segunda-feira, 9 de maio de 2016

Guiné 63/74 - P16071: Convívios (743): XXXVII Encontro do pessoal da CCAV 2639, dia 18 de Junho de 2016 em Fernão Ferro (Mário Lourenço)

1. Pede-nos o nosso camarada Mário Lourenço (ex-1.º Cabo Radiotelegrafista da CCAV 2639 Binar, Pete, Bula, Ponta Consolação e Capunga, 1969/71), que anunciemos o 37.º Convívio da sua Unidade, a levar a efeito no próximo dia 18 de Junho de 2016, em Fernão Ferro.




VAI-SE REALIZAR, NO DIA 18 DE JUNHO DE 2016

 O 37.º CONVÍVIO DO PESSOAL DA 

COMPANHIA DE CAVALARIA 2639
 
Caros amigos Luís Graça e Carlos Vinhal
Venho com este "mail" pedir que seja divulgado o 37.º Almoço/Convívio da CCAV 2639 que se realiza este ano em Fernão Ferro, estrada de Sesimbra, no restaurante "MANJAR DAS LARANJEIRAS", no dia 18 de Junho de 2016. 

Apesar de os camaradas que temos conhecimento de morada, serem contactados via correio, poderemos encontrar outros de quem não temos a morada e conheçam o nosso Blogue, ou algum familiar ou amigo.

A organização do convívio deste ano será de CARLOS MARQUES (sorna) cujos contactos são: 
96 046 52 74 ou 210 822 797 (casa). 

Desde já agradeço a vossa colaboração, despeço-me com forte abraço 
Mário Lourenço
(tabanqueiro 662)
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Nota do editor

Último poste da série de 9 de Maio de 2016 Guiné 63/74 - P16069: Convívios (742): XXI Encontro do pessoal do BCAÇ 2885, dia 21 de Maio de 2016, na Lousã (César Dias)

Guiné 63/74 - P16070: (In)citações (90): Colonização versus descolonização - fenómeno de aculturações inter-raciais (José Manuel Matos Dinis, ex-Fur Mil da CCAÇ 2679)

1. Mensagem do nosso camarada José Manuel Matos Dinis (ex-Fur Mil da CCAÇ 2679, Bajocunda, 1970/71) com data de 1 de Maio de 2016:

Colonização versus descolonização - fenómeno de aculturações inter-raciais

Sobre o comentário ao post 16028

Olá Luís, bom dia!
Lá vieste tu desassossegar-me, coisa que agradeço.

De facto, as minhas leituras predominantes incidem sobre a África desde o período da colonização, que teve inicio por alturas do sec. XIX com as grandes viagens de exploração e de interesses científicos e antropológicos, com destaque para a geografia, a agricultura e a mineralogia. A civilização, como é sabido, tem evoluído por impulsos de domínio de umas civilizações sobre outras, e a Europa não escapou a esse modelo mutacional, de que Portugal é exemplo. Tenho reflectido e desenvolvido algumas ideias com conclusões empíricas sobre a matéria.

Em África houve colonialismo, como antes tinha havido na Europa, com grandes áreas e populações que se alternavam em regimes colonizadores sobre outros, e lhes conferiam maior riqueza de conhecimentos também por via do cruzamento de raças, e inter-acção humanística, designadamente a paternidade.

Referes as vítimas dos "ismos", e eu subscrevo.Os "ismos" no meu entender são a constatação de formas de domínio, de que podem ou não resultar impulsos socialmente evolutivos ou de regressão bárbara. Normalmente não registam estagnação. Assim, porque é que um Deus de uma religião há-de ser melhor que outro de outra? Porque é que as religiões vão alterando as suas catequeses à evolução dos interesses sociais em diferentes grupos da humanidade? Por que é que o capitalismo há-de ser melhor que o fascismo ou o comunismo, se os modelos abrigarem exploração de classes com os seus cortejos de dificuldades, sempre subordinados a cliques autocráticas e plutocráticas? Por isso estou de acordo com as tuas interrogações.

O processo colonizador não pode ser visto como o modelo da escravatura, porque hoje temos grandes nações que cresceram e desenvolveram-se pela integração de escravos, e hoje são excelentes exemplos de miscigenação e progresso. O processo colonizador poderá ser, então, um processo de desenvolvimento e de enriquecimento pela valorização das sociedades, que passará por fases até à equiparação de deveres e direitos entre os concidadãos. Assim, colonialismo não é pejorativo.

A descolonização das colónias africanas resultou de uma enormidade de crimes, conforme razões já invocadas noutras ocasiões, crimes que aos olhos dos militares a quem se exige consciência permanente: desde logo, o crime de traição, por razões óbvias e amplamente referidas; depois, o crime de lesa-pátria, uma Pátria que não podia alterar as estruturas num clique, como se constata e confirma com múltiplos exemplo; e finalmente, o crime contra a humanidade, tendo em conta os muitos milhares de assassinatos que se verificaram, e qualquer líder militar consciente (para que servem os altos estudos militares?) tem obrigação de levar em conta no desencadear de uma acção, com perspectivas mais do que presumíveis, pois quebrado o cimento da nacionalidade, revitalizar-se-ia a questão tribal, por um lado, e a questão do domínio, por outro, tanto mais que as potências da guerra-fria não deixariam de aproveitar a lacuna, e potenciariam os seus campos de experiências bélicas sem saírem chamuscadas, enquanto alargariam as áreas de influência. Assim, os responsáveis pela vergonhosa descolonização, que abandonaram os povos e os territórios por razões de traição ou saudades das famílias na metrópole, devem ser julgados, à semelhança do que aconteceu com os responsáveis dos crimes étnicos da Sérvia. É queda brutalidade há responsáveis por acção e omissão.

Posso estar a exagerar nos conceitos e avaliações, mas há que denunciar a trapaça do MFA, que só tinha intenção de servir o interesse dos oficiais que o integravam, incluindo a ambição de Spínola, qual padrinho manhoso para atingir o poder, e em conjunto transformaram Portugal num peão do xadrez político das potências, onde ainda permanece, agora sob o pomposo regime da "democracia" com votos equiparados a cheques em branco.

Na medida em que temos cá um historiador activo, e muitos com dedicado interesse pela História, pode acontecer que alguém traga ciência (as fontes e a interpretação histórica), onde eu apresento o que podem classificar de palpites, mas façam-no com abordagens sistematizadas e livres de preconceitos, mostrando conhecer as diferenças culturais da cultura prosélita.

Não devo acabar sem prestar homenagem aos que deram de si à Pátria, e de expressar admiração, por todos os que foram violentados e ficaram sem familiares, amigos e bens, mas que mantiveram a serenidade sem ódio na reconstituição das suas vidas.

Abraços fraternos
JD
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Nota do editor

Último poste da série de 28 de abril de 2016 Guiné 63/74 - P16028: (In)citações (89): Reflexão sobre a oportunidade (a falta dela) decorrente do MFA (José Manuel Matos Dinis, ex-Fur Mil da CCAÇ 2679)

Guiné 63/74 - P16069: Convívios (742): XXI Encontro do pessoal do BCAÇ 2885, dia 21 de Maio de 2016, na Lousã (César Dias)

 

1. Em mensagem do dia 6 de Maio de 2016, o nosso camarada César Dias (ex-Fur Mil Sapador da CCS/BCAÇ 2885, Mansoa, 1969/71) pede-nos a divulgação do XXI Encontro do pessoal do seu Batalhão, coincidente com a comemoração dos 45 anos da chegada à Metrópole, a levar a efeito no próximo dia 21 de Maio de 2016, na Lousã.









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Nota do editor

Último poste da série de 8 de maio de 2016 Guiné 63/74 - P16066: Convívios (741): O próximo Encontro do pessoal da magnífica Tabanca da Linha é no dia 19 de Maio, no sítio do costume (José Manuel Matos Dinis)

Guiné 63/74 - P16068: Nota de leitura (837): “Quinto Centenário da Descoberta da Guiné 1446 / 1946", brochura com um conjunto de selos da autoria de Amadeu Cunha e Uma tocante homenagem ao Comando morto em combate por Vassalo de Miranda (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 9 de Julho de 2015:

Queridos amigos,
Já não era sem tempo que vos mostrasse um tesouro filatélico de que me orgulho muito, os selos das comemorações do V Centenário da Descoberta da Guiné.
É um tesouro e uma raridade, os trabalhos do artista Alberto Sousa no campo filatélico podem ser vistos no Museu das Comunicações, são de primeiríssima água; e uma raridade, duvido que haja meia-dúzia de exemplares com toda a coleção de selos à venda.
Como é dia de prodígios, junto a imagem de um impressivo quadro de Vassalo de Miranda que autorizou a sua reprodução no blogue. Leva-nos a comungar a dor que todos sentimos quando perdemos os nossos camaradas no campo de combate.

Um abraço do
Mário


1 - Uma preciosidade filatélica: Guiné, 1946

Beja Santos

No âmbito das comemorações do V Centenário da Descoberta da Guiné (1946) foi editada uma brochura com um conjunto de selos da autoria de Alberto Sousa, conhecido artista plástico e colaborador no desenho filatélico muito apreciado. A autoria do texto da brochura pertenceu a Amadeu Cunha, ligado através da Agência Geral das Colónias a uma colaboração assídua na revista “Muito Português” exclusivamente dedicada à problemática colonial.

Era sentimento da época de que fora Nuno Tristão o descobridor daquela região da Guiné, hoje é mais do que problemático que tenha sido assim. Escreve o autor: “Nuno Tristão recebeu o encargo de levar vela o mais longe que pudesse, da Ponta da Galé, o que fez, alcançado Carlo Branco; em 1443, de novo a reconhecer, navegava para o Sul e descobria as ilhas de Arguim e das Garças e, mais distante, uma terra que se presume ser a que, em 1445, Dinis Dias nomeou de Cabo Verde. Mais um escudeiro do Infante, Lançarote, saindo com seis caravelas, numa das quais Gil Eanes voltava à faina descobridora, chegara às ilhas das Garças, Naar e Tider. Do mesmo ano foi a saída de Gonçalo de Sintra, a quem o Infante havia recomendado “que fosse diretamente à Guiné e que por nenhum caso não fizesse o contrário”. Mas fê-lo, afinal, “desejando avantajar-se sobre os outros”, porque disso tiraria tanta honra como proveito. Preferiu, pois atacar a gente de Arguim, e na ilha de Naar encontrou a morte com mais 12 companheiros. Em 1446, Nuno Tristão, tornava às suas andanças de descobridor, “mui desejoso desta vida”. Havendo entrado com 22 dos seus, um rio, porque a corrente houvera afastado muito da caravela os batéis, vira-se, em certo passo, salteado por uma chusma de almadias, que deram neles, e todos, à exceção de três, sucumbiram, feridos por frechas empeçonhadas. Por memoração foi posto a certo rio o nome do herói. Rio de Nuno ficou a chamar-se. Mais a identificação suscita dúvidas. Foi esse, ou terá sido outro, o Geba, que serviu de cenário ao episódio? Nuno Tristão deixava descoberta a atual Guiné Portuguesa, legendada pelo seu sangue e o de seus companheiros”.


A coleção de selos mostra o forte de Cacheu, que surgiu em 1588, a igreja de Bissau, Honório Pereira Barreto, o presidente norte-americano Ulisses Grant, a quem coube arbitrar a questão de Bolama e também o capitão Teixeira Pinto, sobre quem o autor escreve: neto e filho de bravos, tendo já ganho a Torre e Espada na guerra contra o Cuamato, passava em 1912 à Guiné. Desde logo tratou de elaborar um plano de ocupação definitiva. Compreendia quatro campanhas: a primeira, de Abril a Agosto de 1913, ao Oio; a segunda, de Janeiro a Abril do ano imediato, contra os Papéis e Manjacos de Cacheu; a terceira, de Maio a Junho, contra os Balantas de Mansoa; de Maio a Agosto de 1915, a quarta, que foi de todas a mais dura e mortífera, contra os Papéis de Bissau. A cada campanha correspondera um êxito”.


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2 - Uma tocante homenagem ao Comando morto em combate

Tive a alegria de receber a visita de Vassalo de Miranda, um Comando que esteve na Operação Tridente e que é um dos mais distintos artífices da banda desenhada portuguesa, aqui no blogue já falamos de três livros seus dedicados a feitos na Guiné, envolvendo operações e a lancha 302, várias vezes atingida, teve uma vida atribulada nos rios da Guiné.

O Vassalo de Miranda veio oferecer-me mais banda desenhada e dar-me conta dos seus trabalhos pictóricos. Foi a remexer nestes que encontrei esta imagem que não precisa de palavras, tal o seu vigor representativo. O autor autorizou a sua reprodução no nosso blogue e até me prometeu que em breve nos iria oferecer os seus textos sobre a Operação Tridente. Discutimos o título deste quadro e assentámos que poderá ficar conhecido como “A dor do Comando”. Em nome desta confraria onde labutam prestigiosos camaradas do Vassalo de Miranda, como é o caso do Virgínio Briote, o nosso muito obrigado.

 “A dor do Comando”
© Vassalo de Miranda, Comando que esteve na Operação Tridente e que é um dos mais distintos artífices da banda desenhada portuguesa 
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Nota do editor

Último poste da série de 6 de maio de 2016 Guiné 63/74 - P16056: Nota de leitura (836): “Portuguese Africa, A handbook”, com coordenação de David M. Abshire e Michael A. Samuels, respetivamente doutorados nas universidades de Georgetown e Columbia, nos EUA (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P16067: Manuscrito(s) (Luís Graça) (83): As nossas máscaras, ontem e hoje... Apontamentos sobre o XI Festival Internacional da Máscara Ibérica (Lisboa, 6-8 de maio de 2016)


Foto nº 1 > Lisboa, Pr Rossio > 8 de maio de 2016 > XI Festival Internacional da Máscara Ibérica...  Ao fundo, do lado direito, a célebre igreja e o quartel do Carmo... 28 grupos (Portugal, Espanha e Sardenha, 500 participantes) animaram a baixa lisboeta durante três dias, apesar da 'partida' do São Pedro, no sábado...



Foto nº 2 > Lisboa, Pr Rossio > 8 de maio de 2016 > XI Festival Internacional da Máscara Ibérica... Grupo Caretos de Podence, Macedo de Cavaleiros


Foto nº 3 > Lisboa, Pr Rossio > 8 de maio de 2016 > XI Festival Internacional da Máscara Ibérica...  >  Um elemento do grupo "Los Diablos de Luzón", Guadalajara, Espanha... "Os homens de Luzón aproveitam o sábado de Carnavalç para se transfigurarem em bestas demoníacas. Cobrem-se de preto dos pés à cabeça, coroada por chifres de touro;  carregam chocalhos à cintura e levam na boca pedaços de babta crua simulando dentes disformes. Entretêm-se a perseguir todos os que não estiverem mascarados como eles, alargando o fito incial de atanazar as raparigas desta zona tão próxima do rio Tajuña, um subafluente do Tejo que agora visitam" (Fonte: www.mascara-iberica.egeac.pt)



Foto nº 4 > Lisboa, Pr Rossio > 8 de maio de 2016 > XI Festival Internacional da Máscara Ibérica... > "Una diabla de Luzón"... 


Foto nº 5 > Lisboa, Pr Rossio > 8 de maio de 2016 > XI Festival Internacional da Máscara Ibérica...  > Mais um "diabblod e Luzón" posando com uma turista...


Foto nº 6 > Lisboa, Pr Rossio > 8 de maio de 2016 > XI Festival Internacional da Máscara Ibérica...  >  Grupo "Mamutzones de Samugheo", Sardenha > "Distinguem-se pelo seu imponente visual, meio homem meio cabra"...


Foto nº 7 > Lisboa, Pr Rossio > 8 de maio de 2016 > XI Festival Internacional da Máscara Ibérica... >  Grupo "Mamutzones de Samugheo", Sardenha > A parafernália dos chocalhos..



Foto nº 8 > Lisboa, Pr Rossio > 8 de maio de 2016 > XI Festival Internacional da Máscara Ibérica...  > Elemento, á direita, do famoso grupo de Caretos de Grijó, Bragança... À esquerda, parece-me ser um elemento do grupo "Los Danzantes y losBoteiros de Vilariño de Conso!, Galiza.




Foto nº 9 > Lisboa, Pr Rossio > 8 de maio de 2016 > XI Festival Internacional da Máscara Ibérica...  >  > Máscara não identificada



Foto nº 10 > Lisboa, Pr Rossio > 8 de maio de 2016 > XI Festival Internacional da Máscara Ibérica... > Máscara não identificada


Foto nº 11 > Lisboa, Pr Rossio > 8 de maio de 2016 > XI Festival Internacional da Máscara Ibérica...  > Máscara não identificada... posando com a nossa grã-tabanqueira Alice Carneiro


Foto nº 13 > Lisboa, Pr Rossio > 8 de maio de 2016 > XI Festival Internacional da Máscara Ibérica... > Máscara não identificada (Galiza ?), posando com a nossa grã-tabanqueira Alice Carneiro


Foto nº  14 > Lisboa, Pr Rossio > 8 de maio de 2016 > XI Festival Internacional da Máscara Ibérica... >  "Careto de Lazarim", errra já famosa pelo seu caranaval, no concelho de Lamego, posando com a nossa grã-tabanqueira Alice Carneiro


Foto nº  15 > Lisboa, Pr Rossio > 8 de maio de 2016 > XI Festival Internacional da Máscara Ibérica... >  A nossa grã-tabanqueira Alice Carneiro, posando com um elemento do grupo "Los Hombres de Mugos de Béjar", Salamanca, Espanha. Foi assim "camuflados" que os cristão, no séc. XII,  se terão apoderado da fortaleza da cidade, em poder dos mouros. Lendas, crenças, mitos e história misturam.-se em todas estas mácaras ibéricas...



Foto nº 16 > Lisboa, Pr Rossio > 8 de maio de 2016 > XI Festival Internacional da Máscara Ibérica... >  A  nossa grã-tabanqueira Alice Carneiro, posando com um "dibalo de Luzón"



Foto nº 17 > Lisboa, Pr Rossio > 8 de maio de 2016 > XI Festival Internacional da Máscara Ibérica...> Máscaras não identificadas... posando com a nossa grã-tabanqueira Alice Carneiro.


Texto, fotos, vídeos e legendas : © Luís Graça (2016). Todos os direitos reservados.




I. Máscara... O que diz o dicionário ?

máscara | s. f. | s. 2 g.
más·ca·ra
(italiano maschera)

substantivo feminino

1. Peça para resguardo da cara na guerra, na cresta de colmeias ou na esgrima.

2. Objecto de cartão, pano, cera, madeira ou outros materiais, que representa uma cara ou parte dela, destinado a cobrir o rosto, para disfarçar as pessoas que o põem.

3. Molde (em gesso) do rosto de um cadáver.

4. [Figurado] Disfarce.

5. [Cosmetologia] Produto pastoso que se aplica nas pestanas para as colorir ou lhes dar volume. = RÍMEL

6. [Zoologia] Zona da cara de um animal à volta dos olhos, geralmente de cor diferente.
substantivo de dois géneros

7. Pessoa mascarada.

máscara de Venturi
• [Medicina] Máscara de uso médico que permite controlar a concentração de oxigénio administrado a um paciente.

"máscara", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, https://www.priberam.pt/dlpo/m%C3%A1scara [consultado em 08-05-2016].


II. Fascinam-me as máscaras. 

A vida é um teatro. Ninguém melhor que os gregos antigos souberam usar a máscara no anfiteatro: para eles, e todos os demais povos, a vida é ora tragédia, ora drama, ora comédia, Representamos diversos papeis ao longo da vida, do nascer ao morrer. Papeis que escolhemos ou que os outros nos impõem. Não é fácil saber quem é o encenador e, muito menos, quem escreve o guião. Representamos diversos papéis, com ou sem máscara: muitas máscaras sobreviveram, até aos dias de hoje, a "toga" do juiz, "cego, surdo e mudo", decidindo da vida e da morte; o "capuz" do carrasco; "o traje académico", na universidade, separando o mestre do aprendiz; a "farda" militar, impondo a unidade de comando-controlo e a hierarquia entre os combatentes;  os "paramentos" do celebrante da missa cristã, o sacerdote,  ou as "vestes" do feiticeiro, ambos fazendo a  ponte entre dois mundos que, só por magia, ou pela fé, se tocam, a terra e o céu, o sagrado e o profano; a "bata branca" do médico ou da enfermeira, que não é apenas uma peça de vestuário de trabalho...

A máscara ibérica, em Lisboa, veio para estar e durar.... Esta é o XI Festival, um grande evento mesmo  a nível mundial. Os lisboetas e os turistas e os 500 participantes, oriundos de 28 grupos de Portugal, Espanha e Sardenha (Itália), divertiram-se!... Eu também, e a Alice, por duas horas, no domingo de manhã, deambulando pelo Rossio, em frente ao teatro de Dona Maria, onde outrora se erguia o Palácio (ou Paço) dos Estaus, sede do Santo Ofício, ou Santa Inquisição, que zelava pela pureza da fé e da raça...

Das máscaras do terror do passado às máscaras de hoje que nos ajudam a exorcizar o medo, que é inerente à condição humana, a do "homem sapiens sapiens"...  Mas também é um festival de cores, sons e sabores... onde estão presentes, e bem vivas (!), as gentes do interior e da periferia da Europa, do sul da Euiropa (longe de  Lisboa, Madrid, Roma, Bruxelas, Berlim...). Com estes grupos vieram também os tambores, a gaita de foles, os chocalhos, o pão, o queijo de ovelha e de cabra, os enchidos, o vinho... Porque não há festa sem o pão e o vinho e a música.. e a transgressão, com ou sem máscara.

Curiosamente, no dia em que os senhores de Lisboa foram abrir o "túnel do Marão", um barreira até então física e simbólica que separava os de lá e os de cá... E será que agora faz sentido dizer que "para lá do Marão mandam os que lá estão"!?... As autoestradas são boas se tiverem dois sentidos, "ó pra cima, e ó pra baixo" (como se diz no Norte). LG



XI Festival Internacional da Máscara Ibérica - Los Diablos de Luzón, Guadalajara, Espanha. Lisboa, 6-8 de maio de 2016. Vídeo (1' 18''): © Luís Graça (2016)


XI Festival Internacional da Máscara Ibérica - Mamutzones de Samugheo, Sardenha. Lisboa, 6-8 de maio de 2016. Vídeo (1' 57''): ©  Luís Graça (2016)



XI Festival Internacional da Máscara Ibérica - Os Pauliteiros de Palaçoulo,  Miranda do Douro, OParte I, Lisboa, 6-8 de maio de 2016. Vídeo  (1' 43''):  © Luís Graça (2016)



XI Festival Internacional da Máscara Ibérica - Os Pauliteiros de Palaçoulo,  Miranda do Douro. Parte II, Lisboa, 6-8 de maio de 2016. Vídeo  (1' 50''):  © Luís Graça (2016)


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Nota do editor:

domingo, 8 de maio de 2016

Guiné 63/74 - P16066: Convívios (741): O próximo Encontro do pessoal da magnífica Tabanca da Linha é no dia 19 de Maio, no sítio do costume (José Manuel Matos Dinis)



DIA 19 DE MAIO 

PRÓXIMO ENCONTRO DA MAGNÍFICA TABANCA DA LINHA


1. Mensagem do nosso camarada José Manuel Matos Dinis (ex-Fur Mil da CCAÇ 2679, Bajocunda, 1970/71), Amanuense da Magnífica Tabanca da Linha, em efectividade de serviço, com data de hoje, 6 de Maio de 2016:

Caríssimo Carlos

Aí, do sítio onde exerces a soberania, venho pedir-te com os habituais salamaléques, que difundas pelos instrumentos ao teu dispor, que vai realizar-se um próximo encontro da Magnífica. E isto foi muito bom de saber, porque S.Exa. o Senhor Comandante Rosales deu-me a honra de uma inesperada visita, vinha ele esgroviado e foi bater à uma razoável distância da minha porta, pois vinha dobrado sob o peso de duas garrafas cheias de vinho da sua produção, lá num feudo nos confins de Coruche, e, noutra mão, trazia um magnífico e mal cheiroso queijo de Azeitão.

A coisa passou-se assim: de manhã, eram talvez umas onze da madrugada, toca o telefone. Zé! - vociferou, quero ir agora a Oitavos que hoje estou muito ocupado. Comandante é comandante, e se tem a agenda muito preenchida, os subordinados, e no caso sou o único subordinado e escravo que lhe apara os golpes, devem dedicar-lhe toda a disponibilidade, com o principal intuito de lhe preservarem os miolos dentro da caixa acondicionadora. Isto foi coisa que aprendi desde tenra idade: não contrariar os mais velhos, para não lhes dar o fanico. Fiz a palada da ordem, e prantei-me junto da porta da residência em respeitosa atitude de espera.

S.Exa chegou e embarquei. Não fiz qualquer reparo à condução, nem mostrei alguma perturbação pelas manobras mais arriscadas feitas por S.Exa. Os dedos dentro dos bolsos ferravam o unhame nos testículos, mas não dei parte de fraco, nem perturbei o virtuoso condutor.

Lá chegados, por momentos, esquecemos ao que íamos, e prosseguimos uma conversa de bordo, pelo que o chefe daquela casa restaurativa viu-se obrigado a perguntar-nos o que queríamos. S.Exa. revelou de facto estar cheio de pressa, pois ao contrário das cerimónias do costume, desta vez nem fez menção a um copo de tinto.

Então, venho agora cumprir a missão de anunciar. S.Exa. ainda ontem comeu bacalhau, pelo que não lhe apeteceu voltar a comer do mesmo em tão curto espaço de tempo. Rápido como é a tomar decisões, como quem reage certeiramente ao fogo do IN, ocorreu a S.Exa. requisitar como ementa um prato de arroz de marisco, uma coisa que era servida com basta frequência nos aquartelamentos da Guiné, que agora o pessoal vai conhecendo melhor. Perguntei-lhe, na presunção do bem comum, o que comeriam os restantes, ao que Sua Execelência ripostou que não havia privilégios nem privilegiados, vai ser o mesmo para todos. Porra! que nem ao Afonso Henriques vi tanta determinação.

Assim, posso comunicar aos emérito membros da tertúlia, que será no próximo dia 19 o referido encontro, no sítio de Oitavos, o tal que dispõem de amplo parque de estacionamento, e onde só se paga a paisagem de preço módico.

Se alguém com interesse em aparecer não conhecer a localização, sugiro a aquisição de um aparelho moderno do tipo GPS, e que se informe das coordenadas por outra via, já que a mim não me pagam para andar a identificá-las. Mas é fácil, besta meter pela estrada do Guincho e prestar atenção à placa e à direcção apontada para Oitavos. Convém, no entanto, prestar muita atenção ao aumento do fluxo de pó-pós, principalmente (seria sobretudo se fosse durante o inverno frio), se vier uma viatura carregada de nortenhos, como foi prometido por um certo Francisco de Brunhoso, um nobre de sangue azul, dos que bebe tanto branco como tinto, que disse fazer-e acompanhar de uma elite de espadeiros, susceptível de impressionar os mouros.

Binde, carago! Mas não passem sobre o contínuo, nem abusem das zebras em viagem tresloucada. Ali, o tempo está sempre bom: ou quente com o sol brilhante, ou chuvoso com o sol escondido.  

Combirá, é que façam as necessárias inscrições até ao dia 16. E mais não digo, para não me tratarem de mentiroso. 
O télélé do Sr Comandante tem o n.º 914 421 882, e o meu é o 913 673 067.

Bon apetit! (isto é franciú, não dá para quem só sabe crioulo.

Abraços fraternos
JD
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Nota do editor

Último poste da série de 7 de maio de 2016 Guiné 63/74 - P16062: Convívios (740): VII Encontro de Os Ilustres TSF, ocorrido no passado dia 20 de Abril em Viseu (Hélder V. Sousa, ex-Fur Mil TRMS TSF)

Guiné 63/74 - P16065: Na festa dos 12 anos, "manga de tempo", do nosso blogue (10): Republicando o poste P5807, de 13/2/2010: O 6.º aniversário do nosso Blogue (1): Homenagem ao Fundador Luís Graça e a toda a tertúlia (Jorge Félix/Carlos Vinhal)


1. Trinta e cinco anos depois.

No 25 de Abril de 2004 presto a minha homenagem às mulheres portuguesas,
Que se vestiam de luto enquanto os maridos ou noivos andavam no ultramar;
Às que rastejavam no chão de Fátima, implorando à Virgem o regresso dos seus filhos, sãos e salvos;
Às que continuavam, silenciosas e inquietas, ao lado dos homens nos campos, nas fábricas e nos escritórios;
Às que ficavam em casa, rezando o terço à noite;
Às que aguardavam com angústia a hora matinal do correio;
Às que, poucas, subscreviam abaixo-assinados contra o regime e contra a guerra;
Às que, poucas, liam e divulgavam folhetos clandestinos ou sintonizavam altas horas da madrugada as vozes que vinham de longe e que falavam de resistência em tempo de solidão;
Às que, muitas, carinhosamente tiravam do fumeiro (e da barriga) as chouriças e os salpicões que iriam levar até junto dos seus filhos, no outro lado do mundo, um pouco do amor de mãe, das saudades da terra, dos sabores da comida e da alegria da festa;
E sobretudo às, muitas, e em geral adolescentes e jovens solteiras, que se correspondiam com os soldados mobilizados para a guerra colonial, na qualidade de madrinhas de guerra.

A maioria dos soldados correspondia-se, em média, com uma meia dúzia de madrinhas, para além dos seus familiares e amigos. Em treze anos de guerra, cerca de um milhão de soldados terá escrito mais de 500 milhões de cartas e aerogramas. E recebido outros tantos. Como este que aqui se reproduz.
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Guiné, 24 de Dezembro de 1969

Exma menina e saudosa madrinha:

Em primeiro de tudo, a sua saúde que eu por cá de momento fico bem, graças a Deus.

Estava um dia em que meditava e lamentava a triste sorte que Deus me deu até que toquei na necessidade de arranjar uma menina que fosse competente e digna de desempenhar tão honroso e delicado cargo de madrinha de guerra. Peço-lhe desculpa pelo atrevimento que tive em lhe dedicar estas simples letras. Mas valeu a pena e é com muita alegria que recebo o seu aero (1).

Vejo que também está triste por mor (2) da mobilização do seu mano mais novo para o Ultramar. Não sei como consolá-la, mas olhe: não desanime, tenha coragem e fé em Deus. Eu sei que custa muito, mas é o destino e, se é que ele existe, a ele ninguém foge. Nós, homens, temos esta difícil e nobre missão a cumprir.

Nós, militares, que suportamos o flagelo desta estadia aqui no Ultramar, não temos outro auxílio, quer material quer espiritual, que não seja o que nos dão os nossos amigos e entes queridos. E sobretudo as nossas saudosas madrinhas de guerra.

Sendo assim para nós o correio é a coisa mais sagrada que há no mundo. Porque nos traz notícias da nossa querida terra e nos faz esquecer, ainda que por pouco tempo, a situação de guerra em que vivemos e os dias que custam tanto a passar.

As notícias aqui são sempre tristes, nestas terras de Cristo, habitadas por povos conhecidos e desconhecidos. Não lhe posso adiantar pormenores, mas como deve imaginar uma pessoa anda triste e desanimanada sempre que há uma baixa de um camarada.

Lá na metrópole há gente que pensa que isto é bonito. Que a África é bonita. Eu digo-lhe que isto é bonito mas é para os bichos. São matas e bolanhas (3) que metem medo, cobertas de capim alto, e onde se escondem esses turras (4) que nos querem acabar com a vida. E mais triste ainda quando se aproxima o dia e a hora em que era pressuposto estarmos todos em família, juntos à mesa na noite da Consoada. Vai ser a primeira noite de Natal que aqui passo. Com a canhota (5) numa mão e uma garrafa de Vat 69 (6) na outra.

São duas horas da noite e vou botar este aero na caixa do correio. Daqui a um pouco saio em missão mais os meus camaradas. Reze por nós todos. Espero voltar são e salvo para poder ler, com alegria, as próximas notícias suas. Queira receber, Exma. Menina e saudosa madrinha, os meus mais respeitosos cumprimentos. Desejo-lhe um Santo e Feliz Natal.

O soldado-atirador da Companhia de Caçadores (...)
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Notas de LG:

(1) Aerograma. Também conhecido por corta-capim (o correio era, muitas vezes distribuído em cima de uma viatura, e o aerograma lançado por cima das cabeças dos soldados, à maneira de um boomerang). Os aerogramas foram uma criação do Movimento Nacional Feminino, dirigida pela célebre Cecília Supico Pinto desde 1961, e o seu transporte era assegurado pela TAP ("uma oferta da TAP aos soldados de Portugal"). Os aerogramas também foram usados na guerra da propaganda do regime, ostentando carimbos de correio com dizeres como "Povo unido, paz e progresso", "Povo português, povo africano", "Os inimigos da Pátria renunciarão" ou "Muitas raças, uma Nação, Portugal" (vd. Graça, L. - Memória da guerra colonial: querida madrinha. O Jornal. 15 de Maio de 1981).

(2) Por mor de = por causa de (expressão usada no norte).

(3) Terras alagadiças da Guiné onde tradicionalmente se cultivava o arroz (... e se pescava). Durante a guerra colonial, foram praticamente abandonadas como terras de cultivo, devido à deslocação de muitas das populações ribeirinhas e à escalada das operações militares. A Guiné, que chegou a exportar arroz, passou a importá-lo.

(4) Corruptela de terroristas. Termo depreciativo que era usado para referir os combatentes do PAIGC (Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde). Os soldados portugueses eram, por sua vez, conhecidos como tugas (diminuitivo de Portugal, português ou portuga).

(5) Espingarda automática G-3, de calibre 7.62, de origem alemã, que passou a equipar as forças armadas portuguesas no Ultramar. Em 1961 o exército português ainda estava equipado com a velha Mauser (!).

(6) Marca de uísque escocês, muito popular na época entre os militares (Havia uma generosa distribuição de bebidas alcoólicas nas frentes de guerra, com destaque para o uísque, "from Scotland for the exclusive use of the Portuguese Armed Forces"). Na época o salário de um soldado-atirador (cerca de 1500 a 1800 escudos, parte dos quais depositado na metrópole) dava para comprar mais de uma garrafa de uísque (novo) no serviço de aprivisionamento militar (cerca de 40 pesos ou escudos por unidade). No entanto, a bebida mais popular entre os soldados era cerveja. Uma garrafa de cerveja de 0,6 litros chamava-se bazuca.

# posted by Luís Graça @ 15:33
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2. Comentário de CV:

Assim começou, no já longínquo dia 23 de Abril de 2004, este Blogue a dedicar-se às memórias daqueles que por serem profissionais, ou por imposição, participaram na guerra colonial em território da Guiné.

Publicados que foram 825 postes, no dia 1 de Junho de 2006, Luís Graça dá por encerrada a I Série e inaugura a II que se mantém em actividade apesar de já ter em arquivo mais de 5800.

Com as sucessivas entradas de novos tertuianos, a disponibilidade de tempo do Editor e fundador do Blogue começou a não chegar para dar resposta ao trabalho de edição que exigia já muitas horas de dedicação por dia.

Em 2007, num almoço na Tabanca de Matosinhos, Luís Graça convida-me a assumir o papel de co-editor. Não fui capaz de dizer não, e desde então aqui me têm. Porque trabalho é coisa que não falta, passado pouco tempo pedimos ao camarada Virgínio Briote para colaborar também na edição e publicação dos imensos textos e fotografias que cada vez mais camaradas faziam chegar ao Blogue.

A última e proveitosa entrada para a equipa editorial foi a de Eduardo Magalhães Ribeiro. Em boa hora, porque o camarada Virgínio por motivos particulares praticamente deixou de colaborar. Estamos já a pensar em arranjar mais um camarada que possa dispôr de algum do seu tempo para nos dar uma ajuda.

Temos que dizer que há tertulianos que de uma forma quase anónima nos ajudam, de sobremaneira, pesquisando registos de acontecimentos, Histórias de Unidades, elaborando textos que encomendamos, localização de camaradas, etc.
Neste âmbito, justíssimo salientar o nosso investigador-mor José Martins que tem sido inexcedível para connosco. Outros camaradas espontaneamente nos ajudam e/ou ajudam quem nos procura na busca de antigos companheiros de luta dos quais perderam referência há muito tempo.
A todos quantos de alguma forma trabalham connosco, o nosso muito obrigado.

Falar do Blogue e não falar dos Encontros da Tertúlia é uma falta imperdoável.

Não me lembro já quem lançou a ideia do primeiro Encontro ocorrido ma Ameira em 2006, o Luís por certo, onde aconteceu aquilo que eu chamo de magia, pois não tenho uma palavra para descrever o que todos sentimos quando cada um tentava ligar o seu interlocutor à foto existente no Blogue, atirando: - Tu és o "..." , eh pá dá cá um abraço...

Gerou-se uma empatia colectiva, fizeram-se amizades indestrutíveis e viveram-se momentos irrepetíveis.

Ameira > 2006 > Alguns dos camaradas participantes no I Encontro Nacional da Tertúlia

As nossas companheiras de uma vida, por vezes difícil pelos maus momentos psicológicos que todos nós, mais ou menos, atravessámos.

Cada ano, novo Encontro, novo renascer de amizades pois há sempre gente que aparece pela primeira vez, se deixa contagiar e não mais falta, salvo motivos pessoais imponderáveis, como é normal.

O nosso Blogue tem na blogosfera um lugar importante. Sendo um Blogue que se dedica a um assunto específico que quase só interessa a quem tem sessenta anos ou mais, que seja ex-combatente da guerra colonial, e da Guiné especificamente, tem um número de visitas que o destaca entre os demais. Sabemos hoje que serve de base de consulta a estudantes e professores de História, e tema de tese nas Universidades.

É natural que tenhamos muita vaidade no nosso trabalho, quando digo nosso, refiro-me ao dos editores e camaradas que enviam as suas memórias e fotos para publicar.

Exemplo de alguma vaidade, no bom sentido, foi a iniciativa do nosso camarada Jorge Félix, que resolveu abrir as hostilidades e lançar aquilo que se pode considerar como a primeira iniciativa para começarmos desde já a comemorar o 6.º aniversário do nosso Blogue.

O Jorge Félix já nos habituou aos seus filmes com uma montagem exemplar, mas este excede todas as espectativas.

Parabéns, Jorge, pelo teu trabalho. Recebe o nosso abraço e um agradecimento por esta homenagem ao Luís Graça e à tertúlia.


3. Mensagem de Jorge Félix com data de 10 de Fevereiro de 2010:

Caro Carlos,

Já podes ver o video no endereço, http://www.youtube.com/watch?v=QpMTCApxl2s.

Se achares que vale a pena avisa o pessoal e que comecem os festejos. Estamos todos de parabéns.

Pessoalmente agradeço ao Luís pela ideia de pôr esta "malta" toda a recordar e a encontrar-se.

A ti, Carlos, pelo trabalho que diáriamente tens em editar os textos que vamos mais ou menos lendo. Ao resto do pessoal, todos, obrigado por virem aparecendo na Blogosfera, cada qual á sua maneira, mas sempre com o espirito dos tempos da Guiné.

Abraço
Jorge Félix



Vídeo 4' 18'': © Jorge Felix (2009). Direitos reservados>

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Nota do editor CV:

Peço desculpa aos meus camaradas editores por ter feito este poste sem lhes dar conhecimento. A ideia era fazer uma surpresa ao Luís e a toda a tertúlia, com a cumplicidade do Jorge Félix. A ele se deve esta iniciativa.

Últino poste da série > 7 de maio de  2016 > Guiné 63/74 - P16060: Na festa dos 12 anos, "manga de tempo", do nosso blogue (9): De quantas tabancas é feita a Tabanca Grande ?... Relembrando o feliz acaso do reencontro, 40 anos depois, do Zé Manel Matos Dinis com "o senhor Rosales", na Quinta do Paul, Ortigosa, em 20 de junho de 2009, por ocasião do nosso IV Encontro Nacional, e que esteve na origem da criação da Magnífica Tabanca da Linha...

Guiné 63/74 - P16064: Blogpoesia (446): "De madura...", por J.L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

1. Em mensagem de hoje, 8 de Maio de 2016, o nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66), enviou-nos este poema intitulado "De madura...":


De madura...

Se não se colhe a horas,
de madura, cairá ao chão
e apodrece.

Aquela obra prima da natureza,
um regalo de odor,
e um sabor divino,
tudo na proporção certa
que o sol e a chuva
tão bem preparam.
Tudo em vão...

Acompanhar e estar atento.
É na hora agá que se colhe o vinho
para que renda e seja bom.

Tanta uva que morre seca.
Para nada deu.
A não ser, engalanar a cepa,
enquanto viveu...

ouvindo concerto n.º 1 para piano de Brahms

Berlim, 8 de Maio de 2016
9h28m

Jlmg
Joaquim Luís Mendes Gomes
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Nota do editor

Último poste da série de 1 de maio de 2016 Guiné 63/74 - P16038: Blogpoesia (445): "Roseira da minha porta...", por J.L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

Guiné 63/74 - P16063: Pré-publicação: O livro de Mário Vicente [Mário Fitas], "Do Alentejo à Guiné: putos, gandulos e guerra" (2.ª versão, 2010, 99 pp.) - IX Parte: VI - Por Terras de Portugal: (iii) Lamego, Oeiras...


Capa do livro (inédito) "Do Alentejo à Guiné: putos, gandulos e guerra", da autoria de Mário Vicente [Fitas Ralhete], mais conhecido por Mário Fitas, ex-fur mil inf op esp, CCAÇ 763, "Os Lassas", Cufar, 1965/67.

Foi cofundador e é "homem grande" da Magnífica Tabanca da Linha, escritor, artesão, artista, além de nosso grã-tabanqueiro da primeira hora, alentejano de Vila Fernando, concelho de Elvas, reformado da TAP, pai de duas filhas e avô.


1. Continuação da publicação do cap. VI - Por Terras de Portugal. Depois de Tavira (CISMI) e de Elvas (BC 8), faz o curso de "ranger" em Lamego e é mobilizado para a Guiné. Unidade mobilizadora: RI 1, Amadora, Oeiras. Companhia: CCÇ 763 ("Nobres na Paz e na Guerra")

Texto e foto da capa : © Mário Fitas (2016). Todos os direitos reservados.


Do Alentejo à Guiné: putos, gandulos e guerra > VI - Por Terras de Portugal: Tavira, Elvas, Lamego, Oeiras...> (iii) Lamego e Oeiras (pp. 30-33)

por Mário Vicente [, foto à direita, março de 2016, Oitavos, Guincho, Cascais]

Em Lamego aprende muito e sofre mais. Leva pancada por ignorância, ao tentar responder nos percursos fantasmas, só depois de muito levar compreende que o melhor é não tentar responder. Passa fome, sede, e é ensinado a matar. Com a faca aprende o golpe de cigano e com todo o tipo de armas aprende a tudo destruir, escola perfeita. 

Instrutores acabados de chegar do curso nos EUA, o Cobrinha e outros vão construindo máquinas de guerra. Na serra do Marão onde o sol qual bola de fogo, se esconde por sobre montes de róseo algodão ou alvo espelho de neve, apenas desflorados pelo saliente píncaro do Alto do Muel no Mesão Frio, à noite ouvem-se os lobos uivar. Na das Meadas, sobranceira à cidade e onde as noites gelam, as neblinas matinais, chuva miudinha “molha parvos” se infiltra pela roupa deixando os já pouco resistentes rangers como pintos de penas coladas, a quem meteram em alguidar de água. Não só estas mas também a serra do Poio e outras são calcorreadas dia e noite, socalco a socalco, até os pés sangrarem.

O rio Douro, desde o Pinhão até à Régua, é reconhecido palmo a palmo. As rochas duras buriladas por água mole da corrente nos rápidos, são acarinhadas por barcos de borracha, berços flutu­antes que rodopiam e se esfregam nelas como anfíbios cacha­lotes em louco bailado de cio. Navegando, remada a remada, aqui se assiste à trágica manipulação dos homens ignorantes e medrosos. O barco rodopia e encalha num rápido, com catorze homens a bordo. Só três sabem nadar. Num segundo, o Resende entra em pânico, ajoelha no meio do barco e, numa cena trágico-marítima, grita para os céus:
– Senhor Jesus Cristo, valei-nos!...
– Salvai-nos, Senhor!...
– Assim perdeu meu pai a vida! ...

Chora como criança em plenos terrores nocturnos. Tarragona e Vagabundo saltam do barco com o Bracarense e, nadando, puxão para a esquerda, puxão para a direita, desencalham o bar­co e levam-no para a margem esquerda. Os não nadadores sal­tam todos e metem pernas ao caminho até à Régua. O barco não podia ser abandonado. Os três nadadores tomam o comando da enorme banheira de borracha. Maravilhoso! Parecem três putos, a quem deram desejado brinquedo. 

As guerras académico-mi­licianas, entram no esquecimento, Bracarense e Tarragona inter­rompem as disputas de ginástica aplicada e forma-se a equipa. Bracarense à ré, faz de timoneiro, Vagabundo e Tarragona a meio do barco para melhor equilíbrio, vão remando quando necessário. Nos rápidos, ou quando a corrente é mais forte os três ficam mais próximos. O barco levanta a proa e atinge uma velocidade louca e estonteante que deixa os três rangers felizes. Divertindo-se, chegam à Régua como miúdos brincando com a loucura do rio.

Mais tarde, Tarragona será mostrado ao Mundo Portu­guês, recebendo a Torre e Espada no Terreiro do Paço. Oculta, ficou a estátua figura do capitão: pés decepados, gastrocnémios desfeitos por prostituta mina, erguendo-se sobre os sangrentos cotos ósseo-tibiais, e mesmo assim tentando continuar a coman­dar os seus soldados!

Nas escarpas do rio faz-se rapell e alpinismo. No rio Balsemão, volta-se a brincar para esquecer a dureza de Penude.

Há largadas em Resende, São João de Tarouca e noutros locais. A chegada a Penude não pode ser detectada. Por montes e vales, povoações, caminham só de noite e mesmo assim, o raio dos cães denunciando a malta. Salzedas, seis da madrugada. Abre-se uma porta, e uma mulher chama os três rangers que cautelosamente passavam pela rua.
–  Os senhores são militares, não são?
– Sim, sim ... somos!
– São de Lamego?
– Sim!
– Deixai-me dar-vos um beijo e que a Senhora dos Remédios  vos proteja, meus filhos. Entrem, comam qualquer coisa que vos aconchegue o estômago.

Abriu a porta e obrigou os três rapazes a sentarem-se a uma grande mesa de lavrador. Trouxe broa, presunto, salpicão e um jarro grande de vinho. A conversa da tropa começou, e ela foi dizendo que o seu António estava em Angola, escrevera havia dias e dizia estar muito bem, que faziam patrulhas como os de Lamego, e que tudo lhe corria maravilhosamente bem!

Boina dos "rangers" de Portugal. Cortesia do blogue Coisas do MR 
(, do nosso camarada e coeditor Eduardo Magalhães Ribeiro)

Como António, Vagabundo compreendeu mais tarde que também teria de mentir aos pais. O
presunto era maravilhoso e o vinho também. A senhora continuava a falar do filho mas os três rapazes tinham de partir. A senhora ficou à porta com as lágrimas caindo-lhe pelo rosto e pensando no seu filho António, enquanto os rangers alegres, contentes e de barriga cheia continuaram a caminhada. Vagabundo ainda pensou, quantos Antónios não darão a alegria do regresso a estas santas mães!?

À noite, em pleno jardim, das viaturas militares em anda­mento, saltam gandulos reguilas dando o seu grito de ran­ger. As miúdas deliram e os gandulos tornam-se uns heróis. Nos jardins e nas escadarias da Senhora dos Remédios, inebria­dos pelos odores das madressilvas e jasmins, eles embrenham-se entre etéreas promessas de amor incontidas, navegando em lon­gos beijos de aventura!...

Os esgotos da cidade tomam-se caminhos conhecidos pela matula, em noites de percursos fantasmas, com petardos de trotil pelo meio.  Aqui existe outra mulher especial na vida do ranger que consegue incutir força para a resistência. Apesar dos seus dezoito anos, Maria de Deus explica ao jovem militar a razão das coisas, mas não consegue influenciá-lo a fugir das terras para Norte. No entanto aqui começou uma louca doação. Ao aquartelamento de Cufar na Guiné chegarão, mais tarde, montes de cartas e aerogra­mas, trocar-se-ão poemas, falar-se-á da vida, da guerra e da mor­te. Haveria que fazer qualquer coisa!... A jovem incute no militar a aventura da fuga para França durante as férias. O militar prepara-se para a loucura, mas… há os velhotes e, nas terras para os lados do Norte, Tânia essa estranha força mais forte que o vento, não deixa voar o pensamento acorrentado de Vagabundo. Tão forte na guerra e tão frágil pela imagem de uma mulher que nunca será sua!... Uma mulher, que possivelmente até a sua existência já desconhece.

Traição!...  Como se sentiriam António e Francisca na sua terra com um filho traidor à Pátria? E seu avô? O velhote morreria de desgosto e vergonha. Fuga anulada! Vagabundo escolhe o cumprimento do dever jurado na parada de Tavira.

Como Niotetos, Maria de Deus insiste com Vagabundo. Ele é em espírito e corpo inteiro uma parte dela, nesta loucura entregou-se toda e tenta modificá-lo. Não dá, ele já é prisioneiro de si próprio e à sua volta criou uma barreira, um casulo de arame farpado.

Mais tarde, Maria de Deus, com apenas vinte e quatro anos, morre jovem na pujança da vida, brutal arrancar de botão de flor ainda não aberto. Obrigado Mimê, por tudo o que por Vagabundo fizeste, mesmo pelas tontearias que tentastes e fizeste! Quem sou eu para não te aceitar como tu eras!? Que descanses em paz! Que Deus te tenha em bom lugar!

A vinte e três de Setembro os rangers Vagabundo e Almeida, apresentam-se no RI1, na Amadora unidade mobilizadora, para fazerem parte de uma Companhia de Caçadores com destino à guerra no Ultramar. Após a concentração de todo o pessoal, é dada a instrução de especialidade durante sete semanas, às quais se seguem mais duas de aperfeiçoamento operacional na região da Serra da Lua, sagrada para os Lusitanos, a bela Sintra.

A 19 de Dezembro a CCAÇ 763 é mobilizada para o CTIG Comando Territorial Independente da Guiné. De farda amarela, o furriel miliciano, segue de comboio para passar o Natal na sua aldeia. O casal espanhol, companheiro de viagem, é extraordinário. O homem andará pelos cinquenta e poucos anos e a senhorita aparentava ser um pouco mais nova. Nota-se que têm a noção do que é a guerra e abordam um pouco a política. Falam com algum conhecimento de Salazar e Franco, o militar estando muito cru nesse aspecto aprende algumas coisas. Na despedida, desejam: 
Buena sorte! La guerra es una monstruosidade!...

É o único passageiro a tomar a camioneta na velha estação da CP. Inverno, oito da manhã, faz um frio de rachar e sopra aquele vento leste que se entranha na roupa e trespassa os ossos. É reconhecido pelo revisor, velho resistente ainda dos tempos em que Vagabundo era estudante.
–  Então também te calhou,  rapaz?
– É verdade!
– Para onde?
– Guiné!
– Oh,  pá!... Olha, boa sorte!
– Obrigado, ti Chico.

A camioneta pára em terras do lado Norte. Entram quatro pessoas desconhecidas. Passam pelo militar e olhan­do para a farda amarela, dão um bom dia de misericórdia como que a um pedinte em porta de igreja, ou, talvez interiormente desejem uma boa sorte como o Ti Chico revisor. O militar olha pela janela tentando ver o impossível.

Natal sem sabor. O furriel tem de se apresentar no RAC (Regimento de Artilharia de Costa) em Oeiras, a dois de Janeiro, onde aguardará embarque.  A dezanove de Janeiro, com toda a pompa militar, a CCAÇ 763 recebe o seu Guião com o lema «Nobres na Paz e na Guerra». À noite recorda-se que no dia seguinte, comemora-se o Santo Mártir Sebastião, padroeiro de arqueiros e soldados, venerado em terras de lados do Norte. 

Recordando, pega no bloco e começa a escrever uma carta de amor contra o esquecimento. Quando o sofrimento ultrapassa o medo, a sub­missão dissipa-se e relança-nos, geralmente em força para a conquista ou reconquista. Escrevendo, verifica que é um hino à Natureza aquilo que escreve e sente-o como se uma carta de criança. Revolta-se, rasga a carta e sai para ir para Lisboa, decidindo passar a noite com uma prostituta. Quando sai tem vontade de bater em tudo, no entanto o ar da rua faz-lhe bem. Na estação encontra o Carretas de Almeirim que pertence à Companhia que também aguarda embarque na Parede.
–  E pá anda até ao Limo Verde, a malta vai lá juntar-se. Aceita o convite do colega e larga Lisboa e a puta, saltando mais esta vala de lama.

9 de Fevereiro de 1965. Sobe a rua Morais Soares devagar, atravessa a Paiva Couceiro e entra na Mouzinho de Albuquer­que, onde se encontram os pais em casa de sua irmã mais velha. António está a convalescer de uma operação delicada. Eles não sabem que seu filho, no dia onze pela manhã, embarcará no navio “Timor” com destino à Guiné. Mas apercebem-se que há algo estranho.

Como vai ser? Vagabundo não delineou nenhuma estra­tégia, mas há que resolver a questão. Entra um pouco nervoso, consegue manter conversa evitando o assunto. Sabe que sua irmã estará no Cais, mas de seus pais tem de se despedir sem o dizer. No dia seguinte seguirão de comboio, para a sua aldeia e levarão Pedrito. Mais umas palavras de circunstância, e já é hora de partir.
–  Amanhã estarei no comboio!

Mas a experiência de vivência feita, não engana os velhotes. Eles sabem que o filho não está a dizer a verdade. Aguentam-se todos sabendo que estão a fazer jogo viciado e a mentir uns aos outros. Com as lágrimas de Francisca não há problemas. Sempre assim foi, mesmo que partisse para perto. Com António não, raras vezes tinha visto as pérolas rolando naquele rosto.
–  Combinado? Amanhã lá estarei em Santa Apolónia, as melhoras e adeus!

Aguenta-se e sai. Pede a Amália para se segurar. Já no elevador não resiste, sente os olhos húmidos. Vai encontrar-se com Picolo e solicita-lhe que vá ele à estação dizer que está de serviço, pelo que não pode comparecer. Picolo, como sempre fixe, aguenta a barra.

sábado, 7 de maio de 2016

Guiné 63/74 - P16062: Convívios (740): VII Encontro de Os Ilustres TSF, ocorrido no passado dia 20 de Abril em Viseu (Hélder V. Sousa, ex-Fur Mil TRMS TSF)

Viseu - 20 de Abril de 2016 - VII Encontro de Os ilustres TSF

 
1. Mensagem do nosso camarada Hélder Valério de Sousa (ex-Fur Mil de TRMS TSF, Piche e Bissau, 1970/72), com data de 6 de Maio de 2016:

Meus caros amigos e camaradas
Já faz algum tempo que não tenho tido contribuição com textos ou notícias para o Blogue, limitando-me, aqui e ali, a enviar os parabéns aos aniversariantes, e um ou outro comentário. Tem sido assim, mais ou menos como 'prova de vida', mas pouco mais.

E tem passado por aqui muita coisa.
Com interesse, e susceptível de promover comentários mais desenvolvidos ou textos complementares ou de réplica. São caso disso, por exemplo e sem ser exaustivo, os artigos do Tony Borié, do Jorge Araújo, do José Teixeira, do Francisco Baptista, do António Tavares e também do José Dinis, com os seus textos subtilmente apolegéticos dos valores do '24 de Abril', da diabolização do MFA e sobre a 'decadência nacional', no entendimento que tal ocorre fruto da 'descolonização' e como corolário dos outros dois "pecados" referidos.

Mas o que me impulsionou agora a escrever, foi outra coisa. Foi a 'morte', ou melhor, a 'vida'!
Há alguns dias, um comentário do António Graça de Abreu, verberava o tom por vezes 'lamechas', de sofrimento, (no seu entender) que alguns camaradas impregnavam nas suas recordações e que melhor do que isso seria celebrarmos a vida, a alegria de estarmos vivos e podermos usufruir disso.
Ele tem razão!
Não tanto porque os sentimentos que perpassam pela esmagadora maioria dos que estiveram em "missão de soberania", em "policiamento de fronteiras", etc., e de suas famílias, não possa ser o da lembrança dos sacrifícios, das angústias, dos sofrimentos, dos desgostos, ao invés da extrema alegria por terem podido participar na defesa da integridade do solo pátrio, mas sim porque, de facto, com o (pouco) tempo que nos vai restando é a "Vida" que devemos celebrar.

Isto tudo, em conjunto, reforçado pela notícia do falecimento desse generoso e empenhado camarada José Eduardo Alves e também ainda 'tocado' pelo falecimento do meu cunhado ('jovem' de 72 anos e que fumou muito quando isso era corrente e socialmente bem aceite...), lembrei-me de vos enviar duas manifestações de "viver a Vida" com a alegria dos reencontros e do gosto e satisfação que isso sempre proporciona e que, nestes dois casos, se referem aos 6º e 7º Encontros dos "Ilustres TSF".

Não sei dizer como, quando e quem começou a chamar "Ilustres TSF" aos jovens que depois de fazerem o 1.º Ciclo do CSM no 3.º Turno de incorporação em 1969, lhes calhou em sorte essa especialidade (TSF), tirada a partir do final de Setembro desse ano no então BT à Graça/Sapadores, em Lisboa.

Isso agora não importa, o que para o caso deve ser notado é que esse grupo foi constituído por 15 'jovens mancebos', de locais muito dispersos do País e que hoje ainda persistem em manter os laços, fortes e indestrutíveis, que então os uniu e que os motiva a procurar materializar estes Encontros.

Acontece que os problemas de saúde também vêm atormentando os seus membros. Dos 15, tanto no 6.º Encontro no ano passado, no Porto, como no 7.º Encontro, este ano recentemente ocorrido em Viseu, foram 9 os presentes. Um já faleceu (vítima de doença 'incurável'...), um outro anda travando batalhas sucessivas com uns 'bichinhos' desse tipo, outro (meu padrinho) está incapaz de se juntar a nós com problemas originados pelo "senhor alemão", outros têm outros tipos de problemas, pelo que a consciência que temos vindo a tomar de que é imprescindível manter esta chama (da amizade, do convívio) viva tem conseguido vencer obstáculos.

No Porto, o ano passado em 27 de Maio, conseguiu-se com que, ao fim de décadas, nos reencontrássemos nessa cidade. Foi bastante bom, o dia estava quente, o 'Porto turístico' lá estava para nos mostrar o que evoluiu (com os ganhos e perdas que isso acarreta). Envio duas fotos ilustrativas desse evento, uma tirada na Ribeira, com Gaia ao fundo e a outra, clássica, no restaurante, que é afinal o local onde se reúnem as memórias.

Como tudo correu bem e como nos apercebemos de que este tipo de Encontros nos fazem bem, nos 'rejuvenescem', decidimos logo ali não deixar passar muito tempo para que novo Encontro ocorresse e desse modo ficou aprazado que este ano de 2016 seria em Viseu.

E assim foi. Lá estivemos novamente 9, sendo que esta ano o A. Calmeiro não teve possibilidade de participar por motivo dos tratamentos que anda a fazer mas no lugar da sua falta apareceu o J. Fanha, o que muito nos alegrou.

Como seria de esperar, correu bem. Muito bem. A alegria esteve presente, o rememorar episódios passados em comum (como o caso das "bolachas de m... e de que já relatei aqui no Blogue), outros passados entre as diferentes experiências dos diversos locais por onde se esteve.

O E. Pinto que nos recebeu e organizou os momentos do Encontro surpreendeu-nos com uma visita particular e irrepetível ao "Bar de Gelo" no "Palácio do Gelo", uma visita guiada à "Cava de Viriato", outra ao Clube Viseense visitar o espaço que esse Clube dedicou ao local da estreia de "Os Tubarões" e, para 'memória futura', ainda fomos contemplados com uma garrafa de vinho do Dão rotulada especialmente para o efeito.

Como seria de esperar, a alegria foi grande, a satisfação também e, não menos importante, manteve-se e consolidou-se a amizade entre nós.

Devemos, como diz o AGAbreu, celebrar a Vida e foi o que fizemos e pretendemos continuar a fazer.

Abraços
Hélder Sousa

As fotos:

Ribeira do Porto - 27 de Maio de 2015 - Em baixo o C. Lã. De pé, da esquerda para a direita: A. Calmeiro, M. Rodrigues, E. Pinto, J. Reis, H. Sousa, M. Martins, F. Cruz, e F. Marques.

Ribeira do Porto - 27 de Maio de 2015 - A mesma equipa num Restaurante local

Viseu - 20 de Abril de 2016 - À mesa

Viseu - 20 de Abril de 2016 - No "Bar de Gelo", por ser talvez mais difícil reconhecer as personagens, temos, da esquerda para a direita. M. Martins, E. Pinto, J. Reis, H. Sousa, M. Rodrigues, C. Lã, F. Cruz, J. Fanha e F. Marques.

A Garrafa comemorativa. Um presente inestimável.
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Nota do editor

Último poste da série de Guiné 63/74 - P16058: Convívios (739): XX Encontro do pessoal da CCAÇ 2660, dia 4 de Julho de 2016 em Paredes

Guiné 63/74 - P16061: Agenda cultural (479): Sessão de apresentação do livro "A Tropa Vai Fazer De Ti Um Homem - Guiné, 1971 - 1974", de Juvenal Amado, levado a efeito no passado dia 21 de Abril, no Auditório da Biblioteca Municipal da Covilhã

Em mensagem do dia 26 de Abril de 2016, o nosso camarada Juvenal Amado dá-nos conta da sessão de apresentação do seu livro "A Tropa Vai Fazer De Ti Um Homem - Guiné, 1971 - 1974", levado a efeito no passado dia 21 de Abril, no Auditório da Biblioteca Municipal da Covilhã. Esta sessão, promovida pelo Núcleo da Covilhã da Liga dos Combatentes, inseriu-se nas comemorações do seu 90.º aniversário, conforme o convite que se publica.


1. Estas foram as palavras que o Juvenal Amado dirigiu aos presentes durante a sessão:

Meus amigos e camaradas.
Começo por agradecer o convite para estar aqui a apresentar o meu livro e falar do nosso passado comum.
Tanta importância tem as voltas que a vida dá, como as voltas que nós damos à vida. No fim, o caminho que nos estava guardado, ninguém o faz por nós. “Chamemos-lhe Destino talvez”.

 Sabíamos como partíamos mas não podíamos saber como voltávamos. Nós somos os felizardos que voltamos. Foi-nos dado a bênção da amizade e da partilha de recordações. Viemos de toda a parte. A comunhão de vivências ganhas nas várias frentes fez de nós seres especiais. Basta falar-se numa localidade africana, para que se troquem saudações e histórias, que são de todos os lugares, que percorremos na nossa juventude. 

Este livro fala dessas vivências e dessas amizades. Quantos ao lerem as suas páginas, não vão sentir que muitas das estórias podiam ser a sua história? Mas quando fui mobilizado, ainda que há muito esperado, o Céu pareceu-me cair em cima da cabeça. Ir para a Guiné, era como sair a sorte grande, das piores razões. O meu irmão mais novo tinha nessa altura 5 anos e confidenciou-me há dias, que se lembra após a minha partida, uma noite escura penetrou na casa onde ele morava com os meus pais e irmãos. Estas palavras dão talvez a dimensão da tragédia, que atingia as famílias durante os dois anos e tal, que tinham os filhos, os maridos a combater além-Mar. 

Quanto a mim, era pior para eles do que para nós, que lá estávamos. As mães viam os filhos permanentemente em perigos e nós, a maior parte do tempo, nem dávamos por ele. Situação repetida pelos 13 anos que durou a guerra que Portugal sustentou em três frentes com maior ou menor intensidade. 

Este livro não é de guerra, é de histórias, de vidas que estiveram na guerra. Essencialmente o que importou foi falar deles, das suas conversas no abrigo, no posto de sentinela, nas colunas e nos momentos de aperto. Também falo das suas mortes, porque falar delas é prestar-lhes homenagem, é prolongar as suas memórias e lembrar às pessoas que se morreu lá em combate, em minas, também em desastres, numa picada qualquer e também por falta de assistência médica. Também as doenças mataram muitos. 

Muitos que não foram lá pensarão que morrer de doença ou desastre, também cá se morria. Mas não era a mesma coisa. O paludismo, a hepatite, a alimentação onde imperavam os liofilizados, os enlatados, a falta de ovos, peixe e carne fresca, a água de duvidosa proveniência, a par de álcool ingerido em quantidades anormais, foram responsáveis por muitas vidas perdidas lá e que, se vieram a perder depois do regresso cá. 

Deram a suas vidas por razões certas ou erradas, não é isso que importa. O que importa será porventura, não deixar esquecer que morreram longe das suas famílias e alguns, ainda por lá estão em campa rasa. 

Algumas das figuras deste livro já morreram. Morreram lá, outros cá de doença e de acidentes. Já é longa a lista meus amigos e, é sempre com um aperto no peito, que ouço falar dos que estão doentes. Pode-se dizer como é uso “que a vida é dura e mais curta que comprida”.

Mas; 
“ Com a certeza que faz de nós seres únicos, teremos sempre direito a um lugar na memória dos que connosco privaram. Quando chegarmos a velhos, falaremos do tempo ou falaremos, de outros tempos”.

A Tropa Vai Fazer De Ti Um Homem é o titulo, mas também é um motivo de reflexão. 

Muitos dos que foram combater Além-Mar, começaram a trabalhar mal saíram da escola primária. A maioria já trabalhava há dez anos ou mais. Contribuíam para o orçamento familiar, alguns já casados, com filhos e responsabilidades de vária ordem. Terá sido a tropa que fez deles uns homens? Sinceramente penso que na grande maioria já eram homens feitos e que não embarcaram de ânimo leve. 

Num extrato do início de uma história, que relata a ansiedade com encarei o meu embarque e escrevo: 
“ Como proscritos quando quase todos dormiam, fomos transportados pela a calada da noite, o Mar cresceu à nossa volta, tornou-se denso, abraçou-nos e tornou-se imenso”.

Quem pode negar hoje que não foram momentos difíceis? 
Uma coisa teremos a certeza, é que fez de nós homens diferentes. 

A todos muito obrigado pelo carinho e amizade com que fui brindado na ocasião. 
A vida guarda muitas surpresas boas e esta, é sem dúvida uma delas.


2. Algumas fotos do evento:

Um aspecto da assistência

Na Mesa: João Cruz Azevedo, Presidente da Direcção do Núcleo da Covilhã da LC; Jorge Manuel Torrão Nunes, Vereador da Cultura da Câmara Municipal da Covilhã; Naná Gonçalves, poetisa e Juvenal Amado.

Juvenal Amado recebe um exemplar da Medalha comemorativa dos 90 anos do Núcleo da Covilhã da LC.


Juvenal Amado com o ex-Fur Mil Sap Fernandes e Romão Vieira da CCAÇ 2912

O 3872: Pereira, Dulombi; Alcains, CCS; Juvenal Amado; João Romano, Saltinho; Fernandes e Luciano, CCS

Jovens interessados

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3. A sessão de apresentação do livro do Juvenal Amado foi antecedida de um almoço de que se publicam duas fotos:

 Na foto o Ten-Cor Ley Garcia do Núcleo de Leiria da Liga dos Combatentes e a poetisa Naná Gonçalves

Nesta foto: Pereira Nina, do Núcleo da Covilhã da LC, que iniciou o processo que me possibilitou a apresentação do livro na Covilhã, também camarada do Carvalho em Aldeia Formosa; o Azevedo, combatente em Angola; eu; o meu camarada da CCS, António Fernandes e o Ten-Cor Levy Garcia, Presidente do Núcleo de Leiria da LC.
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Nota do editor

Último poste da série de 5 de maio de 2016 Guiné 63/74 - P16051: Agenda cultural (478): Lançamento do livro "Haikus do Japão e do Mundo", de António Graça de Abreu, 10 de Maio pelas 18h30, no Centro Científico e Cultural de Macau, Rua da Junqueira, 30 - Lisboa: "Gostava de ter lá alguns camaradas da Guiné, e de ler dois ou três haikus sobre a nossa guerra" (o autor)