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sábado, 27 de janeiro de 2024

Guiné 61/74 - P25114: Os nossos seres, saberes e lazeres (611): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (139): Férias em região duriense, uma rota de aldeias vinhateiras (8) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 24 de Outubro de 2023:

Queridos amigos,
Insisto no pedido de desculpas por ter andado a revoltear imagens, depois de fotografar os belos conjuntos azulejares do Pinhão é que dei que tinha deixado para trás as imagens captadas em Santa Maria de Salzedas, cuja visita recomendo a quem quer que seja sem qualquer hesitação. Este edifício religioso é frisante, demonstrativo, de que quando entramos num espaço marcado pelo barroco ou pelo maneirismo a ninguém ocorre que já houve ali um outro edificado. Não sei por que carga de água o mosteiro cisterciense sofreu tais tratos de polé, a ponto de praticamente nada subsistir, a não ser vestígios. Depois foi vendido em hasta pública, dispersaram-se riquezas, felizmente que chegou a hora da recuperação e do restauro, permaneceram vestígios da igreja medieval, que era de planta em cruz latina, a atual fachada data dos finais do século XVIII, está marcada por duas torres laterais adiantadas, a nossa visita guiada começou pelo claustro do capítulo que leva obras de restauro vai para 13 anos, o resultado é imponente, por isso aqui se pretendeu dar uma imagem do espaço museológico, ele é bem merecedor do nosso desfrute tal a riqueza do seu património, basta pensar nos painéis atribuídos a Grão Vasco e o conjunto de obras legadas por Bento Coelho da Silveira, referência maior da pintura portuguesa do século XVII.

Um abraço do
Mário



Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (139):
Férias em região duriense, uma rota de aldeias vinhateiras (8)


Mário Beja Santos

A tarde está reservada a Ucanha e ao Mosteiro de Santa Maria de Salzedas, na região de Távora-Varosa, região vitivinícola por excelência. Inicia-se a visita à casa do Paço de Dálvares, é um museu agrícola dentro de um edifício belamente reabilitado e onde se irá ouvir falar do espumante Murganheira. Fugi à lição, preferi deambular por este belo espaço e espiolhar o museu, mas não fugi à libação, muitos excursionistas não resistiram a fazer aquisições na loja de vendas.

Casa do Paço de Dálvares – Tarouca, Museu do Espumante
Um pormenor do pátio interior das instalações, este maciço de pedra é impressionante
Imagem do museu

Da Ucanha, da sua torre e ponte, já aqui se fez menção e se pediu muita desculpa por andar de trás para a frente por pura negligência de quem não sabe de manejar a câmara, e compulsar as imagens arquivadas, asseguro que a seguir à visita e este belo mosteiro vamos em definitivo navegar no rio Douro, sequência que se interrompeu quando se fez referência ao Pinhão e aos belos azulejos da sua estação ferroviária.
Bom, estamos diante deste mosteiro de Santa Maria de Salzedas Olhando a fachada, opulentíssima, ninguém acredita que tudo começou pela construção de um mosteiro cisterciense masculino, iniciado em 1168 graças ao patrocínio da segunda mulher de Egas Moniz; os monges receberam diretamente de D. Afonso Henriques o couto de Algeriz. Este domínio, mais tarde designado por Salzeda, e depois por Salzedas, abrangia as atuais freguesias de Ucanha, Granja Nova, Vila Chã da Beira e Salzedas, no concelho de Tarouca, e Cimbres, no concelho de Armamar.
A implantação do mosteiro obedeceu aos princípios da regra cisterciense, localiza-se num vale, há acesso direto a um curso de água, a ribeira de Salzedas, afluente do rio Varosa.
O passeio terminará com a visita à igreja, que já foi medieval de planta em cruz latina, tem três naves e transepto saliente, foi sagrada em 1225. Veremos pelas imagens que apesar das muitas alterações introduzidas nos séculos XVI, XVII e XVIII, ainda é possível observar da construção original alguns elementos. A fachada, evidentemente, nada guarda desses tempos da Reconquista Cristã.

Ao longo dos últimos anos, este monumento absurdamente votado ao abandono, tem vindo a ser objeto de intervenções de conservação e salvaguarda, com destaque para a consolidação do claustro de capítulo. O mosteiro está agora integrado na rede de monumentos do projeto turístico-cultural Vale do Varosa. Entre 2010 e 2011 foi levada a cabo uma profunda intervenção de recuperação e valorização que incluiu restauro do património integrado e criação de um espaço museológico que veio a ser aberto ao público, é bem merecedor de visita pelo seu destacado valor histórico e patrimonial.
Uma parte da recuperação, mas é bem visível que ainda há muito a restaurar
Uma simples imagem da bela azulejaria que se conserva, mas há para ali danos irreversíveis. Os azulejos que cobrem a sala do capítulo são azulejos de maçaroca a azul e amarelo. Este espaço monárquico, riquíssimo em arte, sofreu muitíssimo com a extinção das ordens religiosas em 1834, foi tudo vendido em hasta pública (espaço monástico e recheio) ficando para uso da paróquia a igreja, a ala Este e parte da ala Sul.
Entrámos agora na área museológica, mais propriamente na sacristia, este Cristo na cruz é de uma beleza impressionante
Imponentes painéis que tudo ganharam com o restauro
Há dois quadros no espaço museológico atribuídos a Vasco Fernandes, Grão Vasco é dado como responsável por um dos mais excecionais retábulos deste mosteiro, constituído por quatro painéis com as figuras de S. Sebastião, Santo Antão, Santa Catarina e Santa Luzia, produzidos entre 1511 e 1515. Estão aqui restaurados S. Sebastião e Sto. Antão, são uma das principais atrações deste núcleo museológico.
Nesta galeria há obras que merecem uma contemplação atenta. É o caso destes das obras de Bento Coelho da Silveira, uma delas, Imposição do hábito a S. Bernardo, possui um equilíbrio nos volumes e na segurança com que trata o grupo humano que certifica o indiscutível talento desta referência maior da pintura portuguesa do século XVII. Bento Coelho da Silveira é autor de um conjunto de pinturas realizado para este mosteiro constituído por diversas cenas da vida de S. Bento e S. Bernardo, que ele realizou entre 1667 e 1675. Faziam provavelmente parte do conjunto das oito telas do espaldar do arcaz da sacristia.
Capitel em granito talhado, séculos XII-XIII
Capitel geminado pertencente ao claustro original, também em granito talhado, séculos XII-XIII
Interior da igreja, nave principal
Quatro imagens que permitem ver elementos do templo primitivo, como foi referido, tudo foi refeito a uma escala que vai do maneirismo ao barroco, mas não se apagaram estes elucidativos vestígios da Cister no Vale de Varosa, séculos XII e XIII.

Aqui findou o passeio e regressámos a Tabuaço. O dia seguinte foi reservado ao Pinhão, de que já se falou, segue-se o esplendoroso passeio pelo Douro, à tarde houve quem quis ir visitar S. João da Pesqueira, precisei de ler e repousar. Na manhã seguinte despedimo-nos de Tabuaço, e a excursão de 5 dias deixou-nos em Sete Rios, o local dá sempre jeito, apanha-se o comboio para Roma-Areeiro, um quarto de hora depois está-se em casa.

(continua)

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Nota do editor

Último post da série de 20 DE JANEIRO DE 2024 > lGuiné 61/74 - P25092: Os nossos seres, saberes e lazeres (610): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (138): Férias em região duriense, uma rota de aldeias vinhateiras (7) (Mário Beja Santos)

sábado, 20 de janeiro de 2024

Guiné 61/74 - P25092: Os nossos seres, saberes e lazeres (610): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (138): Férias em região duriense, uma rota de aldeias vinhateiras (7) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 17 de Outubro de 2023:

Queridos amigos,
Começo por um sincero pedido de desculpas. Ao desfiar as minhas recordações, senti que havia ali um atropelo de imagens, questionava-me se a ida a Ucanha não devia estar sintonizada com a visita ao Mosteiro de Santa Maria de Salzedas e às Caves da Murganheira, como não via as imagens atinentes, desatei a correr para a frente, o que o leitor hoje vai ver, tirando as imagens da Ucanha, passou-se no dia seguinte, passeio de Tabuaço ao Pinhão e viagem pelo rio Douro, parece literatura de antecipação mas não é, é uma besteira de quem não sabe mexer convenientemente no ficheiro de imagens. No próximo texto interrompo a viagem no Douro e regresso à região de Távora-Varosa. A Ucanha tem a sua magia, os azulejos da estação ferroviária do Pinhão formam um conjunto de painéis de valor inexcedível, é o que hoje aqui se mostra, para a semana voltamos ao passado, e depois percorre-se o rio Douro. São desatinos desta idade maior, mil vezes perdão.

Um abraço do
Mário



Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (138):
Férias em região duriense, uma rota de aldeias vinhateiras (7)


Mário Beja Santos


Como é que eu deixei atropelar as imagens, é que não entendo. Tínhamos ido visitar as Caves da Murganheira, na região Távora-Varosa, era inevitável visitar Ucanha, a sua torre, a sua ponte medieval única, o meio circundante. A povoação tem hoje cerca de 400 habitantes, vive-se ali num ambiente de quase fantasia com este património medieval notável, estamos perto de Salzedas, nesta excursão às aldeias vinhateiras do Douro será um ponto de referência, fica para mais adiante. Estamos na região de Tarouca, nesta viagem não visitaremos S. João de Tarouca, infelizmente. Ucanha pertenceu ao couto de Salzedas e a terra-natal de um dos nossos maiores filólogos e etnólogos, José Leite de Vasconcelos. Visita de médico, caminhava-se para o fim do dia, a assistente da excursão olhava frequentemente para o relógio, mas deu para apreciar o que se vê vezes sem conta, pois Ucanha vale.
A torre de Ucanha, data do século XV
A ponte de Ucanha, acaba de receber obras de restauro, a sua dimensão mete respeito
O rio Varosa, tal como corre debaixo da nossa mais bela ponte medieval, a de Ucanha

Mudamos agora de azimute, saímos de Tabuaço para o Pinhão, há passeio fluvial no Douro, o tal Douro que Miguel Torga cantou chamando-lhe um poema geológico, de uma beleza absoluta. Como chegámos antecipadamente, a assistente deu-nos rédea solta, tempo para visitar o Pinhão, a ponte, saída dos ateliês de Eiffel, impressiona. Mas o que mais me surpreendeu foi andar a mirar e remirar os azulejos da estação ferroviária. Nunca tinha dado por isso, Pinhão pertence ao distrito de Vila Real, está no coração da região vitivinícola. Bem procurei no turismo informações suculentas, uma brochurinha e viva o velho. Fala-se na existência de uma ponte romana, a ponte metálica de Eiffel é mais largamente mencionada, tal como a linha do Douro que começou a funcionar no Pinhão em 1880, na atualidade há o comboio quotidiano e o comboio histórico, este é uma locomotiva a vapor construída em 1925. Mas bebido o cafezinho, fui prazeroso para a gare, os 24 painéis de azulejos do Pinhão exibindo as paisagens do Douro e os trabalhos vinícolas, são topo de gama, não há livro da azulejaria portuguesa que não os louve. Em tons azuis, como, aliás, é timbre das nossas estações ferroviárias e de muitos mercados dos anos 1930 e 1940, foram concebidos por J. Oliveira e encomendados à fábrica Aleluia, em 1937. Indiscutivelmente, uma das mais belas coleções de painéis azulejares em estações ferroviárias em Portugal. Basta vê-los um a um, não há que enganar, incluem a legenda do motivo escolhido. Caminham para 90 anos de vida, estão muito bem tratados, aqui me curvo respeitosamente, por tanta beleza desmedida.
Pronto, já estamos a bordo, como diria Miguel Torga, vamos ser avassalados pelo prodígio da paisagem, esta imensidade de socalcos, este excesso de natureza, o tal poema geológico, a tal beleza absoluta entre o trabalho do homem que gerou estes terraços e a graciosidade do Douro. Deste rio prodigioso se falará a seguir.
(continua)
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Nota do editor

Último post da série de 13 DE JANEIRO DE 2024 > Guiné 61/74 - P25067: Os nossos seres, saberes e lazeres (609): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (137): Férias em região duriense, uma rota de aldeias vinhateiras (6) (Mário Beja Santos)

quarta-feira, 17 de janeiro de 2024

Guiné 61/74 - P25080: Historiografia da presença portuguesa em África (404): Um documento assombroso: "Viagem à Guiné Portugueza", por Costa Oliveira (2) (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 1 de Junho de 2023:

Queridos amigos,
O Tenente da Armada Real que está à frente da comissão delimitadora das fronteiras luso-francesas é um homem culto, aberto a sentir-se surpreendido pelas belezas africanas, profundamente magoado com as velhacarias perpetradas pelos franceses, foram hábeis a barrar-nos o caminho para o Futa-Djalon, continuando a beneficiar de poderem comerciar no Forreá. Descreve tudo quanto observa, nem vai faltar um ataque de abelhas, já estiveram no Cantanhez, apercebe-se que Dandum não oferece qualquer saída para chegar ao Futa, continuam em território francês onde igualmente se observam devastações a cargo dos Biafadas contra Fulas, ali o ódio não tem fronteiras entre território português ou francês. A missão prossegue, um dos delegados franceses já foi a Bissau fazer partir o material e os abastecimentos que têm a povoação de Geba como destino.

Um abraço do
Mário



Um documento assombroso: "Viagem à Guiné Portugueza", por Costa Oliveira (2)

Mário Beja Santos

O Boletim da Sociedade de Geografia de Lisboa, 8.ª série, números 11 e 12, 1888-1889, acolhem um documento de grande valor histórico intitulado “Viagem à Guiné Portugueza”, o seu autor é E. J. da Costa Oliveira, Oficial da Armada Real, Comissário do Governo para a delimitação das possessões franco-portuguesas da costa ocidental de África. Fez-se a viagem de Bolama até ao Sul, o Tenente Costa Oliveira não esconde o seu deslumbramento com tanta beleza natural e vai perseguir com as suas ricas observações que permitem ao leitor de hoje perceber o que era a vida no Sul não só da Guiné portuguesa como da Guiné francesa.

Logo um dado sobre a hospitalidade: “Na Guiné, como todos sabem, a nenhum estranho é permitida a entradas nas tabancas ou praças sem prévia autorização dos chefes; por isso, quando o régulo Sayon soube da nossa chegada aos seus domínios, enviou uma enorme embaixada para nos cumprimentar e introduzir na povoação, onde nos esperava com a sua corte.” Descreve a receção que se pautou pela pompa e circunstância, fala-se do Cantanhez que o oficial da armada irá visitar e apresenta-se o rio Cacine: “É como o rio Grande de Bolola, um enorme esteiro ou braço de mar aonde vão desaguar numerosos ribeiros. A borracha é principalmente o produto indígena que ali se permuta por bertanjil (pano azul de algodão), armas de fogo, etc.”

Chegou a hora de fazer um comentário bastante crítico ao comportamento dos negociadores franceses que nos quisera vedar as saídas para o Futa-Djalon:
“Cortada a Guiné portuguesa na fronteira Este do Futa-Djalon pelo meridiano dos 16º O de Paris, cercada pelos outros dois lados pelos franceses ou tribo da sua proteção, e cumprindo-se o Tratado de 1881 com almami do Futa, a quem Mudi-Yaiá obedece, devemos ter a certeza que o comércio em grande escala deriva para todo o território francês, se não fizermos imediatamente um esforço inaudito para obstar à corrente apenas começada.”

E não deixa de comentar que Mamadu Paté obedece a Mudi-Yaiá. Partiu a expedição para Kandiafará. Foram acompanhados o primeiro-ministro do rei Talibé, o bom Ciré e pelo marabu Abakari abalaram de Amadu-Bubu no dia 24 ao amanhecer e depois de uma penosa marcha devido a inúmeros esteiros e pequenos regatos que tiveram de vadear, de vaza mole e por povoados de crocodilos, alcançaram Kakondo e ali pernoitaram. Observa que saindo do Kakondo o país começa a elevar-se suavemente para Este, a vegetação é mais robusta e variada, anuncia a feracidade do solo, os campos estão trabalhados pela mão do homem e veem-se grandes pilhas de maçaroca de milho miúdo defendidas do cacimbe da noite por coberturas de palha, e não deixa de comentar que esta abundância e bem-estar pode ser alterada a qualquer momento pelas correrias dos Biafadas que não deixam os Fulas em descanso.

Veja-se agora esta descrição de Costa Oliveira:
“Anseio inexcedível, principalmente em Kandembel – a povoação mais bonita que atravessámos – a originalidade dos vestuários das raparigas Fulas, abundância de magnífica água, gado vacum e outros animais domésticos, campos imensos cobertos de lindíssimas flores, centenares de rolas e outras aves de penas brilhantes e de variadas cores, voando de árvore para árvore em bandos enormes, um céu azul puríssimo, iluminado por um sol de fogo e uma brisa fresca e embalsamada, tornam esta região a mais formosa que percorremos em toda a nossa viagem no sertão. Embevecidos nesta paisagem ridente e encantadora, caminhámos até ao pôr do sol e, descendo uma ladeira bastante íngreme, avistámos de repente e a pouca distância as primeiras cubatas de Simbely.
Simbely está situada em território francês e na margem esquerda de um ribeiro que vai desaguar ao Cogon, perto de Kandiafará. Fulas e Biafadas tinham reunido os seus homens de guerra para mutuamente se desagravarem de ofensas por eles reputadas graves, mas realmente sem nenhuma importância. Era o ódio de raça, a mira no roubo e nada mais que impelia Mamadu Paté, rei do Forreá, e Mamadu Jolá, chefe dos Biafadas, a marchar à frente dos seus exércitos, a caminho de Buba, aonde se havia de decidir o pleito, que aparentemente tanto os magoava.”


Refere que pernoitaram em Simbely, o acolhimento foi corretíssimo. Nada mais consta desta viagem até Kandiafará que demorou 14 dias, foram respeitados pelos chefes das povoações por onde transitaram; encontram os membros da comissão francesa antes de entrar em Kandiafará que ele descreverá deste modo:
“Kandiafará, situada na margem direita do Cogon ou Compony, deve ser um lugar insalubre por causa dos pântanos que o rodeiam. Todos, à exceção de M. Galibert, sofriam de febres paludosas, a ponto de M. Noury ter de se recolher à cama com uma espécie de perniciosa. Foi carinhosamente assistido por todos e pelo nosso enfermeiro que recebeu ordem de pôr à sua disposição a nossa ambulância.” Depois de apresentar Dandum, hoje povoação portuguesa, volta a criticar o comportamento dos franceses que guardaram para si apenas a estrada de Kadé, mais uma outra forma de impedir o acesso dos portugueses ao Futa-Djalon e tece o seguinte comentário: “Eis aqui os estupendos resultados de se fazerem tratados de delimitação sem o conhecimento prévio do que se pretende delimitar!” E aproveita a circunstância para também denunciar o comportamento dos régulos do Futa-Djalon que estabeleceram acordos de exclusividade com os franceses, para efeitos comerciais. E volta a tecer as suas críticas: “Que diferença de procedimentos! Uns, os franceses, estabelecem que é proibido a qualquer súbdito de outros países o viajar e comerciar livremente no território Futa; nós, abrimos o Forreá a todo o comércio e garantimos até a segurança dos agentes e suas mercadorias!”

Os membros da comissão francesa continuavam doentes, resolveu-se partir numa pequena caravana.

A 1 de março de 1888 as duas comissões delimitadoras partiram de Kandiafará para o interior a fim de determinarem o curso médio dos rios Cogon e Kolibá, M. Galibert partiu para Bissau para fazer conduzir a Geba a carga de mantimentos pertencentes à expedição francesa.

Inevitavelmente iria aparecer um ataque de abelhas: “As abelhas tinham atacado a caravana, e era forçoso ceder-lhes o acampamento, que elas disputavam com pertinácia! De repente desapareceram e julgando eu o incidente acabado atravesso a ponte. Ainda não tinha chegado perto de M. Brosselard e já as abelhas voltavam a atacar-nos com mais fúria e em enxames mais numerosos! O burro, completamente coberto daqueles terríveis himenópteros, saltava, corria, deitava-se no chão, espojava-se, levantava-se para se tornar a deitar, coitado, parecia doido! Nós todos corríamos em diversas direções, fugindo para longe.” Lá se fizeram algumas fogueiras e o fumo afugentou as abelhas. Após o almoço, Costa Oliveira e M. Brosselard foram visitar o rio Cogon que distava do acampamento cerca de 2 km: “É um formoso rio, o Cogon! As suas margens altas de mais de 3 metros são tapadas por densa vegetação e árvores seculares. Deve ter, neste lugar, uns 200 metros de largo e ser bastante profundo, pois mesmo na margem não teria menos de 2 a 3 metros.”

Levantaram acampamento e abalaram para Kumataly, uma importante povoação fortificada.

Carta da Guiné Portuguesa, século XIX, Arquivo Histórico-Ultramarino
Carta da província da Guiné, 1912
Carta da colónia da Guiné, 1933

(continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 10 DE JANEIRO DE 2024 > Guiné 61/74 - P25054: Historiografia da presença portuguesa em África (403): Um documento assombroso: "Viagem à Guiné Portugueza", por Costa Oliveira (1) (Mário Beja Santos)

sábado, 13 de janeiro de 2024

Guiné 61/74 - P25067: Os nossos seres, saberes e lazeres (609): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (137): Férias em região duriense, uma rota de aldeias vinhateiras (6) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 12 de Outubro de 2023:

Queridos amigos,
Em definitivo, Trevões tem muito a oferecer a quem a visita, quem aqui chega pela primeira vez não suspeita que será confrontado com tesouros de vária espécie, já se exaltaram os solares, o Paço Episcopal, a opulenta igreja matriz engalanada de barroco, mas que possui uma austera fachada do tardo-gótico, não dá para acreditar que ali houve a presença de bispo de que resta o paço em decadência, e depois os museus, que comprovam orgulho cívico, um carinho por cuidar das coisas que vêm de antanho, independentemente dos técnicos preparados em arqueologia ou museologia ou estatuária. Aqui se fala da visita ao Museu Etnográfico, ele é o espelho indisfarçado de uma sociedade agrícola que subsiste adaptando-se ao estatuto de aldeia vinhateira, e quem vive em Trevões diz que não quer sair de cá, todos se dão bem com todos, e como novos rurais aparecem gente que se cansou da cidade e aqui quer montar empresas. Trevões, inesquecível aldeia vinhateira, é o que eu posso dizer.

Um abraço do
Mário


Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (137):
Férias em região duriense, uma rota de aldeias vinhateiras (6)


Mário Beja Santos

É a despedida de Trevões, visita ao Museu Etnográfico, e depois andarilhar à volta e entrar no autocarro. Há uns bons anos, quando existia O Correio da UNESCO, uma revista inesquecível, Pierre Nora, um notável historiador francês, produziu uma reflexão sobre o fenómeno explosivo dos museus regionais e temáticos. Atribui ele a razão de ser desta avalanche de recolhas, manutenção e exibição de objetos de arte, de usos e costumes locais, a uma reação à cultura de massas que pretende atrais as falanges turísticas aos monumentos que a comunicação social apregoa como os indispensáveis. É, portanto, uma reação a uma cultura urbana que centraliza as grandes linhas da identidade, é nas cidades que se concentram as obras de arte de valor indiscutível, seja em arqueologia, da chamada arte popular, de todos os movimentos artísticos até às correntes atuais. Daí o Museu do Pão, do Vinho, dos Têxteis, do Queijo, e tudo o mais que se sabe. Mas há os locais pouco visitados por essas massas turísticas que não desejam arredar-se do chamado orgulho cívico, a história do lugar. E, como se fez notar, Trevões tem casas solarengas, residências de quem já teve ou tem posses, uma igreja matriz que é um monumento nacional, um Museu de Arte Sacra de tesouros acumulados ao longo de séculos. O que vamos visitar agora, e ser surpreendidos por uma mestria museográfica e museológica tem a ver com os costumes, o quotidiano de outrora, séculos de vida material em Trevões. A fachada do museu é impecável, há até para ali um brasão de armas, somos acompanhados por Paula Catarino, creio que lhe cabe a responsabilidade de zelar pelos dois museus, logo à entrada deparam-se sinais de vida associativa, há espaço de reunião e de conversação e as salas que se sucedem lembram-nos que Trevões possuiu uma sociedade agrícola, e mostra tais sinais com uma exposição que mete respeito.

O calçado das gentes, naquele tempo o sapateiro tinha muito que fazer, o couro, a madeira, o pregueado, os socos e os tamancos, o que se vê são solas que pretendiam afugentar a friagem, estamos na montanha, há agricultores e pastores e as ruas não eram alcatroadas.
Veja-se o desvelo como tudo está exposto, a alvura na coberta da cama, o miminho do berço, com aquele azul era menino pela certa, e na cama do casal a camisa de dormir e o conforto de ter o bacio ali perto.
Quando olhei para aqueles sacos lembrei-me dos meus soldados açorianos quando iam a casa e regressavam com vitualhas. É uma bela exposição de peças de uso caseiro, cestos para ovos ou frutas, medidas e cabaças, até a peneira.
Aqui temos um pouco de tudo, a lembrança daquele grande espaço do forno a lenha, o panelo de ferro ou alguidar de barro, um arsenal de objetos ligados à vida doméstica e até ao comércio, e ali mesmo à direita uma arca-banco, tanto podia ser para guardar roupas de cama ou de vestir, mas lembro-me de um dia ter entrado numa casa onde o hospitaleiro anfitrião foi buscar comida no seu arca-banco, o que me pareceu uma extravagância… até que vi entrar naquele espaço um bom número de cães e gatos e apercebi-me que todo o cuidado era pouco.
Acabou a visita ao Museu Etnográfico, temos uns minutos de deambulação, adorei ver esta casa e pensar no que nela se tornaria com uma intervenção que não deslustrasse esta frontaria, esta mescla de pedras. Oxalá que assim venha a acontecer.
Mais uma manifestação de casa apalaçada, dá sinais de abandono, é toda ela folgada em espaço, terá tido um jardim ornamental, é bem provável que esteja à espera de novo dono que ponha toda esta beleza arquitetónica no seu devido lugar.
Bem procurei o nome desta capela de Trevões, não é de muita antiguidade, mas o que me surpreende é a severidade da pedra, uma lembrança do românico, só tem duas frestas na fachada para arejamento, nada de adornos, este espaço só serve para rezar, não são precisas ornamentações fáceis. E digo adeus a Trevões, quando possível aqui voltarei.

(continua)

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Nota do editor

Último poste da série de 6 DE JANEIRO DE 2024 > Guiné 61/74 - P25041: Os nossos seres, saberes e lazeres (608): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (136): Férias em região duriense, uma rota de aldeias vinhateiras (5) (Mário Beja Santos)

quarta-feira, 10 de janeiro de 2024

Guiné 61/74 - P25054: Historiografia da presença portuguesa em África (403): Um documento assombroso: "Viagem à Guiné Portugueza", por Costa Oliveira (1) (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 30 de Maio de 2023:

Queridos amigos,
Trata-se de um relato tão peculiar que bem merecia ser reproduzido, é uma narrativa que nos mostra a história da primeira comissão para a delimitação de fronteiras desde a sua chegada a Bolama e contra todas as peripécias havidas, os pontos por onde se passou, a indignidade nas instalações que lhes entregaram, a viagem por aquele sul da Guiné onde não havia portugueses e os régulos impunham as condições de viagem, o deslumbramento dos viajantes diante dos prodígios da natureza, tudo numa escrita elegante, rigorosa, credora da nossa atenção, este tenente da Armada Real apercebe-se que aquele sul da Guiné não tinha interesse nenhum para a França, irá desabafar amargamente como tínhamos sido espoliados do Casamansa, esse era o grande móbil do governo de Paris. Vamos acompanhar esta narrativa até ao seu desfecho e seguramente que o leitor não se irá sentir defraudado.

Um abraço do
Mário



Um documento assombroso: "Viagem à Guiné Portugueza", por Costa Oliveira (1)

Mário Beja Santos

O Boletim da Sociedade de Geografia de Lisboa, 8.ª série, números 11 e 12, 1888-1889, acolhem um documento de grande valor histórico intitulado “Viagem à Guiné Portugueza”, o seu autor é E. J. da Costa Oliveira, Oficial da Armada Real, comissário do governo para a delimitação das possessões franco-portuguesas da costa ocidental de África.

O Tenente Costa Oliveira e os seus pares deixam Lisboa a 6 de janeiro de 1888 e desembarcam a 23 em Bolama. Anota que esta ilha foi cedida a Portugal em 1607 pelo Rei de Guinala, território dos biafadas e reavida em 1 de outubro de 1870, depois de uma disputa com a Grã-Bretanha. E começa o seu rol de observações: “Bolama oeste é comparativamente em qualquer das duas estações do ano muito mais saudável e fresca do que a capital. A diferença de marés em toda a Guiné Portuguesa é pouco mais ou menos de doze pés ingleses, consequentemente na baixa-mar as praias, incluindo as de Bolama, formadas de vasa dormente e detritos de proveniências diversas, ficam a descoberto durante muitas horas, expelem odores pestíferos.” E não se esquece de mencionar as doenças que daí podem advir.

Já viu e passa a comentar: “Para o comércio e comodidade pública seria proveitosa a construção de uma ponte cais, os viajantes e outros indivíduos são forçados a exibir quotidianamente o grotesco espetáculo de atravessar uns cem metros da praia às costas dos pretos, vindos alguns de chapéu alto ou de grande uniforme. As ruas da vila, estreitas e sujas, não sendo empedradas nem macadamizadas, transformam-se na estação chuvosa em verdadeiros lodaçais. As praias imundas e malcheirosas, por se fazerem nelas todos os despejos, são, no dizer de muitos, uma das principais causas da insalubridade da ilha. Há em Bolama metade, se tanto, de um mercado principiado em 1879 e alguns candeeiros cem e duzentos metros! O interior de Bolama é pouco acidentado e ocupado por Brames, Fulas, Manjacos, etc. Produz milho, mancarra, arroz, feijão, batata-doce e outros géneros de menor valor.”

A equipa que veio fazer a delimitação de fronteiras já cumprimentou o sr. governador, salamaleques para lá, salamaleques para cá, é-nos indicado que tem uma casa onde vão ficar alojados e onde esta comissão de definição de fronteiras trabalhará com os franceses. O relato que ele faz a casa é implacável:
“Era um primeiro andar de aspeto pouco asseado. Entrava-se por um quintal pouco limpo, cheio de fardos e caixotes, barris vazios, arcos velhos de pipa, etc.; subiam-se uns toscos degraus de madeira que terminavam em um largo patim, aonde se viam em pitoresca promiscuidade colchões velhos, tinas velhíssimas, potes de barro, candeeiros partidos, etc.; aranhas enormes povoavam os tetos e as paredes. Abria-se uma porta e penetrava-se numa pequena sala alumiada por duas janelas sem portas de vidraça. À entrada, na parede aonde se abria a porta, alojava-se um móvel de madeira coberto de poeira e coisas tão extraordinárias que nunca atinámos com a sua verdadeira aplicação! Na parede esquerda um sofá com as molas partidas e o forro de carina rasgado em mais do que um sítio, algumas cadeiras sem pés, outras menos más, um armário de casquinha, uma mesa-redonda ao centro da casa e alguns quadros de gosto mais do que duvidoso completavam a mobília deste elegante salão.”

O tenente da Armada Real procede minuciosamente à descrição deste antro totalmente negligenciado para tornar bem claro como o acolhimento da comissão de delimitação de fronteiras foi da maior das indignidades: “Foi nesta casa tão própria e tão decentemente mobilidade que recebemos a comissão francesa! E não se culpe ninguém, porque não havia outra casa para alugar. A sorte é que estava contra nós e nós lho agradecêssemos quando alguma vez a encontrámos.”

Havia que completar o pessoal da expedição, foi o cabo dos trabalhos. As instruções autorizavam que se requisitasse um condutor de obras públicas para auxiliar a missão nos trabalhos de campo. Aproveitou-se o tempo a pedir informações, a angariar carregadores, parecia que só havia dificuldades: “Uns afirmavam que seríamos atacados à mão armada e roubados pelo gentio; outros diziam que o célebre potentado do Futa Djalon, Mudi-Yaiá, não consentiria que as duas comissões se intrometessem nos seus domínios sem lhe fazermos valiosos presentes ou pagarmos quantiosas taxas; outros ainda falavam das febres do país, nas dificuldades de marcha em virtude da natureza pantanosa dos terrenos que íamos atravessar, nos grande perigos que corríamos sermos mordidos pelas serpentes, devorados pelos crocodilos, etc.”

Foi um bico de obra arranjarem-se os carregadores, todos receavam internar-se no chão dos Fulas, bem procurámos gente interessada em acompanhar-nos, apenas se apresentaram 14 indígenas, número insuficientíssimo para conduzir as cento e tantas cargas em que estava dividido o material da expedição.

A solução foi requisitar ao governo os Angolas que quisessem servir na expedição. Foi este expediente que permitiu que a missão partisse para o mato no dia combinado. O Tenente Costa Oliveira apresenta para falar do contingente militar na Guiné, havia um único batalhão de caçadores, composto na sua grande totalidade de deportados e vadios de Angola e uma bateria de artilharia com quatro peças.

A 28 de janeiro chegou a Bolama a comissão francesa, acompanhava-a o Governador da Senegâmbia e o seu Estado-maior, cumprimentos para lá e cumprimentos para cá e abandonaram prontamente Bolama. O oficial dá-nos notícia da comissão de delimitação francesa, dirigida pelo Capitão H. Brosselard-Faidherbe. Em 10 de fevereiro fundeava a canhoneira Guadiana perto da ilha Tristão, só a 12 foi possível desembarcar toda a expedição. A primeira etapa seria a partida de Kaky para Kabo. Passaram pelo rio Quitafine em direção à ponta Cajé, ponto de partida combinado para a delimitação da fronteira sul da Guiné Portuguesa. O autor dá-nos a saber que este rio Quitafine é largo, cheio de ilhotas, inúmeros esteiros e canais. Há também o relato dos ataques perpetrados por Biafadas contra Nalus e Sossos. Apurou-se que para Kandiafará não havia caminhos transitáveis e conhecidos. Na tarde do dia 18 apresentaram-se no acampamento dois emissários do chefe do rio Cacine, eram portadores de uma atenciosa carta, convidando a missão portuguesa a seguir para Biquese, população importante dos Nalus, situada na margem esquerda do rio Cacine. Será uma viagem bem ingrata dentro da floresta, o prémio vem a seguir:
“Quando saímos da floresta, deparou-se-nos o espetáculo mais grandioso que observámos durante a nossa viagem. Uma vasta planície, um oceano de verdura povoado por centenas de antílopes, se estendia na nossa frente até onde a vista podia alcançar.”

Carta da Guiné Portuguesa, século XIX, Arquivo Histórico-Ultramarino
Carta da província da Guiné, 1912
Carta da colónia da Guiné, 1933
Antiga Sede do Banco Nacional Ultramarino em Bolama, posterior Hotel do Turismo, hoje completamente desaparecido
Atual edifício do Centro de Formação Pesqueira de Bolama. Imagem retirada do blogue Alma do Viajante, com a devida vénia
Imagem do antigo quartel de Bolama, retirada do blogue Alma do Viajante, com a devida vénia

(continua)

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Nota do editor

Último poste da série de 3 DE JANEIRO DE 2024 > Guiné 61/74 - P25031: Historiografia da presença portuguesa em África (402): Sarmento Rodrigues, o definidor da colónia guineense, pô-la no mapa (Mário Beja Santos)