quinta-feira, 26 de março de 2020

Guiné 61/74 - P20777: Boas Memórias da Minha Paz (José Ferreira da Silva) (2): Op. Mogadouro II - Lançar um livro e não só - I Parte

1. Em mensagem do dia 23 de Março de 2020, o nosso camarada José Ferreira da Silva (ex-Fur Mil Op Esp da CART 1689/BART 1913, , Catió, Cabedu, Gandembel e Canquelifá, 1967/69), enviou-nos a segunda Boa memória da sua paz, desta feita a Op. Mogadouro II - Lanlar um livro e não só.


BOAS MEMÓRIAS DA MINHA PAZ

2 - Op. Mogadouro II - Lançar um livro e não só - I Parte



(Continua)
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Nota do editor

Primeiro poste da série de 18 de março de 2020 > Guiné 61/74 - P20744: Boas Memórias da Minha Paz (José Ferreira da Silva) (1): "Op Lampreia", levada a efeito no passado dia 12 de Fevereiro de 2020, pelo "Bando do Café Progresso - das Caldas à Guiné", em Penafiel

Guiné 61/74 - P20776: Blogoterapia (294): A mente, de quando em vez, leva-nos a sítios onde já não queríamos ir... (António Eduardo Ferreira, ex-1.º Cabo CAR)

Mansambo
Foto © Torcato Mendonça (2012)


1. Mensagem do nosso camarada António Eduardo Ferreira (ex-1.º Cabo Condutor Auto da CART 3493/BART 3873, Mansambo, Fá Mandinga e Bissau, 1972/74) com data de 21 de Março de 2020:

Amigo, Carlos Vinhal
Faço votos para que te encontres de boa saúde junto dos que te são queridos, o resto virá por acréscimo.
Carlos, quando nada o fazia prever, esta semana, fui levado a reviver algum do tempo que passei na Guiné.


A mente, de quando em vez, leva-nos a sítios onde já não queríamos ir...

Devido à epidemia com que estamos a ser confrontados, no inicio da semana, fui levado "mentalmente" a sítios, aonde há já muito tempo não ia... à então "província" da Guiné. Sítios esses, que embora, não seja possível esquecer, mas que já há algum tempo estavam em hibernação.

Há dias, entrei num estabelecimento comercial onde fui fazer algumas compras, lá dentro, o olhar atento e desconfiado das pessoas, era como se quem delas se aproximava fosse o potencial inimigo de que todos tentamos fugir... o Covid-19, com a agravante de ao sairmos não saber o que nos pode ter acontecido, ou não... enquanto estivemos a escolher as coisas que pretendíamos. Será que o inimigo se apoderou de algum de nós?... Os menos pessimistas, depois de saírem, talvez não pensem muito no ambiente com que foram confrontados enquanto estiveram lá dentro. Ao contrário, os mais pessimistas.... ou talvez mais realistas... não conseguem esquecer assim tão facilmente.

Ao sair daquele local, fui levado a reviver um tempo que apesar de já ter terminado, há quarenta e seis anos, a mente ainda me fez “o favor”de ter que o recordar. Entre muitos outros porque passei, enquanto estive na Guiné, para mim, o mais marcante e aquele com que agora mentalmente fui confrontado foi o que me acontecia durante as muitas colunas que fazíamos enquanto estive em Mansambo. Quando saíamos do destacamento, durante alguns quilómetros, só os condutores seguiam na viatura, como era o meu caso. Os picadores seguiam na frente, todo o outro pessoal seguia em fila, com o espaço entendido conveniente ao lado da picada, alguns podiam seguir na viatura, mas não o faziam...

Era um inimigo diferente, mas também nunca se sabia onde podia estar. O estado emocional a que éramos sujeitos quando seguíamos só, na viatura, era terrível... pensando na possível mina que podia estar algures por ali à nossa espera... são esses os momentos que ainda hoje menos gosto de recordar... mas a mente de vez enquanto prega-nos estas partidas.

No dia a seguir de ter ido às compras, fui a um local onde tenho ido com frequência ao longo de dezasseis anos... o IPO em Coimbra. Também aí, quando ia a entrar por um dos sítios que era costume, fui informado que não podia passar, tinha de entrar no portão a seguir. Mais uma vez a dúvida... será que o inimigo vai comigo disfarçado... só depois de ter passado por um pequeno rastreio fui autorizado a entrar. Uma vez mais, fui de algum modo forçado a revisitar situações, que eu supunha estarem arrumadas, em que o inimigo que nunca vi... mas ouvi e senti... parecia estar sempre por perto.

Depois de ter sido confrontado com a anormalidade... que se está a viver nestes dias, e que me fez reviver o tempo que passei na Guiné, fui levado a pensar que o transtorno mental, que a minha passagem pela guerra me provocou, foi ainda maior que aquele eu supunha ter sido...

Amigos, quanto ao Covid-19, resta-nos estar algum tempo de quarentena e depois veremos. Ou outros hão de ver...

António Eduardo Ferreira.
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Nota do editor

Último poste da série de 12 de novembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20336: Blogoterapia (293): Neuro II - Quarto 7 - Cama 14, ou as camas por que passamos ao longo da nossa vida (Juvenal Amado)

Guiné 61/74 - P20775: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (119): A COVID-19 não passará!... Voltamos a recuperar o sentido da "bicha de pirilau"...(Jorge Araújo, régulo da Tabanca dos Emiratos)






Emiratos Àrabes Unidos > Abu Dhabi >  25 e 26 de Março de 2020  >  O Jorge Araújo, o régulo da Tabanca dos Emiratos, mandou-nos  algumas fotos tiradas da janela do seu apartamento, umas de dia, outras à noite. "A primeira, tem a ver com a mensagem colocada ao fim da tarde de ontem (25 de março), numa zona relvada do condomínio, desenhada com pequenas pedras, pedindo para as pessoas ficarem em casa, pois ficam mais seguras - 'STAY HOME'  (fique em casa) - 'STAY SAFE' (fique seguro)."

 Fotos (e legenda): © Jorge Araújo (2020). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem do Jorge Araujo, com data de ontem:



Caro Luís, boa Tarde,

Tenho sabido, pelo blogue, que os nossos camaradas “jovens-veteranos”, incluindo tu, estão a controlar, com mais ou menos esforço, a situação provocada pelo “inimigo” dos tempos modernos – COVID-19 – ao utilizar uma arma bem mais poderosa que os “Strelas” de há cinquenta anos, e que, por via disso, já está a produzir novas mudanças nos comportamentos nas/das nossas vidas.

Quanto a mim, depois de uma primeira fase de quarentena voluntária, intercalada com algumas curtas saídas registadas até ao passado fim-de-semana, entrei agora na “quarentena” semelhante à que tem vindo a ser imposta em todos os continentes do planeta, face à situação crescente desta pandemia, como medida para proteger as populações da disseminação deste surto.

Daí que, também aqui as directivas emanadas pelo governo, nomeadamente a partir da passada segunda-feira (23Mar20), vão no sentido de diminuir o risco de contágio, interno e externo, estando encerrados todos os espaços públicos cobertos como sejam: escolas de todos os níveis de ensino, ginásios, centros culturais, comerciais e afins. Também alguns espaços abertos, como jardins, parques de aventura e polidesportivos, foram encerrados. Foi, ainda, determinada a suspensão de todos os voos de passageiros no país. Estão, no entanto, garantidos todos os bens de primeira necessidade.

Porém, porque estamos num contexto de crise sem precedentes em termos globais, quer seja do ponto de vista da saúde, social e económico, o universo dos Serviços de Saúde, locais e nacionais, entraram em “estado de prevenção e alerta”, parecendo-me existirem todas as condições logísticas para responderem, com sucesso, a qualquer situação mais difícil.

No que concerne a notícias do nosso Portugal, tenho estado atento aos conteúdos informativos transmitidos pela RTP Internacional, o único canal em português a que tenho acesso. A situação observada a oito mil quilómetros de distância, parece-me estar a engrossar (a agravar).

Sendo certo que a geração dos “seniores” está mais exposta, correndo mais riscos se não soubermos utilizar as experiências adquiridas ao longo dos anos, creio que o papel que os “veteranos da guerra” poderiam assumir é darem um “murro na mesa”, sem lesões e sem partir a mesa, e pedirem aos que estão próximo para terem “bom sendo (juízo)”, respeitando as orientações dos profissionais de saúde.

Termino, por hoje, dizendo que agora faz todo o sentido utilizar o conceito de «bicha de pirilau», propondo que acabem, por enquanto, com os ajuntamentos de mais de duas pessoas.

Fiquem bem… mas em segurança.

Um grande abraço (virtual).

Jorge Araújo.

PS1 - Anexo mais um trabalho escrito, para os devidos efeitos, referente à CCAÇ 414.
PS2 - Anexo fotos tiradas do meu apartamento.
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Nota do editor:

quarta-feira, 25 de março de 2020

Guiné 61/74 - P20774: O que é feito de ti, camarada ? (11): o que é feito dos mais de 1700 camaradas que fizeram o "cruzeiro das suas vidas", no T/T Niassa, com partida em 24/5/1969, incluindo o Jerónimo de Sousa, hoje deputado e secretário-geral do PCP ?



Torres Novas > 25 de maio de 2019 >  Cinquentenário da partida da CART 2520, para o CTIG, em 24/5/1969 > Reconhecemos: (i) o José Nascimento, o primeiro, a contar da esquerda, na 2ª fila (de pé) ; e (ii) na mesma fila, de pé,o terceiro, a contar da esquerda, é o Manuel Viçoso Soares (hoje empresário, no Porto), ex-fur mil armas pesadas: esteve em Monte Real, em maio de 2017, por ocasião do XII Encontro Nacional da Tabanca Grande; na altura em que foi convidado para se  sentar à sombra do nosso poilão...

Foto (e legenda): © José Nascimento (2019). Todos os direitos resevados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



 T/T Niassa > A caminho da Guiné > c. 24-29 de maio de 1969 > Quadros metropolitanos da CCAÇ 2590 (futura CCAÇ 12), na viagem de Lisboa-Bissau (24 a 29 de Maio de 1969). Da esquerda para a direita: 2º sargento Videira (já falecido) , furriéis milicianos António Branquinho (já falecido), Tony Levezinho, Humberto Reis, Joaquim Fernandes, Luís M. Graça Henriques e Almeida  já falecido). Na mesa de trás, ao fundo, receonhece-se o fur mil enf  João Carreiro Martins.

Foto (e legenda): © Luís Graça (2005). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Lourinhã > Zambujeira e Serra do Calvo > 25 de fevereiro de 2018 > "Homenagem da Zambuejira e Serra do Calvo aos seus combantentes"... Monumento inaugurado em 5 de outubro de 2013 (e não em 2015, segundo lapso do nosso colaborador permanente José Martins.). Foi uma patriótica iniciativa do Clube Desportivo, Cultural e Recreativo da Zambujeira de Serra Local.

Desconhece-se o autor do painel de azulejos que representa a partida, no T/T Niassa, no Cais da Rocha Conde de Óbidos, em Lisboa, de um contingente militar que parte para África. Ao canto inferior esquerdo a quadra: "Adeus, terras da Metrópole / Que eu vou pró Ultramar /, Não me chorem, mas alegrem [-me], / Que eu hei-de regressar"... No chão, em calçada portuguesa, lê-se: "Em defesa da Pátria". Abaixo do panel, há um livro metálico com os nomes de todos os nossos camaradas, naturais das duas povoações, que combateram no Ultramar.

Foto (e legenda): © Luís Graça (2018). Todos os direitos reservados [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]




Ministério do Exército > Direção de Serviço de Transportes > 19 de maio de 1969 > Ordem de transporte nº 20. Cortesia de Manuel Lema Santos (2007) (*)



1. Mais de 1700 camaradas partiram no T/T Niassa, em 24 de maio de 1969, para o CTIG, incluindo minha CCAÇ 2590 / RI 2 [, mais tarde, CCAÇ 12), entre outras companhias independentes, nove ao todo,  e ainda 2 Pel Mort e 1 Pel Canhão s/r, mais pessoal de saúde e do Depósito Geral de Adidos (DGA)... 

As companhias ditas "independentes" foram:

CART 2520 / GACA 2 [ hoje Escola Prática de Polícia, em Torres Novas]
CART 2521 / GACA 2

CCAV 2525 / RC 7 [Ajuda, Lisboa]

CCAÇ 2527 / BII 18 [Ponta Delgada] [Concentrada no CIM]
CCAÇ 2529 / BII 19 [Funchal, onde embarcou]

CCAÇ 2531 / RI 2 [Abrantes]
CCAÇ 2533 / BC 10 [Chaves]

CCAÇ 2590 / RI 2 [futura CCAÇ 12]
CCAÇ 2591 / RI 16 [Portalegre]  [futura CCAÇ 13]
CCAÇ 2592 / R1 16 [futura CCAÇ 14]

CMP 2537 / RL 2

Outras subunidades:

PEL MORT 2116 / RI 15 [Tomar]
PEL MORT 2117 / BC 10 [Chaves]
PEL CAN S/R 2126 / BC 10

Lembro-me que passámos pelo Funchal, para embarcar mais "carne para canhão": a CCAÇ 2529...

Para a grande maioria de nós, foi "o cruzeiro das nossas vidas"... E, muito possivelmente, o "único"... Íamos todos anónimos, mas com "bilhete de embarque válido", só de ida, que o regresso só seria... quando Deus quisesse, ou na vertical ou na horizontal... 

Entre a gente anónima viajávamos alguns de nós que hoje aqui nos sentamos sob o poilão da Tabanca Grande, aqui discriminados por subunidade:

(i)  CART 2520: o José Nascimento...

(ii) CART  2521: o Constantino Ferreira d'Alva...

(iii) CCAV 2525: não temos nenhum representante...

(iv) CCAÇ 2527:  não temos nenhum representane [embora já tenhamos publicado um poste do Miguel Soares]

(vi) CCAÇ 2529: não temos nenhum representante;

(vii) CCAÇ 2531: não temos nenhum representante;

(viii) CCAÇ 2533: o Luís Nascimento...

(ix) CCAÇ 2590 / CCAÇ 12: o Luís Manuel da Graça Henriques, o Humberto Reis, o António Levezinho, o António Manuel Martins Branquinho (1947-2013),  o António Manuel Carlão (1947-2018), o José Manuel P. Quadrado (1947-2016), o José Marques Alves (1947-2013),  o José Manuel Rosado Piça, o Fernando Sousa,  o António F. Marques, o José F. Almeida, o João Carreiro Martins, o Joaquim Fernandes, o Abel Maria Rodrigues, o Gabriel Gonçalves, o António Mateus,  o José Luís Vieira de Sousa,..., entre outros (estou a citar de cor);

(x) CCAÇ 2591 / CCAÇ 13: o Carlos Fortunato...

(xi) CCAÇ 2592 / CCAÇ 14: o António Bartolomeu. o Eduardo Estrela...

(xii) CMP 2537: não temos nenhum representante,  apesar do convite público ao  ex-sold cond auto Jerónimo de Sousa,   hoje uma cohecida figura pública, secretário-geral do PCP - Partido Comunista Português, e deputado da Nação...

Dos Pel Mort 2116, Pel Mort 2117 e Pel Can S/r 2126... não temos, salvo erro, nenhum representante.

Vamos comemorar os 51  anos do nosso embarque no T/T Niassa... mas com uma terrível pandemia, que ameaça o nosso futuro, a COVID-19. Ocorre-nos perguntar: o  que é feito de vocês, camaradas ? E porque é que não dão sinal de vida ou fazem prova de vida, os que são membros da Tabanca Grande ?

Tirando a malta da CCAÇ 2590 / CCAÇ 12, temos tão poucos representantes do resto da maralha (1700 homens!)  que fez este "cruzeiro" (**).

2. O nosso camarada e amigo Manuel Lema Santos (1º Ten  RN 1965/72, Guiné, NRP Orion, 1966/68) fez-nos aqui uma pormenorizada, deliciosa e preciosa descrição do nosso "cruzeiro" (*)

(...) O T/T Niassa, em Maio de 1969 e conforme reza a Ordem de Transporte nº 20 do ME, transportou a CCAÇ 2590 e também as Unidades indicadas no seguinte quadro, com o itinerário e horários que mais abaixo se discriminam [vd. cópia da ordem de transporte, acima reproduzida]

Tratou- se de uma dupla viagem Lisboa–Bissau–Lisboa–Funchal–Bissau–Lisboa.

Teve início a 5 de Maio, em Lisboa, e terminou, novamente em Lisboa, a 13 de Junho de 1969.
Capitão de Bandeira: CFR Abel da Costa Campos de Oliveira.

Comandante do Niassa – Cmte Arnaldo Manuel Sanches Soares.

As partidas e chegadas em cada escala fizeram-se de acordo com as seguintes datas e horários:

Lisboa (Cais da Rocha) - partida > 071110Z Mai69
Bissau (Fundeado no Geba) - chegada > 121605Z Mai69
Bissau (Atracado) > 121835Z Mai69
Bissau (Atracado) - partida > 150733Z Mai69
Lisboa (Atracado) – chegada > 210645Z Mai69
Lisboa (Cais da Rocha) – partida > 241105Z Mai69
Funchal (Atracado) – chegada > 252357Z Mai69
Funchal (Atracado) – partida > 260135Z Mai69
Bissau (Fundeado) – chegada > 292250Z Mai69
Bissau (Atracado) – chegada > 300800Z Mai69
Bissau (Fundeado) > 021100Z Jun69
Bissau (Atracado) > 05????? Jun69 (não definido)
Bissau (Atracado) – partida > 070135Z Jun69
Caió (Fundeado) – chegada > 080135Z Jun69
Caió (Fundeado) – partida > 080830Z Jun69
Lisboa (Atracado) – chegada > 131110Z Jun69

Transportou de Lisboa, na totalidade, 52 oficiais, 187 sargentos e 1299 praças,  além de 1727 toneladas de carga, depois de corrigidos alguns desvios de última hora à previsão acima feita (...).

No Funchal embarcou a CCAÇ 2529.

O T/T Niassa Foi escoltado na ida e na volta, entre Bissau e o Farol do Caió, pela LFG Cassiopeia

Foram normalmente distribuídas as ementas das refeições servidas a Oficiais, Sargentos e Praças, sendo que havia alguma diferença nas qualidades das refeições respectivas, correspondentes às classes em que viajaram.

Durante a viagem foram exibidos, nos passatempos habituais, os seguintes filmes:

- Harper, O Detective Privado
- Ninguém Foi Tão Valente
- D. Camilo na Rússia
- Três Vezes Mulher
- A Cidade Submarina
- A Rapariga das Violetas

Foi sorteado um transistor, oferta do MNF [. Movimento Nacional Feminino],  no dia 28 de Maio, à chegada a Bissau.

Foi servido um jantar de despedida oferecido em nome do Comandante do Navio e do Capitão de Bandeira a todas as forças embarcadas, quer na ida quer no regresso, com ementas especiais. (...)

Guiné 61/74 - P20773: Antropologia (39): Guiné Portuguesa, breve notícia sobre alguns dos seus usos, costumes…, pelo Cónego Marcelino Marques de Barros (3) (Mário Beja Santos)



1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 13 de Março de 2019:

Queridos amigos,
Despedimo-nos por ora do Cónego Marcelino Marques de Barros a quem a cultura luso-guineense tanto deve, praticando a tremenda injustiça de o deixar no olvido, como ele não tivesse sido o pioneiro na pesquisa da etnolinguística guineense, um laborioso ajuntador de termos crioulos, tendo mesmo organizado um dicionário e em artigos como este denota uma observação e um estudo pautados pelo possível rigor científico de quem se queixa, como ele faz quando se dirige ao Governador Pedro Inácio de Gouveia, "vejo bem que me devem ter escapado muitos desalinhos e incorrecções de frase, e mesmo erros na exposição dos factos, como é de esperar que aconteça sempre a todas as obras desta natureza feitas à pressa, na Guiné, sem livros, sem bibliotecas públicas, em quem se vê forçado a recorrer quase exclusivamente à memória dos seus esclarecidos amigos, à sua e aos seus apontamentos, e nada mais".

Um abraço do
Mário


Guiné Portuguesa, breve notícia sobre alguns dos seus usos, costumes… (3)

Beja Santos

O Boletim da Sociedade de Geografia de Lisboa, 3.ª Série – Nº 12, 1882, publicou um artigo do Vigário-Geral da Guiné, Marcelino Marques de Barros, porventura o primeiro grande intelectual guineense, com o título “Guiné Portuguesa ou breve notícia sobre alguns dos seus usos, costumes, línguas e origens dos seus povos”. Marcelino Marques de Barros tem sido alvo de alguns ensaios, deplora-se que o conjunto da sua obra não tenha tido a republicação que se justifica, ele foi etnolinguístico e explorou, com os seus conhecimentos, a dimensão antropológica, como um verdadeiro pioneiro.

A espiritualidade é tema que o fascina, compreende-se, é vigário, é missionário, debruça-se sobre os outros credos, as outras práticas, teístas ou animistas, interroga-se, como vai escrever neste documento que comprova os seus dotes de investigador. Falando de Deus, diz que não é um negócio fácil ouvir um gentio (a não ser os mouros) pronunciar um nome qualquer que desperte a verdadeira ideia de falarmos de Deus: “Vulgarmente dizem como os Felupes que Deus é o firmamento azul, a chuva e as borrascas; que a sua voz e as suas armas são os raios e trovões, o que tudo nos leva a recordar até a poesia de Lucrécio. Os nossos pagãos consideram a Terra como a última morada das almas, e os Felupes e Bijagós acreditam na sua transmigração e todos prestam culto aos seus tótemes. A morte para um Bijagó não é mais do que um sono breve, pela certeza que têm de ser instantaneamente concebido no seu país; o Bijagó põe uma corda ao pescoço e aperta-a com a mesma facilidade com que pomos uma gravata”. Falando dos espíritos ou génios, diz que há os bons e maus, o irã, é espírito bom, os génios maus são diabos armados. Quanto a totemismo, fetichismo e idolatria refere que prestam culto a quadrupedes, répteis e aves. Observa que os mouros constroem templos para adorar Alá, os fetichistas têm aras e nas ruas, nas casas, nas florestas e à beira dos rios e dos lagos têm mesmo monumentos megalíticos e até recetáculo do sangue das vítimas.

Da religiosidade remete as suas observações para a habitação, géneros de vida e organização política. Quanto à habitação: “Os Felupes fabricam muitas casas de taipa, altas, espaçosas, ventiladas e muito limpas, os mais gentios fazem choças e cabanas de barro, de cana ou de mangue. Em toda a parte encontram-se habitações distintas e coletivas”. E quanto ao género de vida: “Cada raça segue um género de vida que lhe é peculiar. São sedentários os Cassangas, Felupes e Nalus; nómadas certas categorias de Fulas, seminómadas os Balantas e emigrantes os Manjacos da Costa de Baixo”. O seu apontamento sobre a vida doméstica é muito interessante: “As raças activas, tais como Felupes, Fulas e Balantas, quando não se acham empenhadas em guerras sanguinolentas andam à caça, à pesca, na roça dos matos, na lavra dos campos; outros, como os Cassangas, Papéis e Beafadas, quando não aparecem às portas das tabernas, aparecem empoleirados nas palmeiras de que extraem o vinho chamado de palma, ou então deitados indolentemente, dormem à sombra das árvores. As crianças quase todas andam nos campos a pastorear rebanhos”. A sua atenção vira-se para a vida social, política, intelectual e assim chegamos à família: “Por não haver entre esta gente o menor vislumbre daquele prestígio moral ou religioso que tornam a união conjugal indissolúvel, o marido é sempre senhor ou amante da sua mulher, que pode banir de sua casa sem prévia sentença de juiz, excepto entre os mouros, que possuem códigos de todos os processos civis e crimes. Os Mandingas herdam as concubinas de seus irmãos. O Nalu espanca o seu pai e herda as suas concubinas. O Felupe despreza e espanca a mãe. O Mandinga é extremoso pelos seus sobrinhos, e o Papel é doido por seus filhos, e todos consideram acto de barbaridade bater numa criança: pode impunemente lançar fogo a um arrozal, envenenar um rebanho inteiro e apedrejar a avó porque não haverá quem lhe arranque uma orelha”.

Faz os seus comentários ao direito de propriedade, às formas de alimentação e ao vestuário e expende considerações alargadas sobre a etnogenia (estudo da origem dos povos). Alude aos antigos impérios, às tribos sudanesas, aos reis Mandingas, parece cheio de boa vontade nesta pesquisa dos tempos ancestrais, pois sabe-se que não foi exatamente assim que as coisas se passaram, socorreu-se de narrativas orais, fantasiou acerca da escravatura dos Bijagós, vê-se que é uma etnia que lhe ocupa muita atenção.
E não deixa de ser curioso o que vai dizer sobre os Fulas, a sua vivência:  
“Os Futa-Fulas, que escrevem em árabe toda a sua história, contam que, no tempo em que a religião do Profeta se estendia como um turbilhão aos quatro ventos veio levantar no interior do Sudão as suas tendas um chefe que além de uma numerosa colegiada que o acompanhava trouxe um filho havido com a sua mulher Cumba. Morreu o chefe e na menor idade do seu filho foi o aluno mais instruído que tomou o encargo de governar a família. Quando o filho chegou à maioridade, o regente recusou dar-lhe as rédeas do Governo, até que por decisão dos velhos chegou-se à conveniência que se revezassem no Governo do novo Estado que depois de 600 anos constitui hoje uma potência, a mais civilizada de quantas há entre o Senegal e o Gâmbia, e entre o Deserto do Sara e as praias do mar oceânico. Quanto aos Fulas, consta com menos visos de certeza, que os rebanhos de Maomé, o Profeta, estavam entregues ao cuidado de um árabe que era casado com Sirá. Esta pequena família, ou os seus descendentes, acompanharam as caravanas que atravessaram o deserto até às terras dos Futa-Fulas aonde continuaram a vida nómada, essencialmente pastoril e agrícola; e com o seu algodão, leite e manteiga dos seus numerosos rebanhos compraram escravos que se multiplicaram entre si e que se chamaram depois Fulas-Djalons. A escravatura povoou as nossas praças e presídios de uma mistura híbrida de raças de todas as proveniências cujos filhos, depois de libertos e baptizados, tiveram nome de Grumetes, por se entregarem quase exclusivamente às lides de cabotagem comercial. Com o andar dos tempos, os oriundos do arquipélago de Cabo Verde, especialmente os soldados, tiveram filhos nas suas relações com as filhas dos Grumetes; as filhas dos Papéis, Beafadas, Mandingas e Fulas, algum tanto domesticados pelo comércio e pela religião cristã abandonaram os seus pais e o seu país para depois de baptizadas se casarem com os oriundos do referido arquipélago ou com os filhos dos libertos. Os europeus e os seus descendentes, multiplicando-se nas suas relações com as filhas do país, elevaram e aperfeiçoaram a raça dos aborígenes, oferecendo ao mesmo tempo um não pequeno contingente à estatística da população. É deste modo que o povo português indígena aumenta progressivamente como um fluxo indefinido do mar”.

Há para aqui muito consta e disse, a investigação histórica posterior encarregou-se de pôr alguma ordem em tanta consideração fantasista do amável Cónego Marcelino.

Estamos a chegar ao fim, não porque o trabalho do Cónego Marcelino esteja nas derradeiras linhas, é que ele vai entrar em considerações linguísticas, tema que merece ser versado em apartado especial, a sua escrita é empolgante, um só parágrafo, em jeito de despedida: “A língua mandinga, pela sua incomparável harmonia, elegância e facilidade de pronunciação, é a mais falada em toda a Senegâmbia; e por ser muito cultivada pelos mouros letrados, está elevada a um alto grau de perfeição”.

Assim nos despedimos até à próxima deste louvável pioneiro das ciências sociais e humanas da Guiné.

Nota: Recomenda-se vivamente a consulta dos seus elementos biográficos no site https://repositorio.ucp.pt/bitstream/10400.14/4878/1/LS_S2_04_JoaoDVicente.pdf
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Nota do editor

Vd. postes de:

11 de março de 2020 > Guiné 61/74 - P20723: Antropologia (37): Guiné Portuguesa, breve notícia sobre alguns dos seus usos, costumes…, pelo Cónego Marcelino Marques de Barros (1) (Mário Beja Santos)
e
18 de março de 2020 > Guiné 61/74 - P20746: Antropologia (38): Guiné Portuguesa, breve notícia sobre alguns dos seus usos, costumes…, pelo Cónego Marcelino Marques de Barros (2) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P20772: Agenda cultural (746): livro de José Matos e Luís Barroso, a sair no final do mês: : "Nos meandros da guerra: o Estado Novo e a África do Sul na defesa da Guiné" (Lisboa, Editora Caleidoscópio, 2020)





Novo livro do José Matos, membro da nossa Tabanca Grande, "a sair no final do mês de março" (segundo mail, de 12 do corrente, que nos mandou, a pedir divulgação). Coautoria: Luís Barroso. Título: "Nos meandros da guerra: o Estado Novo e a África do Sul na defesa da Guiné". Edição: Lisboa, Editora Caleidoscópio, 2020.

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Nota do editor:

Último poste da série > 21 de fevereiro de  2020 > Guiné 61/74 - P20671: Agenda cultural (745): lançamento de mais um livro de um dos nossos últimos "lobos do mar", o capitão Valdemar Aveiro: "Apelos do Passado: Recordações da Pesca do Bacalhau"... Apresentação da obra: prof Álvaro Garrido. Local e data: Museu Marítimo de Ílhavo, 6 de março, 21h30.

Guiné 61/74 - P20771: Viagem de volta ao mundo: em plena pandemia de COVID 19, tentando regressar a casa (Constantino Ferreira) (3): No Sul da Austrália, rumando a oeste, para chegar o mais depressa possível ao "mare nostrum"...



MSC - Magnífica > Cruzeiro de Volta ao Mundo  (*) > Sul da Austrália, a caminho de Fremantle-Perth> 24 de março de 2020 >  Constantino Ferreira d'Alva, ex-fur mil art da CART 2521 (Aldeia Formosa, Nhala e Mampatá, 1969/71), membro da nossa Tabanca Grande desde 16 de fevereiro de 2016 (*)... Trabalhou 30 anos na TAP, como tripulante de cabine; começou a escrever o seu diário de bordo, em 23 de janeiro de 2020, na sua página do Facebook, Viagens no Tempo. (**)

Cortesia da página do faceboook de Constantino Ferreira. Foto reeditada pelo Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné.


1. Viagem de volta ao mundo: em plena pandemia de COVID 19, tentando regressar a casa (Constantino Ferreira) (3): No Sul da Austrália, rumando a oeste, para chegar o mais depressa possível ao "mare nostrum"...


[Embarcou no  MSC - Magnífica, em 6 de janeiro, em Marselha, numa viagem de volta ao mundo em 115 dias, seguindo a Rota de Fernão de Magalhães.  O cruzeiro deve (ou devia) voltar ao ponto de partida no dia 1 de maio p.f.. Com ele e a esposa Elisa, vão mais dois "camaradas da Guiné", incluindo o António Graça de Abreu; num total de 3 mil passageiros, 10% já abandonaram o navio...que só toca em terra para se abastecer, estando canceladas todas as visitas programadas... A boa notícia é que não há, a bordo, até data, nenhum caso de infecção provocado pelo vírus SARS-CoV-2 (nome oficial dado pela OMS), e que orgina a COVID-19 (nome oficial da doença]


Interessante, o desenrolar dos nossos sentimentos.

Lembro-me de em 1975 ter tido uma atitude idêntica. Mas no meu caso foi com um ratito muito pequenito,  que me apareceu aflito dentro da banheira do meu pequeno apartamento no Jardim Constantino em Lisboa.

A aflição do ratito, era que escorregava, cada vez que tentava subir. Fiquei minutos a olhar para ele e a sentir a sua aflição.

Fui arranjar uma caixa de sapatos, peguei no ratito, coloquei-o dentro da caixa, fiz uns buraquinhos com uma esferográfica, saí de casa com a caixita na mão a pensar o que fazer ao ratito.

Decidi “abandonar” o meu ratito dentro da caixa, atrás da roda de trás, de um caro estacionado na Rua José Estêvão. Na convicção de que este ratito iria ter 90% de chances para ir viver no Jardim Constantino.

Pois deixei só meia caixa mesmo junto á roda de trás do velho automóvel ali estacionado. Assim, o automóvel podia só fazer marcha a trás por muito azar do ratito, ou até nem pegar à primeira nem à segunda! Então o “meu” ratito tinha mesmo muitas hipóteses de vir a viver naquele Jardim de um amante de flores ..... de papel !

Depois desta estória passada, tenho pensado na minha atitude, mas ainda não a decifrei neste emaranhado de pensamentos, sentimentos e .... atitudes ! (...)


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Constantino Ferreiram, em Aldeia Formosa
(c. 1969/71)
(**) Vd. poste de 16 de fevereiro de 2016 > Guiné 63/74 - P15756: Tabanca Grande (482): Constantino Ferreira D'Alva, ex-Fur Mil Art da CART 2521 (Aldeia Formosa, Nhala e Mampatá, 1969/71)

(...) Prestei serviço militar na Guiné, de Abril de 1969 a Junho de 1971. Fui Furriel Miliciano. Bissau, Buba, Aldeia-Formosa, foi o meu destino. A minha companhia foi a CART 2521.

A coluna que nos veio "buscar" a Buba, usou pela primeira vez a estrada nova, teve três mortos nessa famigerada "estrada nova". Regressou connosco a Aldeia Formosa pela estrada velha. Nunca mais foi usada a "estrada nova".

A TECNIL, que rasgou essa nova estrada, permaneceu em Aldeia Formosa a construir a nova pista alcatroada, para ser utilizada pelos caças Fiat.

Tudo para sul e para leste, tinha sido estrategicamente abandonado. Assim começou a minha "andança" por "estradas" e bolanhas da Guiné.

Escrevi no Jornal de Arganil, algumas "viagens no tempo" sobre esses tempos passados na Guiné, que poderei enviar para o blogue, se for considerado conveniente. (...) 

Guiné 61/74 - P20770: Parabéns a você (1775): Rui Silva, ex-2.º Sarg Mil Inf da CCAÇ 816 (Guiné, 1965/67)

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Nota do editor

Último poste da série de 24 de Março de 2020 > Guiné 61/74 - P20764: Parabéns a você (1774): Braima Djaura, ex-Soldado Condutor Auto da CCAÇ 19 (Guiné, 1972/74)

terça-feira, 24 de março de 2020

Guiné 61/74 - P20769: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (69): Camarada, a COVID-19 não passará!... Ajuda os investigadores!... Colabora, respondendo a um questionário, de 6 minutos, da Escola Nacional de Saúde Pública / Universidade NOVA de Lisboa


Escola Nacional de Saúde Pública / Universidade NOVA de Lisboa



Publicado a 20/03/2020

A Escola Nacional de Saúde Pública lançou hoje um projeto de investigação dedicada à COVID-19, intitulado Barómetro COVID-19, para contribuir em tempo útil aos desafios que nos impõe esta pandemia global.

Um grupo de investigadores, médicos de Saúde Pública, epidemiologistas, estatísticos, economistas, sociólogos, psicólogos, entre outros, irá acompanhar o desenvolvimento desta pandemia em Portugal e no Mundo, de diversas perspectivas, fazendo projeções de novos casos, analisando o impacto de intervenções que se vão tomando em diferentes países, estimando, numa primeira fase, a necessidades de serviços de saúde, e explorando as questões jurídicas, a perceção social e o estigma.

O Barómetro COVID-19 pretende gerar conhecimento científico robusto que seja ser útil agora, na tomada de decisão, e garantir que o conhecimento útil para o futuro. A agenda do Barómetro não é fechada, vai definir-se e adaptar-se, ao longo da pandemia, consoante as necessidades identificadas.

Neste momento estão a ser estudadas três questões:

Análise comparativa das respostas dos diferentes países à epidemia COVID—19

Modelos epidemiológicos de projeção de novos casos (primeiros resultados já lançados)

Ao longo de toda a pandemia e sob o ponto de vista do cidadão, analisar a evolução da perceção quanto ao risco, do cumprimento das medidas veiculadas pelo Governo, quanto à capacidade de resposta do Governo e dos serviços de saúde e quanto aos impactos no quotidiano individual. 

Pretende-se ainda analisar as fontes de informação preferenciais e a rede social de apoio em caso de necessidade.

 [ Participe e responda ao questionário
[Clicar aqui]


Com este projeto de investigação que é agora lançado, a ENSP-NOVA pretende disponibilizar à sociedade dados efetivos e análises científicas sobre a pandemia, com o objetivo de contribuir ativamente para a sua compreensão, assegurar uma ferramenta de apoio à tomada de decisão e gerar conhecimento robusto, que possa ser útil em futuras situações.

Os resultados da investigação serão disponibilizados de forma regular e com a maior brevidade, numa plataforma digital que se encontra neste momento em construção, prevendo-se a sua conclusão ainda durante o mês de março.

Em caso de sugestões, dúvidas ou comentários, agradecemos o contacto para: barometro.covid19@ensp.unl.pt

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Apelo do editor Luís Graça:

De acordo com a página do Facebook da ENSP / NOVA, o  Barómetro Covid-19 está a caminho dos 34.000 questionários respondidos, em apenas 48h! Mas acrescenta-se: "Estamos a precisar de mais respostas da população sénior. Promova o questionário junto dos seus pais, tios, avós e vizinhos e ajude no seu preenchimento."

Camarada: colabora neste estudo da minha Escola... Sem conhecimento, não ganhamos esta guerra... O questionário é anónimo e "rouba-te" apenas 6 minutos do teu tempo... Deves responder todas as semanas até ao fim do mês... Carrega no link acima. Obrigado, pela tua e nossa saúde, pela saúde dos nossos filhos e netos. 

A Covid-19 não passará!...Luís Graça.

PS - É também uma forma de gratidão a esta prestigiada  instituição académica, criada em 1967, e  cujo servidor aloja a página pessoal do nosso editor Luís Graça (Saúde & Trabalho, criada em 1999), onde se incluem os preciosos mapas da antiga província portuguesa da Guiné (Escala 1/50 mil) e outras páginas que complementam o blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné.
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Nota do editor:

Último poste da série > 18 de janeiro de 2020 > Guiné 61/74 - P20569: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (68): Fotos da "colónia penal e agrícola" da Ilha das Galinhas (Carlos de Carvalho / José António Viegas)


Guiné 61/74 - P20768: Recordações da CART 2520 (Xime, Enxalé, Mansambo e Quinhamel, 1969/71) (José Nascimento) (16): O Furriel Pestana

O Fur Mil Pestana no Xime


1. Em mensagem do dia 24 de Julho de 2019, o nosso camarada José Nascimento (ex-Fur Mil Art, CART 2520, Xime, Enxalé, Mansambo e Quinhamel, 1969/71) fala-nos do "Reguila", o 1.º Cabo Cordeiro do 3. Pelotão da 2520.


RECORDAÇÕES DA CART 2520

O FURRIEL PESTANA

José Joaquim Pestana, assim se chamava um dos furriéis do 2.º pelotão da CART 2520 que esteve no Xime. Fez a sua formação como Atirador de Artilharia no 2.º ciclo do 1.º turno de 1968 na Escola Prática de Artilharia de Vendas Novas. Era muito bem disposto e brincalhão e até me chamava de imberbe devido ao meu aspecto jovem em relação à idade que eu tinha. Sabia tocar guitarra e ensinou outros elementos da Companhia a fazê-lo, pelo que normalmente, sempre que as condições permitiam, às noites se organizavam pequenos concertos de música.


 Santa Margarida - José Joaquim Pestana é o segundo de pé a partir da esquerda.

Mas, para infelicidade do Pestana, no dia 9 de Março de 1970, a música foi outra. Já de regresso duma operação nas matas do Xime, o inimigo comandado por um "maestro" cubano, monta uma emboscada à CART 2520. A cerca de cinco ou seis quilómetros de distância e no destacamento do Enxalé, ouço o "cantar" das costureirinhas e o som das "baterias", neste caso dos RPG7 e também das nossas G3, que passados alguns minutos se calam.

Peço ao operador de rádio para entrar em contacto com a sede da Companhia e somos informados que a situação é grave, há um morto e vários feridos da parte das nossas tropas. Ao fim de algum tempo ouve-se ao longe o som característico das pás dos hélis, que procedem à evacuação dos nossos feridos para Bissau e outros para o Xime.

Pensando que poderia ser útil, solicito para me virem buscar à margem do Geba oposta ao Xime e assim com mais dois ou três elementos do meu pelotão faço a travessia da bolanha e também da sempre arriscada cambança do rio, ao mínimo percalço poderíamos servir de apetitosa refeição a um qualquer jacaré.

Apressadamente dirijo-me à nossa enfermaria, onde os nossos azougados enfermeiros, comandados pelo Furriel Enfermeiro Costa, fazem o que podem para tratar dos feridos.
Assim que me vê, o Costa diz-me:
- Nascimento, ajuda-me aqui.
Apresso-me a ajudá-lo e o ferido que estava a ser tratado era o Furriel Pestana. Tinha um buraco nas costas onde cabia um punho cerrado. Fiquei impressionado com o ferimento que vi, foi feito o melhor tratamento possível, ou seja o que estava ao alcance dos nossos enfermeiros, tanto o Pestana como alguns dos feridos são de seguida evacuados para Bissau.

Ainda no mesmo dia regressei ao Enxalé consciente de que havia cumprido a minha obrigação. Não mais voltei a ver o camarada Pestana porque ele não mais regressaria à Companhia, recuperou mas ficou com algumas mazelas.

Passados alguns anos, e depois vasculhadas várias listas telefónicas, consigo aceder a um número de telefone que me pareceu ser a do antigo camarada de armas. Depois de discar os números e de ouvir o toque de chamada sou atendido por um familiar, peço que me passem o telefone ao Pestana e depois de me identificar ouço do outro lado da linha num tom de voz verdadeiramente comovida:
- Ah, és tu Nascimento?

Tivemos uma pequena conversa sobre as nossas vivências da Guiné. Desde então ligue-lhe esporadicamente e desabafamos as nossas lamentações.

O Pestana sempre se recusou a comparecer nos convívios que a CART 2520 tem efectuado ao longo dos anos e compreende-se porquê.

Para todos os camaradas da Tabanca Grande um abraço.
José Nascimento
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Nota do editor

Último poste da série de 30 de julho de 2019 > Guiné 61/74 - P20020: Recordações da CART 2520 (Xime, Enxalé, Mansambo e Quinhamel, 1969/71) (José Nascimento) (14): "O Reguila"

Guiné 61/74 - P20767: Memórias ao acaso (Miguel Rocha, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 2367/BCAÇ 2845) (5): Volkswagen "Pão de forma"

Volkswagen "Pão de forma"


Mais uma crónica do nosso camarada Miguel Rocha, ex-Alf Mil Inf.ª da CCAÇ 2367/BCAÇ 2845, "Os Vampiros" (Olossato, Teixeira Pinto e Cacheu, 1968/70):


MEMÓRIAS AO ACASO

05 - VW - "PÃO DE FORMA"

Era uma VW de passageiros do Exército (9 lugares), que às horas certas vinha a uma praceta da baixa de Bissau recolher os oficiais, que em trânsito pela capital, estavam alojados no "600", quartel fora de portas, famoso pela sua "vala comum", como apelidávamos o pouco dignificante dormitório.

Estávamos em meados de Setembro de 1969, o calor exterior era imenso, e a "pão de forma" com a sua térmica concentradora cor mate verde-escuro, e um único arremedo de isolamento no tecto, elevava a temperatura do habitáculo para próximo dos 50º!

Seria a viagem das 15 horas, e como pontualmente acontecia, dez minutos antes, a viatura chegou e estacionou no ponto de recolha. Era dado adquirido que assim que a lotação estivesse completa a carrinha abalava, caso contrário esperava pela hora certa para o fazer.

No banco da frente, junto ao condutor, sentava-se o oficial mais graduado, que nesse dia, se bem me lembro, seria um major.

Tomámos lugar mas faltava um viajante para que a largada se desse de imediato! Olhares esperançosos de todos nós para o dobrar das esquinas... e nada! Não aparecia mais ninguém! O calor estava ao nível de boca de forno de padaria!

Então com voz dorida, pausada e com as sílabas bem batidas, clamei :
- Condutor! Está completo, podes arrancar!

E à laia de justificação, acrescentei:
- Eu conto por dois! Têm-me fodido tanto que acredito que estou grávido!

O senhor major, de soslaio, avaliou o grau de "cacimbagem" que o meu semblante de 17 meses de mato denotava, e com um conveniente sentido de humor virou-se para o condutor e ordenou:
- Arranca! O nosso alferes é capaz de ter razão!
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Nota do editor

Último poste da série de 5 de março de 2020 > Guiné 61/74 - P20706: Memórias ao acaso (Miguel Rocha, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 2367/BCAÇ 2845) (4): Alcunhas

Guiné 61/74 - P20766: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (118): A COVID-19 não passará! ...Reclusão... Estamos todos de quarentena... esperando que tudo passe para retomarmos o carreiro da vida (Juvenal Amado, autor de "A Tropa Vai Fazer de Ti um Homem", 2015)


Alcobaça > Cabeço > Cabeço Futebol Clube,  antes de ir para a Guiné talvez no início de 71


Alcobaça > Cabeça > Cabeço Futebol Clube, talvez 74-75 depois do regresso  da Guiné (*)

Fotos (e legendas): © Juvenal Amado (2020) . Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


RECLUSÃO

por Juvenal Amado

[ex-1.º Cabo Condutor Auto Rodas, CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, 1971/74; autor de "A Tropa Vai Fazer De Ti Um Homem - Guiné, 1971 - 1974" (Lisboa: Chiado Editora, 2015, 308 pp.)]

Neste momento de reclusão lembro a minha vida passada a forma como enfrentamos obstáculos e os perigos que a vida nos meteu pela frente.

Quando jovens corremos muitos de toda a ordem. Desde pôr em risco a nossa liberdade bem como nas comissões, que cumprimos em terras de além-mar.

Lá fizemos muitos quilómetros sem pensar no que nos poda acontecer com as minas, se na curva não estaria um RPG ou a uma rajada de AK à nossa espera. Ou por um lado pensávamos, mas relativizámos.

Nuns casos assistimos a mortes e feridos em directo, de outros ouvimos falar. No entanto hoje penso como foi possível essa falta de consciência, essa leveza como enfrentámos os riscos, como fomos capaz de ignorar a finidade da nossa vida quando fazíamos colunas em sectores de risco, as picagens onde a morte estava mesmo ali a cada passada, quando fomos socorrer de noite, quando o som das explosões e os incêndios dos ataques ainda não se tinham extinguido. E como voltávamos a fazer tudo outra vez depois de ver o que tinha acontecido na véspera à nossa frente?

Claro que pensava que podiam estar à nossa espera, mas que força nos fazia continuar? Era o dever ou a solidariedade? Não sei responder e tão pouco altura sabia tal, nos meus vinte e dois anos. Depois passados esses momentos para trás ficava só o orgulho de termos sido suficientemente corajosos para nos atrevermos a tal.

Mas hoje é difícil de aceitar quando toda a vida cuidámos dos outros e temos, que deixar que cuidem de nós. A nossa vontade tem que ceder à vontade dos nossos, que até aqui eram nossos dependentes. É frustrante constatar, que não somos hoje autónomos independentes na nossa vontade nas mais pequenas coisas, nós que ainda em muitos casos não perdemos o sentido de que ainda somos capazes de mover e mudar o Mundo.

É como tentar dar a passada maior que a perna. Na nossa cabeça ainda chegamos lá com o salto, mas as pernas não obedecem ou tardam no impulso. Isso causa-nos dor bem no fundo do nosso amago, ficamos insatisfeitos, ansiosos, não raramente espingardamos contra a nossa sorte, ficamos com o rastilho curto, enfim estamos velhos e rezingões e por vezes tratamos por alto da burra quem com quem nós partilha estas novas aflições. Tempos cada vez mais complicados que vamos viver.

Quando jovens esperamos a vida agora o que esperamos?

Quando jovens esperámos a vida militar como forma de transpor um espaço temporal em que depois tudo nos seria mais fácil. Casámos vieram os filhos, uma vida de trabalho e anseios para lhes dar as oportunidades que não tivemos. Os que se formaram e os que não se formaram esperamos que arranjassem um bom emprego, casassem, nos dessem netos, num ciclo sempre renovado de vidas cheias.

Em África ansiávamos pelo regresso. Nas noites de serviço rebuscávamos a nossas recordações de casa, não sabendo que nunca nada tinha ficado igual com a nossa ausência, que nada seria retomado ao tempo da nossa partida.

Por isso aquele fado do “oh tempo volta para trás “ tantas vezes repetido.

Mas naquele tempo estávamos em camaradagem com tudo de positivo isso implicava. Íamos nas colunas comíamos a ração, dávamos ou trocávamos o que não comíamos, bebíamos uma cerveja fresca quando havia, jogávamos à sueca, ralhávamos uns com os outros por causa da carta mal jogada, no fim era só mais um dia passado e vivos.

Foi-se embora a juventude, vive-se mais de contemplações. Mas nestes tempos de incerteza em que um perigo novamente mortal se abateu sobre nossas cabeças e confinados às paredes das casas, aguardamos que sejamos novamente poupados pelo o destino.

Vamos esperar que tudo passe para assim se retomar o carreiro da vida .

Um abraço a todos os camaradas

23/03/2020 Décimo dia de isolamento. (**)

Juvenal Amado
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Notas do editor:

(*) Vd. blogue JERO > M 291 - Jogos de futebol únicos... Uma fotografia com história > A malta do Cabeço em 1975

(...) Jogadores em Campo? Muitos…Mais de 40! Arrisco até que são 43!

Os jogos do Cabeço – num campo pelado que tinha erva por todo o lado e que se situava na saída de Alcobaça, a caminho do Casal Pereiro…– tinham regras únicas. Jogava toda a malta .Dez contra dez, quinze contra quinze, vinte contra vinte ou mais. Mesmo com o jogo a decorrer quem chegava ao Cabeço…jogava.

O jogo iniciava depois de uma “primeira” escolha com a malta ainda toda de camisola. Quem sofria o primeiro golo tirava a camisola e passava a jogar de tronco nu… Na fotografia que ilustra o texto há situações de pais e filhos, que era mais uma singularidade destes jogos especiais que duravam toda a manhã. Começavam às 9.00 e acabavam …quando não restava mais ninguém em campo.

Gente conhecida há muita.Desconhecida também... De pé, da esquerda para a direita, um que não conhecemos.Depois o Calisto, o JERO, N, N ,N, N, Rainho (já falecido), o Palma Rodrigues (sempre a guarda redes) e, entre conhecidos e outros de que não recordamos o nome, o João Manuel, o Basílio Martins (com longas barbas), o Dr.José Pedrosa (que era “bom de bola”) e gente mais nova.

De cócoras e sentados o Ramiro (que em dias bons conseguia acertar mesmo na bola), o António Eduardo, o Pisão (já falecido), o Juvenal Amado (dono da fotografia), diversos “Bibis”, o Nabais e o Diamantino (de barbas),o Pacheco e mais outros.

Quase completamente deitados o Carlos Helder (que foi campeão de salto à vara) e o Teopisto. (...)


(**) Último poste da série > 19 de março de 2020 > Guiné 61/74 - P20748: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (115): A COVID.-19 não passará!... (ou o "cornovírus", como já diz o povo). Pois, cantemos a vida, a alegria, o amor... "Aimons le vin"... Amemos o vinho, o amor e as mulheres: canção tradicional, Normandia, França, interpretada pelo Coro Municipal da Lourinhã (maestro: Carlos Pedro Alves)