segunda-feira, 24 de fevereiro de 2020

Guiné 61/74 - P20680: Fotos à procura de... uma legenda (125): restos da vida de um combatente, capitão de infantaria, provável comandante de uma Companhia de Caçadores, CTIG, 1970/72... (Carlos Mota Ribeiro, Maia)


Quem será este camarada nosso, capitão de infantaria, provável comandante de uma companhia de caçadores, Guiné  1970/72? Desconhece-se a sua identidade e o nº da companhia... Foi galardoado, com uma cruz de guerra... A cerimónia em que ele foi condecorado terá sido num dos últimos 10 de junho, da década de 1970, antes do 25 de Abril de 1974... E, já agora, em que unidade militar da metrópole?

 Cruz de Guerra


Medalha das Campanhas de África... Na passadeira lê-se: Guiné de 1970-1972"

Duas condecorações e uma foto que tudo indica terem pertencido  a um  capitão de infantaria (, e comandante de uma companhia de caçadores), que terá estado no TO da Guiné entre 1970 e 1972.

Fotos (e legendas): © Carlos Mota Ribeiro (2020). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Carlos Mota Ribeiro
1. Mensagem do  Carlos Mota Ribeiro, engenheiro, residente na Maia, filho do nosso querido amigo, camarada e coeditor Eduardo Magalhães Ribeiro, e que finalmente eu vou propor como novo membro da Tabanca Grande (*)

Data: quinta, 20/02/2020 à(s) 18:28
Assunto: Foto de Capitão - Guiné 1970-1972

Caro Luís Graça:

Antes de mais espero que esteja tudo bem contigo.

Necessito da tua ajuda, se possível claro.

Comprei, num leilão, um conjunto de duas condecorações juntamente com uma fotografia, ambos encontram-se em anexo.

Supostamente é de um combatente que esteve na frente da Guiné em 1970 a 1972, segundo a fivela da medalha das campanhas.

No entanto não sei o nome do senhor. Pela fotografia é um Capitão de infantaria (Caçadores).
Consegues-me ajudar a identificar o combatente em questão?

Envio também o correio para o meu pai (Magalhães Ribeiro) para ver se ele também conhece.

Grande e Forte Abraço.,
Atentamente.

Carlos Mota Ribeiro


2.  Comentário do editor Luís Graça:

Carlos: obrigado!... Mais uma tua "memorabilia" da Guiné com que nos honras... Fico sensibilizado pela tua "ternura" pelas memórias da Guiné, onde nunca estivestes, tanto quanto eu sei... Essa paixão pela Guiné, do tempo da guerra colonial, só pode ter sido passada pelo teu pai, nosso querido amigo, camarada "ranger" e coeditor do blogue, Eduardo Magalhães Ribeiro. Por estas e por outras, tu já merecias estar sentado, há muito, num lugar confortável, à sombr do nosso poilão. Se aceitares (, e o teu pai não se importar...), vou propor-te o lugar nº 805. Espero que aceites e que gostes... Como sabes, os filhos dos nossos camaradas, nossos filhos são... E nós ficamos orgulhosos de ti.

Submeti, entretanto, o teu pedido ao nosso camarada e colaborador permanente José Martins, para ver se ele nos pode ajudar... Ele é que sabe destas coisas... Aqui vai a mensagem que eu lhe reenviei para o seu "consultório militar";

"Zé: com o teu 'olho clínico',  o teu "perfil de Sherlock Holmes", e o teu vasto saber militar, vês se arranjas alguma pista... É uma cruz de guerra? E uma medalha comemorativas das campanhas de África? Onde terá sido a cerimónia de entrega das condecorações (observa o fundo, na foto do capitão)?... Terá sido nalgum 10 de junho? Trata-se de um quartel?... Há uma estátua e uma torre sineira... Mais difícil é identificar o capitão de infantaria (Guiné, 1970/72). De qualquer modo, a mim choca-lhe que estes "restos de vida" de camaradas nossos andem pelas Feira da Ladra, pela Feira da Vandoma, ou pelo OLX, vendidos por tuta e meia... Ainda bem, em todo o caso, foram parar âs mãos do filho de um camarada nosso que sabe dar valor a esta 'memorabilia'...

"Mando-te as imagens em separado... Abraço, Luis.

"PS - O Carlos Ribeiro, filho do Eduardo, deve te comprado 'estes restos da vida de um combatente', nosso camarada, na feira da Vandoma, Porto, ou  no OLX, ou coisa assim do género... Ele não especificou... Mas é um colecionador destes 'restos'  que o império teceu' "...

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Nota do editor:

Último poste da série > 22 de fevereiro de 2020 > Guiné 61/74 - P20673: Fotos à procura de... uma legenda (118): o meu pai era um homem que cumpria a lei que proibia armas de guerra a civis... A tal pistola metralhadora FBP deve ter-lhe sido emprestada por alguém para a pose fotográfica (Lucinda Aranha, escritora)

Guiné 61/74 - P20679: Tabanca da Diáspora Lusófona (7): A história de mil anos de Portugal explicada numa hora à comunidade eslovena em Nova Iorque (João Crisóstomo) - Parte III


O nosso camarada e amigo  João Crisóstomo, luso-americano, conhecido ativista de causas que muito dizem aos portugueses: Foz Côa, Timor Leste, Aristides Sousa Mendes...  Régulo da Tabanca da Diáspora Lusófona, foi alf mil, CCAÇ 1439 (Enxalé, Porto Gole e Missirá, 1965/67): vive desde 1975 em Nova Iorque; é casado, desde 2013, com a nossa amiga eslovena, Vilma Kracun:

Conversa sobre Portugal: 19 de janeiro de 2020, Comunidade eslovena em Nova Iorque

por João Crisóstomo


[ O autor tinha preparado um guião original, já com cortes, para uma comversa de meia hora (*); como o tempo disponível acabou, entretanto,  por ser maior - cerca de uma hora - ele passou a ter liberdade  para introduzir notas e comentários extra;   a versão original está disponível em inglês, no final deste poste; o editor Luís Graça fez a tradução e adaptação livre para o blogue, com a devida autorização do autor](**)


(...) Logo, de Lisboa à Índia, China e Japão, os navios portugueses,  sob o comando de Afonso de Albuquerque,  haviam se tornado os donos dos mares. Com a conquista de Malaca, porta de entrada para todo o Extremo Oriente, Portugal teve o controle completo de toda a região. 


Embora sejam atribuídos aos ingleses os primeiros povoamentos da Austrália, há um crescente consenso entre os historiadores australianos de que os portugueses de Malaca foram os primeiros europeus que chegaram lá.




Japão > Arte nambam > Séc. XVII > Uma "carraca": obra atribuída a Kano Naizen, Kobe City Museum.
Fonte: Wikipedia (com a devida vénia...)

namban | s. m. pl.

namban
(palavra japonesa)

substantivo masculino plural

Palavra japonesa que significa bárbaros do Sul ou portugueses e geralmente empregada, nos séculos XVI e XVII, para designar obras num estilo inteiramente novo, de influência ocidental, quer na pintura, quer no baixo-relevo, de entre os quais se salientam os namban-byobu (= biombos dos bárbaros do Sul), que perpetuaram a chegada dos barcos portugueses ao Japão.

"namban", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2020, https://dicionario.priberam.org/namban [consultado em 23-02-2020].

Os portugueses foram os primeiros ocidentais a chegar ao Japão, onde, entre outras coisas, mostraram e ensinaram  aos japoneses como construir em pedra, e introduziram a fabricação de armas de fogo que por sua vez levaria à unificação do Japão. Mais tarde, um grande número de colonos portugueses fundou e construiu a cidade de Nagasaki (P 146). 

Na China "os portugueses já conselheiros do imperador da China antes que Marco Polo alegasse ter chegado lá". (P.19) 


E, ao contrário de Hong Kong, que foi obtida pelos ingleses pela força, a cidade de Macau foi um presente dado aos Portugueses pelo imperador da China,  por terem, a seu pedido, corrido com os piratas que infestvan os mares da China. 


Como vocês se devem lembrar, Macau foi a última colónia de um país ocidental a ser restituída, e isso foi feito a pedido dos portugueses que tomaram a iniciativa, pois a China não mostrava nenhum interesse em recuperá-la.

Tudo isso parece muito difícil de entender, uma vez que Portugal tinha uma população de apenas 1,5 milhão de pessoas (em comparação com os 12 milhões de italianos, 6,0 na Espanha e 3,0 na Inglaterra); mesmo assim, Lisboa se tornou a nova capital mundial da riqueza no mundo ocidental, "a cidade mais fabulosamente rica da Europa "(p. 107/8).

Foi nesse momento da história, em 1494, que ocorreu o Tratado de Tordesilhas. O objetivo era resolver a confusão criada por Cristovão Colombo depois da descoberta  da América, que Colombo pensava ser a Índia. 


O Papa Alexandre VI criou então uma linha imaginária dividindo o mundo em duas  partes: quaisquer novas terras descobertas a leste desta linha passavam a ficar sob a posse de Portugal;  e as terras a oeste dessa linha seriam pertença da Espanha. No final do século XVI, Espanha e Portugal uniram-se [, a chamada monarquia dual: o último rei de Portugal [ da II dinastia, o cardeal dom Henrique, 1543-1580, tio-neto de Dom Sebastião,] morreu sem herdeiro e o "parente mais próximo" foi o rei da Espanha[, Filipe II, Filipe I de Portugal,III dinastia]. 


Os primeiros anos pareciam bons, mas logo essa união provou ser um desastre para Portugal. As colónias de Portugal,  agora sob o domínio espanhol,   ficaram sem proteção,  e sujeitas a ataques e invasões dos ingleses e holandeses, inimigos da Espanha.


 A maioria dos navios portugueses (embora sem suas tripulações originais, pois os espanhóis, por um bom motivo, não podiam confiar nos portugueses para combater os ingleses) foram integrados na gigantesca 'Armada invencível'  que atacou a Inglaterra e foi completamente destroçada. 



Os nobres portugueses começaram a perder poder à medida os cargos governamentais começaram a ser ocupados por espanhóis.

Quando os portugueses perceberam que o rei da Espanha pretendia fazer de Portugal apenas uma província   de Espanha, eles se revoltaram-se, expulsaram os representantes dos espanhóis,  e proclamaram um novo rei , [, Dom João IV, em 1 de dezembro de 1640].

Durante séculos, Portugal foi um refúgio para os judeus, a única nação europeia  que os não  perseguia. Em algumas partes do mundo, Portugal era até considerado um Estado judeu. Mas as coisas mudaram com a introdução da Inquisição na Espanha e logo a Inquisição foi introduzida em Portugal, forçando a maioria dos judeus a sair. O Império Otomano,  a Holanda e as cidades-estado italianas
 foram os principais locais de refúgio. Esses países beneficiaram dessa fuga. Portugal, por sua vez, perdeu muito com a partida dos judeus.


(Continua)(***)

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Bibliografia que consultei;

1. O livro de onde faço várias referências é o livro:” The First Global Village"- How Portugal changed the world , da autoria do escritor Inglês Martin Page, 12a edição. " Casa das Letras" ( comprei este aí em Portugal).

Outros livros que li e que “consultei" agora:

2. "Encompassing the World” Portugal and the World in the 16th and 17th Centuries. Um daqueles livros grandes em todo o sentido, de se lhe "tirar o chapéu, pelo seu conteúdo fabuloso em todos os aspectos. Publicaçao da “Arthur M.Sacckler Gallery( da Smithsonian Institute em Washington)

3. Lisbon - War in the shadow of the city of light, 1939-1945 da autoria de Neil Lochery

4. The First World Sea Power—1139-1521; volume 1o. Autor: Saturnino Monteiro

5. 1494 How a Family Feud in Medieval Spain Divided the World in Half . Autor:Stephen R. Bown ( St Martins Press, New York)

6. 1808 (5a edição) Autor: Laurentino Gomes ( jornalista brasileiro). Editora Planeta. Brasil

7. Os Pioneiros Portugueses e a Pedra de Dighton, do Dr. Manuel Luciano da Silva

8. Magellan autor ; Stefan Zweig,( version française) par Alzir Hella; Bernard Grasset- Paris

Jornais e revistas:

1. “ Luso-Americano” uma série de artigos sobre esta exposição, da autoria do jornalista /escritor/editor principal do" Luso Americano" . Publicadas neste jornal de 27 de Abri29 de Junho de 2007.

2. New York Times, Friday, June 29 2007

3. Washington Post, June 24 2007 e July 20 2007

4. "Portuguese in the making of America” da autoria de James H.Gill

5. Military History, July/August 2006, artigo do historiador Michael D. Hull, capa e artigo (páginas 24 a 31).

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Notas do editor:

(*) Vd. postes anteriores:


(**) Primeira versão do texto, em inglês:

January 19, 2020; Slovenian community :Talk on Portugal…
 

(...) Soon, from Lisbon to India, China and Japan the Portuguese ships under Afonso de Albuquerque had become the masters of the seas. With the conquest of Malaca, gateway to all the Far East, Portugal had complete control of the whole region.

Though it is attributed to the English the first settlements in Australia, "there is a growing consensus among Australian Historians that it were Portuguese from Malaca the first Europeans who arrived there".

The Portuguese were the first westerners to reach Japan where among other things they showed and taught the Japanese how to build in stone, and introduced the manufacturing of guns which in turn would lead to the unification of Japan. Latter on Portuguese settlers in large numbers founded and built the city of Nagasaki (P 146).

In China "Portuguese were advisors to the Emperor of China before Marco Polo claimed to have reached there." (P.19)

And, unlike Hong Kong, which was claimed by the English by force, the city of Macau was a gift to the Portuguese by the Emperor of China for having at his request, get rid of the Pirates who plagued the China Seas. As you will remember Macau was the last official Western colony to be given back, and it was done so at the request of the Portuguese who took the initiative, as China was not showing any interest in getting it back.

All this seems almost difficult to grasp as Portugal at this time had a population of only 1.5 million people, ( comparing with Italy's 12 million, 6.0 in Spain and 3.0 in England; Even so, Lisbon became the western world new capital of wealth, "the most fabulously rich city in Europe"( P. 107/8).

It was at this moment in history, 1494, that took place the Treaty of Tordesilhas. It was meant to solve the confusion created by Cristovão Colombo after he discovered America, which Colombo thought to be India. Pope Alexander VI created an imaginary line dividing the world in two, and awarded any new lands discovered to the east of this line to Portugal and lands to the west of this line to Spain.

By the end of the 16th century Spain and Portugal became united: the king of Portugal died with no heir and the "next of kin" was the king of Spain. The first years seemed OK but soon this union proved to be a disaster for Portugal.

Portugal colonies who had became under Spanish rule lost any protection when these were subject to invasions by the English and the Dutch, enemies of Spain. Most of the Portuguese ships ( without its original crews though , for the Spanish with good reason could not trust the Portuguese to fight the English) were included in the vast 'invincible Armada" which attacked England and was completely destroyed.

The Portuguese noblemen started to lose power as government posts started to be filled by Spaniards. So when the Portuguese realized that the King of Spain was intended on making Portugal just a royal province of Spain they revolted, threw out the Spanish king's representatives and proclaimed a new King.

For centuries Portugal was an haven, the only European nation not to persecute Jews. In some parts of the world Portugal was even considered to be a Jewish State. But things changed with the introduction of the Inquisition in Spain and soon the Inquisition was introduced in Portugal, forcing most of the Jews to leave. Turkey, Rome and Holland were the main places of refuge which benefitted from this escape from Portugal who in turn lost much with their departure.

(To be followed)

(***) Último poste da série: 

18 de fevereiro de 2020 > Guiné 61/74 - P20664: Tabanca da Diáspora Lusófona (6): Alô, Alô, Luiz Farinha, Jaboatão dos Guararapes, Pernambuco, Brasil!!!... Daqui, João Crisóstomo, Nova Iorque, USA...

Guiné 61/74 - P20678: Parabéns a você (1761): António Cunha, ex-1.º Cabo da CCAÇ 763 (Guiné 1965/66) e Manuel Henrique Q. Pinho, ex-Marinheiro Radiotelegrafista das LDMs 301 e 107 (Guiné, 1971/73)


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Nota do editor

Último poste da série de 23 de Fevereiro de 2020 > Guiné 61/74 - P20675: Parabéns a você (1760): José Carlos Pimentel, ex-Soldado TRMS da CCAÇ 2401 (Guiné, 1968/70); José Ferreira da Silva, ex-Fur Mil Op Esp da CART 1689 (Guiné, 1967/69) e José Maria Claro, ex-Soldado Radiotelegrafista (DFA) da CCAÇ 2464 (Guiné, 1969)

domingo, 23 de fevereiro de 2020

Guiné 61/74 - P20677: Blogues da nossa blogosfera (123): Jardim das Delícias, blogue do nosso camarada Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 (38): Palavras e poesia


Blogue Jardim das Delícias, do Dr. Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547/BCAÇ 1887, (Canquelifá e Bigene, 1966/68), com a devida vénia, reproduzimos esta publicação da sua autoria.

TU VENS

ADÃO CRUZ


© ADÃO CRUZ


Tu vens
eu acredito que vens
neste céu de cabelos soltos e seios ao vento
nesta fome de corpo e pensamento.
Tu vens
eu sei que vens
é hora de vires
nesta vespertina voragem de felicidade
neste céu da cor da angústia.
Tu vens construir a Primavera
em teu vestido branco de espuma
dominar meu indómito cabelo
com jogos simples dos teus dedos.
Eu quero acreditar que tu vens
pegar docemente nas minhas mãos cegas
e delas fazer uma flor de acácia
com que amacias os lábios
e abres o cofre dos teus seios de fogo.
Tu vens
eu sei
por isso sou feliz no meu silêncio
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Nota do editor

Último poste da série de 16 de fevereiro de 2020 > Guiné 61/74 - P20657: Blogues da nossa blogosfera (121): Jardim das Delícias, blogue do nosso camarada Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 (37): Palavras e poesia

Guiné 61/74 - P20676: Blogpoesia (661): "Outra forma de amar...", "O sol a pino" e "As duas faces...", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

1. Do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) estes belíssimos poemas, da sua autoria, enviados, entre outros, ao nosso blogue durante a semana, que continuamos a publicar com prazer:


Outra forma de amar...

É fugaz o amor físico
Entre um homem e uma mulher.
Mais curto que a vida duma borboleta,
Cheia de cores.

Por mais que aqueça...
Por mais que se incendeie a chama,
Depressa se apaga.
Lamparina terna,
Que se esvai de luz.

Não está só no corpo,
Pesado ou leve,
Vestido ou nu.

É na alma que permanece
Em chama,
Que nenhum vento,
Nenhum inverno,
Jamais consome
Ou apaga.

Sua chaminé
São os nossos olhos.
Com a mesma cor
E o mesmo brilho,
À sombra ou sol!...

Berlim, 20 de Fevereiro de 2014
9h9m
Joaquim Luís Mendes Gomes

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O sol a pino

Venho duma terra distante.
Onde o sol voa rasteiro
Seu brilho desmaia ao nascer
E a vida não dá para aquecer.

Minha terra é no sul.
Onde jorra luz e calor.
Saúda quem vem e quem vai.
Abraça quem fica por bem.
Não quer ninguém a chorar.

Quem dá valor ao que tem
Sabe como o destino arrasta.
Longe, não fica bem a ninguém.
Dói a quem vem e quem parte.

Para todos brilha lá em cima.
Nem todos o vêem a pino.

Mafra, 19 de Fevereiro de 2020
13h45m
Jlmg

********************

As duas faces...

A despedida tem duas faces.
Uma brilhante e sedutora.
Nos arrasta para a frente...
Puxa para donde viemos,
Há tanto tempo.
Onde estão nossas raízes.
Aqueles clarões de vida
Que se acenderam,
À nossa nascença.

Aqueles campos.
Aqueles montes.
Aqueles vales,
Onde correm os nossos sonhos.

Outra, mais escura,
Virada para trás.
Faz-nos doer.
Cada passo em frente.
Soma a distância...
Faz-nos sofrer.

E é assim que a vida corre.
Uma vez o dia,
Outra vez a noite.
E nós cá vamos
Neste baloiço.
Como canecos duma nora em marcha.
Ora se enchem...
Ora despejam...
Para regar os campos.

Vêm as verduras.
Chegam as flores.
Depois os frutos,
Depois a colheita...
O que é preciso
É o sol sempre a nascer.

A alegria renasce.
Nos banha de paz.
E a vida corre em veloz correr...
Oxalá feliz,
Desde o nascer!...

Ouvindo Brendan Perry
Berlim, 19 de Fevereiro de 2014
22h34m
Joaquim Luís Mendes Gomes
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Nota do editor

Último poste da série de 16 de Fevereiro de 2020 > Guiné 61/74 - P20656: Blogpoesia (660): "Rondo meu eu...", "Transparências mágicas..." e "A pente fino...", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

Guiné 61/74 - P20675: Parabéns a você (1760): José Carlos Pimentel, ex-Soldado TRMS da CCAÇ 2401 (Guiné, 1968/70); José Ferreira da Silva, ex-Fur Mil Op Esp da CART 1689 (Guiné, 1967/69) e José Maria Claro, ex-Soldado Radiotelegrafista (DFA) da CCAÇ 2464 (Guiné, 1969)



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Nota do editor

Último poste da série de 21 de Fevereiro de 2020 > Guiné 61/74 - P20670: Parabéns a você (1759): Veríssimo Ferreira, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 1422 (Guiné, 1965/67)

sábado, 22 de fevereiro de 2020

Guiné 61/74 - P20674: Os nossos seres, saberes e lazeres (378): A Bélgica a cores que guardo no coração, e para sempre (6) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 4 de Setembro de 2019:

Queridos amigos,
Tenho consciência de que a Bélgica não é muito afamada como destino turístico. Os eurocratas e as pessoas que ali vão em curta permanência referem os céus plúmbeos, as fachadas enegrecidas, muita monotonia. São clichés de quem não pôde ou não se interessou estudar previamente o que o país oferece, curiosamente a preços abordáveis, fora de Bruxelas encontram-se albergues e pensões a belos preços e quanto a comer há cardápios para tudo, e os transportes públicos, sobretudo o comboio, são inequivocamente abordáveis.
Ir a Gand, Liège, Namur ou Bruges, e daqui partir num autocarro até às aldeias, é exequível. Por exemplo, aqui fala-se em Tervuren. Pode passar-se um dia económico, vai-se de transporte público, o parque é imenso, a entrada no precioso museu não escandaliza, pode levar-se farnel, tudo somado é um dia útil a tilintar cultura e aconchego da natureza, sem atentar no orçamento.
Fala-se de experiência feita.

Um abraço do
Mário


A Bélgica a cores que guardo no coração, e para sempre (6)

Beja Santos

Este mostruário de recordações de um país que é profundamente querido ao viandante parece infindável, um dia destes fechamos o livro, até que novo regresso venha a ocorrer, com imagens tiradas nos locais, de nova visita ou em estreia, a Bélgica tem sempre revelações.
Estamos em Bruxelas, num local que se chama o Monte das Artes, de um lado, olhando para a estátua do rei Alberto I, o rei soldado, um patriota que ficou fora da Bélgica invadida, mas em torrão belga onde os alemães não chegaram, a combater ao lado dos seus fiéis compatriotas, está a escultura da rainha Elizabeth, não se percebe a insignificância, não que a senhora não fosse minorca, mas é uma imagem que parece um pão sem sal. O seu nome, pasme-se, continua a ser famoso e a correr o mundo inteiro, já que o concurso musical Rainha Elizabeth atrai regularmente grandes talentos em vários instrumentos, mas com especial incidência o piano.
Pois bem, subimos o Monte das Artes e estamos perto da Praça Real, logo atrai quem por ali passa uma construção de tipo Arte Nova, eram os Armazéns Old England, é hoje exemplar único. O viandante conheceu-o sem préstimo, décadas atrás, via-se o exterior e nada mais. Sucederam-se as petições públicas, e escolheu-se bem o novo destinatário, aqui vigora o Museu dos Instrumentos Musicais, assenta bem nesta belíssima estrutura metálica que nos remete para o que de mais prodigioso se construiu no final do século XIX.

Estátua da rainha Elizabeth, mulher de Alberto I.

Edifício Old England, hoje Museu dos Instrumentos Musicais, Bruxelas.

O viandante apanha um transporte para Tervuren, a meio caminho entre Bruxelas e Lovaina existe uma comuna cheia de história, mas o viandante vem com um fito, quer visitar, pela enésima vez, o Museu Real da África Central, não tem competidor no género em qualquer ponto do mundo. A história é bonita, conta-se em poucas palavras. Aquando da exposição universal de 1897, havia um pavilhão chamado Palácio das Colónias, destinava-se a mostrar as obras do Estado Independente do Congo gerido por Leopoldo II. O monarca socorreu-se dos mais inovadores arquitetos e artistas da Arte Nova, caso de Paul Hankar e Henri Van de Velde. Ora o rei quis juntar a esse edifício um museu de arquitetura mais clássica que ele sonhava vir a tornar-se um centro mundial de estudos e de investigações sobre África, Ásia e Extremo Oriente. E foi assim que nasceu uma arquitetura grandiosa, contrastante da Arte Nova do tal Palácio das Colónias e o seu conteúdo é interminável, vitrinas de insetos, plantas, peixes, histórias das explorações e recordações de Stanley e Livingstone, a arqueologia está sempre presente. Mas o viandante tem um fito preciso, passa como gato pelas brasas por toda esta bicharada embalsamada e detém-se junto das muitas amostras do génio escultórico dos povos congoleses. Entre as muitas sortes que a vida lhe permitiu, conseguiu comprar, no mercado do Benfica, em Luanda, em 1996, duas máscaras esplendorosas de arte Baluba e Bacongo, para não haver sarilhos alfandegários, foram apostos selos do Ministério da Cultura. E lá estão, impantes na sua beleza, numa sala doméstica.


Duas imagens do riquíssimo Museu da África Central, em Tervuren.

De um arredor de Bruxelas partimos para outro, o campo de batalha de Waterloo, aqui se realizou uma batalha sangrenta que pôs termo ao sonho napoleónico. É um imenso vale onde se destaca uma colina encimada por um leão vitorioso. Em 18 de junho de 1815 num imenso território compreendendo as comunas de Waterloo, Braine-l’Alleud e Lasne a coligação das tropas anglo-holandesas e prussianas conduzidas por Wellington e Blucher desbarataram o contingente napoleónico, ficaram 48 mil mortos neste imenso campo de batalha. Sabia-se em toda a Europa que era o momento determinante. Aqui findou a campanha dos Cem Dias, Napoleão abandonara o exílio da ilha de Elba, marchara triunfante para Paris, retomou as rédeas do poder, Luís XVIII fugiu, Napoleão partiu à procura de uma vitória decisiva, aqui perdeu tudo e foi exilado para a ilha de Santa Helena.

Monumento comemorativo à Batalha de Waterloo, 18 de junho de 1815.

Esta batalha e os seus atores ganharam dimensão mítica, foram imortalizados por pintores e escritores. O local mantém-se intacto, e ali perto há museus evocativos, veja-se este bivaque de Napoleão, que teve vida efémera.

O bivaque de Napoleão, Museu Wellington, Waterloo.

E parte-se agora para a província, procuram-se lugares de grande valor arquitetónico, um tanto fora dos grandes roteiros turísticos. O que é que esta nave, com pilares cruciformes alternando com colunas aparelhadas com capitel cúbico tem assim tão de fascinante? Trata-se de um estilo lombardo, não dispõe de abóboda, o que torna pouco explicável estes suportes tão pesados, há para aqui um mistério. O viandante não se importaria de passar aqui a noite de Natal, segundo a tradição 65 atores, todos originários da localidade fazem o presépio, consta que o evento é a mais emocionante das representações natalícias de toda a Valónia.

A nave de Saint-Symphorien em Saint-Severin-en-Condroz.

E daqui se passa para um cantão de Este, com uma história bem agitada: arbitrariamente estes cantões foram anexados à Prússia em 1815, restituídos à Bélgica em 1919, absorvidos pela Alemanha nazi em 1940, veio depois a libertação em 1944, estamos pois perto de uma fronteira que tem mudado bastante de dono, vai para dois séculos. A escassos quilómetros do grande ducado do Luxemburgo, a torre do burgo Reuland, com telhas de ardósia e campanário em forma de bolbo é a grande atração. O castelo-fortaleza foi berço de uma das mais antigas famílias feudais de Eifel. O que surpreende é uma paisagem completamente distinta do que vemos na Valónia ou na Flandres.

Reuland.

É um castelo-fortaleza, o de Bouillon, com dupla ponte-levadiça, poços profundíssimos, com casamatas, masmorras, escadas secretas… Um verdadeiro castelo medieval, uma fortaleza que remonta à segunda metade do século IX e que conheceu reformulações até ao século XVI. A parte mais antiga da fortaleza é a torre de menagem, contemporânea de Godefredo de Bouillon, duque da Baixa Lotaríngia, que participou na primeira Cruzada e que o turista que visita Bruxelas encontra, em postura gloriosa e guerreira, na Praça Real, entre museus, bem perto do Palácio Real.

Castelo de Bouillon.

Descemos agora às Ardenas, não muito longe de Condroz, estamos numa região de florestas e pastagens e aqui surge inopinadamente esta construção deslumbrante, a torre data do século XIV, parece que vai mergulhar na água de um lago, tem uma torre de menagem quadrada, vale a pena estar aqui em frente, a admirar um tão valioso património tão bem cuidado.

A quinta fortificada de Crupet.

A Bélgica guarda bons vestígios das suas beguinas, não eram propriamente lares para a 3.ª idade, acolhiam viúvas e viúvos (bem entendido, havia a exigência de vidas separadas), pagava-se o alojamento até ao fim dos seus dias, cada um com direito a um espaço próprio e outro destinado à vida comunitária, belas beguinas podem ser encontradas em vários pontos do país. A beguina de Bruges foi protegida, acarinhada de uma forma muito particular por Joana de Constantinopla, uma das duas filhas de Balduíno IX, impossível não ficar impressionado com o restauro e a bela manutenção, um encanto para os olhos e uma meditação sobre as fórmulas com que no passado remoto se praticava o acolhimento dos velhos, claro está, com algumas posses. Aqui finda o passeio por vários pontos da Bélgica, o tal país de quem soe dizer-se que é bastante monótono…

Beguinas de Bruges.

(continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 15 de fevereiro de 2020 > Guiné 61/74 - P20653: Os nossos seres, saberes e lazeres (377): A Bélgica a cores que guardo no coração, e para sempre (5) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P20673: Fotos à procura de... uma legenda (124): o meu pai era um homem que cumpria a lei que proibia armas de guerra a civis... A tal pistola metralhadora FBP deve ter-lhe sido emprestada por alguém para a pose fotográfica (Lucinda Aranha, escritora)




Guiné > s/l > s/d  > c. 1950/60 > O empresário de cinema Manuel Joaquim dos Prazeres, também caçador... Usava carabinas de caça, mas não armas de guerra... 

Fotos (e legenda): © Lucinda Aranha (2020). Todos os direitos reservados. [Edição e legemdagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagens (duas) da nossa amiga e grã-tabanqueira, escritora, filha do Manuel Joaquim dos Prazeres, o homem do cinema ambulante no nosso tempo, na Guiné, Lucinda Aranha, autora de uma biografia ficcionada do pai,  a que chamou "romance" ( "O homem do cinema: a la Manel Djoquim i na bim"-Alcochete: Alfarroba, 2018, 165 pp.)


Sexta, 31/01/2020, 20:39:
Luís,

(i) Relativamente a armas de guerra, quer o Faxina quer o Daniel Levy nunca ouviram falar em tal, só lhe conhecem [, ao meu pai,] as armas descritas no meu livro. Ambos vão falar com grandes amigos do meu pai para confirmarem se alguma vez o viram com tais armas. Envio 2 fotos com a célebre carabina [, reproduzidas acima];

(ii) Envio a carta do Carlos Geraldes,  escrita a um cunhado meu antes de eu ser aceite como tabanqueira e o conto "O Dia de S. Cinema": naa altura abandonei a ideia deste meu último livro , tendo escrito então "No Reino das Orelhas de Burro" [, será publicado um poste aparte com esta carta e este conto do nosso saudoso Carlos Geraldes (1941-2012), de Viana do Castelo;

(iii) Envio a notícia do "Eco de Cabo Verde",  de 9 de Setembro de 1934, sobre a paragem do zepellin sobre Santiago, em 2 de Setembro , ou seja, no domingo anterior à saída deste número do jornal [, também a publicar em poste aparte];

(iv) Envio 3 fotos que penso serem de uma sessão de endoutrinação levada a cabo pelo exército e autoridades locais [, presunivelmente em "chão fula", talvez região de Gabu ou região de Bafatá]. Não consegui que ninguém soubesse exactamente do que se trata, mas como aparecem militares talvez no blogue descubram [, igualmente a publicar mais tarde].

Beijos, Lucinda

Sexta, 21 de fevereiro de 2020, 10:50
Luís,

A propósito da arma com que o meu pai aparece na fotografia do poste P20601 (*), consultei vários amigos. Falei com o Carlos Freitas que confirma ser uma G3 BP [, ou melhor, pistola  metralhadora FBP,  portuguesa, da Fábrica Braço de Prata]  mas nunca viu o meu pai com uma arma de guerra nem nunca ouviu falar em tal.  É sua opinião que lhe fora emprestada para a fltografia. 

O Pereira pensa o mesmo, acrescenta que tinha 2 carabinas de caça, uma com mira telescópica, uma delas italiana e Flaubert.

Diz ainda que o meu pai era um homem que cumpria a lei que proibia armas de guerra a civis. O Daniel Levy, o Faxina, o Peralta subscrevem a opinião de que a arma foi emprestada psra a fotografia. 

Quanto à máquina de projectar, o Pereira, que foi um dinamizador e membro da admnistração da UDIB, embora não ligado ao cinema, pensa que seria igual à da UDIB porque tinham um acordo, trocando filmes. 

Como te disse, o Carlos Geraldes fala nela e até ao momento é fonte única. Não sei se há algum espólio , embora duvide,

Sobre o clube mas já agora vou perguntar ao Tony Tckeca.

Já conseguiram alguma pista sobre as fotografias dos militares [, em sessão de "psico"]?

Saudades, Lucinda

2. Resposta do editor Luís Graça:

Lucinda, obrigado pelo teu empenho, dedicação e honestidade intelectual na tentativa de esclarecer a questão da arma de guerra que o teu empunha numa das fotos que publicaste no teu livro (*)...

Mss não se trata de uma G3, espingarda automática com que fizemos a guerra colonial, e equipou o exército português até há meses...Trata-se, sim, em princípio,  de uma pistola metralhadora FBP [, Fábrica Braço de Prata]. 

O que dizes sobre o assunto, recolhendo testemunhos de amigos dele, pode bater certo: seria um arma de algum administrador ou chefe de posto, emprestada ao teu pai para a fotografia... O exército usou pouco esta arma, a FBP (, a não ser logo no início em Angola...). Estava distribuída às forças militarizadas (PSP, etc.), incluindo possivelmente a polícia administrativa da Guiné (, uma hipótese a confirmar)...

Vou publicar os teus esclarecimentos, começando pela questão da arma de guerra... Em casa, em Lisboa, quando vinha de férias no tempo da chuva, o teu pai nunca vos falou de armas de guerra... Já tinhas confirmado isso. Então, a arma em questão podia bem ser de algum algum amigo, e ele tinha muitos entre os  administradores e chefes de posto, espalhados pelo mato... (**)

Quanto ao Carlos Geraldes, terá  um tratamento à parte, bem como as fotos dos militares que mandaste há 3 semanas atrás...  Por outro lado, gostava de saber se  tens alguma informação adicional sobre o comerciante Mário Soares [M. Santos, para o Carlos Geraldes), que vivia em Pirada ?... Ele era amigo do teu pai... Era um homem influente, com boas relações com o Senegal (e também com  os dois lados da guerra, as NT e o PAIGC)... Já li algures, que ele ficou inclusive mais um ou ano  dois na Guiné, após a independência... Vou fazer uns postes sobre ele, a partir do material (incluindo fotografias), de que dispomos...
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sexta-feira, 21 de fevereiro de 2020

Guiné 61/74 - P20672: Notas de leitura (1266): Missão cumprida… e a que vamos cumprindo, história do BCAV 490 em verso, por Santos Andrade (46) (Mário Beja Santos)



1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 25 de Setembro de 2019:

Queridos amigos,
"A Crónica da Libertação" é uma narrativa que o Presidente Luís Cabral, preso na Fortaleza da Amura, foi esboçando, com recurso a memórias. Liberto, teve alguns apoios e esclarecimentos sobre os factos descritos, ele fizera a sua narrativa sem qualquer documentação. Daí o texto, hoje obrigatório para o estudo da luta armada não ter rigor na sequência histórica, nomeadamente quanto ao período que está aqui a ser analisado, entre 1964 e até princípios de 1966.
A despeito destas lacunas, Luís Cabral evidencia a estratégia gizada para o Sul que, diz ele, ultrapassou todas as expetativas postas por Amílcar Cabral, quer quanto ao vigor da desarticulação como quanto à possibilidade de abrir ligações e canais de abastecimento entre a República da Guiné e um conjunto de bases que permitiram a implementação do PAIGC apoiado por populações no Sul e junto do Corubal, acrescentando-se a esses sucessos de 1963/1964 a região do Morés.
Releva a chegada do armamento pelo canal marroquino e as armas e demais material soviético que começa a chegar em grandes quantidades ao porto de Conacri, já em 1964.
É uma escrita de cunho vitorioso em que o acento tónico é posto na profunda admiração de Luís Cabral sobre o seu irmão.

Um abraço do
Mário


Missão cumprida… e a que vamos cumprindo (46)

Beja Santos

“Muito tempo eu andei
com um braço engessado.
De ter a mania de palhaçar,
tive este mau olhado.

Sargento Pedro me convidou
para ir ginástica treinar
e um dia fomos falar
com quem o treino organizou.
O Isaac não rejeitou
e nesse dia comecei.
Umas sapatilhas calcei
e vesti também um calção,
e efectuando a instrução
muito tempo eu lá andei.

A 16 de Abril, a praticar
no Benfica de Bissau,
o caso esteve muito mau.
Quando um pulo fui jogar,
entrou comigo o azar,
caindo desequilibrado.
No chão fiquei deitado,
e alguns gemidos lançava
e ao fim de dias andava
com um braço engessado.

Para o tratamento fazer
na Amura eu fiquei
e todo o tempo andei
sem o braço poder mexer.
Mal podia escrever:
para a família não duvidar
tinha osso fora do lugar
que o braço não endireitava
e só assim eu deixava
de ter a mania de palhaçar.

Os médicos me receitaram
supositórios para tomar
e ondas curtas ia levar.
Mas com isso não me curaram.
Muitos dias se passaram
e o osso continua rachado.
Talvez seja ainda operado
mas não sei quando é
pois na Província da Guiné
tive este mau resultado.”

********************

Deixemos o bardo em paz com os seus trambolhões, de braço ao peito. Continua de pé esta necessidade de dar amplitude à compreensão da guerra em que o BCAV 490 este envolvido, muitas vozes se têm alevantado para contar o rol de peripécias do que foi aquela luta pela independência, como vimos o rol é mais minguado no que tange a tornar compreensível a reação das forças portuguesas. A um desequilíbrio notório no volume das vozes, há que fazer o desconto a omissões e ao som estereofónico da propaganda. Manda a elementar justiça que o contraditório esteja sempre em cima da mesa, e é com essa preocupação que se releva agora um depoimento de quem acompanhou muito de perto Amílcar Cabral, o seu irmão Luís escreveu a “Crónica da Libertação”, publicada em Portugal em 1984. Deposto pelo golpe de 14 de novembro de 1980, preso e acusado da mais alvar tirania, Luís Cabral entendeu responder refugiando-se na história do PAIGC por via da ação e do pensamento de quem tudo inspirou, por toda a crónica é sempre o líder fundador quem está no palco. Veja-se resumidamente o que ele nos diz de 1962 até aproximadamente ao tempo em que teve termo a comissão do BCAV 490.

Em 3 de agosto de 1961, o PAIGC decretara a passagem à ação direta. Em outubro desse ano, Amílcar Cabral assinava uma carta aberta ao governo português, propunha negociações, sabendo de antemão que não ia obter resposta, ao tempo Rafael Barbosa e o seu núcleo iam sensibilizando a população de Bissau, a PIDE, que vira os seus efetivos aumentados, assaltou a base clandestina do bairro de Cobornel, Rafael Barbosa e outros dirigentes foram presos, deu-se a detenção de mais de mil militantes e simpatizantes. Vindos da formação da China, um punhado de guerrilheiros avança em direção ao Sul e à região de Morés. O armamento é frágil, Osvaldo Vieira, completamente cercado no Morés, teve que fugir para o Senegal, onde foram presos pelas autoridades e conduzidos a Dakar, o que obrigou a nova intervenção de Cabral. Tudo era difícil para a subversão. Tentara-se ingloriamente um levantamento no Gabú, os guerrilheiros tiveram que fugir precipitadamente. No Sul, Vitorino Costa é capturado e morto. Como escreve Luís Cabral, a notícia da sua morte levou centenas de combatentes do Sul e do Centro-Sul a abandonarem as suas bases para aguardarem na fronteira a chegada das armas. Enquanto tudo isto se passa, Amílcar Cabral estreita o seu relacionamento com o MPLA em Conacri, lançam as bases de um movimento em prol da independência das colónias portuguesas. Assim nasceu a Conferência das Organizações Nacionalistas das Colónias Portuguesas, Mário de Andrade e Viriato da Cruz eram os representantes do MPLA e Marcelino dos Santos da FRELIMO, os escritórios da organização ficavam em Rabat. O reino de Marrocos cede armas que depois de algumas peripécias que podiam ter custado caro ao movimento liderado por Cabral, no final de 1962, começam a ser distribuídas pistolas-metralhadoras. Luís Cabral não data os acontecimentos, mas está inequivocamente demonstrado que mesmo antes das frentes estarem abastecidas de armas, já no segundo semestre de 1962 houvera importantes destruições de pontes e pontões e destruídas as fontes de comunicação. Ganhava-se experiência e criavam-se bases de guerrilha onde se acreditava que o inimigo só dificilmente lá podia chegar. Mas o quadro de repressão intimidava profundamente as populações.

Luís Cabral nos últimos anos de vida

E ele escreve:
“Com a chegada de armas automáticas – entre as quais a ‘patchanga’, com os seus carregadores de 72 balas, que era altamente temida pelo inimigo – tudo isso acabou. Começaram a surgir vastas regiões completamente libertadas, onde só imperava a autoridade do partido; organizaram-se nas tabancas os Comités do PAIGC, para o controlo da vida das populações e do abastecimento da guerrilha. Cada família era obrigada a ‘medir’ uma certa quantidade de arroz ou outro alimento, para a base mais próxima da tabanca. Os responsáveis muitas vezes obrigavam jovens a regressarem às suas casas porque o número de pessoas nas bases aumentava sem parar e era preciso garantir os trabalhos do campo e não despovoar as tabancas.
Centenas de homens vinham a diversos pontos da fronteira para carregar armas e munições: o entusiasmo dos combatentes era tão grande que alguns responsáveis escreviam ao Secretariado para afirmar que, com mais duas dezenas de pistolas-metralhadoras, seriam capazes de libertar toda a sua área. As forças colonialistas encontravam-se incapazes de reagir; foram surpreendidas pelo aparecimento de armas automáticas potentes em várias zonas do país e tiveram muitas baixas”.

Luís Cabral revela que Amílcar Cabral estava admirado de tudo estar tão bem. O que se estava a passar no Sul revelava-se surpreendente e Domingos Ramos enviou Abdulai Barry para o outro lado do Corubal, para a Mata de Fifioli. É nesta fase que em Samba Silate, não longe de Bambadinca, houve grande repressão depois de denúncia de jovens que estariam a frequentar as bases da guerrilha, havia na povoação uma missão católica e um padre de nacionalidade italiana, António Grillo, denunciou a violência cometida e foi expulso da Guiné. Formava-se um grupo de guerrilha na região do Xime, tentar-se-á durante toda a guerra destruir estas bases, em vão.

Escreve a Luís Cabral que do Morés a luta ia-se alargando ao longo de 1963 para a área de Biambi e dali até Canchungo (Teixeira Pinto). É neste período, em fins de 1963, que Luís Cabral visita pela primeira vez a zona do Quitafine, que fazia fronteira com a República da Guiné. Descreve esta viagem e o seu encontro em Cassaca com Manuel Saturnino Costa, que era irmão de Vitorino Costa. Segundo Cabral, a população do Quitafine tinha aderido massivamente à luta. É nessa altura que Luís Cabral se apercebe que havia situações anormais na vida da guerrilha, ninguém era muito explícito mas deduzia-se que havia jovens dirigentes que praticavam atos despóticos que intimidavam as populações. E assim germinou a ideia de fazer um encontro de dirigentes que ocorreu num local chamado Cassacá, a cerca de quinze quilómetros do Como, esse encontro decorreu em fevereiro, enquanto se combatia na ilha, como é sabido o encontro transformou-se em congresso, levou à reestruturação das forças armadas e à punição dos elementos criminosos.

Depois de algumas tiradas propagandísticas sobre os acontecimentos da batalha do Como, Cabral refere a consolidação do posicionamento do PAIGC no Sul, era uma área que compreendia os setores de Cubucaré, Quitafine, Balana e Como. Um cineasta de nome Mário Marret, por essa época, visitou as zonas onde o PAIGC era preponderante e recolheu o material sobre o primeiro documentário cinematográfico com o título “LALA QUEMA”, seria o primeiro instrumento de sensibilização da opinião pública internacional.

Entretanto, chega o apoio do armamento soviético, o equipamento para o exército altera-se profundamente e Luís Cabral relata a vida em Conacri, a reorganização administrativa do partido no exílio, as visitas de Cabral às diferentes frentes, e a criação de um novo palco de guerra no Boé. Cabral dá igualmente conta da continuação de tensões com outros partidos políticos rivais, desta vez em Dacar. E descreve a formação dos quadros, a abertura de escolas, a criação de pessoal na área da Saúde, é o que ele vai esmiuçar num capítulo intitulado “Criar uma vida nova em cada parcela libertada”. Por razões que seguramente se prendem com a falta de documentação, dado que esta crónica foi escrita na prisão, dá alguns saltos bruscos em termos cronológicos, fala-se dos bombardeamentos na área do Morés, a aprovação da Lei da Justiça Militar, a expansão da frente de Leste, a morte de Domingos Ramos em Madina do Boé, a formação de quadros cabo-verdianos em Cuba, enfim, está literalmente a diluir-se a cronologia dos acontecimentos, ganha uma certa opacidade a evolução militar entre 1964 e 1965.
É talvez por isso desejável fazer-se recurso de novo à tese de doutoramento de Leopoldo Amado que seguiu metodicamente as vicissitudes do calendário.

Chico Mendes (Chico Té), depois da morte de Domingos Ramos era comandante da região do Boé

(continua)
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Notas do editor

Poste anterior de 14 de fevereiro de 2020 > Guiné 61/74 - P20649: Notas de leitura (1264): Missão cumprida… e a que vamos cumprindo, história do BCAV 490 em verso, por Santos Andrade (45) (Mário Beja Santos)

Último poste da série de 17 de fevereiro de 2020 > Guiné 61/74 - P20660: Notas de leitura (1265): Dicionário de Paixões, por João de Melo; Dom Quixote, 1994 (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P20671: Agenda cultural (745): lançamento de mais um livro de um dos nossos últimos "lobos do mar", o capitão Valdemar Aveiro: "Apelos do Passado: Recordações da Pesca do Bacalhau"... Apresentação da obra: prof Álvaro Garrido. Local e data: Museu Marítimo de Ílhavo, 6 de março, 21h30.


Ficha técnica:
Apelos do Passado - Recordações da Pesca do Bacalhau
ISBN 978 972 780 714 7
Edição: 1.ª Edição - Fevereiro de 2020
Páginas: 98
Formato: 15x23cm
Preço de capa: €11,00


O autor: Valdemar Aveiro

Valdemar Aveiro nasceu em Dezembro de 1934, em Ílhavo, no seio de uma família de pescadores.

Terminada a instrução primária, começou a trabalhar como aprendiz de barbeiro, passados 10 meses empregou-se numa oficina de serralharia civil e, mais tarde, na construção civil.

Aos 15 anos concorreu à Escola Profissional de Pesca, ganhou uma bolsa de estudo que lhe deu acesso ao liceu e, posteriormente, à Escola Náutica, onde concluiu o Curso de Pilotagem. Embarcou como moço a bordo do lugre-motor Viriato para fazer uma viagem à pesca do bacalhau no sentido de suportar as despesas da sua formação.

Em 1957 embarcou como praticante de piloto no navio Santa Mafalda, da Empresa de Pesca de Aveiro, sendo promovido no ano seguinte a piloto, a bordo do mesmo navio. Passou a oficial imediato, do navio Santa Joana, em 1960.

Emigrou para o Canadá, em Abril de 1964, na persecução de se licenciar em Medicina, um sonho que não logrou cumprir, tendo regressado a Portugal no ano seguinte. Em 1966 embarcou no navio São Gonçalinho e no ano seguinte passou para um navio moderno, Santa Isabel, comandado pelo capitão David Calão.

Assumiu, em 1970, o comando do mais velho arrastão português, Santa Joana, e, dois anos depois, foi convidado para comandar o navio Coimbra, então em construção nos Estaleiros de S. Jacinto.

Retirou-se por doença em 1988.

Após a sua recuperação, foi convidado a colaborar com a administração da Empresa de Pescas S. Jacinto, SA, sendo, desde 1991, membro do seu conselho de administração.


Fonte: Âncora Editora >Autores > Valdemar Aveiro

O Valdemar Aveiro,ou capitão Aveiro,  como é carinhosamente conhecido e tratado,  é nosso amigo, meu e do José António Paradela. Tem cerca de uma dezena de referências no nosso blogue,ligadas à sua atividade como escritor e às suas memórias da pesca do bacalhau. Tem seis livros publicados na Âncora Editora.

Temos, por sua vez, 30 referências, no nosso blogue,  à pesca do bacalhau. (*)

Recorde-se que, e como aqui escrevemos em tempos (**), "já desde 1927, do tempo da Ditadura Militar, havia legislação que veio promulgar medidas de incentivo ao desenvolvimento da pesca do bacalhau, e nomeadamente facilitar (e tornar mais atrativo) o recrutamento do pessoal (vd. Diário do Governo, 1.ª série, Decreto n.º 13441, de 8 de Abril de 1927). "

Uma dessas medidas era justamente "a dispensa do serviço militar aos pescadores e marinheiros que tivessem cumprido um mínimo de seis campanhas de pesca consecutivas na frota nacional bacalhoeira". Frota heróica, diga-se de passagem!...

Havia ainda a possibilidade de os mancebos apurados para o serviço militar  beneficiarem de "adiamento até aos 26 anos"...  Além disso, "a falta à junta de recrutamento podia ser relevada desde que os faltosos fizessem prova de que estavam embarcados"...

Conclusão; a pesca do bacalhau na Terra Nova e na Groenlândia, durante todo o  Estado Novo,  era um verdadeiro "desígnio nacional"...
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Notas do editor:


Guiné 61/74 - P20670: Parabéns a você (1759): Veríssimo Ferreira, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 1422 (Guiné, 1965/67)

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Nota do editor

Último poste da série de 17 de fevereiro de 2020 > Guiné 61/74 - P20659: Parabéns a você (1758): António Carvalho, ex-Fur Mil Enfermeiro da CART 6250 (Guiné, 1972/74) e Fernando Chapouto, ex-Fur Mil Op Esp da CCAÇ 1426 (Guiné, 1965/67)

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2020

Guiné 61/74 - P20669: Memórias ao acaso (Miguel Rocha, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 2367/BCAÇ 2845) (3): Um Presépio de cartolina

Olossato – Um Presépio em cartolina que com “uma improvisada lamparina acesa, até ao fim do Dia de Reis”, fez a diferença naqueles dias de Natal no Olossato.


Mais uma crónica do nosso camarada Miguel Rocha, ex-Alf Mil Inf.ª da CCAÇ 2367/BCAÇ 2845, "Os Vampiros" (Olossato, Teixeira Pinto e Cacheu, 1968/70):


MEMÓRIAS AO ACASO

03 - UM PRESÉPIO DE CARTOLINA

As licenças no período Natalício estavam completamente vedadas aos militares deslocados nos teatros de guerra.

No mato, tomavam-se precauções redobradas para os dias de maior significado Cristão, e festejava-se um arremedo de Natal com rancho melhorado, que de forma alguma colmatava a nostalgia da família, dos amigos e das diversas gastronomias regionais, evocadas tanto por ausência, como por contraste.

No Natal de "68", na única e incipiente loja existente no Olossato, e depois nos comércios de Bissorã, onde a oferta melhorava substancialmente, procuramos, sem resultado, um Presépio.

Aprazado um telefonema nos correios de Bissorã (havia que pedir a chamada com aviso e marcar hora de contacto), solicitei a minha Mãe, do "stock" da nossa loja em Vila Real, o envio em envelope comercial de um Presépio de cartolina, que depois de armado, tinha a particularidade de ficar com o aspecto tridimensional que foto documenta.

Bissorã – No centro, e ao fundo da foto, o edifício dos Correios em Bissorã, de onde o ex-Alf. Mil. Miguel Rocha telefonou à Mãe, a D. Mariazinha, pedindo que lhe enviasse para o Olossato um Presépio em cartolina.

Nas costas do Presépio em cartolina, a Mãe do ex-Alf. Mil. Miguel Rocha escreveu esta mensagem. “Natal de 1968. Que a Paz que reina neste Presépio caia sobre a Guiné”. 

Apesar da humildade artística, este singelo presépio fez a diferença na atípica envolvente tropical, impondo-se como fio condutor dos nossos pensamentos, recordações e emoções daquela quadra festiva, quiçá para nós, a mais marcante, vivida longe dos nossos, num ambiente hostil e de avassaladora saudade.

Uma improvisada lamparina, acesa até ao fim do Dia de Reis, completava o arranjo numa pequena mesa da messe de oficiais.
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Nota do editor

Último poste da série de 13 de Fevereiro de 2020 > Guiné 61/74 - P20646: Memórias ao acaso (Miguel Rocha, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 2367/BCAÇ 2845) (2): Hoje, exactamente 51 anos depois!