sábado, 3 de novembro de 2018

Guiné 61/74 - P19163: Agenda cultural (656): Hoje na RTP1, às 21h00, início da minissérie, de 3 episódios, "Soldado Milhões", o herói português da I Guerra Mundial (realização de Gonçalo Galvão Teles e Jorge Paixão da Costa)

Aníbal Augusto Milhais
(Murça, Valiongo, 1895 - 1970)
Cortesia de dnoticias.pt, de 23out2015
1. Minissérie de 3 episódios, na RTP 1, com início hoje às 21h00

O herói português da Primeira Guerra Mundial

Aníbal Augusto Milhais nada mais queria do que viver em paz, mas foi perseguido até ao fim pela aura de heroicidade, atribuída pelos que matou em nome de Portugal.

A história surge das memórias de guerra, atiçadas no decorrer de uma caçada [ao lobo]. Nesta busca, Milhões guia-nos na sua luta pela sobrevivência 20 anos antes, em plena Primeira Guerra Mundial. Na madrugada de 9 de Abril de 1918, dezenas de divisões alemãs irromperam pelo sector defendido pela segunda divisão do Corpo Expedicionário Português (CEP). 

Em poucas horas, naquela que ficaria conhecida como Batalha de La Lys, perderam-se mais de 7.500 homens. Milhais recusa as ordens do Capitão e fica sozinho, frente a um regimento de soldados alemães, para salvar os companheiros em retirada. Isolado e perdido em território inimigo apenas com a sua metralhadora "Luisinha" [, Lewis,] e o seu amuleto da sorte, o lenço oferecido pela amada, Milhais enfrenta o seu maior desafio.

Pela coragem demonstrada no campo de batalha, Aníbal Augusto Milhais, foi premiado com a mais alta honraria nacional: a Ordem Militar da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito. 

A 5 de Julho de 1924, o Parlamento alterou o nome da povoação de Valongo, a sua aldeia natal, no distrito de Vila Real, para Valongo de Milhais, em sua honra. 

No ano em que se assinala o centenário do fim da Primeira Grande Guerra (1914-1918), acompanhamos o percurso do soldado que "se chamava Milhais, mas valia milhões".

[Vd. aqui trailer oficial do filme que estreou nas salas de cinema em abril de 2018]

Próximas emissões: 

03 Nov 2018 21:00 | RTP1

03 Nov 2018  21:19 | RTP Internacional

04 Nov 2018 05:07 | RTP Internacional América

04 Nov 2018 09:58 | RTP Internacional Ásia

06 Nov 2018 22:35 | RTP África


Ficha Técnica:
Cartaz do filme (2018)


Título Original. Soldado Milhões - Minissérie, de 3 episódios

Intérpretes: João Arrais, Miguel Borges, Raimundo Cosme, Isac Graça, Tiago Teotónio Pereira, Ivo Canelas, Graciano Dias, Nuno Pardal, Lúcia Moniz, António Pedro Cerdeira.

Realização: Gonçalo Galvão Teles, Jorge Paixão da Costa.

Produção: Ukbar Filmes.

Autoria: Argumento: Mário Botequilha, Jorge Paixão da Costa

Música: Pedro Janel

Ano 2018.

Duração: 45 minutos


2. Ver também:

RTP Ensina > A Batalha de La Lys do Soldado Milhões

(...) Aníbal Augusto Milhais foi soldado do Corpo Expedicionário Português e, na sequência dos seus feitos durante a Batalha de La Lys, recebeu a mais alta condecoração militar portuguesa. Oiça a história relatada pelo próprio.

Leonida Milhões, filha de Aníbal Augusto Milhais, o Soldado Milhões, preservou durante mais de cinco décadas uma bobina com uma gravação em que o pai conta a sua versão dos acontecimentos ocorridos durante a Batalha de La Lys. Uma equipa da RTP realizou uma reportagem utilizando essa gravação.

O Portal Ensina, para além do trabalho de reportagem, deixa-lhe também algumas passagens mais extensas desta história. (...)


Ficha Técnica
Título: A Batalha de La Lys do Soldado Milhões
Tipo: Reportagem
Autoria: Sandy Gageiro/ Carlos Guerreiro
Produção: RDP / Ensina RTP
Ano: 2014

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Guiné 61/74 - P19162: Parabéns a você (1519): Tenente-General PilAv António Martins de Matos, ex-Tenente PilAv da BA12 (Guiné, 1972/74)

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Nota do editor

Último poste da série de 2 de Novembro de 2018 > Guiné 61/74 - P19158: Parabéns a você (1518): Abílio Magro, ex-Fur Mil Amanuense do CSJD/QG/CTIG (Guiné, 1973/74)

sexta-feira, 2 de novembro de 2018

Guiné 61/74 - P19161: Notas de leitura (1116): Os Cronistas Desconhecidos do Canal do Geba: O BNU da Guiné (58) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 14 de Março de 2018:

Queridos amigos,
Aquele gerente de Bissau tem um relacionamento preferencial com as altas instâncias da administração do BNU. Todas as peripécias sobre Fernando Correia, que estava à testa dos negócios em Bissau da Sociedade Comercial Ultramarina, a sua substituição, por razões de uma cunha, e sob a discreta acusação de que praticara mão baixa, as ofertas de emprego que o Governador da Guiné lhe propõe, a sugestão de se fazerem casas de férias em Varela, as tensões com a Casa Gouveia, a grande rival da Sociedade Comercial Ultramarina, afloram nesta correspondência dirigida a Gastão de Bessone Basto e Francisco Vieira Machado.
Aqui se publica, com mera curiosidade da pequena História, a passagem do Duque de Bragança, D. Duarte Nuno, por Bolama, a caminho do Rio de Janeiro, com absoluta discrição do Ministro das Colónias e do Governador da Guiné foi acolhido nas instalações do BNU de Bolama, houve que trazer faqueiro, móveis e tapetes de Bissau.

Um abraço do
Mário


Os Cronistas Desconhecidos do Canal do Geba: O BNU da Guiné (58)

Beja Santos

Não é de mais insistir que este avulso acervo documental depositado no Arquivo Histórico do BNU é, por definição, heterogéneo, abarca desde considerações pessoais, a pedidos de mobília e utensílios até documentadas exposições sobre o comportamento comercial dos grandes exportadores de mancarra.

Há pedidos aparentemente bizarros, o leitor da documentação não deve abstrair como o mercado de Bissau tinha infindáveis limitações e daí o recurso insistente para virem objetos de utilidade pessoal a partir de Lisboa, mesmo que a sede fosse reticente em proceder a tais envios.
Vejamos esta carta de 12 de março de 1958 em que António de Aguiar a partir de Lisboa se dirige ao gerente do BNU em Bissau:
“Em 5 do corrente recebemos o seu telegrama de 4 do seguinte teor: enviem primeiro avião um par óculos miopia quatro dioptrias. O Banco não se ocupa destes assuntos pois estão fora das suas funções especiais, mas por consideração por essa gerência damos ordem ao nosso arquivo para lhes enviar os óculos pedidos.
As casas da especialidade exigiram que se lhes indicasse a distância pupilar, sem o que não forneciam os óculos e em 8 telegrafámos como segue: Seu 4 óculos telegrafe distância pupilar. Em resposta recebemos em 10 o telegrama de 9 dessa agência: Seu ontem distância normal. Comunicámos este conteúdo ao nosso arquivo para dar andamento ao assunto, o qual nos comunicou o que abaixo se transcreve: Os oculistas, consultados sobre os óculos para Bissau, esclarecem que é necessária a distância pupilar, observa-se que a distância normal é variável. Dizem que é muito fácil obter essas dimensões desde que se coloque um metro ou uma fita métrica sobre o nariz, estando a pessoa, a quem se tira a medida, a olhar bem de frente, a outra pessoa medirá do centro de uma pupila ao centro da outra pupila a distância que se pretende saber.
Posto isto, queiram considerar-nos desligados do assunto.”

Recuemos a 1957, encontram-se no arquivo cartas de grande interesse, uma dirigida ao administrador Gastão Bessone Basto e as duas seguintes a Francisco Vieira Machado, o governador.
Diz-se na carta de 27 de março dirigida a Bessone Basto:
“Penso haver alguma utilidade em relatar-lhe o que tenho sabido e observado quanto à saída do Fernando Correia da Sociedade Comercial Ultramarina. Em carta apressada disse-lhe o que tinha sabido pela boca do Dr. Serra Brandão e transmiti-lhe uma primeira impressão, agora conheço mais versões.
Comecemos pelo princípio. Em Dakar, em 10 de Março, fui abordado por dois rapazes que se apresentaram: Comandante Dr. Serra Brandão e Dr. Camacho Coelho. O último tinha estado dois meses na Guiné em visita de inspecção à Sociedade Comercial Ultramarina, o primeiro havia-se demorado um mês, na sua qualidade de administrador da mesma Sociedade.
Disse-lhes que sabia da visita do Serra Brandão à Guiné e perguntei-lhe como iam as coisas com o Fernando Correia. Que estava tudo arrumado e pela melhor forma, respondeu-me. Que tinham chegado a completo acordo, acrescentei que me alegrava por saber o caso arrumado, visto que a situação do Fernando Correia na Sociedade Comercial Ultramarina não podia ser indiferente ao BNU.
Houve um certo engasgamento e quando eu dava outro rumo à conversa o Serra Brandão dispara: ‘V. Ex.ª sabia que o Fernando Correia tinha pedido a demissão propondo-se sair em Dezembro. Ora isto não era possível. Ou saía já ou saía depois de Dezembro. Concordou em sair já. E já está nomeado gerente da Sociedade Comercial Ultramarina o Dr. Ribeiro e o Fernando Correia sairá definitivamente no fim do mês.
Confesso que a coisa me deixou sem fala, entre a dúvida se aquele sujeito se tinha entretido a chuchar comigo ou se se tratava de um caso de palermice qualificada. O Serra Brandão leu certamente a coisa na minha cara e acrescentou: ‘Ficou tudo arrumado e nos termos mais amistosos. O Fernando Correia confessou ao Dr. Camacho Coelho que de facto nos tinha metido algumas rasteiras, que não tinha sido inteiramente leal com a nova administração da Sociedade.’
O Grave Leite, que assistia à conversa perguntou: ‘E o que vai fazer o Fernando Correia?’ Resposta do Dr. Serra Brandão: ‘O Fernando Correia disse-nos que tudo dependia da indemnização que a Sociedade lhe vier a dar. Se atingir determinada quantia, liquidará compromissos que tem e virá para a Metrópole. Caso contrário, terá de continuar em África’.”

O autor da carta dá-nos saborosos detalhes, o tal Fernando Correia teria praticado deslealdades, fora forçado à demissão. Foi depois conversar com Fernando Correia, este expressara ao autor ter havido má vontade da nova administração, fora intimidado a pedir a demissão ou a ser posto na rua. Fernando Correia dizia ao autor da carta que a hostilidade do Dr. Serra Brandão tinha dois motivos essenciais, não querer que houvesse na Sociedade quem, como ele, estivesse fiel e ligado ao BNU e o Dr. Serra Brandão queria arranjar uma situação para um amigo íntimo, o tal Sr. Ribeiro, que ele, Fernando Correia, considerava pessoa sem qualidades para o desempenho do cargo. Fernando Correia alegava ter trabalhado durante 26 anos, fora sempre servidor dedicado acima de tudo ao Banco (mesmo depois da venda da Sociedade Comercial Ultramarina à Sociedade Nacional de Sabões), pedia ao Banco que utilizassem qualquer serviço.

E o autor da carta mostra-se insinuante:
“A impressão causada na Província pela saída do Fernando Correia não é favorável à Sociedade Comercial Ultramarina. Considera-se que se cometeu uma injustiça e, sobretudo, que a Sociedade Comercial Ultramarina, privada da sua peça essencial, administrada por senhores que só conhecem a Guiné por ouvir dizer e gerida por um rapazola sem prestígio, caminha para um desastre retumbante. Estive no domingo em Catió, em casa do Sr. Álvaro Camacho, o maior produtor de arroz da Guiné e o primeiro cliente da Ultramarina. Considera a saída do Fernando Correia um disparate, mais um disparate a juntar à série de disparates que a Sociedade Comercial Ultramarina tem cometido desde que pertence à Sociedade Nacional de Sabões, disparates que só o Fernando Correia tem remediado. Não terminarei estas notas sem lhe dizer que o Fernando Correia disfruta em toda a Província de um real prestígio. É certo que distingue sobre ele o prestígio inerente a ser o gerente da Sociedade Comercial Ultramarina. É o presidente, respeitado e acatado, da Associação Comercial. É vogal do Conselho do Governo. É vogal da Administração do Porto. Peço-lhe que transmita aos nossos colegas o pedido do Fernando Correia, visto que foi formulado ao Banco por meu intermédio.”

O mesmo autor da carta escreve em Bissau em 28 de março para Francisco Vieira Machado, em Lisboa:
“Como é sabido, a Guiné Portuguesa está situada na zona tropical, a meio entre o Equador e o Trópico de Câncer, entre o Atlântico sul e o enorme bloco continental sudanês-sariano. A sua situação geográfica caracteriza o clima com a existência de duas estações, com uma temperatura média anual à volta de 26,6º e uma humidade que ronda os 86%.
O clima é, pois, extremamente depauperante, sobretudo para os indivíduos vindos da Metrópole ou, mesmo, de Cabo-Verde.
Independentemente de outras razões, o Banco tem toda a vantagem em que os empregados desta Dependência se recuperem dos efeitos do clima guineense por forma a darem melhor rendimento do que o até aqui obtido.
Sucede que na própria Província existe uma praia que pelas suas excepcionalíssimas condições climatológicas permite uma óptima recuperação. Trata-se da praia de Varela, situada na Circunscrição de S. Domingos. Há uns anos a esta parte, Varela começou a ser ‘descoberta’ e a ter uma frequência que se vai acentuando. O governo da Província está interessado em fazer de Varela a estação de repouso dos funcionários públicos e de quantos necessitam de uma mudança de clima. Para tanto: facilitarem-se os transportes, reduzindo-se a 205$00 ida e volta por pessoa a viagem de avião; subsidia-se o concessionário do restaurante por forma a que uma diária completa custe 150$00 para casal e 75$00 por pessoa; alojam-se os turistas, com preferência para os funcionários nos bungalows propriedade do Governo, estando o custo desta hospedagem incluído na diária; fazem-se captações de águas, instalação eléctrica, etc.

Pensa o atual Governador, com quem troquei impressões acerca desta praia e seu futuro, que Varela seria o local de repouso e recuperação de quantos aqui trabalham através das facilidades que vai concedendo, contribuindo essas mesmas facilidades para intensificar a frequência dos europeus residentes na Guiné Francesa, sobretudo de Ziguinchor. Quanto ao grande turismo internacional pensa – e a meu ver muito bem – que o arquipélago dos Bijagós poderá vir a ser um estupendíssimo centro de atracção, dadas as suas excepcionalíssimas condições de exotismo, desporto e beleza natural.
À semelhança do que está estabelecido para os empregados do Continente – e aqui por maioria de razões – proponho que seja concedido aos empregados da Dependência de Bissau um subsídio de férias, pelo menos igual ao estabelecido pelos CCT do Continente, mas só para os que se proponham gozar as suas férias em Varela. Com efeito, não se justifica tal subsídio para um empregado que resolve gozar as férias em Bissau ou em qualquer outro ponto da Província – que são todos piores que Bissau.
Proponho, ainda, que o Banco mande construir em Varela dois bungalows, cada um com dois a três quartos e uma ou duas casas-de-banho. O preço destas construções não será superior a 60$00 por bungalow. A oportunidade da elaboração dos projectos e adjudicação da construção seria a mesma da edificação das moradias dos empregados.
Peço a V. Ex.ª que transmita os meus mais afectuosos cumprimentos aos nossos colegas. O melhor abraço do seu amigo certo e muito dedicado.”

Lendo as duas missivas, pelo teor das mesmas infere-se rapidamente que o autor da carta é o gerente de Bissau, como se vê altamente bem relacionado a nível da administração em Lisboa.
A preparar-se para viajar no “Ana Mafalda” a 8 de abril desse mesmo ano dirige-se ao governador do BNU, tem novidades:
“Tive uma curiosa conversa com o Governador acerca da Sociedade Comercial Ultramarina. Começou por me anunciar que ia nomear Presidente da Câmara Municipal de Bissau o Fernando Correia. Justificou a nomeação por ela corresponder a um movimento unânime das pessoas representativas de Bissau e deplorou o erro gravíssimo em ter sido substituído na gerência da Sociedade Comercial Ultramarina.
A conversa continuou acerca da Ultramarina, tendo-me o Governador manifestado a opinião de que a empresa corre aceleradamente para um desastre. Está entregue, aqui, a um rapaz estimável mas sem a menor experiência. Os sujeitos de lá (como o comandante, Dr. Serra Brandão) não perceberam nem percebem que os esquemas teóricos não correspondem de modo nenhum às realidades guineenses.
A conversa foi muito longa e eu gostaria de dar apenas o essencial pelo que a resumo num dos seus passos: a situação criada pela saída do Fernando Correia pôs os concorrentes da Ultramarina em euforia porque irão rapar-lhe toda a clientela que tenha interesse.
A coisa, como V. Ex.ª vê, não está brilhante e os interesses do Banco não se defendem, apenas, com mais ou menos garantias. Se a Ultramarina se estende, entregam-nos um cadáver porque não são os prédios que numa empresa destas têm valor. O seu valor está no potencial económico, constituído ao longo de muitos anos e que numa campanha – que pode ser a próxima – se pode totalmente perder.”

(Continua)

Com os cumprimentos de Saúde e Fraternidade, uma carta dirigida ao Dr. Malva do Valle, comissário do Governo junto do BNU, com data de 3 de março de 1921, uma queixa acerca da gerência da Filial de Bolama sobre a importância de direitos alfandegários.

Notícia do jornal Arauto, 7 de abril de 1957 sobre a independência de Singapura, a descolonização na Ásia e em África estava já na rampa de lançamento.

Carta do gerente Virgolino Pimenta endereçada para a sede em Lisboa, dando notícia da estadia em Bolama de D. Duarte Nuno de Bragança, a caminho do Rio de Janeiro, onde vai casar-se. Em junho de 1942, o duque de Bragança faz uma curta estadia em Bolama, é deferentemente acolhido pelo gerente de Bissau, chegado ao Rio agradece por telegrama. Sempre pragmático, Virgolino Pimenta termina a carta dizendo que se fizera uma despesa de 730$00, que a Filial adiantara sob a sua responsabilidade, o Governo da Colónia pagaria a conta.
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Notas do editor:

Poste anterior de 26 de outubro de 2018 > Guiné 61/74 - P19137: Notas de leitura (1114): Os Cronistas Desconhecidos do Canal do Geba: O BNU da Guiné (57) (Mário Beja Santos)

Último poste da série de 29 de outubro de 2018 > Guiné 61/74 - P19146: Notas de leitura (1115): Quem mandou matar Amílcar Cabral, reportagem publicada no Expresso em 16 de Janeiro de 1993 (2) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P19160: Recortes de imprensa (98): In Memoriam - Professor Doutor Carlos Cordeiro - Homenagem no Jornal Correio dos Açores (3) - Biografia por Carlos E. Pacheco Amaral

Chegou ao conhecimento do Blogue, através do nosso camarada José Câmara, a publicação no Jornal Correio dos Açores de 21 de Outubro de 2018, de depoimentos de homenagem ao Professor Doutor Carlos Cordeiro, ilustre camarada que, como Furriel Miliciano, fez a sua Comissão de Serviço em Angola, falecido no passado dia 19 de Setembro.

Com a devida autorização do Director do prestigiado, e quase centenário, jornal Correio dos Açores, Américo Natalino Viveiros, deixamos o recorte da Biografia de Carlos Cordeiro, por Carlos E. Pacheco Amaral.





 Com a devida vénia ao Jornal Correio dos Açores
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Nota do editor

Último poste da série de 1 de Novembro de 2018 > Guiné 61/74 - P19155: Recortes de imprensa (97): In Memoriam - Professor Doutor Carlos Cordeiro - Homenagem no Jornal Correio dos Açores (2)

Guiné 61/74 - P19159: Recortes de imprensa (98): "Diário de Lisboa": o assassinato de Amilcar Cabral em 20 de janeiro de 1973 e a escalada da guerra no CTIG... Sete dias depois, assina-se o Acordo de Paz de Paris, que vai estabelecer o cessar-fogo no Vietname...




Diário de Lisboa, segunda-feira, 22 de janeiro de 1973

Citação:
(1973), "Diário de Lisboa", nº 17989, Ano 52, Segunda, 22 de Janeiro de 1973, CasaComum.org, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_5387 (2018-11-1)


Diário de Lisboa, terça-feira, 23 de janeiro de 1973

Citação:
(1973), "Diário de Lisboa", nº 17990, Ano 52, Terça, 23 de Janeiro de 1973, CasaComum.org, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_5250 (2018-11-1)


Diário de Lisboa, quarta-feira, 24 de janeiro de 1973

Citação:
(1973), "Diário de Lisboa", nº 17991, Ano 52, Quarta, 24 de Janeiro de 1973, CasaComum.org, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_5251 (2018-11-1)



Diário de Lisboa,  quarta-feira, 24 de janeiro de 1973

Citação:
(1973), "Diário de Lisboa", nº 17991, Ano 52, Quarta, 24 de Janeiro de 1973, CasaComum.org, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_5251 (2018-11-1)


Diário de Lisboa,  domingo, 28 de janeiro de 1973

Citação:
(1973), "Diário de Lisboa", nº 17995, Ano 52, Domingo, 28 de Janeiro de 1973, CasaComum.org, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_5258 (2018-11-1)

Fonte: Fundação Mário Soares > Casa Comum > Fundo; Documentos Ruella Ramos (Com a devida vénia...)


1. Dia 20 de janeiro, à noite, em Conacri, era assassinado, por elementos do seu próprio partido, o Amílcar Cabral.  Os jornais portugueses, sujeitos à censura prévia, só deram a notícia 48 horas depois. É, pelo menos, o caso do "Diário de Lisboa", conotado com a "oposição democrática" ao regime de Salazar-Caetano. O noticiário é cauteloso. E dá-se a subentender que os "falcões" do PAIGC é que estão por detrás do assassinato do líder...

Em boa verdade, houve uma escalada da guerra, depois da morte de Amílcar Cabral. Os "falcões" do PAIGC, o regime de Sékou Touré e os russos são, sem sombra de dúvida, os ganhadores.  Spínola sai, claramente, como "perdedor"... Ironicamente, chamou-se Op Amílcar Cabral à escalada da guerra por parte do PAIGC, desembocando nas batalhas dos 3 G (Guidaje, Guileje e Gadamael) e na entrada em cena do míssil Strela, fornecido pelos russos, e culminando com a declaração unilateral da independência da Guiné em 24 de setembro de 1973...

Da Guiné se disse, com maior ou menor propriedade, que foi o Vietname português...


2. Nessa mesma semana, são assinados, a 27 de janeiro de 1973, os Acordos de Paz de Paris (ou Acordo de Paris para o Fim da Guerra e Restauração da Paz no Vietname).

 O acordo ou acordos têm a assinatura dos governos da República Democrática do Vietname (Vietname do Norte), da República do Vietname (Vietnam do Sul) e dos Estados Unidos da Amércia, além do Governo Revolucionário Provisório (PRG) que representava o vietcong, apoiado pelo Vietname do Norte. Estes acordos puseram fim à intervenção direta, no Vietname,  das Forças Armadas dos EUA   e estabeleceram uma trégua temporária nos combates entre o Norte e o Sul.

Foram negociações demoradas, complexas, com altos e baixos, iniciadas em 1968, após a Ofensiva do Tet. Os principais negociadores em Paris foram o Conselheiro de Segurança Nacional dos Estados Unidos Henry Kissinger e o membro do Politburo norte-vietnamita Le Duc Tho. (Ambos irão receber nesse ano o Prémio Nobel da Paz, em reconhecimento do seu trabalho pela paz, embora Ler Duc Tho, tenha recusado o prémio, alegando que o processo ainda não estava completo. E a verdade, é que a guerra só vai chegar ao fim... em 1975, depois de14 anos de lutas sangrentas.
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Guiné 61/74 - P19158: Parabéns a você (1518): Abílio Magro, ex-Fur Mil Amanuense do CSJD/QG/CTIG (Guiné, 1973/74)

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Nota do editor

Último poste da série de 1 de novembro de 2018  > Guiné 61/74 - P19154: Parabéns a você (1517): José Carlos Gabriel, ex-1.º Cabo Op Cripto do BCAÇ 4513 (Guiné, 1973/74)

quinta-feira, 1 de novembro de 2018

Guiné 61/74 - P19157: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (57): Contactos de fotocines precisam-se para documentário sobre o seu papel na guerra colonial (Hélder Sousa/ Marisa Marinho)


Luanda > 1973 > Destacamento de Fotografia e Cinema nº 3011 > 1973 > Festa do 1º aniversário.
Quem reconhece estes camaradas ? A fotografia tem baixa rsolução: à esquerda, em primerio plano, parece ser um militar com o posto de furriel, um dos que sopram a vela; ao vendo, parece recinhecer-se três militares com os postos de alferes, capitão e major (ou tenente coronel), da esquerda para a direita. O DFC, nº 3011, entre 1972 e 1974, era comandado pelo capitão miliciano Vicente Batalha

(*) Cortesia do blogue Fotocines.


1. Mensagem de Hélder Valério Sousa, nosso colaborador permanente:

Date: segunda, 29/10/2018 à(s) 13:07
Subject: Alguém conhece fotocines?

Meus caros,

Fui contactado por um amigo que me fez um pedido no sentido de encontrar alguém da especialidade de fotocine.

O objectivo tem por fim ajudar a Marisa Marinho e Pinto a chegar à fala com elementos dessa especialidade para construir um documentário sobre "memórias da guerra colonial", que ele me disse que ela considera ser um assunto com muito ainda por contar mas que os protagonistas estão a desaparecer.

O foco em fotocine é na esperança de esses elementos terem sido testemunhas (memórias vivas) de acções ou operações ou outras vivências em que tivessem participado.

Disse-lhe (a ele) que não seria fácil. Tive contacto com um desses elementos, um homem do Porto, boas famílias, mas de que já perdi o rasto, aliás a última vez que estive com ele foi em Abril de 1972 quando, estando eu em "lua de mel" no Porto e em vésperas de regressar à Guiné, se fez de cicerone pelas ruas e bares do Porto e de manhã, qual táxi, nos foi levar a Pedras Rubras.

Também lhe disse que, na Guiné, a possibilidade de os fotocines acompanharem grandes operações é pouco provável, aqui e ali, talvez, mas deslocavam-se ao "mato" para projecções de filmes e gravações de mensagens de Natal.

Caso haja alguém, ou conheçam ou saibam de alguém capaz de ajudar a Marisa nesta sua demanda, pois que a contactem pelo telemóvel 933 269 023 para combinarem a forma de possível colaboração.

Abraços
Hélder Sousa


2. Comentário do editor:

Obrigado, Hélder, já te respondi por email, e já me mandaste o contacto da Marisa, que por sua vez já formalizou o seu pedido. A mensagem será publicada, a seguir. Como te disse, no doclisboa'18, encontrei há dias o produtor e realizador de cinema Rui Simões  (da Real Ficção), que conheço há anosm, e que me abordou no mesmo sentido: fotocines, precisam-se, para um documentário que está  em fase de planeamento.

Infelizmente, temos escassas referências a fotocines no nosso blogue (*).

Lembro que em 2008 foi criado um blogue, de vida efémera, chamado “Fotocines”, por alguém que esteve, em Luanda, no Destacamento de Fotografia e Cinema (DFC) nº 3011 (1972/74)… Até à data publicaram-se 3 postes e 1 comentário, incluindo duas fotos em formato pequeno…

Trata-se de um “espaço criado para reunir todos os Foto-Cines que prestaram serviço militar obrigatório no Exército Português, tendo sido distribuídos na altura por Destacamentos Foto-Cines em Angola, Guiné e Moçambique, para além dos premiados que conseguiram passar toda a sua comissão de serviço nos SCE-Serviços Cartográficos do Exército que agregava toda a comunidade Fotocine debaixo da égide do saudoso major Baptista Rosa [Niza, 1925- Lisboa, 1982], e por onde passaram parte dos expoentes do cinema feito em Portugal.”

O DFC nº 3011 era comandado pelo ribatejano, cap mil Vicente Batalha (*). [, foto à direita, cortesia do jornal "O MIrante"]
 

3. Mensagem de Marisa Marinho  com data de 30/10, 09:55

Caro Luís Graça,

escrevo por sugestão de Hélder Sousa, aqui em Cc, que muito amavelmente me contactou ontem, e a quem desde já agradeço também.

Estou envolvida na Pesquisa de um Documentário sobre Foto-Cines da Guerra Colonial e procuro meios de conseguir contactar com estes personagens.

Detalhes sobre este projecto:

1) ENQUADRAMENTO

Esta longa metragem documental, tendo recebido recentemente, pelo ICA [, Instituto do Cinema e Audiovisual], o Apoio ao Desenvolvimento da Escrita e o Apoio ao Documentário, conta ainda com o apoio à produção da RTP.

É um projecto independente, produzido por Rui Simões e pela Produtora Real Ficção, e realizado por Sabrina Marques (Investigadora do Cluster de Fotografia e Cinema - FCSH-UNL) que prossegue uma investigação a ser feita, em paralelo, no âmbito do Doutoramento na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova, com orientação dos Professores Margarida Medeiros e Bruno Marques.

2) SINOPSE

Em Os Foto-Cines constrói-se um retrato intimista da guerra junto de quem a viveu. Esta longa-metragem documental propõe-se investigar quem eram aqueles que, na guerra colonial portuguesa, viviam com a responsabilidade simultânea de combater, de defender a própria vida e ainda, de permanentemente registar essa mesma missão colectiva, através das máquinas fotográficas e de filmar.

Estamos portanto numa fase inicial de desenvolvimento, em que procuramos conhecer Foto-cines, e conversar sobre as suas experiências pessoais, ver fotos, etc, sem qualquer compromisso, apenas para melhor nos inteirarmos sobre esta realidade específica.

Numa fase posterior, possivelmente em meados de Janeiro, agendaremos entrevistas e filmagens, consoante o próprio entusiasmo, potencial, vontade e disponibilidade de cada Foto-Cine.

Estarei muito grata por qualquer meio de divulgação que considere adequado, para que realmente possamos encontrar Foto-cines do período da guerra colonial. (***)

Qualquer dúvida, por favor não hesite em contactar-me,

Os melhores cumprimentos, agradeço mais uma vez,

Marisa Marinho

Pesquisa & Conteúdos
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email: marisamarinho@gmail.com
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Notas do editor

(*) Vd.  4 de janeiro de  2016 > Guiné 63/74 - P15578: Recortes de imprensa (78): Vicente Batalha, de alf mil cav, CCAV 1483 (CTIG, 1965/67) a cap mil, cmdt do Departamento de Fotografia e Cinema 3011 (Angola, 1972/74)

(**) Vd. ainda postes de:

30 de setembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16542: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (38): Ajuda para reportagem da SIC, antigos militares fotocines que tenham gravado as mensagens de Natal da RTP... precisam-se! (Madalena Durão, produtora)

7 de novembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16691: Agenda cultural (512): SIC: Programa Perdidos e Achados, em 29 de outubro passado: onde estavam os repórteres da guerra colonial, onde estavam os nossos fotocines?

(***) Último poste da série > 11 de junho de 2018 > Guiné 61/74 - P18736: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (56): Procuram-se informações sobre uma possível troca de dois pilotos portugueses, prisioneiros no Senegal, por um opositor ao governo senegalês, preso em Bissau às ordens da DGS, com intermediação de Leopold Senghor, em Junho de 1966 (Miguel Pessoa / José Nico)

Guiné 61/74 - P19156: Blogpoesia (592): "1 de Novembro", da autoria de Joaquim Luís Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

Foto: Com a devida vénia a mensagenscomamor.com


1. Neste Dia de Todos os Santos em que veneramos os nossos entes queridos já finados, um poema do camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66):

 
1 de Novembro

Retinem os sinos tristes pelas colinas de Lisboa.
É dia dos finados.
Se foram cansados desta terra sofrida e benta.
Choram lágrimas as saudades.
Se vestem de preto, como a alma,
Em lânguidas orações.

Rezam os pobres pelos ricos e os ricos pelos pobres.
Na fraternidade universal
É o fogo da cidade
Que arde quente
Pelas ruelas estreitinhas,
Com janelas e portas,
Dia e noite sempre abertas.

Ouvindo Amália em "Gaivota"
Berlim, 1 de Novembro de 2018
7h22m
Jlmg
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Nota do editor

Último poste da série de28 de outubro de 2018 > Guiné 61/74 - P19143: Blogpoesia (591): "O serrador", "Entusiasmo" e "Os enigmas", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

Guiné 61/74 - P19155: Recortes de imprensa (97): In Memoriam - Professor Doutor Carlos Cordeiro - Homenagem no Jornal Correio dos Açores (2)

Chegou ao conhecimento do Blogue, através do nosso camarada José Câmara, a publicação no Jornal Correio dos Açores de 21 de Outubro de 2018, de depoimentos de homenagem ao Professor Doutor Carlos Cordeiro, ilustre camarada que, como Furriel Miliciano, fez a sua Comissão de Serviço em Angola, falecido no passado dia 19 de Setembro.

Com a devida autorização do Director do prestigiado, e quase centenário, jornal Correio dos Açores, Américo Natalino Viveiros, deixamos hoje mais três depoimentos que lembram este vulto da cultura açoriana que tão cedo nos deixou.




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Com  devida vénia ao Jornal Correio dos Açores

(Continua)
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Nota do editor

Poste anterior de 31 de outubro de 2018 > Guiné 61/74 - P19153: Recortes de imprensa (96): In Memoriam - Professor Doutor Carlos Cordeiro - Homenagem no Jornal Correio dos Açores (1)

Guiné 61/74 - P19154: Parabéns a você (1517): José Carlos Gabriel, ex-1.º Cabo Op Cripto do BCAÇ 4513 (Guiné, 1973/74)

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Nota do editor

Último poste da série de 28 de outubro de 2018 > Guiné 61/74 - P19141: Parabéns a você (1516): Jorge Fontinha, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 2791 (Guiné, 1970/72) e Coronel Inf Ref Luís Marcelino, ex-Cap Mil Inf, CMDT da CART 6250/72 (Guiné, 1972/74)

quarta-feira, 31 de outubro de 2018

Guiné 61/74 - P19153: Recortes de imprensa (96): In Memoriam - Professor Doutor Carlos Cordeiro - Homenagem no Jornal Correio dos Açores (1)

Chegou ao conhecimento do Blogue, através do nosso camarada José Câmara, a publicação no Jornal Correio dos Açores de 21 de Outubro de 2018, de depoimentos de homenagem ao Professor Doutor Carlos Cordeiro, ilustre camarada que, como Furriel Miliciano, fez a sua Comissão de Serviço em Angola, falecido no passado dia 19 de Setembro.

Com a devida autorização do Director do prestigiado, e quase centenário, jornal Correio dos Açores, Américo Natalino Viveiros, damos hoje início à publicação de alguns recortes com textos de individualidades que lembram este vulto da cultura açoriana que tão cedo nos deixou.

Hoje deixamos os depoimentos do Presidente do Governo Regional dos Açores, do Director-Adjunto do Correio dos Açores e da Presidente da Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores.




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(Com a devida vénia ao Jornal Correio dos Açores)

(Continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 25 de maio de 2018 > Guiné 61/74 - P18674: Recortes de imprensa (95): A notícia do trágico acidente, ocorrido no Rio Corubal, no Cheche, na sequência da Op Mabecos Bravios (retirada de Madina do Boé) só é dada no "Diário de Lisboa", dois dias e meio depois, em 8 de fevereiro de 1969

Guiné 61/74 - P19152: Historiografia da presença portuguesa em África (135): Relatório anual da Circunscrição Civil dos Bijagós, 1932 (Mário Beja Santos)

Antiga casa comercial António Silva Gouveia, posteriormente utilizada para instalações militares do quartel de Bolama

Fotografia de Francisco Nogueira, retirada do livro “Bijagós Património Arquitetónico”, Edições Tinta-da-China, 2016, com a devida vénia.


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 8 de Maio de 2018:

Queridos amigos,
O mínimo que se pode dizer é que este relatório não pode ser escamoteado nos estudos historiográficos da colónia, exatamente naquele tempo em que começara a submissão de Canhabaque, última etapa das chamadas Guerras da Pacificação. O administrador Manuel Luiz Silva é pouco dado a floreados e explica o que se passa com o imposto de palhota, com as roubalheiras dos grumetes, como os Bijagós desconfiam de tudo e todos e eram na verdade uma sociedade horizontal, há muito que tinham desistido de fazer guerra aos Beafadas, preferiam o seu isolamento. Atenda-se ao que o administrador diz sobre o quadro sanitário do arquipélago e à carência de meios para garantir a soberania portuguesa.

Um abraço do
Mário


Relatório anual da Circunscrição Civil dos Bijagós, 1932

Beja Santos

Quem o assina é Manuel Luiz Silva, o Administrador, andou por outras paragens guineenses, regressou aos Bijagós e revela-se hipercrítico do trabalho desenvolvido pelos antecessores. Dando cumprimento aos preceitos estabelecidos para o que deve ser um relatório anual, logo no capítulo I, referente ao solo e clima, lembra que o arquipélago possui 19 ilhas habitadas e 16 ilhas e ilhéus e diversas ilhotas desabitados. São tudo terrenos baixos, não há qualquer espécie de elevação. Ao tempo, existe o Comando Militar de Canhabaque, a ilha é insubmissa, constituído por uma ilha habitada, oito ilhas e ilhéus desabitados. Informa que não existe nenhum rio no arquipélago e que a constituição do solo não difere do do continente. Não lhe desagrada o recurso a imagens quase poéticas, como esta: “Nas marés baixas, desnudam-se grandes superfícies, na sua quase totalidade coberta de vaza lodacenta permitindo ao indígena poder deslocar-se de algumas ilhas para outras sem auxílio de embarcações. A água é mais ou menos potável. Os problemas de saúde são graves e endémicos: as ilhas de Bubaque, Canhabaque e Orangozinho foram visitadas pela febre-amarela; grassa o tracoma, com intensidade, nas ilhas de Caravela e Caraxe e com menos intensidade noutras ilhas.
Vejamos agora a fauna e flora. Todas as ilhas são verdadeiras matas. Quanto a plantas frutíferas, apenas se veem em maior quantidade a laranjeira, a mangueira e frutos silvestres. Quanto a animais, avultam a gazela e a cabra ou fritambá em pequena quantidade na Ilha das Galinhas, Canhabaque, Orango e Caravela. A ave predominante é o papagaio cinzento".

E de seguida vai esmiuçar a situação política. Em 26 de abril seguiu para as cobranças do imposto de palhota de 1930-1931:  
“Pelas ilhas onde andei, verifiquei no indígena um estado de desânimo e desconfiança. Tendo-me demorado uns 10 dias por algumas ilhas, no meu regresso mandei ao Exm.º Sr. Director dos Serviços e Negócios Indígenas uma carta em 12 de Maio com um mapa indicando o número de palhotas arroladas e cobradas durante o decénio de 1922-1932, estando nele incluído, nos dois primeiros anos, a Ilha de Canhabaque. Por ele, pode V. Ex.ª verificar a alta em 1923-1924, baixando no ano seguinte para ser elevada ao máximo em 1925-1926, sem a ilha de Canhabaque, passando a decrescer até este ano”.
Considera que os habitantes do arquipélago precisam de contrair empréstimos para pagar o imposto de palhota e assinala o êxodo para outras regiões, há indígenas válidos da ilha de Bubaque que se fixaram em Catió, alegam não terem terrenos para cultivar, pois que a Companhia Agrícola e Fabril da Guiné lhes tirou tudo, e o administrador diz que não é verdade, pois a Companhia deixa-os fazer sementeiras dentro da concessão desde que não extraiam vinho de palma, o que é inaceitável para qualquer Bijagó; dentro dessa linha do êxodo diz também que os da ilha de Soga vão assentar arraiais em Cubisseco onde têm as suas palhotas, eles dão as mesmas justificações que os de Bubaque. Comenta o administrador: 
“É uma desolação ver hoje algumas povoações, quem as viu em anos transactos, só se vêem velhos e mulheres e poucos homens novos. Sei que devido ao estado anormal em que a Circunscrição se encontra devido a enormes dificuldades em encontrar trabalho para todos, com o tempo, paciência e boa vontade, tudo se há de conseguir”.

Falando de hierarquia e poder, o relator diz que o Bijagó só reconhece como única autoridade indígena o balobeiro (padre), mas a sua obediência é só na vertente religiosa. O único régulo é o de Orango, o resto só existem para as autoridades terem a quem se dirigir.
Faz longos comentários à situação administrativa. O arquipélago dos Bijagós fez parte até 1913 da área do Concelho e da Circunscrição Civil de Bolama; em 1927 passou a ser Circunscrição Civil de Bubaque e em 1 de janeiro de 1929 ficou a fazer parte da Intendência de Bolama; em 1931 voltou de novo o arquipélago a estar sobre o regime da Circunscrição Civil e esta divide-se em quatro postos administrativos.
O relator enfronha-se agora na antropologia:
“O Bijagó, devido ao seu atraso de civilização, fugindo a esta tanto quanto pode, à sua indolência e resistência passiva, à contínua desconfiança de todos, tudo esconde”.
Falando da educação, menciona a existência da Escola Rural:
“Além de crianças de outra raça, frequentam a escola 12 indígenas que tendo vindo com as suas características saias e lopé tiveram que ser vestidos não fosse a máquina fotográfica de algum estrangeiro, auxiliado por certos portugueses, tirar alguns instantâneos, para lá fora nos deprimirem. O vestuário só o devem vestir na ocasião de irem e estarem na escola”.

Diz que o estado sanitário é precário, muitos indígenas estão atacados de bobas, bastante no estado terciário, o que leigos como ele chamam lepra; 50% da população de Caravela e Caraxe está atacada de tracoma. “Para o tratamento desta doença, o Sr. Dr. Eurico de Almeida, no seu relatório, creio que de Novembro, propunha a criação de uma ambulância sanitária em Caravela para ali os indígenas serem convenientemente tratados, mas para o bom êxito era necessário que o indígena constituísse palhotas para não dormirem na promiscuidade, para evitarem o contágio e para isso era preciso que o indígena deixasse de pagar o imposto por dois ou três anos, pois as casas não as constrói para não as pagar. Só obrigado”.

A varíola em 1930 fez grande desbaste na população. E pronuncia-se sobre a febre-amarela:  
“Todos os anos, de Outubro a Fevereiro, morrem bastantes indígenas sem se saber porquê. Dizia-se que é gripe e morrem de pneumonia. O Dr. Fritz Rennefeldt, encarregado do Hospital da Companhia Agrícola e Fabril da Guiné, em 1927-1928, diagnosticou febre-amarela. Creio que é o centro e sul da ilha de Canhabaque o foco mais ou menos virulento do vómito negro”.

Refere-se depois ao imposto de palhota e faz uma minuciosa descrição da sua cobrança. É favorável a que o imposto indígena de capitação substitua o imposto de palhota.
Quanto ao comércio, diz que o único comércio estabelecido nas ilhas é o da permuta de arroz por coconote, e nas épocas mais intensas de cobrança do imposto de palhota, aumenta o número de negociantes que se dedicam também à permuta conjuntamente com a compra de produtos a dinheiro. Revela que o indígena se desloca para fora de Circunscrição por não simpatizar muito com a Companhia Agrícola e Fabril da Guiné. A segunda empresa importante no arquipélago era a Empresa Agrícola e Comercial dos Bijagós.

Prestes a terminar o seu relatório, entende o administrador que é indispensável falar dos transportes:
“As Circunscrições do continente, todas elas, estão fornecidas de automóveis, esta é a única que não tem esse transporte nem aquele que mais precisa e bastante falta está sentindo – um barco – motor ou a vapor.
A falta de transportes com que se luta na Circunscrição, faz que em toda ela, especialmente nas ilhas onde não está autoridade que, clandestinamente se exerce o comércio com embarcações e tais comerciantes, grumetes sem dinheiro, levam os indígenas enganados para as ‘pontas’, de onde poucos voltam; induzindo os Bijagós a entregar-lhe os seus produtos e gado para irem vender em Bissau ou em Bolama por mais dinheiro do que lhe pagam os negociantes nas suas ilhas, no regresso desses indivíduos os indígenas não recebem um centavo, desculpando-se que a canoa se virou, perdendo-se tudo, só ele se salvou. Os Bijagós jamais se queixam quando lhes dizem que os produtos e gado ficaram no fundo do mar e também não são capazes de denunciar os traficantes.
Por falta de embarcações, os chefes de posto limitam a sua acção somente à ilha onde o posto está instalado. Os quatro postos precisam, cada um, de uma baleeira, embarcação que não têm, servindo-se às vezes, com o risco da própria vida, de canoas dos indígenas, assim como o signatário também já se tem servido desses dongos, uma ou outra vez de embarcações dos fiscalizados”.

Queixa-se e reclama, a autoridade portuguesa só se poderá verdadeiramente sentir quando houver meios minimamente suficientes.

Este importante relatório está na secção dos Reservados da Sociedade de Geografia de Lisboa.


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Nota do editor

Último poste da série de 24 de outubro de 2018 > Guiné 61/74 - P19134: Historiografia da presença portuguesa em África (133): Relatório referente ao uso e costumes dos indígenas da Região de Farim (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P19151: Fotos à procura de... uma legenda (109): a GNR de ontem e de hoje, na Feira Saloia da Lourinhã, no passado dia 27 de maio de 2018... Ou os uniformes que também contam histórias... (Luís Graça)



Foto nº 1


Foto nº 2 


Foto nº 3

Lourinhã > Feira Saloia > 27 de maio de 2018 > A GNR, ontem e hoje...O fotógrafo estava lá...Legenda provisória: um uniforme  também conta história(s)... (*)

Fotos (e legendas): © Luís Graça  (2018). Todos os direitos reservados.[Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Vejo, com apreço, que a GNR - Guarda Nacional Republicana goza hoje de muito mais prestígio e respeito do que no meu tempo de menino e moço... Muita coisa aconteceu na sua história já centenária (, comemorou em 2011 os 100 anos) e tem um museu, aberto ao público, no histórico Quartel do Carmo em Lisboa, que merece uma visita. 

Criada pela República, em 1911, a decadência do regime republicano também marcou o declínio desta força militarizada, como se pode ler na história da instituição [Vd. portal  Arquivo Histórico, Biblioteca e Museu da Divisão História e Cultura da Guarda Nacional Republicana (GNR)].

Recorde-se alguns factos:

(i) A GNR, a República, a Ditadura Militar

 (...) "Contra a ditadura [militar, iniciada com o golpe de Estado d0 28 de maio de 1926,] reagiram logo a Marinha, a GNR, a Guarda Fiscal e outros setores republicanos, iniciando um movimento revolucionário 'reviralhista', que caracterizou os anos de 1927 a 1931. 

"O 'Reviralho' fracassou e a ditadura reagiu energicamente contra os revoltosos, extinguindo unidades e procedendo a saneamentos e depurações políticas, incluindo muitos dos militares da GNR. Assim aconteceu nas revoltas de fevereiro de 1927, no Porto e Lisboa, e no pronunciamento militar de 26 de agosto de 1931. 

"A forte reação do regime e a ação enérgica do general Farinha Beirão, 'herói da Grande Guerra' e comandante-geral da GNR de 1927 a 1939, acabou por converter a GNR numa força leal ao regime autoritário em Portugal." (...)


(ii) Com o Estado Novo, a GNR tornou-se "rural" e "fiel ao regime autoritário":

(...) "Em ambiente de guerra fria e adesão à NATO (1949), a GNR passou a poder recrutar oficiais milicianos provenientes das forças armadas, por períodos renováveis de 3 anos (situação que se manteve até 1969).


"O Estado Novo reprimiu e condicionou as liberdades individuais dos cidadãos, perante a garantia de estabilidade das instituições assegurada pelo Exército e pela ação da censura e da polícia política. Esta última foi criada em 1933 com o nome de Polícia de Vigilância e Defesa do Estado (PIDE a partir de 1945) e, juntamente com a Legião Portuguesa (criada em 1936), combateram os opositores do regime.

"A GNR, a Guarda Fiscal e as restantes forças de segurança também integraram o aparelho repressivo do regime, tendo combatido os conflitos político-laborais, no Barreiro, em outras localidades da cintura de Lisboa e no Alentejo, os ciclos migratórios e de contrabando nas zonas de fronteira com Espanha, a campanha política de Humberto Delgado (1958), as fugas à incorporação militar para a guerra em África (1961-1974) e a crise académica (1968-1969)."


(iii) A GNR e o fim do regime de Salazar-Caetano:

(...) "A janela de oportunidade para pôr fim ao regime acabou por ser a oposição à guerra que se perpetuava desde 1961 em África, que emergiu no Exército, até então principal sustentáculo do sistema. O regime sentindo-o vacilar no papel de garante da estabilidade das instituições ainda tentou, 'à pressa', equilibrar as restantes forças, tendo reforçado os meios e equipamentos da GNR mas na Guarda ainda imperavam as 'velhas' espingardas Mauser do tempo da I Guerra Mundial.

"O golpe derradeiro realizou-se neste quartel do Carmo, no dia 25 de abril de 1974, data em que o Movimento das Forças Armadas, com o apoio de populares, derrubou o governo de Marcello Caetano, terminando a longa ditadura de quase meio século em Portugal." (...)

Fonte: Excertos de História da Guarda Nacional Republicana (com a devida vénia)...

2. É essa imagem do passado que me vem à memória ao ver este jovem da GNR do posto da Lourinhã, com a "velha" farda de cotim de algodão, bota de cano alto e chapéu colonial, e equipado com biclicleta e espingarda mauser...  Não usavam barba, naturalmente, já que era proibido, ao tempo, pelo RDM.

Essa imagem contrasta com a dos outros dois jovens militares com a nova farda da ciclopatrulha: os três  fazem parte, afinal,  da mesma força, só que hoje professionalizada, rejuvenescida,  integrada na ordem democrática e com uma relação de proximidade com a comunidade. A imagem, depreciativa e estereotipada, do soldado da  GNR a cavalo, boçal,  descrito "com um burro em cima de um cavalo", é hoje definitivamente do passado...

Do meu tempo de menino e moço, na minha terra, Lourinhã, que era um pacata vila, no extremo norte do distrito de Lisboa, lembro-me de três ou quatro coisas relacionadas com a GNR: (i) o posto militar, que era nas instalações do antigo convento de Santo António, havendo um conflito latente da GNR com o pároco e a paróquia, "vizinhos à força"; (ii) o calaboiço, imundo, nauseabundo, com grades de ferro, também nas mesmas instalações,. e que, felizmente, já não existe hoje mais; (iii) a GNR, a cooperar com a PIDE de Peniche na caça aos imigrantes clandestinos, que davam o "salto" para França e também dos faltosos e refratários que procuravam escapar à guerra do Ultramar... Não havia GNR a cavalo, na minha terra... a espadeirar o povo.

Como temos vários camaradas ligados à GNR (, nomeadamente depois do regresso da Guiné, alguns ingressaram nos seus quadros...ou continuaram lá as suas carreiras como oficiais do Exército, como foi o caso do meu capitão, o primeiro comandante da CCAÇ 12, Carlos Alberto Machado Brito, hoje cor inf ref)  seria interessante poder-se completar e  enriquecer a "legendagem" destas três fotos.. (**) . LG
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E ainda:


10 de abril de 2015 > Guiné 63/74 - P14454: Notas de leitura (701): “Desaparecido em combate", por Duarte Dias Fortunato, o primeiro prisioneiro de guerra depois da Operação Mar Verde (Mário Beja Santos)