quarta-feira, 22 de julho de 2015

Guiné 63/74 - P14916: Memória dos lugares (309): O meu rio próximo, e de estimação, era o Rio Grande de Buba (2) (António Murta)

1. Lembremos a mensagem do nosso camarada António Murta, ex-Alf Mil Inf.ª Minas e Armadilhas da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4513 (Aldeia Formosa, Nhala e Buba, 1973/74), com data de 1 de Julho de 2015:

Camaradas Luís Graça e Carlos Vinhal
Sobre a temática dos rios, de tantos encantamentos e infortúnios, comuns a quase todos nós, não sou muito versado, pois só um conheci pela proximidade e, ainda assim, sem grandes intimidades, tendo espreitado outro apenas duas vezes. Contudo, pelas experiências que me proporcionaram, não queria deixar de os referir.

António Murta


RIO GRANDE DE BUBA E RIO CORUBAL (2)

RIO GRANDE DE BUBA* (2)


 Rio de Buba em Buba, 1974 – O meu Grupo depois do banho.

 Rio Buba em Buba, 1974 – Maré baixa. 

 Rio Buba em Buba, 1974 – Maré a encher.

Rio Buba em Buba,1974 – Eu, no leito do rio junto à ponte-cais.

Rio Buba em Buba, 1974 – Eu, no leito do rio noutra ocasião.

Rio Buba em Buba, 1974 – O meu amigo Manuel de Nhala saltar para a água num dia de recreio.



Rio Buba em Buba, 1974 – Saltos para a água. 

Rio Buba em Buba, 1974 – Ponte-cais e três rapazes de quem já não recordo os nomes porque não eram da minha Companhia: o do meio, com quico, era furriel; o da direita era alferes e tenho um palpite para o seu nome mas não arrisco. Aceito sugestões.

(Continua)

Fotos: © António Murta
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Notas do editor

(*) Vd. poste de 20 de julho de 2015 > Guiné 63/74 - P14903: Memória dos lugares (305): O meu rio próximo, e de estimação, era o Rio Grande de Buba (1) (António Murta)

Último poste da série de 21 de julho de 2015 > Guiné 63/74 - P14909: Memória dos lugares (306): Rios ? Subi o Geba até Bambadinca, naveguei no Bichaque e no Cumbijã, fui atacado no Cacheu, andei no Cacine e no Sapo... (António Dâmaso, srgt PQ, BCP 12, BA 12, Bissalanca, 1972/74)... O rio da minha tabanca, o Olossato (Paulo Salgado,ex-alf mil cav, CCAV 2721, Olossato e Nhacra, 1970/72)

Guiné 63/74 - P14915: Os nossos seres, saberes e lazeres (107): Tomar à la minuta (9) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70) com data de 23 de Junho de 2015:

Queridos amigos,
Já deu para perceber que as belezas de Tomar excedem a iconografia e o esplendor do Convento de Cristo, a Janela do Capítulo e a Charola.
A cidade templária guardou outras formosuras que se disseminam pelas margens do Nabão, andamos no seu encalço. Hoje visitamos a Mata dos Sete Montes, um oásis em que uma cerca conventual se converteu numa mata de recreio.
Houve que parar, em dia de canícula, no majestoso café Paraíso, um expoente da Arte Deco e depois visitar o lugar onde nasceu Fernando Lopes Graça, nome cimeiro da música clássica em diferentes variantes.

Um abraço do
Mário


Tomar à la minuta (9)

Beja Santos

Da Mata dos Sete Montes à Casa de Lopes Graça


Em nome da verdade, fique entendido que esta imagem não é minha, extraí-a de uma brochura editada pelo Município de Tomar e pelo Instituto da Conservação da Natureza e Biodiversidade, pois tornava-se necessário pôr em ecrã gigante onde fica a mata, adossada à muralha do castelo, temos aqui o mais rico pulmão da urbe nabantina. Reza a brochura que foi no reinado de D. João III que surgiu a Cerca Conventual, influenciada pelo espírito da Contra-Reforma, que teve consequências no conjunto monástico, criaram-se novos claustros e este vasto domínio rural. Do Aqueduto dos Pegões já falamos, vamos agora ao espaço verde.


Tudo começou por uma exploração agrícola, água não faltava, por ali corre o ribeiro do Vale da Riba Fria, construíram-se tanques, muito provavelmente por aqui se passeavam os frades em comunhão com a natureza. Desta apoteose da engenharia hidráulica, gostaria de vos mostrar duas peças por ora mal tratadas, o tanque pequeno e a Charolinha.


É uma obra típica do Renascimento. Era abastecido pelo tanque grande através de uma caleira a céu aberto, tinha a função de armazenar água para regar as hortas do vale. O que é hoje jardim eram hortas, depois deu-se o flanqueamento pelo olival e pela esplendorosa mata.



A Charolinha é este pequeno templo circular rodeado por um tanque, dói ver este mau estado, o viandante subiu até aqui em dia de alta temperatura, agora refresca-se. Sente-se como no Buçaco ou em Monserrate, é tudo frondoso, há um vozear miúdo que se estende do parque das merendas até à entrada, onde se anicham vários autocarros que aguardam que os seniores que vieram de longe recolham farnéis.


O espaço ajardinado engalanou-se, chegou a Festa dos Tabuleiros, é preciso que a Pomba do Espírito Santo tremule ao vento, o calor abrasa, sigo para a mata que pertenceu ao senhor Marquês de Tomar, António Costa Cabral, comprador de parte dos bens da Ordem de Cristo, com a extinção das ordens religiosas, em 1834. O Marquês esmerou-se, teve enlevo pelo terreno, mandou fazer infraestruturas, aprimorou a vocação agrícola da quinta. Em 1936, a Cerca foi comprada pelo Estado por 560 mil escudos. Em 1938, a Mata dos Sete Montes foi transformada em parque florestal e jardim municipal.


Encontrei canteiros de buxo recentemente cortado, que odor! ajuntar-se aos pinheiros destilando resina, passa-se por fileiras de ulmeiros, freixos, cedros e ciprestes, bem organizados em patamares superiores. Aqui vemos a mata a densar-se, quem zela pela mata deve ter orgulho nesta paleta aberta de arvoredo tão diverso, plantaram-se ciprestes, pinheiros mansos e bravos, loureiros, pistácias, pilriteiros e carrascos.


Subia para a Charolinha quando dei com este banco, fiquei enternecido pela integração dos elementos, a mata é exuberante, alguém pensou a sério no que deve estar numa mata de recreio e nas diferentes encostas e qual a lógica da exposição solar.


Com o tempo, hei de rodar-me a passear na mata e a apreender imagens do Convento ao fundo, hoje não foi mais longe de que este assomo, lá ao fundo, o calor é brutal, parece que aqui do alto tenho a mata por minha conta, caminho lentamente para evitar um tombo, as raízes parecem querer tomar conta dos percursos pedestres. Andei pelo Caminho da Charolinha, passei lesto pelo Caminho da Cadeira D’El Rei. Como a viagem nunca acaba, é suficiente que o viajante venha animado para captar boas imagens da cerca do castelo.


Aqui estão as razões para me precatar de dar um espalhanço de arranjar umas fraturas. Mas também não há senão que não tenha a sua beldade, a obrigação de saber onde se põem os pés dá tempo a olhar dentro deste vale húmido, fértil e exuberante, entalado entre colinas, a mata é hoje património nacional.


O Infante vigia à entrada da mata, olha para lá das brumas da memória. Aconteceu que este sénior aguarda a partida do autocarro, encostou-se ao Infante, parece imitá-lo, como se dissesse: despachem-se lá, temos que partir para o nosso Bojador…


Tenho a língua encortiçada, meti-me pelas sombras do centro histórico e vim, afogueado, até à mansidão deste café que tem um nome ajustado, Paraíso. Um café cheio de história, podia ter estado aqui sentado Winston Churchill, a receber-nos de havano na boca e a fazer o V da vitória. Dessedentado, miro esta graciosidade Arte Deco, naquele nicho ter-se-ão vendido cigarros, cigarrilhas e charutos, publicações de toda a espécie, ainda bem que ninguém se atreveu a remover este ícone do passado, aqui se entrava para ler o jornal, cavaquear e formar tertúlia.


Candeeiros da época, relógio da época, a fotografia que se segue é um pormenor do café, não é muito feliz, há muito brilho nos espelhos, o fundo fica um glauco um tanto enlanguescido, prometo voltar e encontrar soluções que ultrapassem este amadorismo e estas soluções de sapateiro remendão.


É só para verem o design, aqui respira-se contemporaneidade, é lindo chão marmoreado, lindas são as colunas e a combinação das cores com o predomínio do castanho são uma quintessência da harmonia. Venham aqui tomar café, chocolate ou matar a sede e digam-me se não tenho razão.






Estamos agora na rua Dr. Joaquim Jacinto, aqui nasceu Lopes Graça, chama-se Casa Memória. Deambula-se e é quase impossível acreditar que houve uma casa de primeiro andar com cerca de 50 metros, em que uns tabiques separavam dois quartos interiores de uma pequena sala, havia uma improvisada cozinha que dava para as traseiras e o rés-do-chão era uma loja com um pequeno poço. Mostra-se o piano e a mesa de trabalho do compositor, fotografou-se uma caricatura e a fachada. Não sei qual foi o maior compositor do século XX, mas estou plenamente convicto que Lopes Graça, para além de prolífico, terá sido o mais versátil, pela riqueza que nos legou da música regional portuguesa, tocou em muitas teclas: música coral sinfónica, música teatral, música orquestral, música cora, música vocal, música de câmara e de piano. Estive com ele em dois momentos: um, na Mandíbula d’Aço, a última tertúlia do Chiado, que reunia no escritório do compositor Felipe de Sousa, Lopes Graça digeriu um cozido à portuguesa com uma garrafa de uísque à frente; a outra, quando fomos prestar homenagem a um amigo comum, José Gomes Ferreira, estivemos ali largo tempo de olhos postos no chão, curvados respeitosamente perante um grande poeta português.

(Continua)
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Nota do editor

Poste anterior da série de 15 de julho de 2015 > Guiné 63/74 - P14880: Os nossos seres, saberes e lazeres (106): Tomar à la minuta (8) (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P14914: Álbum fotográfico de Jaime Machado (ex-alf mil cav, cmdt do Pel Rec Daimler 2046, Bambadinca, 1968/70) - Parte VIII: População: da Ponta Brandão a Cansamba




Foto nº 9 > Guiné > Zona leste > Galomaro >  Setembro de  1969) >  Foto tirada na tabanca em autodefesa de Cansamba. A  bajuda estava a bordar. Quando  me preparava para lhe tirar a foto,  pediu-me que esperasse um pouco e foi ao interior da morança. Pensava eu que ia tapar os seio mas não, foi pôr o lenço na cabeça.



Foto nº 1 > Bambadinca, setembro de 1969: as (e)ternas crianças



Foto nº 2 > Tabanca de Bambadinca, setembro de 1969 (1)


Foto nº 3 > Tabanca de Bambadinca, setembro de 1969 (2): a arte de rapar a cabeça



Foto nº 4 > Bambadinca, cais do rio Geba (1): lá como cá, "trabalho do menino é pouco, mas quem não o aproveita é louco", diz o provérbio popular


Foto nº 5 > Bambadinca, cais do rio Geba (2)


Foto nº 6 > Galomaro, setembro de 1969: lavadeiras (1)


Foto nº 6 A > Galomaro, setembro de 1969: lavadeiras (2)



Foto nº 7 > Guiné > Zona leste > Setor L1 (Bambadinca) > Subsetor do Xime > Amedalai, setembro de 1969: o pilão e o trabalho infantil



Foto nº 8 > Guiné > Zona leste > Setor L1 > Bambadinca > Ponta Brandão,  fevereiro de 1970: major Cunha Ribeiro (2ª cmdt do BCAÇ 2852, Bambadinca, 1968/70), na psico. Havia aqui uma destilaria, de cana de acúcar...

Fotos (e legendas): © Jaime Machado (2015). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: LG]


1. Continuação da publicação do excelente álbum fotográfico do Jaime Machado, ex-alf mil cav, cmdt do Pel Rec Daimler 2046 (Bambadinca, maio de 1968/fevereiro de 1970):

[foto atual à direita; o Jaime Machado reside em Senhora da Hora, Matosinhos; mantém com a Guiné-Bissau uma forte relação afetiva e de solidariedade, através do Lions Clube; voltou à Guine-Bissau em 2010]



II  Atividade operacional do Pel Rec Daimler 2046, agora ao serviço do BCAÇ 2852 

Novembro de 1968

Op Hálito

Iniciada em 11, às 5h00,  com a duração de 2 dias e com a finalidade de detectar elementos IN,  e efectuar uma coluna de reabastecimentos à xompanhia aquartelada no Xitole. Tomaram parte na Operação:

Cmdt – Cmdt BCAÇ 2852 [Bambadinca]

Dest A – CART 1746 a 2 Gr Comb  [Xime] + CART 2339 a 3 Gr Comb [Mansambo]

Dest B – CART 2413 a 2 Gr Comb [Xitole] +

PEL CAÇ NAT 53 [Bambadinca]

1 Gr Comb  Ref CMD AGR 1980 [Bafatá]

3 ESQ PEL REC DAIMLER 2046 [Bambadinca]

1 ESQ PEL MORT 1192 [Bambadinca]

1 SEC MIL

Consistiu esta Operação no Reabastecimento do Xitole  utilizando o itinerário Bambadinca / Mansambo / Xitole, fazendo-se a travessia do Rio Pulom,  utilizando uma jangada e 4 barcos de borracha.

Foi necessário desobstruir o itinerário das abatizes, fazendo-se a transposição dos reabastecimentos das 10h30 às 14h00. A esta hora iniciou-se a retirada sendo as NT emboscadas por duas vezes por um grupo de 40/50 elementos, sendo a primeira com accionamento de mina A/C, causando 1 morto 12 feridos às NT e 1 desaparecido além de uma viatura danificada.

Apesar de ser a primeira vez que os militares deste Pelotão tinham contacto com o IN,  demonstraram mesmo assim uma calma, uma presença de espírito e um controle de fogo dignos de assinalar.

As NT chegaram a Mansanbo pelas 19h00, donde recolheram a Bambadinca.

Ainda no mês de novembro de 1968, efectuou vários patrulhamentos em itinerários do regulado do Cossé [, setor de Galomaro,] onde se tinha manifestado uma violenta acção IN contra a tabanca de Mussa Iero a qual fora incendiada.



Guiné > Zona leste > Setor L1 (Bambadinca) > Carta de Bambadinca (1955) > Escala 1/50 mil > Posição relativa de Nhabijões, Mero e Santa Helena, três tabancas consideradas, desde o início da guerra, como estando "sob duplo controlo", ou seja, com população (maioritariamente balanta) que tinha parentes no "mato" (zona controlad pelo PAIGC)... Em Finete, Missirá e Fá Mandinga havia destacamentos nossos. Entre Bambadinca e Fá Mandinga ficava Ponta Brandão. Havia aqui uma destilaria, de cana de acúcar...

 Havia uma outra, em Bambadinca (diz a história do BART 2917, mas eu nunca soube onde ficava exatamente). Os balantas adoravam aguardente de cana. Era natural que a guerrilha do PAIGC (ou os seus elementos locais, em Nhabijões, Mero e Santa Helena) viessem aqui, a Ponta Brandão, abastecer-se. O Jorge Cabral conhecia, melhor do que eu, a Ponta Brandão (a escassos 5 quilómetros de Bambadinca, à esquerda da estrada para Bafatá, e a meio caminho de Fá Mandinga; ia-se lá por causa da aguardente de cana e de uma certa bajuda, que devia ser filha ou mais provavelmente neta do velho Brandão).

Uma destas duas destilarias pertencia à família do Inácio Semedo, um histórico nacionalista, proprietário, de quem o Amílcar Cabral foi padrinho de casamento; ao que parece, foi preso, torturado pela PIDE e condenado a dois anos de prisão (,era pai do Inácio Semedo Júnior, que aderiu à guerrilha em 1964, tendo combatido no sul, e mais tarde, a seguir à independência, formou-se em engenharia na Hungria, onde se doutorou em ciências; conheci-o em Lisboa, em 2008, afastado da vida política; é uma pena se não escrever as suas memórias; tem um filho bancário). 

Sobre o Inácio Semedo, sénior, ver aqui a sua evocação pelo embaixador Carlos Frota que o foi visitar, à sua ponta, em Bambadinca, já depois da independênca (Carlos Frota: Guiné: turras e tugas. JTM - Jornal Tribuna de Macau, May 2, 2013), de que se cita o seguinte excerto:

" (...) Lembro-me também com respeitosa saudade de Inácio Semedo, sénior, nos seus setenta e muitos anos naquela época que nos recebeu, num domingo, para o almoço, na sua casa de Bambadinca, com a dignidade de um grande senhor que era.

Homem seco, de uma disciplina pessoal e frugalidade extremas, era proprietário agrícola e habituado por isso a exercer autoridade sobre quem estava sobre as suas ordens, fazendo-o de forma quase paternal. E todos lhe retribuíam com afectuoso respeito essa maneira de estar na vida." (...)

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2014).

PS - O Carlos Frota (, atual embaixador de Portugal na Indonésia,)  ia acompanhado, dos dois filhos do velho Inácio Semedo, o mais velho, Júlio Semedo, na altura ministro dos negócios estrangeiros e um dos dirigentes históricos do PAIGC,  e Inácio Semedo Jr, embaixador em Washington.

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Nota do editor:

Postes anteriores da série:

17 de julho de 2015 > Guiné 63/74 - P14890: Álbum fotográfico de Jaime Machado (ex-alf mil cav, cmdt do Pel Rec Daimler 2046, Bambadinca, 1968/70) - Parte VII: O edifício dos CTT de Bambadinca: c. 1968/70 e 2010 ... (Fotos completadas com as de Humberto Reis, ex-fur mil op esp., CCAÇ 12, 1969/71)

11 de julho 2015 > Guiné 63/74 - P14864: Álbum fotográfico de Jaime Machado (ex-alf mil cav, cmdt do Pel Rec Daimler 2046, Bambadinca, 1968/70) - Parte VI: Mulheres e bajudas (III)

8 de julho de 2015 > Guiné 63/74 - P14851: Álbum fotográfico de Jaime Machado (ex-alf mil cav, cmdt do Pel Rec Daimler 2046, Bambadinca, 1968/70) - Parte V: Mulheres e bajudas (II): A Rosinha, a lavadeira de Bambadinca, 40 anos depois (em Bissau)

8 de julho de 2015 > Guiné 63/74 - P14847: Álbum fotográfico de Jaime Machado (ex-alf mil cav, cmdt do Pel Rec Daimler 2046, Bambadinca, 1968/70) - Parte IV: Mulheres e bajudas de Bambadinca (I)

29 de junho de 2015 > Guiné 63/74 - P14806: Álbum fotográfico de Jaime Machado (ex-alf mil cav, cmdt do Pel Rec Daimler 2046, Bambadinca, 1968/70) - Parte III: O grave acidente com arma de fogo que vitimou o Uam Sambu, do Pel Caç Nat 52, na manhã de 1/1/1970

24 de junho de 2015 > Guiné 63/74 - P14790: Álbum fotográfico de Jaime Machado (ex-alf mil cav, cmdt do Pel Rec Daimler 2046, Bambadinca, 1968/70) - Parte II: Ao serviço do BART 1904 (de maio a setembro de 1968) e do BCAÇ 2852 (de outubro de 1968 a fevereiro de 1970)



terça-feira, 21 de julho de 2015

Guiné 63/74 - P14913: Blogpoesia (418): J. L. Mendes Gomes, em mês de aniversário natalício: seleção de cinco baladas de Berlim, Roses e Mafra


J. L. Mendes Gomes, ex-alf mil, CCAÇ 728,
Cachil, Catió e Bissau, 1964/66; autor de Baladas
de Berlim
,  Lisboa, Chiado Editora, 2013, 229 pp.]

 
1. O medo…


Vem de nós esta ameaça interna que nos acompanha, 
desde a nascença.

Da solidão,
quando no berço,
que as mãos da mãe
não voltem mais.

De cair no chão,
quando tentamos, sós,
o segundo passo.



Da escuridão da luz,
quando veio a noite
e a candeia não acendeu.

Daquele ruído no escuro,
não se sabe
do que é
nem donde vem.

De me perder pelo caminho,
sem saber como voltar.

De ir à loja, a mando da Mãe
e esquecer o que fui buscar.

Da reguada do professor
pelo erro da cedilha
ou da tabuada.

Dos degraus da escada,
quando a começo a descer sozinho.

E da negativa ao fim do período,
quando vem a hora de avaliar.

E da chuva que vem ao longe,
quando deixei em casa
o guarda-sol…

Tudo se sente,
tudo dói,
bem cá dentro,
antes mesmo de acontecer…

A realidade vem
e é bem melhor!


Mafra, 19 de Julho de 2015
É madrugada
Joaquim Luís Mendes Gomes


2. Peregrinação do silêncio…

Não vou pelas estradas abertas,
onde caminham as multidões.

Prefiro o silêncio dos bosques e das emboscadas,
onde faço minhas
as minhas presas,
e me deixo aprisionar.
Me abalanço aos meus devaneios
em passeios ao luar.

Fertilizo minhas ideias
na penumbra dos silêncios.
Sonhando e meditando
sobre as causas
na viagem enigmática onde seguimos.

Nossas crenças,
umas minhas,
outras dadas.

Com clareiras nas minhas pausas
e a paz fugaz da nossa paz.

De vez em quando, estremecendo de pavores,
mas sempre um seguro
peregrino preso ao chão
e não sabe andar para trás.

Ouvindo Chopin
Mafra, 13 de Julho de 2015, 6h18m
Amanheceu húmido e cinzento
Joaquim Luís Mendes Gomes

3. Lancei-me ao sol...

A partir de Roses,
fiz-me ao sol
por esta Espanha extensa.
unde a terra é um mar de palha seca
que já foi verde.

Toda se colhe em rolos gigantes.
Ó que riqueza!,
serão regalo do gado vacum.

Passei Barcelona na sua maré de encher.
Um fervilhar tão vivo
como se não houvesse crise.

Depois Lérida ao longe,
no sopé da serra.
Tem uma linda história
que vale a pena ler.

A seguir o Mar de Aragão,
onde corre o Ebro.
Todo ele é areia
manchada de verde
que lhe vem do Rio.

Passei sob o Greenwitch
que divide em dois
nosso planeta Terra.
Ali está assinalado num arco,
atravessando a estrada.
Uma feliz ideia
que nos faz sorrir...

Depois Saragoça, imponente e extensa,
com sua Catedral ao centro.
onde o moderno e o antigo se juntou harmónico.

A partir daí,
foi sempre a correr,
sem abrir os vidros,
para fugir ao sol...

Valladolid, 10 de Julho de 2015, 18h2m
Joaquim Luís Mendes Gomes


4. Afinação das cordas...


É básico. 
Fundamental. 
Trabalho prévio.
Afinar as cordas a toda orquestra,
inclusive o piano, esse de véspera.

Encontrar a melhor posição no assento.
Concentrar atentos os ouvidos
e olhos abertos.

Encher de ar o peito.
E de emoção a alma.

Enxergar os sons
e ouvir os tons,
a fluirem harmónicos.

Pegar-lhe o fogo do entusiasmo.
clarões no ar.
raios de sol.
cascatas caindo,
fragrâncias abrindo.
um vulcão de lava,
a escorrer sem fim.

Chovem acordes.
ressoam tambores.
fúria dos mares.
estertores da morte.
aves cantando.
na voz dos violinos,
suas cordas tensas
e endiabradas,
despertando as madrugadas,
cavalgadas de tubas
arremessando golfadas,
ira dos deuses.

Retinem os pratos.
fazem silêncios.
toldam os ares.
raios de luzes.

E o maestro,
ora sereno, ora fogoso,
rédeas nas mãos,
agitando os braços,
ao ritmo certinho,
atiçando o fogo,
inunda a sala
dum mar de sons.


Vibram as almas.
êxtase supremo.
mundo terreno,
quase divino.
parou o tempo.
Como será nos céus...

ora em brandura,
ora ira empolgante.
Roses, hotel Risech, 7 de Julho de 2015
aquele dia inesquecível em que eu vim ao mundo,
uns anos lá atrás...
Joaquim Luís Mendes Gomes

5. Remexer...as mentes


Impõe-se revolver a terra, 
limpá-la das pedras e ervas daninhas,
restos de raízes
e deixá-las em ondas e regos,
para a expor ao sol,
para matar os vermes
e carregá-la de energia.

Depois alisá-la e semeá-la de boa semente,
guardada religiosamente no celeiro.

Aspergir-lhe água na conta certa, sem empoçar
e deixar o resto nas mãos da Natureza...

E , de novo, brotará da Terra, 

a vida verde, em pujança e força...
crescerá arbórea,
com flor e fruto.

Um jardim, um prado,
um mar de pão...

Berlin, 26 de Junho de 2015, 5h41m
está cinzento...ameaçando chuva
Joaquim Luís Mendes Gomes

[Seleção / revisão / fixação de texto: LG]

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Guiné 63/74 - P14912: Recortes de imprensa (73): Duas guerras na fronteira dos felupes, artigo de Pedro Rosa Mendes no jornal Público de 19 de Fevereiro de 1999 (António Martins de Matos)

1. Mensagem do nosso camarada António Martins de Matos, TenGen Pilav Ref (ex-Tenente Pilav, BA 12, Bissalanca, 1972/74), com data de 19 de Julho de 2015:

Caros amigos
Ao passarinhar pela internete encontrei este texto de 19-02-1999 e da autoria de Pedro Rosa Mendes.
Assunto tabu ou no mínimo reservado, tem muito a ver com a posição do Senegal no "nosso" conflito.

Abraços
AMM

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Duas guerras na fronteira dos felupes

Pedro Rosa Mendes, em Suzana 
19/02/1999

Na fronteira com Casamansa, vê-se melhor que há duas guerras que são a mesma. O Senegal bombardeia do lado guineense, os guerrilheiros descem a Bissau para enfrentar o exército de Dacar e refugiados encontram-se fugindo em direcções opostas. "Quando acabar aqui, vai ser ainda pior do lado de lá."

Às sete da manhã, quando o sol está prestes a entrar na igreja, o padre José Fumagalli toca o primeiro hino no pequeno órgão electrónico que pôs ao canto do altar. Na mochila trouxe também o missal em língua felupe, as hóstias, o cálice e a caixinha de cinzas para verter sobre a cabeça dos fiéis. Ainda antes de a missa começar, o missionário acompanha já com o corpo - calça tamancos brancos - o ritmo dos tambores que dois rapazes aqueceram numa fogueira, para lhes tirar a humidade da noite.
A fronteira do Senegal fica perto e, sobre ela, ouviu-se horas antes o estrondo de uma outra guerra - que é a mesma que se combate lá longe em Bissau.
Na região noroeste da Guiné, ao longo da fronteira com o Sul do Senegal, é mais difícil do que em Bissau distinguir o conflito guineense de um outro, mais antigo, iniciado há década e meia pelos guerrilheiros independentistas do Movimento Democrático de Libertação de Casamansa (MDLC).

Pelas picadas da região de Suzana e Varela, guerrilheiros senegaleses pedem boleia para Bissalanca - na linha da frente dos revoltosos guineenses -, circulando por tabancas que servem de retaguarda ao MDLC e que o exército de Dacar fustigou várias vezes desde Junho passado.
A linha de fronteira guineense é, para Dacar, mais uma frente de combate contra a Junta Militar, e esta semana foi possível ouvir em Suzana o som da artilharia pesada do lado senegalês. Já não se ouve "aquele maldito avião senegalês que bombardeava as tabancas do lado guineense, de Bijene a Varela", explica o padre Fumagalli, "porque a Junta montou uma rede de mísseis Strella".
A guerra de Casamansa, porém, continua a marcar o quotidiano do Norte da Guiné. "A situação humanitária não parece grave. Não parece. Mas isso é um engano", diz o missionário italiano, que chegou à Guiné há mais de 40 anos e conhece por dentro a sociedade felupe. "A desnutrição das crianças neste meio não se vê por uma questão cultural dos felupes, que garantem que os mais novos comem mesmo que mais ninguém coma. Mas há muita escassez de alimentos. O padre Fumagalli recorda que "os refugiados de Bissau", um terço da população do país que se espalhou pelas tabancas do interior, "não ficaram em campos: alojaram-se em casa de parentes e há residências que quadruplicaram o número de bocas. As reservas de comida foram partilhadas com quem chegou."

Desde o início do conflito, houve apenas duas distribuições de alimentos no Noroeste, uma em Agosto, da Cooperação Portuguesa, e outra do Programa Alimentar Mundial, através da Cruz Vermelha, em Outubro - quatro meses depois do eclodir da crise. "O pouco arroz que os habitantes daqui tinham não é suficiente para ter uma reserva e a chuva, que foi abundante noutras zonas da Guiné, não deu em Suzana-Varela."  O padre Fumagalli prevê que em Maio ou Junho próximos as populações não terão já alimentos, ainda por cima a mais de meio ano da próxima colheita e na altura mais intensa de preparação dos campos. "Estarão a trabalhar sem comer", avisa o missionário, contrariando a ideia de relativo desafogo que as agências humanitárias têm do que se passa em Suzana. "Dentro de três meses, a situação será muito mais dramática do que até agora. "Os bombardeamentos senegaleses provocaram também o abandono de muitos terrenos férteis ao longo da fronteiras, o que explica que, apesar de haver mais braços com a vaga de deslocados, o ano agrícola tenha sido pobre.

A vida em Suzana-Varela é actualmente perturbada por uma dupla crise: há uma vaga de refugiados na Baixa Casamansa - cerca de 30 mil, segundo várias organizações humanitárias - e parte deles atravessou para tabancas guineenses, "porque as pessoas estão fartas de guerra e porque, como se diz, Guiné e Casamansa são peixes que nadam na mesma água", explica José Fumagalli. O padre considera que do lado senegalês "a situação está cada vez mais pesada. O Alto Comissariado da ONU para os Refugiados nunca mais apareceu desde o início da guerra".
"Nós ajudámos gente de Casamansa" nos últimos meses, conta um felupe que combateu no exército colonial português, António Sitanhebé. "Houve gente que se refugiou directamente nas nossas casas. Demos-lhes arroz mas depois preferimos dar-lhes terras e palmeiras para furar." António Sitanhebé vive na tabanca de Cassalol, na estrada de Suzana para Varela. Um bombardeamento aéreo senegalês matou uma mulher e feriu gravemente outra, no Verão passado.

Acontece, por causa de incidentes como esse, que tabancas fronteiriças do lado guineense sofrem uma sangria de população, que foge para norte. Foi isso que fez a mulher de Ricardo Ampaboine, um felupe de Suzana que, no início da revolta de Ansumane Mané, decidiu alistar-se nas forças da Junta. A mulher de Ricardo está ou em Ziguinchor, principal cidade de Casamansa, ou algures na Gâmbia, porque Ricardo tem família em três países. Para ele, a descida a Bissau para combater as forças lealistas e o exército senegalês foi apenas natural. "Nós e os de Casamansa somos irmãos", justifica Ricardo. "Quando a guerra da Guiné acabar", assegura António Sitanhebé, "a do lado senegalês será ainda mais forte, até Casamansa conseguir a independência."

Com a devida vénia ao jornal Público
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Nota do editor

Último poste da série de 8 de fevereiro de 2015 > Guiné 63/74 - P14231: Recortes de imprensa (72): Portugual e Espanha: parecenças e diferenças... Esterótipos: (i) "Portugueses, pocos, pero locos"; (ii) "De Espanha nem bom vento nem bom casamento...

Guiné 63/74 - P14911: Convívios (697): Encontro do pessoal da CCAÇ 3327, dias 24 e 25 de Julho de 2015, em Fazenda, Laje das Flores, Ilha das Flores, Açores (José da Câmara)

1. Mensagem do nosso camarada José da Câmara (ex-Fur Mil da CCAÇ 3327 e Pel Caç Nat 56, Brá, Bachile e Teixeira Pinto, 1971/73), com data de 20 de Julho de 2015:

Queridos amigos, 
Infelizmente tenho tido algumas dificuldades em mandar o programa para o nosso convívio. 
Para já, isto é o melhor que podemos fazer. Se houver necessidade de ajustamentos isso será feito de acordo com as necessidades do momento. 

A volta à ilha, cortesia da Câmara Municipal, só poderá contar com 16 lugares. Daí pedir-vos que aqueles que tenham carro o usem para podermos estar todos juntos. 

Nas Lajes das Flores, o Restaurante Hélio, ao cima da Avenida do Emigrante e o Café junto do Porto das Lajes, serão os locais de encontro durante a semana, a partir de amanhã. 

Sejam bem vindos ao Conselho das Lajes das Flores e ao convívio da CCAÇ 3327. 

Um grande abraço. 
José Câmara 
Casa: 292 593 282 
Telemóvel: 917 784 544 

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Nota do editor

Último poste da série de 15 de julho de 2015 > Guiné 63/74 - P14881: Convívios (696): Rescaldo do encontro do pessoal da CART 6250/72, levado a efeito no passado dia 11 de Julho em Oliveira do Bairro (António Murta)

Guiné 63/74 - P14910: Caderno de Memórias de A. Murta, ex-Alf Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4513 (12): De 26 de Maio a 8 de Junho de 1973

1. Em mensagem do dia 17 de Julho de 2015, o nosso camarada António Murta, ex-Alf Mil Inf.ª Minas e Armadilhas da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4513 (Aldeia Formosa, Nhala e Buba, 1973/74), enviou-nos mais uma página do seu Caderno de Memórias.


CADERNO DE MEMÓRIAS
A. MURTA – GUINÉ, 1973-74 

12 - De 26 de Maio a 8 de Junho de 1973

26 de Maio de 1973 - (sábado) - Cumbijã

À tarde houve uma flagelação a Aldeia Formosa mas sem danos. Usaram canhão sem recuo e foguetões 122. Só para instabilizar e dizer “estamos aqui”. Onde será a próxima?

Face à nossa deplorável situação em Cumbijã, com o prolongar de uma estadia para a qual não vínhamos preparados, resolvi enviar uma carta ao nosso Comandante em Aldeia Formosa:

“26.05.73, Cumbijã.
 Exmo. Cmdt.
 Antes de mais, peço desculpa pelo modo pouco formal de me dirigir a V. Exa., mas limitações circunstanciais obrigaram a que assim fosse.
A seguir, quero apelar para a sua pessoa, como responsável e influente, para que, independentemente de quaisquer movimentos tácticos das tropas ou meras operações, nos possa dispensar ou fazer render com a maior brevidade possível, pois se torna pior, a cada dia, a nossa estadia aqui.
Vínhamos preparados para estar fora de Nhala durante 3 dias e já faz hoje 12 dias que aqui vegetamos, sem nos lavar convenientemente e sem nunca mudar de farda, suportando um serviço, por vezes sobrecarregado, para quem está em tão precárias condições.
Ontem, pelas 23h30, chegou aqui a CCAV 51 que, com toda a razão, fez sair das suas tendas os homens dos dois grupos de Nhala, forçando-os a dormir ao ar livre, suportando nessas condições o temporal que pouco depois se abateu sobre Cumbijã.
O pessoal, além do descontentamento justificado, pelos indícios, está em vias de esgotamento físico.
Agradeço antecipadamente, enviando-lhe os meus respeitosos cumprimentos.
Alf. Mil. António M. Murta Cavaleiro.”

Foi portador desta carta o furriel Guimarães “velhinho” da CCAÇ 3400 de Nhala que está aqui em Cumbijã a comandar o seu grupo, junto do meu. Mas a carta nunca chegou ao destino porque ele, à passagem por Mampatá, falou com o Cap. Marcelino e este expôs o problema (deve ter lido a carta), ao Cmdt. Intº Major DM. Resultou. Não é por acaso que a “velhice é um posto! À tarde fomos para Mampatá, onde dormimos.

[Hoje, parece redundante, depois do que foi descrito antes sobre a nossa situação, a transcrição desta carta que nem chegou ao destino mas, por outro lado, dá bem a ideia de até onde eu estava disposto a ir para ser ouvido, sob pena de deixar agravar o estado físico e emocional de todo o pelotão. Ou permitir que se sublevassem].


27 de Maio de 1973 – (domingo) – A dança dos pelotões

Nhacobá voltou a ser flagelada com morteiro 82, tendo a habitual resposta da nossa artilharia.
Finalmente, vamos para Nhala. Saímos cedo de Mampatá e à chegada tive um enorme desapontamento. Na mesma coluna em que chegámos, partiriam os grupos dos alferes C. L. e do J. A. C. P. acompanhados do capitão B. da C.
Vou passar aqui algum tempo sem nada de especial para fazer. Vou-me ocupar a ler e a fazer fotografia. Há já algum tempo, em sociedade com Alf. J. A. C. P., comprei um estúdio de fotografia que pertencia a três furriéis da Companhia que viemos render, a CCAÇ 3400.


30 de Maio de 1973 – (quarta-feira) – O regresso ao inferno

Três dias volvidos após a chegada a Nhala, e eis que somos recambiados com destino a Mampatá. Recebi a mensagem e fiquei quase em estado de choque. Nunca a minha revolta esteve num patamar tão alto.
Feitos os preparativos, partimos depois do almoço, mas chegámos tarde a Mampatá. Portanto, está aqui toda a Companhia excepto o grupo da Formação (?).

À chegada aqui, soube uma triste notícia relacionada com um caso ocorrido em Aldeia Formosa entre o pessoal da 3.ª CCAÇ do meu Batalhão: um soldado, uma semana depois de ter tido uma discussão com um camarada acerca de futebol, foi à cama onde este dormia e matou-o com vários tiros de G3. Não consigo (nem conseguiu ninguém), achar uma explicação para o incidente. Se foi só por causa do futebol, foi simplesmente absurdo e lamentável.

Soube ainda que, afinal, Guidage também foi abandonada e depois ocupada pelo PAIGC. Quanto a Guilege, onde aconteceu o mesmo, já tinha a confirmação há algum tempo. Por tudo isto a situação está tão grave, principalmente nesta zona.


31 de Maio de 1973 – (quinta-feira) – A morte do Régulo

A zona de Nhacobá teve uma flagelação muito breve com morteirada.
Esta madrugada fui acordado pelo choro colectivo da população de Mampatá: morreu um homem que muito estimavam. Era o régulo Aliu Baldé de Mampatá e das populações de Aldeia Formosa e outras da região, e seu representante nas Assembleias do Povo em Bissau, além de comandante com o posto de alferes de uma Companhia de Milícias distribuída pela zona. Morreu de doença em Bissau, onde se havia deslocado para a referida assembleia, última ocorrida.

Saí com o grupo às 6 da manhã para a estrada com a missão de fazer protecção às máquinas da Engenharia, relativamente perto de Cumbijã. À chegada ali, começou a chover torrencialmente e foi debaixo de chuva gelada que nos mantivemos durante algumas horas. Depois, mais duas horas molhados até que a roupa secasse no corpo, agora sob um calor abrasador e húmido, apesar do sol encoberto. Diria mesmo que estávamos expostos ao vapor de uma panela de pressão. De regresso a Mampatá entrei de serviço ao aquartelamento.


1 de Junho de 1973 – (sexta-feira) – A “festa” IN tem-me passado ao lado

Da História da Unidade de BCAÇ 4513:
“JUN,01 – Tornou a haver flagelação a Nhacobá com morteiro 82 e RPG da região de SAMENAU.
- Um GR COMB / 1.ª CCAÇ teve contacto IN ao montar segurança próxima ao destacamento de Cumbijã. As nossas tropas sofreram um ferido grave".

Do meu diário:
Estou, portanto, de serviço ao aquartelamento de Mampatá. Todos os grupos restantes da minha Companhia saíram para missões de protecção às obras da estrada e aos destacamentos, em virtude de uma visita do Gen. Spínola, que não se chegou a verificar.
Entre elementos de um dos grupos da 1.ª CCaç do capitão B. D., emboscados aqui na zona, verificou-se um grave incidente [que não é mencionado na História da Unidade]: um soldado disparou um tiro para algo que viu mexer no mato, e logo vários camaradas desencadearam fogo sobre ele, supondo tratar-se de um ataque IN. Talvez que as distâncias que os separavam fossem exageradas ou, ainda, que tivessem (...). O que é certo, é que o soldado que disparou primeiro levou vários tiros numa perna, partindo-lhe a tíbia e furando-lhe o perónio. Depois do incidente, foi evacuado.

À tarde verificaram-se aqui as cerimónias fúnebres do Régulo Aliu Baldé, de cariz muçulmano e militar. Compareceram nas mesmas, o Comandante do Batalhão Ten Cor C. A. S. R., o 2.º Comandante Major D. M., Alferes Capelão e outros. Formou-se um pelotão de milícias comandado pelo meu camarada Alf Câmara, que rendeu as devidas honras militares ao morto.


2 de Junho de 1973 – (sábado) – Dia de descanso. 

Nada de especial a assinalar.


3 de Junho de 1973 – (domingo) – Cumbijã flagelada.

Cumbijã voltou a ser flagelada com 20 granadas de morteiro 82 mas sem consequências. [Da H. da Unidade].


6 de Junho de 1973 – (quarta-feira) – Visita do General Spínola.

Mais uma vez foram montados dispositivos de segurança entre Cumbijã e Nhacobá para acautelar a visita do Comandante-Chefe Gen. Spínola e, mais uma vez, esta não se realizou. [Extracto da H. da Unidade BCaç3852].


8 de Junho de 1973 – (sexta-feira) – Entrada inopinada em Nhacobá.

Da História da Unidade do BCAÇ 4513:
“JUN, 08 – A partir desta data forças do BCAÇ passaram a ser empenhadas na protecção do Destacamento de Engenharia na estrada CUMBIJÃ-NHACOBÁ.
- Forças da 2.ª CCAÇ / BCAÇ 4513 encontraram em Nhacobá um saco contendo documentos IN em região GUILEGE 3 F 9-34, possivelmente abandonado quando da operação BALANÇO FINAL”.

Do meu diário:
Há vários dias que não registo o que quer que seja, mas porque nada tem havido de interesse, quase sempre a rotina, ou seja: fazer serviço aqui em Mampatá, fazer segurança às máquinas na estrada, tanto na frente como na retaguarda, etc.
Só ontem me desviei um pouco dessa rotina, para mal dos meus pecados, pois fui com o grupo escoltar a coluna Aldeia Formosa-Buba e volta. Foi um dia extenuante, quer pela dura viagem na picada em péssimo estado, quer pelos problemas com o pessoal que não depende de mim e, até, pelo excessivo calor suportado até às 14 horas aproximadamente, logo seguido de forte ventania e chuva muito fria.

Hoje, a saída daqui de Mampatá, fez-se, como sempre, por volta das 6h30, utilizando a coluna vinda diariamente de Aldeia Formosa com tropas e com a Engenharia. Da minha Companhia apenas ficou o 1.º GC, seguindo os restantes três comandados pelo Cap B. da C. com a missão de fazerem protecção às máquinas na frente de trabalhos.
Descemos das viaturas onde finda actualmente o alcatroamento, seguindo depois em fila indiana pela berma esquerda da estrada, picando sempre. Mais uma vez se me prende a atenção no espectáculo que é o movimento deste cordão humano, interminável e vagaroso que, contudo, parece ameaçador, tanto pelas fisionomias ásperas dos homens como pela quantidade de armas que carregam. Até à frente de trabalhos andámos cerca de 5 quilómetros mas, ainda a meio do caminho, quando seriam umas 7h30 da manhã, já o suor nos escorria abundantemente por todo o corpo, salgando-nos os olhos e atraindo a mosquitada.

Chegados onde actualmente estão os trabalhos de desmatação, montámos uma frente de protecção às máquinas que ali trabalham e que chegariam pouco depois de nós. Finalmente o pessoal teve oportunidade de descansar um pouco da longa caminhada, sobrecarregados e com a responsabilidade da picagem por onde passarão as máquinas e o resto do pessoal. Missão ingrata, porque essa pista lateral à estrada, para além do imenso pó, é de terras soltas, propícia à instalação de minas.

[Numa tarde, certamente muito depois desta data, ao fazermos o mesmo percurso, eu ia fixado na equipa de picagem à minha frente e comecei a ficar tão tenso e constrangido, – a imaginar que num instante, um daqueles homens, muito menos preparados do que eu, poderia ir pelos ares com o deflagrar de uma mina —, que mandei parar o grupo, tirei a pica a um deles e avancei eu no seu lugar, recomendando que os de trás pusessem os pés nas pegadas dos da frente. Eu ia com um presságio que não se confirmou, felizmente. Não é bravata, não, meus caros... Naquela situação de tensão, (houve muitas outras e isto não me aconteceu), com todos os sentidos num alerta esgotante, mais o sentimento de apreensão que eu levava, se acontecesse algo a um daqueles homens, eu não dormiria mais no resto da minha vida. Tive situações em que podiam ter sido atingidos homens com minas que nos escaparam à detecção, dentro de Nhacobá, por exemplo, mas isso é completamente diferente. Não sei se registei o episódio acabado de referir no meu caderno em data que ignoro, por isso aqui fica, para que não se julgue que apenas sentíamos calor, frio e as picadas dos mosquitos...].

A mata que estão a abrir aqui na frente de trabalhos, vai bater na extremidade direita das tabancas de Nhacobá, e é aqui que vai passar, definitivamente, a nova estrada, apesar de estar uma picada já aberta para o lado esquerdo, por onde chegaram, pela primeira vez, as nossas tropas quando se verificaram os contactos a que me referi há algum tempo atrás.

Por erro ou ignorância do ponto da situação no local, íamos com ordens de ficar pouco além da frente de trabalhos e antes de Nhacobá uns 300 a 400 metros. Porém, como a frente de trabalhos está a apenas 200 metros de Nhacobá, vimo-nos forçados a instalar o pessoal numa linha paralela às tabancas e distante destas, apenas 20 metros escassos, de terreno desarborizado que vigiávamos a partir da orla da mata onde havíamos chegado.

1973 - Nhacobá: algumas tabancas limítrofes.
Foto: © António Murta

A antiga base IN e as suas tabancas estavam mergulhadas num silêncio sepulcral, parte delas na penumbra sob as copas das árvores, o que inspirava um ar de mistério e de respeito. Mas despertava-nos um sentimento misto de apreensão e curiosidade, por desconhecermos se estariam por ali, ou na zona, tropas IN mas, também, porque ainda não tínhamos tido oportunidade de, com tempo, vasculhar o sítio e as coisas que, não há muito, eram do nosso inimigo. Contudo, havia ordens rígidas dos “crânios” para que ninguém se aproximasse de Nhacobá sem tropas a nível de duas companhias, ou seja, com efectivos de 400 homens ou mais. Como tudo isto é incrível e ridículo!... E nós ali estávamos com cerca de 70 homens.

Não tardou nada que chegassem até às nossas posições, as máquinas que abriam a estrada e simultaneamente desmatavam lateralmente uma larga faixa, arrancando pela raiz árvores de qualquer porte. O empreiteiro civil expôs-nos o problema: ou mandávamos vir mais tropas, ou íamos nós com o pessoal que tínhamos fazer um reconhecimento às tabancas, pois que ele tinha de avançar com as máquinas até à enorme bolanha do outro lado de Nhacobá. Ficámos, assim, num dilema de difícil solução. Então eu pedi ao Cap. B. da C. que me autorizasse a ir sozinho às tabancas fazer o reconhecimento, ao que ele acedeu com algumas reservas e muitas apreensões, lembrando-me os eventuais perigos. Mas, que fazer? A outra alternativa, impensável, era fazer parar os trabalhos da estrada, a meio do dia, e comunicar superiormente a necessidade de mais tropa.

Avancei de bagabaga em bagabaga, sempre providenciais [para todas as partes, digo eu, hoje], até menos de 10 metros das primeiras tabancas. Pareceu-me tudo vazio e sem constituir perigo para se avançar, excepto no respeitante a minas. Voltei para trás e avisei todo o pessoal instalado, para que não houvesse erros fatais, de que ia fazer a entrada nas tabancas com o meu camarada Alf. C. L. e três dos seus homens de pica em punho. Desloquei-me o mais possível para a direita, onde ficava a tabanca mais próxima e comecei por aí, levando na mão esquerda uma pica e na direita a G3. Ao meu lado seguia o C. L. com os seus homens picando sempre. Entrámos na primeira palhota, na segunda, terceira e assim por diante. Uma ou outra tinha porta e estava fechada, o que me obrigou a passar a lâmina da faca de mato pelas frestas, para a detecção de eventuais fios de armadilhas. Mas não. Nem havia no interior vestígios recentes. Tão pouco em toda a zona. Nem objectos esquecidos que tivessem pertencido ao PAIGC, porque aquando da primeira entrada ali das nossas tropas, quando se verificaram os contactos, e nas entradas seguintes, tudo foi levado pelos militares como recordação ou como material e bens a serem declarados.

Regressámos para junto do pessoal e informei o capitão de que podíamos avançar à vontade, (eu era o responsável da Companhia pelas minas e armadilhas), mas já nessa altura as máquinas investiam contra o matagal, arrancando tudo, até mesmo junto de algumas tabancas. Eram quase 12 horas quando o pessoal se fixou na orla da mata, entre as tabancas e a grande bolanha do outro lado de Nhacobá. Aproveitei para passar de novo tudo a pente fino, num reconhecimento feito a meias com o meu furriel JMP. Nada encontrámos de especial, para além de um celeiro ainda com bastante arroz em casca, já referenciado pela CCAV 51, uma granada defensiva das nossas que não explodiu e que eu desarmei desenroscando-lhe a cabeça para a guardar sem perigo, vários estilhaços das nossas granadas de obus, grande quantidade de recipientes de barro, na maioria partidos, várias latas de ração de combate de origem russa, restos de medicamentos e dois abrigos subterrâneos com uma resistência que eu calculo a toda a prova.

Depois disto, resolvi descansar um bocado e comer a minha ração de combate. Estava nestes preparos quando apareceu o meu camarada C. L. trazendo na mão uma enorme mochila que tinha sido encontrada por um homem do seu grupo, pendurada numa árvore e devidamente camuflada. Isto foi, sem dúvida, o acontecimento do dia: continha vários livros e grande quantidade de cartas, documentos, um mapa da Guiné e um planisfério, ambos de origem russa. [Foi algum deste material que eu recolhi por não ter interesse militar e que eu, há tempos, ofereci à nossa Tabanca e foi publicado].

Pelo que vi, alguns destes documentos e cartas, vão ter muito interesse para o nosso Comando, devido à importância do que revelam. Entre tudo isso encontrámos algumas fotografias de africanos tiradas na URSS, assim como documentos e processos disciplinares do tribunal das chamadas áreas libertadas, como pude ver nos cabeçalhos impressos desses documentos. Vi também alguns apontamentos sobre as características da nossa espingarda metralhadora HK 21 e sobre material de guerra do PAIGC.

Depois de tudo remexido havia que enviar aquilo para Aldeia Formosa na Chaimite que, por acaso, ali se encontrava. O Cap. B. da C. fez então recolher toda a papelada que circulava pelas mãos do pessoal, mas não conseguiu evitar que eu guardasse 3 pequenos livros e outros papeis, bem como o mapa da Guiné, [que ficou com o meu espólio em Nhala, aquando da minha vinda de férias sem regresso]. Os livrinhos, em português, têm os seguintes títulos: “Solidariedade”- Boletim de Informação publicada pela Agência de Imprensa NOVOSTI, (2 exemplares, sendo um de 1969 e outro de 1971), e “Palavras de Ordem Gerais”, de Amílcar Cabral.

Cerca das 14 horas regressámos a Cumbijã, novamente a pé, numa dolorosa caminhada por causa do calor e da sede. De Cumbijã regressámos a Mampatá nas Berliet.

(continua)

Texto e foto: © António Murta
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Nota do editor

Último poste da série de 14 de julho de 2015 > Guiné 63/74 - P14877: Caderno de Memórias de A. Murta, ex-Alf Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4513 (11): 23 e 24 de Maio de 1973

Guiné 63/74 - P14909: Memória dos lugares (308): Rios ? Subi o Geba até Bambadinca, naveguei no Bichaque e no Cumbijã, fui atacado no Cacheu, andei no Cacine e no Sapo... (António Dâmaso, srgt PQ, BCP 12, BA 12, Bissalanca, 1972/74)... O rio da minha tabanca, o Olossato (Paulo Salgado,ex-alf mil cav, CCAV 2721, Olossato e Nhacra, 1970/72)



Guiné-Bissau > Região do Oio > Olossato > Rio Olossato > 2006 

Foto: © Paulo Salgado (2006). Todos os direitos reservados [Edição: LG]




Guiné > Região de Tombali > Gadamael > CCAÇ 3518 (1970/74) > Album fotográfico do nosso saudoso camarada  Daniel Matos (1951-2011) >  Foto 44 > "Cais de Gadamael, num momento de descarga do batelão (BM3), que nos abastecia e que ali deixava os produtos que transportaríamos nas colunas para Guileje... O rio que banhava Gadamael Porto era o Sapo, afluente do Rio Cacine, "

Foto (e legenda): © Daniel Matos (2010) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados [Edição: LG]
  


1. Mensagem de António Dâmaso, srg mor PQ ref [BCP 12, BA 12, Bissalanca, 1972/74]

Data: 2 de julho de 2015 às 14:12

Assunto: Sondagem sobre ss nossos rios da Guiné

Ilustres camaradas!


Obrigado pelo convite para participar, mas o inquérito  (*) não me permite dizer "o que me vai na alma".

Das várias vezes que estive no Ultramar, fui um privilegiado por ter sido sempre transportado de avião.

Quanto a deslocações na Guiné, até certo ponto também usufruí desse privilégio.

Em 9 ou 10 de julho de 1969, subi o rio Geba até Bambadinca, neste trajeto lembro-me de ter passado por um estreito e de ter esperado que a maré enchesse, pelo menos isto é o que eu retenho em todos os meus sonhos de guerras travadas.

Mais tarde, em dezembro de 1972, naveguei no Bichaque e no Cumbijã.

Em Maio de !973, no Cacheu, por duas vezes onde fui envolvido no ataque do Patrulha.

Em Junho e Julho de 1973, naveguei no Cacine e no afluente [, Rio Sapo que banha] Gadamael Porto por quatro vezes.

Isto foi a minha passagem por rios da Guiné.

Um abraço

A. Dâmaso


2. Mensagem de Paulo Salgado, com data de 3 jul 2015 06:20


[ foto à esquerda: Paulo Salgado, ex-Alf Mil, CCAV 2721, Olossato e Nhacra, 1970/72. administrador hospitalar reformado; cooperante na Guiné-Bissau e em Angola]


Caros bloguistas, caro Luís,

Como podeis pensar apenas na grandeza, na extensão (quase todos os que indicais...)?

Há um pequeno rio que serpenteia entre arvoredo frondoso, que recebe as crianças, jovens brincando na água, que devolve tranquilidade a quem, por certo, se aventurou a navegar numa canoa...é o rio Olossato, que corre na povoação com o mesmo nome.

Registai: Olossato. (**)

Saudações bloguistas


Paulo Salgado
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Notas do editor;

(*) Último poste da série > 20 de julho de 2015 > Guiné 63/74 - P14903: Memória dos lugares (305): O meu rio próximo, e de estimação, era o Rio Grande de Buba (António Murta)

(*) Vd, poste de 19 de fevereiro de  2006 > Guiné 63/74 - P548: Do Larinho ao Olossato ( Blogue de Paulo Salgado)

Guiné 63/74 - P14908: Consultório militar de José Martins (14): Restrições à consulta dos processos de casos disciplinares / justiça militar


O nosso colaborador permanente José Martins no seu escritório em 2006. É um homem organizado, metódico, persistente e um camarada generoso... Foi revisor oficial de contas noutra encarnação. Perguntem-lhe qualquer coisa sobre a vossa história militar, que ele responde... Responde sempre, mesmo que não seja logo, porque são ínvios os caminhos dos arquivos... (LG)


1. Pedido, com data de 17/6/2015 (*):

Zé Martins: Será que os processos de justiça militar existem em arquivo, e nomeadamente no Arquico Histórico-Militar ? E será que podem ser consultados, mesmo com restrições ? Haverá estatísticas sobre a justiça militar no tempo da guerra colonial ?

Vê se me sabes responder... É um pedido para o teu "consultório militar"... 

Um alfabravo. Luis

2. Resposta:

Enviado: terça-feira, 14 de Julho de 2015 23:23

 Viva,  Luis

Só hoje fui ao AHM para consultar alguns documentos:

(i) o pedido do Ley Garcia (**), que tentei aprofundar mais, mas sem resultado;
(ii) uma pesquisa sobre um Cirurgião Militar, que esteve em Leiria no inicio do século XX, no Hospital Militar;

(iii) pesquisa sobre um tia-avô da minha mulher;

(iv) caso dos Processos Disciplinares.

Conclusão: estão no AHM, mas não podem ser consultados se:

(i) se tiverem matéria criminal ou que ponha em causa o bom nome do indivíduo;

(ii) que ainda não tenham decorridos 50 anos após a morte do réu;

(iii) que sejam descendentes do próprio.

Eu próprio deixei, à condição, um pedido para consultar um processo transitado em julgado em Maio de 1923, dum tio. Após de me perguntarem se o réu ainda era vivo (foi há 92 anos), se a esposa era viva ou se tinha filhos, aceitaram o pedido porque, na prática, lhes disse a data do julgamento, o tribunal, o "crime" de que era acusado e a sentença aplicada, assim como a data de execução da mesma.

Resultado: Ainda é TABU.
Abraço
Zé Martins