quarta-feira, 9 de abril de 2014

Guiné 63/74 - P12956: A cidade ou vila que eu mais amei ou odiei, no meu tempo de tropa, antes de ser mobilizado para o CTIG (26): Leiria, o pior tempo do meu início de vida militar; Santarém onde a Cavalaria não é melhor nem pior, é diferente; Tavira, onde ia morrendo; Carregueira do bidonville; Mafra onde a instrução era levada a sério (Augusto Silva Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Augusto Silva Santos (ex-Fur Mil da CCAÇ 3306/BCAÇ 3833, Pelundo, Có e Jolmete, 1971/73), com data de 5 de Abril de 2014:

Camarada e Amigo Carlos Vinhal,
Antes de mais, faço votos sinceros para que esteja tudo bem contigo e família. 
Inserido no tema em epígrafe, junto texto e fotos relacionados com o mesmo, que desde já agradeço revejas para possível publicação.
No caso de algo não estar correcto ou não te facilitar o teu trabalho de editor, solicito / agradeço que me informes para a respectiva correcção.
Como sempre, estás à vontade para editar quando bem entenderes ou alterar o que achares por bem. 

Recebe Um Grande e Forte Abraço com votos de muita saúde.
Augusto Silva Santos


A CIDADE OU VILA QUE EU MAIS AMEI OU ODIEI, NO MEU TEMPO DE TROPA, ANTES DE SER MOBILIZADO PARA O CTIG


LEIRIA

Bandeira da Cidade de Leiria


Vista parcial da Cidade de Leiria

Assentei praça no RI 7 (Regimento de Infantaria 7) em Janeiro de 1971. Após avaliação das minhas habilitações, haveria de ser transferido para a EPC mas, no escasso tempo que estive nesta cidade, poderei dizer que foi onde passei o pior tempo do meu início de vida militar.

Logo no primeiro dia roubaram-me o colchão da cama e um cobertor, pelo que tive de dormir vestido em cima de outro cobertor, numa caserna que na altura nem luz tinha. Parte das coisas eram feitas com luz das lanternas ou das velas.

Na primeira semana fui designado para fazer faxina à cozinha / refeitório, onde assisti a coisas para mim absolutamente impensáveis, desde levar os panelões com as vassouras de varrer o chão, e a comida a ser confeccionada nas piores condições de higiene. Até uma aranha eu apanhei na sopa. Escusado será dizer que, a partir daí, poucas mais vezes eu voltei a comer do rancho. Só mesmo quando não tinha outra alternativa.

Ainda me lembro que, muito perto do quartel, havia um talho onde se comprava a carne para ser cozinhada no tasco que ficava ao lado. Era muitas vezes a nossa safa. Foi uma cidade que me marcou pela negativa, mas não ao ponto de a odiar.


Janeiro 1971. 2ª Companhia / 6º Pelotão. Sou o terceiro de pé, da direita para a esquerda.

J
aneiro 1971. Na caserna com o camarada de beliche.


SANTARÉM

Bandeira da Cidade de Santarém


Vista parcial da Cidade de Santarém

Felizmente que, passado pouco tempo, efectivou-se a minha transferência para a EPC (Escola Prática de Cavalaria), onde haveria de concluir a recruta. Aqui tudo era de facto muito diferente, daí é o lema por todos assumido de: “A Cavalaria não é melhor nem pior, é diferente”.

Desde as condições das instalações, à comida, à disciplina, era tudo um mundo à parte, tendo em conta a minha primeira e traumatizante experiência. Foram 3 meses de intensa e particular actividade, que me haveriam de marcar para o resto da minha vida militar, pela positiva. Foi uma recruta difícil, debaixo de muita chuva e frio, sempre de capacete na cabeça (era uma das partes mais difíceis de aguentar), por vezes passada nas valas de esgoto a céu aberto, e de seguida lavagens à mangueirada em plena parada para limpar a lama agarrada à farda.

Acordar às tantas da madrugada com músicas da Tonicha, e apresentar-se em poucos minutos na parada invariavelmente com umas das fardas, era outra das situações que nos punha em “ponto de rebuçado”. Nunca mais me esqueci da frase, “terreno semeado é terreno minado”, quando colocados a uns bons quilómetros do quartel, e tínhamos de lá chegar sem ser detectados. Pela estrada também não era possível ir por estarem constantemente patrulhadas. Era um grande desafio…

Também não foi fácil assumir que não queria ir para os Comandos, apesar de me ter sido apresentada a possibilidade de ir frequentar o COM (Curso de Oficiais Milicianos), se a resposta fosse sim.

Foi uma cidade de que muito gostei, e tive pena de não ter feito aqui a especialidade. A população era extremamente agradável e compreensiva para com os militares. E Almeirim ficava ali tão perto, com os seus bons “tascos”…


Fevereiro 1971. 5º Esquadrão / 5º Pelotão. Sou o quarto sentado, da direita para a esquerda. O primeiro de pé é o Vicente “Passarinho” (Piu), e o segundo sentado é o Daniel Matos.


Março 1971. Eu em pose no Destacamento da EPC


Abril 1971. Junto à entrada da E.P.C., ladeado pelos camaradas Lúcio e Miguel Ângelo.


TAVIRA

Bandeira da Cidade de Tavira


Vista parcial do Quartel da Atalaia

Sou entretanto colocado no CISMI (Centro de Instrução de Sargentos Milicianos de Infantaria), onde me foi dada a especialidade de Atirador de Infantaria. Também aqui tive bons e maus momentos, mas efectivamente senti um pouco a diferença do ambiente vivido na arma de Cavalaria, embora a adaptação tenha sido feita rapidamente.

A formação trazida da EPC ajudou muito. Foi igualmente fácil, porque muitos dos camaradas que constituíam a Companhia, tinham vindo de Santarém. Foi aqui que voltei a encontrar o Daniel Matos e o Vicente “Passarinho” (Piu), também eles mais tarde mobilizados para a Guiné. Infelizmente ambos já não estão entre nós.

A situação mais traumatizante que aqui passei, relacionou-se com uma questão de saúde, que por pouco não viria a ter consequências graves para mim. Tendo na semana de campo apanhado uma forte gripe com febres altas, apesar de eu ter avisado os enfermeiros de que era alérgico à penicilina, foi-me dado algo relacionado com aquela droga, pelo que por pouco não bati as botas, como se costuma dizer.

Recordo ainda uma ocasião em que toda a Companhia foi formada, para que alguém do sexo feminino passasse “revista” à formatura… Tal só não aconteceu, porque o possível “infractor” ao ver a pessoa em questão, resolveu por antecipação dar o corpo ao manifesto. Mas deu para perceber que havia algum pessoal igualmente muito nervoso.

Gostei da cidade e das suas gentes. Sempre que possível uma ida à praia na Ilha de Tavira, era um bom escape.


Abril 1971. Na Caserna com mais três camaradas. Eu sou o primeiro da esquerda e o Vicente “Passarinho” (Piu) é o terceiro, de garrafa na mão.


Junho 1971. No centro da cidade com outro camarada.


Junho 1971. Na Ilha de Tavira, em pose.


SERRA DA CARREGUEIRA, SINTRA

Bandeira da Vila de Sintra


Vista parcial da Serra da Carregueira

Por ter obtido a máxima classificação na disciplina de tiro (atirador especial de G3 e atirador de 1ª classe em HK 21), sou colocado no CTSC (Campo de Tiro da Serra da Carregueira), como Cabo Miliciano, para dar recrutas e instrução de tiro.

Foi aqui que vivi das situações mais caricatas na tropa, desde ver um Tenente a matar ratazanas a tiro de pistola Walter, a ter de dormir calçado com medo que aqueles roedores nos viessem morder os pés.
Era frequente vê-las passar por cima dos camaradas que estavam a dormir, e não menos frequente aparecerem peças de fardamento roídas.

Tirando esta parte mais ou menos “lúdica”, também assisti à situação mais estúpida.

Era hábito no Bar dos Sargentos (principalmente para assustar os recém chegados), alguém por brincadeira atirar uma granada de instrução para o meio da sala gritando “granada”, obrigando a que todo o pessoal saísse em correria mas, certo dia, alguém por engano ou ignorância atirou uma granada com detonador e descavilhada, que um camarada pensando tratar-se do habitual, agarrou… Pode-se imaginar o que aconteceu a seguir e as graves consequências de tal disparate.

Era um quartel estranho e sem grandes condições, na altura situado no meio da serra sem habitações por perto… Recordo-me que, na época, não existiam quaisquer muros ou vedações para além do pouco que era visível perto da porta de armas. Era uma unidade do tipo “campo aberto”, delimitado apenas por grandes silvados, arvoredo, e moitas. Escusado será dizer que só não entrava ou saía quem não queria, e os “desenfianços” eram o pão nosso de cada dia.

Os Cabos Milicianos dormiam em camaratas tipo “bidonville”. A parte melhor desta passagem pela Carregueira, foi a de poder ir jantar e dormir a casa, sempre que não estava de serviço, pois tínhamos transporte para o efeito.


Novembro 1971. Já como Cabo Miliciano, na instrução do 6º Pelotão da 2ª Companhia. Sou o quinto de pé, da direita para a esquerda.


MAFRA


Bandeira da Vila de Mafra


Entrada do Quartel do CMEFED

Algum tempo depois rumo ao CMEFED (Centro Militar de Educação Física, Equitação e Desportos), para ficar na EPI (Escola Prática de Infantaria) como instrutor de educação física. Com muita pena minha não viria a concluir este curso, por ter sido entretanto mobilizado para a Guiné.

Em Mafra, como se costuma dizer, nem deu para aquecer, pois só lá estive cerca de 2 meses, mas ainda passei as “passinhas do Algarve” na Tapada de Mafra.

Quem passou pelo CMEFED (mais conhecido pelo se me f….), sabe bem a que me refiro… Para a época, era já uma unidade muito à frente e com óptimas condições sobre todos os aspectos.

Tal como na EPC em Santarém, aqui não havia “baldas”. A instrução era levada muito a sério e com rigor. Curiosamente, na minha vida civil e trabalhando na Marinha Mercante, andando embarcado nos navios Rita Maria, Alfredo da Silva, e Niassa, já havia passado uma boa dezena de vezes pela Guiné, mais propriamente por Bissau. Tinha o destino marcado…


Abril 1970 (faz agora precisamente 44 anos), a bordo do N/M Alfredo da Silva, no porto de Bissau, com o restante “pessoal das máquinas”. Sou o primeiro da direita, ainda de barba.


Dezembro 1971. Pronto a seguir viagem para CTIG. Foto tirada com farda emprestada pelo fotógrafo. Julgo que acontecia com todos os Furriéis Milicianos obrigados a tirar esta foto.
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Nota do editor

Último poste da série de 31 DE MARÇO DE 2014 > Guiné 63/74 - P12918: A cidade ou vila que eu mais amei ou odiei, no meu tempo de tropa, antes de ser mobilizado para o CTIG (25): E Vendas Novas, onde funcionou a Escola Prática de Artilharia ?...Será que vai ser recordada apenas pelas bifanas ? (Luís Graça)

Guiné 63/74 - P12955: No 25 de abril de 1974 eu estava em... (19): Na guerra colonial, Guiné, numa aldeia do fim do mundo chamada Cancolin (Manuel Vitorino)

1. Mensagem do nosso camarada Manuel Vitorino*, Jornalista, ex-Fur Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4518/73, Cancolim, 1973/74, com data de 24 de Março de 2014:

Amigo Luís Graça, boa noite
Não resisti à frase do Baptista-Bastos "Onde estavas no 25 de Abril?" - E escrevi uma crónica.
Há 40 anos permanecia na Guiné como furriel miliciano de Infantaria (Minas e Armadilhas). Hoje sou jornalista.
Aqui vai crónica.

Abraço
MV


ONDE ESTAVAS NO 25 DE ABRIL? 

Manuel Vitorino 
Jornalista

Vista aérea do aquartelamento de Cancolim

Foto: © Rui Baptista (2009). Todos os direitos reservados. [Edição: CV]

Há 40 anos estava na guerra colonial, Guiné-Bissau, numa aldeia do fim do mundo, em Cancolim, longe de Bafatá.
Quando a madrugada mais luminosa aconteceu já levava várias operações no mato, quilómetros de caminhadas por entre trilhos de floresta sempre à espera de um balázio, uma mina debaixo da árvore, um ataque do PAIGC.
Aparentemente, no país dos “coronéis de lápis azul” o Fascismo estava para lavar e durar.
Não existiam mortos nem feridos. Antes “baixas em combate”, notícias a uma coluna de jornal.

Até ao 25 de Abril vivia num país de partido único, salazarento, cinzentão, liberdades vigiadas por legionários e pides.
Dizer mal do António de Santa Comba Dão só em voz baixa. O delator tanto podia ser o vizinho “bufo” como o colega de trabalho.
Ler o Avante dava direito à perda de emprego.
Distribuir um panfleto de apoio aos presos políticos à prisão. Tudo era literalmente proibido. Até um beijo na rua.

Naquela manhã do dia 25 de Abril acordei cedo e a telefonia só transmitia marchas militares, notícias sobre um “golpe de Estado” em Portugal feito por militares. “Aqui posto de comando das Forças Armadas” ouvi vezes sem conta a par de siglas únicas e inimagináveis: “MFA”, “O Povo Unido….”

Estou em África, no meio do nada, fico inquieto, ansioso. Já só queria aterrar em Lisboa, viver dia e noite, fazer parte da História. Sintonizo a Emissora Nacional, depois a BBC, mais a Deutsche Welle, a Voz da Alemanha e nas várias estações oiço sons de gente sedenta de Liberdade, reportagens de multidões nas ruas de Lisboa e do Porto, exigências de “Libertação dos Presos Políticos” e “Abaixo a guerra colonial”

Subitamente, o país está em catarse colectiva, em festa. E fico colado à rádio de todas as ondas hertzianas. Pelo microfone de um repórter estimado, Adelino Gomes oiço as primeiras declarações do capitão Salgueiro Maia, o mais generoso de todos aqueles que ousaram restituíram o país à dignidade, retenho gritos de Liberdade, o cerco ao quartel do Carmo – onde Tomás e Marcelo se refugiam antes do exílio dourado para a Madeira e depois o Brasil - a chegada de Spínola ao palco dos acontecimentos.
E digo com os meus botões: “A Guerra Acabou”.

E assim aconteceu. A 2.ª companhia do BCAÇ 4518 ainda fez mais duas ou três incursões pelo mato, mas poucos dias depois da “Revolução dos Cravos” uma coluna de “temíveis guerrilheiros” do PAIGC ultrapassou o arame farpado e veio fraternalmente ao nosso encontro.
E por magia tanto as Kalashnikov como as G3 calaram-se de vez.

No quartel o tempo foi vivido em festa, emoções e lágrimas. Abraços calorosos e confidências.
“Nós sabíamos quem vocês eram e o que faziam em Cancolim”, disse-me um combatente das tropas de Amílcar Cabral. Depois das cervejas, decidimos continuar a conversa pela noite dentro, trocar de farda e emblemas, tal e qual como acontece nos jogos de futebol.
A minha competição foi outra.
A guerra da Guiné só podia ser ganha pelo PAIGC.
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Notas do editor

(*) Vd. poste de 10 DE DEZEMBRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P12425: O nosso livro de visitas (171): Manuel Vitorino, ex-Fur Mil do BCAÇ 4518 (Cancolim, 1973/74)

Último poste da série de 1 DE MAIO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11511: No 25 de abril de 1974 eu estava em... (18): Canquelifá, Pirada, Bissau, Gadamael (Carlos Costa, Carlos Ferreira, Mário Serra Oliveira, C. Martins)

Guiné 63/74 - P12954: Os Nossos Cartazes de Propaganda (1): Parte I (Fernando Hipólito): quanto podia valer a entrega de um homem e de uma arma...



Cartaz nº 1


Cartaz nº 1 A


Cartaz nº 2







Cartaz nº 2 A

Cartazes de propaganda das Forças Armadas Portuguesas, s/d,  dirigiiridos ao IN e incentivando a sua deserção...  Foram ercolhidos entre 1969 e 1971, pelo nosso camarada Fernando Hipólito e por ele digitalizados.

Imagens: © Fernando Hipólito (2014). Todos os direitos reservados. [Edição: L.G.]


1. O Fernando Hipólito é um colecionador nato... Foi rapar do seu baú mais estas preciosidades, que começamoas hoje a publicar...

São cartazes de propagannda "antiterrorista" ou "antisubserviva", dirigididos aos guerrilheiros dos movimenos nacionalistas que nos combatiam em Angola, Guiné e Moçambique, mas também às "populaçãoes do mato", bem como à população em geral  (e nomeadamente africano) sem esquecer os nossos soldados cujo moral era preciso alementar e reforçar, face às duras condições da luta antiguerilha e ao efeito perverso da usura do tempo...

O Fernando Hipólito [, foto atual à èsquerda, ] é  ogrã-tabanqueiro, com o nº 650...Recorde-se que passou pelo CISMI, Quartel da Atalaia, Tavira, 3º turno, 1968. Foi fur mil, CCAÇ 2544, Angola, 1969/71. Esteve a maior parte do tempo no leste, em Lumege. Está refo9rmado da sua atividade  de vendedor na empresa de tintas de impressão, atividade essa a que não será estranha o seu goso pela salvaguarda deste tispo de suportes em papel , cartazes de propaganda e outros documentos icónicos impressos, allguns dos quais nos são familiares.

Estes cartazes foram recolhidos por ele entre 1969 e 1971 e, como ele muito bem diz, têm valor documental e historiográfico. São documentos avulsos, que iremos publicando ao longo de vários postes, nesta nova série. Todos os comentários dos nossos leitores serão bem vindos. Intteressa-nos, pro exemplo, saber em que TO (teatro de operações) e em que época  foram usados...

Guiné 63/74 - P12953: Os nossos médicos (75): Memórias do Dr. Rui Vieira Coelho, ex-Alf Mil Médico dos BCAÇ 3872 e 4518 (8): Colegas meus

1. Em mensagem do dia 23 de Março de 2014, o nosso tertuliano Dr. Rui Vieira Coelho, ex-Alf Mil Médico que esteve integrado nos BCAÇ 3872 e 4518 (Galomaro, 1973/74), mandou-nos mais uma memória dos tempos em que exerceu medicina na Guiné:


COLEGAS MEUS

Braima era ferreiro, curandeiro, feiticeiro de Galomaro, a quem eu jocosa e pomposamente chamava de "Meu Colega", já que ambos procurávamos tratar das maleitas dos doentes, com armas diferentes e processos também .
As mésinhas, beberagens, infusões e rezas eram as alternativas aos processos médicos clássicos e à terapêutica medicamentosa e cirúrgica estabelecida.

Invariavelmente quando não surtiam efeitos, nos doentes locais, os procedimentos utilizados, lá vinha o "Meu Colega"e o paciente na procura de um diagnóstico e de uma terapêutica diferente que lhe pudesse aliviar o sofrimento que a doença produzia.
É um princípio basilar médico, quando não se sabe envia-se a quem possa saber e resolver a situação, pois uma "vida não tem preço".  O que era um facto é que cada vez mais gente da população local recorria aos serviços de saúde militar e civil, provavelmente devido à confiança de procedimentos implementados por todos os meus antecessores e pela melhoria das instalações e atendimento.

Também enquanto estive em Galomaro consegui que o Chefe de Posto da Administração local me desse uma habitação degradada que eu juntamente com os maqueiros Santos e André, que sabiam de construção civil, recuperámos e a transformámos na Maternidade de Galomaro com três camas para parturientes e com instalações sanitárias e sala de partos e acomodações para uma Enfermeira-Parteira que veio no fim da minha comissão.

Em Galomaro também existia uma Missão de Sono com internamento e tratamento de doentes com tuberculose e lepra predominantemente, com doença de hansen (Sono) só um.
A malária, a desenteria amebiana a desidratação eram debeladas com relativa facilidade. No campo da saúde pública o programa de vacinação já estava bastante avançado: tuberculose, cólera, difteria, tétano e tosse convulsa assim como poliomielite estavam implementados como na metrópole, em toda a população. A hepatite, essa era endémica.

A higiene e a salubridade da população local eram muito reduzidas, dado não haver esgotos nem saneamento nem fossas sépticas. Os únicos seres que tratavam dos restos alimentares dos dejectos, ratos, cobras, animais mortos e lixeiras eram os Jagudis que eram. os guardiões da saúde pública na Guiné, pois limpavam o terreno de uma maneira exemplar e que estavam protegidos por lei que impediam de os molestar ou matar.
Para quem não sabe, os Jagudis são uma espécie de abutres, verdadeiros (Colegas) dos médicos de Saúde Pública.

Guiné > Região de Bafatá > Saltinho > Fevereiro de 2005 > O abutre ou jagudi (corruptela do crioulo jugude). 
Foto: © João/Paulo Santiago (2006). Direitos reservados.

O aquartelamento de Galomaro era relativamente novo e tinha instalações sanitárias adequadas, com esgotos cobertos e fossas sépticas.
Como "Colegas" tínhamos também os milhares de Morcegos que todas as noites, quando se ligavam os focos de iluminação para o exterior do aquartelamento, se alimentavam de milhões de insectos que se dirigiam para a luz.

Morcego, mamífero da ordem das Chiroptera e da família das Megachiroptera
Com a devida vénia a CulturaMix.com

A todos eles o meu agradecimento sincero.
Aos Morcegos, aos Jagudis e principalmente ao meu amigo Braima, todos eles "Meus Colegas"que me ajudaram durante a minha comissão a debelar muitas enfermidades e a preservar a saúde dos meus camaradas de armas e da população que me estava confiada por ser Delegado de Saúde da Zona de Galomaro-Cossé.

Alfa bravo do
Rui Vieira Coelho
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Nota do editor

Último poste da série de 13 DE MARÇO DE 2014 > Guiné 63/74 - P12832: Os nossos médicos (74): Memórias do Dr. Rui Vieira Coelho, ex-Alf Mil Médico dos BCAÇ 3872 e 4518 (7): "All you need is love" - as Berliet's rebenta-minas e os nossos picadores no trajecto entre Galomaro e Dulombi

Guiné 63/74 - P12952: Parabéns a você (717): Jorge Canhão, ex-Fur Mil Inf do BCAÇ 4612/72 (Guiné, 1972/74); Mário Gaspar, ex-Fur Mil Art MA da CART 1659 (Guiné, 1967/68) e Miguel Pessoa, Coronel Pilav Ref, ex-Tenente Pilav da BA 12 (Guiné, 1972/74)

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Nota do editor

Último poste da série de 8 de Abril de 2014 > Guiné 63/74 - P12946: Parabéns a você (716): José Augusto Ribeiro, ex-Fur Mil Art da CART 566 (Cabo Verde e Guiné, 1963/65)

terça-feira, 8 de abril de 2014

Guiné 63/74 - P12951: "Uadi-Bélaá" (Odivelas) (1): A terra para viver..., a terra de oportunidades..., a terra de acolhimento..., a terra com Jardins de Pedra (José Martins)

1. Mensagens, com anexo, do nosso camarada José Marcelino Martins (ex-Fur Mil Trms da CCAÇ 5, Gatos Pretos, Canjadude, 1968/70), enviadas respectivamente a:

Senhor Presidente da Junta de Odivelas, meu amigo 
Conforme nossa conversa havida em 22 de Fevereiro passado, aquando da inauguração da Rotunda Baden Powell, junto um texto acerca da utilização do Portão do Antigo Cemitério dos Tojais, em Odivelas, transformando-o num Memorial a todos os combatentes que, em Odivelas, desenvolveram a sua vida, contribuindo para o engrandecimento desta terra.
Espero que o texto e a ideia mereçam ser levados à Dra. Susana Amador, Presidente do Município, e que possa ser levado à prática. De qualquer das formas, agradeço o seu comentário.

Saudações Senhor Presidente da Liga dos Combatentes, meu General 
Pela presente levo ao seu conhecimento uma proposta de construção de um Memorial aos Combatentes, no Concelho de Odivelas.
Tudo o que se fizer pelos combatentes, nunca será excesso.

Camaradas de Armas
Como é meu timbre, aqui vai mais um texto sobre combatentes, pensado na utilização de património existente, e sem utilização actualmente.
Partilho, como sempre, os textos que vou escrevendo e, caso mereçam a vossa concordância, poderão publica-los.

Fraterno abraço
José Marcelino Martins


PROPOSTA DE MONUMENTO - 1


Guiné 63/74 - P12950: 10º aniversário do nosso blogue (2): Obrigado, camarigos! (Joaquim Mexia Alves)


Cartaz de aniversário, Conceção do nosso "designer" © Miguel Pessoa (2014)

1. Mensagem, de hoje, do Joaquim Mexia Alves [, ex-Alf Mil Op Esp/Ranger da CART 3492/BART 3873, (Xitole/Ponte dos Fulas); Pel Caç Nat 52, (Ponte Rio Udunduma, Mato Cão) e CCAÇ 15 (Mansoa), 1971/73)]

 Meus camarigos

Venho, mais uma vez este ano, agradecer a todos as mensagens de parabéns, aqui na Tabanca Grande e também no Facebook da Tabanca Grande.

Sou um homem rico: Tenho muitos amigos! Obrigado!

Não posso deixar de afirmar que nestes últimos anos da minha vida tenho ficado ainda mais rico em amizades, fruto sem dúvida da Tabanca Grande, em boa hora fundada pelo Luís Graça, e construída passo a passo, não só por ele, mas pela dedicação inigualável do Carlos Vinhal, com a ajuda do Eduardo Magalhães Ribeiro e, em tempos, do Virgínio Briote.

Claro que, sem o concurso de todos aqueles que para a Tabanca Grande concorrem, com textos, com fotos, com comentários, seria impossível o extraordinário êxito deste ponto de encontro de combatentes, sobretudo da Guiné.

A todos, sem excepção, a minha enorme gratidão.

Por causa da Tabanca Grande aprendi muitas coisas sobre mim, ou seja, sobre modos como reajo a certos estímulos, diversas situações da vida, que,  reconheço agora, são reacções provocadas por um “ter estado na guerra”, e que eu dantes desconhecia, mas ao ler os meus camarigos, vou entendendo melhor.

Um grande, enorme e camarigo abraço do

Joaquim Mexia Alves



"O meu pai e eu, em Dezembro de 1971, escassos dias antes de partir para a Guiné"... 
Foto e legenda de Joaquim Mexia Alves, disponível na sua página do Facebook- [Olímpio Duarte Alves recebeu, em 1925, a propriedade e a concessão das Termas de Monte Real, tendo sido o seu grande impulsionador durante quase meio século e também governador do distrito de Leiria, 1959-1969]

Foto: © Joaquim Mexia Alves (2014). Todos os direitos reservados
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Nota do editor:

Guiné 63/74 - P12949: Em busca de... (240): À procura dos Artilheiros de 1969 em Gadamael (Manuel Vaz)

1. Mensagem do nosso camarada Manuel Vaz (ex-Alf Mil da CCAÇ 798, Gadamael Porto, 1965/67), com data de 7 de Abril de 2014: 

Amigo Vinhal:
Como sabes, há meses que procuro contacto com alguém do Pel Art 13º (Gadamael, MAR/69). 
Até ao presente nenhuma pista se mostrou remuneradora e pensei apresentar no Blogue uma "petição pública" nesse sentido. 
Se falhar, só resta a pesquisa no Arquivo Militar em Lisboa. 
Pedia-te que, respeitando o protocolo seguido nestas circunstâncias, publicasses este Poste no Blogue, a ver se finalmente surgem boas notícias. 

Um abraço e Boa Páscoa para ti e família.
Manuel Vaz


À Procura dos Artilheiros de 1969 em Gadamael

A extinção de Aquartelamentos das NT na linha da Fronteira Sul, criou uma situação nova em Gadamael. Pela primeira vez, depois de obtido o controlo da estrada Cacine/Gandembel, o IN via alargado o seu campo de ação, numa zona sensível. O setor de Sangonha/Cacoca fora distribuído por Gadamael e Cacine, mas a proximidade da fronteira, a existência de estradas de penetração e as distâncias geradas criaram problemas novos.

 A 07/FEV/69 o Pel Rec 2085 é deslocado de Guileje para Gadamael e em Março seguinte é aqui colocado o Pel Art 13º. Tudo isto faz parte da memória da passagem dos Pelotões Independentes por Gadamael. Não foi muito difícil recolher elementos sobre os Pel Rec, mas ao abordar a presença dos Pel Art a pesquisa “encravou”.

Quando o Pel Art 13º chegou em MAR/69, estava em Gadamael a CART 2410 que em JUN/69 permutou a posição com a CCAÇ 2316 de Guileje. Esta, por sua vez em Setembro, é rendida pela CART 2478. A curta permanência das duas primeiras com o Pel Art impediu referências e contactos duradouros. Já a CART 2478, não tendo nenhum representante no Blogue nem tendo conseguido nenhum contacto, dificultou a recolha de informações(1)  sobre o que se passou em Gadamael entre SET/69 e DEZ/70, relativamente ao Pel Art 13º. Apesar da abordagem de vários camaradas, tentando encontrar contacto com os graduados do Pel Art 13º, o que se conseguiu recolher, limita-se a pouco: três fotografias e um nome.

Fotografias dos dois Furriéis do Pel Art 13º, gentilmente cedidas pelo camarada Luís Guerreiro

Pesquisando o nome de Fernando Lima, nas Páginas Brancas da PT, encontrei 13 telefones atribuídos, mas nenhum dos assinantes estivera em Gadamael. Já sobre o camarada da fotografia da direita, ainda não encontrei quem soubesse dizer sequer o nome.

Sobre o Alferes, comandante do Pel Art, o Camarada Vasco Pires sugere no Poste P11148, que o artilheiro que ele rendeu deve ser quem está na foto, nas suas costas “à paisana”, mas não sabe o nome dele. Há portanto forte probabilidade(2) do Pel Art 13º ter sido rendido pelo Pel Art 23º, talvez em SET/70 e termos na foto o Alf. do Pel Art 13º.

Fotografia publicada pelo Camarada Vasco Pires no Poste 11148, onde aparecem em destaque os Alferes artilheiros de Gadamael com o Vasco Pires à frente. Conhecidos, para além destes, estão ainda o Capitão Videira e o Alf. Mil. do Pel Rec, A. Costa Gomes, de óculos.

É esta a situação da pesquisa sobre o início da Artilharia em Gadamael. O que é imprescindível saber para reconstituir a memória do Pel Art 13º? Precisava saber: o nome do Alferes e as datas de chegada e partida de Gadamael do Pel Art 13º. Era ainda necessário saber quando o armamento do Pel Rec foi reforçado com o 3º Obus 10,5 e quando os Obuses foram agrupados em três espaldões, junto ao rio, do lado direito da saída do Aquartelamento e qual a razão desse local e desse agrupamento.

Será que algum leitor do Blogue pode dar uma ajudinha, esclarecendo estas dúvidas ou levando-nos ao contacto com alguém que saiba(3)  resolvê-las?

Poderão fazê-lo através do Blogue, enriquecendo o intercâmbio e o conhecimento de todos ou então para os meus contactos: familia.vaz@gmail.com // 252 615 517

Se mais esta tentativa falhar, resta remover resmas de O.S. no Arquivo em Lisboa!...
Obrigado
Manuel Vaz
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(1) - A HU desta Companhia é também muito sucinta, não registando nada sobre os Pelotões Independentes do seu tempo.

(2) - O Camarada Vasco Pires lembra-se que a Companhia que estava em Gadamael, quando lá chegou, era a CART 2478 e que o Pel Art que comandou foi o Pel Art 23º, mas não se lembra que Pel Art rendeu, nem tem a certeza da data/mês em que chegou.

(3) - A partir de Abril, terão lugar muitos encontros de Companhias, associando camaradas dos Pelotões Independentes. Seria uma boa altura para localizar alguém do Pel Art 13º
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Nota do editor

Último poste da série de 5 DE ABRIL DE 2014 > Guiné 63/74 - P12933: Em busca de... (239): Alfredo Custódio António, ex-Condutor Auto da CCAÇ 2660/BCAÇ 2905 (Teixeira Pinto, 1970/71) procura o seu camarada e amigo Silva de Lisboa

Guinjé 63/74 - P12948: Fotos à procura... de uma legenda (26): Mais um sítio de passagem, para alguns de nós, no tempo de tropa... Qual ? (Luís Graça)





Fotos: © Luís Graça (2014). Todos os direitos reservados. [Edição: LG]


1. A série "Fotos à procura... de uma legenda" (*) funciona como um "tapa-buracos", sobretudo no tempo das férias de verão, em que escasseia o material para o blogue... Mas não deixa de ser didática... Obriga (ou, melhor, convida) os leitores do blogue a um exercício de imaginação, ou de memória.

Hoje, depois de  ter regressado a casa, ao fim da tarde de ontem,  depois de 7 dias hospitalizado, e do consequente  "jejum bloguístico" (desde 3ª feira , 1 do corrente, que não publicava nada), e  depois de ter feito o meu exercío matinal com as minhas duas novas amigas, canadianas, proponho-vos quie liguem o vosso GPS e identifiquem  o sitio, ou melhor, a cidade ou vila  portuguesa, onde foram tiradas estas fotos...

As fotos são  receente, são  deste ano... numa altura em que eu já mancava da perna direitam, e se tornava penoso a subir  e a descer escadas, ruas e ruelas,,, Há pistas demasidado óbvias. De qualquer modo, foi um sítio por onde alguns de nós passaram na tropa.

Meus bons amigos e camaradas da Guiné, ponham lá a legenda, enquanto eu vou dar mais umas voltinhas de canadianas, dentro das quatro paredes da minha sala, porque já me doi o rabo de estar sentado, a perna direita  estendida ao comprido  e a trabalhar com o portátil...  

Mandem histórias para a série "A cidade ou vila que eu mais amei ou odiei na no meu tempo de tropa, amtes de ser mobilizado para o CTIG"... Um alfabravo para todos, Luís Graça.
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