quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Guiné 63/74 – P9345: Memórias de Gabú (José Saúde) (21): Rádios dos tempos da Guerra do Ultramar



1. O nosso Camarada José Saúde, ex-Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523 (Nova Lamego, Gabú) - 1973/74, enviou-nos mais uma mensagem desta sua série.

Rádios dos tempos da Guerra do Ultramar

De Tete, Moçambique a Gabu, Guiné


Recebi, recentemente, uma mensagem deveras interessante enviada por um camarada Ranger de nome Jaime Froufe Andrade que refere a curiosidade em manter em seu poder um rádio pertencente a um ex guerrilheiro capturado na região de Tete, Moçambique, no dia 17 de Setembro de 1968. Segundo o relato do camarada, esse audacioso pequeno aparelho (funciona a pilhas) e revela uma história interessante a registar para a posterioridade, faltando, porém, conhecer o seu epílogo. 



Resumindo: O conteúdo do alerta deixado pelo Ranger Andrade, friso, também, o meu aviso, visando juntar as peças do puzzle entretanto desarrumado. Mas, e há sempre um mas, nestas coisas da internet tudo hoje se processa de uma forma simples e singela onde o carregar numa tecla – “enter” - poderá apresentar-se de seguida como a prova reconhecida para desmistificar um sonho que tende permanecer escondido num canto da saudade.

Fala o camarada que a celebridade que teima em manter no seu espólio ultramarino, lembra-lhe um golpe de mão efectuado lá para as bandas de Tete, Moçambique, sendo que do assalto resultou a captura de um ex guerrilheiro da FRELIMO que transportava consigo um rádio o qual ele próprio recolheu, sendo que a celebre preciosidade ainda se mantém, intacta, na vitrina dos seus troféus.

O apelo do Ranger Andrade é procurar encontrar o fim do fio da meada para, finalmente, entregar a telefonia ao seu verdadeiro dono: o homem capturado pela tropa lusa, perto de Tete, no já longínquo ano de 1968, precisamente no dia 17 de Setembro, reforço.

Sabes, camarada, que na Guiné também era comum os guerrilheiros transportarem roncos dessa natureza. Aliás, um aparte: os roncos não se quedavam apenas a nível das tropas inimigas, nós, brancos de rija tempera, curtíamos também os sons dos nossos nostálgicos rádios, aqueles comprados nas lojas dos libaneses em terras guineenses, enquanto em Moçambique, vocês, adquiriam-nos junto aos monhés, penso que era assim que na altura os baptizavam. Hoje, reconheço que se tratava de um desapreço multicultural, e racial, trazido fluentemente à estampa nesses remotos tempos.

Não obstante a verdade conhecida, o rádio, em poder do Ranger Andrade, assume-se ainda hoje como um pequeno brinquedo que não obedeceu a custos adicionais, sendo que o seu regresso às mãos do seu eloquente dono permanece em aberto. As portas continuam escancaradas!

Como nota de roda pé, passo a citar em seguida a história do meu velho rádio em Gabu, Guiné 1973/74.


O rádio do nosso contentamento 
Música para omitir a dor 

O dia de folga, de abençoado descanso, propunha aventuras deveras concertantes. A malta vestia roupa civil, aprumava-se à maneira, curtia tardes de convívio e espreitava o movimento das ruas de Gabu. 

Com uma camisa cingida ao corpo, uma calça de ganga, umas peúgas brancas, mania de uma juventude irreverente, e um sapato de pala, já agora uma cueca também branca, formalizavam uma indumentária do turista de Gabu. 

Depois vinha o passeio. 

Empapuçado com a minha presença lá ia eu desbravando territórios adversos aos campos de batalha. O camuflado, arrumado a um canto, mostrava-se paciente com a trégua que lhe foi dada. Amanhã, ou logo, lá estava ele operacional. 


No quarto partilhado com outros camaradas o velho rádio emitia sons que traziam até nós disseminadas notícias da metrópole que nos davam gozo. Sabíamos as últimas do país. Um país que além-mar se deparava com três frentes de guerra. 

Por outro lado notícias desportivas sobre as virtualidades do ciclista do Sporting, Joaquim Agostinho que, não obstante a idade, continuava a brilhar para gáudio do antigo homem do pedal João Roque que o tinha descoberto lá para as bandas de Torres Vedras; a última vitória do Benfica para o campeonato; os hoquistas portuguesas que continuam na senda como os melhores do mundo; o jovem Fernando Mamede que ao serviço do Sporting se afirmava como atleta de alta competição; enfim, notícias diversas sobre o mundo do desporto português que nos chegavam através do rádio. 

No campo musical, Amália Rodrigues, Fernando Farinha, António Calvário, Madalena Iglésias, Simone de Oliveira, Tony de Matos, Francisco José e toda uma elite de cantores lusos afamados, apresentavam-se ao rubro como artistas modelos para jovens que se deparavam com o factor de isolamento algures num ponto mais híbrido numa qualquer mata do Ultramar. 

Aquele rádio foi um dos meus fiéis amigos. Comprei-o numa loja de libaneses em Gabu. Na altura adquiri também uma ventoinha. 

Após a independência fiz questão em deixar como herança para os tropas do PAIGC essa maravilhosa relíquia! Uma dádiva caída do céu. 

Um abraço deste alentejano de gema, 
José Saúde 
Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523 

Fotos: © José Saúde (2011). Direitos reservados. 
Mini-guião de colecção particular: © Carlos Coutinho (2011). Direitos reservados.  
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Nota de M.R.: 

Vd. último poste desta série em:
4 DE JANEIRO DE 2012 > Guiné 63/74 – P9313: Memórias de Gabú (José Saúde) (20): Passagem de ano 1973/74


Guiné 63/74 – P9344: Armamento (7): O foguetão de 122 mm (Luís Dias)


1. O nosso Camarada Luís Dias, ex-Alf Mil At Inf da CCAÇ 3491/BCAÇ 3872,Dulombi e Galomaro, 1971/74, enviou-nos mais uma mensagem desta série: 

O FOGUETÃO 122 mm 


Caros Camaradas,

Embora este tipo de armamento não seja propriamente da minha especialidade desejo dar este pequeno contributo, retirado de elementos colhidos na net.



Guiné > Cabuca > 1º Pel. da 2ª CART/BART 6523 > O Alf Mil Op Esp António Barbosa, junto dos restos de foguetões de 122 mm

O lançador de foguetes Katyusha é uma arma de artilharia (lançador de foguetes múltiplos) desenvolvida e utilizada pelo Exército Vermelho durante a Segunda Guerra Mundial. Foi apelidado na época de "Órgão de Estaline" pelas tropas alemãs (em alemão: Stalinorgel) em referência ao dirigente soviético com o mesmo nome. Já o nome Katyusha foi dado pelo Exército Vermelho retirado de uma música famosa durante o período da guerra, que contava a história de uma jovem russa (Katyuhsa, diminutivo russo para Catarina) cujo namorado estava longe em virtude da guerra.



O desenvolvimento dos foguetes lançados por artilharia na URSS iniciou-se em finais dos anos 40, a fim de se substituírem ou complementarem os Katyusha de 82mm, 132mm e 300mm, da IIª GM. A fábrica estatal situada em Tula, sob a liderança de A. Ganichev, apresentou um foguete (míssil) no calibre 122mm, em 1963, denominado 122mm BM-21 GRAD. 

Ao longo de 1964 foram produzidos diversos tipos desta série e a serem transportados em camiões e outros veículos de vários tipos e dimensões, com diversos conjuntos e combinações de lançamento múltiplo. Também foi fabricado o Foguete 9P132/BM-21-P, no calibre 122mm (mais curto que o modelo standard, embora também pudesse ser usado por um multi-tubo, a ser lançado por um único tubo – o lançador 9M28/DKZ-B.

O modelo standard é composto por uma cabeça (ogiva) explosiva de alta fragmentação (havia apontamentos no Exército Português que referiam que a cabeça se fragmentava em 14 000 estilhaços), um corpo em aço e um motor eléctrico de propulsão situado na cauda. 

A estabilização durante o voo é conferida por 4 alhetas estabilizadoras, situadas na parte de trás do foguete e quando completamente abertas atingem os 226mm. 

A cabeça contém 6,4 kg de explosivo e o detonador é armado por inércia, após percorrer entre 150 a 400 m. Podem ser aplicadas outro tipo de ogivas (químicas, fumos, incendiárias). 

O motor consiste em 20,5 kg de um propelente sólido. O peso total do foguete varia entre os 49,4 Kg e os 66 Kg e o seu comprimento entre os 2, 46 m e os 3, 22 m, também o seu alcance varia entre os 10 900 m e os 20 750 m. 

O míssil é reconhecível pelos seis tubos de descarga propulsora existente na cauda.

Sabemos que a arma (original) não era muito precisa e eram necessários muitos foguetes para que a sua eficiência fosse assinalável. No entanto, tinha um impacto psicológico enorme face ao volume e intensidade de som das saídas dos tubos.

Assim, a arma Katyusha era originalmente a denominação para os foguetões utilizados pelos multi-lançadores, que eram transportados em diversos tipos de camiões. Depois da guerra, os soviéticos aperfeiçoaram estes multi-lançadores, com o surgimento do míssil 122mm BM-21 GRAD, colocados em viaturas diversas e com diverso número de tubos. 

Aperfeiçoaram também um míssil portátil, na origem do anterior, mas ligeiramente mais curto, com o mesmo calibre, com a denominação 9P132/BM-21-P, que era lançado pelo uni-tubo 9M28/DKZ-B e era este o míssil mais utilizado nos ataques por foguetões na Guiné, pelo menos dentro do território, tendo sido, inclusive, capturadas diversas rampas de lançamento do tipo referido, conforme diversas fotos existente (CCAÇ 4740, 72/74 – Cufar).

Hoje, o uso de lançadores múltiplos de mísseis encontra-se difundido pela maior parte dos exércitos de todo o mundo.

De facto, a denominação Katyusha foi atribuída aos mísseis do tempo da IIª GM, que usavam vários calibres e eram transportados em camiões, mas tornou-se usual utilizar este nome, como “nick name”, uma alcunha, para os foguetões usados em multi-lançadores, mesmo os fabricados por outros países.

Eu, na Guiné, sempre utilizei a terminologia foguetão 122, quando me referia a esta arma (o IN usou-a na nossa zona, depois de passar entre a área de Cancolim e Galomaro e atacou Bafatá em 1972, embora sem grandes prejuízos), mas ouvi, também, muita gente referir-se como foguetão do tipo katyusha. No entanto, do que li, a terminologia katyusha é usada, unicamente, para os mísseis usados em lançadores múltiplos.

Espero ter dado uma ajuda sobre este tema.


Um abraço

Luís Dias

Fotos: © António Barbosa (2010) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.

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Nota de M.R.:

Vd. também o último poste desta série em:

9 de julho de 2011 > Guiné 63/74 – P8533: Armamento (6): As caixas de madeira ou de metal que nos causavam muito respeito (Luís Dias)

Guiné 63/74 – P9343: In Memoriam (104): Carlos Adrião Geraldes (1941-2012), ex-Alf Mil da CART 676, Pirada, Bajocunda e Paúnca, 1964/66.

Carlos Geraldes, ex-Alf Mil da CART 676, Pirada, Bajocunda e Paúnca, 1964/66.

Guiné > Zona Leste > Pirada, 1965 > Da esquerda para a direita: Cap Barão da Cunha, Cap Tadeu, Alf Mil Médico Duarte e Alf Mil Carlos Geraldes

Fotos: © Carlos Geraldes (2009) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.




Mais um camarada que desaparece do reino dos vivos, mas não da nossa memória. Ontem, por telefone, soubemos da notícia da morte do Carlos Geraldes. O coração pregou-lhe a grande partida. Aos 70 anos. Na noite de quarta para quinta-feira passadas, o Carlos morreu, no Hospital de Viana do Castelo, vítima de ataque cardíaco.



Rui Vieira, seu amigo, 30 anos mais novo, foi o mensageiro da funesta notícia. Foi também ele quem nos deu mais pormenores biográficos sobre o Carlos Geraldes, membro da nossa Tabanca Grande desde 2009, e ex-Alf Mil da CART 676, Pirada, Bajocunda e Paúnca, 1964/66.

Nasceu em Lisboa, a 23 de Junho de 1941. Foi para Viana do Castelo, aos 4 anos, quando o pai, desenhador técnico, foi trabalhar para os Estaleiros Navais de Viana do Castelo. Os pais do Rui e do Carlos eram amigos. Daí a amizade (e a admiração) que ligava o Rui ao Carlos, uma figura tutelar, de referência, um cidadão exemplar, um homem do seu tempo… O Rui é também leitor e admirador do nosso blogue. Acompanhava os escritos do seu amigo, publicados no nosso blogue, e que vão da poesia ao conto. Recorde-se que da sua série Gavetas da Memória publicaram-se 14 postes, mas também um conjunto de Cartas (Carlos Geraldes) (em 10 postes) revelando o seu dia no nordeste da Guiné, até ao seu regresso.

Rui Vieira aceitou o nosso convite para escrever um texto de homenagem póstuma ao seu amigo e nosso camarada. Prontificou-se também a falar com a Dona Isabel, viúva, no sentido de salvaguardar o espólio do Carlos relativo à Guiné (cartas, fotos, textos e outros documentos).

Ao Rui, à Isabel, ao irmão, arquiteto, sobrinhos, demais família, amigos do Carlos, bem como pessoal da CART 676, aqui a fica manifestação do nosso pesar mas também da nossa admiração por este camarada que nos honrou com a sua presença e a sua colaboração na Tabanca Grande. Nunca o chegámos a conhecer pessoalmente, nem nunca participou nos nossos encontros. O seu nome passará a figurar, no nosso blogue, na lista dos amigos e /ou camaradas que da lei da morte se foram libertando. E com ele já soma 19. Paz à sua alma.
Os editores.

PS1 – O Rui Vieira, natural de Lisboa, está a fazer o seu doutoramento em história contemporânea. É investigador na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa. É especialista no domínio da história da Guerra Civil Espanhola (1936-1939). Estamos-lhe gratos por ter contactado os editores do blogue. Ficamos a guardar o seu prometido texto de homenagem ao Carlos Geraldes.

PS2 - A nossa melhor homenagem ao Carlos, que era um homem culto e sensível, é dizer-lhe que está aqui connosco nos poemas, ora mais tristes ou pungentes, ora mais irónicos ou líricos, com que nos brindou em vida… Aqui fica uma pequena seleção de um conjunto de poemas a que ele deu o título “Guiné: A Face Oculta”, e que nos mandou com a seguinte nota, em 22/11/2009: “ (…) Peço desculpa pela desfaçatez, mas também eu escrevi ‘poemas’ em noites de maior solidão. Reuni aqui alguns que me parecem retratar melhor os sentimentos despertados pelas noites africanas. Curiosamente tinha-lhes dado um título, ‘Guiné: A Face Oculta’, mas era a minha face que sentia e queria manter oculta. Nada tem a ver com essa escandaleira que nos dia de hoje está a vir a lume em todos os meios de comunicação (…)".


A toalha branca

Pousada aos pés da cama
Está uma toalha branca,
Onde limpo o rosto após a jornada.

Dá-me calma, alento, vigor.
Mas hoje está para ali,
Inútil, enxovalhada.

Haverá alguém que diga:
Pronto, tudo acabou!
Já não há mais nada!

Será que é hoje? Amanhã?
Quem sabe?
Qual será o fim da derrocada?

Pirada, Abril de 1965


Os meus amigos

Os meus amigos
São as lentas sombras da memória,
Que me visitam em dias de chuva.

São aqueles com quem respirámos
A alma, os tormentos e a glória,
Dos heróicos dias do passado.

São aqueles com quem chorámos
As tristezas e as breves alegrias,
Deste mundo inacabado.

(E também a melancolia das tardes frias...)

Os meus amigos (os mais queridos),
São as palavras e as cores
Que vão morrendo aqui e agora.

(Os meus amigos voltaram esta noite.)

Pirada, 24 de Agosto de 1965


Noites de Paúnca

Depois vem a noite.
Plena de luzes brilhantes
Parecendo tão longe
Como sóis agonizantes.

Gritos horríveis, gritos de bichos
Rasgam o silêncio das trevas
Sem abalar a indiferença
Dos que adormecem nas casernas.

E as coisas cómicas,
E as coisas tristes,
Acabam por se misturar,
Ficando tudo mais indiferente.

Quando nasce o Sol, finalmente,
As coisas cómicas e as coisas tristes
Ficam novamente cómicas,
Ficam novamente tristes...

Paúnca, 21 de Outubro de 1965


A patrulha

Alargam-se os caminhos da povoação
Já se distinguem as enormes mangueiras,
Ouve-se o rumor abafado do pilão,
O falso matraquear de armas traiçoeiras.

Perdida a prudência, exauridos,
Pelas crianças, caem vencidos.
Pois em troca de balas e tiros,
Recebem longos abraços e risos.

Agora, já é tarde,
Muito tarde para voltar,
Ninguém mais recorda o ódio,
A crueldade ignóbil de matar.

Lá longe, a caminho da bolanha,
Vai uma rapariguinha a cantar,
Lembra aos tristes soldados
As longas saudades do mar.

Paúnca, 16 de Janeiro de 1966
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Nota de CV:

 - Vd. último poste da série de 8 de Janeiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9330: In Memoriam (103): Maria Manuela Flores França, ex-Cap Enf.ª Paraquedista (Maria Arminda Santos)

Guiné 63/74 - P9342: Fragmentos da minha passagem pela tropa (Carlos Rios) (9): Fragmentos Genuínos - 7

FRAGMENTOS GENUÍNOS -7

Por Carlos Rios,
Ex-Fur Mil da CCAÇ 1420/BCAÇ 1857, Mansoa e Bissorã, 1965/66


Vista aérea de Bissorã

O tempo de permanência em Bissorã, já uma pequena cidade característica da colonização portuguesa e onde a sensação de isolamento patente em Fulacunda estava pelo menos psicologicamente sublimada, dado que, desde que devidamente protegidas já se organizavam colunas de viaturas e outras ligações por estrada com Olossato, Mansoa etc.., e onde as condições de aboletamento já eram minimamente aceitáveis, onde se verificava algum movimento, com o funcionamento ainda do administrador local, de alguns resistentes comerciantes mantendo a população residente na cidade como nas redondezas actividades autónomas, tendo curiosamente dois templos de culto, um católico e um muçulmano, realizando até semanalmente uma feira em campo aberto, onde se transaccionava uma parafernalha de artigos, teve em mim e penso que na maioria dos camaradas, pesem embora algumas acções e confrontos com o IN, um efeito retemperador e propiciador de um aumento de confiança , depois de um ininterrupto sucedâneo de tragédias e peripécias negativas até aí vividas.

O ambiente então proporcionado, permitiu-me, ainda que intermitentemente, passear palas tabancas das redondezas, acompanhado do meu amigo Djaló, um jovem nativo da Secção de Milícias que nos acompanhava e me servia de confiante companhia e de interprete. Raros eram os elementos da população estando autonomizados, que sabiam ou queriam falar ao menos crioulo, utilizando sempre os seus diversos dialectos. Uma curiosidade que pude detectar, era o facto de muitos escreverem com desenvoltura o árabe e nalguns locais se utilizar um idioma afrancesado, comunicando entre si, na errada convicção de que eu nada entenderia. Jamais me manifestei e foi-me de grande utilidade, deslocarmo-nos a algumas tabancas, com o prosaico intuito de observar e aprender, e onde, ainda que com alguma relutância inicial e que após pouco tempo, em que me senti como animal de feira a apreciar, se transformava na mais sincera e apreciada troca de opiniões, muitas das vezes tivemos que recorrer a garatujas desenhadas no chão, para nos entendermos.

Foi um tempo enriquecedor para mim, um compulsivo curioso, permitindo-me assim assistir a um sem número de vivências, rituais, danças tradicionais, jogos, cerimónias (estas nunca na totalidade) etc… das quais mesmo com as explicações do Djaló, francamente apenas retive alguns momentos em que uma estética rara e deslumbrante com uma beleza estonteante, que nos levava ao encontro de um etéreo visionamento. As próprias lutas (combates mano a mano), eram de uma dignidade e lealdade arrebatadora e elas próprias propiciadoras de esbeltos movimentos e momentos do conjunto em acção. Estes contactos despertaram em mim a curiosidade de conhecer os aspectos etnográficos, e assim vim a conseguir informação esclarecedora de muitas das minhas duvidas e que passo a transcrever mais à frente.

Mas porque o nosso “mote” era a guerra e o combate para o qual nos tinham empurrado e onde se teria de “matar ou morrer” tivemos mesmo assim neste períodos diversos recontros com o IN.
Ainda passados poucos dias de ter sido integrado na nova estrutura que agora constituía o grupo, e na escolta a uma coluna para o Olossato fomos vítimas de duas emboscadas, sendo atingido na barriga, com bastante gravidade um dos nossos habituais acompanhantes da Secção de Milícias.


Ainda mal refeitos das informações que nos chegaram sobre graves incidentes com o pelotão do Malaca dos Santos, era o nosso pelotão que actuava geralmente com uma Secção de Milícias, encarregado de executar uma emboscada na região de Embondé, já junto à estrada que vinha de Mansoa no caminho que conduzia depois da estrada ao Cambajo, aos primeiros vestígios que sentiram da nossa presença os elementos da população, que eram escoltados por dois guerrilheiros, no transporte de géneros para aquela base IN, fugiram desordenadamente, tendo nós capturado 20 deles que como era nosso timbre, entregamos na sede de Batalhão, não permitindo nunca, e já perfeitamente interiorizado e elogiado pelo nosso pessoal, menosprezos maus tratos físicos, ou verbais, antes tratando-os com a dignidade e respeito que o ser humano tem direito. Os géneros, confiscados, foram distribuídos pelos Milícias sempre disponíveis para receber as sobras com algum valor.

Contrapondo àquela nossa humanista preocupação e confirmando o velho aforismo popular “não há bela sem senão”, deu-se um acontecimento deveras insólito e dramático, proporcionado por um soldado da 1419, um mosca morta, pequeno e aloirado, donde parecia não poder advir nada de bem ou mal, mas que iludindo a vigilância do grupo de segurança ao conjunto de prisioneiros, enfiou pelo meio destes e numa demonstração de ódio e ferocidade inauditas, apanágio creio eu, de má formação, incultura e absorção da tremenda propaganda difundida e martelada pelo sistema político então vigente, e apunhalou um destes, liquidando-o sumariamente.

À boca pequena, contavam-se muitas estórias semelhantes. Oficialmente nada havia.
Quantas ignomínias e ferocidades cometemos ao longo de treze anos.

Foi ainda daqui que ficou interiorizada a má impressão e desilusão que me levam a ainda hoje uma negativa opinião da capacidade de actuação de alguns Grupos de Comandos na época, porquanto a par de invulgar destreza e destemor por parte de diversos Comandantes de Grupo e seus subordinados que digo com franqueza me deixavam pasmado, noutros casos e nas diversas saídas que tivemos com eles, mais que um grupo, podemos dizer que foram outros tantos revezes, porque havia sempre argumento para não avançarmos até ao objectivo: “já é muito tarde para atacar, tinha que ser na alvorada; houve demasiado barulho na aproximação; etc…etc…, nestas condições creio que o nosso grupo nunca tinha realizado um golpe de mão; fizeram-me recordar o velho grito épico do Caria, “Rumo a Fulacunda”.

Também em Bissorã vim a tomar conhecimento com a tremenda realidade que ainda estava reservada à nossa terrível passagem por este chão da Guiné onde nos tinham colocado, vejo hoje, para fazer uma guerra inaceitável e que na realidade tinha para alguns, objectivos obscuros que só agora entendo e são visíveis nas cópias dos blogues que apresento no fim.

"A guerra é um massacre de homens que não se conhecem em
benefício de outros que se conhecem mas não se massacram."
(Paul Valéry)

A zona de intervenção do Batalhão que veio a acabar em Mansoa onde pudemos verificar que as condições ainda se agravavam e onde tivemos maiores dificuldades e alguns revezes, abarcava uma imensa área com pavorosas e ameaçadoras condições de terreno, em que para além de imensa zonas de bolanhas pantanosas, que obrigatoriamente tínhamos que transpor, variadas vezes, tornando cada deslocação numa fonte de dificuldades, ainda tínhamos que contar, aproveitar a maré-baixa, para atravessar os canais de agua do mar que devido à orografia do terreno naquelas terras, são imensos, tendo em linha de conta que medeiam às vezes quilómetros entre uma maré e outra, e que fica no piso que tínhamos de percorrer, para além do terrível tarrafo (um tipo de vegetação que ficava quase submersa nas marés-cheias), uma espécie de argamassa que ao longe parecia compacta, mas que veio a revelar-se uma espécie de lama, mole, pegajosa, movediça, mal cheirosa, pútrida e de ténue consistência, só se conseguido atravessar, com tremendas dificuldades, sendo que nas maiores extensões terem de ser os mais altos e expeditos a terem de arrastar os mais baixos e alguns menos lestos que chegavam a correr riscos de atolamento. Estes eram momentos de terrível tensão dado, como chegou a acontecer sermos fustigados por parte do inimigo. Quando terminadas estas “travessias” parecíamos um conjunto de miseráveis soldadinhos de chumbo. Tremendas eram estas situações porquanto pouco tempo depois sob um sol e colores inclemente ficarmos secos e completamente enlameados, de tal maneira que nos dificultava ao movimentos, e com um cheiro nauseabundo.

As penosas situações em que por vezes fomos emboscados. Aqui maré cheia

A acrescer a este agreste e inóspito ambiente tínhamos ainda a toda a volta e obrigatoriamente nos percursos a atravessar as omnipotentes e majestosas florestas virgens, onde me parecia que a natureza tinha concentrado as suas forças para transmitir o que a vegetação tem de mais rico e variado. Para se conhecer toda a beleza que se pode usufruir destes autênticos santuários torna-se imprescindível introduzirmo-nos nestes locais tão antigos como o Mundo. Nada faz relembrar a cansativa monotonia das nossas florestas de carvalhos e pinheiros, cada ente constituinte deste luxuriante meio, tem por assim dizer, uma postura que lhe é singular, cada árvore tem um porte que lhe é próprio e a sua folhagem oferece frequentemente uma policromada tonalidade de verdes diferentes das que a rodeiam;

De comum apenas o ar majestático e a grandiosidade. Vegetação rasteira imensa, com lianas que abraçam as imensas árvores e onde se misturam e confundem sua folhagem, para atravessarmos este mar imenso de verdura tínhamos a maior parte das vezes de rastejar ou abrir caminhos com tremenda dificuldade á catanada.
Mais que uma vez tive a felicidade de ficar deslumbrado ao avistar alguma das imensas aves tropicais que habitavam este meio.
Enfim aqui nos meandros desta floresta que crescia ao deus dará, numa profusão de espécies que disputando o mesmo espaço muitas vezes se irmanavam e noutras se antagonizavam na procura da luz, que não era mais que a sua vida, não éramos mais que infinitésimos seres desambientados no seu interior, sentindo-a vigilante majestática, agreste e opressiva, ciosa da sua imponência e recato. Aqui me sentia como que protegido e resguardado por um manto de ilusão como se estivesse a ser objecto de afagos maternos. Quanta nostalgia.

Tomando como certa a informação de um dos elementos que antes tínhamos capturado, o Comando, encarregou-nos de executar um golpe de mão à tabanca de Quenhaqué, onde se realizava uma cerimónia, onde se iriam encontrar vários elementos do IN. Não sei porquê o Rui aceitou com alguma relutância esta missão. Avançámos a meio da noite, em conjunto com outro pelotão que ficou emboscado para proteger o nosso regresso e avançámos já de madrugada tendo o nosso pelotão sido dividido em dois, em que o grupo que eu comandava circundou a tabanca após o que daria o sinal para o restante pessoal, comandado pelo Rui entrar na mesma, Não chegámos a concretizar o plano porque fomos detectados e de dentro da tabanca, rebentou forte tiroteio. Rispostámos de imediato sobre elementos que entretanto se tinham posto em fuga, tendo abatido seis e capturado três armas, após o que encetamos minuciosas buscas na procura se mais armas o que não aconteceu, mas vindo a capturar um elemento do PAIGC, que me fez ver praticar o maior e mais arrepiante e ousado acto de insubmissão e lealdade de um ser humano. De mãos atadas atrás das costas no centro do nosso grupo, pediu para lhe pormos as cordas menos apertadas. Assim que sentiu aquelas ligeiramente mais frouxas ainda sem terminado o acto desatou em louca correria de fuga pelo meio do capim vindo a ser abatido, passados poucos metros por um elemento do grupo emboscado.

Já com o conhecimento do facto, de que iríamos para Mansoa, parti para férias na Metrópole, vindo a regressar aquela cidade em 06AGO66, para dar inicio ao mais violento e agressivo período, com que a Companhia se debateu, foi um tempo em que a par das inóspitas, agrestes e perigosas condições do terreno em que tivemos de actuar imensas vezes, algumas delas com fortes e trágicos revezes, ainda tivemos de suportar um ambiente húmido e infestado de milhões de mosquitos que não permitiam um momento de descanso fora dos mosquiteiros.
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 9 de Janeiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9336: Fragmentos da minha passagem pela tropa (Carlos Rios) (8): Fragmentos Genuínos - 6

Guiné 63/74 - P9341: Memórias de Manuel Joaquim (3): Est-il un ennemi?

1. Mensagem de Manuel Joaquim* (ex-Fur Mil de Armas Pesadas da CCAÇ 1419, Bissau, Bissorã e Mansabá, 1965/67), com data de 6 de Janeiro de 2012:

Meus queridos camaradas, editor e co-editores:
Aqui vai mais um texto sobre a "minha guerra". Não sei avaliá-lo quanto à sua publicação. Cometemos muitas vezes erros de avaliação por olharmos mais para o próprio umbigo do que para o universo que nos envolve. Sei que "Est-il un ennemi?" me marcou, para o bem ou para o mal agora não interessa.

Um grande abraço
Manuel Joaquim


EST-IL UN ENNEMI ?

“Bellum dulce inexpertis”, é uma expressão latina que pode ser entendida como “bem parece a guerra a quem não vai nela”. Pois é, devem ser raros os combatentes que não concordem com tal afirmação. Eu fui nela, a guerra, e ela também não me pareceu nada bem. Quando nela entrei senti necessidade de solucionar uma dúvida, como que existencial para mim: “quem é o inimigo?", “sou inimigo do meu inimigo?”, “vê-me ele seu inimigo?”

Chegado a Bissau, onde fiquei dois meses e meio, este processo mental foi tendo um lento desenvolvimento ao mesmo tempo que eu tentava “apreciar” a atmosfera militar e política da Guiné. Havia uma guerra de guerrilha, onde está o inimigo? A teoria bélica diz que pode estar em qualquer lado.

Ideologicamente percebia a guerra, comecei a ver que a minha observação (no local) ia ao encontro das minhas ideias sobre o assunto. Estava numa guerra iniciada pelos mesmos motivos e com os mesmos objetivos que justificaram centenas de outras no decurso da história das nações, e que era a conquista da independência de um certo território, a do meu próprio país é um pequeno exemplo (ou grande!).

Parti de Bissau para Bissorã, saí da coscuvilhisse da guerra para uma zona de combate. Psicologicamente tinha de agarrar a nova situação “pelos cornos”, construir o meu lugar naquele conflito, para evitar “ir-me abaixo”. Em primeiro lugar arrumar a cabeça. Como controlar as emoções, como gerir as contradições entre as ideias e os atos? Já que tinha obedecido à mobilização só tinha uma coisa a fazer, que era combater o designado inimigo. A ética assim mo exigia, em respeito por mim próprio e pelos meus camaradas.

Percebendo as razões do conflito, não foi difícil imaginar-me na pele do IN e pensar que provavelmente estaria a fazer o mesmo que ele, se estivesse no seu lugar. Éramos inimigos mas os dois lados do conflito combatiam por ideias de soberania para um mesmo território, uns a favor outros contra. Éramos inimigos num combate político, usando armas de guerra. Assim, não poderia guardar em mim um lugar para ódio, desprezo, nem mesmo menosprezo pelo IN. E foi com este estado de espírito que geri, na parte que me cabia, a minha presença e ação nesta guerra.

A propósito de inimigo, aqui vai uma pequena história.

Ao chegar a Bissorã, uma das primeiras coisas que fiz foi ligar o meu rádio/gravador e procurar estações de rádio em OM. Já esperava “apanhar” bem o Senegal mas a surpresa foi grande quando começo a ouvir um acordeão tocando uma melodia para mim desconhecida e que me pareceu familiar mas, para mim, completamente deslocada nas estações de rádio daquela zona de África. Já não sei se era o indicativo da estação ou de um seu programa. Adiantando: anos mais tarde ouvi tal música na voz de Amália e, surpresa, era o fado “Maria Lisboa” (letra de David Mourão-Ferreira e música de Alain Oulman).


Esta rádio senegalesa era de expressão francesa e começou a fazer-me companhia diária, ouvia-se muito bem, tinha belas canções, enfim, respirava-se Europa. E aconteceu o imprevisto numa canção que me marcou. Melodia triste, com tonalidades que me faziam lembrar uma mistura de fado e flamenco, muito agradável de ouvir e... com uma letra que me revolveu e que não mais esqueci, 46 anos passados. Não sei qual a razão por que era reposta frequentemente. Seria pela mensagem? Gravei-a e ficou uma das canções da minha vida, não pelo seu valor artístico mas pelo tempo e circunstâncias em que a ouvi. Era cantada pelo franco-argelino Enrico Macias mas só agora soube o seu nome (abençoada internet). Chama-se “Est-il un ennemi?” (É ele um inimigo?)


Est-il un ennemi? tem uma letra que marcou a minha visão sobre os meus inimigos, numa guerra em que lutei para os vencer. Humanizou a sua presença como meus adversários e mostrou-me que, apesar de estarmos tão “longe”, estávamos muito perto como seres humanos-peças duma guerra em que o sacrifício e o sangue, no limite, nos fazia “irmãos” mesmo que disto não tivéssemos consciência. Aqui vai, com desculpas para possíveis erros de uma tradução sujeita aos limites dos meus conhecimentos de francês, que não são lá grande coisa.



Est-elle un ennemie?
A minha lavadeira, minha amiga e meu alento. Na sua pose vislumbra-se a personagem. Segura, confiante e, para mim, um esteio de beleza humana que me ajudou a admirar as mulheres da Guiné. Inesquecíveis os momentos de convívio que me proporcionou. 
(Nota: ponha-se de lado qualquer ideia de cariz sexual)

Esta visão do “meu” inimigo poderia ser uma ilusão, na prática a morte dava os mesmos resultados fosse ela motivada por ódio ou não, com sadismo ou com misericórdia, com respeito pelo inimigo ou não. Mas isso é outra história que não diminui a dimensão humana que muitos de nós tentaram preservar nas atitudes tomadas tanto com os camaradas como com toda a gente, mesmo do lado inimigo.

O medo e a coragem andavam juntos, talvez muitas vezes o não percebêssemos, tanto para vivermos como para (não)morrermos.Vivemos aqueles nossos tempos com a morte que, desejando-a longe de nós, sempre a sentíamos presente. A nossa sobrevivência, se calhar, dependia mais do desespero que nos fazia agarrar à vida, ao futuro, do que à sorte que tantas vezes suplicámos que não nos abandonasse. A esta distância de dezenas de anos, falo por mim, olho para aquele tempo desgraçado, dolorido, vivido ao dia quando não à hora, algumas vezes ao minuto, como um tempo de vida tão limitada quanto intensa e cheia. Como nunca mais tive mas do qual não tenho saudades. Tenho saudades, sim, é da minha juventude.
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Notas de CV:

Vd. último poste da série de 7 de Janeiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9326: Memórias de Manuel Joaquim (2): Manhã maculada

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Guiné 63/74 - P9340: Memórias do Carlos Marques dos Santos (Mansambo, CART 2339, 1968/69) (3): Um mês a feijão frade, sem banho e sem muda de roupa, em Mondajane (Dulombi, Galomaro), de 27 de Agosto a 27 de Setembro de 1969, a menos de três meses do fim da comissão


Guiné > Zona Leste > Rio Geba > A caminho de Bissau > 1968 >  O Fur Mil Carlos Marques dos Santos, da CART 2339, Mansambo (1968/69), num dos típicos barcos civis de transporte de pessoal e de mercadoria (***), que fazia a ligação Bissau-Bambadinca, e Bambadinca-Bissau, passando pela temível Ponta Varela, na confluência do Rios Geba e Corubal e, a seguir, o assustador Mato Cão, no Geba Estreito, entre o Xime e Bambadinca. Estes barcos (alguns ligados a empresas comerciais, como a Casa Gouveia) tinham, como principal cliente a Intendência militar. Pelo Xime e por Bambadinca passava a alimentação e tudo o mais que era preciso para saciar o "ventre da guerra" da Zona Leste.

Foto: © Carlos Marques dos Santos (2006)/ Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.


1. Mais um texto, repescado (*),  do Carlos Marques dos Santos (ex-furriel miliciano da CART 2339, Fá Mandinga e Mansambo, 1968/69):


Dei conta, nas minhas notas pessoais, de que entre 27 de Agosto e 27 de Setembro de 1969, estive com o meu pelotão em reforço  do sector de Galomaro/Dulombi, mais propriamente em Mondajane, sem no entanto haver qualquer nota na História da Companhia. É como se estivesse andado desenfiado...


Talvez na História do BCAÇ 2852 haja referência a esse tempo esquecido, mas vivido por nós, 3.º Grupo de Combate da CART 2339.


A 27 de Agosto foi recebida a notícia de que iríamos para Galomaro, em reforço da CCAÇ 2405.

A 28, saímos e chegámos cerca do meio dia com indicação de que iríamos para Mondajane, a seguir a Dulombi, o que não aconteceu nesse dia mas sim no dia seguinte.


No cruzamento para Dulombi rebenta uma mina na GMC que segue à minha frente (nós íamos apeados, fazendo a segurança à coluna que integrava uma nova Companhia em treino operacional e que era de madeirenses, se não erro, a CCAÇ 2446)  a cerca de 15/20 metros, destruindo a sua frente.


Resultado: um morto (desintegrado) e um ferido (condutor) que faleceu ainda nesse dia. Esta mina rebentou a cerca de 12 metros de mim e felizmente nada sofri. O soldado madeirense, pela acção da mina, desintegrou-se, literalmenet. Bocados desse soldado, o relógio, roupa, etc… ficaram agarrados à árvore.

Impossibilitados de prosseguir fomos para Dulombi com os reabastecimentos. Aí fomos informados que deveríamos seguir a pé para Mondajane [, a sudoeste de Dulombi], que atingimos e onde nos instalámos.

Aí, e enquanto aguardávamos uma coluna com as nossas coisas, sem resultado, aparece-nos um pelotão vindo de Dulombi, carregando parte das nossas coisas, a pé e à cabeça, informando ser necessário termos que ir a Dulombi carregar, a pé e à cabeça, o que aconteceu no dia seguinte.


Dia 1 de Setembro de 1969, fui a Dulombi com 17 carregadores e 2 secções de milícias mais 10 homens do meu pelotão, a pé e por trilhos, buscar coisas que eram absolutamente necessárias, numa zona desconhecida e densamente arborizada, o que aconteceria de 2 em 2 dias.

A população recusa-se a ajudar (a zona era perigosa) e só com a intervenção pela força (ameaçámos queimar a tabanca!), isso é conseguido. Note-se que nestas circunstâncias - falta de géneros e outros bens - repartimos com as populações.

A 5 de Setembro, um nativo mata um portentoso javali e houve carne fresca confeccionada.

A 7, chega um grupo de carregadores de Galomaro, carregando ainda parte das nossas coisas que estavam em Dulombi. Nesse dia o pelotão que aí estava foi rendido.

A 9, nova caminhada para Dulombi para carregar géneros.

Entretanto a 13 um nosso soldado é evacuado por doença e a 15, à tarde, recebemos a visita dos capitães das Companhias 2405 [Galomaro] e 2446.

Dia 19,  novamente ida a Dulombi para reabastecimento. A pé e pela densa mata.


Dia 23, notícia de que iríamos ser rendidos no dia seguinte. Nada.


Dia 24, rendidos finalmente e saída para Bambadinca, pela estrada Bafatá-Bambadinca, com chegada a Mansambo a 27 de Setembro de 1969. Sem incidentes.


Em suma, um mês a feijão frade, sem banho e sem mudar de roupa.


Carlos Marques dos Santos


PS - O alferes do Grupo de Combate da Companhia de Galomaro (CCAÇ 2405) que nos apoiou é meu primo, [o Victor David, um dos "baixinhos  de Dulombi", também natural de Coimbra, e membro da nossa Tabanca Grande desde 2006]. Ainda bem. Para não variar, a 29 de Setembro de 1969, rebentamentos cerca das 07.00h e uma nossa coluna emboscada no sítio do costume. Um morto e um ferido das NT. Ainda faltavam cerca de 2 meses e meio para o regresso [da CART 2339] à Metrópole.
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Notas do editor:


(*) Vd. I Série, poste de 24 Janeiro 2006 > Guiné 63/74 - CDLXXVI: Um mês a feijão frade... e desenfiado (Mondajane, Dulombi, Galomaro, 1969)


(**) Infelizmente a História do BCAÇ 2852 é omisso sobre este destacamento do Carlos Marques dos Santos e do seu Grupo de Combate. Oficial ou oficiosamente, o CMS andou de facto um mês... desenfiado, sem conhecimento das autoridades máximas do Sector L1 (Bambadina)... De acordo com o registo que fica para a História, em Setembro de 1969, a CART 2339 limitava-se a ter um pelotão em Candamã (2 secções) e em Afiá (uma secção). Mas em Agosto, tinha apenas um pelotão em reforço ao COP-7 (Galomaro)...
 
A História da CCAÇ 12 confirma a existência, em Agosto, de tropas de Mansambo [, CART 2339,] em Candamã e Afiá: vd post de 30 de Julho de 2005 > Guiné 63/74 - CXXX: A CAÇ 12 em operação conjunta com a CART 2339 e os paraquedistas (Agosto de 1969) ...

Em resumo, havia muito mais vida, na Guiné do nosso tempo, do que nas secretarias das nossas companhias...
 
Posteriormente à inserção deste poste (*), o Marques dos Santos enviou-me a seguinte mensagem:


"Grato pela publicação desta nota. Isto demonstra as incongruências das 'várias histórias oficiais escritas'. Não será caso único. Que os nossos companheiros de tertúlia descubram pequenos pormenores vividos, mas não descritos. Ainda hoje, no meu dia a dia, dou extrema importância a um bem ao alcance de uma torneira – a água".

(**) CCAÇ 2446: Mobilizada pelo BII 19, partou para o TO da Guiné em 11/11/1968, e regressou a 1/10/1970. Andou pelo Cacheu, Mansabá, Baftá, Galomaro,  Cancolim e Brá. Comandante: Cap Mil Inf Manuel Ferreira de Carvalho.
 
(***) Vd. último poste da série > 5 de janeiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9315: Memórias do Carlos Marques dos Santos (Mansambo, CART 2339, 1968/69) (2): Três emboscadas na fonte, em julho e setembro de 1968

Guiné 63/74 - P9339: Parabéns a você (365): Bernardino Parreira, ex-Fur Mil da CCAV 3365 e CCAÇ 16 (Guiné, 1971/73)

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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 9 de Janeiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9333: Parabéns a você (364): Manuel Vaz, ex-Alf Mil da CCAÇ 798 (Guiné, 1965/67)

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Guiné 63/74 - P9338: Memórias da CCAÇ 617 (2): Toby, o Cão da Tropa (João Sacôto)




1. Em mensagem do dia 7 de Janeiro de 2012 o nosso camarada João Sacôto (ex-Alf Mil da CCAÇ 617/BCAÇ 619, Catió, Ilha do Como e Cachil, 1964/66), enviou-nos esta história quase inacreditável do seu cão Toby que o acompanhou na sua comissão de serviço na Guiné




MEMÓRIAS DA CCAÇ 617 - 2

Bissau > Santa Luzia > Quartel General > João Sacôto e o seu cão Toby

Toby o Cão da Tropa

Neste poste vou recuar um pouco cronologicamente.

Assentei praça em Mafra, em Agosto de 1962 após dois anos de adiamento, por mim pedidos, em virtude de estar a estudar no então ISCEF (Instituto Superior de Ciências Económicas e Financeiras).
Tendo ficado bem qualificado no curso de oficiais milicianos (COM), fui colocado no RI 1 - Amadora e só fui mobilizado dois anos depois, em 1964 para a Guiné, já casado com vinte e cinco anos e uma filha que fez 2 anos exactamente no dia 8 de Janeiro data do embarque para a Guiné no Quanza.

Naquele 8 de Janeiro de 1964, embarcou comigo um elemento extra numerário, o meu cão Toby de raça boxer.

Na nossa estadia em Catió, sempre que saíamos do quartel para realizar alguma operação, fosse de dia ou de noite o Toby fazia questão de seguir com a tropa. Se alguma vez tentei que ele ficasse no aquartelamento, tive que o prender para que não nos acompanhasse.
A sua atitude no mato foi sempre de quem percebia o que se estava a passar, tanto em situações de emboscada, como em situações de patrulhamento, sempre atento e espectante.

Num dia de regresso ao quartel, caímos numa emboscada na estrada Cufar-Catió. Ficámos algum tempo sob fogo intenso e depois de conseguirmos pôr em debandada o inimigo, continuámos a nossa progressão para o quartel.
Estoirados de cansaço, porcos de sujidade e suor, desejosos de um bom banho refrescante e sedentos de uma bazuca bem gelada, só mais tarde, demos por falta do Toby, que, nesta altura já era conhecido pelo inimigo, como o cão da tropa (curioso, é o facto de, segundo julgo, toby, em balanta querer dizer chuva).
Ninguém se lembrava de o ter visto após a emboscada e foi grande a consternação durante os dois dias seguintes.

Durante uma patrulha na mesma estrada, o pessoal avistou ao longe, na berma do caminho um vulto que parecendo-lhes uma gasela ou uma cabra do mato se dispôs a dar-lhe um tiro, já antevendo algumas refeições de rancho melhorado. Porém ao aproximarem-se um pouco mais para garantirem um tiro certeiro, aperceberam-se no último momento que, afinal o objecto da sua caça era exactamente o Toby que se encontrava quase morto.
Transportado para a enfermaria, foi observado pelo médico da Companhia, o Ten. Mil. Cordeiro, que constatou ter o Toby sofrido o tiro de uma arma cuja bala lhe perfurou a barriga, tendo entrado e saído, deixando, portanto dois orifícios no abdómen.
A sua fraqueza nessa altura era extrema e durante muitos dias, sem força para se mover nem para comer, foi por mim alimentado a colheradas de papas de farinha dissolvida em água, até que lentamente foi recuperando até voltar a estar operacional.

Finda a comissão, não sei como mas a comunicação social, fez questão de fazer uma referencia ao Toby o cão da tropa.

No Cachil - Ilha do Como

Catió > Oficiais da CCAÇ 617 com o Toby

Chegada a Lisboa - Dever cumprido
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Nota de CV:

Vd. primeiro poste da série de 28 de Dezembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9281: Memórias da CCAÇ 617 (1): A batalha de Bissau de Janeiro de 1964 (João Sacôto)

Guiné 63/74 – P9337: (Ex)citações (172): Onde e quando é que o PAIGC estreou os Katyusha, os foguetões de 122 mm: Bolama, 3/11/1969, ou Bissorã, 1/5/1970 ? (Armando Pires)

1. Comentário de Armando Pires, com data de 5 do corrente, ao poste P1338 (*)

Presumo que este é um comentário muito atrasado e, portanto, sem efeitos práticos. Mas fica registado para os vindouros. E este comentário radica numa investigação que eu vinha fazendo sobre os Katyusha 122 mm e que tinha a ver, exactamente, com a data em que este equipamento foi utilizado, pela primeira vez, pelo PAIGC.


Lamento contrariar o Paulo Santiago mas no dia 3/11/69 Bolama foi atingida por três foguetões Katyusha. (vide blogue dos Leões Negros > CCaç 13 > Katyusha) (**). Bissorã também foi atacada com os referidos mísseis no dia 1 de Maio de 1970, pelas 20h05. Estava lá eu.


E creio, ainda não sei mas estou a investigar, que entre estes dois ataques houve um outro sobre Mansoa. O que continuo sem saber é se Bolama foi o primeiro ou se houve outro antes desse. (***)

Armando Pires




Guiné > Zona Leste > Região de Gabu > Pirada > 3ª CCAV / BCAV 8323 (1973/74) > O 1º Cabo Joaquim Vicente Silva, em 26 de Abril de 1974, com os restos das lembranças do ataque do dia anterior. (Neste caso, parte de um foguetão 122 mm). Nascido 1951, o nosso camarada, membro da nossa Tabanca Grande,  faleceu o ano passado. Era natural de Mafra.

Foto: © Joaquim Vicente Silva (2009) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné.  Todos os direitos reservados.

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Notas de CV:


(*) Vd. poste de 4 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1338: Memórias de um comandante de pelotão de caçadores nativos (Paulo Santiago) (5): estreia dos Órgãos de Estaline, os Katiusha

(…) Em 21 de Janeiro de 1971 , aí pelas 21.00 horas, entra um militar da CCAÇ 2701 pelo bar de Sargentos e Oficiais e informa, meio esbaforidamente, que um dos sentinelas está a avistar uma pequena luz numa curva do Corubal, situada aí a uns 500 metros na margem oposta à do quartel. (…) Chegou-se à conclusão que as granadas estavam a cair em zona entre Saltinho e Quebo e a arma era desconhecida. Passados alguns dias veio informação do Com-Chefe: naquele ataque falhado a Aldeia Formosa, o IN tinha utilizado pela primeira vez Foguetes Katiusha, também conhecidos por Órgãos de Estaline (…)

(**) (...) Katyusha era o nome de uma popular canção de guerra soviética da 2ª guerra mundial, mas foi também um dos nomes dados ao míssil terra-terra de 122mm BM-21 adoptado pelo exercito Soviético em 1963, normalmente designado por foguetão de 122mm pelas NT.

"No dia 3/11/1969 quando a CCaç 13, estavam no cais de Bolama, preparando-se para embarcar numa LDG, ouviu-se um longínquo 'pof' vindo da parte continental (zona de Tite), um dos africanos disse 'saída' sorrindo, mas logo a seguir passaram sobre as nossas cabeças 3 foguetões 122mm, um acertou numa das pequenas vivendas que corriam ao lado da rua principal, que ligava o porto ao largo principal da cidade, apenas a uns escassos 30m do local onde estávamos, outro caiu no largo principal um pouco mais acima, e o terceiro mais longe, já fora da zona habitacional.

"Corremos de imediato para o local dos impactos para prestar assistência às eventuais vitimas, mas felizmente apenas houve ferimentos muito ligeiros entre a população.

"Os morteiros 107mm existentes no quartel de Bolama, responderam ao fogo". (...)

(***) Último poste da série > 4 de janeiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9311: (Ex)citações (171): A propósito de citações e comentário do Mais Velho (José Manuel Matos Dinis)

Guiné 63/74 - P9336: Fragmentos da minha passagem pela tropa (Carlos Rios) (8): Fragmentos Genuínos - 6

FRAGMENTOS GENUÍNOS - 6

Por Carlos Rios,
Ex-Fur Mil da CCAÇ 1420/BCAÇ 1857, Mansoa e Bissorã, 1965/66


Era patente o ar de desânimo que se tinha instalado na Companhia, conducente a verdadeira pusilanimidade em todas as acções desenvolvidas, situação que criou em mim, já na altura um inconformado, impulsivo e obstinado, uma vontade de sair daquela modorra e requerer a transferência para os Comandos, o que provocou acesa troca de palavras com o Malaca dos Santos, o único que eu aceitava como interlocutor o que, por minha teimosia de nada valeu e lá fiquei a aguardar a chamada.
As memórias já difusas, passados que são mais de quarenta anos, não me permitem afirmar em absoluto, se ainda com o C. presente ou pouco depois apresentou-se para comandar um pelotão desanimado, amorfo e ainda chocado com o desaparecimento do seu líder e grande amigo Vasco, o Rui Alexandrino Ferreira. Apareceu-nos então um jovem Alferes, com um aspecto imberbe, parece-me que ainda não se barbeava; com uns óculos de lentes grossíssimas nuns aros de tartaruga mas com sentido de presença e um ar azougado e obstinado.
Foi displicentemente e com desconfiança recebido, o que aparentemente não o beliscou nada. Praticamente dávamos a entender que nós os velhinhos (que prosápia), não lhe passávamos cartão. Muito me tenho retratado ao longo da vida desta atitude de crianças rabinas. Que abnegação perseverança e tenacidade terão que ter existido neste HOMEM, para a prossecução dos objectivos que pretendia alcançar.

Quase de imediato saímos para o mato num patrulhamento e pesquisa de um hipotético objectivo (casa de mato), e espantados, vimos que o grande Rui se postava quase à testa da coluna, nos lugares de maior objectividade e em qualquer lugar passível de haver perigo.
Aparentemente indiferente aos piropos e apartes de alguns, (quão confrangido me senti muito pouco tempo depois por não ter intervindo mandando-os calar).

Ouvia-se:
- Será que o periquito sabe o que está a fazer?
- Dá cá o bico oh periquito!
- O gajo é mas é marado! É o que é! Só cá podia vir parar mais um tolinho!
- Esperem até que rebente alguma bernarda que logo vão ver o gajo todo acagaçado.
- Tás maluco! O Sacana é fino! – vais ver que se aguenta

Notava-se já um desanuviamento, eu próprio começava a sentir-me motivado e vazio de dúvidas.
Depois desta incursão e comportamento claramente demonstrativos de uma invulgar personalidade, que rapidamente calou os desbocados, e fez começar a desaparecer o desânimo instalado e aparecer imensa expectativa.
O Rui, apenas pelo seu valor e maneira de ser, adulterou as rigorosas regras comportamentais que disciplinavam e eram regra até à sua chegada, como na generalidade das Forças Armadas, numa forma até então considerada óbvia, o rígido relacionamento entre as três categorias que integravam a Companhia, Oficiais, Sargentos e Praças. Era porém diferente a visão do Rui e rapidamente passou da teoria à prática.

Creio que ainda hoje não me passou a estupefacção que me assaltou e me fez aderir incondicionalmente, nem que isso viesse a acarretar quaisquer dissabores. Não posso olvidar a sensata entusiasmante e eficaz intervenção do meu amigo Zé Monteiro no autêntico derrube de um sistema de relacionamento dogmático e divisor entre pessoas onde é necessária uma profunda coesão.
Seríamos sempre dois a acarretar com as responsabilidade de alterar códigos obsoletos.
Para além, muito para além, da existente e obsoleta hierarquia formal onde diariamente era esbatida e vinha ao de cima o valor humano de cada um na entrega e defesa da vida e dignidade gerais, sendo evidente as tentativas de auto-exclusão, salvo raras e honrosas excepções dos mais graduados, estava para nós a horizontalidade do primado do Homem.

Independentemente do posto, todos eram homens, com as suas qualidades e defeitos, manifestando as suas alegrias ou tristezas transmitindo algumas vezes com intensa emoção as suas incertezas, dúvidas e esperanças; porque estas são as últimas a morrer. Ali cada dia passado era uma conquista alcançada no atroz sofrimento da dúvida em prosseguir a vida ao encontro do seu saudoso lugar de direito. Mas acima de tudo a todos terem de ser encarados na sua imensa dimensão humana.
E neste ínterim, porque assim nos víamos e considerávamos, o Rui foi o precursor do tratamento de todos por igual, independentemente do posto de cada um sugerindo reciprocidade, fazendo despoletar em nós os mais belos e nobres sentimentos, este jovem imberbe tão invulgar se nos afigurou que rapidamente conquistou e conseguiu aquilo que me pareceu ser o seu objectivo, vindo a criar-se no grupo um sentimento de amizade e solidariedade imensos, fazendo desaparecer o desânimo e alguma intolerância, desencadeando uma empatia em que por incentivo conjunto se veio o pelotão a tornar no grupo temível e empolgado que, quando flagelado não se abrigava ou defendia, mas sim irrompia, de peito aberto com um volume de metralha incomensurável contra o inimigo e o desbaratava e punha em fuga.

Já entrosados em profunda empatia e solidariedade com elevado grau de confiança e entusiasmo estruturantes do grupo, fomos fazer um golpe de mão a uma casa de mato do inimigo em Binhalom. Na fila a caminho e ao encontro do objectivo, como de costume ocupava o segundo ou terceiro lugar vindo pouco depois o Rui e mais atrás o vigilante perspicaz e ponderado Zé Monteiro, que psicologicamente, como ainda hoje com todo o respeito sinto, como que me fazia sentir protegido de uma grande enxurrada por um polivalente chapéu de chuva, detectados e recebidos por valente saraivada de rajadas que felizmente não feriu ninguém, de imediato nos lançámos em avassalador e inconsciente ataque à posição IN, reagindo em conjugação de esforços todo o pelotão a maioria imitando-nos a mim e ao Rui sempre de pé, porque do chão nada se via, nada se controlava e o que poderia acontecer era desatarmos aos tiros para o ar, nada se dirigia e pouco se reagia, com a ajuda e protecção da sorte e da fortuna, essenciais nesses momentos, mas que tudo fizemos para o merecer e a sorte protege os audazes, disparando intensamente e corrigindo a pontaria, lançando eu próprio algumas granadas de mão sobre as posições donde pareciam provir os tiros conseguimos levar ao abandono do local os elementos do IN, muito embora de cada vez mais longe se continuassem a ouvir esparsas rajadas na fuga ao nosso avanço. Entrados então em Binhalom onde destruímos diversas tabancas duas canoas e capturámos algumas armas.

Vista geral do exterior do lado da porta de armas, ao fundo

Numa das curtas permanências em Fulacunda, o sentimentalão do Ferreirinha, irradiando alegria, dizia-me na cantina, depois de emborcarmos umas “Bazookas” :
- Eu não te dizia que se vinha juntar a estes mais um tolinho. Que maravilha.

Aspecto geral da Tabanca em Fulacunda

Homem de uma extraordinária humanidade fez-me a cortesia de escrever e publicar em livro de sua autoria:

“… mas tendo por especial referência o Rios, que foi ao longo do tempo que passou entre nós até ser gravemente ferido o elemento mais activo, dos que nunca se incomodava na busca de um abrigo ou de outra qualquer protecção. Ás vezes em manifesto abuso da sorte, como bem se viu, pois tantas vezes vai o cântaro à fonte que um dia lá deixa uma asa. Mas era uma força da natureza. Certamente sem ele a minha acção teria sido bem mais difícil senão mesmo impossível de levar a bom porto.
Nunca lhe poderemos, nem eu nem seguramente todo o grupo, que legitimamente era e será sempre o seu, retribuir o muito que por nós sacrificou, a generosidade com que nos brindou, o exemplo que nos contagiou e que só têm paralelo no orgulho imenso que por ele sentimos, na eterna gratidão que lhe devemos.
Poucos furriéis milicianos têm seguramente uma Cruz de Guerra de 1ª. Classe como ele. Se mais algum a tem certamente a não mereceu mais".

Pouco tempo passado fui então chamado para em Brá-Bissau, sede do Regimento de Comandos, prestar provas psicotécnicas e físicas para admissão ao próximo curso destes agrupamentos, tendo-me portado a contento e mandado assim que possível de regresso à minha anterior situação até à necessária chamada. Foi um período de tempo inimaginável de solidão e nostalgia, pois que o tempo ali passado abarcou o período de Natal e passagem do ano, e não consegui vislumbrar um único aspecto de solidariedade ou de inter-relacionamento comigo ou entre os elementos que por ali se passeavam cheios de empáfia, de lenços coloridos ao pescoço, com um ar soturno que inibia os novatos. Os sentimentos que me assaltaram eram tão negativos que para além da dorida saudade dos entes queridos e das lembranças da santa terrinha até dos meus camaradas da Companhia a que pertencia senti falta.
Enfim, felizmente que depois de chamado, não cheguei a ir para os Comandos, por razões que mais à frente destacarei, porquanto tenho das diversas vezes que operámos em conjunto com alguns grupos de Comandos uma péssima opinião.

Na segunda semana de Janeiro lá me mandaram embarcar numa coluna que se destinava a Bafatá para sair em Bissorã, local para onde tinha sido deslocada a minha Companhia, sendo ao apresentar-me no pelotão sido confrontado com uma ideia engendrada pelo Rui, e à qual aderi de imediato porquanto vinha ao encontro e preenchia totalmente as minhas perspectivas. Resolveu o sagaz camarada mais graduado do pelotão criar um grupo para o qual só entraria quem quisesse aderir à ideia, quase a totalidade dos constituintes do anterior pelotão o fez entusiasticamente, o Zé Monteiro mostrou-se um pouco recalcitrante à ideia, mas o espírito de solidariedade, coesão e amizade já existente naquele bloco, falaram mais alto e com o grupo recomposto e readaptado a funções mais interventivas e beligerantes (estaria o grupo sempre preparado e disponível para um eventual primeiro embate), tentava-se assim fugir aos serviços rotineiros, faxinas, guardas, etc… e ao qual resolvemos baptizar de “Insaciáveis” e pusemos a divisa de “Comandos da Caç1420” – que falta de parcimónia/que prosápia. Não tivemos nenhuma baixa mortal, sendo meu orgulho pelo cumprimento da minha missão ser eu o que mais estropiado ficou de entre os vários feridos em combate, quando co-responsável por aquelas três dezenas de Homens.

A estes jovens foi reconhecido valor e mérito que se traduziu em:

- Alf. Mil. Rui Fernando A. Ferreira – Cruz de Guerra de 1.ª classe
- Fur. Mil. Carlos Luís M. Rios - Cruz de Guerra de 1.ª classe
- Sold. José Ferreira dos Santos - Cruz de Guerra de 2.ª classe
- 1.º Cabo Manuel Oliveira da Silva - Cruz de Guerra de 3.ª classe
- 1.º Cabo Fernando Vieira Sampaio - Cruz de Guerra de 4.ª classe

Foram ainda merecedores de louvores do Comando de Sector (Agrupamento de Mansoa) os seguintes militares:

- 2.º Sarg. Artur Dias Ameixa - Um estóico e exemplar representante do Q.P.
- 1.º Cabo António Marques Oliveira - A serenidade e sensatez
- Sold. José Marques Fernandes (Zé do Eixo)- A audácia e desembaraço
- Sold. Américo Dias da Silva - Calmo e ponderado numa total e consciente entrega foi considerado “o exemplo do soldado Português".

Foi ainda louvado pelo Comandante do Batalhão o 1.º Cabo Radiotelegrafista Valdemar Ferreira Vilela - A personificação da compenetração e competência.

(Continua)
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 6 de Janeiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9320: Fragmentos da minha passagem pela tropa (Carlos Rios) (7): Fragmentos Genuínos - 5

Guiné 63/74 - P9335: História do BART 2917 (Bambadinca, 1970/72) (4): Baixas: mortos e feridos (Benjamim Durães)

Fonte:

Excertos de História do Batallhão de Artilharia nº 2917, de 15 de Novembro de 1969 a 27 de Março de 1972. Versão em suporte digital, gentilmente disponibilizada pelo Benjamim Durães,  membro da nossa Tabanca Grande (*)

No final da IAO, ainda em Viana do Castelo, em 8/4/1970, o comandante do BART 2917 tinha alertado para o risco de se morrer ou ficar ferido devido à frequência e gravidade dos acidentes ("No Ultramar, muitos dos que morrem ou se incapacitam, são vítimas de desleixo e falta de obediência pronta e completa, às ordens recebidas. A maioria das baixas é devida a desastres com viaturas auto ou a acidentes com armas de fogo. Os excessos de velocidade e as manobras perigosas são permanente precaução. No mato só se atira para acertar. Os tiros à sorte, são os que matam os nossos Camaradas")...


Mas, como mostram os dados constantes da História da Unidade, a maior parte das baixas do batalhão e das subunidades a ele adidas foram devidas ao fogo do inimigo... No Setor L1, em pleno coração da Guiné, equidistante do norte e do sul, do leste e do oeste...

Aqui fica a nossa homenagem a estes valentes e valorosos camaradas, metropolitanos ou guineenses,  que morreram ou ficaram gravemente feridos em lugares que nunca mais esqueceremos, aqueles de nós que ainda estão vivos: Jagarajá, Xitole, Mansambo, Xime, Poidon, Ponta do Inglês, Nhabijões, Finete, Missirá, Sancorlã, etc... Entre os feridos graves, conta-se o nosso camarada Benjamim Durães, DFA,  a quem devemos a versão digital da história do seu batalhão, a que aqui recorremos como valiosa fonte de informação... LG



Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Bambadinca > CCS do BART 2917 (1970/72) > Monumento aos mortos do batalhão e unidades adidas: CCAÇ 12, Pel Cacç Nat 52, Pel Caç Nat 54, pel Caç Nat 63 e  Pel Mil 201... Este monumento, como muitos outros,  foi destruído a seguir à independência da Guiné-Bissau.

Foto de Júlio Campos, ex-Fur Mil Sapador, BART 2917 (1970/72), enviada pelo nosso camarda Sousa de Castro.


CAPÍTULO III > BAIXAS SOFRIDAS, PUNIÇÕES, LOUVORES E CONDECORAÇÕES

A - BAIXAS SOFRIDAS PELAS NT

1 – EM COMBATE

a) - MORTOS


(i) CCS /BART 2917


- Picador SECO CAMARÁ Assalariado: Morto em 26/11/70 na Operação “ABENCERRAGEM.CANDENTE”; Está sepultado em Nova Lamego

(ii) CART 2714

- Picador MUSSA BALDÉ, Assalariado; morto na picada de BAMBADINCA/XITOLE, junto a MANSAMBO em 15/09/70, na montagem de segurança a uma coluna auto de reabastecimentos vinda de Bambadinca; sepultado em Sansacuto.

(iii) CART 2715

- Alferes Mil. Atirador JOÃO MANUEL MENDES RIBEIRO 17853469; morto em 04/10/71 na Operação “DRAGÃO FEROZ”; está sepultado em Castelo Branco;

- Furriel Mil. Mec. Auto JOAQUIM ARAÚJO CUNHA 14138068; morto em 26/11/70 na Operação “ABENCERRAGEM CANDENTE”; sepultado em Barcelos;

- 1º Cabo Atirador JOSÉ MANUEL RIBEIRO 18849069, morto em 26/11/70 na Operação “ABENCERRAGEM CANDENTE”, sepultado em Lousada.


- Soldado Atirador FERNANDO SOARES 06638369, morto em 26/11/70 na Operação “ABENCERRAGEM CANDENTE”,  sepultado em Fafe;

- Soldado Atirador MANUEL SILVA MONTEIRO 17554169, morto em 26/11/70 na Operação “ABENCERRAGEM CANDENTE”, sepultado em em Condeixa-a-Nova;

- Soldado Atirador RUFINO CORREIA OLIVEIRA 17563169, morto em 26/11/70 na Operação “ABENCERRAGEM CANDENTE”, sepultado em Oliveira de Azeméis;

- Guia NANSU TURÉ, assalariado, morto em 04/10/71 na Operação “DRAGÃO FEROZ", sepultado em Bafatá.

(iv) CART 2716


- Furriel Mil Atirador JOAQUIM MANUEL PALMA QUARESMA 03818069, morto em 22/10/70, quando procedia a um armadilhamento; sepultado em Silves.

(v) CCAÇ 12

- Soldado Condutor MANUEL DA COSTA SOARES 4853968, morto em 13/01/71 no rebentamento de uma mina anti-carro no Destacamento de NHABIJÕES, sepultado em Oliveira de Azeméis.

- Soldado Atirador USSUMANE SISSÉ 2107669, morto em 05/05/71 na Operação “TRIÂNGULO VERMELHO”, sepultado em Bambadinca.

- Soldado Atirador CHEVAL BALDÉ 82118869, morto em 01/06/71 na Operação “TORDO VERMELHO”,  sepultado em Bafatá.

(vi) PEL CAÇ NAT 52

- 2º Cabo Atirador NHAGA MACQUE 82068762, morto em 28/08/71 numa Acção de Patrulhamento em Finete, sepultado em Enxeia.

(vii) PEL CAÇ NAT 54

- Soldado Atirador SUNTUM CAMARÁ 82047766, morto em 05/05/71 na Operação “TRIÂNGULO VERMELHO”, sepultado em Bambadinca.

- Soldado Atirador ADI JOP 82130863, morto em 05/05/71 na Operação “TRIÂNGULO VERMELHO”, sepultado em Bambadinca.

- Soldado Atirador CHERNO SIRÁ SANHÁ 82088464, morto em 22/06/71 na Acção “GALHITO”; está sepultado em Bedanda.

- Soldado Atirador SAMBARO EMBALÓ 82052068, morto em 22/06/71 na Acção “GALHITO”, sepultado em Farim.

(VIII) CMIL 1 - PEL MILÍCIAS 201

- Soldado Milícia IAIA JAU 237/68, morto em 04/03/71 na Acção que se desenrolou em Sancorlã e Paté Gidé, sepultado em Bambadinca.


b) - FERIDOS


(i) CCS /BART 2917

- Alferes Mil. Sapador LUÍS RODRIGUES CARDOSO MOREIRA 0371166, ferido em 13/01/71 no accionamento de uma mina A/C junto ao Destacamento de NHABIJÕES.

- 1º Cabo Reab. Mun. ARMINDO MOURA NUNES 13256369, ferido em 10/12/70 no accionamento de uma mina A/C junto da Ponte do Rio Jagarajá, no XITOLE.

- Soldado Sapador JOSÉ EDGAR FERREIRA MAGALHÃES 02828069
- Soldado Condutor MANUEL CASTRO RIBEIRO SILVA 08943669, ferido em 13/01/71 no accionamento de uma mina A/C junto ao Destacamento de NHABIJÕES.

- Soldado Transm. AUGUSTO JESUS MARTINS 15317569

- Soldado Sapador ADOLFO ALVES SAMPAIO 10048969


(ii) CART 2714


- Alferes Mil. Atirador JOAQUIM SILVA PEREIRA 17655869, ferido em 12/07/71 na Operação “QUADRILHA SAGAZ”.

- Furriel Mil. Atirador ANTÓNIO SANTOS LAPA 01656369

- Soldado Atirador JOÃO BRAGA MOITA 18560269

- Soldado Atirador MANUEL AUGUSTO SILVA RIBEIRO 16775969, ferido em 12/07/71 na Operação “QUADRILHA SAGAZ”.


- Guia Nativo IABO BALDÉ, Assalariado, ferido em 12/07/71 na Operação “QUADRILHA SAGAZ”.

(iii) CART 2715


- Capitão de Infª ARTUR BERNARDINO FONTES MONTEIRO 04716663
- 1º Cabo Reab. Mat. ANTÓNIO PEREIRA 01656369
- 1º Cabo Atirador ANTÓNIO OLIVEIRA GOMES 18560269
- 1º Cabo Atirador MANUEL FERREIRA MARTINS OLIVEIRA 17551269
- 1º Cabo Atirador AMÉRICO FERREIRA ROCHA SILVA 18491669
- 1º Cabo Atirador FERNANDO AUGUSTO FERREIRA VIEIRA 17117169
- Soldado Atirador JOSÉ SILVA GOMES 17141969
- Soldado Atirador JOSÉ ELÓI DUARTE 17217369
- Soldado Condutor ADELINO GOMES ALVES 08209769
- Soldado Ap. Metralh. LAURINDO AUGUSTO SILVA CORREIA 17045269
- Soldado Ap. Metralh. JOSÉ GRILO MATOS 17095169
- Soldado Atirador NARCISO SILVA FONSECA 17210169
- Soldado Atirador IDALINO QUINTANEIRO 17140769
- Soldado Atirador CARLOS PEREIRA TEIXEIRA 17079069
- Guia BACAR BIAIA Assalariado


(iv) CART 2716


- Furriel Mil. Atirador JOSÉ TRIGUEIRO PEREIRA LEONES 08514268
- 1º Cabo Atirador JOÃO ROCHA CARVALHO 19212869
- Guia Nativo SAMBA TEYE Assalariado
- Auxiliar de Guia JOMEL BALDÉ Assalariado
- Auxiliar de Guia OCHA CAMARÁ Assalariado

(v) CCAÇ 12

- Alferes Mil. de Cavª JOSÉ ANTÓNIO GONÇALVES RODRIGUES 1054866, ferido em 13/01/71 no accionamento de uma mina A/C junto ao Destacamento de NHABIJÕES.
- Furriel Mil. Atirador ANTÓNIO FERNANDO RODRIGUES MARQUES 13951567, 
ferido em 13/01/71 no accionamento de uma mina A/C junto ao Destacamento de NHABIJÕES. 
 - Alferes Mil. Atirador FLORINDO GONÇALVES COSTA
- Furriel Mil. Atirador JOAQUIM A. M. FERNANDES 15265768, 
ferido em 13/01/71 no accionamento de uma mina A/C junto ao Destacamento de NHABIJÕES. 
 - Soldado Atirador ADULAI BALDÉ 82117069
- Soldado Arv. Atirador ALFA BALDÉ 82100069
- Soldado Atirador AMADÚ CAMARÁ 82117669
- Soldado Atirador AMADÚ TURÉ 82117369
- 1º Cabo Atirador ARMINDO REIS PIRES 82042169
- Soldado Atirador ARUMA BALDÉ 82103269
- Soldado Atirador BACARDENA BALDÉ 82153771
- Carregador CABI NAFAMBA Assalariado
- Soldado Atirador CHERNO BALDÉ 82115269
(feridos em 13/01/71 no accionamento de uma mina A/C junto ao Destacamento de NHABIJÕES(,
- Soldado Atirador DEMBA JAU 82115169
- Soldado Atirador IERO JUMA CAMARÁ 82116469
- 1º Cabo Atirador JOSÉ CARLOS SULEIMANE BALDÉ 8211556
- Soldado de TRMS JOSÉ GARCIA PEREIRA 06833469
(feridos em 13/01/71 no accionamento de uma mina A/C junto ao Destacamento de NHABIJÕES).
- Soldado Atirador JOSÉ MARIA DAYES 82179370
- Soldado Atirador JOSÉ MATIAS G BARROS 82129769
- Soldado Atirador MALAN JAU 82109369
- Soldado Atirador MALAN NANQUI 82109969
- Soldado Atirador MAMADU BALDÉ 82119069
- Soldado Atirador MAMADU COLUBALI 82116569
- Soldado Atirador MAMADÚ JALÓ 82117969
- Soldado Atirador MAMADU JAU 82108369
- 1º Cabo Atirador MANUEL GONÇALVES ALVES 09983370
- Soldado Atirador MAURO BALDÉ 82108969
- Soldado Atirador MUSSA SEIDI 82118669
- Soldado Atirador QUECUTA COLUBAL 82118369
 (feridos em 13/01/71 no accionamento de uma mina A/C junto ao Destacamento de NHABIJÕES).

- 1º Cabo Atirador SAIDO SEIDI 82015469
- Soldado Atirador SAJO CANDÉ 82107069
- Soldado Atirador SAJUMA JALÓ 82116069
- Soldado Atirador SAMBA JAU 82106869
(feridos em 13/01/71 no accionamento de uma mina A/C junto ao Destacamento de NHABIJÕES.

- Soldado Arv. Atirador SAMBA SÓ 82115469
- Soldado Atirador SANA CAMARÁ 82119069
- Soldado Atirador SHERIFO BALDÉ 82115669
(feridosem 13/01/71 no accionamento de uma mina A/C junto ao Destacamento de NHABIJÕES.

- Soldado Atirador SIDI JALÓ 82116369
- Soldado Atirador SULEIMANE BALDÉ 82042966
- Soldado Atirador SULEIMANE BALDÉ 82110269
- 1º Cabo Atirador SULEIMANE SEIDI 82112964
- Soldado Atirador TENEN BALDÉ 82115769
(feridos em 13/01/71 no rebentamento de uma mina anti-carro no Destacamento de NHABIJÕES.

- Soldado Atirador TOTALA BALDÉ 82108769
- Soldado Atirador USSUMANE BALDÉ 82117169
(feridos em 13/01/71 no accionamento de uma mina A/C junto ao Destacamento de NHABIJÕES(.


(vi) PEL CAÇ NAT 52


- Soldado Atirador TUNCA SEIDI 82063665
- Soldado Atirador JOBO BALDÉ 82068868


(vii) PEL CAÇ NAT 54


- Furriel Mil. Atirador JOSÉ A L PIRES 10684269
- Soldado Atirador ANTÓNIO MANINHO 82049167
- Soldado Atirador SHERIFO BALDÉ 82056966


(viii) PEL CAÇ NAT 63

- 1º Cabo Atirador SANASSI BALDÉ 82052865
- Soldado Atirador SAMARO JAU 82069865
- Soldado Atirador GUIRO JAU 82064067
- Soldado Atirador NIANDA EMBALÓ 82035566

(ix) 20º PEL ARTª

- 1º Cabo MORAIS SILVA 82022162
- Soldado FERNANDO J S SILVA 00928068

(x) PEL MILÍCIAS 202

- Soldado Milícia USSUMANE BALDÉ 158/66
- Soldado Milícia IERO JAU 081/69
- Soldado Milícia UMARO JALÓ 368/67

(xi) PEL MILÍCIAS 241

- Soldado Milícia AMADU JAU 374/64
- Soldado Milícia SAMBA CANDÉ 359/67
- Soldado Milícia USSUMANE BALDÉ 375/64

2 – POR OUTRAS CAUSAS
a) - MORTOS

- PEL CAÇ NAT 54
- 1º Cabo Atirador FERNANDO VASCO MENOITA 00762170, morto (Acidente) em 01/07/71, sepultado na Guarda.


- PEL CAÇ NAT 63

-  Soldado Atirador JANGO CANDÉ , morto (Doença) em 15/03/71, sepultado em Bambadinca.

- CART 2716
- Soldado Atirador JOSÉ MARIA PALÁCIOS ALMEIDA 02314469, morto (Doença) em 15/07/70, sepultado em Góis.

- CCAÇ 12
- Soldado Atirador ANTÓNIO MANJOR GOMES, morto (Acidente) em 12/11/71; está sepultado em Bijagós.
-  1º Cabo Atirador BUCAR BALDÉ, morto (Doença) em 04/07/71, sepultado em Bambadinca.

- PEL MILÍCIAS 201
- Soldado Milícia MAMA SALIU CAMARÁ, morto (Acidente) em 28/08/70, sepultado em Bissau.
- 1º Cabo Milícia CASSAMBA CANDÉ, morto (Acidente) na Operação “TORDO VERMELHO”em 01/06/71, sepultado em Bissau.

- PEL MILÍCIAS 308
- Soldado Milícia MOTARO BALDÉ, morto (Doença) em 12/09/71, sepultado em Bambadinca.
(...)

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Nota do editor:

Último poste da série > 7 de janeiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9324 História do BART 2917 (Bambadinca, 1970/72) (3): Homilia do Alf Mil Capelão Arsénio Chaves Puim, em Viana do Castelo, a 6/5/1970, na missa da benção dos guiões, antes da partida (Benjamim Durães)