domingo, 22 de julho de 2012

Guiné 63/74 - P10181: Estórias dos Fidalgos de Jol (Augusto S. Santos) (5): A emboscada das abelhas

1. Segunda estória dos Fidalgos de Jol enviada pelo nosso camarada Augusto Silva Santos (ex-Fur Mil da CCAÇ 3306/BCAÇ 3833, Pelundo, Có e Jolmete, 1971/73), na sua mensagem de 15 de Julho de 2012:


ESTÓRIAS DOS FIDALGOS DE JOL (5)

A “Emboscada” das Abelhas

Lendo há algum tempo atrás um episódio do nosso camarada Luís Faria sobre o que consigo se passou com um “ataque” de abelhas, que poderia ter consequências trágicas (felizmente tudo não passou de um valente susto), veio-me à lembrança uma situação semelhante (salvo as devidas proporções) que comigo se passou.

Estando dois dos nossos grupos de combate em progressão para realizar mais uma emboscada em possível local de passagem do inimigo, baseados no relato de um elemento da população, em dada altura da deslocação e, já muito perto do objectivo, fomos surpreendidos por uma autêntica debandada pelo pessoal que seguia na frente, com cada um a correr para seu sítio, sem que nos fosse dada qualquer explicação sobre o que estava a acontecer, e numa autêntica desorganização.

Sendo o meu grupo o que seguia na retaguarda, com o mato bastante denso e sendo difícil de descortinar o que realmente se estava a passar, perante tal cenário, mesmo sem até então termos ouvido qualquer tipo de contacto (tiros), logo nos colocámos todos em posição de combate prontos para uma eventual protecção aos nossos camaradas em apuros.

Não tardou porém muito tempo, para que igualmente o meu grupo se levantasse das suas posições e, desordenadamente, cada um se pusesse a fugir para o seu lado, pois do que efectivamente se tratava era de um violento ataque de abelhas, que ainda conseguiu fazer várias vítimas, algumas das quais com bastantes ferradelas.

A minha sorte e do guia das milícias que comigo de perto seguia, de seu nome Vermelho, foi termos connosco um pano de tenda com o qual nos cobrimos completamente, conseguindo assim escapar ao ataque e a algumas picadelas.

Foi um valente susto, felizmente também aqui sem consequências de maior, mas ainda demorou algum tempo até que conseguíssemos recompor todo o pessoal, mas o que desde logo ficou decidido é que naquele local já não iríamos emboscar. É que ainda tínhamos presente o que havia acontecido a um camarada Furriel da Companhia do Pelundo, que algum tempo antes numa situação semelhante, levou tantas ou tão poucas ferradelas, nomeadamente na cabeça, que ficando inconsciente teve de ser evacuado de helicóptero.


Jolmete, Maio de 1972 > Posto de vigía

Jolmete, Maio de 1972 > Junto à entrada do meu abrigo

Jolmete, Maio de 1972 > Com o Fidalgo, filho do Cájan e neto do Régulo

Jolmete, Junho de 1972 > Na hora da correspondência

Jolmete, Julho de 1972 > Convívo com o pessoal do Pelundo. O meu irmão é o mais alto ao meio.
____________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 19 de Julho de 2012 > Guiné 63/74 - P10170: Estórias dos Fidalgos de Jol (Augusto S. Santos) (4): De caçador a caçado

Guiné 63/74 - P10180: Tabanca Grande (351): Guilherme Gabriel da Costa Ganança, ex-Alf Mil da CCAÇ 1788/BCAÇ 1932 (Cabedú, Catió e Farim, 1967/69)

1. No passado dia 11 de Julho de 2012 o nosso camarada Guilherme Ganança dirigiu ao nosso Blogue a seguinte Mensagem:

Caro Camarada 
Acabo de ler no blogue um pedido de informação sobre o capitão Artur Manuel Carneiro Geraldes Nunes, o sogro de um camarada do António Teixeira Mota(1).
Estou a tremer!... Ele que entre em contacto comigo, através do meu endereço de mail.
Sei tudo o que se passou.

Com um grande abraço.
Não sei se conseguirei dormir esta noite.
GCG


2. A pedido do nosso editor Luís Graça, José Martins enviou a 15 de Julho a seguinte mensagem ao nosso camarada Ganança:

Bom dia
Os mail abaixo caíram na minha caixa de correio e, como sempre, cá estou a tentar encontrar o "fio da meada", ou seja, ajudar a construir a nossa memória colectiva.
Poderia deslocar-me ao Arquivo Histórico Militar para consultar a história da unidade, mas, por experiência adquirida, encontraria alguma menção, vaga, sobre o acontecido com o nossa camarada de armas Capitão Geraldes Nunes, se por acaso estivesse lá mencionada.
Como leitor do blogue, que parece ser, em nome dos mais de quinhentos membros da mesma e, na qualidade de colaborador, estou a fazer um convite formal para "entrada directa e imediata" para a Tabanca Grande, a um preço simbólico: duas fotos, uma dos nossos tempos de "mininos" e outra actual, assim como uma breve referência para nos localizarmos o tempo e espaço da Guiné, e a primeira de muitas histórias, creio, que a memória nos vai trazer. 
Permito-me sugerir que a "história de apresentação" fosse essa história que, apesar de passados mais de 40 anos, ainda "tira o sono". Cada um de nós temos uma história dessas, que temos de exorcizar e seguir em frente.
Somos contemporâneos da Guiné. Estive no Leste (Nova Lamego e Canjadude) entre Junho de 68 a 70, na CCaç 5, uma companhia de africanos, formada em 1961 e que foi desactivada em 20 de Agosto de 1974, após a entrega do aquartelamento ao PAIGC. 
Esperamos pois, dar as boas vindas a mais um membro, que já tem provas dadas, e acolher mais um camarada à sombra do poilão da nossa Tabanca Grande.

Até lá, aqui vai um fraterno abraço do
José Martins


3. Ainda no mesmo dia recebemos esta mensagem do nosso camarada e novo tertuliano Guilherme Gabriel da Costa Ganança, ex-Alf Mil da CCAÇ 1788/BCAÇ 1932, Cabedú, Catió e Farim, 1967/69):

Caro camarada José Martins.
Confesso que não sou muito dado aos blog's. Por isso, ainda não entrei para a Tabanca. Esta é uma fase da vida em que preciso levantar a moral, de novo!...
Na semana que findou, vi partir a minha irmã. Completara 69 anos, na véspera da "grande viagem". Mas, como acontecia na Guiné, temos de levantar a cabeça, encontrar energia no fundo das entranhas e prosseguir a luta pela sobrevivência daqueles que estão ao nosso lado e confiam em nós!...

No Blog do Luís Graça, já mora a solução para o "enigma" do António Teixeira Mota. Lá está um comentário do camarada Mário Beja Santos, sobre um romance publicado no ano passado: "Do Cacine ao Cumbijã - 67 Guiné 68"(2). Sou o autor e, conforme suspeitava o Beja Santos sou o "alferes Gabriel Silva".

Os nomes são fictícios, mas o livro é mesmo autobiográfico. Lá está tudo, timtim, por timtim, sobre a Ccaç1788 (de código: 78081), sobre o carinho especial que todos tinham (e mantêm) pelo capitão Geraldes Nunes (de Código: Germano Neves). É só ler este romance, que já vai para a 2.ª edição!

Esta obra levou "os minino" para a guerra e deixou-os lá...

Os leitores ficaram sem saber como de lá sair. Isso aconteceu porque o autor, o alferes Gabriel Silva, teve de travar um novo combate decisivo, sem saber se de lá saía vivo. E, antes que o comandante dos Corsário se "evaporasse", colocou a boina preta na cabeça e providenciou a publicação da parte da obra que já estava escrita. "Cavalgou para o fim", conforme se "queixou" o camarada Beja Santos. Felizmente para o "alferes corsário" e para todos os que desejavam saber o fim daquela "viagem pelas matas da Guiné", o autor, de nome completo Guilherme Gabriel da Costa Ganança, saiu vivo da Operação "IPO-2011".

Foram seis meses de combates e "bombardeamentos" sucessivos ao inimigo.
O "desgraçado" rendeu-se sem condições e o velho combatente "corsário" voltou às memórias para escrever e publicar "O Corredor de Lamel - 68 Guiné 69".

Não tenho o contacto do camarada Beja Santos. Gostaria de lhe dizer como o entusiasmo que coloquei na publicação da obra Do Cacine ao Cumbijã me ajudou a eliminar "O bandido".

Bem... Vamos agora ao que interressa:
O passaporte para a nossa Grande Tabanca.
Envio algumas imagens.
Numa pesquisa em "Guilherme Costa Ganança" encontra as sinópses das duas obras, que podem ser os textos do "passaporte" para a Grande Tabanca.

Com um grande abraço,
Guilherme Ganança


4. Sinopses dos livros referidos:

"Do Cacine ao Cumbijã"
Autor: Guilherme da Costa Ganança
Edição/reimpressão: 2011
Páginas: 342
Editor: Chiado Editora
ISBN:9789896971625
Coleção: Viagens na Ficção

As acções ocorreram, realmente, no espaço e no tempo da narrativa.
A acção decorre desde Outubro de 1967 a Março de 1968 e transporta um jovem de 22 anos para um ambiente repleto de incertezas, audácia e desespero, nas matas da Guiné.
São as memórias de um alferes, salpicadas de momentos de pura ficção. É o desenrolar de sentimentos e emoções. Juventude e generosidade, medo e coragem, dor e amor, tragédia e sobrevivência misturam-se numa exótica amálgama com o bálsamo das amizades e uma inveterada cultura da auto-estima.
Paisagens, ambientes e interacção com as tradições e gentes locais povoam a narrativa. A marca do tempo, que custa tanto a passar, é mitigada com nostálgicas recordações e ilusórios propósitos de vida. Na miragem, os «devaneios» adoçam-se com o carinho de uma geração generosa de «madrinhas de guerra».
Gabriel despede-se da sua cidade, da sua família e dos amigos e é levado a mergulhar nas teias da guerra.
Valoriza o rigor e o saber, como os melhores aliados da «sorte». Os «tempos livres» revelam-se marcantes para a concretização dos seus próprios desígnios.


"O CORREDOR DE LAMEL - 68 GUINÉ 69"
Autor: Guilherme da Costa Ganança
Colecção: Ecos da História
Páginas: 414
Data de publicação: Junho de 2012
Género: Romance Histórico
ISBN: 978-989-697-525-8

Entre Abril de 1968 até finais do ano de 1969, um jovem e tenaz alferes, imerso nas teias da guerra da Guiné, dá meia volta ao seu destino e radica os seus horizontes no ambiente de Lisboa. A sua alma suplicava "Tirem-me daqui!". Se outrora pensara que "podia morrer", naquele momento só pensava "quero viver".
Mesmo na guerra, Gabriel perseguia um norte, que lhe movia a esperança e espicaçava a fé... Sonhava "entrar na Universidade". Pela frente, muitos meses de vitórias e desânimos, de crenças e incertezas, de relações humanas complexas, em teatros de guerra.
Contava com a sua "Santa mãe", a sua Padroeira e as "madrinhas-de-guerra" por quem nutria afeição especial.
Trazer os seus rapazes, vivos, para o seio das famílias era o propósito do alferes Gabriel Silva. O destino, por vezes, seria cruel. Perante a ameaça permanente dos ataques inimigos, tudo fazia para domar o fantasma de um acidente fatal. Reforçava a auto-estima e nem o fogo hostil o faria esmorecer.

10 de Maio de 1966 > Guilherme Ganança > Cadete da EPI > Mafra


Sobre Guilherme da Costa Ganança
Nasceu no Funchal em 1945.
O nome de Família, Ganança, que se diz de origem nórdica, remonta há mais de três séculos, época em que o seu antepassado se radicou na Ponta do Sol.
Concluiu o Ensino Secundário no Liceu de Jaime Moniz, do Funchal.
De 1967 a 1969, prestou Serviço Militar na Guiné e passou à disponibilidade com o posto de Tenente.
Licenciou-se em Engenharia Electrotécnica, pelo Instituto Superior Técnico de Lisboa e, mais tarde, acrescentou ao currículo académico o Bacharelato em Engenharia Civil, pelo Instituto Politécnico de Castelo Branco.
Casou e radicou-se na cidade albicastrense, onde exerceu intensa actividade.
Foi professor no Ensino Secundário e no Politécnico, Vereador e Director do Departamento de Desenvolvimento, Educação e Cultura, da Câmara Municipal. Foi, também, Director de Produção de uma empresa de cablagens, a «Cablesa», hoje, «Delphi». Exerceu cargos políticos, a nível concelhio e distrital, mas sentiu que não era esse o seu universo e renunciou.


Cabedú, 31 de Janeiro de 1969

Lamel > Farim > 22 de Março de 1969

Brá > Bissau > 15 de Agosto de 1969


5. Comentário de CV:

Caro camarada Guilherme Ganança, bem-vindo à Tabanca Grande.
Estou a receber-te em nome dos editores e da tertúlia depois de o camarada José Martins nos ter feito chegar a tua mensagem de apresentação.

Começas por dizer que não és "muito dado" a blogues, mas este não sendo este melhor nem pior do que os demais, é diferente na medida em que se tornou um repositório de memórias dos ex-combatentes da Guiné, onde alguns textos deram já origem a livros sobre o tema Guerra Colonial, como é o caso do nosso camarada Mário Beja Santos que já lançou três obras com textos publicados no Blogue. Temos esperança de que outros camaradas lhe sigam o exemplo.

A tua colaboração nesta página, que a partir de hoje também te pertence, pode ser em texto ou em fotos mas, oiro sobre azul seria enviares as tuas histórias, ou memórias como lhes queiras chamar, ilustradas com fotos a propósito. Fica ao teu critério o modo e a frequência da tua colaboração que esperamos seja regular.

A tua correspondência deverá ser enviada para luisgracaecamaradasdaguine@gmail.com (caixa de correio do editor principal Luís Graça) e para um dos co-editores cujos endereços encontrarás no lado esquerdo da página.

Não queria terminar sem te pedir para não estranhares o tratamento por tu, que é o modo como nos relacionamos, já que ser camarada da Guiné nesta tertúlia elimina todas as barreiras sociais e culturais, assim como a particularidade de se ter sido na vida militar Praça, Sargento ou Oficial.

Quero que recebas um abraço de boas-vindas em nome de toda a tertúlia onde se inclui naturalmente os editores.

O teu camarada e novo amigo
Carlos Vinhal
____________

Notas de CV:

(1) Vd. poste de 29 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3813: Em busca de... (62): Referências à CCAÇ 1788/BCAÇ 1932, Guiné, 1967/69 e à morte do Cap Artur Nunes (José Martins)

(2) Vd. poste de 3 de Outubro de 2011 > Guiné 63/74 - P8850: Notas de leitura (282): Do Cacine ao Cumbijã, 67 Guiné 69, de Guilherme da Costa Ganança (Mário Beja Santos)

Vd. último poste da série de 16 de Julho de 2012 > Guiné 63/74 - P10156: Tabanca Grande (350): Bernardino Cardoso, ex-fur mil, Pel Rec 2024 (Bula, jan 1968/dez 1969), grã-tabanqueiro nº 567

Guiné 63/74 - P10179: Historiografia da presença portuguesa em África (43): Missão zoológica na Guiné, 1944/46, chefiada pelo naturalista Fernando Frade (1898-1983) (Parte II)










Fonte: Cortesia do sítio Triplov > Missão Zoológica na Guiné: Fernando Frade, Amélia Bacelar e Bernardo Gonçalves

(Continuação do poste sobre a Missão Zoológica na Guiné - II e última parte) (*)



3. Publicações de Fernando Frade relacionadas com o ultramar português, em geral, e a Guiné, em particular (seleção de L.G.)

Em 1968, o prof Fernando Frade (1898-1983) fez 70 anos e foi jubilado. Em 1973, foi-lhe feita uma homenagem pública e é publicada a lista (impressionante) dos seus trabalhos. Repare-se que este homem e este português publicou ininterruptamente desde 1922 a 1980, três anos antes de morrer... À boa maneira do seu tempo, era um naturalista que se interessava por tudo, tendo estudado desde os peixes (o atum algarvio, por exemplo) aos grandes mamíferos, como os elefantes de Angola e de Moçambique... O seu último artigo, de 1980, foi justamente sobre os mamíferos da Guiné. É, por um lado, um naturalista já com preocupações ecológicas, "avant la lettre". Não se limita a estudar a fauna, tem preocupações conservacionistas e ambientais. Julgo que o seu nome deve ser conhecido pelos camaradas e amigos da Guiné. Além disso, a sua missão zoológica andou por muitos sítios nossos conhecidos. Apesar da sua fraca qualidade, reproduzimos aqui mais algumas fotos do relatório da missão (1946), tendo como fonte o portal Triplov, a quem agradecemos a gentileza.

 (i) Lista de  trabalhos  sobre a fauna da  Guiné:


FRADE, F. (1945) - Ofídeos da Guiné. In: F. Azevedo, F.Cambournac e Manuel Pinto: Observações sobre ofídeos, etc.. An. Inst. Medic. Tropical, II, Lisboa.
FRADE, F. (1945) - A doença do sono na Guiné em 1944 e observações sobre ofídios, culicídeos e Phlebotomus por J. Fraga de Azevedo, F.J.C. Cambournac e Manuel R. Pinto. Ann. Inst. Medicina Tropical, II: 7-47. Insecta. Medicina.
FRADE, Fernando (1946) - Aves. In: Nomes de Vertebrados da Guiné Portuguesa. Anais da Junta de Investigações Coloniais, I, Lisboa.
FRADE, Fernando (1946) - Esboço ecológico da fauna da Guiné Portuguesa. Anais da Junta de Investigações Coloniais, I, Lisboa. Com Amélia Bacelar e B. Gonçalves. 
FRADE, Fernando (1946) - A fauna da Colónia da Guiné Portuguesa e a Convenção Internacional de Protecção à Fauna. Anais da Junta de Investigações Coloniais, I, Lisboa. Protecção.
FRADE, Fernando (1946) - Mamíferos. In: Nomes de Vertebrados da Guiné Portuguesa. Anais da Junta de Investigações Coloniais, Lisboa.
FRADE, F. (1946) - Batráquios e Répteis in Nome de Vertebrados da Guiné Portuguesa. Anais da Junta de Investigações Coloniais, Lisboa, Vol. I. Lisboa, 1946
FRADE, F. Amélia Bacelar & Bernardo Gonçalves (1946) - Relatório da missão zoológica e contribuições para o conhecimento da fauna da Guiné Portuguesa. Separata dos Anais da Junta de Investigações Coloniais, Lisboa, Vol. I. Trabalhos da Missão Zoológica da Guiné (1-5): 259-416. Fernando Frade. Guiné-Bissau. Zoologia.
FRADE, F. Amélia Bacelar & Bernardo Gonçalves (1947) - Pescarias da Guiné Portuguesa. Anais da Junta de Investigações Coloniais, Lisboa, Vol. I. Lisboa, 1946 (1947). Pescas.
FRADE, F. (1947) - Peixes in Nome de Vertebrados da Guiné Portuguesa. Anais da Junta de Investigações Coloniais, Lisboa, Vol. I. Lisboa, 1946 (1947).
FRADE, Fernando (1948) - Escorpiões, Solífugos e Pedipalpos da Guiné Portuguesa. Separata dos Anais da Junta de Investigações Coloniais, Lisboa, Vol. III, Tomo IV. Trabalhos da Missão Zoológica da Guiné (10): 5-18. Fernando Frade. Guiné-Bissau. Zoologia. Scorpiones. Solifuga. F. Newton. Leonardo Fea. Ananteroides feae Borelli - Caconda junto do rio Cacine, localidade de Leonardo Fea. Não coligida por Frade. Coligida por Monard em Madina do Boé. Resumo em Conf. Int. Afr. Ocident. (CIAO), Bissau, 1947. III, 2ª parte, 1951.
FRADE, Fernando (1949) - Considerações acerca da distribuição da fauna na Guiné Portuguesa. Separata dos Anais da Junta de Investigações Coloniais, Lisboa, Vol. IV, Tomo IV. Trabalhos da Missão Zoológica da Guiné (13): 9-16. Fernando Frade. Guiné-Bissau. Zoologia. Fauna.
FRADE, Fernando (1949) - Algumas novidades para a fauna da Guiné Portuguesa. Separata dos Anais da Junta de Investigações Coloniais, Lisboa, Vol. IV, Tomo IV. Trabalhos da Missão Zoológica da Guiné (22): 165-208, estampas I-VI. Fernando Frade. Guiné-Bissau. Zoologia. Fauna. Aves. Mammalia.
FRADE, Fernando (1950) - A propósito da Fauna da Guiné. Boletim Cultural da Guiné Portuguesa, 20: 563-581. Bissau.
FRADE, Fernando (1950) - Notas de zoogeografia e de história das explorações faunísticas da Guiné Portuguesa. Estudos, Ensaios e Documentos, VIII. Junta de Investigações Coloniais, Lisboa. Refere José de Anchieta como colector na Guiné-Bissau.
FRADE, Fernando (1950) - Estudos de pescarias do Ultramar Português. Os atuns. Colóquios Junta Inv. Coloniais, Lisboa. 1950. Pisces.
FRADE, Fernando (1950) - Notas de zoogeografia e de história das explorações faunísticas da Guiné Portuguesa. Junta de Investigações Coloniais, Lisboa. Estudos, Ensaios e Documentos, 8: 32 pp., fotos. Guiné-Bissau. F. Newton (1898). Leonardo Fea (1899-1900).
FRADE, Fernando (1951) - Escorpiões, Solífugos e Pedipalpos da Guiné Portuguesa. Separata dos Anais da Junta de Investigações Coloniais, Lisboa, Vol. III, Tomo IV. Trabalhos da Missão Zoológica da Guiné (10): 5-18, 1948. Resumo em Conf. Int. Afr. Ocident. (CIAO), Bissau, 1947. III, 2ª parte, 1951.
FRADE, F. (1954) - Investigação para o melhoramento da pesca indígena nas águas interiores da Guiné Portuguesa. Bol. Cult. da Guiné Port., 36, 1954. Em colab. com F. Correia da Costa e J. Gonçalves Sanches. Pescas.
FRADE, F. (1954) - Possibilidades de melhoramento da pesca indígena nas águas interiores da Guiné Portuguesa. Resumo do anterior. Anais da Junta de Investigações do Ultramar, Lisboa.
FRADE, F. (1954) - Aves do Ultramar Português, I. Aguarelas de Silva Lino. Anais da Junta de Investigações do Ultramar, II (3), Lisboa.
FRADE, F. (1954) - Aves do Ultramar Português, II. Aguarelas de Silva Lino. Anais da Junta de Investigações do Ultramar, II (3), Lisboa.
FRADE, F. (1954) - A propósito de prospecções piscatórias nos mares de cabo Verde e da Guiné. Garcia de Orta, Junta Invest. Ultr., Lisboa.
FRADE, F. & BACELAR, Am. (1955) - Catálogo das aves da Guiné Portuguesa. I - Non Passeres. Lisboa. Trabalhos da Missão Zoológica da Guiné e do Centro de Zoologia, 44, Lisboa, 1957 .
FRADE, F., & BACELAR, Amélia (1955) - Catálogo das aves da Guiné Portuguesa. Junta das Missões Geográficas e de Investigação Coloniais, Lisboa. Anais, Vol. X, Tomo IV, fasc. II. Trabalhos da Missão Zoológica da Guiné e do Centro de Zoologia (44): 7-194, fotos. Guiné-Bissau. Ornitologia. Fernando Frade e Amélia Bacelar. Leonardo Fea: Farim, Bolama, Cacine em 1899-1900. Francisco Newton e José de Anchieta.
FRADE, F., F. Correia da Costa & J. Gonçalves Sanches (1955) - Possibilidades de melhoramento da pesca indígena nas águas interiores da Guiné Portuguesa. Junta das Missões Geográficas e de Investigação Coloniais, Lisboa. Anais, Vol. X, Tomo IV, fasc. I. Trabalhos da Missão Zoológica da Guiné e do Centro de Zoologia (41): 165-178, fotos. Guiné-Bissau. Pesca.
FRADE, F. (1955) - A propósito de prospecções piscatórias nos mares de Cabo Verde e da Guiné. Junta das Missões Geográficas e de Investigação Coloniais, Lisboa. Anais, Vol. X, Tomo IV, fasc. I. Trabalhos da Missão Zoológica da Guiné e do Centro de Zoologia (42): 179-183. Guiné-Bissau. Pesca.
FRADE, F., & BACELAR, Amélia (1959) - Catálogo das aves da Guiné Portuguesa. II - Passeres. Junta das Missões Geográficas e de Investigação Coloniais, Lisboa. Memórias da Junta de Investigações do Ultramar, 7. Guiné-Bissau. Ornitologia. Fernando Frade e Amélia Bacelar.
FRADE, Fernando (1980) - Mamíferos da Guiné (colecção do Centro de Zoologia).  Garcia de Orta, Sér. Zoologia., 9 (1-2): 1-12.

(ii) Há outros, inúmeros, trabalhos sobre a fauna dos territórios do ultramar português, incluindo a Guiné, que seria fastidioso listar aqui..

_________________

Nota do editor:

Vd. poste anterior da série > 20 de julho de 2012 > Guiné 63/74 - P10175: Historiografia da presença portuguesa em África (42): Missão zoológica na Guiné, 1944/46, chefiada pelo naturalista Fernando Frade (1898-1983) (Parte I)

Guiné 63/74 - P10178: (In)citações (41): Serpentes, feitiços e casamentos inter-étnicos... (Cherno Baldé)


1. Comentário, de 19 do corrente, do nosso amigo Cherno Baldé [, aqui na foto, quando jovem estudante em Kiev, Ucrânia, no final dos anos de 1980], ao poste P10166:


Caro Luis Graça e amigos,

Esta serpente verde ], a mamba verde,] é bem conhecida e motivo de muita desgraça entre as populações do sul da Guiné, mais precisamente entre os jovens que se ocupam do trabalho do corte de chabéu e da limpeza das plantaçoes de bananeiras.


E, muitas vezes, pelo facto das habitações estarem rodeadas de árvores de cola e pés de bananas, ela chega a invadir as casas e semear o terror.

O mais interessante, no fim, é que a explicação ou justificação da sua existencia e das desgraças que provoca é, como se pode perceber, sempre de natureza social e/ou existencial. Não é a serpente que mata mas sim o vizinho ao lado ou a madrasta má que se transformam e, furtivamente, atacam as vitimas.

As vezes, as explicações, de tao reais, chegam a ser convincentes, pois nao raras vezes, ou as serpentes perseguem as suas vitimas ou estão escondidas em cima da palmeira a sua espera. As mordeduras são sempre mortais.


Por diversas vezes, tive ocasião de visitar esta região, ouvir falar e assistir a alguns casos porque a familia materna da minha esposa [, foto à esquerda,] é da etnia Nalu e natural de Calaque, aldeia situada entre Cassaca e Campeane, no sector de Cacine.

A titulo de curiosidade, digo que somos, assim, um casal misto que representa o cruzamento de um Nordestino, região colaboracionista e aversa ao PAIGC,  e duma mulher originária do Sudeste (Cacine), filha de antigos combatentes do PAIGC e nascida em Boé (Fevereiro de 1973), que foram os maireos bastiões deste movimento durante a luta.

Um abraço amigo, Cherno Baldé

______________________

Nota do editor:

Último poste da série > 5 de junho de 2012 > Guiné 63/74 - P9999: (In)citações (40): Deixem-me aliviar a angústia das notícias vindas da minha terra (Braima Djaura, ex-sold cond auto, CCaç 19, Gudiaje, 1972/74)

sábado, 21 de julho de 2012

Guiné 63/74 - P10177: Do Ninho D'Águia até África (1): Mobilização e partida para um Comando de Agrupamento (Tony Borié, ex-1º cabo cripo, Cmd Agrup 16, Mansoa, 1964/66)

1. O Tony Borié*, que entrou há tempo para a Tabanca Grande, ofereceu-se para para publicar, no todo ou em parte, um livro em formato eletrónico (o chamdo e-book) que ele elaborou com as suas memórias de há quase meio século. Chamou-lhe Do Ninho de d´'Aguia até à África... É um caminho, coletivo, que todos nós também conhecemos. Mas é também um caminho, único, individual, singular... O caminho que nos levou, das nossas terras, até a um país, em África, na África Ocidental, a alguns milhares de quilómetros de casa... Combinámos com ele editar, no nosso blogue, todas as semanas, o livro eletrónico (que nunca foi publicado em papel, é portanto um inédito).

Há tempos eles explicou-nos a génese deste livro:

(...)"Eu relacionava-me bem com os meus camaradas, em especial do batalhão de artilharia 645, e de um pelotão de morteirosde que não me recorda o número, mas dormia na mesma camarata deles, e vivia todas as suas peripécias. Esse pelotão teve três mortos,  se não me engano, e eu chorei-os como se fossem meus irmãos. Eu tinha acesso a todos os reportes de toda a movimentação de tropas que se fazia na região do Oio e é com esses elementos de que me vou lembrando, que escrevi o livro. Não menciono nomes verídicos nem lugares, mas toda a história se passou na região do Oio e é verídica. Houve esses ataques e houve essas minas que rebentaram, e houve esses camaradas que desapareceram para sempre, embrulhados num camuflado todo roto e ensanguentado, e alguns, com um ar de crianças no rosto"- (...)

Ele vai-nos mandando um número de páginas que pode ser variável (4 a 8), é preciso é que cada poste (ou parte) corresponda a um "episódio", "situação", "cena" ou "pequena história"... para não se perder o fio à meada... Como ele estás nos EUA há quatro décadas (vive hoje na Florida), é normal aparecer um ou outro erro de português, ortográfico (ou até de simples processamento de texto) que vamos procurar detectar e corrigir, com a plena anuência e bom vontade do autor,  a quem agradecemos desde já o seu companheirismo e generosidade.  O título da série é dele: os substítulos serão, em princípio, da responsabilidade do editor de serviço. (CV)

2. Do Ninho D'Águia até África (1): Mobilização e partida
por Tony Borié (EUA, Florida)


O comboio das dez e meia da manhã levou o Tó d’Agar, da vila até à cidade. No quartel da cidade, vai  “às Sortes”. Os doutores ordenam-lhe que tire a roupa, e inspeccionam o seu corpo nu, de diversos ângulos. Mandam abrir a boca, mostrar os dentes, dar saltos, baixar-se, abrir e fechar as pernas, ler algumas letras, curvar-se e metem-lhe o dedo no ânus, que bastante lhe dói, verificam as mãos e os pés, se tem cinco dedos, tudo isto entre outras coisas. Falam entre si, numa linguagem, talvez técnica, mas incompreensível. No final, o que tem cara de mais velho, dos ditos doutores, ordena-lhe que se vista, e entrega-lhe um papel com o seu nome, que tem um carimbo a letras vermelhas, onde se lê “Apurado para todo o serviço militar”.

Algum tempo depois, recebe uma carta registada, na casa de seus pais, a notificá-lo para se apresentar num quartel militar da província, a fim de ser incorporado no exército de Portugal.

O Tó d’Agar, depois de passar por esse quartel militar da província, onde recebe uma instrução básica, que era concentrada em saber defender-se, e como deve matar. Matar de diferentes maneiras, usando diferente partes do corpo, onde pode produzir uma morte rápida, ou prolongada. A instrução foi baseada em saber matar. O militar que proporcionava a instrução, tinha regressado, há pouco tempo,  de uma comissão numa província do ultramar, contava histórias de combate, exemplificava, em cada instruendo, o local do corpo, em que devíamos acertar com uma bala, ou com uma faca. Fazia isso, com tal precisão, e com os olhos vidrados de raiva, que até assustava os instruendos.

Terminada essa instrução básica, é transferido para os arredores da capital, onde recebe um pequeno treino de especialização. Durante este treino, dizem-lhe constantemente que é um filho da Pátria, que deve dar a vida por ela, que a partir do final, quando receber todo este treino de especialização é um militar fora do normal, que não pode dormir na mesma caserna, com outros militares, pois pode ter insónias, e revelar segredos de Estado a que vai ter acesso no futuro, e fazer perder uma guerra, e mais um blá, blá, blá, que,  quando acaba o treino, vem com um peso no corpo, como se carregasse com dez milhões de portugueses às costas!

Entretanto, rebenta outra rebelião de independência, noutra província do então ultramar português. É mobilizado. O chefe do governo de Portugal dizia na rádio e na televisão, também do governo, para que o povo português, visse e ouvisse:

- VAMOS PARA A GUERRA, E EM FORÇA!

Não teve tempo, nem para se despedir da família na sua aldeia do vale do Ninho d’Águia.

Sem dar por nada, tem umas botas novas calçadas, e está vestido de amarelo, com um saco às costas e uma mala de cartão, no cais da alfândega de Lisboa, esperando a sua vez de entrar para o navio que havia de o levar para a província da Guiné, onde começava uma guerra traiçoeira e imprevista. Chora sem lágrimas, para dentro, pensando que já é um homem. O navio apita três vezes, chamando todos para bordo. O apito  é rude e de aflição, não é um apito bonito, como era o comboio das seis e meia, na sua aldeia do vale do Ninho d’Águia.

O primeiro dia no alto mar é de surpresa e admiração. Tanta água, de um lado e do outro, não dá para compreender, não há terra à vista, de vez em quando, passa um barco, lá ao longe, e apita. Ao terceiro, ou quarto dia, viam-se peixes voadores, saíam da onda, e voavam uns segundos, desaparecendo noutra onda, alguns iam de encontro ao barco. O convívio com futuros colegas de companhia começa a fazer-se. Alguns perguntam:
- De onde és? Como te chamas?

Se o nome é difícil de pronunciar, passa a chamar-se pelo nome da terra ou região onde nasceu. Assim, aparece em cenário de guerra, o primeiro cabo Bolinhas, o Açoriano, o Lisboa, o Matateu, o Setúbal, o Corcunda, o Morteiro. O Tó d’Agar passou a chamar-se “o Cifra”, talvez por causa da especialidade.

Passados uns tantos dias, chegam ao porto de destino. Era manhã cedo, um nevoeiro fraco, mas quente, muito quente e húmido, não corria nenhuma aragem, era abafado. Lá ao longe, algumas casas, um intenso arvoredo, verde e de outras cores, rente à água, com árvores gigantes aqui e ali. O cais de desembarque, via-se a umas tantas centenas de metros do barco. Não se podia atracar, apesar de o barco ser pequeno. Os militares iam sendo desembarcados, em lanchas, que os transportavam, assim como todo o equipamento militar, ao cais.

Esta operação, demorou um dia. Já em terra, e deslocados para uma área, onde se via a tal vegetação verde e de outras cores, rente à água, com árvores gigantes, aqui e ali, começou a organização, dentro da desorganização. É distribuída uma ordem, num papel, género da “ordem do dia”, onde era comunicado: O Agrupamento número tal vai juntar-se à Companhia de Infantaria número tal, que está estacionada no espaço número tal, e o Pelotão de Morteiros, número tal, fica agregado à Companhia de Infantaria número tal, que se deve encontrar na zona tal, e por aí adiante. Tudo em campo aberto. Com a movimentação de militares e viaturas, passado uns tantos dias, o local do acampamento estava coberto de lama, e com ela, milhares de mosquitos. Neste cenário, viveram quase três semanas, até serem enviados para o interior da província, e possível cenário de guerra.

Neste espaço de tempo, não havia água potável, nem para beber, ou lavar simplesmente a cara. Era em bidões vazios de gasóleo ou óleo, que se lavavam, e enchiam com água turva dos rios e pântanos próximos, esperava-se umas horas para que algumas impurezas assentassem no fundo, e depois essa água, era utilizada. Viviam à base de ração de combate. Pela manhã, em determinada área, ferviam água, e faziam café, muito forte, que distribuíam com um naco de pão, ou um biscoito. Um pouco retirado do acampamento, abriam-se valas no chão, que serviam de latrinas. Aqui começava a lei da sobrevivência. Tudo era motivo para discussão entre militares, e às vezes havia mesmo confrontos físicos. Neste maldito acampamento, com algumas centenas de militares, houve um suicídio, e vários casos de febre constante, que, diziam, era a doença do paludismo.

O Cifra, que é como o Tó d’Agar passa a ser conhecido em cenário de guerra, ao fim de aproximadamente três semanas, sai do acampamento, e vai para o interior da província, onde se começava a desenrolar o conflito. O Comando do Agrupamento a que pertence, instalou-se numa vila do interior, nas instalações do que diziam ser um antigo convento de padres de uma ordem religiosa francesa, quase em ruínas, onde já se encontrava alguns militares, que iniciaram a construção de um aquartelamento, que mais tarde, viria a ser o principal e mais importante posto avançado para o interior da província. (,,,)

(Continua)
____________

Nota de CV:

(*) Vd. poste de 13 de Julho de 2012 > Guiné 63/74 - P10150: Camaradas da diáspora (11): Tony Borié, ex-1º cabo cripto, Comando de Agrupamento nº 16 (Mansoa, 1964/66), a viver na Flórida, EUA

sexta-feira, 20 de julho de 2012

Guiné 63/74 - P10176: O Nosso Livro de Visitas (143): Gama Carvalho, ex-fur mil cav, 2ª C/BCAV 8323 (Piche, Buruntuma e Piche, 1973/74), aceita o nosso convite para se tornar grã-tabanqueiro...

1. Em resposta ao nosso convite, para ingressar na Tabanca Grande, o Gama Carvalho (ou Carlos Holyday ou Carlos da Gama) registou e respondeu que... sim, embora tendo que formalizar essa entrada só mais tarde, por não ter oportunidade de nos mandar agora as fotos da praxe... Recorde-se que é (i) o autor do blogue Estrada Fora (ou Memória da Micha,  nome de guerra da sua autocaravana, foto à direita) , (ii) vive em Braga e (ii) pertenceu á 2ª C/BCAV 8323 (Piche, Buruntuma e Piche, 1973/74).

(i) 17/7/2012:

Gama Carvalho: Estamos na campanha dos 600 grã-tabanqueiros até ao final do ano... Teríamos muito gosto em que entrasses, com a tua Micha... Manda duas linhas a teu respeito... Posto, companhia (2ª...), e o mais que quiseres acrescentar... Não há aí duas fotos tipo passe, uma dos 20 anos e outra dos 60 ou 59 ?,,, Vou publicar a história do teu regresso, em poste de amanhã... O Carlos Marques dos Reis (Fá Mandinga e Mansambo, CART 2339, 1968/69) também é caravanista... Um ab. LG


(ii) 19/7/2012:

Caro Luís Graça:


Antes de mais, quero deixar-lhe o meu vivo obrigado pela pronta e afetuosa recepção que muito me sensibilizou. Felicito-o, igualmente, pelo extraordinário blog «Luis Graça  & Camaradas da Guiné».

Como lhe referi, anteriormente, já há um bom tempo que visito esse espaço de memória onde gosto de me encontrar. Daí que tenha ganho coragem para me dirigir a si, dando conta de alguns pedaços de vida que, de quando em vez, guardo na «Memória da Micha».

Agradeço-lhe, uma vez mais, a oportunidade de recordar os tempos passados na nossa Guiné.

Pertenci, como referiu, à 2ª Companhia de Cavalaria do BCAV 8323, comandada pelo Cap Tapadinhas. Tinha o posto de furriel miliciano.

Vivo em Braga, terra do meu nascimento. Trabalhei no Ministério da Saúde, durante 36 anos, onde exerci alguns cargos de chefia (Chefe de Divisão, Diretor de Serviço e Sub-Diretor Geral). Daí que lhe confesse que alguns dos seus textos da área da sociologia da saúde foram de grande importância na minha vida profissional.

Quanto às fotos: de momento não tenho oportunidade de enviar. Fica para mais tarde.

Um abraço do

Carlos da Gama

2. Comentário de L.G.:


Na realidade, caro camarada, o Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande!... Guiné e Saúde são já coincidências a mais... Também passei pela saúde (até 1994, a Escola Nacional de Saúde Pública era um organismo central do Ministério da Saúde, tendo nessa data passado para a Educação, como unidade orgânica da Universidade Nova de Lisboa), e continuo a trabalhador no campo da saúde, investigando e ensinando matérias de saúde pública...

Fico contente por saber que os meus textos de apoio, na érea da sociologia das organizações e profiasões de saúde, disponíveis em acesso livre na minha página çpessoal, tiveram utilidade para pessoas como tu que pertenceste à carreira de pessoal dirigente do Ministério da Saúde...

Enfim, temos mais uma razão ou um pretexto para nos sentarmos aqui à sombra do nosso poilão e pôr a conversa em dia... Vou então aguardar que um dia destes nos mandes as duas fotos da praxe para a tua apresentação formal aos restantes camaradas que integram a Tabanca Graende. Até lá, boas viagens com a tua Micha, e demais família. Muita saúde e longa vida, camarada! Luís Graça.


_________________

Nota do editor:

Último poste da série > 8 de julho de 2012 > Guiné 63/74 - P10131: O Nosso Livro de Visitas (142): Rodrigo Moura, de Leça do Balio, Matosinhos, ex-sold radiotelegrafista, CART 2440 / BART 2857, Piche, 1968/70... Já voltou a Bissau, desde 2000, cerca de 20 vezes...

Guiné 63/74 - P10175: Historiografia da presença portuguesa em África (42): Missão zoológica na Guiné, 1944/46, chefiada pelo naturalista Fernando Frade (1898-1983) (Parte I)





1.  Chefiada por Fernando Frade, a Missão Zoológica da Guiné decorre entre dezembro de 1944 e maio de 1946. Nesse período a que corresponderam cerca de 300 dias de trabalho de campo, a equipa deu um importante contributo para o conhecimento da fauna terrestre e marítimo-fluvial da província. Andou por sítios que muitos de nós conhecemos como a ilha de Bissau, Enxalé, Cuor, Bambadinca, Bafatá, Contuboel, Xitole,  Buba, Catió, Cacine, Piche, Madina do Boé... 

Um primeiro relatório, com 5 partes, é logo publicado em 1946, como separata dos Anais da Junta de Investigações Coloniais. Não tivemos ainda acesso a essa publicação, os excertos (texto e fotos) que aqui publicamos são possíveis graças à divulgação (e à cortesia) da página lusófona Triplov (leia-se: Triplo Vê), superiormente dirigida e animada por Maria Estela Guedes.


Escritora e crítica literária, Maria Estela Guedes (n. 1947), também bebeu, como nós, a "água do Geba": viveu na Guiné entre 1955 e 1966, para onde foi com os pais, emigrantes ( e sobre esse tempo, de que guarda uma viva e apaixonada memória, escreveu um livrinho de poesia, Chão de Papel, Lisboa: Apenas Livros Editora, 2009, 48 pp.)...


É também investigadora no Centro Interdisciplinar de Ciência, Tecnologia e Sociedade da Universidade de Lisboa (CICTSUL). O sítio (ou portal)  é dedicado a Ernesto de Sousa e é uma verdadeira caixa de surpresas, merecendo amiudadas e prolongadas visitas, já que os interesses científicos, estéticos e culturais de Maria Estela Guedes são tão vastos como o mundo e tão profundos como a vida, as artes, as ciências, o esoterismo. É diretora da revista digital TriploV de Artes, Religiões e Ciências.








FRADE, F. Amélia Bacelar, e Bernardo Gonçalves (1946) - Relatório da missão zoológica e contribuições para o conhecimento da fauna da Guiné Portuguesa. Separata dos Anais da Junta de Investigações Coloniais, Lisboa, Vol. I. Trabalhos da Missão Zoológica da Guiné (1-5): 259-416. Fernando Frade. Guiné-Bissau. Zoologia.











A equipa era constituída por: (i) Fernando Frade (professor extraordinário da Faculdade de Ciências de Lisboa), (ii) Amélia Bacelar (naturalista do Museu Bocage) e (iii)  Bernardo Gonçalves (assistente investigador da JIC - Junta de Investigações Coloniais.

  






Fonte: Cortesia do sítio Triplov > Missão Zoológica na Guiné: Fernando Frade, Amélia Bacelar e Bernardo Gonçalves


2. Alguns notas biográficas sobre Fernando Frade Viegas da Costa (1898-1983), recolhidas por L.G.:



(i) Nasceu em Lisboa, em São Mamede, em 27 de abril, e morreu, também em Lisboa, em 15 de abril., à beira de completar os 85 anos;



(ii) Era casado com Amélia Vaz Duarte Bacelar (n. 1890), também sua companheira da aventura científica (integrou, por exemplo, a missão zoológica na Guiné);

(iii) Em 1924, por concurso, Fernando Frade é nomeado naturalista do Museu Bocage; nessa qualidade organizou os catálogos sistemáticos das Aves e dos Mamíferos existentes no Jardim Zoológico de Lisboa.



(iv) Em 1938  é eleito Vereador da Câmara Municipal de Lisboa, ao tempo do presidente Eduardo Rodrigues Carvalho (1930-44) que veio substituir o Duarte Pacheco (, nomeado ministro das Obras Públicas e Comunicações), e o nome ficará para sempre ligado  ao parque florestal de Monsanto.

(v) Chefiou várias missões científicas ao ultramar português;



(vi) Entre 1922 e 1980 publicou publicou centenas de artigos científicos ou de divulgação científica, capítulos de livros e livros, muitas vezes em colaboração  com a sua esposa, Amélia Bacelar;


(vii) Era um cientista da natureza, e sobretudo um zoológo, no sentido amplo em que a revista Garcia de Orta entende a Zoologia, abrangendo os seus diferentes ramos (Mamalogia, Ornitologia, Herpectologia, Ictiologia, Entomologia, Planctonologia, Helmintologia, etc.);


(viii) Foi muito importante o seu contributo para o conhecimento científico da fauna das antigas províncias ultramarinas portuguesas, com destaque para a Guiné, Angola, Moçambique e São Tomé e Príncipe.


(Continua)


_______________

Nota do editor:

Último poste da série > 11 de março de 2011 > Guiné 63/74 - P7925: Historiografia da presença portuguesa em África (41): A Carta de Chamada (A. Rosinha / A. Branquinho / C. Cordeiro / M. Joaquim / J. Amado / A. Guerreiro)

Guiné 63/74 - P10174: Notas de leitura (382): A Caça no Império Português, de Henrique Galvão, Freitas Cruz e António Montês (Mário Beja Santos)

1. Mensagem de Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70) com data de 28 de Maio de 2012:

Queridos amigos,
Mais um achado da Feira da Ladra, em cima de um estrado onde se podiam encontrar revistas de cinema, publicações de viagem e estudos de genealogia, encontrei este fascículo de uma obra que é considerada das mais emblemáticas sobre a caça em Portugal. Terá interesse o que ali se escreve para os estudiosos de hoje, Henrique Galvão e colegas do projeto põem muitas reticências às espécies cinegéticas apontadas nos trabalhos de Monard, e são prudentes quanto ao que ouviram de naturalistas cotados e informações de caçadores.
Este fascículo fica a pertencer ao blogue.

Um abraço do
Mário


A Caça no Império Português: A Guiné

Beja Santos

“A Caça no Império Português” da autoria de Henrique Galvão, Freitas Cruz e António Montês, foi editada pelo jornal “O Primeiro de Janeiro”, em 1943 e depois editado em dois volumes, com uma belíssima apresentação. Os bibliófilos disputam a obra que se vende por importâncias que se aproximam dos 500 euros, dada a sua raridade. O fascículo nº 6 está sobretudo centrado na Guiné portuguesa.

Para os autores, a Guiné de então não podia ser apontada ainda como um paraíso de caçadores, mas as espécies cinegéticas interessantes são dignas de ser tomadas em atenção: antílopes, búfalos, leopardos, símios e hienas, hipopótamos, jacarés… Sendo das colónias menos estudadas por naturalistas, avançam os autores, dão, sob todas as reservas, a classificação científica dos animais que constituem a lista de espécies cinegéticas da Guiné. Queixam-se que falta uma lei de caça para a colónia e por isso estão desaparecendo ou escasseando algumas espécies cinegéticas.

Começando pelos grandes mamíferos, informam que o elefante é raro na Guiné e põem mesmo em dúvida se existe. O seu habitat situar-se-ia nas margens do Corubal e poderia ter ido até Buba e Fulacunda. Quanto ao hipopótamo ou cavalo-marinho reconhecia-se ser muito abundante na colónia.

Quanto aos bovinos referem o búfalo, abundante em S. Domingos e Susana e entre S. Domingos e Barro; no Leste, na região do Boé, em Quinara, em Fulacunda, em Enxalé e Xitole e no Sul em Cacine e na região de Tomabali.

O leão era já dado como raro embora houvesse relatos da sua existência em Xitole e Farim. O leopardo (impropriamente designado por onça e pantera), só era conhecido através de uma espécie. Os autores falam também na hiena, no mabeco, cão do mato e chacal.

Passando para os pequenos carnívoros põem em dúvida a existência do lince africano e dizem existir por toda a colónia o gato bravo e o gato tigre. Consideram que proliferam os manguços ou genetas, as lontras e algumas espécies de doninhas. No que toca aos grandes antílopes, põem reservas sobre a sua existência na Guiné e escrevem mesmo: “A existir, como alguns caçadores asseguram, é muito raro.

Apareceria, ocasionalmente, na região do alto Geba e nas nascentes do Cacheu”. Boca branca é o nome que na Guiné se dá à palanca de Angola e afirmam estar espalhada no interior tal como o Bubal. Quanto a médios e pequenos antílopes registam a gazela de lala, o sim-sim, a gazela pintada, as cabras e cabritos de mato e põem em dúvida a existência do cabrito aquático. Escrevem que os javalis se encontram nas grandes florestas e elencam vários tipos de macacos: galago do Senegal, chimpanzé, macaco fidalgo, macaco sera, macaco verde, macaco de nariz branco, macaco fula e macaco cão. No que toca a outros mamíferos dão com existência comprovada o porco-espinho, a lebre ou porcos formigueiros.

A lista de aves da Guiné é vastíssima, abrange centenas de espécies. Os autores entendem só dever referir as que têm interesse cinegético: pelicanos, marabus, garças e patos; a lista de aves de rapina é enorme: milhafre, açor, águia, abutre, isto sem esquecer mochos, corujas e o corujão; seguem-se as galinhas do mato, perdizes (a choca era a espécie mais conhecida) galinha de água, maçarico, calhandra do mar, perna longa; e convém não esquecer os pombos, as rolas e codornizes.

E chegámos aos répteis: jiboia, cobras (os autores dão como venenosas a capelo, a cuspideira e a surucucu), víboras venenosas, o lagarto de água e os crocodilos. A edição é muitíssimo bem apresentada, a título de curiosidade juntam-se algumas imagens que seguramente nada tem a ver já com a caça da Guiné-Bissau.

____________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 16 de Julho de 2012 > Guiné 63/74 - P10157: Notas de leitura (381): O Meu Diário, Guiné - 1964/1966, CCAÇ 674, de Inácio Maria Góis (3) (Mário Beja Santos)

quinta-feira, 19 de julho de 2012

Guiné 63/74 - P10173: Patronos e Padroeiros (José Martins) (35): São Lourenço de Brindisi, Frade, combatente e Santo

1. Mensagem do nosso camarada José Marcelino Martins (ex-Fur Mil Trms da CCAÇ 5, Gatos Pretos, Canjadude, 1968/70), com data de 15 de Julho de 2012 trazendo até mais um Padroeiro:

Boa noite
Não sendo Patrono de alguma "coisa", foi um capelão militar, portanto um combatente que se tornou Santo.
É uma homenagem aos capelães que, no exercício da sua missão, foram missionar terra inóspita, mas junto dos tiros que ouvimos, em colunas ou nos destacamentos, porque julgo que os comandantes de batalhão não os deixavam participar em patrulhas.
José Martins


Patronos e Padroeiros XXXV 

São Lourenço de Brindisi

Frade, combatente e santo

Imagem Lepanto, com a devida vénia

Júlio César Russo, filho de Guilherme Russo e Isabel Masella, nasceu em Brindisi, centro da Itália, a 22 de Julho de 1559. Os seus pais, gente simples mas muito devota, tentaram incutir-lhe, desde o berço, os princípios da Fé Cristã. Aos oito anos, ainda uma criança, perdeu o pai. Mesmo assim é encaminhado para um pequeno seminário de franciscanos, destinado a meninos oblatos, onde se distinguiu pela sua inteligência e memória, facto que foi notado pelos mestres e condiscípulos.


Quando chegou à adolescência, foi viver com um tio paterno, o Padre Rossi, que dirigia uma escola privada, em Veneza, para os alunos que seguiam o seu curso na Universidade de São Marcos. Apercebendo-se dos dotes do seu sobrinho, não hesitou a incentivá-lo a seguir a vida eclesiástica.

Júlio César decide entrar para a Ordem dos Capuchinhos em Veneza, adoptando para si o nome de Lourenço, dedicando-se ao estudo das línguas latina, hebraica e grega, enquanto aprofunda os conhecimentos em História, Filosofia e Teologia. O seu grau de memorização era tal que, confidenciou a um condiscípulo que, se a Bíblia desaparecesse ele, Lourenço, seria capaz de reconstrui-la.

Mesmo antes de ser ordenado sacerdote, já Frei Lourenço fazia sermões, que levaram muitos à conversão, e de tal forma o fez que, o Papa Clemente VIII o incumbiu de pregar aos judeus de Roma.

Aos 30 anos foi eleito Superior do Convento de Baiana del Grappa, a que se seguiu a eleição para Vigário Provincial da Toscana e Definidor Geral da Ordem e, mais tarde Superior do Convento de Veneza e Provincial de Veneza.

Surgem apelos, do Tirol e do Império Austro-húngaro, para a ida de missionários católicos romanos para aquelas paragens, a fim de “contrapor” a influência que os protestantes exerciam sobre o Imperador Rodolfo, através de várias figuras da sociedade, que reivindicavam a expulsão dos missionários.

Liderando um grupo de doze confrades, Frei Lourenço dá início à fundação de novos conventos no império em Praga, Viena e Gratz, cidade de que era governador o Arquiduque Ferdinando, que veio a ser Imperador.

Noutra fase, quando a Hungria foi invadida pelos turcos, que após a sua conquista avançaram sobre Viena, foram solicitados dois frades para servirem de capelães do exército. Frei Lourenço foi um dos que se ofereceu para esse mister e, de tal forma o levou à prática, que era normal vê-lo, no meio dos combates, com o crucifixo ao alto, incitando os soldados ao combate.

Os invasores ao notarem a figura do religioso que, mesmo desarmado, animava as tropas na batalha, passaram a dirigir os seus ataques sobre ele, mas nada o fazia derrubar. De tal forma que os próprios soldados o seguiam com confiança, certos de que a sua presença era uma muralha que os protegia.

Frei Lourenço também protagonizou uma outra situação semelhante quando, a pedido do Papa Paulo V, solicitou a Filipe III de Espanha uma acção contra os mouros daquele país que, organizados, já constituíam uma força considerável. O pequeno exército comandado por Dom Pedro de Toledo e, com o ânimo de Frei Lourenço, expulsou os antagonistas das suas posições e apoderaram-se dos seus bastiões.

Frei Lourenço, na sua ânsia de defesa da Fé Católica, não só esteve sempre na linha da frente contra o que considerava herético, mas também desenvolveu actividade diplomática, junto dos príncipes católicos, evitando muitas vezes o confronto pelas armas, como era uso na época para a resolução das divergências entre estados.

De cima do púlpito, da forma como interpretava e transmitia a sua fé e os seus conhecimentos aos fiéis, deixou bem expressa a sua devoção a Maria, Mãe de Deus: "Todo dom, toda graça, todo benefício que temos e que recebemos continuamente, nós os recebemos por Maria. Se Maria não existisse, nós não existiríamos e não haveria o mundo" e "Deus queira que todos, todos, todos, e desde a infância, aprendessem bem depressa essa verdade: aquele que se confia a Maria, que se entrega a Maria, não será jamais abandonado, nem neste mundo nem no outro".

A missão que enfrentou junto de Filipe III, rei do maior país católico da Europa no final da segunda década do Século XVII, estava a tornar-se muito difícil de levar a cabo, o que o levou a “prever” e a anunciar a sua própria morte, a que se seguiria a morte do rei espanhol e do próprio pontífice, e que, o oponente do monarca espanhol também teria a sua morte a curto prazo.

Em 22 de Julho de 1619, na cidade de Lisboa no dia em que completava sessenta anos de idade e na sequência de um ataque de gota, morria Frei Lourenço de Brindisi, que seria trasladado para Villafranca del Bierzo, no norte de Espanha.

Tendo sido já considerado santo pelos seus seguidores, a Igreja Católica reconhece-o como Beato em 1783, pelo papa Pio VI, é canonizado pelo papa Leão XIII em 1881 e proclamado Doutor da Igreja, em 1959, pelo Papa João XXIII, sendo fixada a sua festa litúrgica para o dia 21 de Julho.

José Marcelino Martins
14 de Julho de 2012
____________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 14 de Julho de 2012 > Guiné 63/74 - P10152: Patronos e Padroeiros (José Martins) (34): S. João Capistrano - Patrono dos Capelães Militares