sexta-feira, 18 de abril de 2008

Guiné 63/74 - P2771: Operação Macaréu à Vista - II Parte (Beja Santos) (28): A euforia de comandar cem homens na Op Rinoceronte Temível


A relíquia mais preciosa da Rinoceronte Temível,8 e 9 de Março de 1970. O PAIGC estava moralizado e assenhoreara-se do território à volta do Xime. As operações de Fevereiro foram intimidatórias para as nossas tropas, o capitão Maltez estava ferido, os rebeldes voltaram a atacar embarcações no Geba, a escassos quilómetros do Xime. Era importante uma chicotada psicológica.É este o contexto em que me entregam a concepção e execução da Rinoceronte Temível: o inimigo teria de ser surpreendido,temporariamente rechaçado.Procurei aproveitar o potencial de fogo dos obuses e combinei com os artilheiros este código que seria usado numa emergência:por hipótese, se estivessemos a ser emboscados em D ( entre o Poidom e Ponta Varela)eu pediria pelo rádio, em claro, E,A ou B,consoante a posição do inimigo.Logo avisei os artilheiros que eles tinham de confirmar a letra pedida, para não nos matar...O código resultou às mil maravilhas,como se viu perto de Gundaguê Beafada, no baixio da bolanha do Poindom, quando retirámos para o Xime. Usarei este código dias depois, na Jaqueta Lisa. Esquema primitivo,mas que desorientou a aguerrida força do PAIGC que actuava entre o Buruntoni e a Ponta do Inglês. (BS)






Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Mansambo > 1968 > CART 2339 (1968/69) > Espectacular imagem da alma do obus 10,5... A verdade é que as peças de artilharia tinham alma, segundo nos garantiam os artilheiros... Em Março de 1970, havia 3 destes, no Xime, guarnecidos pelo 20º PEL BAC 1, sendo a unidade de quadrícula a CART 2520 (Xime, 1969/71). Havia ainda um esquadrãop de morteiro 81, do Pel Mort 2106. Na zona de acção do Xime, havia ainda uma Companhia de Milícia, a CMIL 14, com o Pel Mil 241, o 242 e o 243, destacados em Amedalai, Taibatá e Dembataco, respectivamente. Eram três aldeias fulas, em autodefesa. Os fulas eram os nossos principais aliados, na região. Aos olhos das autoridades militares de Bambadinca, a lealdade dos mandingas do Xime era posta em dúvida, para não falar já dos balantas de Nhabijões e de Mero... (veja-se a História do BCAÇ 2852, 1968/70). (LG)

Fotos: © Torcato Mendonça (2006). Direitos reservados.




Guiné > Zona Leste > Bambadinca > BCAÇ 2852 (1968/70) > Cópia da 1ª página do relatório«Rinoceronte Temível» , 8 e e 9 de Março de 1970, da minha responsabilidade.

Deu trabalho, pois sabia da responsabilidade de escrever para o futuro: nome dos feridos, material deteriorado, proposta de louvores,munições consumidas,sugestões para procedimentos operacionais ulteriores. As omissões num relatório podiam provocar danos irreparáveis,caso dos acidentados em combate. Forças executantes: Pel Caç Nat 52; CCAÇ 2520, a 3 Gr Comb.


Fotos (e legendas): © Beja Santos (2008). Direitos reservados.

Texto do Beja Santos (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70) (1), enviado em 29 e 30 de Janeiro de 2008:


Luís, aqui vai mais um episódio. As ilustrações seguirão ainda esta tarde. Por favor, não te esqueças que tens aí o croquis referente a esta operação. Se desapareceu, é só dizeres que eu reenvio. (...) Vou agora arrumar estes 28 episódios, já que é obrigatório entregar tudo até 30 de Julho. Tenho pelo menos mais 24 a 25 episódios pela frente, é imperioso fazer uma pausa entre Março e Abril para criar distância e evitar a escrita burocrática, risco que quero evitar. O nosso almoço mantém-se de pé. Não excluo entregar-te esta prenda de Natal em Dezembro de 2008... Um abraço do Mário


Operação Macaréu à Vista - Parte II > Episódio n.º XXVIII > VAMOS FAZER COMO EM OS CANHÕES DE NAVARONE (1)

Beja Santos

(i) A discrição (e a descrição) dos preparativos

Cozinho a operação Rinoceronte Temível no mais completo sigilo. O tempo urge, tenho que tomar decisões para a acção e comunicá-las superiormente. Vivo a euforia de, pela primeira vez, me terem dado o comando de uma operação com mais de cem homens. Ainda por cima, uma batida no Poidom, passando pelas margens do Buruntoni. Exijo a mim próprio qualquer coisa de muito especial

Assim, a 4 de Março, no silêncio sepulcral da sala de operações, com o furriel Pinto dos Santos fartinho de aturar as perguntas que vou pondo sobre a região do Xime, olhando atentamente o relevo da mata do Poindom, tomo a decisão e revelo-a em voz alta:
- Pinto dos Santos, a 8 a noite é de negrume total, sairei pelas três da manhã de Ponta Varela, e vou entrar com cem homens dentro da bolanha alagada, se tudo correr bem e ninguém morrer afogado entro directamente no acampamento desses gajos que vivem perto da Ponta do Inglês. Se esta guerra é feita de surpresas e imprevistos, nós vamos surgir dentro das águas, no local mais insuspeito e inesperado. Se a surpresa não for completa, eles não vão acreditar no armamento que levo. Decidi transportar 1 morteiro 81, 3 morteiros 60 e todas as bazucas e dilagramas disponíveis. Vai ser um arraial de fogo como nunca se ouviu nas margens do rio Corubal.

O Pinto dos Santos olhava-me aturdido, supus mesmo que se interrogava se eu não estava alucinado. Com os bons modos que eram o seu timbre, engoliu em seco, ganhou coragem e disparou:
- O meu alferes leu certamente que há muita população a viver nesta mata, atacam quando querem em Ponta Varela as embarcações, se vocês forem pela bolanha serão rapidamente detectados ao amanhecer. Pode imaginar os perigos de uma flagelação com as tropas dentro de água, sem puderem reagir com morteiros. Acredito no factor surpresa mas se esta falhar poderão cair na pior das armadilhas, não há aviação que vos salve.

Agradeci os comentários ao Pinto dos Santos e antes de sair da sala de operações escrevi no meu caderninho viajante: no Xime, explicar cuidadosamente a progressão até Ponta Varela e a responsabilidade dos guias em levarem-nos dentro da bolanha pelos locais menos alagados; conversar com os guias e com os meus soldados que conhecem a região na presença dos oficiais e sargentos; mandar mensagem para que o Bacari Soncó se apresente aqui a 7, ao amanhecer, com pelo menos dez homens; pedir autorização para levar dez carregadores, recrutáveis em cima da hora, em Amedalai; mandar chamar amanhã o comandante das milícias de Amedalai; falar com o Calado sobre o material de transmissões, incluindo as colecções de telas; combinar com o Augusto as viaturas que nos vão levar ao Xime, não esquecendo o grupo de combate de Mansambo que vai ficar a reforçar a vigilância do Xime; encontrar solução para o fogo de artilharia que nos deverá proteger logo que começarem as emboscadas ou flagelações no Baio, Buruntoni, Ponta Varela ou Madina Colhido; todos os homens vão levar obrigatoriamente dois cantis, se possível haverá cinco ou mais jerricãs pesados, transportados pelos carregadores, o calor agora é intenso; deixar obrigatoriamente a comida salgada das rações de combate no Xime e tentar arranjar fruta em grandes quantidades, em Amedalai e no Xime.

A 5 [de Março de 1970], com o ar mais natural do mundo, anunciei aos meus que iríamos para a ponte dois dias e a seguir para os Nhabijões. Nessa manhã, conversei pela última vez com o major Sampaio sobre os efectivos e a articulação com o apoio aéreo reservado para 8 e 9. Quando ele me perguntou se eu ia pela estrada para a Ponta do Inglês e quando lhe respondi que esperava entrar ao amanhecer na barraca do Poindom pela bolanha, ele disparatou:
- Beja, essa é o cúmulo, prevê-se uma noite sem lua e você vai por terreno alagado. Só me falta dizer que pretende apoio das lanchas da marinha!.

Eu já estava preparado para estes remoques, e disse-lhe sem pestanejar:
- Por andarmos em terra firme durante o mês de Fevereiro é que fomos descobertos e retirámos com mortos e feridos. Vou fazer como em Os Canhões de Navarone, vou aparecer por onde não sou esperado. Como em tudo na vida, também preciso de sorte. Farei tudo para que ela esteja do meu lado!.

(ii) De Bambadinca para o Xime

Regressámos da ponte a 7, ao anoitecer, informei os furriéis que em princípio teríamos uma coluna de reabastecimento ao Xitole, na manhã seguinte. Não terei sido muito convicto quando fomos interrompidos pelo Queirós que me perguntou se era verdade que existia uma requisição para granadas de grande potência para o morteiro 81, perguntou-me mesmo se ele ia levar o morteiro, coisa que até agora não tinha acontecido nas colunas para o Xitole.

Lá atamanquei uma resposta, mas vi perplexidade no olhar cruzado do Cascalheira e do Ocante, os meus directos colaboradores. Por portas e travessas, e sem alardes, ao amanhecer de 8 apareceram munições, transmissões, viaturas, rações de combate, quem vinha para partir para o Xitole ficou a saber que tinha de levar mosquiteiros e bornais, e se dúvidas ainda havia que íamos para uma operação elas dissiparam-se com a chegada de Bacari Soncó que apareceu empertigado à frente de onze milícias impecavelmente fardados e armados. Minutos depois, chegava a coluna de Mansambo com um grupo de combate da CCaç 2404 que iria ficar a defender o Xime.

Organizada a coluna com duas GMC, um Unimog 404 e um Unimog 411, a que se juntaram as viaturas de Mansambo, partimos para Amedalai. Por essa altura, já havia rumores de que as gentes do Buruntoni e de Galo Corubal iriam passar a minar a estrada Bambadinca-Amedalai e, à cautela, um grupo de combate da CCaç 12 (2) partiu à nossa frente com picadores.

Em Amedalai, juntaram-se as milícias de Bobo Seidi, um notável operacional, sensato e dotado de qualidades de comando. Foi aqui que fretei vários carregadores para o transporte de munições e jerricans de água. Um pelotão do Xime esperava-nos em Ponta Coli, daqui até Taliuará voltámos a picar, pela hora do almoço estávamos no Xime. Pedi aos meus camaradas da Cart 2520 para irmos ver o obus. É enquanto estou a conversar com os artilheiros sobre a reacção habitual ao fogo inimigo que me ocorreu a solução de combinar com eles a improvisação de um croquis em duplicado (eu passava a ter um exemplar, outro ficava em poder dos artilheiros) em que referenciávamos por letras diferentes locais em Ponta Varela, Poindom, Madina Colhido, Gundaguê Beafada, Baio e Burutoni, e assim, por exemplo, se estivéssemos a ser atacados em A eu pedia fogo para C, em E eu pedia fogo para G, em F eu pedia fogo para H ou I, ou seja, seria possível desconcertar a força atacante, silenciando-os e retirando-lhes a possibilidade de reincidirem no potencial de fogo e desorientá-los acerca da nossa posição no terreno. Mas não deixei de os advertir:
- Falarei em claro pela rádio, repetirei a letra duas vezes. Do outro lado, vocês vão confirmar que ouviram aquela letra. Não se esqueçam que uma troca de letras pode significar dezenas de mortos!.

Enquanto um dos alferes elaborava os croquis, a comer num espaço simpático com caravanas que me disseram ter pertencido às actividades topográficas de Amílcar Cabral, fui apresentando aos oficiais e sargentos os planos para a acção. Assim, logo a seguir à refeição sairíamos do Xime em direcção à bolanha de Ponta Varela, seria um patrulhamento minucioso para detectar sinais da presença do inimigo, quer para conhecer as culturas como os pontos utilizados para atacar as embarcações, que sabíamos ser na entrada do Geba estreito.

Em Ponta Varela ficaríamos emboscados até de madrugada, e começaríamos a progredir pela bolanha do Poidom. Só em Ponta Varela falaríamos com os guias e os meus soldados conhecedores do terreno. Aí pelas 4h30 da manhã, haveria fogo de obus para a região do Baio, um pouco à semelhança do que estava a acontecer nas semanas anteriores, para convencer o inimigo de que se mantinham os procedimentos normais. Mais adiantei que se tivéssemos a sorte do nosso lado iríamos surpreender a população do Poindom e as tropas que os defendiam, a responsabilidade do ataque era da minha inteira competência, o Pel Caç Nat 52 seguiria à frente com as milícias de Finete e de Amedalai. Numa folha de papel, organizámos a disposição da coluna, incluindo os carregadores. Pelas 4h da tarde, despedi-me de quem ficava, mostrei ao Cascalheira o local onde colocara o croquis na camisa, dando-lhe a saber que no caso de eu ficar fora de combate seria ele o responsável pelos contactos com os artilheiros do Xime. E deixámos o arame farpado.

(iii) OP Rinoceronte Temível: O desenrolar da acção

Tudo se iniciou com um mau presságio. Numa carta que escrevi à Cristina em 10 de Março, refiro o pequeno desastre que afectou o 1º cabo José Remédio Pereira que à saída do quartel se acidentou, disparando um tiro que lhe despedaçou um dedo.

Entregue o ferido na enfermaria, para evacuação, recomeçámos a operação com o reconhecimento da região da extinta tabanca de Ponta Varela, aqui emboscamos e houve tempo para conversar com os guias mais os soldados Queta Baldé e Mamadu Djau, explicando-lhes detalhadamente que escolhessem itinerários na bolanha que, de acordo com as informações disponíveis, iriam dar ao acampamento das populações controladas pelo PAIGC. E mergulhámos no silêncio, na escuridão, na vigilância.

Depois do mau presságio à saída do Xime, tivemos o primeiro sinal de sorte. No alto da madrugada, ouvimos a progressão cadenciada das embarcações que se deslocavam no Geba, com lentidão e barulho, aproveitámos todo este ruído inusitado e graças à perícia dos guias entrámos em caminhos acima da água, entre o tarrafe e os campos de arroz. Foi uma caminhada muito penosa, tinha pedido a todos para não haver sinal de vida mas as leis da gravidade foram mais fortes que o meu desejo, manifestando-se por tombos aparatosos, banhos lamacentos imprevistos, um momento houve em que se julgava ter desaparecido um prato de morteiro dentro do lodo.

Cerca das 4h da madrugada, o obus fez fogo sobre a região do Baio, como previsto. Passava das 5h da manhã quando o guia Mankaman Biai me veio dizer que tinham sido descobertas duas picadas muito batidas, uma na direcção da foz do Corubal, outra a apontar para o tarrafe do Geba. Não hesitei na resposta:
- Mankaman, vamos em direcção ao Corubal, estamos muito perto da barraca.

(iv) O ataque, a batida e a retirada

E estávamos. Minutos depois, fomos surpreendidos pelos disparos das costureirinhas, pelas granadas de mão e pelo fogo do RGP 2. Tal como estava combinado, o Pel Caç Nat 52 inflectiu à esquerda, um grupo de combate da CART 2520 guinou à direita, eu dirigia o fogo dos morteiros e das bazucas para a periferia da mata. O importante naquele momento era silenciar o inimigo, dividi-lo, inquietá-lo com o potencial de fogo.

O inimigo retirou depois daqueles escassos minutos de resistência e entrámos no primeiro acampamento constituído por casas de mato, cerca de dez, com dotação de mais de uma dúzia de leitos, cada. Era seguramente a residência dos cultivadores da bolanha, como comprovava igualmente o vestuário e o equipamento abandonados.

Enquanto incendiávamos as casas de mato, o solo à nossa volta foi sacudido por várias morteiradas, dei ordem para prosseguirmos enquanto que o Queirós, Cherno e Mamadu Djau, entre outros, aliviavam as cargas dos carregadores em munições. Novo silêncio e nova investida, minutos depois alcançávamos mais casas de mato, já no baixio da bolanha e pela primeira vez na minha vida vejo toneladas de arroz em depósitos rudimentares.

Pelo telefone peço fogo da artilharia para a região da Ponta do Inglês e avançamos para a foz do Corubal. Aqui a natureza é assombrosa: ramificam-se as picadas, disseminam-se na direcção da Ponta do Inglês, outras apontam para o Buruntoni, mas a nossa prioridade, agora, é detectar o arroz e inutilizá-lo, saber a extensão dos acampamentos, averiguar com exactidão possível a presença militar e civil do PAIGC na região.

É junto à foz do rio Corubal que descobrimos a picada (bem simulada, por sinal) que leva directamente a Ponta Varela, seguramente para os actos de cultivo, patrulhamentos e ataques às embarcações. Convoco de urgência os dois alferes do Xime e o Cascalheira, bem como Bobo Seidi e Bacari Soncó informando-os da minha decisão:
- O factor surpresa esteve do nosso lado, ou avançamos para o Buruntoni ou retiramos aproveitando a desorientação do inimigo. Recebi ordens para que a operação não ultrapassasse a batida do Poidom, o que está feito. Confesso-vos que estou preocupado com a quantidade de militares e civis que aqui devem viver, isto é quase uma ocupação ao pé do Xime. Não temos meios para continuar, agora a surpresa está do lado deles, se quisermos avançar para o Baio ou o Boruntoni. Vamos retirar imediatamente, flanqueando a estrada, indo sempre por esta margem, dentro da floresta, eles devem já ter mandado gente para nos emboscar entre Gundaguê Beafada e Madina Colhido. Os primeiros quilómetros vamos retirar quase a correr, depois iremos mais devagar, e vamos usar o baixio da bolanha, para nossa protecção. Eu parto já com o meu pelotão, seguem-se as milícias e depois a malta do Xime. Espero só vos falar quando entramos no quartel.

(v) A emboscada e o fogo de artilharia

Seriam 9h da manhã quando nos embrenhámos numa mata junto à estrada do Xime-Ponta do Inglês, muito acima de Ponta Varela, e bastante distante de Gundaguê Beafada. Lá em cima ouvia-se o ronco da DO a avançar para o Poidom, guiando-se certamente pelos rolos de fumo que subiam por cima dos depósitos de arroz.

Progredíamos em marcha acelerada quando se desencadeou a emboscada, uma emboscada precipitada, o inimigo guiava-se pelo restolhar do nosso movimento, os nossos vultos não eram nitidamente visíveis, mas estávamos referenciados, era uma chuva desencontrada de morteiros e de bazucadas que destruíam a folhagem à nossa volta.

Tirei novamente o croquis do bolso e falei em directo para o Xime, pedindo urgentemente fogo sobre a posição do inimigo. E dei ordem para que ninguém reagisse na coluna, todos com a cabeça no chão, o fogo de artilharia ia passar perto de nós. E minutos depois o inimigo foi apanhado em cheio, não soubemos o que aconteceu mas calou-se, levantei-me, inflectimos para Ponta Varela, andámos aos ziguezagues pelos palmares. À hora do almoço, sem um ferido, sem um insolado, sem nenhuma perda material, entrámos no Xime onde pedi para se transmitir para a DO que a missão estava cumprida.

Tirara-se partido dos ensinamentos dos últimos meses, sabia-se agora que o grupo populacional do Poidom era enorme, que havia tropa, pouca mas combativa, que era indispensável rever futuramente a nossa actuação, não parecia correcto continuar a insistir-se em operações clássicas com o exército, era preferível que fôssemos utilizados em batidas e patrulhamentos ofensivos.

Enquanto almoçávamos, procurei ouvir as opiniões dos camaradas sobre comportamentos relevantes, os que verifiquei e os que eles verificaram. Ergueram-se várias vozes para referir a coragem do Queirós, praça por acidente e comandante por mérito próprio, pelo modo determinado como acompanhara a reacção ao fogo inimigo, à entrada do primeiro acampamento; tinha sido também notada a participação audaciosa de um apontador de morteiro da Cart 2520. E foi assim que pedi louvor para o soldado Ramoaldo Izaias Tenda Coelho. Não deixei de referir igualmente o desembaraço com que o sargento Cascalheira comandara a manobra de assalto, decisiva para fazer recuar o inimigo.

Saímos alegres do Xime e deixámos a tropa local mais confiante. Mankaman veio despedir-se, foi um longo cumprimento que Mamadu Djau resumiu:
- Foi bom ter feito esta operação consigo. Venha mais vezes.

Era uma bonita saudação e Mankaman mal sabia que eu viria mais vezes. Em breve, a 22, estaremos juntos na operação Jaqueta Lisa.

(vi) Leituras singulares e coloridas

Vou chegar derreado a Bambadinca, pela primeira vez o major Sampaio está risonho quando me felicita. Nos próximos dias, atirado novamente para a ponte de Udunduma só escrevo à interessada, aos familiares e amigos falando do casamento provisoriamente marcado para meados de Abril em Bissau. Estou feliz pelo desfecho da Rinoceronte Temível.

Daqui para diante há quem se refira ao nosso pelotão como “aqueles loucos que levam o 81 dentro de água”. Na ponte continuamos as obras e é aqui que eu vejo a verdadeira modéstia do Queirós: com o mesmo à vontade com que mete granadas no tubo do 81, pega na picareta e galvaniza todos aqueles que trabalham no restauro da ponte.



Capa do livro Documentos para a compreensão da pintura moderna, de Walter Hess. Este livro vem incluído na enciclopédia LBL onde li, entre outros O Sagrado e o Profano, por Mircea Eliade e Arte e Mito, por Ernesto Grassi. A tradução é de Ana de Freitas e José Júlio Andrade dos Santos, a capa de Karl Gröning, s/data. (BS)


Agradeci à minha mãe dois livros que me mandou de Urbano Tavares Rodrigues, Bastardos do Sol e Casa de Correcção. Já me sentia capaz de tocar nos livros que o Carlos Sampaio me mandara no segundo semestre de 1969. Então, folheio Documentos para a compreensão da pintura moderna, de Walter Hess, da conceituada Enciclopédia LBL. Trata da arte moderna vista através dos testemunhos pessoais dos seus protagonistas (fauvismo, cubismo, pós-impressionismo, pintura absoluta, expressionismo, surrealismo e futurismo).

A pintura, então, libertava-se de conteúdos históricos, deixava as paisagens do naturalismo e os heróis sublimes. O artista tem novas clientelas; a ciência, a industrialização, o lazer, passaram a ter novos significados, procuram-se novas imagens, novas cores, uma outra relação entre a forma e os conteúdos. É assim que se decompõe a cor, nascem os pontinhos multicolores, alteram-se as formas, os contrastes, a presença de objectos nesses quadros por vezes iluminados com cores sugestivas. É assim que arranca o fauvismo em França e o expressionismo na Alemanha. Leio os pontos de vista de Matisse, de Rouault, Kirchner, Braque e de outros cubistas, de como gradualmente se caminhava para a arte abstracta. Leio com prazer mas de vez em quando entristeço-me quando penso que nunca mais conversarei com o Carlos Sampaio sobre pintura moderna ou o quer que seja.



Capa de Salomé, de Oscar Wilde. Editorial Gleba, s/data,uma capa sugestiva anónima, tradução de Manuel Cabral Machado.

Li deslumbrado a Salomé, de Óscar Wilde, e descubro afinidades entre esta voluptuosidade teatral e a linguagem musical alucinante de Richard Strauss, na ópera do mesmo nome, o clímax de um rei Herodes inebriado por Salomé, uma Salomé inebriada por João Baptista, uma Herodíade inebriada pelo ódio. É este quarteto que domina o texto teatral cheio de desejos extremados, tensões e vibrações da morte. Salomé a beijar a boca de João Baptista morto desencadeia uma onda de terror em Herodes que concentra o seu despeito no sacrifício de Salomé.

Capa do livro O Jogo da Vida , de Patrícia Highsmith. É um livro que manipula um enredo muito peculiar de Patrícia Highsmith: um acontecimento fortuito leva a um homicídio, este suscitará o pesadelo das suspeitas,as relações dentro de um grupo ficarão fragilizadas.Como sempre, um outro acontecimento fortuito levará ao esclarecimento, a verdade desabará a contingência das relações de quem ganha e de quem perde... É o nº160 da Colecção Vampiro, capa de Lima de Freitas e tradução de Mascarenhas Barreto


E, por último, esse sublime O Jogo da Vida, de Patrícia Highsmith. Desta vez o criminoso será preso, tudo se passa no México, no meio de boémia e tertúlias, o assassinato de Leila Ballesteros, uma pintora cheia de mérito e mulher independente, arrasta à comoção os seus dois amantes que se lançam na investigação e na descoberta do móbil do crime. Houvera um roubo depois do crime, o criminoso começa a ser pressionado por chantagistas, foge e depois entrega-se à polícia. Como é muito peculiar na arte de Highsmith, é um crime fortuito e não deliberado, depois a expiação e depois a confissão, e até lá todos os outros personagens ardem no sofrimento da dúvida. É um jogo em que ninguém vence a não ser a polícia. Estou em definitivo preso pela arte de Patrícia Highsmith.

Agora vou preparar o meu casamento, no meio da vadiagem entre Bambadinca, Cossé e Badora. Depois volto às operações. E irei casar quando o general Spínola decidir uma estranha trégua, em meados do mês de Abril. A trégua terminará num massacre de vários oficiais, eu caso-me e depois passarei uma semana na psiquiatria do HM 241. Como aqui se irá descrever

________

Notas de L.G.:

(1) Vd. último poste desta série > 11 de Abril de 2008 >
Guiné 63/74 - P2749: Operação Macaréu à Vista - II Parte (Beja Santos) (27): Quando os mortos abrem os olhos aos vivos


(2) Foi uma época de intensa actividade operacional para CCAÇ 12 (Bambadinca, 1969/71), afecta, tal como o Pel Caç Nat 52, do Beja Santos (Bambadinca), o Pel Caç Nat 63, do Jorge Cabral (Fá Mandinga) e o pel Caç Nat 54, do Correi«a (MIssirá), ao Sector L1 e ao Comando do BCAÇ 2852, mais as respectivas unidades de quadrícula (CART 2520, Xime; CCAÇ 2404, Mansambo; CART 2413, Xitole). Basta apenas lembrar aqui algumas das operações realizadas nos meses de Janeiro e Fevereiro de 1970, em que a CCAÇ 12 participou:

Vd. postes de

7 de Março de 2006 >
Guiné 63/74 - DCXII: Assalto ao destacamento IN de Seco Braima, na margem direita do Rio Corubal (Janeiro de 1970, CCAÇ 12, CAÇ 2404, CART 2413) (Luís Graça)

(...) "O prisioneiro, de nome Jomel Nanquitande, foi deixado para trás pelos seus companheiros, que no entanto recuperaram a sua arma. O seu ferimento não era grave, aos olhos de um tuga. Após uma semana de recuperação e de interrogatórios, o Jomel seria obrigado pelas NT a participar como guia para um assalto de mão ao acampamento IN de Ponta Varela que conhecia bem [, a sudoeste do Xime, na direcção de Madina Colhido]: Op Borboleta Destemida (...)".

13 de Março de 2006 >
Guiné 63/74 - DCXXIII: Op Borboleta Destemida: uma emboscada de meia-hora (Poindom/Ponta Varela, CCAÇ 12, Janeiro de 1970) (Luís Graça)

(...) "O interrogatorio do elemento IN capturado por forças da CART 2413 no decorrer da anterior operação (disse chamar-se Jomel Nanquitande, de etnia balanta, ter uma Espingarda Simonov distribuída e ser chefe da tabanca de Ponta Varela), permitiu-nos saber, entre outras coisas, que o IN voltara a instalar-se na área do antigo acampamento do Poindom/Ponta Varela destruído pelas NT em Setembro passado durante a Op Pato Rufia.0 actual efectivo era de 25 homens, dispondo de Morteiro 82, cinco RPG-2 e armas automáticas.

"O dispositivo de segurança, mais rigoroso do que no tempo das chuvas, compunha-se de 4 sentinelas na estrada Xime-Ponta do Inglês (dois para cada lado). O grupo IN saía todas as manhãs a fim de montar segurança à população que trabalha na bolanha, regressando ao meio-dia e voltando à tarde até às 17h.Com base nestes dados, foi decidido executar um golpe de mão clássico sobre o acampamento a fim de capturar ou aniquilar os elemen­tos IN assim como o material e meios de vida nele existentes (Op Borboleta Destemida).

(...) "Progredíamos com redobrada cautela quando o prisioneiro informou que já estávamos perto e cortou por um trilho à esquerda que disse ir dar ao Buruntoni. Seguindo o mesmo, encontrou-se outro, em sentido inverso, que o prisioneiro declarou ser um dos trilhos de acesso ao acampamento.

"Enveredando por ai, e passados uns 100 metros, os homens da frente (1º Gr Comb da 12), ao entrarem numa clareira, detectaram um grupo IN instalado atrás de baga-bagas e de árvores. Evidenciando grande rapidez de reflexos, o apontador de LGFog 8,9 Braima Jaló foi o primeiro a abrir fogo. No mesmo instante começámos a ser violentamente flagelados com Mort 82, Lança-Rckets e rajadas de metralhadora. Uma granada de morteiro rebentou junto da 2ª secção do do 1º Gr Comb, tendo os estilhaços atingido o Furriel Mil Pina, o 1º Cabo Atirador Valente e os soldados Baiel Buaró e Sajo Baldé.

"Apos os primeiros momentos de surpresa e confusão, reagimos com determinação e, manobrando debaixo de fogo, obrigámos o IN a recuar. Por escassos segundos interrompeu-se o fogo para logo recomeçar com redobrada violência, quando já estávamos quase dentro do acampamento. Desta vez seriam atingidos pelas balas do IN os soldados do 1º Gr Comb Leite (Transmissões) e Mamadu Au. A nossa reacção foi de tal modo pronta que o IN foi compelido a retirar definitivamente, com baixas prováveis. 0 fogo tinha durado mais de meia-hora" (...).

19 de Março de 2006 > Guiné 63/74 - DCXLI: Ponta do Inglês, Janeiro de 1970 (CCAÇ 12 e CART 2520): capturados 15 elementos da população e um guerrilheiro armado (Luís Graça)


(...) "Seguindo um dos trilhos, avistou-se um homem desarmado que seguia em direcção contrárias às NT. Capturado, informou que ia recolher vinho de palma, que a tabanca ficava próxima, que não havia elementos armados e que a maior parte da população estava àquela hora a trabalhar na bolanha.

"Feita a aproximação com envolvimento, capturaram-se mais 2 homens, 5 mulheres e 6 crianças. Um dos homens capturados disse chamar-se Festa Na Lona, de etnia Balanta, estar alí a passar férias e pertencer a uma unidade combatente do Gabu. Foi-lhe apreendido uma pistola Tokarev (7,62, m/ 1933) e vários documentos" (...).

9 de Abril de 2006 >
Guiné 63/74 - DCLXXXVIII: Violenta emboscada em L (Op Boga Destemida, CCAÇ 12, CART 2520 e Pel Caç Nat 63, em Gundagué Beafada, Fevereiro de 1970) (Luís Graça)

(...) "Em marcha lenta, devido ao transporte do ferido em maca, os 2 Dest seguiram o trilho de Darsalame Baio-Gundagué Beafada, através do capim alto.

"Próximo da antiga tabanca beafada, cerca das 13h, as NT sofreriam uma violenta emboscada montada em L e com grande poder de fogo, especialmente de lança-rockets. A secção que ia na vanguarda do Dest B ficou praticamente fora de combate, tendo sido gravemente feridos, entre outros, o respectivo comandante e a praça encarregada da segurança do prisioneiro Jomel Nanquitande que, aproveitando a confusão, conseguiu fugir, embora algemado e muito provavelmente ferido.

"Devido ao dispositivo da emboscada, quase todos os Gr Com foram atingidos pelo fogo de armas automáticas e lança-rockets (testa e meio da co¬luna) e mort 60 (retaguarda).

"Devido à reacção das NT, o IN retirou na direcção de Poindon e Ponta Varela, tendo ateado o fogo ao capim para evitar a sua perseguição. O incêndio lançaria sobre as NT um enxame de abelhas, obrigando-as a fugir para uma mata próxima onde se trataram os feridos.

"Em resultado da acção fulminante do IN, as NT sofreriam 1 morto e 7 feridos entre graves e ligeiros (urn dos quais viria a falecer mais tarde), sendo 2 da CCAÇ 12 (1º Cabo Galvão, do 3º Gr Comb, e Soldado Samba Camará, do 2º Gr Comb).

"Feito o reconhecimento, não foi encontrado o prisioneiro. Apesar do incêndio provocado pelo fogo pegado ao capim, ainda se conseguiu recuperar parte do material abandonado. Levados os feridos para Gundagué Beafada, donde foram heli-evacuados, as NT retiraram para o Xime, protegidas por heli-canhão e T-6, tendo chegado ao aquartelamento por volta das 17h" (...).

10 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCXXXVIII: Festa Na Lona, um bravo combatente do PAIGC (CCAÇ 12, Fevereiro de 1970) (Luís Graça)


(...) "Fevereiro de 1970: Op Bodião Decidido: uma operação com sucesso na área de Satecuta

"Foi realizada em 14 e 15 de Fevereiro de 1970 para uma batida à área de Satecuta até ao Rio Corubal (1), por forças da CART 2413, CCAÇ 2404 e CCAÇ 12 (1º, 2º e 4º Gr Comb), constituindo respectivamente os Destacamentos A, B e C .

"De acordo com o plano estabelecido para a acção, os 3 Dest saíram de Mansambo e Xitole às 5h00 do dia D, percorrendo a estrada [Xitole-Mansambo] até ao ponto de encontro (área de Gulobó) [onde fizeram paragem para descanso e almoço, entre as 12h00 e as 16h00]

"Após uma rápida reunião dos Comandantes dos Dest, iniciou-se a progressão a corta-mato, tendo-se atingido pelas 17h00 o local escolhido para pernoita e montagem de emboscadas nocturnas.

"Verificou-se, através de vestígios, que o IN tinha reconhecido o trilho utilizado pelas NT durante a Op Navalha Polida, embora não tivessem sido detectadas quaisquer minas ou armadilhas.Às 4h00 da manhã (dia D + 1), os Dest continuaram a progressão até atingirem um trilho muito batido na região Xime 4 F2 – 29.

"-Aí ficou emboscado o Dest B (CCAÇ 2404), reforçado por 1 Gr Comb do Dest C (CCAÇ 12), enquanto os outros Dest seguiram em direcção a Satecuta.Pelas 7h00, o Dest B avistou 1 grupo IN de 15/20 elementos, tendo os homens da frente aberto fogo no momento oportuno, causando 1 morto deixado no terreno e feridos prováveis, com um gasto mínimo de munições (1 dilagrama e 1 carregador de G-3).

"Foi apreendido ao IN um RPG-2 [ LGFog ] e várias granadas. O IN dispersou imediatamente e flagelou o Dest B quando alguns elementos deste foram à zona de morte a fim de verificar os resultados colhidos.

"Os Dest A e C foram também flagelados com fogo de morteiro e armas automáticas, não reagindo para não revelar a sua localização exacta e movimentando-se apenas para conseguir estabelecer ligação com o Dest B.

"Uma vez que toda a população e elementos IN da área tinham ficado alertados, devido à troca de tiros, as NT após uma batida muito rápida retiraram de forma a evitar quaisquer emboscada de outros grupos IN vindos de Seco Braima ou Galo Corubal. (...)

quinta-feira, 17 de abril de 2008

Guiné 63/74 - P2770: III Encontro Nacional da Nossa Tertúlia (3): Novidades (J.Mexia Alves/C. Vinhal)

1. Caros camaradas
Temos algumas novidades para o nosso Encontro Nacional.

Já sabemos onde é o Restaurante e quanto vamos pagar para almoçar e lanchar.
Também conhecemos as ementas.

Comecemos pelo princípio. Nome e localização do Restaurante

Quinta do Paúl em Ortigosa, perto de Monte Real.

Tive a curiosidade de ir consultar o site da Quinta do Paúl e acho que as instalações são muito bonitas.

Para já fica o esquema de localização.
Oportunamente será anunciada a localização da parada para a formatura, desculpem, o local de concentração.





Vamos à ementa

Almoço

Entradas

Quarteto de Frutas Laminadas com Presunto
Espetadinha de Morcela e Chouriço
Pãezinhos Regionais/Manteiga
Broa/Azeitonas

Sopa de...

Peixe

Bacalhau com Natas
ou
Carne
Assado de Novilho c/ puré de batatinhas, e Legumes

Sobremesas
Doces Tradicionais
Frutas Laminadas
Vinhos Regionais
Aguas/Refrigerantes
Café

Preço do almoço por pessoa 19,50€

Buffet/Lanche

Caldo verde
Bifanas no Pão
Frangainhos churrasco
Pataniscas de Bacalhau/Rissóis/Chamussas
Queijo/Fiambre/Presunto
Saladas Variadas
Doces de Colher
Frutas Naturais
Febras Churrasco
Lentriscas
Morcela Grelhada
Bebidas

Preço do lanche por pessoa 9,50€

Total final 29€

2. Atentem agora a estas palavras do Joaquim Mexia Alves, que está a fazer o seu melhor para que nada falhe.

A sala será exclusivamente nossa desde o almoço até por volta das 22 horas.

Haverá uma pequena aparelhagem de som, (paga à parte, e ainda não tenho valor mas que será residual), e que eu pedi fosse constituida por dois microfones, um fixo e um portátil, com apenas uma coluna de som.
Penso que chega perfeitamente.

Quanto ao "passeio" estou à espera de ver quantas pessoas envolverá porque por enquanto a "coisa está fraca".

Estou também a coligir preços para a estadia em diversos estabelecimentos hoteleiros. Assim que tiver informo.

O meu filho Luis, que é o Director das Termas, propôs a meu pedido, uns programas de Bem Estar nas Termas sobretudo para aqueles/as que ficam, com redução de preços, obviamente!
Como eu já não sou dono exclusivo das Termas, sou apenas o "elo mais fraco", não posso fazer aquilo que mais gostaria que era proporcionar estes programas gratuitamente, no entanto fica a sugestão, para Sábado à tarde e Domingo de manhã:

Programa A - 15,00€
Duche de Jacto ou Envolvente
Hidromassagem Relaxante

Programa B - 40,00€
Hidromassagem Relaxante
Esfoliação com Videira Vermelha ou Lava Vulcanica

Programa C - 27,50€
Duche de Jacto ou Envolvente
Hidromassagem Relaxante
Massagem Parcial Relaxante
J.M.A.



3. É nossa ideia dedicar cerca de 1 hora para tratar de assuntos relacionados com o funcionamento do Blogue. Vamos organizar dois ou três grupos de trabalho para elaboração de ideias, mas qualquer tertuliano poderá apresentar as suas sugestões.

Teremos tempo para a música e canções e, sobretudo, para o são convívio entre camaradas.

Relembro que quem já estiver em condições de se inscrever, o deve fazer sem demora, para o Joaquim poder discutir os preços propostos.

Não esqueçam: Todos em Força Para Monte Real.
_________________

Vd. Poste de 10 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2741: III Encontro Nacional da Nossa Tertúlia (2): Inscrições aceitam-se (C. Vinhal/J.Mexia Alves)

Guiné 63/74 - P2769: Álbum das Glórias (43): Viaturas automóveis: O Matador (César Dias, CCS/ BCAÇ 2885, Mansoa e Mansabá, 1969/71)

Guiné > Região do Oio > Mansoa > 1970 > Uma relíquia do passado, uma viatura Matador...

Foto: © César Dias (2008). Direitos reservados

1. Do nosso camarada César Dias , ex-Furriel Miliciano Sapador, CCS / BCAÇ 2885, um batalhão que esteve em Mansoa e Mansabá desde Maio de 1969 a Março de 1971 (1) .


Olá, camaradas:

Ao ver, no post 2768 (2), uma das fotos com uma viatura dos anos 40 (?), lembrei-me que passou em Mansoa em 1970 uma coluna recheada de grandes máquinas. De entre elas chamou-me a atenção esta, da qual vos envio foto, uma prova que utilizávamos, na Guiné, as viaturas do tempo do Pai do Torcato. Possivelmente ainda mexem, quem sabe?! (3).

Um abraço

César Dias
__________

Notas dos editores:

(1) Vd. postes de:

30 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1472: Sobrevivente do BCAÇ 2885 (Mansoa e Mansabá) (César Dias)

1 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1557: No regresso éramos menos 32 (César Dias, CCS do BCAÇ 2885, Mansoa, 1969/71)

4 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1813: Os heróis desconhecidos de Cussanja, os balantas das boinas amarelas (César Dias)

12 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1840: A trágica história dos sapadores Alho e Fernandes da CCS do BCAÇ 3832, Mansoa, 1971/73 (César Dias / Gerrmano Santos)

14 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1951: Álbum das Glórias (17): A tabanca de Cutia (César Dias)

3 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P1643: A morte do 1º cabo José da Cruz Mamede, do Pel Cacç Nat 58 (3): 10 mortos em emboscada com luta corpo a corpo (César Dias)

(2) Vd. poste de 17 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2768: Blogoterapia (48): Pensar em voz alta... A nossa por vezes difícil mas sempre boa con(v)ivência (Torcato Mendonça)

(3) Há tempos o Nuno Rubim andou pedir fotos desta viatura, que era utilizada para reboque de material de artilharia: Vd. poste de 18 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1766: Guileje: A Bêbeda, uma Fox do Pel Rec 839 que ficará imortalizada no diorama (Nuno Rubim)

(...) "Precisava também de fotos das Daimler, Atrelado de Água, Atrelado Sanitário, Morteiro de 10,7 cm, Canhão sem-recuo de 106 mm e da viatura Matador que rebocou as peças de artilharia 11,4 cm e os obuses 14 cm" .(...)

Guiné 63/74 - P2768: Pensar em voz alta (Torcato Mendonça) (10): A nossa por vezes difícil mas sempre boa con(v)ivência

Vendas Novas > Escola Prática de Artilharia > Meados dos anos 60 > "Cadetes em Vendas Novas limpam armas em tempo de paz", diz laconicamente o Mendonça, ou melhor, o José, ou talvez o Silva, ou muito simplesmente o Torcato, o nosso Torcato... Citando um velho provérbio popular, ele sabe, melhor do que ninguém, que O dente morde na língua mas mesmo assim vivem juntos... (LG)

Vendas Novas ? Do tempo de tropa do pai do Torcato, imagino... "Anos 40? Ford Canada? Ainda as havia no meu tempo. Tinham a embraiagem ou acelerador fora do sítio habitual" (TM)... Julgo que na Guiné se chamavam Matadores e serviam, para além do transporte de carne para canhão (fui num do Xime a Contuboel, carregado de periquitos, no 2 de Junho de 1969, se bem me lembro), para rebocar os nossos velhos obuses da II Guerra Mundial... Terão desaparecido com a vinda das Berliet do Tramagal (LG)

Fotos: © Torcato Mendonça (2008). Direitos reservados


1. Mensagem do Torcato Mendonça, com data de 26 de Março último:

Caros Editores:

Anexo texto Pensa em Voz Alta - C; a merecer mais título de Mentes Perturbadas… Mexer na água com a mão faz ondas… Para quê ? Com pedrinha faz círculos concêntricos, todos iguais... Não quer dizer que mereça leitura atenta e menos ainda publicação. Sai pela bolha e toque de tecla.

Envio 8 fotos, divididas por três ou quatro mensagens [Artilharia 2, 3, 4 e 5]. Uma é de Vendas Novas e as outras dos anos quarenta.

Gostava de saber que raio de Peças e Obuses são estes. O Coronel Nuno Rubim sabe. Dizem-me algo as fotos. Questões afectivas. Vai breve legenda.

Agradeço, isso sim, que um de vós me diga – recebido.

Bem hajam

Um abraço,
Torcato Mendonça
Fundão


2. Pensar em Voz Alta - C
(O título do poste é da responsabilidade do editor, L.G.)

Pensa, pensa em voz baixa, deves concordar, aplaudir, louvar, enaltecer. Pensa, pensa mas guarda para ti. Se o não fizeres, ao menos bate palmas, ri, mostra a alegria própria dos teus verdes anos. Felizardo, sim tu que neste País vives. Felizardo. Tens o Benfica, uma canção que é nacional, uma Santa que olha por nós, por todos nós.

Quantos anos tens? Nem vinte... dezoito… não dizes? Olhas para onde? … Pareces olhar o vazio. Porquê? A tua geração não pode pensar em voz alta… para quê? Outros por ela o fazem, deixa-te disso. Cala-te e deixa o resto para os outros. O quê? A tua geração quê? Queriam castrá-la? Como assim, meu parvo… não podias falar, pensar em voz alta… para quê, macaquinho, não tens a mente perturbada…pois é isso…felizardos e ingratos…hein!...

Passa uma, duas, três décadas e hoje, pensar em voz alta é como respirar. Aceitar a opinião diversa é (ou tem que ser? – ou começa a ser e a não ser?) a normalidade. Na pluralidade e diversidade de opiniões será encontrada a razão, o rumo certo, a liberdade da vivência colectiva, depois de salutarmente debatida e aceite...

Não aqui, neste espaço plural, ou por isso mesmo aqui, neste espaço de Camaradas de outrora, porque não de agora, em busca do Rumo, do Caminho consensual de uma vivência comum, por todos vivida fortemente, mesmo em tempos ligeiramente diferentes.

Essa vivência comum que os une é a Guiné, a guerra colonial ou do ultramar em consonância ainda não completa e unanimemente aceite. Ou, para outros, guerra de libertação, será que foi? Será que já terminou? Será que falhou esse desígnio?

Talvez a Paz não seja sinónimo de Libertação, aqui ou lá, em maior justiça social, maior desenvolvimento, menores assimetrias ou a não existência de um fosso tão grande entre o Povo (de lá e de cá? ou só de lá? porque não de cá?) e as ditas elites dirigentes. Conjugado de dirigir: Há ainda a conjugação com digerir …outra estória…

Curiosamente há muitos anos atrás um homem compreendeu, brilhantemente, porque sendo de lá, foi educado cá, conheceu estas gentes, como no futuro, logo a seguir, melhor conheceu as gentes de lá, a sua gente. Anos depois diria: não faço guerra ao povo de lá, (ao de cá), faço aos políticos, à sua politica colonial. Esperto o homem de lá, conhecedor do povo de cá, pois alguns, os mais jovens, estavam em passagem curta e sofrida pela sua terra. Aplicava um sofisma mas, mesmo assim, a deixar marcas. Politíco a saber aplicar os seus conhecimentos. Discordamos dele lá e, mesmo depois de melhor conhecer o seu pensamento, cá. Não discordamos totalmente, é certo e respeitamos a sua memória.

Morreu precocemente, o homem. Não viu, o seu povo, o de lá e mesmo o de cá a gritar liberdade. Seria diferente, certamente muito diferente, a vida em liberdade do seu povo se ele tivesse sobrevivido. Porque não o de cá… e há liberdade, cá ou lá, hoje, como ele a sonhou, ontem, cá e lá? … Dúvidas e incertezas, muitas…

Hoje penso em voz alta, respeitando a pluralidade do pensamento e livre expressão de outros. Assim vou aceitando, reflectindo e buscando o caminho desejado… É pena certas marcas do meu passado, certa má formação, difícil ou impossível de modificar. Não esquecer, não saber esquecer e, menos ainda perdoar... Irrelevante para quase todos ou todos... Irrelevante…

Posso é pensar em voz alta e assim:

1 – Prefiro repetir-me. Já falei da nossa Memória como Povo. É difícil viver sem conhecer e debater o nosso passado. Não pretendo recuar oito séculos, nem cinco para falar dos descobrimentos ou da exploração de terras de chegada, desbravadas, conquistadas em nome da fé, da civilização e, porque não, de muita pouca-vergonha. Outros, de forma diferente, mais agressivos e aguerridos, mais preocupados com o cofre e menos ainda, do que nós, com as gentes, nem sabemos se terão tratado da memória. Talvez não. A soberba da grande potência inibe certamente essa preocupação. Coisas menores… foram-se dessas terras mais cedo, compreendendo o processo evolutivo da história mas sempre foram ficando ou regressaram, aos poucos, de forma diferente para um neocolonialismo aceite ou consentido...

Nós nem por isso… temos regressos de afectos e parcerias. Sem querer desviamo-nos.

Devemos debater, tentar compreender o fim do Império. Fundamentalmente é isso que aqui nos interessa. Talvez tenha um certo interesse. Talvez evite o avolumar de certas tensões, incompreensões, só fruto da falta da busca do consenso – debatido e aceite.

Não para justificar uma qualquer verdade histórica. Trabalho para Historiadores. Não. Procuremos somente gerar consensos e ao tratarmos dessa Memória(s), da nossa memória, sintamos orgulho de nós como Povo.

Não sintamos qualquer vergonha como antigos combatentes em guerra de uma dúzia de anos. Porquê? Por alguns excessos? Mas guerra é guerra e existem sempre excessos, de ambos os lados. Um ataque a uma povoação com morte de civis versus uma emboscada, tipo Quirafo, feita pelo outro contendor? Diferenças?! Quantas gentes de lá, fulas, mandingas, balantas…foram por nós salvas. Quantos os que, lutando ao nosso lado, sofreram mais tarde, após a independência, fortes represálias.

Ouvimos há dias o relato de um Militar que prefere salvar soldados e populações. Como classificar? Como compreender o desejo dos seus compatriotas, Libertadores, prontos a tudo arrasar… guerra é guerra e assim se justifica….

2 – Ainda é cedo para falar do recente Simpósio de Guileje pois aos poucos ainda se juntam elementos. Certo é que se abriu uma porta de futuro. Não acrescentamos mais nada… Esperamos.

3 – Continuemos a pensar em voz alta nuns pontos mais… Talvez um intervalo seja preferível… Isso, façamos um intervalo, um voto e um desejo:

- Que os Guineenses encontrem a Paz e o Desenvolvimento que ambicionam e merecem;

- Que nós, antigos combatentes, não nos sintamos – menos ainda admitamos – que alguns tenham a veleidade de nos querer colocar no lado errado da história. Combatemos envergando a farda do Nosso País.

Parece haver incongruência. Não!

Reflictamos lentamente, de quando em vez no intervalo das estórias... Talvez assim se encontrem muitas respostas a tanta questão levantada… E aceitemos a diversidade de opiniões, fazendo a crítica que julguemos estar correcta…

(continua... um dia, melhor, numa noite de insónia...)

_________

Nota dos editores:

(1) Vd. último poste desta série:

14 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2758: Blogoterapia (47): Pensar em voz alta... O tédio que às vezes nos invade (Torcato Mendonça / Carlos Vinhal / Virgínio Briote)

O Torcato deixou lá o seguinte comentário:

Abri e oh...o Narciso, o grego da mitologia, como aqui se lastimava não sei quem. Sou de facto eu, não um jovem turco, menos narciso mas sim um parolo em Fá, no início de comissão, roncos, peles e artefactos junto a abrigo de adorno. O que tenho ao pescoço acompanha-me há 40 anos(agora no saco). Os abrigos de Mansambo era á prova de canhão. Caí da cama mas tudo bem (ver o Mosquiteiro-salvo erro). O Torcato anda triste com a morte do José. Mas o SILVA deve chegar amanhã a Fá...já saiu de Bissau. Tudo para dizer:Isto eram conversas demasiado intimistas e não esperava a publicação. Saiu. Os Editores são soberanos e eu, como facilmente se constata, continuo apanhado. AB doTM

Guiné 63/74 - P2767: A guerra estava militarmente perdida ? (1): Sobre este tema o António Graça de Abreu pode falar de cátedra (Vitor Junqueira)



Pombal > 28 de Abril de 2007 > 2º encontro da tertúlia Luís Graça & Camaradas da Guiné > Restaurante O Manjar do Marquês. Antes do almoço, o Vitor Junqueiro, na sua qualidade de nosso anfitrião e organizador do encontro, fez o discurso de boas vindas.

Num gesto de grande simbolismo e beleza, que nos tocou a todos, fez-se rodear e acompanhar pela sua família: três lindas filhas, duas encantadoras netas, um genro e o namorado de uma das filhas, qualquer deles simpatiquíssimos e amáveis...

A seguir, o Vitor - verdadeira caixinha de surpresas - fez questão de ser condecorado por dois dos seus camaradas de Guiné: o A. Marques Lopes, o mais graduado de todos nós, coronel DFA na reforma, e que foi gravemente ferido em combate na zona leste; e eu, próprio, Luís Graça, na qualidade de fundador e editor do blogue...

A condecoração, sobre a qual ele foi lacónico, teria a ver com a sua brilhante folha de serviços como militar, ou seja, como oficial miliciano. Foi-lhe atribuído, segundo percebi, pelo Chefe do Estado Maior do Exército e era para lhe ser entregue no 10 de Junho de 1974, não fora o conflito com outra data, o 25 de Abril de 1974, que veio mudar o curso dos acontecimentos.

A cerimónia acabou por ser adiada trinta e três anos... Simbolicamente, a medalha por bons serviços foi-lhe entregue no dia 28 de Abril de 2007, por dois camaradas seus, na sua terra, na terra que ele muito ama... Um gesto bonito num dia bonito, em que realizámos, mais uma vez, o sentido da palavra camarada... Estes fotos, mandou-mas o Xico Allen. Estavam à espera de uma boa oportunidade para aparecerem no blogue (que nem sempre é do nosso contentamento)... Vitor, sei que as vai pôr no teu álbum, com muito orgulho. Obrigado, Xico, pelo teu gesto.

Fotos: © Xico Allen (2007). Direitos reservados.



1. Do nosso querido amigo e camarada, ressuscitado, Vitor Junqueira (1), que na triagem de Manchester (não é censura, não senhor!) que os editores fazem (ou têm que fazer, coitados) tem direito a pulseira de cor vermelha (ou carmesim, para quem não gosta do vermelho) (1):

Assunto - Peço a palavra!

Um amigo, até há pouco residente na cidade de Campinas, situada uma centena de quilómetros de S. Paulo - Brasil, estava a ser assaltado pela enésima vez pelo mesmo bandido. Enquanto o larápio lhe esvaziava a caixa registadora da pequena padaria familiar que geria encostando-lhe um .38 à têmpora, arriscou como quem quer fazer conversa ou, sabe-se lá, amizade:
- Oi cara, você não acha este seu ofício um pouco perigoso, não? Um dia destes, outro cara que nem você ou a polícia, podem lhe arrefecer o céu de sua boca, né ...?
- Ah, mas eu não tenho medo, não. Isso é p'ra você, que tem casa, dinheiro, uma família ... Eu não tenho nada a perder, vou ter medo de quê?

Liga-me, a este gatuno, um inexplicável sentimento de fraternidade. Também eu, de um certo ponto de vista, já nada tenho a perder. A não ser a honra e dignidade que, nos dias de hoje, se estão afundando mais rapidamente do que o dólar. E, se por um lado, a Pátria nada me deve como tenho afirmado repetidamente, também é certo que nunca mamei nas tetas da república, desta ou da velha porca. Cargos, honrarias, poleiro, visibilidade, pilim da nossa saca, foram coisas que rejeitei, como sempre o fizeram e disso estou convicto, a maioria dos camaradas que participam neste Blogue. Sinto-me por isso perfeitamente à vontade para discordar de certos pontos de vista aqui espelhados e manifestar essa minha discordância, sem receio de sofrer consequências pela eventual ofensa ao politicamento correcto e/ou oportuno, veiculado pela corrente situacionista (desculpem-me pelos chavões).

Hoje, parafraseando Lobo Antunes - as boas ideias não fazem os bons escritores - coisa a que não aspiro mas que não deixa de ser uma bela carapuça, e para não me estender ao comprido, vou com vossa licença abrir o post nº 2760 de A. G. Abreu (3).

Leio:

"Meu caro Luís,
Enviei-te o mail abaixo, em Dezembro. Podias ter aproveitado qualquer coisa para o Blogue".

E a seguir, aflora três temas que no meu entender deveriam ter sido aproveitados para o Blogue.

1 - A sua perspectiva de que a guerra não estava militarmente perdida;
2 - O seu conhecimentode que a Força Aérea continuou a desempenhar as suas missões após o abate de cinco aviões pelos mísseis do PAIGC;
3 - A sua constatação de que de facto as FA de Portugal controlavam a maioria das cidades , vilas e aldeias.

Nas palavras do camarada Abreu, vislumbro alguma mágoa. Mas, se ele não quis realmente expressá-la, exprimo-a eu. Mágoa, tristeza, revolta, impotência ... Porque a guerra do Graça Abreu, foi a minha guerra. Revejo-me em cada linha, em cada palavra do seu livro Diário da Guiné. Seria exactamente aquele livro que eu gostaria de ter escrito, se tivesse arte para tal. Li-o numa noite e reli-o. Fiz sublinhados e anotações pessoais, comparei-o com outras prosas que fizeram o seu caminho e se enraizaram nos diversos corpos sociais da república, intocáveis, quantas vezes complexadas e revanchistas.

Quero acreditar que no Blogue não existe censura, mas a desconfiança começa minar-me a memória, a riscar-me o orgulho de ex-combatente. Já não sei se hei-de acreditar em mim próprio ou no que aparece escarrapachado na abundante produção literária (e televisiva) e naqueles que recentemente se atiraram a este filão como gato a bofe (vd. Tempo de Cicatrizes, in Ípsilon de O Público de 4/4/2008).

Citando de novo Lobo Antunes, o António, in Alentejo Ilustrado de 14/12/2007: "Publica-se o lixo, porque o lixo dá dinheiro. E as pessoas compram e dizem: é para me distrair ... A literatura para mim, enquanto leitor, é um acto de conhecimento e aprendizagem ..." Para mim , também! Por isso, não alinho com os Grossistas de Palavras a que se refere Alice Vieira no seu artigo publicado no JN do passado domingo 13/4.

Ora, o Graça Abreu não é nenhum Grossista de Palavras e as teses (factos) que descreve no seu Diário da Guiné, porque, ao arrepio das correntes dominantes, são no mínimo incomodativas, quiçá (!) irritantes para muito boa gente.

Merecem contudo ser escrutinadas por todos quantos se interessam por este assunto e, acima de tudo, pela verdade. E existem duas fortes razões para isso:

1ª - Os dados biográficos deste Autor, revelam-nos que política e filosoficamente ele se encontrava nos antípodas do pragmatismo ou realpolitik do Estado Novo, relativamente ao envolvimento do nosso país numa guerra em África.

2ª - Pelas funções que desempenhou, nenhum outro Blogger que eu conheça, esteve tão perto dos centros de informação, planeamento e decisão, naquilo que à actividade operacional concerne, em tão vasta área do território da Guiné.

Entendo assim, que lhe deve ser atribuído todo o tempo de antena de que necessite para esclarecer aqueles que querem ser esclarecidos. Para que a história que os nossos netos hão-de ler, não seja escrita sempre pelos mesmos.

Tenho dito, por hoje!

Com um abraço à Tertúlia, peço publicação urgente.

Vitor Junqueira
2. Comentário de L.G.:
Meu caro Vitor: Um pedido teu é uma ordem. Já fazes parte do conselho dos homens grandes, sábios, deste blogue (Se ainda não existe essa figura, vamos criá-la no nosso próximo encontro, em Monte Real...), com liberdade de circulação pelo nosso banco de urgência... Estás isento de passar pela triagem de Manchester, é um privilégio teu...
Eu próprio me apercebi de que, mais uma vez, houve aqui um défice de comunicação. O eterno problema humano da (in)comunicação e da atribuição de sentido a pequenas coisas que, de per si, não têm sentido... O António Graça de Abreu foi apenas vítima - desta vez foi ele - da nossa incapacidade (humana, física, mental, organizacional, real) de dar resposta, em tempo útil, ao enorme fluxo de correspondência que nos chega... À nossa escala, modesta, somos vítimas do nosso pequeno sucesso... Somos amadores, temos as nossas vidas, pessoais e profissionais, somos apenas três (LG, CV, VB...), cada um com dois braços e uma cabeça, com computadores que também bloqueiam às vezes, e ainda por cima, vivendo em sítios separados, um no norte, dois no sul...
Acredita que nunca me/nos passou pela cabeça discriminar ninguém, muito menos pelas suas ideias ou opiniões. Faço gala em proclamar e assegurar (ou tentar assegurar) o saudável pluralismo político-ideológico - à falta de melhor palavrão - no nosso blogue. Não tenho, nem quero ter, nenhuma visão do mundo, da história, da sociedade, a impôr aos outros, e muito menos aos amigos e camaradas da Guiné... É contra o meu feitio e a minha formação de sociólogo. Posso é ser acusado, mais por omissões do que por acções, de não saber manter o difícil equilíbrio entre tendências, grupos, sensibilidades... O mesmo se passa com os meus/nossos co-editores, que eu convidei pessoalmente, baseado apenas no conhecimento pessoal das suas competências e disponibilidade para o cargo... Repara que nem sequer são do meu tempo de Guiné... Não lhes pedi sequer para me responderem a nenhum teste de selecção... Nem muito menos andei a vasculhar o seu Curriculum Vitae...

Bom, vejo que temos que criar aqui, também, a figura do provedor do blogue... E faço uma sugestão à Tabanca Grande: que o primeiro provedor sejas tu ! Não como castigo, mas como prémio... Por mérito, pela maneira desassombrada com que defendes os teus pontos de vista e nos alertas contra o risco do politicamente correcto e do socialmente desejável...

Meu querido camarada e amigo Vitor: Tens direito a ter dúvidas e a expressá-las. Tens direito a discordar e expressar, no teu/nosso blogue, com maior ou menor elegância, as tuas divergências de pontos de vista. Mais: tens direito a expressar a tua mágoa, revolta, frustração, impotência, quando for caso disso... Nada mudou desde o teu black out informático. Crescemos, acho que estamos mais maduros como grupo, temos sabido co-existir e conviver com as nossas diferenças e semelhanças ...

Quanto a mim, que raramente me queixo, em público, nesta nossa caserna virtual, devo dizer-te que só não aprecio as insinuações, os juízos de intenção, as bocas, as generalizações abusivas, os juízos de valor, os preconceitos sumários... Nem sempre publico/publicamos tudo o que chega à minha/nossa caixa de correio... Não é o caso do António Graça de Abreu, que é de resto um especialista em literatura chinesa, um apaixonado sinófilo, um consagrado tradudor, um notável poeta e escritor, um intelectual e um camara que prestigia o nosso blogue, a nossa tertúlia... Mas acredita que não há (nem poderá haver) censura: limitamo-nos a respeitar e a fazer respeitar a nossa linha editorial, ou melhor a nossa ética bloguística....

Estas e outras questões têm sido cautelosa, discreta, sabiamente discutidas entre nós os três, via email (LG, CV, VB)... Ainda há dias escrevia eu aos meus queridos co-editores, o Carlos Vinhal e o Virgínio Briote, que têm dado provas de uma infinita paciência, generosidade, sabedoria, discernimento, dedicação e lealdade, para além de toda a amizade e camaradagem com que me distinguem:

"O blogue não é nosso, é de camaradas e amigos da Guiné que confiam em nós, por que somos pessoas honestas, consistentes, éticas... Isto é, temos valores, temos um código de ética, temos uma linha editorial... E mais: somos (ou queremos ser através da nossa prática) diferentes de muitos blogues que por aí há, na Net, de gente ressaibiada, fodida, azeda, que está mal com a vida e com o mundo... Não nos furtamos ao diálogo, à reflexão, ao debate de ideias, mas não procuramos o sangue, a polémica, o conflito"...

Acredita, Vitor, que nem sempre é fácil gerir alguns conflitos que nestes três anos de existência do blogue surgiram. Contam-se pelos dedos. Mas aconteceram. E num ou noutro caso eu não consegui resolvê-los da maneira que eu gosto (ou que pelo menos ensino aos meus alunos), que é quando nenhuma das partes, envolvidas numa negociação, se sentem no final perdedoras... Defendo que, na maior parte das situações, é possível ganharmos todos... Nas equipas, nos grupos, nas organizações...

Num ou noutro caso, eu não tive a inteligência emocional suficiente, o talento, a paciência, o conhecimento, a competência, para impedir que dois ou três camaradas se tenham ido embora da nossa Tabanca Grande... Devo dizer que não sou favor do unanimismo, mas sim do consenso. Consenso não é unanimismo. Consenso é discutirmos e estarmos de acordo sobre o essencial. É trabalharmos e cooperarmos com base no que nos une, sem descurar, escamotear, ignorar ou desprezar as nossas reais diferenças. Quanto ao resto, todos temos o direito de cultivar a diferença. Muitas vezes é apenas uma questão de estilo...

O António Graça de Abreu não é um exemplo de assiduidade, mas ele sabe que a nossa Tabanca Grande não tem portas nem janelas, que ele pode entrar e sair sempre que quiser. Aguardo, portanto, o texto que ele me/nos prometeu, e em que ele poderá desenvolver o seu pensamento sobre a nossa honra militar. É um debate em que, pessoalmente, não entrarei. Não me interessa (nem sou competente) em discutir um questão que - salvo o devido respeito a quem pensa doutro modo - eu considero bizantina: se a guerra estava ou não estava perdida militarmente, do nosso lado...
Só falo (ou só gosto de falar) do que vivi, vi, observei, experimentei, estudei, investigei... Em 1973/74 eu não estava na Guiné... Não quer dizer que eu não aprecie o ponto de vista dos que estavam lá. Como o António Graça de Abreu. Ele, sem dúvida, pode falar de cátedra sobre este tema.
Este comentário já vai demasiado longo. Espero poder abraçar-te em Monte Real. Beijinhos às tuas meninas. Teu camarada, Luís.
___________

Notas de L.G.:

(1) Vd. poste de 11 de Abril de 2008 >
Guiné 63/74 - P2750: Ói pessoal ou o regresso do filho pródigo (Vitor Junqueira/Carlos Vinhal)

(2) Escrevi há tempos um poema - um draft de poema, se quiserem! - sobre o sistema de triagem de Manchester, depois de uma noite no hospital, com a minha mãe, de 86 anos, que já tem sinais da doença de Parkinson... O Vitor, que é médico, conhece bem o que é o sistema... Outros amigos e camaradas que me estão a ler agora, poderão ter curiosidade em saber do que é que se fala...

Vd. poste de Domingo, Fevereiro 10, 2008 >
Blogantologia(s) II - (64): A triagem de Manchester ou o paciente português




(...) Há um português emergente
em cada dez.
Vermelho.
Doente. Paciente. Dormente.
Pouco ou nada eloquente.
Diz o sistema de triagem de Manchester.
Há um português urgente
que vem na ambulância da emergência pré-hospitalar.
De um triste lugar ao sul.
Há um português laranja,
que fica em segundo lugar.
O resto não conta,
são amarelos,
fura-greves,
racha-sindicalistas,
proletas,
marretas,
hipocondríacos,
queixinhas,
maus contribuintes,
cidadãos de segunda,
gente que não presta,
gente de baba e ranho,
pouca honesta,
que fuma e que bebe e que come,
e não ouve o Pádua
a dizer que no andar é que está o ganho (...)


(3) Vd. poste de 14 de Abril de 2008 >
Guiné 63/74 - P2760: Notas de leitura (8): Guerra, Paz e Fuzilamentos dos Guerreiros... ou a guerra que não estava perdida (A.Graça de Abreu)
tertúlia, pluralismo

quarta-feira, 16 de abril de 2008

Guiné 63/74 - P2766: Álbum das Glórias (42): As melhores ostras de Bissau, em O Arauto, de 27 de Julho de 1967 (Benito Neves, CCAV 1484)

























Guiné > Bissau > O Arauto, 27 de Julho de 1967 > Anúncios de duas casas especializadas em ostras: Casa Afonso, no Chão de Papel; e o Miramar, que vendia uma travessa gigante de ostras (da rocha!) por 20 pesos...

Guiné > Bissau > Cabeçalho de O Arauto, Diário da Guiné Portuguesa. Ano XXV - Nº 6242. Preço: 1$00. Director e editor: José Maria da Cruz. Quinta-feira, 27 de Julho de 1967
Guiné > Bissau > O Arauto, de 27 de Julho de 1967. Amostra da primeira página:
Crónica internacional – A sentença

No caso do Congo há em verdade dois casos: o do Congo propriamente dito: - isto é: da anarquia endémica, iniciada com a independência, naquele alvoraçdo 30 de Juno de 1960, em que faltaram ao respeito ao Rei dos belgas, que quisera assistir ao acto, para dar à independência toda a solenidade (...). (


U Thant e a África do Sul

Lusaka, 26 – Numa mensagem dirigida à conferência sobre a questão da separação racial e o colonialismo, que se está a realizar numa cidade da Zâmbia, o secretário-geral das Nações Unidas, U Thant, declarou que os esforços realizados para se conseguir a auto-determinação da população sul-africana, encontram uma grande resistência.

Declara igualmente, na mensagem, que a atitude da minoria branca endureceu consideravelmente – (E).

O problema racial dos Estados Unidos

Washington, 26 – O presidente norte-americano, Lydon Johnson, determiniou ontem a intervenção de cinco mil paraquedistas para combater os distúrbios raciais na cidade de Detroit (…).

África do Sul: 54 mineiros mortos

Joanesburgo, 26 – Um desmoronamento ocorrido na mais rica mina de ouro do Mundo, causou a morte de, pelo menos, 54 trabalhadores e ferimentos em mais de 49 (…).

Em luta contra o terrorismo: Boletim Inforfmativo das Forças Armadas da Guiné
Período de 17 a 23 de Julho de 1967


1- No período actual, o inimigo intensificiou as suas acções de intimidação e represália sobre as populações (…)



Guiné > Bissau > O Arauto, de 27 de Julho de 1967 > Notícia: "A Companhia de Cavalaria de Catió termina a sua missão de soberania nesta Província"... A notícia ta não refere o número da unidade (o que estava conforme as normas de segurança militar). Diz apenas que era comandada pelo sr. Capitão Rui Manuel Soares Pessoa de Amorim, que esteve mais de um ano em Catió e que cumpriu "com exemplar dignidade, heroísmo e espírito de sacrifício a sua sagrada missão, arrecadando resultados francamente positivos no campo militar"...

À despedida, houve jantar (melhorado ?), no refeitório do Batalhão local, que serviu para confraternização entre todos os militares do Quartel de Catió, e as autoridades civis e militares. "Aos brindes, falaram o comandante do Batalhão de Catió, o Administrador do Concelho, [o ou um ?] agente da Pide e ainda um representante da Milícia, que puseram em destaque as qualidades reveladas pela Companhia e a simpatia que goza em todos os sectores de actividade do concelho" (...).

Fotos: ©
Benito Neves (2008). Direitos reservados. (Legendas de L.G.)

1. Mensagem do Benito Neves (1), de 26 de Fevereiro último:


Uma saudação muito especial ao editor, aos co-editores e a toda a tabanca.

Alguém se lembra deste jornal? Certamente que não.

Era um diário que então se publicava na Guiné e que, por mero acaso, comprei momentos antes de entrar para o Uíge, no dia 27/07/67, dia em que embarquei de regresso à Metrópole.

Já no barco, ao folhear o jornal, fui surpreeendido com a notícia publicada na página 4, sobre o fim da comissão de serviço da CCAV 1484, a que eu próprio pertencia. E bem ao lado desta notícia, cá estão elas, as ostras, publicitadas :

"Ostras (da Rocha)/ Exclusivo/ Super qualidade, paladar oceânico, limpas, sem lodo./ Abertas à pressão /Travessa Gigante 20$00 /Todos os dias no Miramar" ....e também na Casa Afonso.

À distância de 40 e tal anos, naturalmente, ainda ninguém as esqueceu e o blogue, hoje, voltou a servi-las ao Hugo e a todos nós (2).

Pois bem, não sei se ainda existem a Casa Afonso e o Miramar mas se existirem, a quantos por lá passarem, provem as ostras que foram publicitadas há 40 anos.

Um abraço

B Neves

2. Comentário de L.G.: Obrigado, Benito, pela tua mensagem com a tua valiosa sugestão que eu ainda fui a tempo de ler, antes de partir para Bisssau, em 29 de Fevereiro. Apreciei também, e muito em especial, os recortes do jornal... De qualquer modo, de ostras, só comi uma colher de sopa de ostras (deliciosa, aliás), na casa do Pepito ou de um dos seus amigos e vizinhos (já não sei em qual...). Em Bissau, mal tive tempo de visitar a baixa, a Amura, o cais do Pijiguiti... O Carlos Silva disse-me que agora as ostras comem-se em Quinhamel. Acredito que as ostras da Guiné continuem a ser deliciosas como há quarenta anos. Não me parece é que tenham hoje o mesmo sabor para quem, como eu ou tu, vínhamos do mato, do Vietname, desenfiados, uns dias, até Bissau, oxigenar a mona... Não se pode regressar ao passado, em matéria de sabores, odores, sensações, emoções, cheiros, ruídos, sentimentos, estados de alma... Enfim, é apenas minha experiência pessoal, a minha percepção... LG

__________

Notas de L.G.:

(1) Ex-Furriel Mil Atirador de Cavalaria, Companhia de Cavalaria 1484, Guiné 1965/67 (Nhacra e intervenção ao Sector de Catió de 8/6/66 a finais de Julho/67). Mora em Abrantes.

Vd. postes de:

18 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1673: O blogue do nosso contentamento (Benito Neves, CCAV 1484, Nhacra e Catió, 1965/67)

19 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2365: O Cap Cav Rui Manuel Soares Pessoa de Amorim foi o único comandante da CCAV 1484 (Benito Neves)

(2) Vd. postes de:

25 de Fevereiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2583: Álbum das Glórias (41): As ostras das esplanadas de Bissau ... ou Quem não arrisca, não petisca ? (Albano Costa / Luís Graça)

6 de Fevereiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2509: Estórias de Bissau (15): Na esplanada do Pelicano, a ouvir embrulhar lá longe (Hélder Sousa)

Guiné 63/74 - P2765: Convite (4): Lançamento do livro Marechal Costa Gomes no Centro da Tempestade (Esfera dos Livros, Lisboa)



1. A Esfera dos Livros convida todos os membros da nossa Tertúlia ou Tabanca Grande, bem como os demais leitores e visitantes do nosso blogue, para a sessão de lançamento do livro de Luís Nuno Rodrigues, Marechal Costa Gomes no Centro da Tempestade. A apresentação estará a cargo dso antigo Presidente da República Dr. Jorge Sampaio. A sessão é na Sexta-Feira, às 18h30, no Fórum da Associação 25 de Abril, no Bairro Alto (Rua da Misericórdia, 95, Lisboa).

Luís Nuno Rodrigues é Doutor em História Americana pela Universidade do Wisconsin (EUA) e em História Moderna e Contemporânea pelo Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa (ISCTE). Actualmente é Professor Auxiliar com Agregação no Departamento de História do ISCTE.


2. Refência e sinopese da obra (da responsabilidade da editora):

Título: MARECHAL COSTA GOMES
Subtítulo: No Centro da Tempestade
Autor: LUÍS NUNO RODRIGUES
Colecção: História Biográfica
P.V.P: 27 €
Preço S / IVA: 25,71 €
Cod.Interno: 02009
ISBN: 978-989-626-103-0
Páginas: 408 + 24 extratextos
Formato: 16 X 23,5
Encadernação: Cartonado
Data de Distribuição: Março de 2008


O Marechal Costa Gomes geriu uma revolução sem nunca ser um revolucionário. Foi hábil na política sem ser um político. Foi um militar que nunca deixou de pensar como um civil. Exerceu altos cargos nos regimes de Oliveira Salazar e Marcelo Caetano, mas por duas vezes foi demitido pelos chefes do governo.

Foi dos primeiros militares a reconhecer a impossibilidade de uma solução exclusivamente militar em África mas, também, o general que maior número de tropas comandou em Moçambique e Angola. Estas e muitas outras aparentes contradições marcaram o percurso político e militar de Francisco Costa Gomes. Um homem que esteve sempre no centro das tempestades que atravessou ao longo da sua vida. Um jogador frio e calculista ou uma personalidade indecisa e flutuante?

Na biografia Marechal Costa Gomes - No Centro da Tempestade, ficamos a conhecer o jovem aluno do Colégio Militar, o militar preferido nas estruturas da NATO, aquele que Marcelo Caetano escolheu para chefiar as Forças Armadas e que os capitães de Abril escolheram para líder do novo regime. O homem que substituiu António de Spínola na cadeira da presidência e que nos meses seguintes serviu como verdadeiro centro de moderação e de mediação entre as diversas forças que disputaram o controlo político e militar do país.

O autor, Luís Nuno Rodrigues, traça o retrato desta personalidade controversa e enigmática da História Portuguesa Contemporânea. Costa Gomes desempenhou um papel fulcral nos anos finais da Ditadura e no chamado Processo Revolucionário em Curso, ou PREC, que se seguiu ao 25 de Abril.

O homem que, numa conjuntura altamente delicada, conseguiu evitar o perigo da guerra
civil e contribuiu para a instauração de um regime democrático em Portugal.

Costa Gomes substituiu António de Spínola na Presidência da República.

Da mesma colecção: 25 de Abril - Mitos de uma Revolução.


3. Contacto da Esfera dos Livros:

Agradecemos, desde já, o envio deste convite a todos os vossos associados.

Com os melhores cumprimentos,

Margarida Damião

A Esfera dos Livros
Rua Garrett, nº 19 - 2º A
1200-203 Lisboa
Tel. 21 340 40 64
Telm. 96 344 19 79
Fax. 21 340 40 69

Guiné 63/74 - P2764: Simpósio Internacional de Guileje: Comunicação de Pedro Lauret: O papel da Marinha em Guidaje e Gadamael, Maio-Junho de 1973

Guiné-Bissau > Região de Tombali > Cacine > 2 de Março de 2008 > Visita de um grupo de participantes do Simpósio Internacional de Guileje, depois de um almoço em Cananime, na margem direita do Rio Cacine. É hoje uma povoação com evidentes sinais de abandono e decadência.

Guiné-Bissau > Bissau > Hotel Azalai > 7 de Março de 2008 > Simpósio Internacional de Guileje > O último dia da nossa estadia > Três companheiros de uma jornada inesquecível: O Capitão de Mar e Guerra, na situação de reforma, Pedro Lauret, Iva Cabral, historiadora, primeira filha de Amílcar Cabral e da portuguesa Maria Helena Ataíde Vilhena, e o Cor Comando, na situação de reforma, Carlos Matos Gomes (também conhecido e celebrado autor de obras de ficção sobre a guerra colonial e as vivências de África, sob o pseudónimo de Carlos Vale Ferraz).

Fotos e legendas: © Luís Graça (2008). Direitos reservados.

Guiné > Região do Cacheu > Rio Cacheu > A LFG Orion a navegar no Cacheu em Janeiro de 1967.

Foto: © Lema Santos (2006). Direitos reservados.

"A revolta do navio Orion, da Marinha portuguesa, no dia 2 de Junho de 1973 foi decisiva para salvar a vida de centenas de soldados e população que fugiram dos bombardeamentos do PAIGC na batalha de Gadamael. Este episódio de desobediência a ordens de Spínola, desconhecido até hoje, é indissociável da resistência travada por meia dúzia de soldados no interior do aquartelamento de Gadamael. As suas histórias são aqui contadas por alguns dos seus protagonistas, como o comandante da Marinha Pedro Lauret, o coronel dos comandos Manuel Ferreira da Silva e o grumete Ulisses Faria Pereira. Eles são, com outros, os heróis desconhecidos de Gadamael". (In: "A nave dos feridos, mortos, desaparecidos e enlouquecidos. Uma investigação de Eduardo Dâmaso". Público, nº 5571, 26 de Junho de 2005).


1. Mensagem do Pedro Lauret (1), com data de 8 de Abril, respondendo ao meu pedido para publicar, no blogue, a sua comunicação ao Simpósio Internacionald e Guileje:


Caro Luís,

Tens toda a autorização para publicares a minha comunicação no Simpósio, que agradeço.

A gala da A25A [- Associação 25 de Abril ] foi espectacular muita emoção, muitas recordações… [Gala Vozes de Abril, no dia 4 de Abril de 2008, no Coliseu dos Recreios, em Lisboa]

Tenho acompanhado, [no nosso blogue,] as reportagens da Guiné, que estão excepcionais. É muito bom que um acontecimento histórico, como foi o Simpósio, esteja devidamente documentado e divulgado.(...)

Brevemente teremos que falar sobre o nosso site da Guerra Colonial, que penso que estará pronto no último trimestre deste ano.

Um abraço

Pedro Lauret


2. Comunicação do Capitão de Mar e Guerra, na situação de reforma, Pedro Lauret, no Simpósio Internacional de Guileje: Bissau, Hotel Palace, de 5 Março de 2008, Painel 2. Título da comunicação: A Marinha no Teatro de Operações da Guiné. Guileje Gadamael, Maio Junho de 1973, o papel da Marinha.



A Marinha no Teatro de Operações da Guiné. Guileje Gadamael, Maio-Junho de 1973, o papel da Marinha (2)

por Pedro Lauret (3) . Subtítulos de L.G.


(i) Imediato da LFG Orion, em fim de comissão: subordinando as suas convicções políticas à vida dos seus subordinados


Tentei até agora dar uma visão sintética da História da Marinha após a II Guerra Mundial, seu enquadramento político, e a realidade que emergiu do início da Guerra Colonial.

Sinteticamente também pretendi transmitir o que era a Marinha no teatro de operações da Guiné.

Para terminar vou abordar os acontecimentos ocorridos em Maio e Junho de 1973 em que participei. Será uma narrativa muito mais pessoal e opinativa, embora, obviamente baseado em factos reais por mim vividos.

Fui imediato do NRP Orion uma LFG, de Setembro de 1971 a Julho de 1973 (4), o meu navio esteve sempre operacional pelo que tive oportunidade de conhecer bem todos os rios com água suficiente para o meu navio passar.

Quando em 1971 cheguei a Bissau, jovem guarda-marinha de 22 anos, já tinha sobre a guerra uma visão clara da sua natureza, já tinha uma visão clara da natureza do regime ditatorial em que nascera e logicamente sabia que iria combater por uma causa que não considerava justa. Era uma situação difícil, que aceitei lucidamente com a noção das dificuldades que iria encontrar. Tinha também uma certeza: uma vez que optara por ir, a prontidão e operacionalidade do meu navio nunca poderia estar em causa. A vida dos meus subordinados e o meu compromisso com eles sobrepunham-se às minhas convicções.

Nas muitas milhas que naveguei tive oportunidade de desembarcar em muitos aquartelamentos do Exército, apreciei o modo de vida dos soldados, o seu dia-a-dia, as casernas, os abrigos. Vi jovens como eu, condenados a passar dois anos fora das suas terras, das suas famílias e amigos, vivendo dias de tensão e de perigo, mal comidos, mal fardados, mal armados. Vi muitas companhias comandadas por jovens capitães milicianos, com início de carreira interrompida, completamente desmotivados e incapazes de conduzir satisfatoriamente os 170 homens que comandavam. Aqueles homens, além do mais, estavam também mal comandados.

Quando à noite no meu navio, fundeado no Cumbijã, ou Cacine, atracado em Bigene ou em Binta ou em qualquer outro local, via e ouvia os rebentamentos, ora dos morteiros ou foguetões de 122, ora a resposta dos obuses do exército, era um espectáculo inesquecível de uma beleza cruel. Por detrás de cada um daqueles rebentamentos e clarões poderia naquele momento ter acabado de morrer ou ficar ferido algum ser humano.

Todas estas situações me levavam a pensar: que regime era aquele que durante tantos anos atirava gerações sucessivas de jovens para aquela situação, uma guerra votada ao insucesso e à derrota.

(ii) Gudaje, a ferro e fogo, e três aeronaves abatidas no dia 8 de Maio de 1973

Foi já em fim de comissão, no início de Maio de 1973, propriamente no dia 8, que estando atracado em Bigene logo pela manhã sinto em terra, onde estava aquartelado o Destacamento de Fuzileiros nº 8 (DFE 8), movimento fora do comum, indiciando que algo de grave se passava ou iria passar.

Guidaje fora atacada logo aos primeiros alvores com enorme intensidade tendo feito um elevado número de feridos. Um Dornier tinha levantado de Bissau e dirigia-se a Bigene para recolher o médico que aí se encontrava para, posteriormente, ir socorrer os feridos. Logo após ter levantado e a meio caminho de Guidaje foi abatido.

O DFE8 estava em preparativos para se deslocar para o local. O destacamento devia embarcar no meu navio e ser largado, por botes, junto à foz do pequeno Rio Jagali. Neste meio tempo começa um movimento de helicópteros como em 2 anos nunca vira. A princípio não me apercebi do que se passava, depois fui informado que uma companhia de Páras fora transportada de Bissau para Bigene para a partir daí seguir ao encontro do DFE 8 e ambos tentarem resgatar o que fosse possível.

Entretanto vindos de Bissau dois T6 foram bombardear a zona e um deles foi de imediato abatido.

Conseguimos desembarcar o DFE8 conforme previsto, que conseguiu chegar ao local onde os aviões se encontravam, sem incidentes. O mesmo não aconteceu à companhia de Páras que à saída de Bigene fora emboscada e tivera um morto.

Algumas horas depois reembarcámos os fuzileiros que só encontraram destroços carbonizados, e entre eles um pedaço do míssil que abatera o avião. Esse pedaço de míssil foi por nós trazido para Bissau, poucos dias depois. Serviu para confirmar, com certeza, que se tratava de um míssil Strella.

Viemos posteriormente a saber que, nesse mesmo dia, tinha levantado um outro Dornier rumo a Guidaje para socorrer os feridos da manhã, conseguira aterrar, mas ao levantar, após ter embarcado os feridos, desaparecera sendo dado por abatido.

Três aviões no mesmo dia foram abatidos, o que levou a Força Aérea a interromper as suas missões, só as retomando algum tempo depois com perfis de voo defensivo e uma eficácia global muito reduzida.

Esta situação de perda da superioridade total do ar, como sempre tivéramos, teve de imediato duas muito graves consequências:

- As evacuações de feridos por helicóptero não se faziam;
- Não havia apoio aéreo próximo que permitisse interromper ataques às nossas tropas.

Estas circunstâncias vão permitir ao PAIGC cortar a estrada de Binta a Guidaje e montar-lhe um cerco que, apesar de muitos esforços, só consegue ser totalmente levantado através da Operação Ametista Real que envolve a totalidade do Batalhão de Comandos Africanos.


(iii) 1 de Junho: no sul, no Rio Cumbijã, para embarcar uma companhia de páras em Cafine

Após alguns dias de estadia em Bissau para pequenas reparações e reabastecimento, sigo para o Rio Cumbijã, render a LFG que aí se encontrava em missão. Tínhamos como força, além da própria LFG, duas LDM e transportávamos 8 botes e respectivos motores com elementos da companhia de fuzileiros para o seu manuseamento e condução.

No dia 1 de Junho ao jantar sou alertado pela cabine de TSF que estava a chegar uma mensagem “O” – designativo para mensagem de muito elevado nível de precedência – dirigi-me à cabine e assisti ao final da decifração da mensagem.

O teor da mensagem era preocupante: Dirigir-se a Cafine na margem esquerda do Cumbijã e embarcar uma companhia de Páras que aí se encontrava estacionada e de imediato seguir para Cacine.

Só o facto de efectuar o embarque no navio àquela hora e naquelas circunstâncias denotava uma situação grave e urgente.

Demos ordem às 2 LDM para seguirem para Cacine pelo Canal do Melo o que abreviava em muito a viagem. Nós não podíamos seguir aquele itinerário devido ao nosso calado.

Conseguimos embarcar a companhia sem incidentes e dirigimo-nos para Cacine, onde chegámos aos primeiros alvores do dia seguinte. Aí, após termos desembarcado a companhia, entrou a bordo o Major pára-quedista Pessoa que nos informou:
- Que Guileje, após intensos bombardeamentos, fora evacuada e o contingente aí instalado seguiu para Gadamael;
- Que o Major Coutinho e Lima, comandante do COP, que tinha dado a ordem, seguira para Bissau sob prisão;
- Que Gadamael estava sob fogo intenso e a grande maioria dos militares tinha fugido para as margens do rio Cacine;
- Que o General Spínola tinha estado em Cacine e tinha dado ordem explícita para ninguém ir socorrer o pessoal que andava fugido nas margens do rio, apelidando-os de cobardes.

O Major Pessoa ainda nos informou que, se nós não fossemos recuperar o pessoal, ele próprio iria nem que fosse de canoa.

Pela minha cabeça, de imediato, passou a imagem dos generais que em Nuremberga justificaram as atrocidades que cometeram por terem recebido ordens para as executar. Sem obviamente querer comparar a gravidade relativa do caso, foi isto que pensei. Pensei que há ordens que não se cumprem, apesar de nós, militares, sermos formados para obedecer. A recusa ao cumprimento de tal ordem era uma exigência de honra, era uma exigência moral.

(iv) No Rio Cacine, recolhendo o pessoal fugido de Guileje e de Gamadael


O navio por sua inteira responsabilidade, e sem nada comunicar ao Comando da Defesa Marítima, decidiu de imediato ir recuperar o pessoal. Foram dadas indicações aos patrões das LDM para seguirem nas águas da Orion.

Passámos o rio Meldabon junto a uma marca radar (marca Lira), a qual já não era passada por uma LFG há muito, não se conhecendo a situação dos fundos.

Conseguimos seguir até ao rio Dideragabi, para montante era impossível navegar pois já não tínhamos fundo.

Foram colocados botes na água que passaram revista à margem esquerda do Cacine bem como as duas LDM. Foram recolhendo pessoal que traziam para bordo da Orion onde os feridos passaram a ser tratados, os mais ligeiros no convés, os mais graves foram para a coberta das praças. Foi fornecida alguma alimentação ao pessoal. Como já havia muito pessoal a bordo as LDM passaram a levar o pessoal para Cacine.

Já de noite a Orion dirigiu-se a Cacine, não podendo desembarcar os feridos mais graves pois estávamos em baixa-mar e a pista de lodo impedia-o.

Nesse dia a coberta das praças funcionou como navio hospital. O soro, compressas e outra material de primeiros socorros esgotaram. Foi pedido reabastecimento urgente a Bissau. Na manhã seguinte o material chegou num pequeno avião da Marinha.

O ambiente na coberta das praças estava de tal forma carregado de vapores de éter, que, tendo entrado uma praça a fumar, provocou uma explosão que fez disparar os disjuntores dos geradores, colocando o navio, por breves momentos às escuras.

Não sei descrever a situação moral e psicológica daqueles homens, as palavras não eram muitas, só os seus olhares denunciavam, sem margem para dúvidas, os sofrimentos porque passaram.

Esta operação continuou nos dias seguintes, não sei quantos homens evacuamos naquele dia 2 de Junho, mas certamente entre militares e população ultrapassou o milhar (confirmei na visita a Guileje que da população eram mais de 600 pessoas).

Continuámos nos dias seguintes a dar apoio aos pára-quedistas que entretanto tinham desembarcado em Gadamael.

Após alguns dias fomos rendidos e regressámos a Bissau. A bordo, deixadas de lado, algumas dezenas de G3 abandonadas pelos soldados. O princípio de nunca abandonar a própria arma já não tinha qualquer sentido.

(v) A controversa ordem de Spínola, ditada pelo desnorte militar, prenúncio do 25 de Abril
Quero concluir com duas notas.

A ordem do general Spínola não corresponde, em minha opinião a uma intenção sincera, revela antes um desnorte pela situação militar que então se vivia e pela incapacidade de a debelar.

Revela ainda que uma derrota militar na Guiné se podia aproximar rapidamente, com consequências, em termos de sacrifícios humanos, imprevisíveis, e que o Estado Novo se preparava, como fez na Índia para culpar os militares pela derrota, lavando com sangue a sua i ncapacidade para encontrar soluções políticas para os conflitos.

O 25 de Abril estava em marcha.

______________
Notas de L.G.:

(1) Vd. poste anterior: 13 de Março de 2008 >
Guiné 63/74 - P2629: Fórum Guileje (3): A Marinha esteve como peixe dentro de água no CTIG, e teve um papel logístico fundamental (Pedro Lauret)

(2) Também está disponível, em formato.pdf, no blogue da A25A,
Avenida da Liberdade.

(3) No nosso blogue, também já está disponível a comunicação do Cor Art Ref Coutinho e Lima:

23 de Março de 2008 >
Guiné 63/74 - P2677: Simpósio Internacional de Guileje: Comunicação de Coutinho e Lima (1): Comandante do COP 5, com 3 comissões no CTIG

23 de Março de 2008 >
Guiné 63/74 - P2678: Simpósio Internacional de Guileje: Comunicação de Coutinho e Lima (2): A dolorosa decisão da retirada de Guileje

(4) Sobre o Pedro Lauret, vd os postes:

1 de Outubro de 2006 >
Guiné 63/74 - P1137: Do NRP Orion ao MFA: uma curta autobiografia (Pedro Lauret, capitão-de-mar-e-guerra)

Sobre o desempenho da LFG Oiron e outros navios da nossa Marinha no TO da Guiné, vd.:


21 de Abril de 2006 > Guiné 63/74 - DCCXXIII: Apresenta-se o Imediato da NRP Orion (1966/68) e 1º tenente da reserva naval Lema Santos

5 de Maio de 2006 >
Guiné 63/74 - DCCXC: Os marinheiros e os seus navios (Lema Santos)

15 de Junho de 2006 >
Guiné 63/74 - P878: Antologia (42): Os heróis desconhecidos de Gadamael (Parte I)

15 de Junho de 2006 >
Guiné 63/74 - P879: Antologia (43): Os heróis desconhecidos de Gadamael (II Parte)

5 de Outubro de 2006 >
Guiné 63/74 - P1151: Resposta ao Manuel Rebocho: O papel do Orion na batalha de Guileje/Gadamael (Pedro Lauret)

31 de Outubro de 2006 >
Guiné 63/74 - P1231: Estórias avulsas (5): Rio Cacheu: uma mina aquática muito especial (Pedro Lauret)

7 de Março de 2007 >
Guiné 63/74 - P1571: A Operação Larga Agora, o Tancroal / Porto Batu e as cartas náuticas do Instituto Hidrográfico (Lema Santos)

18 de Março de 2008 >
Guiné 63/74 - P2659: Histórias da Marinha (1): Um ataque à LFG Lira em 1967, em Cadique, no Rio Cumbijã (Manuel Lema Santos)

27 de Janeiro de 2008 >
Guiné 63/74 - P2483: Estórias de Guileje (3): Devo a vida a um milícia que me salvou no Rio Cacine, quando fugia de Gadamael (ex-Fur Mil Art Paiva)

(...) "Por obra do acaso, deparei hoje com alguns blogues sobre os acontecimentos ocorridos em Guileje e Gadamael no período de 1972 a 1974 (2). Porque na oportunidade desempenhava funções de furriel miliciano afecto à Unidade de Artilharia localizada inicialmente em Guileje, e posteriormente retirada para Gadamael (após o abandono do primeiro daqueles aquartelamentos), tomei parte nos referidos acontecimentos.

(...) "Este pelotão de artilharia retirou na totalidade para Gadamael quando foi dada ordem de abandono do aquartelamento de Guileje. Para além dos graduados e oficial acima referidos, retiraram ainda os cabos e praças (estes últimos naturais da Guiné).

"Em Gadamael, a artilharia passou efectivamente muito maus bocados mas não ficou totalmente inoperacional, tanto quanto me recordo. O seu alferes teve aliás um comportamento de bravura pois foi ferido e continuou a desempenhar as sua funções, embora numa situação bastante precária.

(...) "Já agora poderia acrescentar que uma parte dos militares que se deslocaram para Gadamael, acabaram por abandonar também este aquartelamento, acompanhados de parte da população. Porém uma parte dos militares conseguiu aguentar este aquartelamento até à chegada de reforços que entretanto para ali foram enviados.

"Alguns oficiais, sargentos e praças (acompanhados de parte da população) - nos quais me incluía eu -, iniciaram uma retirada para Cacine que foi efectuada debaixo de fogo e que se processou em botes dos fuzileiros. Já agora poderei acrescentar que a evacuação não foi totalmente conseguida nesse dia porque entretanto as operações de resgate foram suspensas por ter começado a anoitecer.

(...) "Eu próprio iniciei a travessia antes de se ter completado o vazamento da maré e, porque não era um nadador exímio, e por outro lado com o peso das botas e da G3 e a força da corrente, tive que a meio da travessia me desembaraçar da minha arma (foi para o fundo do rio) para não morrer afogado. E fiquei a dever a minha vida a um milícia guineense que na outra margem do rio - e a partir do lodo onde se encontrava e para onde eu pretendia arrastar-me - me estendeu a coronha da sua arma a que eu, num esforço titânico, consegui agarrar-me. Fiquei a dever-lhe a minha vida e, no meio da confusão e do caos, sem saber a quem concretamente (ainda hoje...)" (...)