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segunda-feira, 7 de setembro de 2020

Guiné 671/74 - P21334: Notas de leitura (1303): “Escravos em Portugal, Das origens ao século XIX”, por Arlindo Manuel Caldeira; A Esfera dos Livros, 2017 (Mário Beja Santos)



1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 23 de Junho de 2017:

Queridos amigos,

“Escravos em Portugal, Das origens ao século XIX”, do historiador Arlindo Manuel Caldeira, é um livro importantíssimo, uma leitura irrecusável para quem queira conhecer as histórias dos escravos em Portugal. Estima-se que dos séculos XV a XVIII tenha havido, no continente e ilhas, um milhão de pessoas sujeitas a cativeiro. O autor explica a essência do seu trabalho: "Não é uma história da escravatura em Portugal, mas uma história de escravos".

Os protagonistas involuntários de um regime social injusto, excluídos entre os excluídos são, enquanto pessoas, os protagonistas deste livro. Como era feita a compra e venda de escravos, qual era a relação entre o senhor e o escravo, como era utilizada a mão-de-obra cativa? E depois da abolição legal, como se transformou a vida destas pessoas? Obviamente que aqui se centram as observações na Guiné e guineenses.

Um abraço do
Mário


Histórias de escravos guineenses em Portugal

Beja Santos

“Escravos em Portugal, Das origens ao século XIX”, por Arlindo Manuel Caldeira, A Esfera dos Livros, 2017, é um documento notável, uma investigação de altíssima qualidade que em sequência cronológica e graças a uma comunicação arrebatadora que prende o leitor do princípio ao fim nos dá um retrato rigoroso e fiel do que foi a escravatura antes do século XV, a proveniência dos escravos a partir da Expansão, onde e de que modo se processava a compra e venda de escravos, a geografia da sua presença no continente e ilhas, o que faziam, qual a relação entre o senhor e o escravo, mentalidades, família, sexualidade e final de vida em escravidão e, por fim, as etapas que levaram à liberdade e todo o processo sinuoso e contraditório do depois da abolição legal da escravatura.

Confinam-se as notas seguintes ao que o autor refere sobre escravos provenientes dessa costa africana que dava pelo nome de Senegâmbia. Partindo da exploração da costa africana, menciona o contrato celebrado por Fernão Gomes com o rei D. Afonso V que se traduziu no arrendamento do monopólio do comércio da Guiné, com exceção de Arguim e do litoral fronteiro ao arquipélago de Cabo Verde, que estava reservado ao resgate dos moradores. 

Detém-se sobre a feitoria de Arguim e lança um olhar às ilhas de Cabo Verde. D. João II planeou a instalação, em 1488, de uma feitoria-fortaleza na embocadura do rio Senegal, da mesma forma que, anos antes, mandara levantar a fortaleza da mina. Este projeto da feitoria da Senegâmbia falhou rotundamente. O povoamento das dez ilhas do arquipélago de Cabo Verde irá contar maciçamente com escravos oriundos do vasto litoral africano. 

Como forma de atrair povoadores, D. Afonso V concedeu aos moradores de Santiago vários privilégios, entre os quais o livre comércio com a costa da Guiné (com exceção de Arguim), prerrogativa que foi, alguns anos depois, definida com maior rigor e restringida à região entre o rio Senegal e a Serra Leoa. 

Importa dizer que entre os pontos onde o resgate se tornou mais intenso destacava-se a que é hoje a baía de Dakar, as bacias dos rios Gâmbia, Casamansa, S. Domingos, Geba e rio Grande de Buba (o rio Grande das crónicas seiscentistas), além do arquipélago dos Bijagós. Já mais ao Sul, traficava-se na embocadura do rio de Nuno (ou Nunes) e em vários pequenos portos junto da Serra Leoa. Trata-se de uma extensão de mais de mil quilómetros, que corresponde hoje à fachada atlântica de cinco países: Senegal, Gâmbia, Guiné-Bissau, Guiné Conacri e Serra Leoa, essa ampla facha era designada pelos portugueses pelo nome de rios de Guiné ou rios de Guiné do Cabo Verde.

Falando do transporte dos escravos, o historiador refere que desconhecemos as condições em que, por exemplo, navios ingleses traziam escravos para Lisboa; mas sabe-se que as embarcações portuguesas saídas de Cacheu ou de Cabo Verde, pelo menos uma parte dos cativos acompanhavam os seus proprietários, funcionários de regresso à metrópole ou moradores de Cabo Verde ou da Guiné em trânsito para Portugal.

Para entender a compra e venda de escravos é preciso falar da Casa da Guiné. O autor pormenoriza a localização da Casa da Guiné ou Casa da Mina e Tratos da Guiné que se irá começar a diluir na Casa da Índia, a partir dos fins do século XVI. 

Quando começaram as chegar as primeiras levas de “negros da Guiné”, os procuradores do povo às cortes de Coimbra / Évora requeriam ao rei que não permitisse a exportação de escravos. Entendia-se que o reino se estava a despovoar e que era preciso aumentar a mão-de-obra e conter com a escravatura os salários dos jornaleiros. 

São inúmeras as histórias que Arlindo Caldeira nos conta acerca das peripécias dos escravos. Vejamos a de José Menezes que nasceu na Guiné em meados do século XVII, ainda na sua terra passou a servir um senhor português, batizaram-no quando tinha 10 ou 11 anos, veio com 14 ou 15 anos para Lisboa, o navio em que viajava foi capturado por corsários argelinos, acabou escravo na cidade de Argel. Foi persuadido a que se fizesse mouro e deixasse a fé católica, passou a ser tido e havido por mouro. Depois de estar cativo em Argel há 9 ou 10 anos, falando um dia com católicos que lá estavam, contou-lhes que era cristão. 

O que interessa é que em 1682, andando no mar no navio do seu senhor, a embarcação foi capturada pelos ingleses e trouxeram-no para Lisboa onde o puseram à venda. Teve sorte, pois foi parar “ao serviço de Sua Majestade”. A Inquisição quis saber pormenores do seu passado, fez abjuração de leve suspeito na fé e absolvido na excomunhão em que podia ter incorrido. Enfim, um final feliz. A língua da Guiné atraiu escritores, caso de Gil Vicente que a refere em Frágua do Amor, 1524.

Referência importante quanto a práticas mágicas, envolvendo guineenses é dada quando se fala de bolsas de Mandinga, amuleto protetor. Escreve a tal título o autor:  

“Bolsas de Mandinga, também chamadas no Brasil patuás, pequenas bolsas de pano ou couro, contendo orações a santos e uma série de outros componentes, destinadas a ser penduradas ao pescoço, ou cozidas na roupa, era suposto impedirem os ferimentos provocados por arma branca e tornaram o portador insensível às pauladas. A origem das bolsas de Mandinga parece ser o território Mandinga da Alta Guiné, islamizada no século XVIII. A islamização, com a consequente valorização da palavra escrita, está na origem da introdução de pequenos textos de carácter sagrado escritos em árabe, num tipo de bolsa já antes utilizado como talismã pelas populações locais”. 

O autor conta histórias sugestivas acerca de alguns mandingueiros.

Para quem pretenda conhecer uma narrativa erudita redigida numa comunicação muito acessível, este livro do historiador Armindo Manuel Caldeira está na primeira linha, pela quantidade de investigação e pela qualidade da análise, o leitor depois de poder apreciar o que foi a vida dos escravos acompanhará as peripécias do que foram as promessas da liberdade e as dificuldades em fazer cumprir a abolição legal. 

Importa não esquecer que a escravatura continua a existir, foram os escravos um dos pilares da civilização portuguesa, basta ler o que escreveu Mouzinho da Silveira, um dos vultos incontornáveis do liberalismo português: 

“Os Portugueses se atormentam, se perseguem e se matam uns aos outros por não terem entendido que o Reino, tendo feito grandes conquistas, viveu por mais de três séculos do trabalho dos escravos e que, perdidos os escravos, era preciso criar uma nova maneira de existência, multiplicando os valores pelo trabalho próprio”.
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Nota do editor

Último poste da série de 2 de setembro de 2020 > Guiné 671/74 - P21314: Notas de leitura (1302): entrevista de José Matos ao "Diário de Aveiro", de 1 do corrente, sobre o seu último livro “O Estado Novo e a África do Sul na Defesa da Guiné - Nos meandros da guerra"

sexta-feira, 28 de agosto de 2020

Guiné 61/74 - P21302: Notas de leitura (1300): “Castelos a Bombordo, Etnografias de Patrimónios Africanos e Memórias Portuguesas”, coordenação de Maria Cardeira da Silva; edição do Centro em Rede de Investigação em Antropologia, 2013 (1) (Mário Beja Santos)



1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 21 de Junho de 2017:

Queridos amigos,
Trata-se de um projeto de investigação financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia, revisitar rotas que ligam historicamente Portugal a alguns países árabes e islâmicos (Marrocos, Mauritânia), alargando-se depois a outros países africanos (Senegal, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique) investido na análise de memórias, nostalgias e outros recursos patrimoniais.
Creio que para muitos haverá surpresa sobre o que se pode entender como a memória de presença portuguesa nesta região que hoje pertence ao Senegal, foi presença influente e depois diluiu-se, permitindo a intrusão francesa sobretudo a partir dos anos 1830, nesta tão fértil região de comércio.
Muita gente de Ziguinchor sentiu-se atraiçoada pelas negociações luso-francesas, foi um taco a taco diplomático em que Portugal teve a ilusão que ao entregar esta parcela de território ia receber vastas compensações, tudo fantasia.

Um abraço do
Mário


No Casamansa, à procura de memórias portuguesas

Beja Santos

“Castelos a Bombordo, Etnografias de Patrimónios Africanos e Memórias Portuguesas”, coordenação de Maria Cardeira da Silva, edição do Centro em Rede de Investigação em Antropologia, 2013 é uma publicação associado a um projeto financiado pela Fundação para Ciência e Tecnologia, projeto que visa analisar reconfigurações étnicas e novas figurações identitárias em territórios pisados pelos portugueses e onde confluíram povos africanos das mais diferentes proveniências. É um projeto aliciante onde se fala de Marrocos, até de Marrocos no Brasil, de Portugal nos confins sarianos, do Casamansa, da ilha de Moçambique e até do primeiro cruzeiro de férias de colónias a bordo do paquete Moçambique, em 1935. Francisco Leitão é o autor do texto intitulado Existências e Utilizações Contemporâneas da Casamansa Portuguesa.

O autor começa por nos recordar que desde meados do século XV e início do século XVI, Portugal estabeleceu uma presença comercial na costa ocidental africana, assente no comércio de escravos, baseada na fundação de feitorias. Os portugueses chegaram a Casamansa principalmente interessados no ouro, no marfim e nos escravos. A partir de meados do século XVI, percorriam a área compreendida entre o rio Cacheu e a Gâmbia na senda destes comércios. Em troca dos escravos, nesta época, os portugueses traziam ferro, vinhos, algodão, cavalos, contaria da Índia, entre outros. O manuscrito de Valentim Fernandes não deixa dúvidas quanto ao facto de, 50 anos depois da sua descoberta, o rio Casamansa ser já frequentemente utilizado para o comércio pelos portugueses. Tudo se irá alterar com a evolução do comércio de escravos, com a descoberta e exploração da América que se irá expressar num dos mais famosos sistemas de comércio triangular (Lisboa – Santiago – Bissau ou Cacheu – Maranhão – Lisboa), que veio contribuir para o papel fulcral de Cabo Verde na influência portuguesa na região da Senegâmbia.

Desenvolve-se uma comunidade de lançados em Ziguinchor, em 1621 a povoação tinha 15 casas de comerciantes portugueses, uma igreja, um padre e muitos cristãos locais. Nos anos seguintes, a vila tornar-se-á no principal entreposto de troca no rio entre luso-africanos e bainuncos. Mais tarde, Ziguinchor será classificada como presídio dependente da capitania de Cacheu. Recorde-se que o objetivo destes presídios era proteger a rota vertical de escravos que ligava regiões do interior da atual Gâmbia a Cacheu e Bissau.

Mais observa o autor que a maioria dos dados atualmente disponíveis sobre a história do Casamansa e Ziguinchor saltam de 1645 diretamente para 1846 ou mesmo 1886, quando Ziguinchor é cedida a França. No período intermédio existe pouca ou nenhuma documentação. Sabe-se, no entanto, que gentes de Cabo Verde tinham grande influência sobre a costa Norte-Ocidental africana mas não se sabe como esta presença se coordenava com a presença portuguesa europeia. Em 1623, um holandês em Cacheu dividiu ali o comércio em dois tipos: aquele que era realizado com a metrópole e o que era feito com os que viviam na ilha de Santiago. No século XVII, Cacheu era muito visitada por embarcações provenientes, não só de Cabo Verde, mas também de Sevilha e de Portugal.

Em toda a literatura não existem praticamente referências a Casamansa e Ziguinchor, ou porque não há registos históricos ou porque não foram suficientemente investigados. Paradoxalmente, Casamansa é repetidamente referida como uma zona de influência portuguesa. Também não se ignora que os séculos XVII e XVIII foram um período de enfraquecimento da presença portuguesa. Seja como for, por volta de 1760, cresceu o ascendente luso-africano sobre Ziguinchor e o controlo português-europeu, aos poucos os luso-africanos foram substituindo os portugueses em lugares representativos. Mas no início do século XIX, encontramos Ziguinchor administrativamente órfã, nas mãos de uma burguesia portuguesa de origem cabo-verdiana e com ligações à Guiné. É um tempo em que o cargo de capitão passava de pai para filho, uma espécie de domínio dinástico que diz bem do abandono a que estava votada esta remota extensão do império português. Economicamente, a vila vivia de um comércio de pouca envergadura e à margem dos fluxos internacionais de troca.

Em sentido inverso à remota presença portuguesa, os franceses entram em cena nos anos 30 do século XIX, compram terrenos no rio e em 1838 principiam os trabalhos para se instalarem definitivamente em Sédhiou (em português Sedjo). Recrudescem os conflitos na região, acirram-se as disputadas de soberania que implicaram repetidas trocas de bandeiras, multas, alguns encerramentos e represálias sobre as populações. Os franceses, a partir de Goré, começam a insistir na anexação de Ziguinchor, movidos pela sua localização geográfica associada a motivações comerciais. Isto passa-se ao tempo em que não estão delimitadas as fronteiras entre o Senegal e a Guiné Portuguesa. Com a Convenção Luso-Francesa de 12 de Maio de 1886, Portugal cede oficialmente Ziguinchor e a região do Casamansa, recebe em troca o rio Cacine e direitos de pesca na Terra Nova. Em 1901, a população mestiça, cabo-verdiana e bainunco-descendente, com conexões a Bissau e falante de crioulo é relocalizada num bairro novo, periférico. É aqui que vão ficar os sinais da presença portuguesa. Para o autor distinguem-se, com segurança, quatro vetores da influência portuguesa no Casamansa: a situação geográfica e a proximidade com a antiga Guiné Portuguesa, os permanentes intercâmbios com Cacheu; os lançados, juntamente com os explorados e os comerciantes, funcionaram como agentes de disseminação de uma cultura portuguesa proveniente da metrópole: a população cabo-verdiana manteve um contacto próximo e regular com o continente e provavelmente com o Casamansa; por fim, os fenómenos de reprodução e evolução local, caso da língua e religião. Escreve o autor: “Esta reprodução foi mais acentuada em Ziguinchor e, pelo que apurei no terreno, a Leste desta vila, na região das atuais aldeias de Sindone e Adeane”.

A presença colonial francesa procurou passar uma esponja sobre o passado português. Mas qual é a realidade que o estudioso observou? Ele escreve: “Hoje, em Ziguinchor, reside uma população espacialmente concentrada que mistura influências bainunco e cristã que continua a utilizar o crioulo como língua principal de comunicação. O crioulo é falado por uma grande parte da população idosa de algumas zonas de Casamansa e o fluxo constante de migrantes da Guiné-Bissau contribui permanentemente para o reativar (…) A presença portuguesa relaciona-se intimamente com a história da etnia bainunco. Os bainuncos são a população autóctone e foram, em tempos, a etnia dominante de Casamansa. Tornaram-se virtualmente extintos, já que foram absorvidos ou conquistados por outros grupos”.

A memória portuguesa paira sobre o fenómeno separatista na região. Ainda é comum o uso da alegação que Casamansa não é francesa (e, logo, senegalesa) mas sim portuguesa (e logo, independente ou ligada, de alguma forma, à Guiné-Bissau). Trata-se de um discurso que predomina em jovens intelectuais independentistas muçulmanos de etnia diola.

Para o auto onde a existência portuguesa é mais evidente é nos edifícios e também a referência, muito frequente, de que foram os portugueses que colonizaram a ilha de Carabane, uma aldeia histórica que simboliza, talvez mais que qualquer outra, a presença colonial francesa em Casamansa, já que foi capital desta sub-região administrativa da África ocidental francesa. Há uma outra via de ligação ao passado português, a qual possui uma conotação que não poderia ser mais negativa: Ziguinchor, nas palavras de quase todos os casamansenses, é um nome que tem origem no português “cheguei e chorei” – a reação emocional à função esclavagista da vila (Ziguinchor foi um presídio esclavagista português) – que, por corrupção fonética, teria formado o nome da cidade. Outra observação do autor é que há inúmeros lugares na região onde alguém pode passar por nós e nos cumprimentar com um “bom dia” foneticamente tão português como se estivéssemos em Alfama.

A finalizar o seu trabalho o autor discreteia sobre o papel da memória e como a história não destruiu certos mecanismos coletivos, plurais e individualizados. Casamansa revela-se uma sociedade de memória, as utilizações do passado português por ali pululam, e ninguém sabe qual o seu destino. E deixa-nos uma frase sibilina: o remexer e vasculhar positivista e historiográfico do passado é o privilégio de um presente que não se agita facilmente. Para meditar.


A capa e contracapa deste livro é um verdadeiro achado, trata-se do tabuleiro do jogo “Cruzeiro ao Mundo Português”, da Majora, um género de jogo da Glória com as parcelas do império, começando pela viagem até à Índia e acabando na Torre de Belém. A Guiné era simbolizada pela fortaleza de Cacheu.

Ziguinchor
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Nota do editor

Último poste da série de 24 de agosto de 2020 > Guiné 61/74 - P21289: Notas de leitura (1299): “Capitães do Fim… Uma radiografia estatística”, por António Inácio Correia Nogueira; Chiado Editora, 2017 (Mário Beja Santos)

sábado, 4 de julho de 2020

Guiné 61/74 - P21138: Ser solidário (233): Viagem à Guiné-Bissau (de 15 a 28/2/2020), homenagem em Suzana ao cap cav Luis Filipe Rei Vilar (1941-1970), relatório e contas do projeto Kassumai, e a nova associação Anghilau (criança, em felupe) (Manuel Rei Vilar)


A nova Associação Anghilau (criança, em felupe)


1.  Mensagem do nosso amigo Manuel Rei Vilar, irmão do nosso saudoso camarada cap cav Luís Rei Vilar (1941-1970), primeiro comandante da CCAV 2538 (Susana, 1969/71):


Data - quarta, 1/07/2020, 23:00

Assunto - Relatório de Actividades do Projecto Kassumai 2019-2020



Caríssimos Padrinhos, Madrinhas e Amigos do Projeto Kassumai (*)

Aqui vos envio os Relatório de Atividades do nosso Projeto de Apadrinhamento e as primícias da nova Associação Anghilau. 

Incluo neste relatório intermediário de 2020, uma récita da nossa viagem à Guiné-Bissau que se realizou no passado mês de fevereiro que teve como objetivo reinaugurar o Jardim-Escola de Suzana depois do restauro e dar a conhecer a realidade do Chão Felupe, de Suzana e também da Guiné-Bissau.

Espero encontrar-vos todos de ótima saúde nestes momentos que difíceis que todos vivemos. Todo o cuidado é pouco! O vírus ainda anda por aí e precisamos de muita prudência.

Kassumai
Manuel Rei Vilar



RELATO DA NOSSA VIAGEM À GUINÉ-BISSAU 
DE 15 A 28 DE FEVEREIRO DE 2020  (**)

A nossa viagem à Guiné correu sem incidentes. No momento do desembarque em Bissau, fomos rodeados por uma equipa de técnicos de saúde que nos mediram a temperatura e nos pediram para assinarmos uma ficha de saúde. 

Foi muito estranho, pois isto passou-se muito antes do primeiro caso de COVID em Portugal (2 de março) ter aparecido.

Depois de chegarmos a Bissau e termos pernoitado no Hotel Coimbra onde encontrámos o nosso guia e amigo Adriano Djaman, seguimos para Suzana no minibus que o Adriano se tinha encarregado de alugar para a nossa viagem. 

A viagem para Suzana faz-se bem até S. Domingos com estradas alcatroadas e pontes que ligam canais, rios e riachos ao longo do itinerário até S. Domingos. Depois as coisas mudam de figura e temos de enfrentar uma picada de 30 km até Suzana em que cheia de covas e buracos de grande densidade superficial. 

Aos safanões lá se chega a Suzana que fica assim bastante isolada visto que o estado da estrada a torna impraticável a muitas viaturas. 

A nossa chegada foi festejada por um grupo de mulheres de Suzana e as entidades da Escola que nos vieram esperar. E aí, perante tanta alegria e votos de boas-vindas, já os buracos e as covas da Estrada de S. Domingos caíram no esquecimento. Com muitas danças e sorrisos fomos assim acolhidos pelos nossos amigos Felupes. Com muita emoção e muito regozijo reconhecemo-nos uns aos outros com muitos abraços e sorrisos. É emocionante a humanidade que encontramos neste pais e neste Chão Felupe.

Fomos recebidos na Missão Católica e tivemos a alegria de encontrar o Padre Zé (Giuseppe Fumagalli que conheceu o Capitão), um pouco vergado pela idade mas cheio de satisfação e brilho nos olhos por nos ver. Disse que neste momento estava a compor uma Missa Crioula. 

Também encontrámos a Irmã Rute que é quem trata da população e que tem uma enfermaria na Missão Católica. Pela primeira vez conheci o meu amigo Olálio, dirigente local da ONG VIDA assim como o Padre Vítor que tanto nos têm ajudado nas nossas realizações. 

Depois de termos uma pequena reunião com os professores e começarmos a analisar as necessidades da Escola, dirigimo-nos para Varela, uma localidade a 15 km de Suzana, junto a uma bela praia. 

Depois de nos instalarmos no confortável Aparthotel da Avó Aniza que dispõe de um bom restaurante, fomos até à praia tomar uma rica banhoca. A praia é grande é linda apesar do mar ir fortemente devastando a orla marítima.

No dia seguinte mela manhã dirigimo-nos para Suzana onde deveríamos participar na reinauguração do Jardim-Escola que ficaria batizado Jardim-Escola Capitão Luís Filipe Rei Vilar. 

Curioso, realmente o passado colonial português. Num momento em que tantas estátuas, ligadas ao colonialismo são derrubadas, em Suzana o nome do Comandante da Companhia que ficou na memória dos Felupes por mais de 50 anos, foi dado ao seu Jardim-Escola, celebrando assim a fundação da Escola de Suzana pelo Capitão. 

Alguns dos antigos alunos vieram-nos cumprimentar apresentando-se como “sopitos”, nome dado às crianças que antes de regressarem às suas casas, eram reconfortadas, partilhando do rancho dos soldados. 

Também foi uma ocasião de reencontrarmos alguns dos nossos afilhados. Um grupo de várias dezenas de crianças bem vestidos e impecáveis cantou e encantou-nos com as suas canções, algumas bem conhecidas dos portugueses. Uma delas foi o “Hino dos Combatentes” recordando os combatentes do PAIGC caídos durante a guerra e recordando-nos a todos que houve combatentes que caíram dos dois lados. 

O Padre Vítor fez um poema ao Capitão que ele recitou com três meninos mais crescidos. Foi então que a placa do Jardim-Escola Capitão Luís Filipe Rei Vilar foi destapada. 

Depois visitámos as novas instalações completamente restauradas desde o chão até ao telhado, com a nova mobília adequada às atividades escolares das crianças e as novas instalações sanitárias munidas de uma fossa sética. No entanto, a água ainda terá de ser conduzida até às instalações e será necessário instalar um grande lavatório para a higiene das crianças. Um gradeamento envolve o espaço escolar permitindo uma maior segurança para as crianças.



Guiné-Bissau > Região de Cacheu > Susana > 18 de fevereiro de 2020 > Os irmãos Rei Vilar (da esquerda para a direita, Manuel, Miguel e Duarte),   em dia de homenagem ao seu irmão mais velho, o  cap cav Luís Rei Vilar (1941-1970), ex-comandante da CCAV 2538 (Susana, 1969/71), morto em combate em 18/2/1970, no decurso da Op Selva Viva.


A escola de Suzana tem hoje 734 alunos, do Jardim-Escola até ao nono ano, tendo 36 professores dos quais 24 diplomados. No entanto, um dos principais problemas é o facto de não haver uma residência para os Professores. Do facto, estes não se fixam em Suzana e têm tendência a partir.

Quando estivemos em Suzana em 2018, encontrámos 35 alunos no Jardim-Escola. Atualmente, este número duplicou e vai ser necessário duplicar as instalações. Também nos foi pedido material e jogos educativos e filmes para as crianças. A Missão Católica assegura a compra de um televisor para as projeções.

Depois de termos tido mais algumas reuniões com os professores, com homens e mulheres do Conselho de Suzana dirigimo-nos para fora da Tabanca, para o sítio onde o Capitão foi mortalmente atingido, precisamente no dia 18 de fevereiro de 1970. Faria 50 anos! 

Quem nos diria que tudo isto aconteceria 50 anos depois desse malogrado dia em que tive de anunciar à minha mãe que o Luís tinha morrido. Essa tragédia nunca a esqueceremos! Desta forma transformamo-la em algo de positivo!




Voltámos para Varela onde outros deliciosos banhos de mar nos esperavam antes de partirmos no dia seguinte para outra tabanca do Cacheu, Batau, a tabanca do Padre Vítor que não nos pôde acompanhar nessa visita. 
Batau fica numa zona recuada do Cacheu perto de Calequisse. 

Saímos de manhã em direção a S. Domingos onde esperamos durante algumas horas a embarcação que nos levaria a Cacheu, uma cidade importante na Rota da Escravatura. Depois da travessia através Parque Natural dos Tarrafes do Rio Cacheu, chegámos à cidade de Cacheu, situada na margem esquerda do rio. 

Cacheu foi um dos primeiros estabelecimentos portugueses na Guiné e serviu durante vários anos como um centro dedicado ao comércio de escravos. Ai, visitámos a fortaleza portuguesa do século XVI, onde foram depositadas várias estátuas de navegadores e governadores portugueses da Província. Cacheu foi durante várias décadas um centro importante do comércio de escravos. 

Em frente da fortaleza, encontra-se um Memorial da Escravatura e do Tráfico Negreiro. Entrámos no Memorial onde estava a decorrer o I Simpósio Internacional "Cacheu caminho de Escravos, Histórias e memórias da escravatura e do tráfico na África ocidental". 

No Memorial descreve-se em vários quadros a história desta página negra da Humanidade. Esta história não é só portuguesa mas o comércio de escravos também foi alimentado, infelizmente, pelos próprios africanos. De qualquer forma aqui é relembrada e explicada no interior deste Memorial. 

Uma excelente exposição de tecidos guineenses encontrava-se nesse momento dentro do Memorial. É de referir aqui os lindíssimos tecidos que são produzidos na Guiné. 

Passámos a noite em Canchungo [ex-Teixeira Pinto] num hotel de uma estrela no máximo. Conseguimos arranjar jantar...mas foi difícil! Frango para todos. Estava tudo muito bom! Ninguém se queixou, nem ficou doente... mas devo dizer que aqui houve improvisação. Somos uns estoicos!

No dia seguinte, rumámos para Batau [, a sul de Calequisse, a oeste de Canchungo,] onde nos esperava uma grande comitiva. Toda a aldeia nos veio receber. Ai, visitámos a Escola que foi construída pela população assim como uma horta organizada pelas senhoras da aldeia para poderem pagar aos professores. O Daniel Gomes, um homem de Batau, chefe de uma família numerosa e polígama, acompanhou-nos na visita à horta da Escola
. 

A Escola encontra-se em muito mau estado, a precisar de pinturas e arranjos. As carteiras são feitas de grandes pranchas de poilão, a árvore sagrada da Guiné. As pessoas da aldeia acompanharam-nos nessa visita. Também eles nos pediram ajuda para as obras na Escola e para comprarem uma debulhadora de arroz. Como fazer para os ajudarmos? Se alguém tiver alguma ideia, será sempre bem-vinda. 

Os alunos da escola todos reunidos brindaram-nos com cantos luso-guineenses à sombra acolhedora do poilão. Foi um dia cheio de emoção ao encontrarmos esta gente acolhedora e generosa, oferecendo-nos um almoço muito saboroso. Depois, conversamos sobre as necessidades da população em geral e da Escola em particular. 

Despedimo-nos com lágrimas nos olhos. Gente boa e organizada neste país, um dos mais pobres do mundo. Há poucos dias, o Daniel Gomes escreveu-me a anunciar a morte do seu filho de 20 anos. Teve uma dor de barriga e dois dias depois faleceu! Provavelmente, uma apendicite. É assim a vida na Guiné, onde a assistência médica é praticamente inexistente! 

Depois de regressarmos a Bissau e passarmos a noite no Hotel Coimbra, navegamos numa lancha rápida no arquipélago dos Bijagós durante 4 horas até atingirmos a ilha de Orango onde tínhamos reservado no Orango Park Hotel. Este hotel diz que o produto das estadias é reservado à educação das crianças da tabanca mais próxima. No entanto, as crianças da tabanca não parecem muito bem tratadas. 


Em Orango deu para relaxarmos todas as emoções da viagem. Tivemos algum contacto com a população das tabancas mais próximas e visitámos a ilha de Uno, com uma paisagem variada com bosques de mangais e grandes poilões robustos e naturalmente esculpidos junto a uma grande lagoa circundada por plantações de arroz. A população da tabanca vizinha foi muito acolhedora. As mulheres a extrair o óleo de palma e os homens a observarem os visitantes.

Para terminar, regressamos a Bissau ao célebre Hotel Coimbra, o tal da livraria, no dia 24 de fevereiro. No dia 25 era terça-feira gorda, portanto em pleno carnaval, o Adriano levou-nos ao desfile que neste ano se realizava no Estádio de Bissau. Estava um sol abrasador! O Adriano, com os conhecimentos dele, entre outros o Ministro da Cultura da Guiné-Bissau, conseguindo-nos lugares de pé ao lado da tribuna presidencial. 


Manuel Rei Vilar
(2010)
Foi aí que assistimos a um espetáculo absolutamente grandioso. Cada etnia da Guiné tinha preparado uma representação com danças e acrobacias, tudo isto acompanhado por uma trupe de músicos e cantores. Um grande certame das competências de cada grupo. E finalmente, foi o grupo de Cacheu que saiu vencedor. [Vd. vídeo na página do Facebook do Manuel Rei Vilar.]

No dia 27 foram as eleições acompanhadas de um Golpe de Estado.

Ainda deu para visitarmos o Museu Etnográfico de Bissau, deveras interessante, guiados pelo diretor do Museu.




TRABALHOS REALIZADOS EM 2019

Com a vossa preciosa ajuda conseguimos renovar completamente o edifício do Jardim-Escola de Suzana, instalarmos durante 2019 novos sanitários, um Espaço para as Refeições e abrigo das intempéries assim como uma cerca à volta da Escola. 


Além disso pudemos também adquirir mobiliário necessário para a educação das crianças do Jardim-escola, construído por uma cooperativa de carpintaria de jovens. 

Atualmente, as crianças dispõem de um ambiente propício à instrução e educação graças à vossa solidariedade. Não esquecemos também a ajuda dos diversos intervenientes da aldeia, nomeadamente, a Missão Católica por intermédio do Padre Abraão e do Padre Victor, a ONG Vida através do nosso dinâmico amigo Olálio Neves Trindade, a dedicação dos operários que participaram na obra assim como o entusiasmo da População de Suzana. 

A todos, as crianças de Suzana agradecem. 



ASSOCIAÇÃO ANGHILAU 

Pensámos também que neste momento, seria útil modificarmos o nosso estatuto de Projeto Kassumai para passarmos a ser uma Associação com fins não lucrativos. 
Assim, reconhecidos oficialmente, este novo estatuto poder-nos-á trazer vantagens do ponto de vista tributário e igualmente do ponto de vista legal. 

De qualquer forma, continuaremos a funcionar exatamente da mesma maneira que temos funcionado até agora, sempre com os mesmos objetivos. 

Criámos assim a ASSOCIAÇÃO ANGHILAU (Anghilau significa criança em língua Felupe) no dia 11 de fevereiro de 2020. No dia 8 de março realizámos uma Assembleia Eleitoral para elegermos os Órgãos Sociais. Foram eleitos: 

MESA DA ASSEMBLEIA GERAL 

Presidente - Ivone Maria Domingues Félix
Secretária - Ana Maria da Conceição Ferraria
Relatora - Mónica Bento Lopes da Silva


DIREÇÃO 

Presidente - Manuel Rei Vilar
Vice-Presidente - Duarte Rei Vilar
Vice-Presidente - Miguel Rei Vilar
Secretária - Júlia Ribeiro dos Santos
Tesoureiro - Claude Piétrain

CONSELHO FISCAL


Presidente - Carlos José Vaz
Secretária - Ana Maria Botelho do Rego
Relator - José Constantino Costa



Dentro em breve, ser-vos-á enviada uma Ficha de Inscrição que vos pedia o favor de preencherem para a admissão como associado na Associação Anghilau. 



RELATÓRIO DE CONTAS DO PROJECTO KASSUMAI



Projeto Kassumai
Resultados do Ano 2019
Donativos (desde o inicio)
21.611,08 €
Despesas (desde o inicio)
13.846,35 €
Donativos em 2019
5.662,50 €
Despesas em 2019
9.237,62 €
Saldo
7.764,73 €

Despesas bancárias 2019/2020 = 258,11 € 


PERSPECTIVAS PARA 2020 

As perspetivas para este ano 2020 estão apresentadas no quadros seguintes.

Em resumo, as necessidades são:

· Instalação de água e lavabos nos sanitários;

· Compra de Material Escolar Educativo, Lúdico e Cultural

· Trabalhos de acabamento do Liceu de Suzana;

· Participação na criação duma Residência para os professores;

· Participação na Formação de duas educadoras. 









Fotos: © Manuel Rei  Vilar (2020). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2020

Guiné 61/74 - P20686: Historiografia da presença portuguesa em África (201): "A Guiné Através da História", pelo Coronel Leite de Magalhães; Cadernos Coloniais, Editorial Cosmos (1) (Mário Beja Santos)



1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 1 de Março de 2019:

Queridos amigos,
É justo uma palavra de apreço sobre esta coleção dos Cadernos Coloniais, iniciativa da Editorial Cosmos, eram livrinhos de cerca de 60 páginas, o conhecimento das parcelas imperiais, de vultos e trabalhos ultramarinos muito lhe deve.
O caderno n.º 24 foi escrito por António Leite de Magalhães, homem com bibliografia, a ele se voltará mais tarde. Atenda-se ao percurso histórico que ele sintetizou neste seu livrinho, bastante útil para confirmar a leveza da presença portuguesa ao longo dos séculos em que ali se permaneceu, presença leve e sempre com a agravante de uma atmosfera de indisciplina interna e permanente hostilidade em torno das praças e presídios.

Um abraço do
Mário

Coronel António Leite de Magalhães


A Guiné Através da História, pelo Coronel Leite de Magalhães (1)

Beja Santos

Estes Cadernos Coloniais foram uma aposta da Editorial Cosmos, foram publicados durante décadas. O número 24 teve como autor o Coronel António Leite de Magalhães, governador da Guiné de 1927 a 1931, apanhou a Revolução Triunfante. É um livrinho de divulgação que tem aspetos bastante curiosos, Leite de Magalhães elenca, à luz dos conhecimentos da época alguns dos aspetos mais palpitantes da vida da colónia-feitoria.

Começa por nos dar um quadro a que ele intitula “Da descoberta à revolução liberal de 1820”. Inicia a sua descrição com a tomada de Ceuta, e logo escreve ao gosto do tempo que se lançaram as velas pandas no mar misterioso e largo, as suas quilhas abrem sulcos novos dia a dia, e neste relato entusiasmado dobra-se o Cabo Bojador e chega-se ao rio Senegal, começava a história da Senegâmbia. Não se esquece o autor de nos recordar que em 1448 o rei cedeu ao Infante o exclusivo do comércio ao sul do Cabo Bojador, e que por carta régia de D. Afonso V, de 7 de junho de 1454, o Infante D. Fernando tornou-se o donatário de todas as terras do Ultramar adquiridas e por adquirir, doação confirmada pelo Papa Nicolau V. No seu testamento, datado do ano da sua morte (1460), o Infante D. Henrique outorga à Ordem de Cristo a espiritualidade da Guiné. Dois anos depois começou a exportação de mão-de-obra escrava para Cabo Verde, António de Noli estava a povoar a Ilha de Santiago com indígenas daquela procedência. Em 1490, é feita a doação da Ilha Boavista a Rodrigo Afonso para criação de gados, é também povoada com gente da Guiné. De 1513 a 1516, Cabo Verde recebeu cerca de três mil escravos dos portos da Guiné, dos quais uma grande parte foi aproveitada por Espanha para a colonização das suas conquistas. Ao tempo a concorrência entre traficantes de escravos era enorme, mas já tinha antecedentes. D. Manuel I proibiu, em 1518, os resgates da Guiné, interdição que acabou ao fim de dois anos. No período do reinado de D. João III até ao domínio filipino a pirataria francesa fez os seus estragos na região.

Tentou-se a missionação, a história das missões irá ser alvo do importante trabalho de investigação do Padre Henrique Pinto Rema, mas o autor aqui refere a presença dos jesuítas e dos capuchinhos franceses, como é sabido, com pouco êxito. Quando em 1 de dezembro de 1640 se extinguiu o domínio espanhol, a Senegâmbia Portuguesa era um vasto campo de piratarias. Em 1641 é nomeado Capitão-Mor e Feitor de Cacheu Gonçalo de Gamboa Ayala, é o tempo em que nasce a fortaleza. A Guiné deve a este capitão a fundação de Farim e a ocupação de Zinguinchor.

A Guiné é sempre um ponto de interrogação para o Estado Português, incapaz de uma estratégia para este enclave. Em 1675, pretendeu-se formar uma companhia em benefício da Praça de Cacheu e Comércio da Guiné, não deu frutos. Segue-se um longo período de grandes tensões em Cacheu, sempre com sublevações à volta, com os ingleses no rio Gâmbia e com os franceses a pretender construir uma fortaleza em Bissau. Em 1690 funda-se a Companhia de Cacheu e Cabo Verde e dois anos depois o rei mandou que se construísse a Fortaleza de Bissau, competindo à Companhia de Cacheu e Cabo Verde costear a despesa. E o autor repertoria um estado de tensão permanente com as gentes da Guiné.

A fortaleza de Bissau foi mandada destruir em 1708, já no reinado de D. João V. Diz-se que a nova fortaleza foi edificada a expensas da Companhia do Pará e Maranhão, que se fundara em 1755, ficando com o exclusivo do comércio e a administração das ilhas de Cabo Verde. Não terá sido seguramente um êxito, a Companhia foi extinta em 1777. E o autor extrai elementos de um relatório elaborado pelo Administrador João da Costa, da Companhia do Pará e Maranhão, sobre o estado da Guiné, com data de 1778: os edifícios da praça de Bissau eram uma ruína completa, a capela caída, a guarnição de 190 soldados sem pagamento e sem vestuário, a população de 700 guineenses católicos sem serviço religioso; em Cacheu, a artilharia estava fora de uso, os soldados como os de Bissau, e quanto ao serviço religioso, ali e no rio da Gâmbia havia apenas um padre; a praça de Farim estava completamente abandonada, o mesmo se passava com Zinguinchor.


Em 1783, foi consentida a formação da Companhia de Comércio das Ilhas de Cabo Verde, mas de proveitoso para a Guiné não há registo. Instalara-se a desordem na colónia. A Corte parte para o Brasil, a Guiné ficou mais esquecida. Em 17 de maio de 1819, o Governador de Cabo Verde, António Pusich, propôs que, para alívio da Real Fazenda se entregasse a Guiné a uma companhia, o que não aconteceu. Dá-se a revolução liberal, mas não melhorou a situação da Guiné, as sublevações são constantes na guarnição de Bissau, para se salvar um dos comandantes teve de fugir para Geba, ficou protegido pela população local. Em 1834, o governador de Cabo Verde pretendeu reunir num só os dois governos, Bissau e Cacheu, Lisboa não aceitou a proposta.

Vem a propósito lembrar a extraordinária memória da Senegâmbia elaborada por Honório Pereira Barreto, em 1843: o país está completamente desorganizado, todos os empregados, desde o primeiro ao último, ignoram quais sejam as suas atribuições, e por consequência quais sejam os seus deveres… os vigários, apesar de serem ministros de uma religião sublime, pouco se importam com a moral e preceitos dela, vivem com as barregãs em casa, apresentam-nas a todos, como qualquer homem casado apresenta a mulher; a tropa é um bando de homens indisciplinados, turbulentos, esfomeados, nus e traficantes; das ilhas de Cabo Verde só mandam para estas guarnições os soldados incorrigíveis e os ladrões que lá há.

E é nesta atmosfera de caos que a Grã-Bretanha não esconde as suas ambições sobre Bolama e os franceses avançam pelo rio Casamansa e se fixam nas proximidades de Zinguinchor.

Esta questão das tropas indisciplinadas tem um largo e doloroso historial: soldadesca amotinada era um dado frequente, não faltavam trapalhadas. Atenda-se ao que escreve o autor, é um episódio antes da revolução liberal:
“Em 1804, morre envenenado em Bissau o Capitão-Mor António Cardoso de Faria. E em Fevereiro do ano seguinte segue para aquela praça o seu substituto, Manuel Pinto Gouveia. Este leva 150 degredados tirados do limoeiro, facínoras e dos maiores crimes. Em Cabo Verde entregam-lhe mais 80 homens… da mesma qualidade. E com esta gente e mais 230 soldados pretos, treinados na ordem e no vício, formou o batalhão 460 praças até ao ponto de, com eles, impor e manter a paz entre o gentio. A ilusão durou pouco, em Abril de 1818 amotina-se a tropa por falta de pagamentos. Em 12 de Junho nova insubordinação…”.

(continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 19 de fevereiro de 2020 > Guiné 61/74 - P20665: Historiografia da presença portuguesa em África (200): “A Guiné Portuguesa, subsídios para o seu estudo”, comunicação de Carlos de Almeida Pereira, no 3.º Congresso Internacional de Agricultura Tropical, Londres 1914 (Mário Beja Santos)

quarta-feira, 1 de janeiro de 2020

Guiné 61/74 - P20519: Historiografia da presença portuguesa em África (194): A eterna polémica sobre o racismo no colonialismo português (7): "As rotas da escravatura, 1444-1888”, por Jordi Savall (Mário Beja Santos)



1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 21 de Janeiro de 2019:

Queridos amigos,
Juntam-se últimas considerações e achegas para a interminável polémica sobre o racismo no colonialismo português. Como tem escrito o estudioso e romancista José Pedro Marques, há que contextualizar em todas as circunstâncias as caraterísticas do nosso colonialismo e fugir aos chavões de críticas desmioladas. Igualmente, na minha opinião devemos saber afrontar as práticas racistas que exercemos, em vários continentes.
Junta-se um conjunto de imagens sobre marcos de fronteira em chão Felupe, é certo e seguro que haverá surpresas, o blogue fica mais rico, como também a cultura luso-guineense.

Um abraço do
Mário


A eterna polémica sobre o racismo no colonialismo português (7)

Beja Santos

A instituição esclavagista vem da noite dos tempos, da captura dos vencidos que se tornam servos, mão-de-obra ou gado. Foi matéria muito delicada para as principais religiões teístas, começaram por não querer afrontar os proprietários dos seus servos, as posições polémicas virão com padres como Las Casas ou António Vieira. Houve escravatura nas naves romanas, no trabalho intelectual, na prostituição, foram práticas universais, dispomos de relatos que não se confinam à Grécia ou a Roma, nem aos mongóis nem aos potentados africanos. O tráfico negreiro assumiu novas proporções com os Descobrimentos Portugueses e com o Novo Mundo, os Estados sulistas norte-americanos dele beneficiaram e foi por causa da abolição da escravatura que se envolveram na guerra da Secessão. Discutiu-se se os negros e os índios tinham alma. E na alvorada da ciência antropológica começaram os estudos das raças e procurou-se argumentação sólida para definir as bases das raças superiores e das raças inferiores. A ascensão meteórica dos direitos humanos leva a que hoje se façam críticas completamente descontextualizadas, e nalgumas delas vem o colonialismo português, que usou o tráfico negreiro, a exploração mais despudorada desta mão-de-obra e houve práticas raciais mesmo que, como se verificou na época dos totalitarismos nazi-fascistas, nunca fomos mais longe de que num conceito completamente nebuloso da raça portuguesa, nunca ninguém teve o desplante de nos arregimentar ao arianismo, porque todos sabemos quem foram os nossos ancestrais ao longo dos milénios em que se veio a formar o português em que nos tornámos.
E curiosamente, em tantos casos do colonialismo praticado pelos portugueses juntaram-se escravos e gentes de outras origens, como vamos agora apreciar com a escravatura em S. Tomé no século XVI, de um estudo de Isabel Castro Henriques (publicado na Revista Internacional de Estudos Africanos, n.º 6-7, 1987).

Diz a autora que o processo de colonização fez apelo a uma população heterogénea: portugueses, fundamentalmente degradados, judeus castelhanos, comerciantes portugueses, castelhanos, franceses e genoveses, escravos negros da Guiné, Benim e Manicongo, assim arrancaram as plantações do açúcar, vieram depois plantas importadas.

E regista-se um regime de trabalho bem singular, e a autora cita um estudo de Francisco Tenreiro: “Os negros vinham do Benim, da Guiné e do Manicongo e o seu regime de trabalho era muito curioso. Só se aceitavam negros acasalados que tinham por obrigação trabalhar toda a semana para o senhor, excepto aos sábados que reservavam para si próprios. Com quatro dias mensais inteiramente livres pagava-se o trabalho árduo das semanas; o senhor não fazia qualquer despesa com eles com vestuário, alimentação e habitação. Eles próprios providenciavam no dia livre semanal às suas necessidades… Relacionando este regime de trabalho com as ordens dadas aos vários donatários no sentido de serem estimuladas as ligações entre brancos e negros e devendo considerar-se livres as mulheres e os seus ‘frutos’, sou levado a concluir que o africano, por esses tempos de S. Tomé, não estava sujeito a um regime de escravidão pura; era antes um servo a quem se pedia trabalho, mas a quem por outro lado se permitia uma relativa liberdade na prática dos seus hábitos”.

Se bem que houvesse ordens régias proibindo as relações dos portugueses com mulheres negras, eram ignoradas, constituiu-se um grupo mestiço, que terá um papel fundamental na reprodução do sistema esclavagista e a autora conclui que esta singularidade da escravatura em S. Tomé deve ser analisada não à luz de comparações com situações posteriores mas de acordo com a realidade económica do século XVI em que o escravo africano é fundamentalmente procurado como mão-de-obra e não ainda, como acontecerá um século mais tarde, como mercadoria cuja transação iria permitir lucros fabulosos. A matéria da escravatura chega aos nossos tempos e é relembrada, até porque há novas práticas de servidão, roubo de seres humanos para novas rotas da escravatura, para a prostituição e até o tráfico de órgãos humanos. A arte, a todos os níveis, colabora nessa lembrança. Lembro o monumental trabalho de Jordi Savall, “As rotas da escravatura, 1444-1888”, à frente da Capela Real da Catalunha, Hespério XXI, até nele se refere o pungente relato de Zurara, na Crónica do Descobrimento e a Conquista da Guiné sobre a chegada de 235 escravos a Lagos, em 1444. Jordi Savall lembra que há atualmente mais de 21 milhões de escravos, rememora o passado de todo este tráfico, lembra a costa ocidental africana, mas também o mediterrâneo, a escravatura ao longo dos séculos, dá-nos a sua cronologia, e depois toda a música escolhida tem a ver com estas rotas. Esta infame mercadoria que tem mais de 5 mil anos, que já existia em África antes das expedições massivas de portugueses e de espanhóis traduz-se em música para dar a conhecer os dados essenciais de tão funestos acontecimentos em que a música assume uma surpreendente vitalidade e emoção graças a estas músicas conservadas das antigas tradições dos descendentes dos escravos: desde as costas da África Ocidental, do Brasil, do México, das Caraíbas, Colômbia e Bolívia, mas também do Mali, de Marrocos e Madagáscar, um diálogo com as formas musicais hispânicas inspiradas nos cantos e bailes dos escravos e dos indígenas, em consonância com as tradições africanas, mestiças ou índias.
E escreve:  
“Ao mesmo tempo que rendemos uma emotiva homenagem a este período sombrio através das músicas dos descendentes dos escravos, também queremos apelar para que cada um de nós tem o dever de reconhecer a extrema inumanidade e os terríveis sofrimentos causados a todas as vítimas daquele horrível comércio”.
E não deixa de observar que a tragédia continua para milhões de seres humanos de todas as idades, a nossa tolerância devia ser zero e este livro CD-DVD procura contribuir para a continuação desse combate.

Aqui se põe termo a uma curta série de textos em torno do colonialismo e das práticas raciais portuguesas, não esquecendo que o racismo assume várias caras, em que a discriminação e o preconceito são as mais evidentes.

É com enorme satisfação que se junta o esplêndido contributo da doutoranda Lúcia Bayan que gentilmente oferece ao blogue um conjunto de imagens referentes a marcos fronteiriços na região do seu estudo, o Chão Felupe, seguramente são imagens que vão impressionar muitos de nós. E a Lúcia Bayan, como nos cabe, se agradece sentidamente o valor de tal oferta, é não só um enriquecimento para o nosso blogue como para a cultura luso-guineense.

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Marcos fronteiriços em imagens, Lúcia Bayan

Como sabemos, os marcos fronteiriços identificam limites de uma linha de fronteira terrestre entre países. São geralmente feitos de pedra ou betão, com a identificação e data de colocação gravadas, e colocados em pontos críticos da linha de fronteira.

Por razões políticas e de segurança, a fronteira entre a Guiné e o Senegal foi demarcada tardiamente. Por um lado, Portugal, em Maio de 1886, cedeu a Casamansa à França em troca do apoio deste país para a pretensão portuguesa ao território do Mapa Cor-de-Rosa, e da região de Cacine, no Sul. Os trabalhos de delimitação da fronteira de Casamansa iniciaram-se em 1888, mas só terminaram em 1905, cerca de 20 anos após o acordo entre Portugal e França. Sobre esta questão ver Esteves, Maria Luísa (1988), A Questão do Casamansa e a Delimitação das Fronteiras da Guiné, Lisboa, IICT-INEP.

Por outro lado, os Joola sempre dificultaram a entrada no seu chão. Primeiro aos exploradores e comerciantes e depois às autoridades coloniais. Lembremo-nos do célebre "desastre de Bolor", em 30 de Dezembro de 1878. René Pélissier, em História da Guiné, portugueses e africanos na Senegâmbia 1841-1936, (1989), Lisboa, Estampa, apresenta uma longa lista de acções militares portuguesas em chão Felupe, com vitórias e derrotas para ambos os lados, sendo que a última foi em Março de 1935.

Depois de "pacificados", os Felupe adoptaram a "revolta pacífica", palavras de Pélissier. Um bom exemplo é a história, que já relatei, sobre o marco colocado perto de Suzana, nas comemorações do V Centenário da chegada de Portugal à Guiné (1946), pressupostamente no local onde terá existido a primeira tabanca felupe, denominada Sabotul.

A linha fronteiriça entre o Senegal e a Guiné-Bissau atravessa o chão de dois subgrupos Joola, os Baiote e os Felupe. Os limites do Chão das sociedades tradicionais africanas não são fixos, mas podemos dizer que a linha fronteiriça que atravessa este Chão começa com o marco n.º 158, situado a cerca de 7 km a sul de São Domingos, e o último é o marco n.º 184, junto ao Cabo Roxo, sendo que o marco n.º 175 separa o Chão destes dois subgrupos Joola. Ou seja, do marco n.º 158 ao marco n.º 175, a linha fronteiriça atravessa Chão Baiote e, deste marco até ao marco n.º 184, atravessa Chão Felupe. O meu trabalho de terreno permitiu-me conhecer e atravessar por diversas vezes a linha fronteiriça em zonas juntas a alguns destes marcos, mais precisamente os marcos 173, 175, 180 e 184. A meu ver, as fotos destes marcos, além do seu valor simbólico, mostram a história e o valor social que adquiriram.

O marco 184, instalado junto ao Cabo Roxo, foi recuperado durante a guerra colonial, como se pode ver na inscrição.

Após a independência da Guiné-Bissau, a zona onde está este marco, bolanhas a cerca de 1 km a sul de Kabrousse, início da zona turística do Senegal, passou a ser gerida, não oficialmente, mas na prática, por este país. A delimitação fronteiriça foi mesmo discutida entre Senegal e Guiné-Bissau, durante as disputas, entre estes dois países, para a criação da Zona de Exploração Conjunta (ZEC) de petróleo, criada em 1993.

É uma zona calma e com pouco trânsito de pessoas.


Do marco 180 pouco resta! É também o mais difícil de encontrar, porque está escondido no mato e porque poucos se lembram dele!
Está situado junto de um caminho, muito percorrido por pessoas a pé, de bicicleta e de moto, que liga as tabancas Basseor, na Guiné-Bissau, e Kahème, no Senegal.

Para os Felupe estas duas tabancas são apenas dois bairros da tabanca Hassuka, a capital religiosa Felupe. Hassuka é constituída por estas duas tabancas e mais Sucujaque, Tenhate e Caroai, na Guiné-Bissau.

Basseor e Kahème, distam cerca de 1,8 km e, como bairros, há uma enorme movimentação entre eles. Além disso, a imagem mostra também que este marco está numa zona de conflito.
De facto, em 22 de Agosto de 1991 houve aqui um grande conflito. Perto de Kahème existia um quartel do exército senegalês que foi atacado pelo MFDC e por habitantes desta tabanca. Em retaliação o exército senegalês destruiu Kahème, matando e prendendo muitos homens. Os sobreviventes fugiram para Caroai e Sucujaque. Kahème permaneceu abandonada até 2012, ano em que a população começou a regressar, para ser possível realizarem a cerimónia de iniciação masculina, o Bukut.


O marco 175 está junto a um caminho que liga Budjim, na Guiné-Bissau, a Youtou, no Senegal, duas tabancas a cerca de 4 km, em linha recta, uma da outra. É uma zona de bolanhas e o caminho que liga estas duas tabancas é, em grande parte, feito pelas divisórias das bolanhas. Por isso, este caminho é, quase exclusivamente, feito a pé pelos agricultores destas bolanhas.


O marco 173 está situado em Chão Baiote, junto à tabanca Kassu, na praia de um dos muitos cursos de água da Baixa Casamansa. A linha de fronteira atravessa Kassu, deixando um bairro na Guiné-Bissau e outro no Senegal. O marco está instalado num espaço aberto, apenas frequentado por vacas que, para fugirem às moscas, buscam as zonas perto de água.

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Notas do editor:

Por lapso do editor não foi publicado em tempo útil o 7.º poste de "A eterna polémica sobre o racismo no colonialismo português". Aqui fica a reparação com as nossas desculpas ao Mário Beja Santos.

Postes anteriores de:

6 de novembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20318: Historiografia da presença portuguesa em África (182): A eterna polémica sobre o racismo no colonialismo português (1): Questionário Etnográfico elaborado pelo Capitão Vellez Caroço (Mário Beja Santos)

13 de novembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20341: Historiografia da presença portuguesa em África (186): A eterna polémica sobre o racismo no colonialismo português (2): "Portugal Vasto Império", por Augusto da Costa (Mário Beja Santos)

20 de novembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20366: Historiografia da presença portuguesa em África (187): A eterna polémica sobre o racismo no colonialismo português (3): "Racismos, Das Cruzadas ao Seculo XX", por Francisco Bethencourt (Mário Beja Santos)

27 de novembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20389: Historiografia da presença portuguesa em África (188): A eterna polémica sobre o racismo no colonialismo português (4): "Portugueses e Espanhóis na Oceânia", por René Pélissier (Mário Beja Santos)

4 de dezembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20414: Historiografia da presença portuguesa em África (190): A eterna polémica sobre o racismo no colonialismo português (5): "O Império Marítimo Português”, por Charles Ralph Boxer; Edições 70, 2017 (Mário Beja Santos)

11 de dezembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20440: Historiografia da presença portuguesa em África (191): A eterna polémica sobre o racismo no colonialismo português (6): "O Império Marítimo Português”, por Charles Ralph Boxer; Edições 70, 2017 (Mário Beja Santos)

Último poste da série de 25 de dezembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20499: Historiografia da presença portuguesa em África (193): Relatório Anual do Governador da Guiné (1921-1922) - Velez Caroço e um relato incontornável para a história da Guiné (2) (Mário Beja Santos)