuga,
que vais morrer a cinco mil quilómetros da tua terra,
lá no teu verde Minho, 
tu que nunca mais irás de Barcelos a Viana,
em noite de romaria!

Camaradas, 
qualquer um de nós pode lerpar
na próxima saída para o mato,
ou até com os cornos enfiados no abrigo,
porque há sempre uma hora
para morrer.
De um tiro no coração,
de um roquetada, 
de uma canhoada,
de uma mina antipessoal, 
do despiste de um Unimog,
de um ataque de abelhas assassinas,
da picadela mortal da cobra verde, 
da explosão de uma granada de morteiro
ou até de paludismo cerebral
ou de simples morte súbita,
fulminado por um raio dos irãs irados,
debaixo do poilão onde dormes com a tua bajuda... 

Esquecer a Guiné, camarada!,
o teu jovem capitão de artilharia, 
vinte e tal anos,
acabado de sair da Academia Militar,
que se recusa a sair com os seus homens
para a Ponta do Inglês…
E o safado do segundo comandante do batalhão
que lhe manda dizer, alto e som,
pelo altifalante da parada:
"O nosso capitão vai e torna a ir,
nem que seja a reboque de uma GMC!"...

Esquecer a Guiné, camarada,
nem que seja por uma noite,
por esta noite 
em que um de nós,  quatro,  
que estão aqui à volta desta mesa tosca, 
vai morrer!

O sabor a sangue e a merda
que a vida aqui tem,
aos vinte e poucos verdes anos,
a merda da Guiné,
a merda verde rubra do Xime,
a merda que te cobre o corpo e a alma,
é muito mais do que a merda toda,
das bolanhas, das lalas e do tarrafo

do Geba e do Corubal!
Podes lavar-te todos os dias,
mesmo que não morras amanhã, 
à hora aprazada,
às 8h50,
que essa merda nunca mais te sai,
nunca mais te sairá, 
nunca mais te sairá do corpo e da alma!
Podes até trocar de camuflado,
de bandeira,
arrancar a pele,
trocar a G3 pela Kalash,
venderes a alma ao diabo,
essa merda que te vai matar,
está te entranhada, 
no corpo e na alma, 
até ao tutano!

Quem disse que descansarás em paz, camarada,
e que a terra da tua pátria te será leve ?!

Meu pobre camarada, 
meus bravos camaradas,
meu Deus,
que pedaço de inferno foi este
que nos coube em vida,
nesta terra?!
_____________

sábado, 26 de novembro de 2016

Guiné 63/74 - P16762: Efemérides (240): a Op Abencerragem Candente, 6 mortos, 9 feridos graves... Faz hoje 46 anos... Msn do antigo cmdt da CART 2715, Vitor Manuel Amaro dos Santos (1944-2014), em 2/3/2012, dois anos antes de morrer, dizendo: "Ando a viver o inferno do Xime"...


Guiné > Zona leste > Sector L1 > Xime > CART 2520 (1969/70) > 20º Pel Art / BAC 1 > O obus 10.5... Na imagem, o fur mil at inf Arlindo Roda, da CCAÇ 12.



 Guiné > Zona leste > Sector L1 > Xime > Madina Colhido > CART 2520 (1969/70) e CCAÇ 12 (1969/71) > Op Boga Destemida > 9 de fevereiro de 1970 >  A helievacuação de feridos em Madina Colhido, no regresso ao Xime ... 

É uma imagem que se repetia ao longo dos meses, sempre ou quase sempre que havia operações à península da Ponta do Inglês, nomeadamente na época seca.  Como acontecerá em 26/11/1970 (*), já no tempo da CART 2715 / BART 2917, a subunidade de quadrícula do Xime que foi render, em maio de 1970, a CART 2520. Era comandada pelo cap art QP Vitor Manuel Amaro dos Santos, então com 26 anos (acabados de fazer em 22 de novembro)... 

Na Op Abencerragem Candente, que envolveu 3 destacamentos (CART 2714, CART 2715 e CCÇ 12), num total de 8 grupos de combate (c. 250 homens), a CART 2715 e a CCAÇ 12 apanharam uma das mais sangrentas emboscadas na história do subsetor do Xime (e até do setor L1), com 6 mortos e 9 feridos graves. Os mortos foram penosamente transportados até ao Xime, em macas improvisadas, os feridos foram encaminhados para Madina Colhido e dali helievacuados para o HM 241, em Bissau... Não temos fotos desse dia de inferno (**)...

Fotos: © Arlindo T. Roda (2010). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Mensagem  enviado por telemóvel ao editor do blogue pelo cor art ref Vitor Manuel Amaro dos Santos (Lousã, 22/11/1944- Coimbra, 28/2/2014), DFA, ex-cmdt da CART 2715 (Xime, 1970/72) (***)... 


É um documento humano extraordinária, escrito dois anos antes  da morte do nosso camarada, que ficou marcado para sempre por este trágico evento. Tive com ele algumas conversas, ao telefone, nem sempre agradáveis, nos primeiros meses de 2012... Ele acompanhava e adorava o nosso blogue mas, no início desse ano,   começou a reagir, negativamente,  a algumas referências à Op Abencerragem Candente e ao facto do seu nome estar associado a esta tragédia.

Temos diversas referências a esta operação, a mais antiga das quais é a do poste P7, de 25 de abril de 2005 (****).

A situação ter-se-á agravado com a publicação, dois anos antes (!),  de um relatório do QG de avaliação do desempenho (segurança, limpeza, disciplina, comando, etc.) do BART 2917 e suas sbunidades de quadrícula e adidas, de que nos fora disponibilizada uma cópia, em suporte digital, pelo Benjamim Durães e pelo Jorge Cabral, se não erro. Como cmdt do Pel Caç Nat 63, o Jorge Cabral também era um dos visados pelos homens do Com-Chefe.

O Amaro dos Santos começou a dar  claros indícios de um patológico complexo de perseguição e vitimização. Acabámos por retirar esse documento, por entendermos que ele violava (ou podia violar) as nossas regras editoriais, ao pôr em causa o comportamento de camaradas nossos que tinham assumido funções de comandantes operacionais, como era o caso do jovem cap art Amaro dos Santos.

Quisemos, além disso, e sobretudo, poupá-lo a mais sofrimento e evitar uma escalada de acusações e até de ameaças, pela parte dele,  e que poderiam configura um caso de "cyberbullying", como diríamos hoje.

Guardei pelo menos 7 mensagens que ele me mandou, por telemóvel, entre 15/2/2012 e 13/6/2012. E entre elas uma, que me tocou muito, por que reveladora da sua sensilidade humama, por ocasião da morte do meu pai, Luís Henriques (1920-2012).

Nunca mais estive com ele depois dessa trágica manhã de 26/11/1970. Em 1/1/1971, ele  deixa o comando da CART 2715, por razões de saúde, sendo evacuado para  o HM 241, em Bissau, e depois para a metrópole. Infelizmente não temos nenhuma foto dele nem temos mais ninguém,  vivo, da sua antiga companhia,  na nossa Tabanca Grande. 

Reconstituimos, várias vezes, ao telefone, esta maldita operação, cuja memória trágica nos perseguia a ambos. Eu recordo hoje, mais uyma vez,  os bravos camaradas que tombaram na antiga picada do Xime-Ponta do Inglês, na manhã de 26/11/1970, o Cunha, o Ribeiro, o Soares, o Monteiro, o Oliveira e o Camará.

Recordo também aqueles que, como o Amaro dos Santos, viveram (ou têm vivido), toda a vida, "o inferno do Xime". (Há ainda mais dois camaradas da CART 2715 que morreram na zona da Ponta do Inglês em data posterior, .já em 1971, . incluindo um alferes)

Por minha decisão, e como homenagem a título póstumo, o Vitor Manuel Amaro dos Santos entrou,  em 28/2/2014,  para a nossa Tabanca Grande, passando a figurar na lista dos 50 camaradas e amigos da Guiné que. até à data,  "da lei da morte se foram libertando". (LG)



Ando a viver o inferno do Xime [em caixa alta]. 
Minuto a minuto. 
Ambos sofremos isso. 
[Você] sabe tudo [o] que fiz para evitar a tal op[eração]…
Sem a CCAÇ 12 talvez tivesse “acampado” [sic
em Gundague Beafada. 
Não existia estrada [Xime-Ponta do Inglês]…. 
Era tudo mata densa… 
Qual dispositivo [?!].
Aceito que o estado maior do CACO [sic
tenha feito relatório 
[, incriminando-me,
porque não denunciei [a] discussão c[om] Anjos [sic
[, 2º cmdt do BART 2917].

Aliás [a] História[da] Unidade diz 
embos[cada] [na] estrada.
[O] relatório [da] op[eração] 
[foi] feito [por] Anjos e cap[itão] Brito 
[, cmdt da CCAÇ 12]. 

Evacuado [, em 1 janeiro de 1971], fui bode expiatório.
Essa op[eração] alterou para sempre 
[o] meu (des)equilíbrio [sic] psico[lógico].  
Amo a paz e os meus rapazes… 
Choro os mortos. 
Os vivos dão-me amizade  q[ue] muito prezo. 
Também tenho filhos e netos… 
Têm orgulho de mim… 
Os seus de si…


Queria ser seu camarigo [sic]… 
mas de pleno direito! 
Se nada me move 
contra quem viveu comigo tal inferno [sic]… 
Se acha que tenho culpa, 
prossiga firme mas s[em] convicções. 

Até sempre camarigo. 
Um abraço sincero. 
Amaro dos Santos, 
2/3/2012, 
10h50

[Revisão / fixação de texto: LG]


Guiné > Zona Leste > Sector L1 (Bambadinca) > Carta do Xime (1961) (1/50000) (pormenor) > As principiais referências toponómicas da subregião do Xime: um triângulo definido pela (i) margem esquerda do Rio Geba (a norte), (ii) a Foz do Rio Corubal (a oeste) e (iii)  a estrada Xime-Bambadinca (a leste): Xime, Ponta Varela, Poindom, Ponta Colhido, Gundagé Beafada, Baio, Buruntoni... e estrada (abandonada) Xime-Ponta do Inglês (destacamanento do Xime, retirado em finais de 1968)...

Infogravura: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2011)

___________




(****) Vd. poste de 25 de abril de 2005 >  Guiné 63/74 - P7: Memórias do inferno do Xime (Novembro de 1970)

terça-feira, 11 de novembro de 2014

Guiné 63/74 - P13871: In Memoriam (205): José Fernando de Andrade Rodrigues (Ribeira das Taínhas, Vila Franca do Campo, 1947- Rio de Mouro, Sintra, 2014)... O único açoriano do BART 2917, além do 2º srgt Saúl Ernesto Jesus Silva, e de mim próprio (Arsénio Puim, ex-alf mil capelão, CCS/BART 2917, Bambadinca, 1970/72)



O ex-alf mil José Fernando de Andrade Rodrigues (1947-2014), natural de Vila Franca do Campo, ilha de São Miguel, RA Açores



Guiné > Zona leste > Setor L1 (Bambadinca) >Xime | CART 2715  (1970/72) >  O Andrade Rodrigues jogando uma partida de xadrez...

Fotos do ábum da família, gentilmente disponibillzadas ao nosso blogue e que chegaram à nossa caixa de correio através dos bons ofícios do Arsénio Puim [ex-alf mil capelão, CCS/BART 2917 (Bambadinca, 1970/72)]




Viana do Castelo, 16 de Maio de 2009 > Convívio do pessoal da CCS / BART 2917 (Bambadinca, , 1970/72) >  Da esquerda para a direita, Benjamim Durães, Arsénio Ouim e Jorge Cabral...  


Foto: © Benjamim Durães (2009). Todos os direitos reservados


1. Mensagem do nosso camarada Arsénio Puim,´ com data de ontem

Luís: Alegro-me com a tua total recuperação.

Quanto a mim, depois do tratamento de radioterapia, muito eficaz, que fiz no no Hospital de Santa Maria, também já me esqueço da doença por que fui afectado, embora continue a fazer de tempos a tempos a consulta de follow up.  Numa das próximas ocasiões tentarei encontrar velhos amigos em Lisboa. Os meus filhos estão aí os dois: o Miguel trabalha numa consultadoria e o Pedro está tirando um mestrado em turismo.

Acabei de participar na missa em memória do nosso camarada,  ex-alferes miliciano José Fernando de Andrade Rodrigues, na igreja da sua freguesia natal, Ribeira das Tainhas, concelho de Vila Franca do Campo, ilha de São Miguel.(*)

Após a missa apresentei os pêsames à sua irmã Dona Matilde Rodrigues em nome dos militares seus companheiros da Guiné, a qual me pediu que vos transmitisse o seu agradecimento pela delicadeza de se terem lembrado do irmão.

Tenho duas fotografias, que enviarei amanhã, já que só então terei alguém que sabe trabalhar com o scanner.

O José Fernando tinha 67 anos. Ele, eu e o sargento Saúl, do Faial, de quem nunca mais soube nada [, 2º srgt art Saul Ernesto Jesus Silva}.  éramos os únicos açorianos do BART 2917 [, sediado em Bambadinca, 1970/72, com a CART 2715 no Xime, a CART 2714 em Mamsabo e a CART 2716 no Xitole]. 

Lembro também o capitão Amaro dos Santps, com quem conversei bastantes vezes nas minhas estadias no Xime, nomeadamente depois da emboscada de 26 de Novembro de 1970. Nessa altura passei no Xime alguns dias, também a pedido do comandante do Batalhão, para prestar algum apoio moral à Companhia. 

O capitão [Vitor Manuel] Amaro dos Santos era uma pessoa sensível e marcada, e numa altura falou-me das cartas comoventes que a mãe do furriel Cunha escrevia para a Companhia. Tenho ideia de que também escrevi a ela uma carta, como capelão.

Descansem em Paz todos os nossos camaradas falecidos!

Os meus melhores votos para ti e esposa, que também recordo com simpatia.
Arsénio Puim

2. Comentários (*) e outras mensagens de camaradas da Tabanca Grande:

(i) Hélder Sousa:

Mais uma notícia de um 'rapaz do nosso tempo' que parte para a 'última viagem'.

Ainda ontem o Francisco Palma me informou.  de outro camarada [, Albino Nunes,] pertencente à Companhia de Cavalaria de Canquelifá do BCAV 2922-  que também faleceu.

É certo que já estamos habituados e que este tipo de notícias tem tendência a ser recorrente e cada vez mais amiúde mas na verdade é que custa sempre.

À família enlutada os meus sentidos pêsames.

(ii) Luís Graça

O Andrade Rodrigues (1947-2014), talvez por ser o alferes mais antigo da CART 2715, substituiu o comandante, o jovem cap art Vitor Manuel Amaro dos Santos (1944-2014),  quando este, em 1/1/1971, praticamente um mês depois da tragédia que foi a Op Abencerragem Candente  saiu da companhia, para o HM 241, em Bissau, com baixa por doença. (Foi a seguir evacuado para a Metrópole, nunca mais tendo regressado à sua subunidade).

Não sabia que era açoriano, o José Fernando de Andrade Rodrigues. Mais um bravo da Guiné que "da lei da morte já se libertou".

Lamento não ter notícias de ninguém da CART 2715. Por minha iniciativa, o Andrade Rodrigues ingressa a título póstumo na Tabanca Grande, sob o nº 671, diretamente através da galeria dos que "da lei da morte se foram liberrtando". O mesmo já tinha acontecido com o primeiro comandante da CART 2715,  o Vitor Manuel Amaro dos Santos.

 Julgo a estar interpretar corretamente a vontade da família (que nos mandou as fotos acima reproduzidas) e de camaradas como o Arsénio Puim, bem como de outros militares do BART 2917 e do setor L1 que o conheceram bem e com ele fizeram operações em conjunto como  foi o caso da CCAÇ 12. Em última análise é também uma homenagem aos 7 mortos da companhia, 5 dos quais na Op Abencerragem Candente. (**)

(iii) David Guimarães

Já morreu o Rodrigues (segundo comandante da Cart 2715 (...)  Não sabia e lamento... Morreu, paz à sua alma.  Que descanse em paz.

O então jovem capitão,  Vitor Manuel Amaro dos Santos (que bem conheci e foi evacuado por doença), sei que se aposentou como coronel... 

A guerra teve coisas do caraças!!! Estórias na nossa história, mas é a vida!!!

Falo com conhecimento pessoal pois que todos pertencíamos ao mesmo Batalhão

Abraço.....

(iv) Jorge Cabral

Conheci no Xime o Rodrigues e privei com ele em Lisboa. Funcionário Judicial no então chamado Tribunal de Polícia, nunca fui ao Palácio da Justiça, sem o ter procurado.

Licenciado em História,  era um homem culto e conservava um cerrado sotaque açoriano. Ainda bebemos uns valentes copos... Que descanse em paz!  (***)

_______________


(i) CCS /BART 2917

- Picador Seco Camará, assalariado: Morto em 26/11/70 na Operação “Abencerragem Candente”, está sepultado em Nova Lamego.

(...) (iii) CART 2715

- Alferes Mil Atirador João Manuel Mendes Ribeiro, nº 17853469; morto em 04/10/71 na Operação “Dragão Feroz”; está sepultado em Castelo Branco;

- Furriel Mil Mec Auto Joaquim Araújo Cunha, nº 14138068; morto em 26/11/70 na Operação “Abencerragem Candente”; sepultado em Barcelos;

- 1º Cabo Atirador José Manuel Ribeiro, nº 18849069, morto em 26/11/70 na Operação “Abencerragem Candente”, sepultado em Lousada;

- Soldado Atirador Fernando Soares, nº 06638369, morto em 26/11/70 na Operação “Abencerragem Candente”, sepultado em Fafe;

- Soldado Atirador Manuel Silva Monteiro, nº 17554169, morto em 26/11/70 na Operação “Abencerragem Candente”, sepultado em em Condeixa-a-Nova;

- Soldado Atirador Rufino Correia Oliveira, nº 17563169, morto em 26/11/70 na Operação “Abencerragem Candente”, sepultado em Oliveira de Azeméis;

- Guia Nansu Turé, assalariado, morto em 04/10/71 na Operação “Dragão Feroz", sepultado em Bafatá. (...)

(***) Último poste da série > 10 de novembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13869: In Memoriam (204): Carrondo Leitão, ex-Piloto de Alouette III na Guiné (António Martins de Matos, TGen Pilav Ref)

sábado, 8 de novembro de 2014

Guiné 63/74 - P13863: In Memoriam (203): José Fernando de Andrade Rodrigues, ex-alf mil at, e cmdt interino (de 1/1/71 a 1/3/71), da CART 2715 / BART 2917 (Xime, 1970/72)... Morava em Rio de Mouro, Sintra... Será amanhã celebrada missa em sua homenagem, na sua terra natal, Ribeira das Taínhas, Vila Franca do Campo, Ilha de São Miguel, RA Açores (Arsénio Puim, ex-alf mil capelão, CCS/BART 2917, Bambadinca, 1970/72)

1. Mensagem do nosso camarada Arsénio Puim, ex-alf mil capelão, CCS/BART 2917 (Bambadinca, 1970/72) [foto à esquerda]

De: Arsénio Puim

Data: 7 de Novembro de 2014 às 22:25

Assunto: Falecimento do nosso companheiro da Guiné José Fernando Rodrigues


 Amigo Luís Graça:

Envio-te uma notícia relativa ao falecimento do nosso companheiro da Guiné José Fernando [de Andrade] Rodrigues, a qual podereis usar para uma informação no blogue, se porventura ainda não o fizestes.

Um abraço - Arsénio Puim


No próximo domingo, dia 9 de Novembro, será celebrada missa em memória do nosso camarada José Fernando de Andrade Rodrigues, que faleceu no passado dia 29 de Outubro. 

A cerimónia terá lugar na igreja paroquial de Ribeira das Tainhas, concelho de Vila Franca do Campo, Ilha de São Miguel, Região Autónoma dos Açores, onde nasceu e viveu e onde residem ainda hoje os seus irmãos.


José Fernando integrou o BART  2917 [, Bambadinca, 1970/72,] como alferes miliciano,. tendo, pertencido  à companhia operacional sediada no Xime 
[, CART 2715]

[Está, de resto, na lista dos comandantes da companhia, por esta ordem: cap art Vitor Manuel Amaro dos Santos, alf mil inf José Fernando de Andrade Rodrigues, cap srt Gualberto Magno Marques, cap inf Artur Bernardino Fontes Monteiro, cap inf José Domingos Ferros de Azevedo].

 Gozava de grande estima no batalhão e era conhecido pelo seu espírito jocoso e divertido.


Faleceu vítima de doença oncológica, em Rio do Mouro, concelho de Sintra, onde residia. 



2. Não temos, infelizmente, nenhum registo fotográfico do nosso camarada José Fernando de Andrade Rodrigues. Os sentídos pêsames de toda a Tabanca Grande para a família e amigos mais chegados, bem como para os nossos camaradas da CART 2715. Vou pedir ao camarada Puim que nos represente a todos, na cerimónia religiosa de amanhã e que, se possível, nos arranje uma foto do nosso camarada com quem fiz, se não erro, a trágica Op Abencerragem Candente, 25 e 26 de novembro de 1970. LG

Na História da Unidade - BART 2917 (Bambadinca, 1970/72) pode ler-se:

(...) "O Comando das companhias do batalão não sofreu alterações com excepção da CART 2715 (...):

- De 15 nov 69 a 01 jan 71: Pelo Capitão de Artilharia Vitor Manuel Amaro Santos. (Evacuado em 01 juan 71 para o HM 241 em Bissau e posteriormente para a Metrópole);

- De 01 jan 71 até 01 mar 71: Pelo Alferes Mil  Inf  Joseé Fernando Andrade Rodrigues (Interinamente);

- De 01 mar 71 até 16 jul 71: Pelo Capitão de Art Gualberto Magno Passos Marques (Comandante da CCS/BART 2917) (Interinamente);

- De 16 jul 71 até 11 out 71:  Pelo Capitão de Infantaria Artur Bernardino Fontes Monteiro (Em 11 out 71 regressou a Bissau a fim de aguardar transporte para a Metrópole por ter terminado a sua comissão de serviço nesta Província);

- De 11 out 71 até 27 mar 72: Pelo Capitão de Infantaria José Domingos Ferros Azevedo." (...)

________________

Nota do editor:

Último poste da série > 8 de novembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13862: In Memoriam (202): Albino Nunes, CCAV 2748 / BCAV 2922 (Canquelifá, 1970/72)... Que Deus o tenha em bom lugar (Francisco Palma)

sexta-feira, 7 de março de 2014

Guiné 63/74 - P12803: Manuscrito(s) (Luís Graça) (24): O inferno do Xime: à memória do Vitor Manuel Amaro dos Santos (1944-2014), ex-cmdt da CART 2715 (Xime, 1970/71)

O inferno 
da antiga picada 
do Xime-Ponta do Inglês




por Luís Graça







À memória do Vitor Manuel Amaro dos Santos  
(22/11/1944-28/2/2014), 
ex-cmdt da CART 2715 (Xime, 1970/71);
e aos nossos bravos camaradas 
Cunha, Ribeiro, Soares, Monteiro, Oliveira e Camará,
caídos em combate, 
na Op Abencerragem Candente, Xime, 
em 26/11/1970.



Não havia nada, na antiga estrada
do Xime-Ponta do Inglês,
ligando o Geba ao Corubal.
Não havia nada naquele lugar
que era de tormento,
àquela hora mortal da madrugada.
Nada, onde um homem
pudesse afogar a sua sede,
matar a sua fome,
aliviar o seu sofrimento,
espantar o seu medo.
Nem sequer um banco de pedra
como aquele em que agora me sento,
frente ao Tejo, 
fresco, límpido, matinal,
e onde alguém escreveu, em letra garrafal: 

Amo-te, Marta, és a razão do meu viver!

Hoje estou à beira Tejo
e não vou a caminho da Foz do Corubal.
O Tejo corre para o Atlântico,
e o Corubal para o Geba.
Em Lisboa tenho o azul do céu,
que é o azul do desejo
e, dizem, o azul mais puro do mundo.
No Geba, tenho uma G3,
tarrafo, lodo, merda,
dois cantis, 

duas granadas,
um céu de bronze,
e mil e uma razões 

para (sobre)viver.


Nem poderia haver
nenhum banco de pedra,
nem nenhum jardim,
nem nenhuma Marta à minha espera.
Nem muito menos nenhuma Marta
que fosse a minha razão de viver.
Quando muito, um fantasma,
surgido do cacimbo matinal,
por detrás do baga-baga, 
armado de Kalash!

Não tinha, de resto, nenhuma razão de viver,
raison d’ètre

diria a minha copine,
se eu fosse refratário, ou desertor,
e tivesse dado o salto para França.
Não tinha nenhuma razão de viver, 

não, senhor,
nem de morrer,
nem de matar,
não tinha sequer nenhuma razão
para estar ali, 
àquela hora.

Não, não havia nada na antiga picada, 
abandonada,
do Xime-Ponta do Inglês.
Nem um pub irlandês
com a ruiva Guiness, delambida,
a piscar-te olho, 
a ti, herói português, 
com um improvável genoma celta.
Nem sequer uma tasca afadistada
da tua saudosa Lisboa da Mouraria,
com a perna da morena, 

 esbelta,
a faca na liga, 
deixando antever, 
lânguida,
os doces mistérios da sua floresta-galeria.

Não, não havia nada,
nem uma decrépita gasolineira
dos filmes do Faroeste da tua infância,
onde abastecer a tua Daimler,
salta pocinhas, minas e armadilhas,
em que ias de Bambadinca ao Xime,
simplesmente para beber uma cerveja,
ou por pura bravata,
noutra estação, 

noutra paragem,
sem escolta nem picagem,
num jogo de roleta russa.
Nem muito menos a Marta-Mátria,
republicana e laica, 
verde e rubra,
de peito feito às balas,
dando a volta à cabeça dos rapazes,
mancebos, 

de viril membro,
em passada a Festa das Sortes,
na Feira Grande de Setembro,
Vai mais um tirinho, ó freguês!

Não, não havia nada,
nem sequer uma simples mulher,
uma fêmea de larga bunda,
ou até uma simples mulher polícia sinaleira,
cata-ventos, 

bailarina,
redondinha, 

assexuada,
de pelo na venta 

e apito na boca,
no cruzamento dos quatro caminhos.

Não, já não vou de G3 em punho,
em defesa da honra das donzelas
da minha Pátria, 
chamem-se elas
Marta ou Mátria!
Não, já não vou, 
cego, surdo e mudo,
a correr, disposto a morrer,
com ganas de gritar Pátria ou Morte!,
na velha picada, abandonada,
do Xime-Ponta do Inglês 

onde não havia nada,
nem ao menos um tosco espanta-pardais,
especado no meio do capim,
em vez do campo de mancarra do fula.
Ou do teu jardim, 

do teu Éden.
Ou até uma simples seta,
de pau tosco,
a apontar a meta,
a apontar-te a direção do inferno,
a maldição bíblica do pecado,
omnipresente, 
obsessivamente eterno.

Havia, apenas, o fim da picada,
o mal absoluto,
o inferno.
À minha espera, 
à nossa espera.
Às 8h45 da manhã 

do dia 26 de Novembro
de mil novecentos e setenta.
Da era de Cristo.
… E Conacri ali tão perto!

O caminho mais curto para o inferno ?
Não o vês, ó bravo soldado português?!,
a picada, abandonada, do Xime-Ponta do Inglês,
onde Cristo seguramente nunca parou
nem amou, 
nem penou,
nem sofreu, 
nem pecou,
nem muito menos rezou.
O teu Cristo etnocêntrico, judeu, semita,
que nem sequer era caucasiano,
e nem muito menos sabia 

onde era a Senegâmbia
ou sequer o Império do Mal(i).

Pensar global, 
sonhar alto, 
agir local,
meu sacana…
Ou melhor ainda: não pensar, 
muito menos sonhar,
tiro instintivo, 

a varrer o capim.
Eis a ordem do capitão 

que tem acima o major,
na sua avioneta, 

no seu PCV,
e no topo o general, 
o Com-Chefe, 
o Caco Baldé,
Herr Spínola, 
o Homem Grande da Guiné.

E à frente de todos,
com o seu inseparável cachimbo,
o Seco Camará, 

seco de carnes, 
velho e valoroso guia das NT,
pau para toda a obra, 
cão rafeiro, 
cão de fila, 
sábio e matreiro,
mandinga do Xime,
herói da minha galeria de heróis,
verdadeiro líder, 
etimologicamente falando,
aquele que vai à frente mostrando o caminho.
E que vai morrer.

Nesta guerra de baixa intensidade,
não dês vazão 

ao Tratado das Paixões da Alma.
E por favor, seus cabrões, poupem-me as munições!
Da NATO!
Dizem que a glória te espera, no mato,
com direito a cruz de guerra com palma!

escreveu um serial killer
roqueteiro,
com fama de fazer saltar cabeças a 50 metros,
ao longo da alameda dos bissilões.
Vai para casa, tuga, 
lá na cidade,
que a Marta, a tua namorada, 
põe-te os cornos!

Não, não havia nada
naquela picada, 

quinta-feira, 6 de março de 2014

Guiné 63/74 - P12796: In Memoriam (185): Vitor Manuel Amaro dos Santos (1944-2014), cor art ref, ex-cap art, cmdt, CART 2715 (Xime, 1970/71)...


Guiné > Zona leste > Setor L1 (Bambadinca) > Xime > c. 1969/70 > Vista aérea da tabanca do Xime, onde estava sediada uma unidade de quadrícula... Em 26 de novembro de 1970, era a CART 2715 / BART 2917, comandada pelo jovem cap art Vitor Manuel Amaro dos Santos (1944-2014).

Foto: © Humberto Reis (2006). Todos os direitos reservados. [Edição: L.G.]


1. Através do Rui Santos Silva [, nascido em 1945, oficial de cavalaria, que terminou o curso da Academia Militar em 1969,  fez  uma comissão no TO da Guiné, em 1971/73, e é residente em Coimbra,] em mensagem publicada na página do Facebook da União dos Antigos Combatentes da Guerra do Ultranar, com data de 1 do corrente, tivemos a triste notícia do desaparecimento de mais um camarada da Guiné:

Informo que faleceu ontem (dia 28 de Fevereiro) o Ex-Combatente Cor de Artilharia Vitor Manuel Amaro dos Santos,  residente em Coimbra. O funeral realizar-se hoje para Foz do Arouce, Lousã.
Nascido a 22-11-1944,  tem 3 comissões no Ultramar: Guiné, Angola, Angola.

2. Nota de pesar do nosso editor L.G. e do nosso blogue [, uma outra versão foi publicada no Facebook]:

Conheci-o na Guiné... Pertencia ao BART 2917 (zona leste, setor L1, Bambadinca, 1970/72)... 

A sua companhia, a CART 2715 (Xime, 1970/72),  sofreu, juntamente com a minha, a CCAÇ 12 (Bambadinca, 1969/71) uma violentíssima emboscada, no decurso da Op Abencerragem Candente, a 26/11/1970..., quatro  dias depois da invasão de Conacri... Resultados: 6 mortos e 9 feridos, incluindo o meu amigo fur mil Joaquim Araújo Cunha, com quem tinha estado a meio da noite, talvez por volta das 3 horas da manhã, a beber um copo antes de sairmos de novo, a caminho do inferno...

O jovem cap art Vitor Manuel Amaro dos Santos, então com 26 anos, nunca mais terá sido o mesmo!... Falei com ele duas ou três vezes ao telefone... A nossa última conversa, há dois anos atrás, não foi fácil... Ele adorava o blogue mas tinha reservas em relação a  algumas referências à Op Abencerragem Candente e ao facto do seu nome estar associado a esta tragédia.

Diria mesmo que ele acompanhava, com emoção e paixão, o blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné...  Convidei-o, no devido tempo, a integrar a nossa Tabanca Grande, e publicar a sua versão dos acontecimentos que levaram à morte de cinco dos seus homens (a que se deve juntar a morte do guia e picador das NT Seco Camará, desde sempre ligado ao Xime, mas na altura ao serviço da CCS/BART 2917, e a viver em Bambadinca)... Essas mortes causaram-lhe profunda amargura... Por razões de saúde, vê-se obrigado a deixar o comando da sua CART 2715, logo em  1 de janeiro de 1971. Era DFA.

Prometo publicar, em breve, um poste complementar em homenagem à memória que lhe é devida... Como comandante operacional, o cap art Amaro dos Santos era um camarada nosso que devemos respeitar, e cujo nome eu gostaria de ver aqui ao lado dos nossos camaradas e amigos que da lei da memória se foram libertando...

Para a sua família e para os nossos camaradas da CART 2715/BART 2917, vão os nossos sentidos votos de pesar e de solidariedade na dor (**)...  (LG)

_________________

Notas do editor:

(*) Vd poste de 9 de janeiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9335: História do BART 2917 (Bambadinca, 1970/72): Baixas: mortos e feridos (Benjamim Durães)


(...) CAPÍTULO III > BAIXAS SOFRIDAS, PUNIÇÕES, LOUVORES E CONDECORAÇÕES
A - BAIXAS SOFRIDAS PELAS NT

1 – EM COMBATE

a) - MORTOS

(i) CCS /BART 2917

- Picador Seco Camará, assalariado: Morto em 26/11/70 na Operação “Abencerragem Candente”, está sepultado em Nova Lamego.

(...) (iii) CART 2715

- Alferes Mil Atirador João Manuel Mendes Ribeiro, nº 17853469; morto em 04/10/71 na Operação “Dragão Feroz”; está sepultado em Castelo Branco;

- Furriel Mil Mec Auto Joaquim Araújo Cunha, nº  14138068; morto em 26/11/70 na Operação “Abencerragem Candente”; sepultado em Barcelos;

- 1º Cabo Atirador José Manuel Ribeiro, nº 18849069, morto em 26/11/70 na Operação “Abencerragem Candente”, sepultado em Lousada;

- Soldado Atirador Fernando Soares, nº 06638369, morto em 26/11/70 na Operação  “Abencerragem Candente”,  sepultado em Fafe;

- Soldado Atirador Manaule Silva Monteiro, nº  17554169, morto em 26/11/70 na Operação “Abencerragem Candente”, sepultado em em Condeixa-a-Nova;

- Soldado Atirador Rufino Correia Oliveira, nº 17563169, morto em 26/11/70 na Operação “Abencerragem Candente”, sepultado em Oliveira de Azeméis;

- Guia Nansu Turé, assalariado, morto em 04/10/71 na Operação “Dragão Feroz", sepultado em Bafatá. (...)