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quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Guiné 63/74 - P5752: In Memoriam (35): Humberto Pereira Vieira, Soldado Condutor Auto de Transmissões da CART 2339, Mansambo, 1968/69 (José Martins)


1. O sobrinho do nosso Camarada Humberto Pereira Vieira, que foi Soldado Condutor Auto de Transmissões da CART 2339, Mansambo, 1968/69, de nome Humberto Gomes da Silva, enviou-nos em 25 de Janeiro último, o seguinte apelo:

Humberto Pereira Vieira
Soldado Condutor Auto de Transmissões
CART 2339, Mansambo, 1968/69
Olá,
Espero que tudo esteja bem.
Chamo-me Humberto Silva e sou sobrinho de um camarada vosso que nos “deixou” na Guiné...
O seu nome é Humberto Vieira...
Gostava que se pudesse, me enviasse informações sobre ele...
Os seus pais ainda estão vivos: Abílio Vieira e Maria Amélia, ambos naturais de Baião/Amarante, a viver em Matosinhos - Porto.
O Humberto está no cemitério de Sendim, em Matosinhos / Porto, no regime geral...
Sem mais de momento e na esperança que tenham algo a contar sobre ele...
O meu e-mail pessoal é: humsgsilva@hotmail.com
Um abraço,
Humberto Silva

2. Em 28 de Janeiro de 2010, o nosso Camarada Torcato Mendonça, que pertenceu à mesma CART, enviou-nos a seguinte mesnagem:

Quanto á morte do Humberto nada ou pouco posso acrescentar. Saí nesse dia para a Moricanhe. Tenho isso descrito em escrito e creio que publicado.
Certamente algum de vós, se estava em Mansambo, melhor na emboscada e, caso se recorde do Humberto, disso falará.
Abraços a todos do,
Torcato

3. Também em 28 de Janeiro de 2010, o nosso Camarada José Martins, habitual colaborador no blogue em todas as matérias relacionadas com as movimentações das diversas Unidades, que estiveram na Guerra do Ultramar, a pedido do Luís Graça, enviou-nos os seguintes elementos sobre a CART 2339, os seus mortos e condecorações:

Caro Luis e Humberto

Em anexo segue o que consegui obter sobre o nosso camarada Humberto Vieira.
Como sempre, os elementos foram obtidos juntando algumas franjas de diversas proveniências.
Não esquecer que no blogue há elementos que pertenceram à mesma companhia, como o Torcato Mendonça, Carlos Marques dos Santos e Ernesto Ribeiro (não sei se me falha algum), que podem dar uma visão menos histórica e mais pessoal do nosso camarada.


Companhia de Artilharia nº 2339

Mobilizada no Regimento de Artilharia Ligeira nº 3 em Évora, embarcou em Lisboa em 14 de Janeiro de 1968. Era comandada pelo Capitão Miliciano Graduado de Artilharia Arnaldo Manuel Pedroso de Lima e ostentava como divisa “Viriatos” assim como a Divisa da unidade mobilizadora “Lealdade e Nobreza”. Posteriormente estivaram no comando da subunidade o Capitão de Artilharia Augusto Moura Soares e o Capitão de Artilharia Raul Alberto Laranjeira Henriques.

Tendo desembarcado em Bissau no dia 21 de Janeiro de 1968, tendo seguido para o Xime afim de efectuar a instrução de adaptação operacional, sob a orientação do Batalhão de Artilharia nº 1904, tendo substituído a Companhia de Caçadores nº 1551, ficando com a função de intervenção e reserva, às ordens daquele batalhão, instalando-se em Fá Mandinga a partir de 15 de Fevereiro de 1968.

Participou em operação nas regiões de Galo Corubal, Siai, Velel e regulados de Canha e Maná.

Iniciou a construção do aquartelamento de Mansambo em 21 de Abril de 1968, para onde foi transferido em 6 de Maio de 1968, com a criação daquele subsector, tendo ficado integrado na zona de acção do Batalhão de Artilharia nº 1804 e, posteriormente, do Batalhão de Caçadores nº 2852.

Em 11 de Junho de 1968, a sua actividade foi orientada para os trabalhos de reordenamento das povoações de Afiá e Candamã, assim como a promoção socioeconómica das populações da área, para onde deslocou forças por períodos curtos e variáveis, alem de ter destacado efectivos em reforço das guarnições de Geba, Xime e Bambadinca, entre outras.

Rendida no subsector de Mansambo pela Companhia de Caçadores nº 2401, em 21 de Novembro de 1969, regressou a Bissau para aguardar embarque para a metrópole, o que se verificou em 4 de Dezembro de 1969.

Os mortos da subunidade:

FERNANDO RIBEIRO DE SOUSA, 1º Cabo Enfermeiro nº 02143467, natural da freguesia e concelho de Penafiel, solteiro, filho de Agostinho Ribeiro de Sousa e de Gracinda Rosa, faleceu 24 de Julho de 1968, vítima de ferimentos em combate na região de Moricane durante um ataque ao aquartelamento. Foi inumado no Cemitério de Penafiel.

HUMBERTO PEREIRA VIEIRA, Soldado Condutor Auto de Transmissões nº 06788767, natural do lugar de Cabaço, freguesia de Santo Cruz do Douro e concelho de Baião, solteiro, filho de Abílio Vieira e Maria Amélia, faleceu 19 de Setembro de 1968, vítima de ferimentos em combate junto da fonte de Mansambo. Foi inumado no Cemitério nº 2 de Matosinhos.

JOÃO MANUEL JACINTO FIGUEIRAS, 1º Cabo Condutor Auto Rodas nº 03281467, natural da freguesia de São Pedro, concelho de Faro, casado com Maria do Carmo Santos Medeiros Figueiras, filho de Ludgero Gregório Figueiras e Ermelinda Jacinto Figueiras, faleceu 25 de Setembro de 1968 no Hospital Militar nº 241, Bissau, vítima de ferimentos em combate, em 19 desse mês, junto da fonte de Mansambo. Foi inumado no Cemitério de Faro.

CARLOS ARMANDO DE SOUSA DUARTE, Soldado de Atirador nº 08913767, natural da freguesia de Santa Marinha, concelho de Vila Nova de Gaia, solteiro, filho de Serafim, Alves Duarte e Benilde Alves de Sousa, faleceu 3 de Dezembro de 1968, vítima de acidente, afogamento no Rio Pulom, em Mansambo. Foi inumado no Cemitério Paroquial de Santa Marinha.

CARLOS MANUEL DA COSTA PIMENTA, Soldado de Armas Pesadas nº 08842267, natural de Colaria, freguesia de Freiria, concelho de Torres Vedras, solteiro, filho de Manuel Simões Pimenta e Nazaré Costa, faleceu 3 de Dezembro de 1968, vítima de acidente, afogamento no Rio Pulom, em Mansambo. Foi inumado no Cemitério Paroquial de Freiria.

JOSE FERREIRA BESSA, Soldado Atirador nº 00884067, natural da freguesia de Santa Eulália, concelho de Lousada, solteiro, filho de António Ferreira de Bessa e de Maria da Glória Carvalho Bessa, faleceu 3 de Janeiro de 1969, vítima de ferimentos em combate num ataque ao aquartelamento de Mansambo. Foi inumado no Cemitério Paroquial de Cristelos - Lousada.

JOAQUIM MARTINS BARBOSA, Soldado Atirador nº 09171367, natural da freguesia de São Salvador do Campo, concelho de Barcelos, solteiro, filho de Manuel Sepúlveda Barbosa e Sofia Martins da Ponte, faleceu 29 de Setembro de 1969, vítima de ferimentos em combate na estrada entre Mansambo e Bambadinca. Foi inumado no Cemitério Paroquial de São Salvador do Campo.

JOSÉ FRANCISCO GAIÉ CASADINHO, Soldado Atirador nº 08731567, natural da freguesia de São Matias, concelho de Beja, Casado com Eugénia Rosa Horta, filho de António Piriquito Casadinho e Luísa Rosa Gaié, faleceu 2 de Outubro de 1968, vítima de acidente de viação no aeroporto de Bissalanca. Foi inumado no Cemitério Paroquial de S. Matias.

Condecorações

O 1º Cabo Atirador de Artilharia MARINO DA COSTA LOBO CAMPOS, foi condecorado com a medalha da Cruz de Guerra de 3ª Classe, por acção desenvolvida no dia 30 de Julho de 1969, publicada na Ordem do Exército nº 9, Série III de 1970.

Um abraço fraterno,
José Martins
Fur Mil Trms da CCAÇ 5
___________

Nota de M.R.:

Vd. também os postes relacionados:



(Existem dezenas de links de postes do Torcato Mendonça sobre esta matéria!)

Vd. também os postes da I Série:




Vd. último poste desta série em:

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Guiné 63/74 - P5394: In Memoriam (35): Ieró Embaló, o desaparecimento dum Homem de Verdade (Rui A. Ferreira)


1. Recebemos do nosso Camarada Rui Alexandrino Ferreira, Coronel Ref, que cumpriu uma comissão de serviço na Guiné como Alf Mil na CCAÇ 1420, Fulacunda, 1965/67 e outra como Cap Mil na CCAÇ 18, Aldeia Formosa, 1970/72, a seguinte mensagem:

O Desaparecimento dum Homem de Verdade

Morreu hoje, dia 24 de Novembro de 2009, num Hospital da região da grande Lisboa, onde dias antes fora internado de urgência com problemas cardiovasculares, Ieró Embalo, meu soldado, meu amigo, meu irmão sobre quem um dia escrevi o que se segue destinado aos autos mandados instaurar pelo Ministro da Defesa Nacional de Portugal, no seguimento duma carta em que lhe expunha a situação em que se encontrava com vistas à recuperação na nacionalidade portuguesa que nunca ninguém lhe perguntou se a queria deixar de ter e à atribuição das pensões que lhe eram devidas por ser condecorado com uma da Cruz de Guerra e por ter sido feito prisioneiro de guerra.


Ieró Embaló 1.º Cabo do Exercito Português

Depoimento daquele que foi o primeiro comandante da C.C. 18.

Nos processos referentes ao militar em questão.

Identificação:
  • Rui Fernando Alexandrino Ferreira
  • Tenente-coronel do QTS
  • NIM – 05874064
  • Filiação – Fernando Ferreira
  • Inês Borges Alexandrino Ferreira
  • Naturalidade- Sá da Bandeira - Angola
  • Estado civil - casado
  • Idade – 60 anos
  • Data de Nascimento 04-Agosto-1943
  • Residência – Bairro da Quinta da Carreira, lote 30 – 1º
  • 3500-147 Viseu
Tomei contacto pela primeira vez com o então soldado Ieró Embaló quando na minha segunda comissão na Guiné, então também Portuguesa, fui, após três meses de permanência na província e no comando da Companhia de Caçadores 2586 do Batalhão 2884, rendido naquela e nomeado por escolha pessoal do também então Governador e Comandante-chefe daquele território, General António de Spínola, para ir comandar a Companhia de Caçadores n.º 18, do recrutamento local e da etnia fula na sua quase totalidade, que se encontrava em fase de pré-constituição no Centro de Instrução Militar, em Bolama.

Passava assim certamente por algum mérito próprio mas muito mais pela actuação que tinha tido na anterior comissão onde circunstancias várias que aqui não importa referir mas que me tinham levado ao cometimento de algumas acções de extremo valor operacional que estiveram na base de alguns louvores, citações e inclusivamente ao Prédio.

Governador da Guiné e à condecoração com a Cruz de Guerra de 1.ª classe, mas que serviram também para que aquele carismático, controverso, mediático, autoritário e incontestado chefe militar em questão logicamente tivesse pensado e decidido dever eu passar a integrar a elite das forças de intervenção da Guiné. Assim eram tidas as tropas africanas, que de certa maneira as compensava pelo redobrar de sacrifícios, suor e sangue, que os mutilados e mortos em combate eram em muito maior escala que a tropa normal oriunda da metrópole, vulgarmente conhecida como a tropa macaca, bem o atestavam.

Chegado à província para iniciar nova comissão (Setembro de 1970), dela tinha saído em Novembro de 1967, logo pressenti que me ia ver envolvido em novos e inevitáveis trabalhos.

Tudo isto porque havia, com rara e astuciosa decisão (é justo reconhecer hoje) determinado que, sem contemplações ou excepções, fossem colocados nas unidades africanas somente os capitães que já tivessem dado provas de extremo valor operacional, de preferencia na Guiné, de que eram capazes de aguentar o esforço físico que lhes seria exigido, o desgaste psicológico a que estariam sujeitos e ainda conseguir esquecer que os brancos eram apenas meia dúzia para cerca de uma centena e meia de negros o que resultava, que mais dia, menos dia, transformados em alvos preferenciais do inimigo, naquela nova modalidade de desporto que passou à história com o nome de “ Tiro ao Branco”, acabariam numa cama do Hospital Militar ou debaixo de alguns palmos de terra.

Como já tinha a citada Cruz de Guerra de 1.ª classe da anterior comissão ali cumprida a minha nomeação para as tropas africanas só demorou o tempo suficiente que mediou entre a minha chegada e a ocorrência da primeira vaga.Entre a data da nomeação, a partida para o local em que a companhia seria constituída, a sua marcha para a zona prevista para ocupação e a entrada em posição, a minha vida foi um frenesim e constituiu-se hoje o que considero ter sido uma verdadeira e espantosa epopeia.

E se me atrevo a falar sobre quanto então se passou, numa evocação desses tempos duros e difíceis, penosos, arrastados e sofridos, é para deixar esclarecido que ao referir estes factos não o faço para me auto-elogiar ou promover do que não tenho a menor necessidade mas para dar uma ideia, que é durante os tempos conturbados que mais se aprecia o valor, a lealdade, o espirito de sacrifício, a capacidade de sofrimento, a resistência física ao esforço e à fadiga, a perseverança, o espirito de missão, a permanente exposição ao perigo, o arriscar vezes sem conta a própria vida, que me faz reconhecer, ainda mais nobre, o procedimento desse combatente de excepção como foi Ieró Embaló.

E é assim, que ouso afirmar que olvidando quer as restantes condecorações que me foram outorgadas, os prémios e louvores em combate, as citações que as minhas actuações possam ter tido bastariam as duas Cruzes de Guerra e as marcas que o meu corpo tem dos ferimentos que sofri para me sentir com a autoridade moral de poder falar, sem a mínima restrição, denunciando a vergonhosa conduta, injusta, imerecida e criminosa actuação que alguns dos filhos de Portugal continental então tiveram contra ele, mas que o responsabiliza como entidade descolonizadora e compromete como um estado de direito e a quem compete logicamente a sua reparação.

Apresentado no Centro de Instrução Militar para dar inicio ao treino Operacional a que as unidades eram submetidas antes de serem dadas como operacionais e aptas para a intervenção e que teve lugar na região de Nova Sintra/São João, do outro lado do rio mesmo em frente à ilha de Bolama, constatei não só que a região era muito pouco recomendada para a saúde pública como infelizmente o era quase toda a Guiné, mas que a tarefa se apresentava bem maior do que aquilo que jamais tinha imaginado.

Os alferes que iam integrar a companhia chegaram de Portugal já o treino tinha sido dado como feito e de negros, limitavam-se a conhecer o Eusébio os que gostavam de futebol, mas das suas mentalidades e da forma de lidar com eles nada sabiam Os sargentos, que eram igualmente do recrutamento provincial foi-lhes dado como findo a toda a pressa o curso que frequentam para a poderem integrar antes da marcha para a zona de intervenção.

As praças das diversas especialidades foram chegando a um ritmo impensável ou minimamente aceitável ao longo do tempo. A maior parte delas já estava na companhia há muito em intervenção.

Assim para além da minha própria pessoa restavam os soldados atiradores. E foi desta forma inimaginável e absolutamente caricata que decorreu o treino operacional.

É bem certo que foi por minha própria iniciativa e expressa vontade que foram dispensados de o integrar, acompanhando-me nas saídas para o mato os dois alferes milicianos que me foram atribuídos para o efeito. Só que tendo constatado que estavam a pouco mais de um mês para findarem as suas comissões me pareceu uma evidente falta de bom senso, ingratidão, desprezo e indiferença pelas suas vidas, numa violência sem sentido.

E se de forma alguma me agradaria ter um dia de me sentir responsável pelas suas mortes ou pelos seus ferimentos preferi não os levar para o mato.Assim o ponderei e assim o levei a cabo, tendo logicamente suportado as consequências. Mas bem contra o que seria lógico esperar daquele experiência dela muito se aproveitou Não só tive a oportunidade de rapidamente conhecer praticamente todos os elementos que a iam integrar como também de com eles estabelecer um clima de confiança, de respeito e consideração, firmando laços de verdadeira camaradagem e amizade de que resultou não ter tido qualquer problema disciplinar entre eles e para comigo, isto para não deixar de referir uma violenta cena de troca de tiros com a outra companhia da metrópole que aqui não tem cabimento.

Desde o primeiro dia, chamou-me à atenção a generosidade, o empenho, a dedicação e o entusiasmo que o Ieró punha em tudo quanto fazia.

E que a par destas qualidades, era um guerrilheiro especial pois tinha sido raptado quando rapaz, levado à força para a Guiné Conackri, onde se viu obrigado a integrar as forças do PAIGC e tendo sido colocado numa base operacional turra, dentro do território da Guiné, daí tinha fugido na primeira oportunidade e feito a sua apresentação às forças portuguesas.

Tinha um conhecimento profundo das formas de actuar do inimigo e das tropas portuguesas. Era dum espantoso espírito de observação, duma imensa capacidade de adaptação ás mais variadas situações, reagia com prontidão, não perdia a noção da tempo e do espaço em que se movia e era de prontas resoluções.

Constatei ainda que era alegre, divertido e bem-disposto, tinha uma profunda e admirável filosofia de vida, uma inteligência superior à média, era desembaraçado, prestável e atencioso e tinha um padrão de vida e uma excelente bagagem cultural. Falava fluentemente o português, o francês, o fula e o crioulo, escrevia à moda europeia e lia e escrevia o árabe em caracteres próprios o que era extremamente difícil.

Islâmico, profundamente religioso, seguia e norteava a sua vida pelas determinações de Deus. Tinha um orgulho imenso na sua condição de português, foi logicamente escolhido para funcionar como elemento de ligação, interprete uma vez que uma larga percentagem dos seus elementos mal falava e pouco entendia da língua portuguesa e consequentemente passou com toda a lógica a ser o meu par operacional, vulgo Guarda-costas.

Foram duma extrema utilidade os seus conselhos, as suas intervenções, o conhecimento dos modos de actuação do inimigo de então, bem como ficaram suficientemente provadas as suas capacidades de combatente, a sua lealdade, o seu amor à Pátria que todos lhe diziam que ia do Minho a Timor.

Mas se muitas foram as ocasiões e as oportunidades que ao longo de dois anos de intensa actividade operacional permitiram reconhece-lo como um dos melhores combatentes que o solo da Guiné jamais conheceu, duas acções me parecem de especial relevo. A primeira durante a operação oxigono em que dois grupos de combate da companhia em missão de contra-penetração emboscavam os itinerários que o PAIGC utilizava para do território da Guiné-Conackri introduzir o armamento, o remuniciamento e os reabastecimentos de que as suas bases operacionais no interior da nossa Guiné necessitavam, se viram confrontados com uma coluna inimiga cujo efectivo excedia em larga escala o número dos que a emboscavam, dispondo de melhor armamento, foi dos primeiros elementos que de pé os afrontou, desnorteou e com absoluto desprezo pela vida se lançou ao assalto, conseguindo com a sua extraordinária coragem, sangue frio, destemor e determinação servir de exemplo e contagiar os seus camaradas que empolgados transformaram o que se poderias ter saldado por uma imensa tragédia para as nossas tropas numa jornada de glória, em que foi capturado um precioso espolio em armamento, no qual se incluíram pela primeira vez na Guiné três foguetões de 122 mm, conhecidos como Órgãos de Staline, RPG´s, e armamento individual, um lote muito valioso de munições das mais variadas armas produzindo ainda pesadas baixas entre a coluna inimiga.

Foi ainda eliminado um importante chefe militar da região. Ainda referente a esta operação é de salientar que foi graças ao seu conhecimento sobre a forma de actuar do inimigo que fazia percorrer no sentido inverso ao que a coluna ia fazer, dois ou mais batedores com a missão de verificar se este percurso estava livre de perigos pela inexistência de tropas emboscadas. Foi assim que estiveram parados a poucos metros da emboscada que montávamos dois guerrilheiros que se sentaram escassos metros à nossa frente num morro de baga-baga, fumaram os seus cachimbos, conversaram e riram sem que da nossa parte tenha ocorrido o mínimo barulho ou qualquer gesto denunciador no que terão constituído seguramente os mais angustiantes e prolongados minutos da minha vida.

A segunda ocasião que me apraz aqui citar aconteceu durante a operação Muralha Quimérica onde entre as forças operacionais especiais e de elite da então província da Guiné, comandos metropolitanos e africanos, fuzileiros e paraquedistas, a Companhia de Caçadores nº 18 teve uma intervenção de extremo valor opondo-se com total firmeza e determinação à passagem do escalão avançado do PAIGC que igualmente em muito maior numero, melhor armamento e fortes motivações morais para tudo superar pois faziam a guarda aos investigadores da ONU que na sequência da unilateral proclamação de independência da Guiné reconheciam as zonas que o movimento independentista proclamava como regiões libertadas.

Tendo sido atribuída à companhia uma zona muita a norte da possível zona de confrontos, onde deveriam servir de tampão a passagens por ali, referiu o Ieró que dali só por milagre se faria alguma coisa com interesse. Obtida a autorização do comandante da operação, tenente-coronel paraquedista Araújo e Sá ocupou então a companhia a zona de cambança do rio onde se iniciava o corredor de infiltração de Missirã no que resultou um contacto extremamente violento com a dita guarda avançada comandada pelo próprio Nino Vieira comandante da Zona Militar Sul do inimigo e o impedimento de prosseguir para o interior da província dos elementos da ONU. Uma vez mais o Ieró se portou com o valor, a coragem, o destemor, o desprezo pela vida que uma vez mais conscientemente expôs ao perigo, batendo-se com o entusiasmo e a grandeza de alma que o levava a tudo superar, a galvanizar os seus camaradas, enfrentando de pé, indiferente ao imenso tiroteio que acontecia. Tendo sofrido pesadas baixas teve o grupo inimigo de se retirar desmoralizado.

Ainda hoje mantenho a firme convicção que era ele bem mais português que a maioria dos aqui nascidos.

Tragicamente o abandonamos quando mais de nós precisava. Tal como às restantes forças africanas que anos a fio fomos comprometendo, naquela que, quanto a mim foi a página mais negra e mais vergonhosa da nossa história contemporânea.

Preso em Dezembro de 1974, quando ainda Portugal detinha responsabilidades sobre aquele território, perante a nossa estranha indiferença e a criminosa demissão de um povo, permaneceu em cativeiro quase uma DEZENA DE ANOS.

Foi enxovalhado, passou maus tratos, sofreu sevícias, foi espancado pela sua colaboração com PORTUGAL.

A tudo sobreviveu graças à extraordinária força moral interior e â grandeza de alma que tem. Sem nunca esquecer nem amaldiçoar os portugueses e Portugal, acredita que estes ainda o vão recompensar pela sua lealdade.

Aquele que foi e continua sendo um valor moral da nação, que orgulhosamente ostentava no peito uma Cruz de Guerra, que tinha louvores e citações de combate, que havia sido tratado com todas as honras quando da visita a Portugal agraciado com o prémio Governador da Guiné que se vê deslocado e sem terra, sem família, sem direito ao trabalho, sem meios de subsistência, desprezado pelos seus iguais e abandonado pelos brancos metropolitanos que na sua loucura vanguardista e revolucionária nem português lhe deram a hipótese de o ser, ainda acredita em Portugal.

Aquele que um dia o Exercito Português promoveu por distinção a 1º cabo por feitos em campanha deixava de contar no seu efectivo. Pura e simplesmente deixou de existir.

Sobreviveu à matança que se abateu sobre as tropas africanas. Sobreviveu às sevícias e aos horrores que passou nos calabouços do PAIGC. Suportou o desdém e a desforra do inimigo.

Graças a tenacidade e empenho dos antigos oficiais e sargentos que nunca o esqueceram conseguiu ao fim de largos anos rumar a Portugal. Onde continua a ser por estes ajudado.

Velho, doente e cansado pouco podem estes fazer do muito que lhe é merecido e do que tem direito.

Não podem no entanto substituir Portugal na reparação dos erros que sofreu.

Julgo que já é altura de se reparar a imensa tragédia e a vergonhosa injustiça que sobre este homem se exerceu.

Que lhe seja atribuída a pensão por serviços relevantes prestados ao país, que lhe seja reconhecido o estatuto de prisioneiro de guerra, como na realidade o foi, ou que lhe seja concedida a pensão das cruzes de Guerra, mas que finalmente se faça justiça reparando um erro que os conturbados tempos revolucionários pode explicar mas que já não o podem, nem a Instituição Militar legalmente estabilizada nem o poder político democraticamente eleito como representantes do povo português.

Que se assumam como responsáveis em nome de Portugal restaurando-lhe a dignidade como ser humano e mesmo sem esquecer a indignidade dos procedimentos, consiga repor um pouco do orgulho que sentíamos pela nossa condição de portugueses que se reviam na grandeza das acções e na nobreza das intenções dos seus antepassados.

Fim de citação.

Morreu quando Deus assim o determinou.

Graças ao esforço, à dedicação, a persistência, à generosidade de muitos dos meus amigos a quem pedi e de quem obtive sempre resposta positiva foi possível custear a sua vinda da Guiné e a sua estadia em Portugal.

Viveu o tempo suficiente e necessário para lhe ser reconhecida a razão.

Que Deus o receba em paz.

LEGENDAS DAS FOTOS

Foto 1 - Ieró Embaló, como Recruta no CIM
Foto 2 - Ieró Embaló na sua motorizada
Foto 3 - Iero Embaló junto ao Corubal
Foto 4 - Agosto de 1972. Cap Rui Ferreira e 1.º Cabo Ieró Embaló na sua visita a Portugal, por lhe ter sido atribuído o prémio Governador da Guiné

Para todos um abraço,
Rui Ferreira
Alf Mil na CCAÇ 1420/Cap Mil na CCAÇ 18

Fotos: Rui A. Ferreira (2009). Direitos reservados.
__________
Nota de M.R.:

(*) Vd. último poste da série em:


sábado, 16 de agosto de 2008

Guiné 63/74 - P3134: Blogoterapia (60): Memórias da CCAÇ 555, Cabedu, 1963/65 (Norberto Costa)

1. Mensagem, com data de ontem, do Norberto Gomes da Costa, ex-Fur Mil At Inf, CCAÇ 555, Cabedu (1963/65) (*):


Meu caro Carlos Vinhal,

Começo por te cumprimentar pessoalmente, já que é a primeira vez que a ti me dirijo. Ao mesmo tempo que te agradeço a disponibilidade e o modo como lidaste com o meu texto, bastante extenso, dividindo-o em três partes (**), dando-lhe títulos sujestivos e muito a propósito, revelando, da tua parte, talento na edição de textos. Foi um excelente trabalho da equipa editorial, que, neste momento, parece ser da tua responsabilidade.

Aproveito ainda a oportunidade para agradecer a todos que se me dirigiram, comentando, de algum modo, o que foi escrito sobre Cabedú dos anos 1963, 64 e 65, em particular ao meu amigo Mendes Gomes, colega de Empresa e parceiro de trabalho durante alguns anos e que já não vejo há uns tempos (***).

Um abraço
para ele que é extensivo a todos os animadores do blogue.
Saudações,
Norberto Gomes da Costa

_________

Notas de L.G.(ainda em férias):

(*) 16 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3063: Notícias da CCAÇ 555 (Cabedu, Out 1963/ Out 1965) (Norberto Gomes da Costa)

(**) Vd. postes de:

11 de Agosto de 2008 > Guiné 63/74 - P3127: Memórias da CCAÇ 555, Cabedú 1963/65 - I Parte: Baptismo de fogo junto à Ilha do Como (Norberto Costa)

12 de Agosto de 2008 > Guiné 63/74 - P3130: Memórias da CCAÇ 555, Cabedú, 1963/65 - II Parte: O nosso quotidiano em Cabedú (Norberto Costa)

13 de Agosto de 2008 > Guiné 63/74 - P3131: Memórias da CCAÇ 555, Cabedú, 1963/65 - III Parte: Cabedú... até ao nosso regresso (Norberto Costa)

(***) Comentário de Joaquim Luís Monteiro Mendes Gomes:

Ó seu pirata Gomes da Costa! Foste um óptimo programador da CGD em Lisboa. Trabalhei contigo, lado a lado, durante anos. E foste meu antecessor na guerra do Como. E nunca disseste nada!...Agora apareces-me aqui com a toga de Historiador!...Fico à espera de mais...

Recebe um grande abraço
Joaquim Mendes Gomes ( o Gómes...como tu dizias)


Recorde-se que o nosso amigo e camarada Joaquim Mendes Gomes foi Alf Mil CCAÇ 728. Sobre a história desta unidade, vd. os seguintes posts:

20 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1194: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (1): Os canários, de caqui amarelo
2 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1236: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (2): Do Alentejo à África: do meu tenente ao nosso cabo

20 Novembro 2006 > Guiné 63/74 - P1297: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (3): Do navio Timor ao Quartel de Santa Luzia

1 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1330: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (4): Bissau-Bolama-Como, dois dias de viagem em LDG

11 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1359: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (5): Baptismo de fogo a 12 km de Cufar

8 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1411: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (6): Por fim, o capitão...definitivo

22 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1455: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (7): O Sr. Brandão, de Ganjolá, aliás, de Arouca, e a Sra. Sexta-Feira

8 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1502: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (8): Com Bacar Jaló, no Cantanhez, a apanhar com o fogo da Marinha

11 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1582: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (9): O fascínio africano da terra e das gentes (fotos de Vitor Condeço)

29 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1634: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (10): A morte do Alferes Mário Sasso no Cantanhez

5 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1646: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (11): Não foi a mesma Pátria que nos acolheu

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Guiné 63/74 - P10682: Ficou um Palmeirim nas bolanhas da Guiné (5): Os cheiros de Lisboa, Parte III: As brumas fadistas de Alfama e Madragoa (J.L. Mendes Gomes, ex-alf mil, CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66)


Lisboa > Belém > Dezembro de 2007 > Lisboa ao anoitecer, com vista da ponte sobre o Rio Tejo e do Cristo Rei.

Foto: © Luís Graça (2007). Todos os direitos reservados




A. Em 25 de setembro p.p., demos início à publicação desta nova série, Ficou um Palmeirim nas Bolanhas da Guiné, "parte de uma novela escrita em memória do nosso saudoso camarada [Mário] Sasso", da autoria do seu amigo e camarada de armas J. L. Mendes Gomes, ex-alf mil inf da CCAÇ 728 (Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) [, foto atual, à direita].

Até à data publicámos 5 postes, de acordo com o "plano da obra" e o material que nos foi enviado. Este, de hoje, é o último texto em carteira que temos disponível. Espero que o autor (, a viver na Alemanha,) vá alimentando a série... Para ele vai um especial Alfa Bravo. LG


Plano

1. A Origem do Nome – “Palmeirins”
2. A Cidade Moçambicana da Beira
3. A Barra do Tejo
4.  Os Cheiros de Lisboa
41. A Feira Popular
42. Uma sardinhada em Cacilhas
43. As Brumas (Ruelas) Fadistas de Alfama e Madragoa
44. As Palmeiras da Estufa Fria
45. As Vielas da Ameixoeira
46. A Feira da Ladra
47. A Baixa às ordens de Pombal
48. O Jardim do Campo Grande
49. A Estrela Real
410. Os Bosques de Monsanto (...)


B. Ficou um Palmeirim nas bolanhas da Guiné > 4. Os cheiros de Lisboa > 43 . As Brumas fadistas de Alfama e Madragoa

por J. L. Mendes Gomes

Naquela noite ninguém ia sair. O Benfica ia jogar com o Sporting de Portugal. No estádio do Benfica. Constava que o desafio ia ser transmitido pela televisão. Só no telejornal é que se iria saber a certeza. Sempre seria mais barato. E até se via melho,  adiantava o tio Diógenes, para se justificar. A rapaziada lá em casa era toda perdida pela bola. Até a tia Judite. Bilhetes para todos saía muito caro.

Era a altura dos famosos violinos do Benfica: o Eusébio. Ainda por cima o Eusébio também era de Moçambique. Um espanto a jogar; o Caiado....o....

A tia Judite, pelo sim pelo não, foi adiantando o jantar, para que pelas 21h toda a gente estivesse despachada e livre, para se seguir o desafio em família. Com certeza que seria dado pela TV. Já se sabia.

Uns amendoins nunca faltavam nestas alturas. E umas cervejinhas no frigorífico...Tudo bons costumes e recordações de Moçambique. Aí reinavam as ostras a rodos, o camarão, as cervejas às grades,...naqueles ares quentes dos trópicos.

Se não fosse o futebol, os primos já tinham desafiado o Mário para uma noitada de fado em Lisboa. Estava prometida desde há muito. Ficou para outra semana.

Depois do jantar, sempre animado, em família, os três primos estavam prontos e aperaltados para a noitada de Alfama e Madragoa.

Tinha chegado enfim, o grande dia, melhor a grande noite, de que tanto se falara nas férias passadas da Beira. Os tios tinham toda a confiança nos dois filhos e, por isso, contra o que era hábito daqueles tempos, não se importaram de que a Isabel fosse também.

O último eléctrico que saía do Terreiro do Paço para o Dafundo, era às duas da manhã. Calhava mesmo bem. Aí vão eles. O eléctrico amarelo ali vem. Traz pouca gente. À noite, não há muita gente que se disponha a ir para Lisboa. Só os boémios ou, então, por uma farra como esta dos três primos.

Em menos de meia hora, já estão a descer em pleno Terreiro do Paço. Frente ao Tejo , agora escuro e com umas luzitas tresmalhadas, pelos lados negros, de lá, desde Cacilhas e Almada ao Seixal, Barreiro...Montijo.

A iluminação da praça não é por aí além, mas dá para se andar à vontade. Não há perigo nenhum. A segurança pública é total.

As ruas da Baixa fervilham de gente a ver as montras. A Rua da Prata, o Chiado, o Rossio, os Restauradores e depois a Avenida da Liberdade, de arvoredo ─ via-se que era frondoso, até lá acima, ao Marquês de Pombal. Está um pouco deserta apesar dos cinemas e cafés que abundam de cada lado e as esplanadas elegantes, nos serenos passeios laterais. De dia, é mais interessante girar por ali. Há muito mais vida.
─ O 28 sobe por Alfama dentro, até à beirinha do Castelo, lá em cima, sobre o Tejo mas o melhor é irmos a pé ─  diz o Pedro. ─ Pela rua do eléctrico, vai-se até à encosta do Castelo, com vistas sobre o rio
─  De dia, deve ser muito giro─  adiantou o Mário. Não perdia pitada de tudo que estava a acontecer.
─  Sim, é uma maravilha ver o Tejo, daqui deste miradouro. Todo “o mar da palha”. Parece mesmo mar. Até ao Barreiro, Montijo, Moita, Alcochete e Vila Franca...É mesmo um mar. Cabem os barcos todos do mundo. Há sempre lugar para mais um. Mesmo daqueles petroleiros gigantes.

Os Cacilheiros lá andam nas suas voltas do costume. Duma para a outra margem. Os da Praça do Comércio só andam até à meia-noite....Depois, só os do Cais do Sodré.
─ O que é isso da Praça do Comércio?─  perguntou o Mário, surpreendido com o nome.
─ Ainda não ouvira falar dessa praça.
 ─ É a mesma, a do Terreiro do Paço. Tem os dois nomes. Não sei desde quando nem porquê. Deram-lhe esses dois nomes. Por mim, acho melhor o de Terreiro do Paço. ─ esclareceu o Pedro, com um ar de certo modo, exaltado. Para o justificar, acrescentou:
─  Onde está então a Praça da Indústria?...Ou a da Agricultura...Não há!....

Uma risada de todos.
─  Tens razão Pedro. ─  disse a Isabel. Até aí ainda não tinha aberto a boca. E continuou:
─ A gente habitua-se a ouvir e a chamar estes nomes e não liga ao sentido deles.
─ Já agora, outro nome que não concordo nada e até me revolta, é o do Parque Eduardo VII, lá em cima, a seguir ao Marquês.
─ Então porquê? ─ perguntou a Isabel, já sem esconder a natural curiosidade. Ela nunca vira mal nenhum nisso...
─ Então, achas bem que aquele jardim, tão grande e num sítio nobre da cidade capital tenha o nome dum rei inglês?...

(Continua)
________

Nota do editor:

Último poste da série > 28 de outubro de 2012 > Guiné 63/74 - P10586: Ficou um Palmeirim nas bolanhas da Guiné (5): Os cheiros de Lisboa, Parte II: uma sardinhada em Cacilhas (J.L. Mendes Gomes, ex-alf mil, CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66)

quinta-feira, 29 de maio de 2014

Guiné 63/74 - P13208: Blogpoesia (382): No colo de minha Mãe (J. L. Mendes Gomes, Berlim, 29 de maio de 2014, 7h43m, de chuva e vento frio)

No colo de minha Mãe

por J. L. Mendes Gomes 

No colo de minha Mãe...

Como um fio de água
Me desprendi,
Cresci e rolei no mundo,
Fiz-me um rio,
Estreito, largo
E sinuoso.
Como gavinha de uva,
Me prendi ao tronco
E nele me enrolei,
Para não cair
Ou ser levado
Pelo vento.
Como a hera verde,
De muitas folhas,
Me quereria ter colado
Ao colo de minha Mãe.
Mas veio a escola e a catequese.
E aquela eternidade
De seminário.
E a tropa em Mafra
Antes da guerra em África.
E veio a luta insana
Da sobrevivência,
E uma escada de muitos degraus,
Para eu trepar,
Só com meus braços.
E os percalços todos
Que, tão cruéis,
Torpedearam
Os meus passos.
E as derrotas
E pequenas vitórias,
Que registei na história
Da minha vida.
E as prendas todas
Que eu não recebi
No sapatinho
Dos meus natais.
Por tudo quanto de bom
Não fiz
E quisera ter feito aos montes,
Eu gostaria, agora,
De nunca ter deixado
O regaço, tão puro e quente,
Do colo de minha Mãe!…


O poeta, com os netos em Berlim. em 2012
Berlim, 29 de Maio de 2014, 7h43m ( de chuva e vento frio)

Joaquim Luís Mendes Gomes (*)

[ex-alf mil, CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66; jurista, reformado; autor do livro de poesia "Baladas de Berlim", Lisboa, Chiado Editora, 2013, 232 pp., preço de capa;: € 14; encomendar aqui] (**)

___________

(**) J. L. Mendes Gomes é autor, no nosso blogue, de várias séries, entre as quais a "Crónica de um Palmeirim de Catió":

29 de março de 2007 > Guiné 63/74 - P1634: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (10): A morte do Alferes Mário Sasso no Cantanhez

11 de março de 2007 > Guiné 63/74 - P1582: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (9): O fascínio africano da terra e das gentes (fotos de Vitor Condeço)

8 de fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1502: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (8): Com Bacar Jaló, no Cantanhez, a apanhar com o fogo da Marinha

22 de janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1455: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (7): O Sr. Brandão, de Ganjolá, aliás, de Arouca, e a Sra. Sexta-Feira

8 de janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1411: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (6): Por fim, o capitão...definitivo

11 de dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1359: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (5): Baptismo de fogo a 12 km de Cufar

1 de dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1330: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (4): Bissau-Bolama-Como, dois dias de viagem em LDG

20 novembro 2006 > Guiné 63/74 - P1297: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (3): Do navio Timor ao Quartel de Santa Luzia

2 de novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1236: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (2): Do Alentejo à África: do meu tenente ao nosso cabo

20 de outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1194: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (1): Os canários, de caqui amarelo

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

Guiné 63/74 - P2585: Blogpoesia (8): Viagem sem regresso (José Manuel, Fur Mil Op Esp, CART 6250/72, Mampatá, 1972/74)

1. Texto enviado ontem, através do endereço de correio electrónico Quinta Srª da Graça. Vim a descobrir, através de pesquisa na Net, que a Quinta da Senhora da Graça, com sede em Senhora da Graça, 5030-429 Lobrigos (S. J. Baptista), Santa Marta de Penaguião, distrito de Vila Real, Telef. 254 811 609, era de um camarada nosso, o José Manuel Lopes, autor deste poema.


Viagem sem regresso

não regressar
será o esquecimento
será o vazio
a dor
dor
que já se não sente
o não poder ver a gente
que nos abria o sorriso
e a vontade de amar.

josema
Guiné 1972


2. De facto, confirmei, através de um simples contacto telefónico, que o josema, que assina o poema, era o José Manuel Lopes, produtor de conhecidos e excelentes vinhos DOC, do Douro, e que tem também um turismo de habitação, na sua Quinta da Senhora da Graça. À conversa com ele, disse-me, no essencial o seguinte:

(i) teve conhecimento do nosso blogue, porque viu o programa Câmara Clara, da RTP Dois, da Paula Moura Pinheiro, edição de 24 de Fevereiro de 2004, que foi dedicado à literatura sobre a guerra colonial, e teve dois convidados em estúdio, os escritores Lídia Jorge (autor da Costa dos Murmúrios...) e Carlos Matos Gomes (que assina Carlos Vale Ferraz, o autor de Soldadó); nessa edição, o fundador e editor deste blogue foi entrevistado; o nosso blogue foi amplamente divulgado; o programa passa também na RTP África e na RTP Internacional;

(ii) ficou muito sensibilizado e até emocionado, e foi visitar o blogue de que passou a ser visita diária;

(iii) foi Fur Mil Inf Armas Pesadas, com o curso de Op Esp e a especialidade de Minas e Armadilhas;

(iv) a sua unidade era a CART 6250; esteve sempre em Mampatá, entre 1972 e 1974;

(v) fez segurança aos trabalhos da nova estrada Quebo - Mampatá - Salancaur, que ficou asfaltada antes do 25 de Abril... Tratava-se de uma obra que ia ao encontro da estratégia do Spínola, a da contra-penetração nas regiões libertadas do PAIGC. A obra parou com o 25 de Abril... O novo troço deveria ter uns 30 quilómetros...

(vi) O José Manuel foi inesperadamente mobilizado para a Guiné, já com 18 meses de tropa... Juntou-e à malta da CART 6250, que era constituída por gente do interior (do Alentejo, das Beiras, do norte)... A unidade mobilizadora foi o regimento de Vila Nova de Gaia;

(vii) Depois de Bolama, seguiram em LDG para Buba. onde tuveram logo o baptismod e fogo, como era da "parxe do PAIGC";

(viii) ele e a companhia dele seguiram os acontecimentos de Guileje, e saíram de Mampatá para fazer segurança à CCAV 8530, restantes forças e população civil, que andaram perdidos, nesse perigoso campo de minas, que era todo o corredor de Guileje, montadas umas pelo PAIGC e outras pelas NT; aliás, a sua CART 625o foi uma das unidades que mais minas levantou, durante a guerra e no final da guerra; recorda-se que se pagava mil escudos por cada mina levantada...

(ix) tem histórias fantásticas, como a de um camarada nosso, natural da Régua, que foi encontrado inaninado, desidatrado, doente, no Rio Corubal, numa piroga à deriva, depois de ter fugido de uma zona controlada do PAIGC... Teria sido um dos sobreviventes do desastre do Cheche, na travessia do Rio Corubal, em 6 de Fevereiro de 1969, na sequência da evacuação de Madina do Boé (Oficialmenet não houve sobreviventes!) ... Levado para Conacri, mostrou-se colaborante com o PAIGC e levado para uma zona libertada... Razão por que não estaria em Conacri, na prisão do PAIGC, em 22 de Novembro de 1970, quando os 26 portugueses foram libertados, na sequência da Op Mar Verde... Como tinha liberdade de movimentos, terá decidido mais tarde (em data que o José Manuel não precisou), procurar as NT, seguindo ao longo do Rio Corubal... Foi nessa altura que o encontraram... "Devia ter nais oito anos do que nós... Vive hoje na Régua, e com muitas dificuldades"... Pus a hipótese de ter sido companheiro de infortúnio do nosso morto-vivo do Quirafo, o António da Silva Baptista, que já nos contou que houve, no seu tempo de cativeiro, no Boé, um português que fugiu, seguindo o curso do Corubal... Uma história estranha e misteriosa, que fica por confirmar...

(x) há outras histórias, que vão enriquecer o nosso blogue e a nossa memória, incluindo o período do pós-25 de Abril, em que o José Manuel teve contactos frequentes e intensos com a malta do PAIGC (cujos graduados "andavam sempre com livros e cadernos debaixo do braço e tinham muito nível"); soube do 25 de Abril, quando vinha de uma operação no mato e viu os restantes camaradas, no heliporto de Mampatá, agitadíssimos, muito eufóricos, com os soldados a gritar: "Meu furriel, a guerra acabou, a guerra acabou!"... Isto passou-se a 26 de Abril. A notícia tinha sido escutada na BBC por um dos um militares, que na vida civil era rádio-amador...

(xi) durante a sua comissão , ele próprio costumava andar com um lápis e um caderninho n0 bolso, onde nomeadamente ia escrevendo os seus poemas; tem muitas coisas dessa época, que nunca publicou nem mostrou a ninguém, além de inúmera documentação fotográfica; escreveu versos que eram acompanhados com músicas conhecidas da época, de autores contestatários como o Zeca Afonso; vai-me mandar o Cancioneiro de Mampatá (foi assim que eu logo o baptizei...); inclusive, prontifficou-se a mandar-me um poema por dia...

(xi) durante anos não falou da guerra colonial com ninguém, só mais recentemente foi ao convívio anual do pessoal da CART 6250;

(xii) esteve sempre em Mampatá onde a tropa vivia misturado com a população (maioritariamente, futas-fula), razão por que nunca foram atacados; não tinham artilharia, só mais tarde é que passaram a ter obus 14, que dava apoio às operações de segurança de construção da estrada Quebo-Mampatá-Salancaur... Também aqui, em Salancaur, abriram um destacamento (arame farpado, valas e tendas...);

(xiiii) fala da Guiné com a mesma paixão com que fala do seu Douro (donde nunca mais saiu, desde que regressou da Guiné, em Agosto de 1974)...

Passámos rapidamente a tratar-nos por tu, como velhos camaradas. Convidei-o a integrar a nossa Tabanca Grande, o que aceitou com visível regozijo... Quando puder entregará as fotos da praxe. Fica à espera do filho, para lhe digitalizar as fitos (Ele é um jovem enólogo e está neste momento fazer uma estágio na Austrália).

Convidei-o a assitir ao lançamento do livro do Beja Santos, no dia 6 de Março de 2008, na Sociedade de Geografia de Lisboa... Vai ver se pode. Costuma vir a Lisboa, todos os meses, para fazer entregas de vinhos aos seus clientes.

José Manuel, estás apresentado. Estás em casa, entre amigos e camaradas! Sê bem vindo! Como vês, não há viagens sem regresso... A não ser as da morte. E por falarem regresso, tens histórias fabulosas de Mampatá, escritas por um velhinho, que por lá passou, um anos antes de ti, o nosso camarada Zé Teixeira (2)...L.G.
____________

Notas de L.G.:

(1) Vd. último poste desta série > 12 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2259: Blogpoesia (7): Nas terras de Darsalam, no Cantanhez, adormeceste, para sempre, como herói, meu querido Sasso (J.L. Mendes Gomes)

(2) Vd. poste de 14 de Março de 2006 > Guiné 63/74 - DCXXVI: O meu diário (Zé Teixeira) (fim): Confesso que vi e vivi

domingo, 29 de março de 2009

Guiné 63/74 - P4097: Dar uma aula, em Coimbra, aos poetas que escrevem sobre (mas não fizeram) a guerra (Vasco da Gama)

1. Mensagem de Vasco da Gama (aqui na foto, no lado direito, num briefing local com Spínola, no dia 14 de Abril de 1973, em Cumbijã) que, por razões de saúde, tem estado infelizmente afastado do nosso blogue.

Recorde-se que o Vasco, reside na Figueira da Foz, tendo sido Cap Mil da CCAV 8351, Os Tigres de Cumbijã, Cumbijã, 1972/74:


Comandante Luís Graça,

Não te vou referir novamente a debilidade que me tem impedido de participar activamente na nossa Tabanca. Cinjo-me apenas à informação que acabo de receber respeitante ao seminário de amanhã na Universidade de Coimbra, subordinado ao tema Poesia da Guerra Colonial.

De pronto me inscrevi! Não sei como me vou deslocar, mas lá estarei, desarmado. Sim desarmado! No meio daquela intelectualidade toda, o que vai fazer um artista como eu que é incapaz de fazer um verso? Vai ouvir e, se for caso disso, dizer dos inúmeros poetas que o nosso blogue tem. Dizer das inúmeras poesias que temos publicado na nossa Tabanca e da pena que sinto da nossa Tabanca Grande não estar representada, no mínimo, para dar uma aula aos poetas que não fizeram a guerra. Somos, neste contexto, A OUTRA FACE DA POESIA! (**)

Vou levar debaixo do braço o Tigre Vadio do Mário Beja Santos e servir-me dos Doze contos do barqueiro de Caronte (Luís Graça) ?
Vou levar alguns versos do Zé Manuel de Mampatá? (***)
Vou referir-me ao nosso bardo Manuel Maia?
Vou aconselhar a leitura do nosso magnífico José Brás?

Porventura calar-me-ei e serei mais "um flamingo branco, tingido de vermelho" (Luís Graça) (****)

Um abraço

Vasco da Gama

2. Comentário de L.G.:

Meu caro Vasco:

Vai, vai, que desanuvias, que te faz bem... Vai e representa-nos, o melhor que souberes e puderes, a todos nós, tabanqueiros, que aqui se expressam em prosa ou em verso. Lamento não poder estar contigo, amanhã, na Lusa Atenas, para ouvir os poetas e os seus críticos, os que falam da guerra que tu e eu fizemos... Não vais estar só: o Josema, o nosso Zé Manel, da Régua, também irá ter contigo. Precisa de ir a Coimbra levar a filha que é estudante e entregar vinhos a clientes. Aproveita então para ir amanhã de manhã.

Podes apresentar aos senhores Professores de Coimbra o nosso poeta de Mampatá, de Nhacobá, de Colibuía, de Salancaur, tudo lugares que não fazem parte da geografia nem do imaginário dos poetas da Academia... Diz-lhe que havia um poeta, no sul da Guiné, que escrevia um poema para cada dia, nos já idos anos de 1972, 1973 e 1974... E que um belo dia, numa fúria autodestruidora, já na erssaca da guerra, destruiu pelo fogo dois terços do seu espólio literário... É poesia chã, singela, intimista, mas que cala fundo no peito da gente... Diz-lhe que temos mais malta que escreve versos, desde o Zé Teixeira ao Magalhães Ribeiro... Diz-lhe que até temos Cancioneiros populares, onde se escrevia poesia com erros de ortografia... Poderemos não ter direito a antologia, mas já escrevemos um dia (ou ainda escrevemos hoje) versos onde a guerra destila pelos poros... Dá um abraço à nossa madrinha de guerra, Cristina Néry. Deseja-lhe bom trabalho. Agradece-lhe a atenção que nos tem dedicado. Um Alfa Bravo para ti e para o Josema. Boa viagem.

__________

Notas de L.G.:

(*) Vd. poste de 29 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4093: Agenda Cultural (5): Poetas da guerra colonial em conferência internacional, Coimbra, CES/UC, 30/3/2009 (Cristina Néry)

(**) Vd. postes da série Blogpoesia:

27 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4087: Blogpoesia (33) : O bardo de Cafal Balanta (Manuel Maia)

25 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4078: Blogpoesia (32): João, 20 anos, apto para todo o serviço... (José Brás)

15 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4037: Blogpoesia (31): Quando eu era menino e moço... (Manuel Maia)

9 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3858: Blogpoesia (30): Em Cutima, tabanca fula... (José Brás / Mário Fitas)

31 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3688: Blogpoesia (29): Este ano não mandei cartões de boas festas a ninguém (Luís Graça)

28 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3672: Blogpoesia (28): O Menino Jesus chinês (António Graça de Abreu)

25 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3669: Blogpoesia (27): A velha Amura dos tugas (Luís Graça)

26 de Setembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3243: Blogpoesia (26): 35 anos de Guiné-Bissau: A minha contribuição para a tua festa, meu irmão, minha irmã (Luís Graça)

11 de Setembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3193: Blogpoesia (25): Hoje tenho pena de nunca ter escrito um aerograma a uma madrinha de guerra (Luís Graça)

6 de Setembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3178: Blogpoesia (24): A minha pequenez é que era uma tristeza (Rui A. Ferreira)

4 de Setembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3169: Blogpoesia (23): Amálgama de sentimentos e emoções...(Rui A. Ferreira)

6 de Agosto de 2008 > Guiné 63/74 - P3115: Blogpoesia (22): No mesmo navio, piscina e música em camarote de 1ª, suor nos porões...(José Belo).

[Houve um salto na numeração, de 10 para 22]

30 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2701: Blogpoesia (10): Olhando para uma foto minha, no Mato Cão, ao pôr do sol, com o Furriel Bonito... (Joaquim Mexia Alves)

27 de Fevereiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2589: Blogpoesia (9): Sangue derramado (José Manuel, Mampatá, 1972/74)

27 de Fevereiro de 2008 >Guiné 63/74 - P2585: Blogpoesia (8): Viagem sem regresso (José Manuel, Fur Mil Op Esp, CART 6250, Mampatá, 1972/74)

12 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2259: Blogpoesia (7): Nas terras de Darsalam, no Cantanhez, adormeceste, para sempre, como herói, meu querido Sasso (J.L. Mendes Gomes)

7 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2248: Blogpoesia (6): África Raiz, de Fernanda de Castro

16 de Outubro de 2007 > Guiné 63774 - P2180: Blogpoesia (5): O vigésimo sexto aniversário de um gajo nada sério, Missirá, 6 de Novembro de 1970 (Jorge Cabral)

23 de Setembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2125: Blogpoesia (4) : A morte do pássaro de areia (Luís Graça)

30 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P2009: Blogpoesia (3): Explorador ? Mineiro ? Não, um Soldado ! (Jorge Cabral)

18 de Julho de 2007 > Guine 63/74 - P1964: Blogpoesia (2): O Combatente (Magalhães Ribeiro)

17 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1963: Blogpoesia (1): O embondeiro do Cachil (J. L. Mendes Gomes)

(***) Vd. a série Poemário do JoséManuel (o único de nós que escrevia diariamente poesia, durante a sua 'comissão de serviço' no CTIG, entre 1972 e 1974):

Vd. último poste > 11 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4011: Poemário do José Manuel (27): Um ruído vem do céu / e há cabeças no ar, / hoje é dia de correio...

(****) Vd. também blogue de poesia de Luís Graça >Blogpoesia

Vd. algumas dos poemas de temática ligada, directa ou indirectamente, à guerra colonial:

A morte do pássaro de areia

Alá não passou por aqui

Cais de partida(s)

Conto(s) do barqueiro do Geba

Descansa em paz, Iero Jau

Esquecer a Guiné

Hoje tenho pena de nunca ter escrito um aerograma a uma madrinha de guerra

Jogava-se à bola, domingo à tarde, na minha aldeia

Luanda (re)visitada

Morreu um pretinho da Guiné

O Relim não é um poema

Os meninos da Ilha de Luanda

Quando os ventos sopram em Assuão

Rua da Conceição, nº 100, ou o poema do marinheiro sem mar

SOS, Mare Nostrum

Uma estranha forma de morte

War is over, baby