sábado, 10 de agosto de 2013

Guiné 63/74 - P11926: In Memoriam (157): Luís Filipe Borrega - † 10 Agosto 2013, ex-Fur Mil Cav MA da CCAV 2749/BCAV 2922 (Piche, 1970/72)

CADA VEZ SOMOS MENOS

LUÍS FILIPE BORREGA

Ex-Fur Mil Cav MA da CCAV 2749/BCAV 2922 - Piche, 1970/72
N. 27 de Setembro de 1948 - † 10 de Agosto de 2013

É uma frase que nos arrepia ”Cada vez somos menos”. Ainda estamos a recuperar da notícia do falecimento do Manuel da Silva Marcelino e acabamos de saber, pela página do facebook: Voz dos Combatentes, que o nosso Camarada Luís Filipe Borrega, faleceu hoje, dia 10 de Agosto, por volta das 10H30, vítima de problemas cardíacos. 

Era um tabanquista de peso, colaborador e habitual comentador deste blogue, tendo enriquecido sobremodo este nosso virtual “aquartelamento” brindando-nos e legando-nos o seu valioso testemunho em vários postes, que podem ser vistos clicando no seguinte link: 
http://blogueforanadaevaotres.blogspot.pt/search/label/Lu%C3%ADs%20Borrega

A propósito, pessoalmente, gostei muito de uma sua mensagem que muito diz do seu grau de camaradagem e amigável personalidade, publicada em 26 DE OUTUBRO DE 2009 > Guiné 63/74 - P5161: Os Nossos Seres, Saberes e Lazeres (11): Operação Tripas na Cidade Invicta (Luís Borrega)

Em nome dos editores e demais Camaradas desta imensa tertúlia, resta-nos endereçar à enlutada família, esposa e filhos, as nossas mais profundas condolências e sentidos pêsames.

2. Comentário do editor: 

Vamos endereçar uma mensagem aos Camaradas desta tertúlia dando conhecimento da infausta notícia, sensibilizando também os camaradas de Setúbal e Arredores que tenham oportunidade de estar presentes, compareçam nas cerimónias fúnebres deste nosso camarada: Luís Borrega.
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Nota de M.R.: 

Vd. último poste da série em: 


Guiné 63/74 - P11925: Da Suécia com saudade (38): O que é feito de vocês, velhos camaradas e amigos ? (José Belo)

1. Mensagem de José Belo, o lusolapão:

Data: 9 de Agosto de 2013 às 15:44
Assunto: "A título de despedidas"....para MAIS Férias!

Dúvidas.

Seräo os cortes umbilicais dolorosos para os recém-nascidos? As pequenas, grandes divergências quanto a tamanhos dos umbigos...talvez.

Tendo em conta os parâmetros estabelecidos pelos Editores do blog (mais ou menos cumpridos na generalidade),  por vezes surpreendemo-nos com algumas das excepçöes.

Mas,"de gustibus et coloribus non disputandum" [, Gostos e cores não se discutem].

Surgem entäo críticas "umbilicais", lidas por uns como humor mais ou menos seco, por outros como ataques quase pessoais.

Para nós,  que nos temos uns aos outros, por se verificar ter a sociedade actual uma ideia muito própria dos ex-combatentes coloniais, será de lamentar que detalhes "fisiológicos" levem a afastamentos e à diminuição das contribuições de alguns dos Camaradas que, desde já há largos anos, nos habituáramos a seguir neste blog.




Nas suas diversidades fazem falta para o convívio interessante que este tem sido, e num espaço de tempo notável para um blog tão específico.

Ao recordar nomes e intervencöes sente-se por vezes quase a necessidade de efectuar uma "Formatura-de-Chamada"....näo "Do Recolher",  mas "De Alvorada". Um grande abraço aos Amigos.

Joseph Belo


PS - Novo E-mail dos States, é o que envio aos editores... E esta é a nova morada da Tabanca da Lapónia, depois de "bombardeada" por fanáticos islamistas....laplandkeywest.blogspot.com/

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Guiné 63/74 - P11924: Bom ou mau tempo na bolanha (25): O silêncio do Marafado (Tony Borié)

Vigésimo quinto episódio da série Bom ou mau tempo na bolanha, do nosso camarada Tony Borié, ex-1.º Cabo Operador Cripto do Cmd Agru 16, Mansoa, 1964/66.




Em novo, tinha andado com o pai e o irmão mais novo ao mar, uns dias dava boa pescaria, outros não dava, mas isso não era o importante, no fim do dia continuavam a beber na taverna do “Manhoso”, se houvesse dinheiro, pagavam e ofereciam um copo ao próprio “Manhoso”. Se não houvesse dinheiro, mandavam apontar no livro. No verão, quando um circo visitava a vila, ele ia ajudar a montar a tenda e ficava por ali, gostavam dele, pois além de ajudar era uma espécie de comunicador entre a população da vila e o pessoal do circo, ensinavam-lhe algumas habilidades e truques mágicos com que deliciava os companheiros.

Chamavam-lhe “O Marafado”, já falámos dele aqui, cantava uns fados, de tal maneira desafinados, que não se podiam ouvir, bebia vinho e fumava cigarros “Três Vintes”, era pequeno na estatura e moreno, talvez por andar sempre sem camisa. Era oriundo do Algarve, e em certa medida era comunicador e tinha alguma alegria, mas depois da cena que presenciou, com a morte de uns prisioneiros, que depois de mortos, ele e o Cifra, sempre ficaram com a ideia de que foram queimados e enterrados numa vala, nunca mais foi o mesmo. Cumpria as suas obrigações, nunca largava o seu rádio portátil, falava quando era necessário, evitava os contactos e conversas, vivia no seu mundo de silêncio, e alguns companheiros diziam-lhe:
- O Marafado, já está apanhado!

O Cifra sabia de que era derivado o seu silêncio, mas sempre respeitou e compreendeu a sua atitude. De algumas conversas que mantinha com o Cifra, dizia:
- Não sou pessoa de estar aqui preso, não sou pássaro de gaiola, preciso de ver o mar, fui pescador, isto está a matar-me aos poucos, o silêncio faz-me algum bem, pois fecho os olhos e penso na praia e no mar azul que deixei, quando vou para o mato, para mim, às vezes é bom, vejo a água dos rios e das bolanhas, e o verde das matas, estou aos poucos a odiar isto e também Portugal, assim que regressar, se regressar, vou fugir, vou emigrar.

Estas palavras eram ditas com convicção de quem sabe o que quer, eram directas, não admitiam argumentos e terminava quase sempre dizendo:
- Não falo, e quem me proibiu foi Portugal, ao matar aqueles desgraçados, a “sangue frio”, durante os interrogatórios!. Só tu e eu é que sabemos a verdade.

Muitas vezes questionou o Cifra, se conhecia algum contacto para fugir e “ir no mato”, mas o Cifra sempre lhe disse para tentar sobreviver, que iria regressar a Portugal.

Mais tarde o Cifra encontrou-o na diáspora, conviveu com ele e com a sua família, durante o tempo em que viveu na mesma cidade. Guardou a sua história, que é a história de mais um emigrante que abandonou o sol de Portugal, à beira mar plantado, para ir para o frio, à aventura, sozinho, na procura de um futuro que lhe desse algum bem-estar e o fizesse esquecer a guerra, o fizesse esquecer Mansoa, Olossato, Mansabá, Bissorã, a África, com chão de terra vermelha, que como tantos de nós, nunca esqueceu e que traz sempre dentro de si.
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Nota do editor

Último poste da série de 6 DE AGOSTO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11911: Bom ou mau tempo na bolanha (24): Fala mentira (Toni Borié)

Guiné 63/74 - P11923: Crónicas de uma viagem à Guiné-Bissau: de 30 de abril a 12 de maio de 2013: reencontros com o passado (José Teixeira) (12): Djufunco, a hospitalidade felupe, a solidariedade portuguesa



Guiné-Bissau > Região de Cacheu >  A caminho de Djufunxo > 9 de maio de 2013 >  Fotp nº 1 > O deserto do Cacheu



Guiné-Bissau > Região de Cacheu >   Djufunco > 9 de maio de 2013 >  Foto nº 2 >  O Centro Materno-Infantil, construído pelo Instituto Marquês de Vale Flor com apoio da Comunidade Europeia



Guiné-Bissau > Região de Cacheu >   Djufunco > 9 de maio de 2013 >  Foto nº 3 >  O Centro Materno-Infantil: a sala da maternidade


 Guiné-Bissau > Região de Cacheu >   Djufunco > 9 de maio de 2013 >  Foto nº 4 >  O Centro Materno-Infantil: a sala de espera (1)


 Guiné-Bissau > Região de Cacheu >   Djufunco > 9 de maio de 2013 >  Foto nº 5 >  O Centro Materno-Infantil: a sala de espera (2)


Guiné-Bissau > Região de Cacheu >   Djufunco > 9 de maio de 2013 >  Foto nº 6 >  Aspeto exterior  do antigo espaço onde as mulheres davam à luz.


Guiné-Bissau > Região de Cacheu >   Djufunco > 9 de maio de 2013 >  Foto nº 7 > Aspeto interior do antigo espaço onde as mulheres davam à luz.


Guiné-Bissau > Região de Cacheu >   Djufunco > 9 de maio de 2013 >  Foto nº 8  > Aglomerado de pessoas junto à escola para receber os visitantes.



Guiné-Bissau > Região de Cacheu >   Djufunco > 9 de maio de 2013 >  Foto nº  9 > Aspeto da dança guerreira efetuada pelas crianças da escola (1)





Guiné-Bissau > Região de Cacheu >   Djufunco > 9 de maio de 2013 >  Foto nº  10 > Aspeto da dança guerreira efetuada pelas crianças da escola (2)



Guiné-Bissau > Região de Cacheu >   Djufunco > 9 de maio de 2013 >  Foto nº  11 > Aspeto da dança guerreira efetuada pelas crianças da escola (3)

Fotos (e legendas): © José Teixeira (2013). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: LG]



1. Crónicas de uma viagem à Guiné-Bissau  (30 de Abril - 12 de maio de 2013) - Parte XII

por José Teixeira

O José Teixeira é membro sénior da Tabanca Grande e ativista solidário da Tabanca Pequena, ONGD, de Matosinhos; partiu de Casablanca, de avião, e chegou a Bissau, já na madrugada do dia 30 de abril de 2013; companheiros de viagem: a esposa Armanda; o Francisco Silva, e esposa, Elisabete.

No dia seguinte, 1 de maio, o grupo seguiu bem cedo para o sul, com pernoita no Saltinho e tendo Iemberém como destino final, aonde chegaram no dia 2, 5ª feira. Ba 1ª parte da viagem passaram por Jugudul, Xitole, Saltinho, Contabane Buba e Quebo.

No dia 3 de maio, 6ª feira, visitam Iemberém, a mata di Cantanhez e Farim do Cantanhez; no dia 4, sábado, estão em Cabedú, Cauntchinqué e Catesse; 5, domingo, vão de Iemberém, onde estavam hospedados, visitar o Núcleo Museológico de Guileje, e partem depois para o Xitole, convidados para um casamento ] (*)...

É desse evento que trata a 8ª crónica: os nossos viajantes regressam a Bissau, depois de uma tarde passada no Xitole para participar na festa de casamento de uma filha de um fula que, em jovem, era empregado na messe de sargentos e que tinha reconhecido o Silva, no seu regresso ao Xitole. A crónica nº 7 foi justamente dedicada ao emocionante reencontro [, em 1 de maio, ] com o passado, por parte do ex-alf mil Franscisco Silva, que esteve no Xitole, ao tempo da CART 3942 / BART 3873 (1971/73), antes de ir comandar o Pel Caç Nat 51, Jumbembem, em meados de 1973,

A crónica nº 9, corresponde ao dia 6 de maio: os nossos viajantes foram até Farim e regressaram a Bissau. já que o Francisco Silva, mesmo de férias, teve de fazer uma intervenção cirúrgica, a uma criança que esperava um milagroso ortopedista há mais de um ano! Na crónia nº 10, descreve-se a viagem até Varela, em 7 de maio. No dia 8, o grupo vai, de barco, até Elalab. Estamos em pleno chão felupe.

A crónica nº 12 é penúltima crónica do Zé Teixeira... Corresponde ao dia 9 de maio de 2013, passado na região de Cacheu, numa visita a Djufunco...  Próximas crónicas: 10 maio – Descanso em Varela;  11 maio – Regresso a Bissau e embarque de madrugada.



2. Parte XII: 9 de maiop de 2013, visita a Djufunco:

2.1. O deserto do Cacheu e o chão felupe

Entramos na reta final, nesta viagem de regresso à Guiné. Hoje, nove de maio, enfrentamos uma aventura diferente. Atravessar o areal que separa Suzana de Djufunko a norte do Rio Cacheu. Uma tabanca Felupe, só pode ser pelo seu isolamento, tão característico deste povo.

“Perdidos” entre o Rio Casamansa e o Rio Cacheu, com as suas tabancas construídas em espaços semidesérticos que envolve a região de Suzana e Varela, ou dentro desta região de beleza inconfundível, os Felupes de estatura elevada e grande robustez física, são um povo muito unido, fechado em si próprio, amigo do seu amigo, e de uma fidelidade profunda. Amantes da luta física como um desporto que praticam com paixão e os torna adversários temíveis.

São também conhecidos como peritos na azagaia e flechas como armas de eleição para a caça e defesa das suas comunidades. Se há dois anos atrás, na vista que fiz a Varela tive como segurança um velhinho guarda noturno que usava como arma um perigoso arco e respetivas flechas, o qual dormia a seu lado, toda a noite. Desta vez dispensamos segurança tal é a confiança que este povo nos inspira. Ainda há dias nos cruzamos em Ingoré com outro velhinho, antigo soldado portuguêsm  que vinha da caça com o seu arco, companheiro de muitos anos.

Pela sua forma de estar e ser, unidos e fechados na sua comunidade étnica, em que a honestidade e a seriedade é ponte honra, são vistos como pouco hospitaleiros pelas etnias envolventes, sobretudo a balanta. Não é verdade esta visão do povo Felupe. Trata-se de um povo simples, amante da sua terra que defende com vigor, que sabe acolher quem o visita com carinho e alegria. Aproveita para fazer festa, sem pedir nada em troca. Sentimos bem esta foram de estar em Elalab. Hoje vamos até Djufunko, uma tabanca perdida na areia que até há pouco tempo se servia da água de uma lagoa existente no meio da tabanca para as suas necessidades.

Um povo muito isolado pelo tipo de região em que vive, de acessos difíceis e afastada dos grandes centros. Esquecido e abandonada pelos poderes públicos, onde não existem qualquer infraestruturas de apoio à saúde,  bem-estar e ensino, a não ser as que vão sendo construídas pelas ONGDs locais como a AD e outras em parcerias com as organizações internacionais como a Tabanca Pequena, a Afetos com Letras, a Memórias e Gentes, a Tabanka,  a Plan International e outras. Um povo voltado para si próprio, orgulhoso dos seus princípios e formas de estar, simples e pobre, mas com história.

É acusado de canibalismo em tempos que se foram, mas acima de tudo é um povo trabalhador em que a mulher tem um papel muito importante na gestão das comunidades locais.

Às nove horas da manhã o condutor Bemba e o guia Kissimá esperavam-nos solícitos e preocupados com a água que precisaríamos de levar para matar a sede, porque o calor ia ser muito. Rapidamente nos conduzem até Suzana pela picada cheia de gente. Crianças a caminho da escola que nos dizem adeus e pedem “caneta,caneta” e adultos à porta das moranças ou envolvidos no trabalho diário.

Embrenhamo-nos no “deserto”, sentados, eu e o Francisco na caixa da carrinha aberta, para melhor desfrutarmos do ambiente que nos rodeia. Aliás, as nossas viagens pelo interior foram feitas sentados no descoberto da viatura para saborear tal como nos tempos idos da guerra a paisagem tão rica de beleza natural, pese embora, muito destruída devido à incúria das autoridades que facilitam o criminoso abate da floresta em troca de benesses pessoais, como está mais que provado.





Guiné-Bissau > Região de Cacheu >   Djufunco > 9 de maio de 2013 >  Foto nº  12  > Os Régulos da Tabanca, Alberto Sambú (o mais novo) e o Necolá Djata, com os seus banquinhos que os acompanham sempre.


Guiné-Bissau > Região de Cacheu >   Djufunco > 9 de maio de 2013 >  Foto nº  13 > Uma oferta simbólica das crianças da escola aos visitantes.

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Guiné-Bissau > Região de Cacheu >   Djufunco > 9 de maio de 2013 >  Foto nº  14 > A placa do poço construído pela AD com o apoio da Tabanca Pequena e a Câmara Municipal da Maia.




Guiné-Bissau > Região de Cacheu >   Djufunco > 9 de maio de 2013 >  Foto nº  15 > A lagoa de onde se abasteciam de água para consumo.



 .Guiné-Bissau > Região de Cacheu >   Djufunco > 9 de maio de 2013 >  Foto nº  16 >  O poilão sagrado e o altar para as ofertas e rezas ao Irã.




Guiné-Bissau > Região de Cacheu >   Djufunco > 9 de maio de 2013 >  Foto nº  17 > A seca de três qualidade de arroz.




Guiné-Bissau > Região de Cacheu >   Djufunco > 9 de maio de 2013 >  Foto nº  18 > O local sagrado das reuniões da comunidade, que neste dia se abriu pela primeira vez para reunir com a comunidade de brancos que visitou a tabanca, vendo os régulos no lugar que ocupam habitualmente (1) 


Guiné-Bissau > Região de Cacheu >   Djufunco > 9 de maio de 2013 >  Foto nº  19 > O local sagrado das reuniões da comunidade, que neste dia se abriu pela primeira vez para reunir com a comunidade de brancos que visitou a tabanca, vendo os régulos no lugar que ocupam habitualmente (2)


Guiné-Bissau > Região de Cacheu >   Djufunco > 9 de maio de 2013 >  Foto nº  20 >  O local sagrado das reuniões da comunidade, que neste dia se abriu pela primeira vez para reunir com a comunidade de brancos que visitou a tabanca, vendo os régulos no lugar que ocupam habitualmente (3).


Fotos (e legendas): © José Teixeira (2013). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: LG]



 2.2. A receção festiva dos felupes de Djufunco

Após cerca de uma hora de marcha lenta no areal, percorrida em potente jeep com tração às quatro rodas, com alguns atolamentos forçadas pelo caminho, vencidos com dos músculos dos turistas e populares que conseguiram uma boleia, chegamos a Djufunko.

Um grupo de mulheres esperava junto ao Centro Materno infantil, construído com o apoio da Comunidade Europeia. Fomos recebidos em festa, como é peculiar das gentes desta linda terra. Aproveitam todos os momentos para nos apresentar o seu folclore tradicional, a dança do batuque, cada etnia a seu jeito, sempre num ritmo contagiante. 

Visitamos de seguida o referido Centro acompanhados pela Comissão de mulheres responsáveis pela sua gestão. Dá prazer entrar dentro destes espaços e verificar a forma cuidada como são tratados. Muito limpo e asseado, com cada coisa no seu lugar. A comparação com o local em céu aberto ali mesmo ao lado, onde as grávidas até há pouco tempo sofriam os trabalhos de parto a diferença é abissal, daí o carinho e respeito que o Centro lhes merece. Elas que apenas queriam um espaço reservado onde pudessem ter os seus rebentos em lugar fechado e longe dos olhares curiosos, foram brindadas com duas salas, equipadas com o material minimamente necessário para facilitar um parto em ambiente reservado, limpo e higienizado. Organizaram-se em comissão para gerir o Centro e acolher devidamente as parturientes. 

As “matronas”, mulheres que adquiriram alguns conhecimentos práticos de apoio ao trabalho de parto expressam a sua alegria por terem agora melhores condições para executarem a sua nobre missão. Cá fora num espaço coberto com capim, espécie de sala de espera as outras mulheres aguardavam a nossa visita ao Centro Materno-Infantil para de seguida nos acompanharem até à escola, onde recentemente a Tabanca Pequena financiou a construção de um poço de água, de modo a garantir qualidade mínima na água de consumo para beber e cozinhar.

E a festa de receção continuou, agora com todas as crianças de escola, cerca de duzentas em festa. Receberam-nos com uma dança guerreira bem ritmada e acompanhado por cânticos a condizer. Espetáculo digno de se ver e apreciar, pelas vestimentas, pelo ritmo, pela alegria e pelos sons instrumentais, tudo isto, aliado à sonoridade dos cânticos e gritos típicos dos Felupes.

Os homens grandes, liderados pelos dois régulos,  estavam presentes para nos darem as boas vindas e agradecer em nome das crianças a construção do poço, junto à escola, pela qualidade da água que agora podem desfrutar. De recordar que até há pouco tempo a água para consumo era retirada de umas grande lagoa que existe no centro da população, sem o mínimo de garantia de potabilidade.

Do discurso do velho régulo Necolá Djata, sentado no seu banco recoberto com pano vermelho,  registei uma frase que me emocionou profundamente – “fostes para nós uma janela que se nos abriu para o mundo, porque nos ajudaram a ver que há outras formas de podermos ajudar o nosso povo a ser mais saudável e feliz”.

Seguiu-se uma visita guiada à tabanca,  tendo como cicerone o régulo Coronganço (Augusto) Sambú, com quem pudemos conversar em português corrente, sobre os usos e costumes do seu povo.

O régulo faz-se acompanhar de um pequeno banco em madeira, onde só ele se pode sentar, sob pena de perda de vida. Mesmo quando nos acompanharam pela tabanca, levavam o banco debaixo do braço e,  quando parávamos, sentavam-se nele. Cada terra tem seus usos e costumes, mas este é, com o devido respeito, deveras estranho.

Pudemos visitar o chão sagrado debaixo do poilão onde o povo simples vai encontrar-se com o Irã, o espírito superior, para implorar proteção e cura dos seus males, bem como o local sagrado onde os homens grandes se reúnem para decidir sobre as grandes questões que afetam o seu povo.

Neste local sagrado, os dois Régulos sentados no seu banco tradicional explicaram como se desenvolvem as reuniões da comunidade, cujas decisões são seladas com um jantar bem regado com vinho de palma e aguardente de cana. Do animal morto para o repasto ficam ali guardados a cabeça ou parte da dentuça como sinal de que houve acordo e o mesmo deve ser posto em prática. Isto fez-me lembrar os meus tempos de criança quando os homens de negócios nesse interior de Portugal selavam os seus acordos com uma caneca de saboroso vinho.

Registemos os seus pedidos. As crianças pediram uma televisão para a escola. As mulheres pediram medicamentos para que o enfermeiro que visita a tabanca uma vez por mês tenha “mezinho” para curar os seus males e os homens na pessoa do régulo Sambú pediram-no para voltarmos mais vezes.

Dá que pensar!

A hora da despedida é sempre a mais difícil. Recordo com saudade o fraterno abraço do régulo Augusto Sambú apelando ao meu ouvido para voltar.

O resto do dia, após o almoço em casa do Pepito e uma repousante sesta, foi passado na bela praia de Varela a saborear o excelente Algarve africano.

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Nota do editor:

Último poste da série > 2 de agosto de 2013 >  Guiné 63/74 - P11897: Crónicas de uma viagem à Guiné-Bissau: de 30 de abril a 12 de maio de 2013: reencontros com o passado (José Teixeira) (11): Visita ao Centro de Saúde Materno-Infantil de Elalab, em pleno chão felupe

Guiné 63/74 - P11922: Parabéns a você (609): Alberto Nascimento, ex-Soldado Condutor Auto da CCAÇ 84 (Guiné, 1961/63) e Tomás Carneiro, ex-1.º Cabo Condutor Auto da CCAÇ 4745 (Guiné, 1973/74)

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Nota do editor

Último poste da série de 9 de Agosto de 2013 > Guiné 63/74 - P11918: Parabéns a você (608): Anselmo Reis Garvoa, ex-Fur Mil Op Esp da CCAÇ 2315 (Guiné, 1968)

sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Guiné 63/74 - P11921: Convívios (523): Comemoração do 39.º aniversário do regresso da CCAÇ 4544/73, dia 8 de Setembro de 2013 (António Agreira)

1. Mensagem do nosso camarada António Agreira (ex-Fur Mil TRMS da CCAÇ 4544/73, Cafal, 1973/74), com data de 8 de Agosto de 2013:

Camarada, Carlos Esteves Vinhal 
Em primeiro lugar os meus cumprimentos, para si e de um modo geral a todos os camaradas residentes ou não na tabanca grande.

Passadas que são algumas Luas volto a contactá-lo no sentido de que dentro da medida do possível seja publicada a seguinte informação:


A CCAÇ 4544/73 vai comemorar o 39.º Aniversário do seu regresso no próximo dia 8 de Setembro.

O programa é muito simples, consta a concentração dos participantes junto ao mercado Municipal de Condeixa-a-Nova (visita ao museu de Conímbriga facultativa) e partida para o restaurante (O Careca) por volta das 12H30.

Sendo certo que todas as presenças carecem de confirmação prévia, seria bom contarmos com o maior número de camaradas possível.
Nesta ordem de ideias, agradeço que esta informação seja passada a todos os residentes na tabanca grande, e em particular ao Sr. Coronel Pratas, a quem desde já envio um grande abraço, e com pena minha não envio o convite directamente por não ter o contacto. 
Este convite é claramente extensivo a todos os camaradas residentes na Tabanca Grande.

Para algum contacto mais directo pode ser utilizado o telemóvel 912 550 634.

A todos os camaradas um forte abraço
António Agreira
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Nota do editor

Último poste da série de 1 DE AGOSTO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11895: Convívios (522): 5.º Almoço do pessoal da CART 6254/72 - "Os Presentes do Olossato", dia 14 de Setembro de 2013 em Paramos-Espinho (Manuel Castro)

Guiné 63/74 - P11920: Notas de leitura (509): "Fuzileiros, Força de Elite", por Ilídio Neves, José Manuel Parreira e Mário Henriques Manso (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 23 de Abril de 2013:

Queridos amigos,
Trata-se do testemunho, narrado na primeira pessoa, de um conjunto de fuzileiros que conheceu os três teatros de operações.
Dois deles, Zé da Vinha e Xaitinho, estiveram na Guiné, onde Xaitninho se cobriu de glória e é um dos militares portugueses mais condecorado.
Temos aqui a trajetória das suas vidas, as suas infâncias paupérrimas, a vontade de desbravar horizontes, assim chegaram a fuzileiros, por vezes adolescentes, ofereceram-se como voluntários, punham assim termo a vidas incolores. Não esqueceram a instrução dura que tiveram, guardam os nomes dos camaradas, cedem à emoção na lembrança dos que tombaram, por vezes a seu lado.
Cobre-se assim uma lacuna que tínhamos nas recensões.

Um abraço do
Mário


Fuzileiros, força de elite

Beja Santos

Ficaram conhecidos por o Esquelas, o Zé da Vinha, o Naine e o Xaitinho. Tinham em comum infâncias muito duras, confiaram na Marinha para a abertura de horizontes. Conheceram-se cedo ou tarde, nalguns casos nunca se encontraram em teatros de operações. Foi a Associação de Fuzileiros que os juntou. Sempre que podem elogiam os fuzileiros, com orgulho e mística. Resolveram passar a limpo reminiscências, reproduzir em linguagem de caserna acontecimentos vividos. O resultado é “Fuzileiros, força de elite”, por Ilídio Neves Luís, José Manuel Parreira e Mário Henriques Manso (Clássica Editora, 2007).

O Esquelas comeu o pão que o diabo amassou, veio lá dos confins de Pedrógão Grande, a capital atraiu-o, começou por marçano, alombava com grandes cargas às costas. Sonhou com a marinha, ofereceu-se como voluntário, era um adolescente. Em 1962 chegou a Vale de Zebro: ordem unida, aprender a bater a continência, instrução versátil. Os instrutores não eram complacentes: “Eram gritos, insultos e castigos de toda a ordem, que deixavam os mais humildes e vulneráveis completamente estarrecidos". Fez a instrução técnica complementar, depois o curso de fuzileiros especiais. Os aspetos traquinas e brejeiros nunca foram esquecidos. Em 1963, parte para Angola no Destacamento n.º 6 de Fuzileiros Especiais, a sua missão era o Zaire. Fez duas comissões em Angola. Saiu da marinha em 1969, após o que ingressou na TAP, onde trabalhou durante 36 anos.

O Zé da Vinha veio de Ermidas do Sado. Nunca esqueceu a brutalidade dos mestres-escolas e a dureza doméstica, concluída a 4.ª classe foi logo para a ceifa. Foi empregado de balcão de mercearia e vinhos. Pelos 11 anos, resolveu mudar de vida, voltou aos trabalhos de campo, suportou a muito custo as agruras dessa vida isolada e depois partiu para a margem sul do Tejo, tinha um emprego à espera numa pequena casa comercial, seguiram-se os maus tratos. Um dia, dois marinheiros, naturais de Ermidas do Sado, fizeram-lhe ver que tinham uma saída. Concorreu para a Armada, assentou praça em 1961, já com 18 anos, na Escola de Alunos Marinheiros, em Vila Franca de Xira. Acabada a recruta, entrou no curso de eletricista. Reprovou no curso de primeiro grau, concorreu a fuzileiro. Seguem-se páginas sobre os rigores da instrução. Em Fevereiro de 1964, fazendo parte da Secção Delta, rumou para a Guiné. Durante o mês de adaptação, deu apoio e fez segurança navio hidrográfico de Pedro Nunes, em Cacine. Vai descrever as operações em que participou, a sul de Bissau, nos rios Geba e Corubal, em Cafine, Cantanhez e nas áreas do rio Cacine. As operações sucedem-se, a um ritmo frenético. Diz que o rio Corubal foi trilho frequente para muitas incursões até à Ponta do Inglês e palco de sucessivos festivais de tiros, com utilização das metralhadoras Oerlikon e MG-42, instaladas nas LDM. Inevitavelmente, falava de operações bem-sucedidas e outras menos. Ao tempo, o PAIGC estava de pedra e cal na região de Cumbijã, era detentora de grande potencial de armamento, os guerrilheiros estavam bem preparados. A operação Remate, em Outubro de 1964, deixou-os desconsolados, morreram o sargento Calado e o grumete Maia. Zé da Vinha, em Março de 1967, foi gravemente ferido numa emboscada em Pedra do Feitiço, Angola, passou largos meses internado, foi dado como incapacitado para todo o serviço militar.

O Naine veio de Ancião. Nunca esqueceu o chilreio das aves, as bonitas melodias interpretadas por pintassilgos, milheiriças, cotovias, tentilhões e papa-figos. Na escola, ficaram-lhe gravados na memória os períodos de merenda e do recreio, jogar às caricas, à cabra cega e ao pião e a conduzir um arco extraído de um velho pneu de automóvel. Esteve num seminário por pouco tempo. Depois foi trabalhar para as terras do Marão, será aí que irá conhecer o Xaitinho, aqui despontou a líbido, teve uma paixoneta, regressou à terra natal, chegou a integrar um rancho folclórico e por portas travessas chegou à Marinha, queria ser fuzileiro. Fará comissões em Angola e Moçambique, estudou, licenciou-se em Direito, chegou a posto elevado na Polícia Judiciária, escreveu romances.

O Xaitinho será um dos militares mais condecorados, até chegar à base naval do Alfeite nunca tinha saído da sua aldeia, perdida entre montanhas. Viveu em Vale do Zebro, depois integrou um Destacamento de Fuzileiros Especiais, a Guiné era o seu destino. Não esqueceu as operações Tesoura, Coqueiro, Túlipa. Na Tesoura foi até à mata de Cafine. Não dispararam um tiro, encontraram a barraca vazia, pejada de equipamento de guerra. Escreve: “Os guerrilheiros do PAIGC transformaram esta terrível mata de Cafine numa autêntica fortaleza, com estruturas defensivas impressionantes, incluindo abrigos subterrâneos, a partir dos quais acionavam sofisticadas peças de artilharia que visavam os navios e as lanchas de fiscalização e desembarque que navegavam ao longo do rio Cumbijã". Na Coqueiro, voltaram à mata de Cafine, desta vez houve forte tiroteio, distinguiu-se o Câmara Lenta, parecia um atirador furtivo, calmo e destemido, alvejava os guerrilheiros um a um, não cedia a emoções. A Túlipa decorreu no Corubal, destruiu-se um acampamento, depois emboscaram perto do rio, ouviram os remos de uma canoa, escutaram guerrilheiros, atiraram granadas para o rio, dispararam muito fogo. Perto do fim da comissão, uma última operação em que estiveram o Xaitinho e o Zé da Vinha, foram até ao Poindom, entre Xime e Ponta do Inglês. Foi aqui que morreu o Mosquito. O Xaitinho revelou-se um combatente extraordinário, recebe louvores e condecorações. Voltará à Guiné, de novo integrado num destacamento, em 1972. Mais louvores e condecorações, sempre a exaltar as suas qualidades de homem e militar, o destemor e a abnegação. Ostenta a Torre e Espada, três cruzes de guerra individuais, medalhas de comportamento exemplar, foi distinguido com o prémio Governador da Guiné. Os outros fuzileiros admiram-no profundamente, como alguém escreveu: “Parece inconcebível como um homem desta grandeza, depois de tudo o que se passou, mantenha intacta aquela singular genuinidade e simplicidade, optando com serena humildade e bondade por ser intrínseca e eternamente pequeno”.

Não é de mais referir que os autores se ufanam de ter pertencido a uma força especial de elite, e dizem ter passado a limpo estes episódios em que estiveram nas antecâmaras da morte, sentiram indiscritíveis sensações da dor física e psicológica, enfatizam e repisam as imagens que guardam os camaradas despedaçados, porque pretendem que esta dádiva de juventude também só foi possível por terem pertencido a um corpo de elite da Marinha, de que se sentem devedores, mantendo-se irmanados na Associação de Fuzileiros.
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Nota do editor

Último poste da série de 5 DE AGOSTO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11906: Notas de leitura (508): "Das Guerras Africanas à Diàspora Americana", organização de Adelino Cabral e Eduardo Mayone Dias (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P11919: Tabanca Grande (407): José Fernando dos Santos Ribeiro, ex-1º Cabo de Transmissões da CCS do BCAÇ 2912 (Galomaro-Cossé), 1970/72

1. O nosso Camarada José Fernando dos Santos Ribeiro, ex-1º Cabo de Transmissões na CCS do BCAÇ 2912 (Galomaro-Cossé), 1970/72, respondeu ao meu pedido para se juntar a nós neste projecto virtual enviando-nos o seguinte texto e fotos:

 EMBOSCADA em BANGACIA (DUAS FONTES)

Era o fim da tarde, preparava-se um Grupo para partir, para um emboscada, a realizar na Picada entre Galomaro e Dulombi.

Mais precisamente no Aldeamento de Bangacia (DUAS-FONTES). Aldeamento que tinha como população feminina, as Mulheres de pele negra (Fulas) mais lindas que eu alguma vez vi. Tinham feições de brancas... mas bonitas!

Nesse dia, além do Grupo destacado por escala (dos Sapadores, onde alinhava o "Vermelhinho", nosso camarada, de Matosinhos, que tinha essa alcunha pela cor da sua tez, devido às "bazucas", whisky e vinho que ingeria), foram também por castigo o Laranjinha e mais outro camarada (do qual não me lembra o nome).

Como já tinha acabado o meu serviço nas Transmissões e o jantar no refeitório, encaminhava-me para a cantina, juntamente com outros companheiro... quando ao longe começamos a ver "tracejantes" a rasgar o céu.

Antevimos, de imediato, a desgraça que estava a acontecer para os lados das "Duas-Fontes". Ficamos em estado de alerta. Passados, sei lá, duas horas ou mais... começaram a chegar ao aquartelamento, a chorar, os companheiros que haviam saído sem serem feridos ou mortos, na emboscada em que o Pelotão havia caído...
Primeiro o "vermelhinho" e outros... mais adiante o Capitão da CCS, todos sem arma e o pânico espelhado no rosto.

Formou-se, rapidamente, um pelotão de Homens que avançaram (sujeitos em serem de novo emboscados) até ao sítio onde se desenrolou o combate, encontrando deitados no chão, entre outros, o Oliveira das Transmissões e o Laranjinha da "ferrugem"... com a boca cheia de cartuchos da "costureirinha" e trespassados à bala.

Pelas suas posições, verificou-se que tinham sido feridos e, posteriormente, deitados no chão onde, cobarde e selvaticamente, foram mortos a tiro!

Durante os primeiros seis a sete meses de comissão, em Galomaro, foram "umas férias", o que deu origem a "facilitanços"... o pior deles foi o Grupo passar a levar as armas metidas debaixo do banco do Unimog e, assim, foram apanhados de surpresa na emboscada. 

Este triste e fatídico desenlace deu-se ou em fins de 1970, ou principios de 1971 (a memória já me falha).

Quase todas as semanas me encontro, em Matosinhos, com o "Vermelhinho", que, felizmente, deixou há vários anos de beber álcool, para bem dele que estava com princípios de ficar com cirrose. 

É um solteirão e vive com uma irmã na Rua da Lota, em Matosinhos...

Para memória futura e recordação dos que por lá passaram envio a seguir algumas fotos: 

Aquartelamento de Galomaro
 “Bunker" das Transmissões, no aquartelamento de Galomaro
Mercado de Bafatá 
Tabanca de Bangacia (DUAS-FONTES)
Rua Principal em Bafatá
Rua principal em Bafatá (vista de cima) 

Um abraço para todos,
José Fernando dos Santos Ribeiro
1º Cabo Trms da CCS do BCAÇ 2912

Fotos: José Fernando dos Santos Ribeiro (2013). Direitos reservados.
Mini-guião de colecção: © Carlos Coutinho (2009). Direitos reservados.
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Notas de M.R.:

* Amigo e Camarada Ribeiro, foi bom sabermos que trabalhamos ambos na mesma empresa, e, em nome do Luís Graça e demais Camaradas desta Tabanca Grande, como é habitual sempre que mais um Homem da Guiné se junta a nós, nesta Unidade cibernética, apresento-te os nossos melhores cumprimentos Amigáveis e calorosos votos de boas vindas a esta nossa tertúlia.

Também é costume aproveitar esta oportunidade para desejar que nos contes, daquilo que te lembrares como é óbvio, mais algumas passagens e fotos da tua vivência e experiência militar na Guiné.

Da minha parte recebe desde já mais um forte abraço Amigo.


Guiné 63/74 - P11918: Parabéns a você (608): Anselmo Reis Garvoa, ex-Fur Mil Op Esp da CCAÇ 2315 (Guiné, 1968)

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Nota do editor

Último poste da série de 8 de Agosto de 2013 > Guiné 63/74 - P11915: Parabéns a você (607): Henrique Martins de Castro, ex-Soldado Condutor Auto da CART 3521 (Guiné, 1971/74)

quinta-feira, 8 de agosto de 2013

Guiné 63/74 - P11917: In Memoriam (157): Agradecimento de José Martins na morte de seu irmão, o nosso camarada Manuel Martins (José Martins)




1. Mensagem de hoje do nosso camarada José da Silva Marcelino Martins (ex-Fur Mil Trms da CCAÇ 5, Gatos Pretos, Canjadude, 1968/70) com um agradecimento a propósito do falecimento do seu irmão, o nosso camarada e tertuliano Manuel da Silva Marcelino Martins, ex-Fur Mil Enf.º que prestou serviço no HM 241 de Bissau entre 1973 e 1974:




Manuel da Silva Marcelino Martins 
n. 28 de Outubro de 1950 - † 07 de Agosto de 2013 


Agradecimento

Acabo de chegar do norte, onde me fui despedir do meu irmão, e nosso camarada de armas, Manuel Marcelino Martins.

Aqui deixo o meu reconhecimento, quer em nosso nome, quer em nome de toda a família – esposa, filha, irmãos/cunhados e sobrinhos – pelas condolências recebidas pessoalmente ou enviadas através dos meus de comunicação que agora usamos – blogue, telefone, redes sociais. 

Pelo que me apercebi, deixou obra na Comunidade Paroquial de Canidelo – Gaia, que em peso quis prestar o seu reconhecimento e homenagem.

A todos o nosso abraço 
Zé Martins


2. Vem a propósito uma mensagem do nosso camarada David Guimarães, chegada também hoje ao Blogue, que em jeito de homenagem nos mandou um pequeno filme com a actuação do Grupo que interpreta fados de Coimbra do qual o Manuel Martins fazia parte com o David Guimarães.

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Na foto, o malogrado camarada Manuel Martins é o guitarrista da esquerda.
Para ouvir, clicar aqui
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Nota do editor

Vd. poste de 7 de Agosto de 2013 > Guiné 63/74 - P11912: In Memoriam (156): Manuel da Silva Marcelino Martins - N. 28 Outubro 1950 - † 07 Agosto 2013, Ex-Fur Mil Enf.º do HM 241 (Bissau, 1973/74) (José Martins)

Guiné 63/74 - P11916: Manuscrito(s) (Luís Graça) (6): No Chá de Caxinde, em Luanda, a lusofonia para além da nossa circunstância: recente homenagem ao poeta angolano Viriato da Cruz (1928-1973)

1. Em visita de trabalho, a Angola, tive oportunidade de assistir, em Luanda, no passado dia 18 de julho, Dia Internacional Nelson Mandela, ao lançamento do livro Poemas, de Viriato da Cruz, na associação cultural Chá de Caxinde, criada em 1989, e agora com instalações renovadas, sitas em plena baixa luandense (Rua do 1º Congresso do MPLA). A edição é da editora Nósssomos, com sede em Vila Nova de Cerveira, e associada ao nome do escritor José Luandino Vieira.

Mais uma vez a sugestão e o desafio para sair da minha dupla insularidade (, hospedado como habitualmente estou na Clínica da Sagrada Esperança,  na Ilha de Luanda) vieram do meu amigo Raul Feio, angolano, médico formado na Faculdade de Medicina de Lisboa, antes  do 25 de abril, e conceituado especialista em saúde pública, além de histórico militante do MPLA, um dos 26 médicos que ficou em Angola, sua terra, aquando  da independência, enfim, um homem cultíssimo que me apresentou a diversas personalidades do meio cultural, intelectual e jornalístico de Luanda, presentes no evento, no Chá de Caxinde.  

Confesso que não conhecia a obra, a não ser uma ou outra coisa avulsa,  de Viriato da Cruz, um homem de quem se diz que o político cedo matou o poeta, autor de um único livro de poesia publicado em vida (Poemas, 1961) mas considerado como um referência maior da moderna poesia angolana, injustamente esquecido por muitos angolanos, e nomeadamente pelo partido no poder. No Chá de Caxinde, assisti, eu e o Raúl, a um bonita homenagem ao poeta, na presença da sua viúva, Maria Eugénia (de 85 anos de idade) e netas. Nessa homenagem foram ditos (e cantados) alguns dos seus poemas, incluindo que o que reproduzimos a seguir, o conhecidíssimo Namoro (nem sempre associado ao nome do seu autor).

Recorde-se que foi o cantor português Fausto Bordalo Dias quem nusicou este poema, tendo-o interpretado e incluído no álbum "A preto e branco" (1988). Este tema jdo Fausto já tinha sido incluído no disco do Sérgio Godinho, "De pequenino se torce o destino" (1976).

È, quanto a mim, um dos mais belos poemas de amor da língua portuguesa.


2. VIRIATO DA CRUZ (Porto Amboim, Angola, 1928
- Pequim, China, 1973)

De seu nome completo, Viriato Francisco Clemente da Cruz nasceu em Kikuvo, Porto Amboim em 1928. Fez os estudos liceais em Luanda.

Considerado o primeiro teórico e membro ativo do chamado Movimento dos Novos Intelectuais de Angola (1948) e mentor da revista Mensagem (1951/52),  Em 1955, esteve também ligado à criação do Partido Comunista Angolano. Foi membro fundador do MPLA, e seu primeiro secretário-geral (1960/62). É-lhe atribuída a autoria do seu Manifesto.

Colaborou em diversas revistas literárias (Cultura I e II, Mensagem) bem como na imprensa escrita (Jornal de Angola, Diário de Luanda). Temendo pela sua segurança, parte em 1957 para Paris, onde se junta Mário Pinto de Andrade, com quem participa nos eventos culturais e políticos, mais importantes, na época, relacionados com África. Acabou por romper com a direcção do MPLA (donde será formalmente expluso em 1963), viveu exilado em vários países (incluindo Portugal) e acabou por se ficar na China, onde morreu precocemente, aos 45 anos, em 13/7/1973, em condições miseráveis e indignas, vítima de revolução cultural chinesa, no tempo do maoísmo. Pagou em vida um preço elevado pela sua rebeldia, independêdncia de espírito, firmeza de convicções e angolanidade.

É considerado como um dos principais precursores (ou representantes) da moderna poesia angolana, a par de Agostinho Neto, Aires de Almeida Santos de António Jacinto. Foi amigo íntimo de Mário Pinto de Andrade. Figura em diversas antologias de poesia angolana, nomeadamente estrangeiras.

Fontes consultadas:

Lusofonia: o teu espaço da poesia lusófona, de Manuel C. Amor > Viriato da Cruz 
Wikipédia > Viriato da Cruz

Sobre Viriato da Cruz

(...) Considerado um dos mais importantes nomes da geração de poetas pré-angolanos. Viriato da Cruz procurou assuas raízes africanas, sem, no entanto, perder as referências culturais portuguesas. Através do uso da língua portuguesa, se bem que polvilhada de palavras dialetais e adaptando a escrita à fala crioula, buscou incessantementeos símbolos da civilização africana perdida, como elementos regeneradores de todo um povo em busca da sua identidade. Essa ideia está bem expressa no poema Namoro, onde o apaixonado só consegue conquistar a sua amada quando se liberta das símbolos europeus e dança com ela uma rumba bem africana. (...)

(...) Em 1948, Viriato da Cruz lançou o mote: «Vamos descobrir Angola». A frase tornou-se lema para os intelectuais angolanos que, dois anos depois, fundaram o Movimento dos Novos Intelectuais de Angola, com Viriato da Cruz como um dos elementos mais ativos. Esse movimento foi responsável pela publicação da revista Mensagem, onde o grupo exprimiu o seu entusiasmo pela redescoberta da História e arte popular africanas, como contraponto a uma colonização que, fruto do endurecer da repressão por parte do regime ditatorial de Salazar, estava a sofrer uma contestação cada vez mais exacerbada. Nessa revista foram publicados alguns dos mais conhecidos poemas de Viriato da Cruz, tais como Makèzú ou Mamã Negra. (...) (Fonte: Infopédia)



Obra Poética:

Poemas, 1961, Lisboa:  Casa dos Estudantes do Império.
Poemas, 2013. Vila Nova de Cerveira e Luanda: Nóssomos.



NAMORO

Mandei-lhe uma carta em papel perfumado
e com a letra bonita eu disse ela tinha
um sorrir luminoso tão quente e gaiato
como o sol de Novembro brincando de artista nas acácias floridas
espalhando diamantes na fímbria do mar
e dando calor ao sumo das mangas.
Sua pele macia ─ era sumaúma...
Sua pele macia, da cor do jambo, cheirando a rosas
Sua pele macia guardava as doçuras do corpo rijo
tão rijo e tão doce ─ como o maboque...
Seu seios laranjas ─ laranjas do Loge
seus dentes... ─ marfim...

   Mandei-lhe uma carta
   e ela disse que não.

Mandei-lhe um cartão
que o Maninjo tipografou:
"Por ti sofre o meu coração".
Num canto  
─ SIM, noutro canto ─ NÃO.
    E ela o canto do NÃO dobrou.

Mandei-lhe um recado pela Zefa do Sete
pedindo rogando de joelhos no chão
pela Senhora do Cabo, pela Santa Ifigénia,
me desse a ventura do seu namoro...
    E ela disse que não.

Levei à avó Chica, quimbanda de fama
a areia da marca que o seu pé deixou
para que fizesse um feitiço forte e seguro
que nela nascesse um amor como o meu...
   E o feitiço falhou.

Esperei-a de tarde, à porta da fábrica,
ofertei-lhe um colar e um anel e um broche,
paguei-lhe doces na calçada da Missão,
ficámos num banco do largo da Estátua,
afaguei-lhe as mãos...
falei-lhe de amor... e ela disse que não.

Andei barbado, sujo e descalço,
como um mona-ngamba.
Procuraram por mim
" ─ Não viu...(ai, não viu...?) Não viu Benjamim?"
E perdido me deram no morro da Samba.

E para me distrair
levaram-me ao baile do sô Januário
mas ela lá estava num canto a rir
contando o meu caso às moças mais lindas do Bairro Operário.

Tocaram uma rumba ─ dancei com ela
e num passo maluco voamos na sala
qual uma estrela riscando o céu!
E a malta gritou: "Aí Benjamim!"
Olhei-a nos olhos ─ sorriu para mim
pedi-lhe um beijo ─ e ela disse que sim.

In: Viriatro da Cruz: Poemas. Vila Nova da Cerveira e Luanda: Nóssomos, 2013, pp. 45-46. (Reproduzido com a devida vénia)

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Nota do editor:

Último poste da série > 3 de julho de 2013 > Guiné 63/74 - P11794: Manuscrito(s) (Luís Graça) (5): fumo, logo existo

Guiné 63/74 - P11915: Parabéns a você (607): Henrique Martins de Castro, ex-Soldado Condutor Auto da CART 3521 (Guiné, 1971/74)

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Nota do editor

Último poste da série de 4 de Agosto de 2013 > Guiné 63/74 - P11902: Parabéns a você (606): José Nunes, ex-1.º Cabo Mec Electricista do BENG 447 (Guiné, 1968/70) e Rui Alexandrino Ferreira, TCor Ref das CCAÇ 1420 e CCAÇ 18 (Guiné, 1965/67 e 1970/72)