1. O nosso Camarada Mário Gualter Rodrigues Pinto, ex-Fur Mil At Art da CART 2519 - "Os morcegos de Mampatá" (Buba, Aldeia Formosa e Mampatá - 1969/71), enviou-nos a sua 20ª estória:
Camaradas,
Ao vasculhar o meu baú de memórias, dei com este texto que, em outros tempos, escrevi sobre os nossos camaradas Operadores de Cripto.
Penso que, com a sua publicação no blogue, prestar-lhes-ei o meu pequeno e modesto, mas mais que justo contributo.
O Titulo que dei ao texto foi:
"CÓDIGOS SECRETOS DE GUERRA"
As trocas de transmissões de mensagens entre os diversos elementos das diversas Unidades espalhadas pelo território, bem como entre os operacionais no terreno, tornavam-se indispensáveis e cruciais à realização de toda e qualquer acção militar e ao melhor êxito na sua concretização.
Em inúmeras situações, além do intercâmbio de informações vitais acerca de todas as matérias em jogo nas nossas movimentações, em acções de combate, pedidos de dicas sobre orientação, apoio de fogo com armas pesadas, pedidos de socorro, etc. permitiam-nos, essencialmente e acima de tudo, actuar com prontidão e eficácia na evacuação dos nossos feridos.
Os operadores de Cripto, eram então os militares que cifravam e decifravam as mensagens classificadas, a que eram atribuídos os seguintes graus de segurança: RESERVADO, CONFIDENCIAL, SECRETO ou MUITO SECRETO.
Além do envio e recepção de mensagens, também escutavam, interceptavam e, ou, interferiam nas transmissões efectuadas entre os guerrilheiros do IN.
Para proteger as nossas trocas de informações (mensagens faladas via rádio), de modo a evitar a eventual decifração pelo IN das mesmas, foi imaginado e criado o uso de Códigos Secretos.
Os referidos códigos eram constituídos por dígitos e símbolos, que dispostos numa mensagem, aparentemente, não demonstravam qualquer nexo a um qualquer leitor, e estavam, geralmente, compilados em pequenos manuais, de acesso muitíssimo restrito.
A sua distribuição era feita de maneira muito específica e cuidadosa, apenas a determinadas e seleccionadas hierarquias superiores e, do mesmo modo, a militares seleccionados e de altíssima e insuspeita confiança.
Qualquer suspeita de fuga de informação, ou de desconfiança que o IN, por qualquer motivo, descodificara os códigos em uso, implicava a sua imediata alteração.
Os Operadores de Cripto tinham os códigos secretos de decifração das mensagens, que circulavam nos Comandos da Guiné.
Como é óbvio dominando soberbamente esta matéria, os nossos criptos tornavam-se “apetitosos” elementos a capturar pelo IN, pelo que eram sempre homens muito bem guardados.
Nos aquartelamentos do mato, zelávamos atentamente pela sua segurança, para que nada lhes acontecesse e muito menos deixá-los ser apanhados.
Lembro-me de um “Top Secret” chegar a Mampatá, e nos ter alertado para este precioso e importante facto.
Haviam informações de que o IN, procurava por todos os meios capturar pelo menos um dos nossos criptos.
Estes especialistas, devido ao seu estatuto de “secretismo”, tinham todos fichas de caracterização pessoal na PIDE/DGS, e após as suas desmobilizações da tropa, eram vigiados/controlados, durante longos períodos da suas vidas, por aquela polícia política, visto que, mantinham nos seu cérebros o domínio dos segredos utilizados na codificação, que tinham aprendido e empregue ao longo das suas comissões de serviço.
Lembro-me do Ramos um desses Operadores Criptos da minha Companhia dizer, num dos nossos encontros anuais, que depois de passar à “peluda” ainda tinha sido abordado pela PIDE/DGS.
Naquele tempo haviam especialidades, que nós do mato julgávamos que eram privilegiadas, mas afinal não passavam de um grande bico-de-obra.
Um abraço,
Mário Pinto
Fur Mil At Art
Fotos: José Félix (2009). Direitos reservados.
___________
Notas de M.R.:
Vd. último poste desta série em: