quarta-feira, 17 de julho de 2019

Guiné 61/74 - P19986: (Ex)citações (355): Mortes por afogamento - A morte por afogamento, sem recuperação do corpo, do 1.º Cabo Radiotelegrafista Manuel Andrade da CCAÇ 2701 (Mário Migueis da Silva)

1. Em mensagem datada de 17 de Julho de 2019, o nosso camarada Mário Migueis da Silva (ex-Fur Mil Rec Inf, Bissau, Bambadinca e Saltinho, 1970/72), fala-nos das circunstâncias da morte, por afogamento no Corubal, nos Rápidos do Saltinho, em Agosto de 1970, do 1.º Cabo Radiotelefonista Manuel Andrade da CCAÇ 2701, cujo corpo não foi recuperado.

A morte por afogamento, sem recuperação do corpo, do 1.º Cabo Manuel Andrade, especialidade de Radiotelefonista, foi a única baixa fatal sofrida pela CCAÇ 2701 durante a sua comissão de serviço no Saltinho desde Maio/70 a Fev/72.

Segundo o José Sargaço, ex-1.º Cabo Operador Cripto, com o qual, por coincidência, estivera a falar sobre o afogamento do Andrade, duas horas antes da publicação do post de 15/07, tudo se passou assim:

O Andrade, dias após a chegada ao Saltinho, em Maio/70, foi, com um grupo de combate da CCAÇ 2701, destacado para Cansonco, tabanca em autodefesa situada a sensivelmente quinze quilómetros do aquartelamento, onde se manteve cerca de dois meses. Na tarde - seriam mais ou menos dezasseis horas - do próprio dia em que regressou de Cansonco, isto é, em 09/08/1970, o Andrade, ainda empoeirado da viagem, convidou o José Sargaço para irem tomar uma banhoca no rio (a Companhia dispunha de balneários, mas era aquela vontade de se refrescar no rio, tal como fizera antes).

Como, desde a ida do Andrade para Cansonco, o caudal do Corubal engrossara imenso (estava-se já em plena estação das chuvas - Maio a Novembro) e a corrente das águas era tremenda, eram eles dois os únicos elementos presentes junto ao rio e limitavam-se a ensaboar-se e a refrescar-se sentados numas pequenas pedras da margem. A certa altura, o Andrade, excelente nadador, talvez por ignorar a terrível força da corrente que se fazia sentir (quando partira para Cansonco, os rápidos eram ainda de grande mansidão), levantou-se e mergulhou num local em que a profundidade das águas não iria além de um metro. Só que, levado pela corrente, quando emergiu já estava nas proximidades dos pegões da ponte do Saltinho, sendo arrastado irremediavelmente naquele turbilhão tremendo, onde desapareceria para sempre.

Impotente para lhe valer, até porque o Andrade logo desapareceu sob as águas, limitar-se-ia o José Sargaço a alertar imediatamente os camaradas da Companhia. Mas, apesar das diligências efetuadas por nativos e tropas apeadas ao longo das margens do rio no próprio dia e no dia seguinte ao desaparecimento, sempre apoiados por um helicóptero, o corpo jamais seria recuperado.

Esposende, 16 de Julho de 2019
Mário Migueis


A bordo do Carvalho Araújo, rumo à Guiné, em Abril/70. Da esquerda para a direita: José Simão, 1º cabo escriturário (já falecido); José Sargaço, 1º cabo operador cripto; com a farda nº3, Manuel Andrade, 1º cabo radiotelefonista (morto por afogamento em 09/08/70).

Ainda a bordo do Carvalho Araújo, o José Simão, o José Sargaço e, mais à frente, o Manuel Andrade

Aspeto do Corubal, junto à ponte do Saltinho, durante a estação seca 

Aspeto do Coruba,l junto à Ponte do Saltinho, durante a estação das chuvas

A ponte do Saltinho
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Notas do editor:

Comentário de Mário Miguéis  no poste Guiné 61/74 - P19982: Jorge Araújo: Ensaio sobre as mortes por afogamento no CTIG: atualização: o caso do 1º cabo Henrique Manuel da Conceição Joaquim, do BENG 447, afogado em 31 de julho de 1974, na ilha da Caravela e cujo corpo não foi recuperado

Por coincidência, hoje mesmo estive a falar com o José Sargaço, ex-1.º cabo operador cripto da CCAÇ 2701 (Saltinho), a propósito de uma fotografia por ele afixada no Solar do Marquês, em Cantanhede, onde, no mês passado, decorreu o último convívio da Companhia. 
Na foto, que vou remeter a/c do Vinhal, para eventual publicação, estão presentes três 1.ºs cabos da CCAÇ 2701, a bordo do navio que os levou à Guiné em Maio/70: José Simão, José Sargaço e Manuel Andrade. Este último é precisamente o morto por afogamento no R. Corubal em 09/08/70. Um abraço, 
Mário Migueis

Último poste da série de 16 de julho de 2019 > Guiné 61/74 - P19983: (Ex)citações (354): como é que a máquina burocrática do exército fazia chegar, à família, a notícia funesta da morte ou desaparecimento em combate de um militar ? O caso do sold at cav nº 711/65, José Henriques Mateus, desaparecido no rio Tompar, afluente do rio Cumbjiã, no decurso da Op Pirilampo, em 10/9/1966 (Jaime Silva, seu colega de escola, no Seixal, Lourinhã, ex-alf mil paraquedista, BCP 21, Angola, 1970/72)

Guiné 61/74 - P19985: Historiografia da presença portuguesa em África (167): “A Cultura do Poder, a propaganda nos Estados autoritários”, com coordenação de Alberto Pena-Rodríguez e Heloísa Paulo, Imprensa da Universidade de Coimbra, 2016 (Mário Beja Santos)



1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 18 de Outubro de 2018:

Queridos amigos,
Nenhum investigador do período colonial pode descurar o acervo informativo das publicações da Agência, repertoriavam tudo o que tinha a ver com legislação, colónia a colónia, e a respetiva imprensa.
Havia também publicações na Europa, é o caso da Gazeta das Colónias, que apareceu no final da I República, há igualmente que a estudar, foi através da sua consulta que encontrei a Companhia Estrela-Farim, quando pesquisava no Arquivo Histórico do BNU.
Na última fase do Estado Novo verifica-se ter existido uma diversificação das publicações, tome-se em consideração a revista Ultramar que era propriedade do Comissariado Nacional da Mocidade Portuguesa, era uma aposta na formação da juventude, em simultâneo com a divulgação das coisas do Império, por vezes com artigos de estudo de grande importância. Começa-se finalmente a ter um grande ecrã de todas estas publicações, que irão facilitar a vida dos investigadores e estudiosos, não se pode estudar o que quer que seja sem consultar esta rosa dos ventos, onde se inclui a propaganda colonial.

Um abraço do
Mário


Laudes para o Império Português: 
A Agência Geral das Colónias/Ultramar (1932-1974)

Beja Santos

No conjunto dos trabalhos publicados na obra “A Cultura do Poder, a propaganda nos Estados autoritários”, com coordenação de Alberto Pena-Rodríguez e Heloísa Paulo, Imprensa da Universidade de Coimbra, 2016, destaca-se um trabalho de José Luís Lima Garcia sobre a Agência Geral das Colónias/Ultramar, permite conheceu o itinerário das preocupações ainda na I República quanto à informação/formação que se pretendia dar aos portugueses sobre as colónias, de Cabo Verde a Timor. A Agência Geral das Colónias foi de facto criada na I República, em 30 de setembro de 1924, Armando Zuzarte Cortesão foi o seu primeiro responsável. Com a Ditadura Nacional, tomou posse Júlio Garcez de Lencastre, a grande missão era fazer compreender a ideia da unidade do império colonial, à Agência eram atribuídos novos acometimentos como a informação na recolha e divulgação de dados estatísticos. O serviço de informação da Agência era o de abastecer de notícias os jornais diários, liam-se os boletins oficiais e periódicos das colónias, tinha-se acesso a informações na área administrativa colonial e até a publicações, conheciam-se os negócios, a investigação científica, as inaugurações, a abertura de estradas, tudo era canalizado para os meios de comunicação social da época. Uma secção de propaganda preparava mostruários e expositores com produtos, cartazes e gráficos que pudessem circular pelos municípios. O primeiro evento a que se meteu mãos foi na Exposição Industrial de Lisboa, apresentou-se um mostruário das atividades coloniais. Passaram a organizar-se as “Semanas das Colónias”, em parceria com as instituições científico-pedagógicas, neste caso a Sociedade de Geografia de Lisboa e a Escola Superior Colonial.

Multiplicaram-se as sessões de divulgação, o Ministro das Colónias, Armindo Monteiro, não fugia à participação, o Tenente Henrique Galvão era outra presença obrigatória, como o jornalista António Eça de Queirós. Produziram-se filmes e houve sessões promocionais logo em Lisboa e arredores (Voz do Operário, Cinema Condes e Casino do Estoril). A primeira grande prova de fogo foi a grande Exposição Colonial do Porto, jamais se investira tanto, trouxeram-se comunidades nativas, simularam-se aldeias e modos de vida, era um corrupio constante de mirones, chegou mesmo a haver um concurso de beleza para premiar as grandes beldades. Em 1937, a Agência participou na organização da Exposição da Ocupação e no Congresso da História da Expansão Portuguesa no Mundo. Desde a sua fundação até 1937 a Agência divulgara 450 obras que representavam cerca de um milhão de exemplares. Em 29 de abril de 1938, a Agência prestou homenagem ao Marquês de Sá da Bandeira, junto do monumento que lhe foi erigido na Praça D. Luís em Lisboa, por ocasião do 80.º aniversário do decreto que abolia a escravatura. E assim se chegou à Exposição Colonial do Mundo Português, 1940, a Agência participou ativamente com publicações e a realização de eventos, no ano seguinte a Agência foi em missão oficial ao Brasil, apresentou uma mostra da sua obra cultural. Em 1942, aproveitava-se a Emissora Nacional para fazer palestras sobre o Império Colonial Português, ano em que a Agência passou a ter um delegado junto do Secretariado da Propaganda Nacional, o nomeado foi Augusto Cunha, um advogado que dirigia a revista “O Mundo Português” e estivera empenhado na organização dos cruzeiros de “Férias às Colónias” e dos “Estudantes das Colónias à Metrópole”.

Marcello Caetano sobraçou a pasta das colónias a partir de setembro de 1944, adotaram-se novas estratégias para a divulgação do império. É nesse contexto que a Agência aparece em 1945 na Feira Popular com um pavilhão artístico decorado por Jorge Segurado. Qualquer data era um ensejo para comemorações, foi assim em 1946, com as comemorações nacionais do V Centenário da Descoberta da Guiné que trouxeram a visita das autoridades tradicionais da Guiné a Lisboa, a inauguração de um monumento a Nuno Tristão e houve mesmo guineenses no “Desfile dos Municípios”, a propósito do VIII Centenário da Conquista de Lisboa. Em maio de 1950, inaugurava-se no Palácio da Independência o primeiro Centro de Estudos de Formação Imperial da Mocidade Portuguesa, a Agência estava implicada.

Com recurso aos meios audiovisuais, a Agência dispunha de uma viatura para o cinema, para missões de propaganda, abordavam-se os mais variados assuntos desde a coroação de Nossa Senhora de Fátima passando pelos desfiles da Legião Portuguesa até à viagem de Marcelo Carmona ao Porto. 1951 é o ano da Reforma Constitucional, a Agência passou a ser de Ultramar. Foram criados os Centros de Informação e Turismo em Angola, Moçambique e Índia. E assim chegamos a 1961, o ano das mudanças radicais.

Lembra o autor que em outubro de 1964 se realizou na Agência a primeira reunião que chamava a atenção para o início da guerra colonial. A Agência está muito próxima do Ministério do Ultramar. A partir de 1967 a Agência passa a ser um organismo destinado a difundir informações relativas ao património tropical, a superintender e impulsionar o turismo. Passa a ter assento na RTP, apresentava um programa de 15 minutos, primeiro quinzenal, depois semanal, produzido pela Agência Geral do Ultramar e intitulado “Portugal Além Europa”. A publicação mais evidente era o Boletim Geral, primeiro “Boletim Geral das Colónias”, depois “Boletim Geral do Ultramar”, a revista “O Mundo Português” e também desde 1970, a revista “Permanência”. Lembra o autor que com o intuito de estimular o interesse dos intelectuais pelos interesses tropicais, instituiu a Agência Geral o “Concurso de Literatura Colonial”, anualmente promovido, desde 1926 até 1951. Em 1954, o certame foi melhorado com a criação de quatro prémios que viriam a subsistir até 1974, contemplando géneros literários tão diversos como o conto, a poesia, o romance e o teatro. Foram muitos os contemplados com os prémios “Camilo Pessanha”, “Frei João dos Santos”, “Fernão Mendes Pinto”, “João de Barros” e “Pêro Vaz de Caminha”, cada um no valor de 20 contos; para além destes, havia ainda o prémio “D. João II”, no valor de 50 contos, que distinguia o melhor estudo sobre o tema que a propaganda do Estado Novo, já no período final, procurava consagrar, a Unidade Nacional.




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Nota do editor

Último poste da série de 10 de julho de 2019 > Guiné 61/74 - P19966: Historiografia da presença portuguesa em África (166): Alfa Moló Baldé e o mito fundador do reino de Fuladu, em 1867 (Cherno Baldé) - II (e última) Parte

Guiné 61/74 - P19984: Parabéns a você (1654): Álvaro Basto, ex-Fur Mil Enfermeiro da CART 3492 (Guiné, 1971/74); Jaime Bonifácio Silva, ex-Alf Mil Paraquedista do BCP 21 (Angola, 1970/72) e José Manuel Pechorro, ex-1.º Cabo Op Cripto da CCAÇ 19 (Guiné, 1971/73)



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Nota do editor

Último poste da série de 13 de julho de 2019 > Guiné 61/74 - P19974: Parabéns a você (1653): António Tavares, ex-Fur Mil SAM do BCAÇ 2912 (Guiné, 1970/72) e Rogério Ferreira, ex-Fur Mil Inf MA da CCAÇ 2658 (Guiné, 1970/71)

terça-feira, 16 de julho de 2019

Guiné 61/74 - P19983: (Ex)citações (354): Como é que a máquina burocrática do exército fazia chegar, à família, a notícia funesta da morte ou desaparecimento em combate de um militar ? O caso do sold at cav nº 711/65, José Henriques Mateus, desaparecido no rio Tompar, afluente do rio Cumbjiã, no decurso da Op Pirilampo, em 10/9/1966 (Jaime Silva, seu colega de escola, no Seixal, Lourinhã, ex-alf mil paraquedista, BCP 21, Angola, 1970/72)

Brasão da CCAV 1484 (Nhacra e Catió, 1965/67)


José Henriques Mateus (Lourinhã, Areia Branca, 1944 - Guiné, Rio Tompar, região de Tombali, 1966)


I. A notícia do desaparecimento do soldado n.º 711/65 José Henriques Mateus, sold at cav, CCAV 1484 (Nhacra e Catió, 1965/67), desaparecido no rio Tompar, em 10/9/1966(*)



por Jaime Silva [, foto à esquerda, 2014]


1.O DEPÓSITO GERAL DE ADIDOS CENTRALIZAVA A INFORMAÇÃO (**)


Os Serviços da República Portuguesa, através das Forças Armadas, tinham um Serviço especializado para este efeito. A primeira comunicação da morte ou acidente de um militar ocorrida durante a sua Comissão no Ultramar era da responsabilidade do Comandante da Unidade a que pertencia o Militar em questão. 

Este, via rádio, comunicava as circunstâncias da ocorrência ao superior hierárquico que, por sua vez, encaminhava o "assunto" para o departamento responsável, o Depósito Geral de Adidos.

A partir desse momento todas as formalidades eram da sua competência:

i) informar todos os departamentos governamentais e das Forças Armadas com responsabilidades na condução da Guerra;

ii) enviar um "telegrama à família", via CTT, a dar a notícia (nunca as Forças Armadas de Portugal enfrentaram diretamente as famílias para lhes darem essa notícia, escudaram-se nos carteiros, mas isso é outra história!);

iii) realizar o funeral na respetiva Província onde ocorreu o acidente (por vezes, sobretudo no início da Guerra, os miliares eram sepultados nos cemitérios locais);

iii) trasladar o caixão chumbado com o corpo do militar para Portugal e realizar o funeral no cemitério da sua freguesia (até 1968 as famílias dos militares tinham que pagar ao Estado as despesas com o transporte do caixão);

iv) tratar de enviar à família a mala com o seu espólio (quase sempre, era o melhor amigo que realizava esta "operação");

e, v) tratar da documentação a enviar à família para que esta pudesse receber a "pensão de sangue", quando tinha direito (nem todas as famílias, apesar da morte dos filhos no Ultramar, tiveram direito a essa "pensão").

2. O CASO CONCRETO DO SOLDADO N.º 711/65, MATEUS - S.P.M. 3008:

Oficialmente a notícia do desaparecimento do soldado José Henriques Mateus seguiu a rotina habitual:

(i) O Comandante da Companhia enviou para o Comandante de Batalhão a notícia do desaparecimento do Mateus e este fez seguir a informação para o Comando Territorial Independente da Guiné (CTIG) que se limitou a enviar, via rádio, a informação para o Depósito Gerald e Adidos, sediado em Lisboa.

A partir daqui os militares da Secretaria adstrita ao Comando do Depósito Gerald e Adidos, na altura chefiada pelo Coronel de Infantaria Amândio Ferreira, põe em marcha um conjunto de procedimentos de rotina:

1.º Através do Ofício N.º 1893/B - P.º 183 e datado de Lisboa, 14 de setembro de 1966, informa:

a) Chefe da 1.ª Seção da Rep. do Gabinete do Ministro do Exército;

b) Chefe da Rep Geral DSP/ME;

c) Chefe do Serv. Inf. Pública das Forças Armadas do Dep. da Defesa Nacional;

d) Chefe do Estado Maior do QG/GML;

e) Chefe da Repartição de Sargentos e Praças DSP/ME;

f) Chefe da Agência Militar;

g) Comandante do R.C.7 (Leiria).


2.º Depois, dá conhecimento, a partir de Lisboa, ao Chefe de Estado Maior do Quartel General do CTI da Guiné que informou aquelas entidades oficiais do teor do seguinte rádio:


"ASSUNTO: DESAPARECIMENTO DE PRAÇA NO ULTRAMAR

“Para os devidos efeitos, transcrevo a V. Exa. o rádio N.º 1859/A de 12.9.66 do CTI da Guiné, que é do teor seguinte:


“DESAPARECIDO OPERAÇÕES 10.19.00SET66 JOSÉ HENRIQUES MATEUS SOLDADO 6951665 CCAV 1484/RC 7 NATURAL FREGUESIA CONCELHO LOURINHà FILHO JOAQUIM MATEUS JÚNIOR E ROSA MARIA RESIDENTE LUGAR DA AREIA BRANCA CONCELHO LOURINHÔ.

Informo V.Exa. que foi enviado telegrama à família do desaparecido comunicando a ocorrência”.

"O comandante
Amândio Ferreira
Coronel de Infantaria".


Exemplo de um telegrama  enviado à família de um outro militar, o fur mil João Carlos Oliveira Martinho, neste caso com data de 26 de maio de 1973, às 12h32, assinado pelo Comandante do Depósito Geral de Adidos, Ajuda Lisboa. (A família do Mateus deve recebido um, de teor similar,  7 anos antes.)

"Nº 602787. Sua Excia Ministro Exército tem pesar comunicar falecimento seu filho furriel miliciano João Carlos Oliveira Martinho ocorrido dia 25 corrente Guiné por motivo combate defesa da Pátria Sua Excelência apresenta mais sentidas condolências

"Comandante Depósito Geral de Adidos
Lisboa".


O fur mil cav Martinho pertencia ao EREC 8740/73, sediado em Bula, e morreu em combate em 25 de maio de 1973.




II. Depoimento de José Francisco Couto [, ex-sold at cav, CCAV 1484, Nhacra e Catió, 1965/67, natural do Bombarral, vive há muito no Canadá] (***):

O soldado n.º 699/65 – S.P.M. 3008, José Francisco Couto, natural de Baracais, freguesia da Roliça, concelho do Bombarral, foi camarada de pelotão do Mateus e seu amigo. Participou na “Operação Pirilampo”, assistindo ao desaparecimento do Mateus quando ambos atravessavam o Rio Tompar. Escreveu dois Aerogramas à mãe do Mateus. 

Durante a consulta do espólio do Mateus,  encontrei entre a sua correspondência dois aerogramas enviados à mãe do Mateus pelo José Francisco Couto. Neles, lamentava as circunstâncias da morte do filho e afirmava que a iria visitar logo que regressasse da Guiné, uma vez que eram naturais de concelhos vizinhos.

Transcrevo o segundo aerograma que enviou à mãe do Mateus em 8 de novembro de 1966:


Catió,  8 Nov966

Prezada Senhora:

É com os olhos rasos de lágrimas que novamente me encontro a escrever-lhe, sendo ao mesmo tempo a desejar-lhe uma feliz saúde, a si e aos seus filhos, que eu cá vou indo na graça de Deus.

Sei, senhora Rosa, que ao receber esta minhas notícias mais se recorda da tragédia que lhe roubou o seu querido filho, pois é com mágoas no coração que lhe respondo a tudo quanto me pergunta e peço a Deus que não a vá magoar mais com tudo o que lhe possa dizer. Pois compreendo que, além da minha dor ser enorme, a sua não tem palavras, pois o destino foi traiçoeiro. Sim, a Senhora pede-me que lhe explique como tudo se passou. Pois sou a dizer-lhe tudo o que sei.

Foi uma das saídas que nós tivemos, durante o dia tudo se passou da melhor maneira na graça de Deus e nós nos sentíamos satisfeitos, mas no regresso tivemos que atravessar um rio e a corrente era enorme, como enorme era o peso que trazíamos.  [E foi aí] que ele [, o seu filho,]  ao passar, a corda se partiu e foi quando ele foi parar ao fundo sem mais ninguém o ver. 

[Logo] quatro camaradas nossos, mal pressentiram o que se estava a passar, atira[ra]m-se à água e mergulharam ao fundo para ver se o encontravam,  correndo o rio de cima para baixo e vice versa mas o resultado foi o que Senhora já sabe. Não o conseguiram encontrar pois a corrente o arrastaria logo, foi como um balde de água fria que caiu sobre nós e todos os esforços que juntos fizemos foram negativos. 

Esta é apenas a verdade que podem contar à Senhora [e] aos seus filhos. Sim, também me diz que apareceu alguma coisa dele, e é certo, mas não o que a Senhora me diz. Apareceu, sim, o que lhe vou contar.

Passados alguns dias nós voltámos a passar por lá, e foi nessa altura [que] um dos alferes encontrou uma parte da camisa e a carteira no bolso, pois a parte da camisa era só [a] da frente e tinha o bolso onde estava a carteira, que o alferes tem para lhe enviar tudo junto, [o] que resta do seu querido filho. 

E a Senhora não precisa de tratar nada, pois a companhia já tratou de tudo, também tratou dos papéis para a Senhora ficar a receber algum dinheiro que bastante falta lhe fará. 

E, assim, minha Senhora, não quero alongar mais as minhas notícias pois elas só lhe levam mágoas. No entanto, mais uma vez lhe digo, a companhia está a tratar de todos os assuntos e lhe enviará todas as suas coisas. 

Sem mais me despeço, com muitas saudades para os seus filhos, um aperto de mão para todos, para a Senhora também deste que chora também a sua dor.

José Couto 


[Revisão / fixação de texto: JS/LG]


3. Nota adicional de JS:

O Mateus nasceu, na Areia Branca, Lourinhã, a 17.10.1944, e foi meu colega da escola primária, no Seixal, Lourinhã. Assentou praça no RI 7 em Leiria no dia 4 de maio de 1965 com a idade de 21 anos e, numa altura em que, como me disse o seu irmão Abel, era o “homem da casa” e o “braço direito da mãe”, uma vez que o pai já tinha falecido e tinha, ainda, mais duas irmãs e um irmão para ajudar a criar. 

Sobre as dificuldades das famílias em criar os seus filhos naquela época em que os trabalhadores do campo labutavam de “sol a sol” para ganharem uma “côdea”, são contas de outros rosário. A mãe do Mateus não escapava a estas dificuldades. Nem nestas circunstâncias o Governo de Portugal tinha alguma consideração: Ala para a guerra. Quem fica, que se amanhe! (****)
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 15 de julho de 2019 > Guiné 61/74 - P19982: Jorge Araújo: Ensaio sobre as mortes por afogamento no CTIG: atualização: o caso do 1º cabo Henrique Manuel da Conceição Joaquim, do BENG 447, afogado em 31 de julho de 1974, na ilha da Caravela e cujo corpo não foi recuperado

Comentário de LG:

Jorge: Para já, o meu/nosso muito obrigado por este inventário, doloroso mas precioso, tratando-se de camaradas mortos, por afogamento, no CTIG... Mas, se eu bem li os teus postes [...], há mais um caso omisso: o sold at cav, José Henriques Mateus (1944-1966), que pertenceu à CCAV 1484 (Nhacra e Catió, 1965/67), e que desapareceu em combate em 10/9/1966, no rio Tompar, afluente do rio Cumbijã, no decurso da Op Pirilamp, no setor de Catió, região de Tombali... Estive há tempos, na sua terra, Areia Branca, Lourinhã, justamente a participar numa homenagem póstuma à sua memória... Houve camaradas da sua companhia que chegaram a ponderar a hipótese de ele não ter morrido, mas antes ter sido feito prisioneiro pelo PAIGC... A verdade é que o corpo nunca foi encontrado. 
(...)

(**) Vd. poste de 11 de maio de 2014 > Guiné 63/74 - P13127: Homenagem póstuma, na sua terra natal, Areia Branca, Lourinhã, 11 de maio próximo, ao sold at cav José Henriques Mateus, da CCAV 1484 (Nhacra e Catió, 1965/67), desaparecido em 10/9/1966, no Rio Tompar, no decurso da op Pirilampo. Parte VIII: Como é que a funesta notícia chegou à família ?... Através do carteiro... (Jaime Bonifácio Marques ds Silva)

(***) 10 de maio de 2014 > Guiné 63/74 - P13123: Homenagem póstuma, na sua terra natal, Areia Branca, Lourinhã, 11 de maio próximo, ao sold at cav José Henriques Mateus, da CCAV 1484 (Nhacra e Catió, 1965/67), desaparecido em 10/9/1966, no Rio Tompar, no decurso da op Pirilampo. Parte VII: Dois importantes depoimentos de camaradas e amigos do Mateus, o sold at cav, José Francisco Couto (Bombarral e Canadá e o ex-fur mil radiomontador Estêvão Alexandre Henriques (Lourinhã) (Jaime Bonifácio Marques da Silva)

(****) Último poste da série > 3  de julho de 2019 > Guiné 61/74 - P19943: (Ex)citações (353): Uma achega referida à circunstância da morte em combate de Guerra Mendes, comandante do PAIGC (Manuel Luís Lomba, ex-Fur Mil da CCAV 703 / BCAV 705)

segunda-feira, 15 de julho de 2019

Guiné 61/74 - P19982: Jorge Araújo: Ensaio sobre as mortes por afogamento no CTIG: atualização: o caso do 1º cabo Henrique Manuel da Conceição Joaquim, do BENG 447, afogado em 31 de julho de 1974, na ilha da Caravela e cujo corpo não foi recuperado


Foto do 1.º Cabo Henrique Manuel da Conceição Joaquim
In: "Os eternos esquecidos". Almada, Trafaria, Junta da Freguesia da Trafariam, 2009. p.127


Jorge Alves Araújo, ex-Fur Mil Op Esp/Ranger, CART 3494 (Xime-Mansambo, 1972/1974); 
coeditor do blogue desde março de 2018



ENSAIO SOBRE AS MORTES POR AFOGAMENTO DE MILITARES DO EXÉRCITO DURANTE A GUERRA NO CTIG (1963-1974) - ACTUALIZAÇÃO
O CASO DO 1.º CABO HENRIQUE MANUEL DA CONCEIÇÃO JOAQUIM, DO BENG 447, AFOGADO EM 31JUL1974 NA ILHA DA CARAVELA
(CORPO NÃO RECUPERADO) 



Guiné > Região de Bafatá > Bafatá > 1969 > Militares da CCS do BCAÇ 2856, atravessando um afluente do Rio Geba, durante uma operação de reconhecimento. In: Lugar do Real , com a devida vénia.


1. INTRODUÇÃO

No âmbito do projecto de investigação titulado de "ensaio" sobre o número de militares do Exército que morreram afogados nos diferentes planos de água existentes na Guiné, durante o conflito armado (1963-1974) (*), deixei expresso no primeiro fragmento – P11979 – que os resultados entretanto apurados, através da consulta a fontes oficiais, poderiam vir a ser alterados em função de outros casos particulares, "estranhos" ou "não considerados" no domínio institucional.

Cabe neste cenário a situação do 1.º Cabo Henrique Manuel da Conceição Joaquim, militar pertencente ao Batalhão de Engenharia [447], sedeado em Bissau, com a especialidade de Pedreiro, que viria a morrer afogado em 31 de Julho de 1974, 4.ª feira, na Ilha da Caravela, Arquipélago dos Bijagós, cujo corpo não foi recuperado. 

Como este episódio ocorreu no CTIG, ainda que depois do "25Abr74", no período de retracção das nossas Unidades no terreno, porque não consta a morte (por afogamento) do camarada Henrique Manuel Joaquim no número de baixas oficiais do Exército?
O que terá acontecido?
Entretanto, a informação que abaixo de reproduz, e que serviu para estruturar a presente narrativa, faz parte do livro editado, em Setembro de 2009, pela Junta de Freguesia da Trafaria, pertencente ao Município de Almada, no qual constam pequenas biografias de militares, nascidos ou residentes naquela Freguesia, que estiveram nos diferentes "Teatros de Operações", como é o exemplo do camarada Henrique Manuel Joaquim.


Esta colectânea nasceu, como sucedeu noutros contextos, da conversa informal entre camaradas, ex-combatentes, onde vieram à "baila" histórias vividas por cada um, nas ex-Províncias Ultramarinas onde efectuaram o respectivo serviço militar.

No caso em análise, foi eleita uma Comissão, constituída por: Alfredo Pisco (CCaç 2321; Moçambique); António Oliveira Bentes (1946-2007 - CCav (?); Guiné): Euclides Soares (BA 12; Guiné); Ezequiel Pais (CArt 2521; Guiné); Ilídio Pinheiro (CArt 698; Angola - pesquisa e análise); João Freitas (BCP 31; Moçambique - coordenação gráfica); José Manuel Martins (AgEng; Moçambique) e Manuel Fernandes (PInt 2161; Angola).

Dessa conversa inicial e informal "começou a nascer a ideia, ainda que sem consistência, de fazer algo para homenagear todos esses bravos militares, apenas lembrados por familiares e amigos, (e eternamente esquecidos por todos os governantes) alguns dos quais, infelizmente, desaparecidos nessas terras longínquas.  Ao fim de muito trabalho e muitas pesquisas, foi-nos possível reunir todos os dados para começarmos a pensar na possibilidade de compor um livro". 

Este livro, publicado em Setembro de 2009 [, imagem da capa a seguir], "é uma homenagem a todos os militares falecidos em combate, e os que felizmente ainda vivem, nascidos ou a habitar na Trafaria há mais de dez anos" [na data em que a ideia foi aprovada].
Quem tiver conhecimento deste triste episódio, faça o favor de comunicar. Obrigado!


Capa do livro, editado em  Setembro de 2009, pela Junta de Freguesia da Trafaria, pertencente ao Município de Almada. Referência bibliográfica na PorBase: Os eternos esquecidos / comis. Alfredo Pisco... [et al.] ; colab. Câmara Municipal de Almada... [et al.]. - [Trafaria : s.n.], 2009 ([Charneca da Caparica] : Jorge Fernandes). - 173, [3] p. : il. ; 30 cm


Imagem de satélite do Arquipélago dos Bijagós, com a situação geográfica da Ilha da Caravela e Bissau, e da sua relação entre si.


2. OS DADOS DO "ENSAIO" ACTUALIZADOS (*)

- QUADROS ESTATÍSTICOS

Em função da alteração dos resultados anteriormente divulgados, organizados em quadros de distribuição de frequências, simples e acumuladas, tomei a iniciativa de os corrigir, apresentando, de imediato, a respectiva actualização [gráficos e quadros], levando em consideração os objectivos que cada contexto encerra.



Quadro 1 e Gráfico 1 – Da análise supra, verifica-se que o número total de militares do Exército que morreram por afogamento no CTIG (1963-1974), e que constituíram a população deste estudo, é de 145. Verifica-se, ainda, que desse total, 113 (77.9%) eram soldados; 23 (15.9%) 1.ºs cabos; 7 (4.8%) furriéis; 1 (0.7%) 2.º sargento e 1 (0.7%) major. 




Quadro 2 e Gráfico 2 – Da análise supra, verifica-se que o número total de militares do Exército que morreram por afogamento no CTIG (1963-1974) cujos corpos não foram recuperados é de 64 (44.1%). Verifica-se, também, que desse total, 48 (75.0%) eram soldados; 11 (17.2%) 1.ºs cabos; 4 (6.2%) furriéis e 1 (1.6%) 2.º sargento. 




Quadro 3 e Gráfico 3 – Da análise supra, verifica-se que o número total de militares do Exército que morreram por afogamento no CTIG (1963-1974) cujos corpos não foram recuperados é de 64 (44.1% do total). Quanto aos corpos não recuperados, verifica-se que a CCaç 1790, com 26 (40.6%) casos, e a CCaç 2405, com 19 (29.7%) casos, foram as Unidades Militares que contabilizaram maior número, sendo estes consequência do acidente da «Jangada de Ché-Che» em que elementos das duas Companhias de Caçadores estiveram envolvidos. Segue-se o Pel Mort 980, com 3 corpos não recuperados, no Rio Cacheu, na «Operação Panóplia", e a CArt 3494, com dois, no Rio Geba (Xime), durante uma missão, não cumprida, a Mato Cão, situado na margem direita desse rio. Das 17 Unidades Militares que não conseguiram recuperar os corpos dos seus naufragados, 12 (18.8%) tiveram apenas um caso.



Quadro 4 e Gráfico 4 – Distribuição de frequências segundo a relação entre as variáveis "ano das mortes por afogamento", "corpos não recuperados" e "corpos recuperados". O estudo mostra que durante o período em análise (1963-1974) em todos os anos ocorreram mortes por afogamento. No final foram contabilizados cento e quarenta e cinco náufragos. Durante os doze anos em que decorreu o conflito, por quatro vezes (1/3) o número de mortes ultrapassou a dezena de casos, com destaque para o ano de 1969, onde os números ultrapassaram a meia centena, em consequência do «desastre da Jangada do Ché-Ché». Para esses valores globais muito contribuíram os "acidentes" nos rios da Guiné - Cacheu, Corubal e Geba.

Nota:

Para efeitos de comparação estatística devem ser consultados os P19679; P19710; P19788 e P19822 (*).

Termino, agradecendo a atenção dispensada.

Com um forte abraço de amizade e votos de muita saúde.

Jorge Araújo.
05Jul2019.
___________

Nota do editor:

Vd. postes anteriores:

15 de maio de 2019 > Guiné 61/74 - P19788: Jorge Araújo: Ensaio sobre as mortes por afogamento no CTIG: Os três acidentes na hidrografia guineense (Parte III)

Guiné 61/74 - P19981: Em bom português nos entendemos (22): nas grandes ocasiões, como o nosso léxico pode ser tão.. pequeno!

I. Com a devida vénia à Carla Marques e ao Ciberdúvidas da Língua Portuguesa:


Uma lista para feitos desportivos incríveis:
para relatores turvados pela emoção


por Carla Marques |  14 jul. 2019 187

Incrível! A seleção portuguesa sagrou-se campeã do mundo em hóquei em patins. Um feito incrível que já não tinha lugar há 16 anos! E para este acontecimento incrível contribuiu, e muito – senão decisivamente...– a incrível exibição do guarda-redes Ângelo Girão. Uma atuação tão incrível que deixou o relator do jogo sem palavras, ou melhor, sem adjetivos, isto é, semoutros adjetivos… como ele foi repetindo ao longo da transmissão na RTP 1.

«Incrível!», «Isto é incrível!», «Este guarda-redes é incrível!», «Uma exibição incrível!»… para, a certa altura, concluir: «Eu não tenho palavras!» Ainda arriscou qualificativo estratósférico, mas, face ao incrível, nenhuma outra palavra tomou a dianteira.

Sabemos que as emoções fortes podem turvar os pensamentos e também reduzir drasticamente o léxico da narração. Especialmente se uma locução em direto envolve uma vitória tão excitante como a ocorrida em Barcelona. Para prevenir eventualidades futuras, aqui fica uma lista de incríveis adjetivos de que qualquer relator em semelhantes circunstâncias – seja na televisão ou na rádio – pode lançar mão para descrever uma prestação desportiva de primeira água, ou melhor, incrível: extraordinário, assombroso, notável, estupendo, fantástico, espantoso, fenomenal, sensacional, excecional, fabuloso, brilhante, inesquecível…
Enfim, uma lista para feitos incríveis!


Sobre a autora, Carla Marques (, foto à esquerda). (i) doutorada em Língua Portuguesa (com uma dissertação na área do estudo do texto argumentativo oral); (ii) investigadora do CELGA-ILTEC (grupo de trabalho "Discurso Académico e Práticas Discursivas"); (iii) autora de manuais escolares e de gramáticas escolares; (iv) formadora de professores; (v) professora do ensino básico e secundário; (vi) consultora permanente do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, destacada para o efeito pelo Ministério da Educação português.

II.  A palavra "incrível" no dicionário:

incrível | adj. 2 g. | s. m.

in·crí·vel

adjectivo de dois géneros

1. Que não pode ser acreditado; em que não se pode acreditar.

2. Extraordinário.

3. Que custa a acreditar.

substantivo masculino

4. O que não se pode crer.

Superlativo: incredibilíssimo.

Palavras relacionadas:
incredível, incredibilíssimo, incrivelmente, inconcebível, inimaginável, inopinado, mirabolante.

"incrível", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, https://dicionario.priberam.org/incr%C3%ADvel [consultado em 15-07-2019].
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Nota do editor:

Último poste da série > 26 de junho de 2019 > Guiné 61/74 - P19921: Em bom português nos entendemos (21): quem chama "fula-preto" a quem ? (Luís Graça / Cherno Baldé)

Guiné 61/74 - P19980: 15 anos a blogar desde 23/4/2004 (11): quando os "artilheiros" davam lições aos "infantes", habituados a comer e a calar... (C. Martins, alf mil art, cmdt do 23º Pel Art, Gadamael, 1972/74)


Guiné > Região de Tombali > > Bedanda > CCAÇ 6 > 1971 >  A saída do obus 14, de noite. Foto espetacular do  ex-alf mil médico Amaral Bernardo, membro da nossa Tabanca Grande desde Fevereiro de 2007.

Foto (e legenda): © Amaral Bernardo (2007). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

1. A propósito de "infantes" e de "artilheiros" (*)... 

O C. Martins - nosso leitor e camarada, mais conhecido por ter sido o "último artilheiro de Gadamael" , alf mil art, comandante do 23º  Pel Art, que acabará por (con)fundir-se com o 15, mas também médico, hoje, no Portugal profundo, periférico, - não faz parte formalmente da nossa Tabanca Grande (TG), por razões alegadamente deontológicas, éticas e profissionais,  que eu entendo e respeito. Isto quer dizer que: (i) nunca pediu para aderir à TG; (ii) nunca aceitou o meu convite para ingressar na TG; (iii) nunca se apresentou ao "pessoal da caserna", como mandam as NEP do blogue; (iv) nem nunca enviou as duas fotos da praxe; (v) nem muito menos gosta que a gente lhe mostre a cara ou o use o seu nome profissional.. Mesmo assim tem 27 referências no nosso blogue.

Em contrapartida, é (ou foi) leitor assíduo, fã do nosso blogue, comentador quase diário, há alguns anos atrás, dos nossos postes, e frequentador dos nossos encontros nacionais (, já não foi aos dois últimos, o de 2018, por razões imprevistas de saúde...). É um profundo conhecer da Guiné,  onde depois da independendência fez voluntário como médico de uma ONG, enfim, é um verdadeiro amigo do povo guineense... Tem, além disso - e excecionalmente - uma série feita com os seus comentários neste blogue...

Já em tempos lhe transmitimos que tínhamos saudades das suas "lições de artilharia para os infantes", da sua boa disposição, do seu sentido de humor de caserna, da sua saudável irreverência, enfim, dos seus comentários, por vezes desconcertantes,  mas sempre certeiros, ou não fosse ele um artilheiro e, para mais, o último artilheiro de Gadamael!...Sabemos que alguns não lhe perdoaavam esse pequeno detalhe do seu currículo, mas a verdade é que alguém tinha que fechar a porta da guerra... E em Gadamael coube-lhe a ele, que nem sequer foi voluntário para a tropa, era dirigente estudantil quando foi apanhado pela "ramona"...

Será sempre aqui lembrado como um bom contador de histórias, com grande  sentido de humor, e muitas memórias da tropa, da guerra e da paz, que ele se dignou partilhar connosco, seus camaradas da Guiné...  Enfim, um "bravo da Guiné"!

Esta história que (re)publicamos a seguir,  é uma verdadeira lição de um "artilheiro", para os pobres coitados ds "infantes" que já cá, na metrópole, nos quartéis de Norte a Sul, comiam e calavam... Já nessa altura perguntavamos aqui: foi a tropa uma escola de virtudes ? Quero eu dizer, a tropa do nosso tempo... Aprendia-se lá só coisas de artilharia, infantaria, cavalaria, transmissões ? Mas também valores como os da justiça, equidade, liberdade, integridade, honestidade, coragem moral, patriotismo ?...

Espero que o C. Martins nos leia (ainda) e se sinta honrado com a republicação desta história  que é também uma forma singela de o associarmos às  discretíssimas comemorações dos quinze anos do blogue de todos nós (**)... Não sei se ele já se reformou, se sim (, mesmo que médico nunca arrume o estetoscópio e dispa a bata), acho que está na altura de ele entrar por aí adentro, na nossa Tabanca Grande, de mãos nos bolsos, a assobiar e dizer: - Rapaziada, finalmente cheguei!

2. Lições de artilharia para os infantes > Quando a gente nem sempre come e cala...

por C. Martins (***)

Este tema é muito interessante: Relação entre comandantes e comandados e vice-versa. Atitudes, justiça, injustiça, abuso de poder, capacidade de liderança ou não, coesão ou espírito de corpo. Todos nós tivemos casos, independentemente da categoria ou posto hierárquico. 

A propósito de rancho... Lembro-me de um caso passado num regimento de uma cidade alentejana. O oficial de dia fez um levantamento de rancho !!!!.

Este tinha por hábito não se limitar a provar a comidinha da bandeja, mas verificar as pesagens dos géneros segundo as NEP. Era vitela à jardineira: tanto de ervilhas, cenouras, batatas e a carne da dita.
Iniciado o repasto, que a bem da verdade o pessoal comia com sofreguidão, o dito oficial, olhando de soslaio para pratos e travessas repara que havia ervilhas, cenouras, grande quantidade de batatas e, surpresa, a carne praticamente tinha-se evaporado!.

- NINGUÉM COME MAIS, CAR...!!! - berra o gajo com um galãozito transversal no ombro, e enceta uma corrida frenética até à cozinha onde se depara com grandes nacos de carne sobre a bancada.

Transtornado, enfia uma cabeçada no 1º sargento vago-mestre ou lá o que era:
- Você está preso, seu f... da p...!. E estão todos presos, seus cabr...f...das p..., bandidos, gatunos! ...

Mais calmo, tenta contactar o comandante que não estava, o 2.º também não... Bem, a alternativa era o contacto com o QG da região militar. Atende o oficial de dia da respectiva:

- ... Fez o quê ?!! Você já desgraçou a sua vida!

Nesse dia almoçou-se só às cinco da tarde.

O sorja f... da p... tinha por hábito gamar a carne e outros géneros que vendia a talhos e estabelecimentos civis, com a conivência dum cabo RD... Os outros elementos da cozinha eram ameaçados para se calarem. A justiça militar atuou com penas exemplares... O aspiranteco teve um elogio verbal e foi mobilizado para o CTIG.

Qualquer coincidência com a realidade não foi mera ficção.

C. Martins

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Notas do editor:



Guiné 61/74 - P19979: Notas de leitura (1198): “Estratégias de Vivência e de Sobrevivência em Contextos de Crise: Os Mancanhas na Cidade de Bissau”, por Mamadú Jao; Nota de Rodapé Edições, 2015 (2) (Mário Beja Santos)



1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 9 de Dezembro de 2016:

Queridos amigos,
Na esteira de um conjunto de estudos que interrogam as capacidades de vivência e sobrevivência em meio rural e urbano perante a ausência do Estado e a degradação das condições de vida, Mamadú Jao, um antropólogo que foi Diretor do INEP e que trabalha presentemente para Fundo das Nações Unidas para a População questiona a etnia Mancanha e as suas estratégias de vivência e de sobrevivência, oferece-nos um estudo onde fica claramente realçado o papel da mulher na coesão socioeconómica dos agregados familiares.
O Estado é frágil, é incapaz de cuidar dos seus mais necessitados, é nestas estratégias de sobrevivência que reside a perdurabilidade dos valores da Nação.

Um abraço do
Mário


Resistir à crise em Bissau: as estratégias dos Mancanhas (2) 

Beja Santos

“Estratégias de Vivência e de Sobrevivência em Contextos de Crise: Os Mancanhas na Cidade de Bissau”, por Mamadú Jao, Nota de Rodapé Edições, 2015, corresponde a um estudo de uma etnia e de uma etnicidade confrontando um processo social dentro de um Estado frágil e num tempo em que se fala de globalização e desenvolvimento global – afinal, há organizações civis de sociedades que asseguram aquilo em onde o Estado e as promessas globais estão ausentes.

Já se apresentou a Guiné-Bissau, a problemática do desenvolvimento e a história do povo Mancanha. Vamos agora observar a sua organização económica e crenças e o funcionamento das sociétés Mancanhas em Bissau (recorde-se que sociétés é sinónimo de organizações de base comunitária).

A estrutura social Mancanha é baseada nos escalões etários e na linhagem. Têm uma organização política do tipo vertical, com um régulo no vértice, seus colaboradores, chefes de tabanca e o resto da população. Em Mancanha Nasí é o régulo, tem como principal função velar pelo bem-estar do povo, ele é o primeiro a iniciar o corte de palha para a cobertura das habitações, recorre-se a ele para exercer justiça e os mais necessitados contam com a sua benevolência para a resolução de diferentes problemas sociais. Os Mancanhas vivem maioritariamente de uma economia de subsistência, dispõem de uma agricultura do tipo itinerante e outra do tipo intensivo. São animistas. Na Guiné-Bissau coexistem diversas crenças e práticas religiosas, os Mancanhas cabem nas chamadas religiões tradicionais. Há investigadores que centram a área cultural Mancanha na região do Cacheu, para o autor, o Chão dos Manjacos na província Norte da Guiné-Bissau engloba também os Papéis, e por isso prefere chamar-lhe Chão Brâme, o que significa que abarca Manjacos, Mancanhas e Papéis, os três grupos étnicos que partilham uma base cultural comum. Qual o ponto fulcral das crenças Mancanhas? O autor responde:  
“ As forças sobrenaturais, as únicas detentoras de habilidades de fazer o bem e o mal, não agem se não a pedido de um outro homem. Esta maneira de encarar a vida dos homens constitui a principal ideia força que orienta a vida dos elementos que hoje se identificam com o grupo étnico Mancanha”.
Mamadú Jao explana os ritos, os cultos, os diferentes intervenientes, descreve o espiritismo, o choro e o toca-choro (momento cerimonial animista para se celebrar quando morre algum familiar).

No seu trabalho, Mamadú Jao destaca o programa de ajustamento estrutural como o momento de viragem para a expansão do setor informal. Este programa chegou à Guiné ainda nos anos 1980, teve como consequência a degradação das condições de vida das populações, grande desemprego, reduções drásticas dos salários. Por exemplo, um estudo sobre a situação de consumo das famílias em Bissau, realizado em 1991, indicava que 55% das famílias em Bissau consumia, em média, uma refeição e meia por dia. Um outro estudo, realizado em 2008, sobre a égide da UNICEF, indicava que 17% dos cerca de 743 inquiridos em todo o território nacional só consumia uma refeição por dia e 49% duas refeições. Houve que encontrar alternativas para a sobrevivência: mulheres bideiras, solidariedade de grupos paroquiais ligados às igrejas, entre outras. É neste ponto que o autor nos dá o ambiente de negócio e a fileira de alguns produtos comercializados. Há dois sistemas mercantis: o tipo de entreposto, baseado nos comerciantes proprietários de empresas formalizadas; e o sistema multivalente, composto por pequenos empresários. A economia transacionada gravita à volta do caju, arroz, produtos florestais, oleaginosas, peixe, frutas e vegetais. Estes sistemas têm deficiências, e é nestas frestas que se dá a expansão do setor informal.

Citando o investigador Philip Havik, recorda-se que os povos pré-coloniais já tinham sistemas de troca e intercâmbio, comércio de longa distância, comércio do tipo entreposto e até setor informal. Este setor é hoje muito vasto, no mercado de Badim encontram-se comerciantes a vender cosméticos e artigos de beleza, têxteis, produtos alimentares de toda a natureza. O autor dá atenção às bideiras:
“Bideira deriva de bida, vocábulo em crioulo da Guiné que, por sua vez, deriva do vocábulo português vida. Bideira designa mulher que vende algo para ganhar a vida”.
E quem são as bideiras? São originárias de meio urbano, originárias do Norte e Leste. E o autor esclarece:  
“A maior presença das mulheres pertencentes às etnias do Norte e Leste no mercado explicava pela longa tradição de emigração masculina destas regiões, situação que faz com que as mulheres assumam, pelo menos temporariamente, a responsabilidade do sustento da família. No essencial as bideiras ocupam-se do escoamento de produtos de produção local das zonas de produção para Bissau. A venda de arroz em caneca, em lugares fixos, representa o maior negócio para os produtos importados”.
É no comércio de comida que ganha relevo a verdadeira estratégia de sobrevivência para um número considerável de famílias: “Peixe, frutas, sobretudo”.

Mamadú Jao descreve as fontes de financiamento do setor informal e entra no coração do seu estudo: as sociétés Mancanhas em Bissau, detalha a vida Mancanha nos bairros Belém, Luanda e Calequir, comenta a composição étnica, os escalões etários e as ocupações profissionais. E aproveita para discretear os equívocos à volta do conceito de desenvolvimento:  
“Alguns estudiosos acusam a África de recusar o desenvolvimento, não se dando conta que o problema reside no próprio modelo de desenvolvimento proposto aos africanos. Em nosso entender, o interesse em estudar a natureza das subculturas resultantes do choque dos valores externos com os valores locais. Este tipo de estudos é importante sobretudo porque pode contribuir para o aprofundamento dos conhecimentos sobre a natureza das relações entre o tradicional e o moderno na África contemporânea”.
Ao longo deste estudo Mamadú Jao apercebeu-se da coexistência de elementos de tradição cultural dos Mancanhas com elementos das instituições do tipo moderno. Desenvolve um modo de funcionamento das sociétés Mancanhas, as relações de poder no interior das mesmas, os domínios de intervenção e as diferentes estratégias.

Nas conclusões, o antropólogo releva que a cultura Mancanha tem uma ampla abertura aos elementos de outras etnias, dada a sua natureza sincretista, as sociétés aposta na diversificação de atividades mas a sua sobrevivência passa pela dispersão (emigração) e por ações de solidariedade entre a cidade e o campo. A parte positiva das sociétés é a de contribuírem para o reforço da coesão interna dos seus membros e de dinamizar as relações de ajuda mútua nos momentos de dificuldade.
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Notas do editor

Poste anterior de 8 de julho de 2019 > Guiné 61/74 - P19958: Notas de leitura (1194): “Estratégias de Vivência e de Sobrevivência em Contextos de Crise: Os Mancanhas na Cidade de Bissau”, por Mamadú Jao; Nota de Rodapé Edições, 2015 (1) (Mário Beja Santos)

Último poste da série de 12 de julho de 2019 > Guiné 61/74 - P19972: Notas de leitura (1197): Missão cumprida… e a que vamos cumprindo, história do BCAV 490 em verso, por Santos Andrade (14) (Mário Beja Santos)

domingo, 14 de julho de 2019

Guiné 61/74 - P19978: Blogpoesia (628): "Na minha rua...'", "Rachmaninov" e "Reflexões minhas", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

1. Do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) estes belíssimos poemas, da sua autoria, enviados, entre outros, ao nosso blogue, que publicamos com prazer:


Na minha rua...

Na minha rua, pela manhãzinha, há pouco movimento.
Há quem faça caminhadas.
Sós ou com seus canitos.
Um a um se ouvem os estores correrem.
Para a luz entrar.
Pelos fios dos telefones se vêem poisados passaritos, cantarolando as melodias que lhes deu a Natureza.
É hora de júbilo.
Um novo dia começa.
A vida é curta.
Há que a aproveitar.
Na cozinha, o leite já ferve e cheira a café.
Doce rotina de cada dia.
Que a paz nos vai permitindo.
Um a um, vão saindo os carros das garagens.
Para a luta do pão de cada dia.
A miudagem vai para a escola de sacola às costas.
O sol avança céu acima, quando o há.
As ramagens e sebes dos jardins se agitam com a brisa mansa que vem do mar.
Cada um vai para o seu percurso.
Se acendem os computadores.
Se registam os pensamentos que vêm à mente
E se dá larga à preciosa liberdade...

Mafra, 10 de Julho de 2019
8h19m - dia cinzento
Jlmg

********************

Rachmaninov

Oiço de novo Rachmaninov, sem cansar. Concerto nº 3.
Fogoso. Supremo.
Enquanto lá fora, um passarito debica o chão. Até parece ao mesmo ritmo.
É a harmonia da natureza.
Envolvidos na mesma energia.
Passam por nós as suas ondas.
Por vezes dolente. Quase em pranto. Outras sentido. Outras raivoso de revolta.
Estrebucham suas notas. Em espasmos quase incontidos.
Que se passaria no espírito do autor ao conceber este poema?
A pianista jovem, bem adestrada, vê-se aflita para o segurar.
O piano range desensofrido.
O matraquear dos dedos sobre as teclas faz-se quase invisível.
Nem todos os bons pianistas conseguem arrostar este concerto.
Arrepiante. Quase uma hora de forno aceso.
Nos arrasa de emoção...

Ouvindo Yuja Wang plays Rachmaninov's Piano Concerto No. 3
Bar 7Momentos, arredores de Mafra,
12 de Julho de 2019
11h11m
Já choveu
Jlmg

********************

Reflexões minhas

Já avancei na idade, mais do que esperava.
Subi onde posso ver ao longe,
o passado e o presente.
Uma sensação de engano.
Sobre as razões da vida.
Lutar para a vencer é ilusório.
Nos apetrechamos com os melhores utensílios.
Por bom preço.
Apostamos neles a maior parte das nossas forças.
Convencidos de que, depois, se vai saborear os frutos das nossas penas.
Acumula-se riqueza e sabedoria.
Entra-se na reforma, quando se tem, e, depois duma euforia de vitória, nos quedamos desarmados com a perda das nossas forças.
O dia a dia torna-se uma caminhada célere para o fim.
Afinal, para quê o nosso castelo de ilusões?
Pensávamos que era só nosso.
Se esvai, e nada detém essa sujeição.
Felizmente, cedo cheguei à conclusão de devia apostar no que vem depois do fim.
Ainda bem...

Ouvindo a mejor música de piano y violin triste relajante y romantica
Mafra, 13 de Julho de 2019
12h43m
Jlmg
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Nota do editor

Último poste da série de 7 de julho de 2019 > Guiné 61/74 - P19954: Blogpoesia (627): "Manhã de Domingo no 'Polo Norte'", "Chuva de adversidades" e "Caderno diário", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

Guiné 61/74 - P19977: Dando a mão à palmatória (31): o A. Marques Lopes, coronel DFA, reformado, um dos históricos da Tabanca Grande, não é atirador de artilharia mas... de infantaria. Pedido de desculpa ao próprio e aos demais "infantes"...


Lisboa > Jantar de Natal 2007 > Os quatro magníficos da CART 1690, todos eles alferes milicianos ... atiradores de infantaria !

Ao fundo, estão o Domingos Maçarico, à esquerda, e o Alfredo Reis, à direita. Em primeiro plano, está o António Moreira, à esquerda, e o António Marques Lopes, à direita. 

 Os quatro são membros da nossa Tabanca Grande, o que, salvo erro, é caso único: a CART 1690 é a única a "fazer o pleno" em matéria de alferes milicianos, inscritos formalmente na lista dos amigos e camaradas da Guiné, que se sentam à sombra do nosso poilão.


Foto (e legenda): © A. Marques Lopes (2007). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Mensagem de A. Marques Lopes, um dos "históricos" da Tabanca Grande: coronel inf, DFA, na situção de reforma, foi alferes miliciano da CART 1690 (Geba, 1967/1968) e da CCAÇ 3 (Barro, 1968), era membro, em 2005, da direção da delegação do norte da Associação 25 de Abril (A25A), e é em termos históricos, o nosso quarto grã-tabanqueiro mais antigo, depois do fundador, Luís Graça,  do Sousa de Castro e do Humberto Reis; entrou para a nossa tertúlia em 14/5/2005; é autor de "Cabra-Cega: do seminário para a guerra colonial" (Lisboa, Chiado Editora, 2015), autobiografia escrita sob o pseudónimo João Gaspar Carrasqueira, que conta a história de António Aiveca; tem 242 referências no nosso blogue: 

Data: sábado, 13/07/2019 à(s) 11:33

Assunto: correcção

Caríssimo amigo Luís Graça

Tenho lido, sempre que se referem a mim, que sou de Artilharia. Calculo que será porque estive na CART1690. Mas não sou, sou, sim, de Infantaria.

Estive na EPI no chamado 1º Ciclo do COM, era, digamos, a recruta. Depois dele,  os chamados cadetes eram enviados para a Escola Prática de Artilharia (EPA), em Vendas Novas, para a Escola Prática de Cavalaria (EPC), em Santarém. Havia alguns que iam para Lamego para os Comandos, alguns para Santa Margarida para paraquedistas e outros, os felizardos com cunhas, para a Administração Militar. 

E aqueles (no meu curso, foi a maioria) que continuavam em Mafra, na EPI,  para tirar a especialidade de Atiradores de Infantaria, e outros, menos, que tiraram de Armas Pesadas ou de Reconhecimento de Infantaria. Era o chamado 2º Ciclo do COM. 

No meu caso estive sempre em Mafra, tive em ambos os Ciclos (foram cerca de 6 meses) o mesmo instrutor, o então tenente Chung Su-sing (actualmente Coronel Comando reformado, infelizmente agora sofrendo de alzheimer). E saí de lá com a especialidade de Atirador de Infantaria.

O que sucedia é que cada Arma, durante a guerra colonial, era encarregada de formar companhias para actuarem no terreno. Os comandantes dessas companhias tinham de ser, obviamente, da Arma, mas os alferes não. Foi o caso da CART1690: o capitão Guimarães era de Artilharia mas os quatro alferes eram de Infantaria.

Não há problema nenhum, é claro, mas penso que de futuro será melhor pôr como é: que eu sou de infantaria.

Abraço

ML

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Nota do editor: