sexta-feira, 16 de fevereiro de 2018

Guiné 61/74 - P18323: Álbum fotográfico de Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) - Parte XVII: Visita, a Bissau, do presidente do Conselho de Ministros, prof Marcelo Caetano, em 14 e 15 de abril de 1969 (II)


Foto nº 10A


Foto nº 10B


Foto nº 10



Foto nº 11 A


Foto nº 11

Foto nº 12


Foto nº 12A


Foto nº 13


Foto nº 14


Foto nº 14A


Foto nº 15


Foto nº 15A


Foto nº 16


Foto nº 16A



Foto nº  17A


Foto nº 17


Foto nº 18A


Foto nº  18


Foto nº 19 A


Foto nº 19

Foto nº 20A


Foto nº 20

Guiné > Bissau > 24 de abril de 1969 > Visita presidencial do Professor Marcelo Caetano a Bissau (II)

Fotos (e legendas): © Virgílio Teixeira (2018). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


V
Virgílio Teixeira, foto atual

1. Continuação da publicação do álbum fotográfico do nosso camarada Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69), e que vive em Vila do Conde, sendo economista, reformado. (*)

Anotações e Introdução ao tema > Fotos numeradas de 1 a 30 (Parte I, fotos de 10 a 20, renumeradas pelo editor, seguindo um critério cronológico, procurando mais ou menos reconstituir o trajeto do percurso, do aeroporto de Bissalanca até à Praça do Império).

 Marcelo Caetano viajou de avião da TAP,  num Boeing 727-100, tendo chegado a Bissalanca, a 14 de abril de 1969, no início de um périplo pelo ultramar português (Guiné, Angola e Moçambique), com regresso a 21. Em Bissalanca  era aguardado uma enorme multidão da população,  além das autoridades militares e civis. O Com-.chefe e o governador geral da província era então o general António Spínola,  já com um ano de Guiné.

Feita a recepção, a comitiva percorreu de automóvel o percurso entre o aeroporto e a cidade de Bissau, uns 10 quilómetros aproximadamente, sendo visível ao longo de todo o percurso nas bermas da estrada um grande número de guineenses,  apoiando com bandeiras e outros adornos e roncos o  "homem grande" de Lisboa.

Pelo que pude observar, a população recebeu bem Marcelo Caetano. Não estive em todo o lado porque não era possível, dadas as dificuldades de passar barreiras que eram enormes, mas ainda assim pude fotografar Marcelo Caetano no carro nas Avenidas de Bissau. (...)

 Em, 14-02-2018

Virgílio Teixeira

«Propriedade, Autoria, Reserva de Direitos, de Virgílio Teixeira, Ex-alferes Miliciano SAM – Chefe do Conselho Administrativo do BATCAÇ1933/RI15/Tomar, Guiné 67/69, Nova Lamego, Bissau e São Domingos, de 21SET67 a 04AGO69».

[Continua]
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Nota do editor:

Guiné 61/74 - P18322: Parabéns a você (1390): António Eduardo Carvalho, ex-Cap Mil Inf das CCAÇ 3 e CCAÇ 19 (Guiné, 1974) e José Maria Pinela, ex-1.º Cabo TRMS do BCAV 3846 (Guiné, 1971/73)


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Nota do editor

Último poste da série de 10 de fevereiro de 2018 > Guiné 61/74 - P18305: Parabéns a você (1389): José Brás, ex-Fur Mil TRMS da CCAÇ 1622 (Guiné, 1966/68)

quinta-feira, 15 de fevereiro de 2018

Guiné 61/74 - P18321: (Ex)citações (329): Da Restauração da Independência de 1640 à guerra na Guiné (1963/1974). Batalhas em campos e tempos desiguais (José Saúde)

1. O nosso Camarada José Saúde, ex-Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523 (Nova Lamego, Gabu) - 1973/74, enviou-nos a seguinte mensagem. 




Da Restauração da Independência de 1640 à guerra na Guiné (1963/1974)



Batalhas em campos e tempos desiguais


A imparcialidade do tempo, mesmo distante que porventura o seja, conduz o homem para visualizações, reais ou de memorandos históricos, onde se observam batalhas cuja dinâmica operacional do soldado português revela a sua nobre atitude no momento em que o combate sobrevenha.

Em 1 de dezembro de 1640 um grupo de aventureiros designado como “Os Quarenta Conjurados”, uma força que entretanto se espalhou pelo Reino de Portugal, deu aso ao fim da dinastia filipina que entretanto se havia instalado em solo lusitano e que ao longo de 60 anos se apoderou na Coroa portuguesa.

Não vou, por motivos evidentes, alargar-me sobre a minuciosa ação libertadora da Restauração da Independência de um Portugal amordaçado, mas relatar, em simultâneo, uma lenda da minha terra que se entrelaça com o dito acontecimento e os muitos camaradas meus conterrâneos que foram protagonistas de uma comissão militar nas três frentes de combate, mormente na Guiné, território onde a nossa efetiva presença se registou.

Explana a lenda que uma jovem da Aldeia da Fonte do Canto apaixonou-se por um rapaz da vizinha Cabeço de Vaqueiros, só que o presumível encanto amoroso desvaneceu-se quando o cavalheiro não aceitou a súplica da moça. Pelo meio da aventura existiram, conta a historieta, contornos rudes e desavenças entre as populações dos lugares. Acrescenta a ladainha que desse ímpeto amorável emergiu Aldeia Nova de São Bento, um lugar situado na província do Alentejo, arcebispado de Évora, comarca da cidade de Beja e termo da vila de Serpa.

O perfil final do enredo derrapa para brigas que opuseram portugueses e espanhóis. Cruzemos um pedaço da história. O Reino de Portugal encontrava-se sob o domínio da dinastia filipina e a guerra da Restauração de 1640 estava ao rubro, sendo o Alentejo palco de grandes batalhas. Aconteceu que a moça, antes enamorada pelo rapaz de Cabeço de Vaqueiros, casou com um soldado espanhol.

O assunto ferveu com a ralé e o jovem, estupefacto, apressou-se a chefiar um grupo de homens das duas aldeias a declararem luta aos estranhos. Finaliza a lenda que a bravura dos portugueses foi literalmente materializada, colocando em debandada as tropas de Espanha e as preces de vitória levaram o povo a afirmar que “São Bento tinha concedido um milagre”. Esclarecesse que São Bento é o Santo Padroeiro da freguesia sul alentejana. 

A realidade diz-nos que a luta armada na Guiné teve o seu início em janeiro de 1963, sendo que a guerrilha se desencadeou precisamente em Tite, região de Quínara, com sede de Circunscrição Administrativa em Fulacunda. Sob o comando ativo do PAIGC a peleja, sempre impiedosa, estendeu-se até 1974.

E se em 1640 os “Quarenta Conjurados” foram a testa-de-ferro que libertaram o país do reinado dos Filipes, a 25 de Abril de 1974 foi a classe militar dos Capitães que ordenaram a Revolução dos Cravos que determinou o fim da ditadura do Estado Novo que não olhava a meios para atingir os fins.

Simultaneamente, como foi percetível, o eco da vitória encantou os combatentes que além-mar viram chegar o termo da guerra nas antigas colónias, onde os soldados prestavam serviço militar obrigatório.

Lembrando a história, recorro a dados que dizem que a guerra na Guiné terá começado com de 10 mil efetivos, aproximadamente, e terminou com perto de 40 mil militares distribuídos pelos três ramos das forças armadas portuguesas: Exército, Força Aérea e Marinha.

Sou natural de Aldeia Nova de São Bento, concelho de Serpa e distrito de Beja. Adoro, tal como sempre, o torrão sagrado que me viu nascer e para onde irei um dia repousar para a eternidade.

Sou, aliás, somos de uma geração em que assistimos a vários “tsunamis” que a humanidade encarregar-se-ia em nos presentear. Assistimos à partida de casas de famílias para Angola e Moçambique, designadamente, cujo objetivo principal passava pela procura de uma vida melhor.

Pessoas, algumas humildes, que lá partiam imbuídos no ávido espírito que os transportavam para o mundo dos sonhos. Aventureiros que abalavam à descoberta de novos mundos e de novas terras. Dobravam o famigerado “Cabo das Tormentas” e as impróprias necessidades que a sociedade de então lhes impunha.

Mas a guerra trouxe, mais tarde, eloquentes contratempos. Nós, militares, que cruzámos as linhas de fogo, conhecemos as agruras de uma guerrilha que nunca nos deu folgas.

Olho para os antigos combatentes da minha aldeia, uns, que já partiram para a tal viagem sem regresso, outros, que ainda por cá andam, felizmente, e revejo que cada um dos rostos ostenta uma imensidade de rugas onde se vislumbram resquícios de lembranças que jamais os farão esquecer os tempos difíceis passados nos lamaçais da guerra.

Batalhas em campos e tempos desiguais quando vistoriamos conteúdos horríveis que nos remetem para uma profícua realidade que outrora conhecemos. Na minha freguesia o contingente de jovens que entregaram o corpo às balas é visível, sendo agora gentes doridas pelas adversidades que a guerrilha escusadamente lhes causou.

Vou, sinteticamente, mencionar que pelas três frentes de guerra nas antigas províncias ultramarinas – Angola, Moçambique e Guiné – terão perdido a vida 35 militares do concelho de Serpa, sendo 10 os naturais de Aldeia Nova de São Bento.

Procurei, com fidelidade, na Junta de Freguesia os nomes dos combatentes locais sepultados no cemitério da localidade. Eis os nomes de cinco registos que constam no livro autárquico e que não refere a antiga província onde o óbito ocorreu: Bento Rebocho Silva, Luís Batista Gomes, José Luís Evaristo, Manuel Mateus Costa e Bento Valente Pica.

De entre os camaradas mortos, destaco Luís Batista Gomes, falecido em combate na Guiné, tendo ele já sido alvo de um texto meu no nosso blogue. O Luís foi, também, alvo de uma recente homenagem póstuma como consta numa lápide que se encontra na sua campa.

Suponho que em território guineense existem, ainda, outros nomes que por ora me falham, mas como procurei o que existe em concreto apoiei-me somente em dados fidedignos.

Como nota de roda pé fica a indesmentível certeza: acabaram-se os contingentes de seres humanos, carne para canhão, enviados para uma guerra infernal e com fins sempre imprevisíveis. Porém, esse desgaste físico e mental continua a passar ao lado de quê de direito tinha, e tem, obrigação em reconhecer a luta dos antigos combatentes nos confins da selva africana. 

Coabitemos, por enquanto, com a beleza da vida e outorguemos bênçãos por cá ainda permanecermos neste imenso cosmos terrestre!... 


Um abraço, camaradas 
José Saúde
Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523

Mini-guião de colecção particular: © Carlos Coutinho (2011). Direitos reservados.
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Nota de M.R.: 

Vd. último poste desta série em:

13 DE FEVEREIRO DE 2018 > Guiné 61/74 - P18314: (Ex)citações (328): Regresso de Iemberém, viagem até Bissau, das 3h às 10h da manhã... O Pepito continua no coração de muita gente do Cantanhez... Estive em Guileje, no dia 7. É sempre com emoção que ali paro... Mando-vos cinco fotos em homenagem a todos aqueles de vós que ali muito sofreram (Anabela Pires)

Guiné 61/74 - P18320: Álbum fotográfico de Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) - Parte XVI: Visita, a Bissau, do presidente do Conselho de Ministros, prof Marcelo Caetano, em 14 e 15 de abril de 1969 (I)



Foto nº 1 A


Foto º 1


Foto nº 2 A


Foto nº 2


Foto nº 3A


Foto nº 3


Foto nº 4A


Foto n º 4


Foto nº 5A


Foto nº 5



Foto nº 6 A


Foto nº 6



 Foto nº 7




Foto nº 8A


Foto nº 8


Foto nº 9


 Foto nº 9A


Guiné > Bissau > 14 de abril de  1969 >  Visita presidencial do Professor Marcelo Caetano a Bissau (I)

Fotos (e legendas): © Virgílio Teixeira (2018). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Virgílio Teixeira, foto atual

1. Continuação da publicação do álbum fotográfico do nosso camarada Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69), e que vive em Vila do Conde, sendo economista, reformado. (*)

Anotações e Introdução ao tema > Fotos numeradas de  1 a 30 (Parte I,  fotos de 1 a 9, renumeradas pelo editor, seguindo um critério cronológico).

Este conjunto de fotos numeradas aleatoriamente, sem critérios de qualquer ordem dos acontecimentos,  refere-se à visita de Estado do Presidente do Conselho de Ministros, Professor Dr. Marcelo Caetano, realizada à Guiné, em Bissau,  no dia 14 de abril de 1969,  no início de um périplo pelo Ultramar, que terminará a 21 de abril.

Marcelo Caetano viajou de avião da TAP, tendo chegado a Bissalanca, onde se encontrava uma enorme multidão da população, Forças Armadas de todos os ramos, Policia - Militar e Civil – todas as entidades Civis e Oficiais e Militares da época, entre eles o António Spínola, governador-geral e com-chefe.

Feita a recepção, a comitiva percorreu de automóvel o percurso entre o aeroporto e a cidade de Bissau, uns 10 quilómetros aproximadamente, sendo visível ao longo de todo o percurso nas bermas da estrada um grande número de pessoas guineenses apoiando com bandeiras e outros adornos e roncos o Presidente Caetano, com grandes manifestações de carinho.

A população recebeu bem o nosso Presidente Caetano, demonstrado por vídeos e pelas fotos de arquivo oficiais, bem como pelas minhas fotos pessoais,  de minha autoria. Não estive em todo o lado porque não era possível, dadas as dificuldades de passar barreiras que eram enormes, mas ainda assim pude fotografar Marcelo Caetano no carro nas Avenidas de Bissau.

Cada uma vale o que vale, são histórias e acontecimentos que farão em 14 de abril de 2019, 50 anos. Pude acompanhar a comitiva graças ao uso da minha motorizada, por is as fotos cobrem o espaço desde o aeroporto até às principais passagens pela cidade. Esta reportagem só foi possível porque nessa data o fotógrafo estava lá de passagem.

As viaturas civis em que se deslocavam os membros do Governo, Marcelo Caetano, Ministro do Ultramar, Governador-geral e outras entidades, julgam que terão chegado de Portugal, pois nunca mais foram vistas, nem antes, nem depois. Em 2 de fevereiro de 1968,  a Guiné recebera a  visita do Presidente da República Almirante Américo Tomás, que viajou no paquete Funchal.

À consideração dos visualizadores, podem fazer as críticas que entenderem, pois sei que se trata de matéria sensível, que pode não agradar a todos, mas é a nossa história, e a história daqueles militares que prestaram as honras militares ao Chefe do Governo legítimo de Portugal.

Em, 14-02-2018

Virgílio Teixeira

«Propriedade, Autoria, Reserva de Direitos, de Virgílio Teixeira, Ex-alferes Miliciano SAM – Chefe do Conselho Administrativo do BATCAÇ1933/RI15/Tomar, Guiné 67/69, Nova Lamego, Bissau e São Domingos, de 21SET67 a 04AGO69».

[Continua]

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Nota do editor:

(*) Último poste da série > 12 de fevereiro de  2018 > Guiné 61/74 - P18310: Álbum fotográfico de Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) - Parte XV: Parte pesos, nosso alfero...

Guiné 61/74 - P18319: Recortes de imprensa (91): "Diário de Coimbra, 9/2/2018, p. 11 > Opinião > Sílvia Torres > Guerra: um passado presente




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Recorte enviado pela nossa amiga, grã-tabanqueira nº 736,  Sílvia Torres (*). Reproduzido com a devida vénia. Fonte: Diário de Coimbra, 9 de fevereiro de 2018, p. 11 (**)

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(...) aqui vai uma pequena nota biográfica: 

(i) Sílvia Torres nasceu em Mogofores, Anadia, em 1982;

(ii) licenciada em Jornalismo e Comunicação e mestre em Jornalismo;

(iii) começou por ser jornalista do Diário de Coimbra;

(iv) entre 2007 e 2014, como oficial da Força Aérea Portuguesa, trabalhou na Rádio Lajes (Terceira – Açores) e no Centro de Recrutamento da Força Aérea (Lisboa), cumprindo ainda uma missão de
cooperação técnico-militar em Timor-Leste;

(v) atualmente é doutoranda em Ciências da Comunicação pela Universidade NOVA de Lisboa e bolseira de investigação da Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT);

(vii) a sua pesquisa centra-se na cobertura jornalística da Guerra Colonial feita pela imprensa portuguesa de Angola, da Guiné Portuguesa e de Moçambique, entre 1961 e 1974;

(viii) o facto de ser filha de um ex-combatente justifica o interesse pessoal e académico pelo conflito.


(**) Último poste da série > 4 de novembro de 2017 > Guiné 61/74 - P17931: Recortes de imprensa (90): A Guiné na revista Panorama (1946, 1954) (Mário Beja Santos)

quarta-feira, 14 de fevereiro de 2018

Guiné 61/74 - P18318: Humor de caserna (41): Em dia de namorados: a história do Pequenitaites e outros camaradas avantajados... Ou quando os homens (e as mulheres...) não se medem aos palmos... (Virgílio Teixeira / Luis Graça)

Virgílio Teixeira, São Domingos, 1969
1. Comentário do Virgílio Teixeira, ex-alf mil SMS, CCS/BART 1933 (Nova Lamego e  São Domingos, 1967/69), hoje economista reformado, a viver em Vila do Conde (*)

Estou farto de me rir, até as lágrimas me caem pela cara. Faço ideia esses Cabucanos, não foi no tempo em que lá estive, ainda fui a Cabuca até fins de Fevereiro de 1968. Depois voltei lá em Outubro de 1984, mas não encontrei nada, a não ser uma Tabuleta à beira dum lago, a alertar da mosca TséTsé, pode este nome parecer-se com outras conotações mas não é.

Eu andava para falar do assunto, mas agora aproveito, e espero que não seja nenhum desses que participaram no concurso. Eu tinha em Nova Lamego um Furriel Algarvio, que me veio parar de paraquedas ao meu estaminé de trabalho. Não sei de onde veio, mas tenho algumas fotos com ele que um dia vou publicar, pois fazem parte de um álbum de recordações. Pois ele um dia, estávamos a conversar e a beber qualquer coisa, lá no Club de Nova Lamego. Ele lamentava-se, ele tinha ainda menos do que a minha altura, usava bigode e tinha ares de quem andava na zona. E disse-me mais ou menos isto: Que não conseguia ter relações com nenhuma rapariga, pois, exactamente como aconteceu ao Pequinitates, elas fugiam, ele disse que tinha um instrumento que era uma aberração e tinha imensos complexos por causa disso. Nunca confirmei tal facto, pois não era médico nem psicanalista, nem tinha interesse em ver a sua ferramenta.

Li num livro, que aliás recomendo a todos, do autor Manuel Arouca que se chama ' Deixei o meu coração em África' que narra a história de um Pelotão Daimler que foi destacado para Guilege 'A terra da morte', como lhe chamava o autor do romance, mas com realidades que eu encaixava perfeitamente, por me parecerem reais, muitas delas, em especial no que tocava a beber muito. Tinha lá também um 'probe xoldado' lá do Sul do lado de lado Tejo, e que tinha esse problema, até tinha casado antes de ir para a Guiné e a mulher ficou tão traumatizada, que nunca mais o quis ver. 

Ela acabou por se enrolar com um ex-fuzileiro enquanto ele estava na Guiné, e a sorte dele foi também bem pior, acabou por se suicidar com o desgosto da mulher porque acabou por saber tudo. Não vou alimentar mais este assunto, mas vale a pena ler este livro porque é para rir a bandeiras despegadas, por cenas inimagináveis.

Um bom dia de namorados para todos,

Virgilio Teixeira


2. Comentário do nosso editor LG (*):
Luís Graça > Bambadinca, 1970


Meu caro Zé Ferreira, grande escritor do "pícaresco"...

O  teu poste ganhou o prémio do melhor "cegada" da 3ª Feira Gorda de Carnaval... Confesso que também eu não consegui conter o riso, ao ler (e imaginar) as "cenas" dos dois concursos... 

Como é Carnaval, ninguém leva a mal. O Carnaval é, de resto, desde tempos imemoriais, a transgressão, o desregramento, o excesso, o não-senso... E depois os nossos leitores não são propriamente "meninos de coro"...Tu tens o grande talento de saber pegar... no "material" com potencialidades humorísticas e construir com ele uma pequena grande história.

Só tu na nossa Tabanca Grande, mais o "alfero Cabral", têm o dom ou o sentido do burlesco (que há/havia nas situações de guerra como a nossa...). Por burlesco, entenda-se "aquilo que incita ao riso por ser ridículo"... 

Na realidade, a história do Pequenitaites só vem confirmar "a teoria de que os homens não se medem aos palmos", por um outro lado, e de que "ser o mais avantajado, pode nem sempre ser uma vantagem em termos evolucionários", por outro...

Não tenhamos pudor de contar coisas aparentemente tontas como estas ("Concurso da Mama Firme", "Concurso... de piças") ou outras ainda mais "estúpidas", que se faziam no CTIG, nas nossas casernas dos nossos "campos de concentração"(que eram, afinal, para todos os efeitos, os nossos aquartelamentos...). 

Foi o sentido do burlesco que, de certo modo, nos ajudou a salvar a nossa sanidade mental no TO da Guiné...

O problema é que poucos de nós têm o talento do Zé Ferreira de saber contar estas históricas pícaras sem cair... no ridículo, no mau gosto ou no "hard core"! (**)
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Notas do editor:


(**) Último poste da série > 21 de dezembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16864: Humor de caserna (40): Granadas, loiras e inofensivas, apreendidas no Aeroporto de Lisboa (José da Câmara, ex-Fur Mil)
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Guiné 61/74 - P18317: Bibliografia de uma guerra (86): “Contra o Vento, Portugal, o Império e a Maré Anticolonial (1945-1960)”, por Valentim Alexandre; Temas e Debates/Círculo de Leitores, 2017 (4) (Mário Beja Santos)



1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 7 de Dezembro de 2017:

Queridos amigos,

Não é de mais insistir, ao findar estas notas de recensão, que se trata de um estudo profundíssimo, rigoroso, porventura o melhor pano de fundo que possuímos na historiografia portuguesa contemporânea sobre a política externa portuguesa no pós-guerra face aos novos ventos da História - o surto independentista que se difundiu nos grandes e pequenos impérios coloniais.

Trata-se de uma organização admirável dos principais factos, respostas, hesitações, manobras de adiamento, quebra de alianças, informações alarmantes que chegavam ao Estado Novo por via de vozes autorizadas. Tudo em vão, a doutrina era inflexível, ou tudo ou nada, "a pátria não se discute". É neste ecrã de 15 anos de espera e turbilhão que em 1961 eclode a guerra colonial que levou o regime urdido por Salazar ao fundo. Demorará décadas a aparecer ensaio tão qualificado como este de Valentim Alexandre.

Um abraço do
Mário


Contra o vento: uma obra-prima da historiografia portuguesa (4)

Beja Santos

“Contra o Vento, Portugal, o Império e a Maré Anticolonial (1945-1960)”, por Valentim Alexandre, Temas e Debates/Círculo de Leitores, 2017, é indubitavelmente um dos principais acontecimentos da edição historiográfica de 2017.

O investigador Valentim Alexandre tem sobejas provas dadas na área da história colonial, este seu opulento (e a partir de agora incontornável) levantamento é o fecho de abóbada, a consagração da sua carreira. Passamos a dispor, a partir deste trabalho, de uma sequência bem articulada para a cronologia os principais eventos que contextualizam o Império Português no pós-guerra, ressaltando a primeira ameaça, a crise de Goa (1954-1955), segue-se a pormenorização dos dados da grande veja da descolonização e a resposta dada pelo Estado Novo: o luso-tropicalismo – a política indígena, uma incipiente industrialização, as formas precárias de deslocação da população branca, nomeadamente para colonatos, a ONU como a principal arena a confrontar o império português, os atritos com o Vaticano, a reorganização dos dispositivos militares; e a manutenção das inquietações no Oriente, um tanto à semelhança de que ocorrera no decurso da II Guerra Mundial, mas agora fruto das descolonizações: Goa, Macau e Timor, devido ao aparecimento da União Indiana, da República Popular da China e da República da Indonésia.

Este último apontamento passa em revista, no período compreendido entre 1955 e 1960, como se procuravam superar riscos, ameaças e tensões no Oriente (Goa, Macau e Timor) e ter em consideração a matérias das conclusões apresentadas pelo autor.

Quanto a Goa, a diplomacia portuguesa sentia que já pouco podia contar com a Grã-Bretanha e os Estados Unidos. No encontro entre Foster Dulles e Paulo Cunha, o Secretário de Estado norte-americano recordou ao Ministro dos Negócios Estrangeiros português a posição do país em relação ao colonialismo: direito à independência, evitando-se a todo o transe independência prematuras para quem ainda não estivesse preparado para assumir as inerentes responsabilidades.

Em 1956, Salazar prepara um documento para o Conselho de Estado, não ignora que no Conselho Legislativo goês, a maioria dos membros eleitos constituía uma verdadeira oposição ao governo. Silva Tavares, Secretário-Geral do governo da Índia enviará uma carta a Sarmento Rodrigues onde escrevera:

“Continuo a pensar que a ideia da integração é impopular. Porém, não se pode inferir que todos sejam pela unidade com Portugal. Desde os partidários de uma restrita autonomia até aos partidários da independência e aos que só sentimentalmente gostam de falar em autonomia sem no fundo a desejarem, há as mais variadas cambiantes”.

Salazar sublinhou esta frase. Orlando Ribeiro também elaborou um extenso relatório sobre a sociedade da Índia Portuguesa, documento bastante pessimista: Goa aparecera a seus olhos “como a terra menos portuguesa de todas as que vira até então, menos portuguesa do que a Guiné”.

E, mais adiante:

“Ao contrário da África portuguesa, onde há o maior cuidado em empregar expressões como Metrópole e metropolitano, em Goa opõe-se esta província a Portugal e o Goês cristão opõe-se a português. É corrente sermos assim designados por gente muito próxima de nós na fala e nos usos, mas alheia ao nosso sentido de pátria. Pátria para o Goês é Goa”.

Valentim Alexandre detalha a evolução das tensões, a euforia efémera da sentença do Tribunal Internacional de Haia no processo interposto por Portugal contra a União Indiana em 1956, por alegada violação do direito de passagem entre Damão e os enclaves de Dadrá e Nagar-Aveli, dando razão a Portugal. A vitória durou pouco tempo, em Dezembro de 1960 as resoluções da Assembleia Geral da ONU sobre a “outorga da independência aos países e aos povos coloniais” constituíram um momento de viragem, as posições coloniais tinham os dias contados.

O autor igualmente explica como a política da República Popular da China assegurou temporariamente a posição portuguesa em Macau, mesmo sujeita a restrições e todo o processo timorense é detalhado.

 Atenda-se ao valor das conclusões desta vastíssima obra. Tendo saído indemne da II Guerra Mundial, o regime sabia que a ordem internacional estava radicalmente alterada, o sopro anticolonial não só rapidamente se espalhara pela Ásia, era ínsito à Carta das Nações Unidas e constituía elemento de referência nas políticas norte americana e soviética.

Portugal começa por não estar isolado na conceção da independência às colónias, mas deu-se uma evolução nas políticas britânica e francesa, os seus impérios desagregaram-se. Numa tentativa de atualização, o Estado Novo substitui as colónias por províncias ultramarinas, procura ir abolindo o conceito de indígena e do trabalho forçado, como o autor observa:

“Fruto da Repressão e da ausência de liberdades, a pax lusitana era um dos temas prediletos da propaganda do regime, que nela via a comprovação da excelência da colonização portuguesa e da sua especificidade”.

Dá-nos conta da ameaça que impendia sobre Macau e quanto a Goa, Lisboa recusava a mínima cedência de soberania, quais que fossem as garantias de respeito pelas identidade de Goa e pela influência cultural nela exercida pela metrópole.

Chegados a 1955, ninguém na cúspide do Estado Novo ignorava as crescentes ameaças que se avolumavam sobre o império. Até 1958, prevalecia a noção de que sob os territórios de África era um perigo a longo prazo. Subitamente, esfumou-se a ilusão. O regime procurava remoçar a mística imperial, confortar a tese da especificidade de Portugal como nação pluricontinental, foi alimento para consumo interno.

Perante um perigo iminente de diferentes contestações dos movimentos independentistas, o regime monolítico procurou modificar as forças armadas e a PIDE passou a ter muito mais trabalho em África. No campo da política interna, Salazar nunca aceitou hipóteses de entendimento com grande parte da oposição que até poderia ter cooperado numa frente comum na defesa do Ultramar. O mais longe que Salazar quis ir constou na sua aceitação de um plano de reformas, mostrou-se aberto a modificações da estrutura administrativa do Império, como sempre tudo muito lento e aferrolhado.

E assim termina este valiosíssimo trabalho:  

“Só o abalo produzido pelo início da Guerra Colonial, em 1961, dará o impulso necessário a reformas de fundo, com a abolição legal do indigenato e do trabalho forçado. Ainda em 1959-1960, avultam, mais do que o reformismo, o acréscimo da repressão, com as vagas de prisões, nomeadamente em Angola, e os massacres, na maior parte já com intervenção das Forças Armadas, que então marcam a vida das colónias portuguesas do continente africano, bem como Timor. Longe de se contraporem, reforma e repressão não passavam de duas faces das mesma política, tendente a preservar a soberania nacional sobre o Império – como os tempos iniciais da guerra em Angola, em 1961, tornariam evidente”.

Esta notável investigação é de leitura obrigatória, como se depreende.
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Notas do editor:

Vd. postes anteriores de:

10 de janeiro de 2018 > Guiné 61/74 - P18198: Bibliografia de uma guerra (82): “Contra o Vento, Portugal, o Império e a Maré Anticolonial (1945-1960)”, por Valentim Alexandre; Temas e Debates/Círculo de Leitores, 2017 (1) (Mário Beja Santos)

17 de janeiro de 2018 > Guiné 61/74 - P18221: Bibliografia de uma guerra (83): “Contra o Vento, Portugal, o Império e a Maré Anticolonial (1945-1960)”, por Valentim Alexandre; Temas e Debates/Círculo de Leitores, 2017 (2) (Mário Beja Santos)
e
24 de janeiro de 2018 > Guiné 61/74 - P18246: Bibliografia de uma guerra (84): “Contra o Vento, Portugal, o Império e a Maré Anticolonial (1945-1960)”, por Valentim Alexandre; Temas e Debates/Círculo de Leitores, 2017 (3) (Mário Beja Santos)

Último poste da série de 31 de janeiro de 2018 > Guiné 61/74 - P18271: Bibliografia de uma guerra (85): “O céu não pode esperar”, por António Brito; Sextante Editora, 2009 (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P18316: Manuscrito(s) (Luís Graça) (138): a vida são dois dias e o carnaval são três


Foto e texto: © Luís Graça (2018). Todos os direitos reservados [. Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


CARNAVAL

por Álvaro Campos / Fernando Pessoa

A vida é uma tremenda bebedeira.
Eu nunca tiro dela outra impressão.
Passo nas ruas, tenho a sensação
De um carnaval cheio de cor e poeira...

A cada hora tenho a dolorosa
Sensação, agradável todavia,
De ir aos encontrões atrás da alegria
D'uma plebe farsante e copiosa...

Cada momento é um carnaval imenso
Em que ando misturado sem querer.
Se penso nisto maça-me viver
E eu, que amo a intensidade, acho isto intenso.

De mais... Balbúrdia que entra pela cabeça
Dentro a quem quer parar um só momento
Em ver onde é que tem o pensamento
Antes que o ser e a lucidez lhe esqueça...

[...] Julgo-me bêbado, sinto-me confuso,
Cambaleio nas minhas sensações,
Sinto uma súbita falta de corrimões
No pleno dia da cidade (...)

Uma pândega esta existência toda...
Que embrulhada se mete por mim dentro
E sempre em mim desloca o crente centro
Do meu psiquismo, que anda sempre à roda...

E contudo eu estou como ninguém
De amoroso acordo com isto tudo...
Não encontro em mim, quando me estudo,
Diferença entre mim e isto que tem

Esta balbúrdia de carnaval tolo,
Esta mistura de europeu e zulu,
Este batuque tremendo e chulo
E elegantemente em desconsolo...


[...]

Excertos “Carnaval” in: Álvaro de Campos - Livro de Versos . (Edição crítica. Introdução, transcrição, organização e notas de Teresa Rita Lopes.) Lisboa: Círculo de Leitores, 1993, pp. 81/82.




A vida é um entrudo chocalheiro

por Luís Graça

A vida é um teatro,
A vida é um anfiteatro grego antigo,
A vida é um jogo de máscaras,
A vida é ora tragédia, ora drama, ora comédia,
A vida é representação e transgressão...
... Mas nunca digas que a vida é uma merda!

Representas múltiplos papéis no teu palco, 
enquanto a vida flui, do nascer ao morrer. 
Papéis que tu escolhes, uns,
e outros que te impõem. 
Quem é o encenador ?
Quem escreve o guião ?
Quem te faz a máscara, a tira e a põe?
E o chocalho, para não te perderes no teu mundo imaginário ?
Às vezes és ator, canastrão,  
e vaidoso dono da ribalta e do proscénio e do cenário,
outras, mero e reles figurante.

Representas diversos papéis, bem ou mal mascarado,
ora emboscador, ora emboscado,
ora presa, ora predador,
ora herói, ora vilão,
ora sedutor, ora apanhado,
ou simples gato e rato.
Muitas máscaras chegaram-te até aos dias de hoje:
 a "toga" do senhor juiz, "cego, surdo e mudo", 
que decide da tua vida e da tua morte; 
o "capuz" do carrasco, que te enforca; 
o "traje académico", na universidade, 
separando o sabichão do mestre do pobre aprendiz; 
o "camuflado", 
"farda" militar, que te impõe a unidade de comando-controlo 
e a hierarquia entre os combatentes,
na tropa e na guerra;
os "paramentos" do celebrante da missa cristã, o sacerdote, 
as "vestes" do feiticeiro, 
ambos fazendo a ponte entre dois mundos 
que, só por magia, ou pela fé, se tocam, 
a terra e o céu, 
o sagrado e o profano; 
ou ainda a "bata branca" do médico ou da enfermeira, 
que não é apenas uma peça de vestuário de trabalho,
ou o "título" que te eleva até ao trono ou ao altar,
mostrando a tua cabeça alguns centímetros acima da multidão.

Das máscaras do terror do passado 

às máscaras de hoje 
que te ajudam a exorcizar o medo de viver e morrer, 
ou a virar o medo do avesso, 
como diria o poeta Miguel Torga,
o medo que é inerente à condição humana, 
a do "homem sapiens sapiens",
no terror do tsunami,
no absurdo da guerra,
no estertor da morte...

Mas a máscara também está associada à festa, à terra,
aos tambores, à gaita de foles, aos chocalhos, 
ao pão, ao queijo de ovelha e de cabra, 
aos enchidos, ao vinho... 
Porque não há festa sem o pão 
e o vinho e a música,
a  transgressão, 
o entrudo,
o carnaval,
o terreiro,
esse fantástico chão que foi e ainda é o teu chão,
de Trás-os-Montes ao Algarve,
e os caretos de Podence, Grijó e Lazarim..,
Sim, a vida é um entrudo chocalheiro,
a vida são dois dias,
e o carnaval são três...

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