quarta-feira, 23 de setembro de 2020

Guiné 61/74 - P21386: Memória dos lugares (412): Ponta de Jabadá, na região de Quínara, sentinela do rio Geba, reconquistada ao PAIGC em 29 de janeiro de 1965

 

Foto nº 1


Foto nº 2


Foto nº 3


Foto nº 4


Foto nº 5



Foto nº 6

Guiné > Região de Quínara > 1ª CCAÇ / BCAÇ4612/74 (Cumeré, Jabadá e Brá, 1974) > 1974 > Aquartelamento de Jabadá > Fotos do álbum do ex.fur mil at inf António Rodrigues Pereira (do memso batalhão que o nosso coeditor Edurado Magalhães Ribeiro, fur mil ope esp /ranger da CCS).

Legenda:

Foto nº 1 > Aquartelamento de Jabadá, na margem esquerda do  rio Geba, 1974

Foto nº 2 > Aquartelamento de Jabadá > Edifício das transmissões, camarata do Comandante de Companhia, bar de sargentos e oficiais, cozinha e refeitório, e secretaria,  1974

Fotro nº 3 > Aquartelamento de Jabadá > Emfermaria, central eléctrica, bar dos praças e depósito de géneros, 1974

Foto nº 4 > Aquartelamento de Jabadá > Depósito de água, padaria e cozinha, 1974

Foto nº 5 > S/l (Aquartelamento de Jabadá ou do Cumeré) > Jipe Willis carregado com o Alf Mil Araújo e uma cambada de furriéis milicianos da companhia, 1974

Foto nº 6 >  Aquartelamento de Cumeré > Furriéis Martins, Olo e António Pereira, 1974


Foto (e legenda): © António Rordigues Pereira  (2010). . Todos os direitos reservados. (Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné).


1. Da ocupação da Ponta de Jabadá, em 29 de janeiro de 1965 (*) até à data em que foram tiradas estas fotos (já depois de 25 de abril de 1974), vai quase uma dezena anos.  

Da Ponta de Jabadá, o PAIGC flagelava a navegação do Geba.  Até que esta posição foi conquistada pelas NT, em 29 de janeiro de 1965, e montado lá um destacamento. O Gonçalo Inocentes, no seu livro "O cântico das costureiras"  conta como foi (pp. 76-79) (*). 

 De destacamento passou a aquartelamento: as instalações para o pessoal foram sendo melhoradas pelas sucessivas companhias de quadrícula que por lá passaram. Pertenciam em geral ao batalhão sediado em Tite.   A 1ª CCAÇ / BCAÇ 4612/74 (Cumeré, Jabadá e Brá, 1974) deve ter sido a última  a guarenecer esta posição, muito importante para a defesa da navegação do rio Geba.

A história da Ponta de Jabadá também está por fazer, como muitas outras  "pontas",  da Ponta Varela à Ponta do Inglês... 

Aqui o PAIGC até ao início do ano de 1965 era "rei e senhor", impondo ali o terror à navegação no Geba ?!... Os únicos que lhe faziam frente eram os nossos navios da Marinha (LFG, LDG, LDM)

Quando lá passei, ao largo, em LDG, no dia 2 de junho de 1969 (a caminho de Contuboel, via Xime e Bambadinca e Bafata, até ao Xime de LDG e depois  em coluna), o nosso medo era a Ponta Varela, logo a seguir, passada a foz do Corubal, já no Geba Estreito, antes de se aportar ao Xime... Recordo-me de termos tido cobertura aérea, por um T-6... E os fuzileiros fizeram fogo de morteirete sobre Ponta Varela... Muita malta, desprevenida. atirou-se para o fundo da LDG: foi o seu/nosso batismo de fogo, com 3 ou 4 dias de Guiné...

Os barcos civis, ou "barcos-turra", que prosseguiam até Bambadinca (ou que desciam de Bambadina a Bissau), defrontavam-se, no Geba Estreito, com outro temível ponto de passagem que era o famigerado Mato Cão onde se podia, da margem direita, lançar uma granada de mão para o meio do rio. (***)



Guiné > Região de Quínara > Mapa de Tite (1955) > Escala 1/50 mil > Posição relativa da Ponta de Jabadá, na margem esquerda do Rio Geba, a meia distência entre Bissau e Porto Gole (situados na maregm direita).

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2020)





A população de Jababá vivia da cultura do arroz, produziido na grande bolanha.  O aquartelamento das NT nunca foi em Jabadá (tabanca, mais a sul) mas na Ponta, que até ao início da guerra era um floresccente entreposto comercial. Por exemplo, o comercinte libanês Jamil Heneni,  com sede em Bafatá, tinha "grandes plantações de arroz em Jabadá «" (e não "Jabanda", gralha tipográfica). (**)

Fonte: anúncio comercial publicado em Turismo - Revista de Arte, Paisagem e Costumes Portugueses, jan/fev 1956, ano XVIII, 2ª série, nº 2.



Guiné > Comando e CCS/BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) > 26 de fevereiro de 1968 > Viagem de regresso a Bissau, atravessando as Regiões de Gabu e de Bafatá, em coluna militar, e depois de barco, a partir de Bambadinca. Até ao Xime e foz do rio Corubal ainda era região de Bafatá. Mato Cão ficava a seguir a Bambadinca, ainda no Geba Estreito (que ia até ao Xime).

A caminho de Bissau. na margem esquerda do rio Geba, no estuário do Geba, já muito depois da Foz do Rio Corubal  ficava Jabadá (foto acima) já na região de Quínara... Não era sítio onde a malta parasse, via.se apenas, de perfil, ao longe...


Foto (e legenda): © Virgílio Teixeira (2019). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]




Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá > Setor L1 > Bambadinca > CCS/BCAÇ 2852 (1968/70) > Subsetor do Xime > A temível Ponta Varela: restos do que parece ser um antigo cais acostável.

 Em 1963/65, ao tempo da CCAÇ 508 existia aqui uma tabanca e um destacamento onde morreram, em 3 de junho de 1965, quatro dos seus homens, a começar pelo seu comandante, o Capitão Francisco Meirelles, em consequência do rebentamento de uma mina. A tabanca e o destacamento foram abandonados, o PAIGC começou a partir dali a atacar a navegação no Geba, até porque em 29/1/1965 tinha perdido a posição da Ponta de Jabadá.

Foto do álbum do José Carlos Lopes, ex-fur mil amanuense, com a especialidade de contabilidade e pagadoria, especialidade essa que ele nunca exerceu (na prática, foi o homem dos reabastecimentos do batalhão).

Foto (e legenda): © José Carlos Lopes (2013). Todos os direitos reservados. (Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné).

(***) Último poste da série > 16 e julho de 2020 > Guiné 61/74 - P21172: Memória dos lugares (411): Sintra, Colares, Praia das Maçãs (Mário Gaspar, ex-fur mil at art, MA, CART 1659, "Zorba", Gadamael e Ganturé, 1967/68)

Guiné 61/74 - P21385: Historiografia da presença portuguesa em África (232): "Madeira, Cabo Verde e Guiné", de João Augusto Martins; edição da Livraria de António Maria Pereira, 1891 (4) (Mário Beja Santos)



1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 10 de Janeiro de 2020:

Queridos amigos, 

Trata-se sobretudo de muita reclamação, sentenças não faltam, veja-se uma delas, entre muitas: "A decadência política é a fonte perene de todos os nossos males; é a ela que se deve a imobilidade das nossas indústrias e da nossa instrução, a estagnação das nossas colónias e o adormecimento das nossas energias como povo". Não lhe falta azedume e comentário cruel falando de Bolama e de Bissau, isto sem pôr em causa a autenticidade dos seus comentários. Intercala com observações quase luxuriosas, uma sensualidade mal contida, encontra mulheres formosas, é como as estivesse a despir de alto a baixo. 

Não deixa de ser curioso o comentário inverídico que profere acerca da superfície da colónia, estranha-se que tenha andado a demarcar fronteiras e não se tenha apercebido da quantidade de território que nos caiu no regaço depois da Convenção Luso-Francesa e onde não púnhamos os pés, a sua grande preocupação, a sua catilinária vai para Ziguinchor, tinha razão, mas em Lisboa julgava-se que esta amputação teria a contrapartida de os Franceses nos apoiarem quanto às nossas reivindicações do Mapa Cor-de-Rosa. Estávamos enganados, Londres deu ordens para abandonarmos todos aqueles territórios entre Angola e Moçambique, a França assobiou para um lado. A diplomacia está longe de favorecer os mais fracos e não é matéria para inocentes úteis ou parvos necessários.

Um abraço do
Mário


Impressões de viagem quando a Guiné já era província, com fronteiras definidas (4)

Mário Beja Santos

O livro de viagens intitula-se "Madeira, Cabo Verde e Guiné", o seu autor é João Augusto Martins, veremos mais adiante que foi alguém influente na definição das fronteiras da colónia, a edição foi da Livraria de António Maria Pereira, 1891. É um testemunho único o que nos deixa alguém que andou a fixar fronteiras na Guiné, depois da Convenção Luso-Francesa. É extremamente crítico, se por um lado o vemos fascinado pelo feitiço africano, vai desvelando as mazelas do nosso comportamento colonial.

Vamos hoje despedir-nos deste autor de memórias que deambulou pela ilha da Madeira, escreveu abundantemente sobre Cabo Verde e dedicou 35 páginas em 270 à Guiné, ele que conhecia a colónia por lá ter andado anos atrás, a colaborara na equipa que demarcou as fronteiras. Parte de Cabo Verde muito temeroso, ou pelo menos quer que o leitor possa sentir que ele viaja para meio hostil: “Partimos da Praia para a Guiné, antevendo através do prisma da distância um país pantanoso e selvagem, povoado de perigos e minado pelas febres, onde, segundo as informações, as bexigas ostentam horrores e as biliosas faziam honras de receção, resignados e tranquilos nessa serenidade que precede sempre as grandes resoluções, mas na convicção arreigada de que se nos salvassem das azagaias dos Bijagós e dos gládios dos Mandingas não resistiríamos decerto às iras antropófagas dos Felupes, nem à desagradável impressão dos que se sentem assar nas grelhas de um meio-dia, sobre o braseiro incandescente de um sol sem brisas”.

Procede constantemente a contrapontos, do género: “Se Bissau é imundo, sombrio e miasmático, Bolama, pelo contrário, é alegre, desafogada e sadia”.

É useiro e vezeiro nas recriminações, não entende o descuido da Saúde Pública na colónia, não se cansa de dizer que a administração colonial é indolente e incompetente, e comenta, corrosivo:

“Esta província tida e mantida na nossa elaboração nacional como um depósito para onde despreocupadamente se esvazia desde há muito o lodo e as imundícies colhidas nas dragagens da nossa rotina legislativa, sob a forma militar de incorrigíveis e de devassos deportados civis, não sabemos se com o fim de lhe adubar a selvajaria, se com o fim de lhe ministrar fermentos enérgicos à dissolução; a Guiné, constituindo-se em província independente, plagiou desde logo a toilette pretensiosa da sua vizinha Cabo Verde, enfeitando-se de todas as complicações burocráticas, fazendo construir na sua capital por um risco único, destituído de toda a elegância e de qualquer vislumbre artístico, desde a igreja ao hospital. E sem pensar sequer nos preceitos mais rudimentares das construções dos climas quentes; sem se preocupar um instante das exigências mais banais para estabelecimentos daquela ordem, edificou a ferro e tijolo um edifício pesado, desprotegido de sombras, sem quartos de banho, sem casa de autópsias, sem casa mortuária, sem meios de esgoto, nem canalização de águas, e continuou a sustentar ao mesmo título esse pardieiro a derrocar-se, onde se agasalham em Bissau os desgraçados doentes que preferem morrer à sombra, mesmo em risco de desabamentos prováveis”.

Irá despedir-se do leitor no fim desta viagem à Guiné com diferentes sentenças, acima de tudo considera que a política portuguesa precisa de rever de alto a baixo o seu modo de estar e de se relacionar com o Império Colonial, começa logo a fustigar o que se passa no país e depois vai a África:

“Somos um país agrícola e a agricultura agoniza; somos um país meridional, e não temos artes, e não temos indústrias; as nossas possessões têm a administração mais complicada, mais ridícula e mais atrofiante que se possa imaginar.

Não é pela legislação nem pelas peças oficiais que se pode avaliar do seu estado; a legislação é ludibriada e as peças oficiais muitas vezes sofismam, invertem e desfiguram a verdade; não é com frases que se civilizam povos, não é com indignações que se resolvem problemas práticos, nem com protestos platónicos que se liquidam afrontas sofridas.

Segui o exemplo de Mariano de Carvalho, vinde observar com os vossos olhos o que a vossa incúria, a vossa credibilidade do vosso favoritismo têm arquitectado durante administrações sucessivas, e talvez então, sentido a vergonha pelo estado em que chegámos em África, indignados contra a corrupção e as baixezas dos afilhados que para aqui são exportados, acheis no conhecimento das coisas e dos factos, elementos com que remediar os males, redimir as faltas e precaver o futuro.

O grande inimigo que temos a recear não é a brutalidade inglesa com toda a sua sofreguidão, nem os couraçados monstros com todos os seus canhões. É a decadência a que chegaram as nossas coisas, é o desprestígio a que baixou a nossa autoridade, é o descrédito que vão sofrendo os nossos brios.
Precisamos reformar os costumes, reconstituir a política, substituir esses gabinetes deslocados de semestre em semestre, sempre esculpidos das mesmas figuras dominantes e sempre prosseguindo no problema estéril de forjar deputados para as maiorias e prebendas avultadas para os discípulos amados. Precisamos de iniciar uma orientação ultramarina sem outro ideal que não seja a Pátria, nem outro estímulo que não seja o dever; fazer convergir sobre as colónias a atenção dos homens mais dominantes. Os governadores, os juízes, o pessoal médico, todas as autoridades superiores, escolhei-as por um critério de especialização justificada, apreciando-os pelo justo valor dos serviços prestados. Combater na alta burocracia do Ultramar o enfatuamento cómico. Precisamos fazer tudo isso, se não queremos que as nações poderosas se vão apoderando impunemente do que nos pertence; se não queremos que a própria civilização, um dia, em nome do supremo direito da colectividade, tenha de nos expropriar por utilidade pública, da herança que não sabemos aproveitar… e não deixamos aproveitar aos outros”.

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Nota do editor

Último poste da série de 16 de setembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21363: Historiografia da presença portuguesa em África (231): "Madeira, Cabo Verde e Guiné", de João Augusto Martins; edição da Livraria de António Maria Pereira, 1891 (3) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P21384: Parabéns a você (1871): Tony Borié, ex-1.º Cabo Operador Cripto do CMD AGR 16 (Guiné, 1964/66)

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Nota do editor

Último poste da série de 22 de Setembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21382: Parabéns a você (1870): Carlos Arnaut, ex-Alf Mil Art, CMDT do 16.º Pel Art (Guiné, 1970/72)

terça-feira, 22 de setembro de 2020

Guiné 61/74 - P21383: Notas de leitura (1309): "O Cântico das Costureiras", de Gonçalo Inocentes (Matheos) - Parte III (Luís Graça): a conquista da Ponta de Jabadá, em 29/1/1965, importante posição na defesa do rio Geba

 


Guiné > Região de Quínara > Ponta de Jabadá > CCAÇ 423 > 1965  > O alf mil médico Serpa Pinto, natural do Porto, "à entrada do seu apartamento"... Vê-se que o destacamento foi feito com as ruínas do antigo entreposto comercial, florescente até ao início da guerra.

 


Guiné > Região de Quínara > Ponta de Jabadá > CCAÇ 423 > 1965  > "Uma pausa: o dr, Serpa Pinto a ajeitar o banco [, à esquerda]; a seguir o alferes Alcides Pereira, comandante da força; eu e à frente com óculos o furriel João Vaz"
"
 


Guiné > Região de Quínara > Ponta de Jabadá > CCAÇ 423 > 1965  > "Sessão de consultas à população local. A tomar notas o [furriel]  enfermeiro Machado, e logo atrás o doutor S[erpa] Pinto" (*)

Fotos (e legendas): © Gonçalo Inocentes (2020) Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Continuação da apresentação do último livro do Gonçalo Inocentes (Matheos), membro nº 810 da nossa Tabanca Grande: foi fur mil at cav, CCAÇ 423 e CCAV 488 / BCAV 490, de rendição individual (1964/65), tendo passado por Bissau, Bolama, S. João, Ponta de Jabadá, e Jumbembem... Nasceu em 1940, em Nova Lisboa (hoje, Huambo, Angola). Está reformado da TAP e vive em Faro. (*).


Capa do livro de Gonçalo Inocentes (Matheos), "O Cântico das Costureiras: crónicas de uma vida adiada, Guiné, 1964/65" (Vila Franca de Xira, ModoCromia, 2020, 126 pp, ilustrado).

É um livrinho despretensioso, com mais fotos do que texto, mas que tem o mérito de nos fazer desfilar uma série de situações que todos conhecemos no TO da Guiné, no mato, fosse no Norte, no Leste ou no Sul.

Por exemplo, a evocação do médico que, se calhar, nem todos conheceram tão intimamente como a malta da CCAÇ 423. Estamos no início da guerra, em que cada companhia ainda tinha um médico!... Um luxo!... 

Recorde-se que, no meu tempo (1969/71), haveria (, quando havia!) um médico por batalhão. E que ficava no "bem bom" da sede do batalhão, a trabalhar na "psico",  nunca ou raramente saindo para o mato em operações... Era mais médico "civil" do que "militar",,, O mesmo se aplicava ao furriel enfermeiro... (Estamos a falar do tempo de Spínola, em que aumentaram os efectivos militares e o país não tinha médicos  suficientes para mandar para a guerra; por outro lado, a política "Por uma Guiné Melhor" absorvia uma grande parte dos recursos  sanitários das Forças  Armadas.)

Aqui, nesta época,  no tempo ainda da malta do caqui amarelo, há um médico para cada 150/160 homens (=1 companhia), e que dorme no mato, nos mesmos buracos dos "infantes"... E participa em operações, como a conquista da Ponta de Jabadá!

Para poder escrever este livrinho, a vantagem do Gonçalo Inocentes, em relação a muitos de nós, é que tinha um máquina fotográfica Minolta 16 mm Spy que cabia no bolso do camuflado e que levava para o mato. Além disso, tinha um bloco de notas e o hábito saudável de ir tomando notas.. 

Alguns de nós tinham um diário, mas ao fim de seis meses (que era o tempo de provação da "periquitagem"), deixavam de escrever por lassidão, cansaço, exaustão, falta de disciplina... Outros anotavam nas cartas e aerogramas o seu pequeno dia a dia, incluindo a atividade operacional... Enfim, de uma maneira ou de outra, todos temos "pequenos apontamentos" da nossa passagem pelo inferno que foi a Guiné...

Nalguns casos, como o deste livrinho, são "flashes", relampejos da memória, que vêm contribuir, e em muito,  para o preenchimento dos buracos do "puzzle" da nossa memória... 

Por exemplo, quem é que sabia da história da Ponta de Jabadá onde o PAIGC até ao início do ano de 1965 era "rei e senhor", impondo ali o terror à navegação no Geba ?!... 

Quando lá passei, ao largo, em LDG, no dia 2 de junho de 1969,  o nosso medo era a Ponta Varela,  logo a seguir, passada a foz do Corubal, já no Geba Estreito, antes de se aportar ao Xime... (Os barcos civis, ou "barcos-turra", que prosseguiam até Bambadinca tinham, no Geba Estreito, outro temível ponto de passagem que era o famigerado Mato Cão onde se podia, da margem direita,  lançar uma granada de mão para o meio do rio.)

Jabadá ?... Já ninguém se lembrava em 1969,,,

Explica o autor:

"Depois de várias operações infrutíferas à Ponta de Jabadá, os barcos que navegavam no rio Geba, o que banha Bissau, contibuaram a ser castigados vom fogo do IN a partir dali. Da Ponta." (p. 76)

Foi por isso que os "maiores" de Bissau decidiram ocupar  a dita Ponta (que outrora lterá sido uma bela horta de um algum colono cabo-verdiano). Com "um pelotão reforçado" (!), as NT foram mandadas ocupar o "antigo entreposto comercial". 

A força era comandada pelo capitão Monroy, e tinha o apoio de uma fragata [, o autor queria dizer:LFG - Lancha de Fizcalização Grande] da Marinha, postada em frente, no Geba. (Este capitão Monroy  [Garcia] devia ser o oficial de informações e operações do BCAÇ 599.]

"Fomos comandados pelo alferes Alcides Pereira e pela primeira vez foi também o médico, dr. Serpa Pinto, e o furriel enfermeiro Machado" (p. 76).

Ficamos a saber que:

"Jabadá era como que uma ilha. Rodeada a Sul pela grande bolanha, e  Norte pelo rio Geba" (...). 

Mas a fragata [leia-se: LFG]  foi chamada a Bissau, para algum assunto mais urgente do que a guerra (, vá-se lá saber o quê e o porquê), e rapaziada passou a ser "bombardeada diariamente ao cair da noite" (p. 77). Jantava-se às 18h e recolhia-se aos "abrigos" às 19h.

Depois foram "40 dias de trabalho intenso", a construir abrigos "à prova de morteiro": com troncos de cibe, terra, e em cima uma camada de adobe. "De dia o trabalho e de noite o infeno"... Virá depois um reforço, um pelotão da CCAÇ 508, comandada pelo alferes Ferreira,

Pormenor delicioso é a foto (, infelizmente em miniatura) do ten cor [Carlos Barroso] Hipólito, comandante do batalhão [BCAÇ 599,]  sediado em Tite, a atravessar o tarrafe às costas de um soldado, depois da gloriosa conquista da Ponta de Jabadá, em 29 de janeiro de 1965 (. precisamente no dia em que eu fiz 18 anos e dava o nome para a tropa)...  

Em suma, o senhor tenente coronel não podia molhar o pezinho,,,

O Gonçalo Inocentes presta depois homenagem ao médico e ao enfemeiro que ficaram no destacamento. Do médico ele diz:

(...) "Ele é o anjo da guarda de todos os dias. (...) A relação de todos com o médico, ali o dr. Torcato Adriano Serpa Pinto, homem do Porto, era de filhos para pai.  O carinho era mútuo" (p. 86).

Teve por isso, direito a um abrigo exclusivo, especial e seguro;

"No destacamento em Jabadá, o abrigo pessoal do doutor era mesmo a dois passos do rio Geba e por isso ele não dormia- Temia uma aproximação a coberto da noite pela margem do rio e o lançamento de uma granada para o sítio onde morava".

Qual foi a solução para pôr o médico "a dormir bem", o que era fundamental para que todos dormissem bem ? A ideia  foi do fur mil Inocentes: "construir duas defesas paralelas rio adentro, que fizessem de anteparo o abrigo do doutor"... Cercado "de arame farpado à semelhança do Rommel nas costas da Normandia", o dr. Serpa Pinto nunca mais teve insónias  nem pesadelos (p. 86). 

É uma bonita história de homenagem e de gratidão aos nossos médicos... (**)

(Contnua)

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Notas do editor:

(*) Vd., postes anteriores:


Guiné 61/74 - P21382: Parabéns a você (1870): Carlos Arnaut, ex-Alf Mil Art, CMDT do 16.º Pel Art (Guiné, 1970/72)

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Nota do editor

Último poste da série de 21 de Setembto de 2020 > Guiné 61/74 - P21378: Parabéns a você (1869): Cor Art Ref Alexandre Coutinho e Lima (Guiné, 1963/65; 1968/70 e 1972/73); Maria Teresa Almeida, Amiga Grã-Tabanqueira de Lisboa e Raul Albino, ex-Alf Mil da CCAÇ 2402 (Guiné, 1968/70)

segunda-feira, 21 de setembro de 2020

Guiné 671/74 - P21381: Notas de leitura (1308): “Henda Xala”, de Abílio Teixeira Mendes; Círculo de Leitores, 1992 (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 23 de Agosto de 2017:

Queridos amigos,

Creio que o primeiro médico a escrever literatura de guerra foi António Lobo Antunes, com o seu inultrapassável "Os Cus de Cudas", no início dos anos 1980. E se não erro foi Abílio Teixeira Mendes o segundo estreante, com este primoroso romance, hoje injustamente esquecido. Na análise que Rui de Azevedo Teixeira fez do seu livro ressaltou a figura do anti-herói, aquele alferes médico, Doc, não dá o peito às balas, não descreve mil e um calvários na vida de ermitão em destacamentos longínquos, não pede qualquer glorificação. Pelo contrário, sai de Lisboa com muitas poucas amarras, e di-lo corajosamente, regressa quase um apátrida, mas inebriado com os esplendores da terra angolana. 

No entrementes, o leitor vai ter acesso a todas as farras e bródios da vida noturna angolana, a todos os bons comes, o autor não perdeu tempo a limpar espingardas, usou até não mais poder, e di-lo sem baixar os olhos com falsa pudicícia. 

Um abraço do
Mário



Henda Xala (fica a saudade) por Abílio Teixeira Mendes

Beja Santos

Abílio Teixeira Mendes
É matéria consabida, sobre a mesma o juízo é consensual, não houve dois teatros de guerra em África com caraterísticas vincadamente semelhantes, daí a prudência em não universalizar as temáticas, os enredos, as próprias encenações da guerra. Dito de outro modo, há sempre distinções profundas nas literaturas de guerra, na Guiné, Angola e Moçambique. 

Contudo, para além de não ser viável comparar o incomparável, uma infinitude de situações aproxima todos os combatentes. Sem querer ser exaustivo: as saudades, o choque da aculturação, a expetativa da chegada do correio, a pedra de gelo que dispara na garganta quando explode o fornilho ou a emboscada, a tensão noturna, a permanente queixa com a alimentação, as febres, o paludismo, o senhor medo.

Não é meu propósito ensaiar um processo de literatura comparada, a Guiné é a questão fulcral da minha investigação. Mas não deixo o crédito por mãos alheias a leitura de obras que se revelam importantes pela narrativa, pela inovação da trama, pelas mexidas e remexidas na construção literária, pela marcada singularidade do autor face aos seus destinatários. 

Tenho para mim que “Henda Xala” de Abílio Teixeira Mendes, Círculo de Leitores, 1992, é uma obra imerecidamente esquecida, se bem que investigadores como Rui de Azevedo Teixeira tenham exaltado o sopro de frescura deste romance de Teixeira Mendes.

Abílio Teixeira Mendes morreu precocemente. Licenciou-se em Medicina e ainda estudante deu prova de militância nas organizações académicas e foi ativista das greves ocorridas em 1962. Entre 1967 e 1970 cumpriu o serviço militar como alferes médico, em território angolano. Após a desmobilização, ingressou no Serviço de Pediatria do Hospital de Santa Maria. Além deste seu romance publicou em 1987 um volume de contos: Coisas de África. Arquive-se.

Finda a leitura, fica-nos a convicção que esse alferes médico amou desmedidamente Angola. Na organização da sua narrativa, escolhe como nascente a passagem pela Escola Prática de Cavalaria em Santarém, onde fez aprendizagem militar. Logo, para que o leitor não escape à evidência, marca distâncias sobre a natureza da corporação: 

“O seu ídolo era um major pequeno e magrinho, um rato Mickey que aparecia nos momentos mais desconchavados, olhando os cadetes com manifesto desprezo, e abandonava a cena sem responder às saudações. No seu capote azul, nos olhitos vivos, no rosto moreno, nos lábios pinçados num esgar de amargura, pairava a maldição de um frade-guerreiro, sem uma gota de humanidade. Mesmo o temido comandante de esquadrão se vergava perante ele. Era a consubstanciação daquele terrível militar das bandas desenhadas, sem saudades, sem compaixão, sem amor, sem mulher nem amante, sem legítimos nem bastardos, sem anda para além daquele desentranhado amor à Cavalaria”

E dá conta do seu estado de alma e de quem com ele ali convive: 

“Veterinários e farmacêuticos a beirar os 40 anos, médicos de aldeia e chalengers a professores catedráticos, fardas a faltar aqui e a sobrar além, perfilavam-se, angustiados, enquanto o capitão percorria as fileiras murmurando ‘botas’, ‘barba’, ‘cabelo’ e o cabo miliciano, em seguida, soprava ao pescoço ‘número’. De humilhação em humilhação, a resistência dos nossos cadetes ia quebrando”

Teixeira Mendes lembra muita gente daquele seu curso, discorre da atmosfera do quartel até à sua casa, à sua família, ao círculo de amigos, à Pátria.

Embarca, não perde tempo com muitas observações, já está em Luanda, ao princípio é tudo novidade e paródia, descobrem-se mulheres, cabarés, bons repastos, e vai-nos crescendo a intuição de que naquele caldeirão luandense há muita gente ligada à guerrilha. 

Para quem dúvida deste amor desalmado a Angola, tome-se o discurso que se vai tornando cada vez mais luso-angolano, desordenadamente, nem o glossário constituído pelo autor é suficiente para acabarmos uma qualquer página suficientemente esclarecidos, porque há xingos (ralhos), calcinhas (forma depreciativa de designar os assimilados), biaque ou cangundo (formas insultuosas de designar o branco), monandengue (criança), mangonha (preguiça), malanginhos (designação semi-irónica para os habitantes de Malange), mutopas (espécie de cabaças por onde se fuma), tonga (plantação de café), barona (garota de costumes livres mas não propriamente prostituta, essa é uma quitata). 

Dá-nos quadros muito impressivos da vida airada em Luanda, dos vínculos fortes e fracos da vida social, o leitor submerge na versatilidade de todos aqueles usos e costumes. Ficamos a saber que os mufete é peixe assado nas brasas e que o melhor são os mufete de cacusso, um peixe com mais espinhas que o sável, mufete que deve se comer com a polpa do peixe a esmagar-se num jindungo amassado com sal, a moda de Dalatando, ou azeitando-se com dendém, sente-se a heresia de chamar peixe grelhado a essa iguaria de deuses.

Há aqui qualquer coisa de Jorge Amado nos arrebatamentos amorosos, a Lu deixa-o pelo beicinho. Mas a vida no batalhão também está carregada de peripécias e Teixeira Mendes não perde pitada de trazer o humor à conversa militar:

“- Cada um tem o inimigo que merece – suspirou o Marcelino.
- Se o camarada citasse menos Lenine e cuidasse melhor da sua companhia, talvez a guerra tivesse já acabado – comentou o capitão de operações.
- Quando o camarada quiser saber como eu dirijo a minha companhia, venha para fora do Grafanil. Há de ir ao meu lado, mas, se fizer obséquio, traga um camuflado velho porque com esse que vai levar amanhã, tão vivinho, sem uma chapada de lama, dá um rico alvo e eu não me responsabilizo”.


É um alferes médico que escreve na terceira pessoa do singular, é o Doc, e nada mais, despretensioso, anti-herói. Já estamos na guerra, há colunas, minas e armadilhas, gente que merece nomes depreciativos como o Mirandinha Espalha-Merda, os nomes dos quartéis mal são enunciados, a significação da guerra mal passa pelos dizeres da carta geográfica, o mais importante é não fazer esquecer que a guerrilha, mesmo fragilizada, está ali ao pé da porta, que há aspetos divertidos nas relações humanas que se entabulam, como aquela condessa que vive lá no fundo da mata. 

Inevitavelmente, há as perdas, dentro da contabilidade dos imprevistos, assim vai girando Doc pela sua tão atribulada comissão, regressa sorumbático, em desnorte, vacilante, não sabe a que terra pertence, a família a que regressa pouco lhe diz, foi à guerra, divertiu-se à grande, fez hospital na cidade e em campanha, conheceu o horror. Regressa apátrida e cheio de saudades. É preciso ler esta obra primorosa do princípio ao fim para perceber o seu título: “Henda Xala”.

Bem merecia ser reeditado, este primoroso romance.
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Nota do editor

Último poste da série de 14 de setembro de 2020 > Guiné 671/74 - P21359: Notas de leitura (1307): "Admirável Diamante Bruto e outros contos", por Waldir Araújo; Livro do Dia Editores, 2008 (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P21380: (In)citações (169): Onde esteve a Cruz Vermelha Portuguesa durante a guerra colonial / guerra do ultramar / guerra de África ?







1. Onde esteve a Cruz Vermelha Portuguesa durante a guerra colonial / guerra do ultramar / guerra de África ?

O camarada António J. Pereira daCostra, cor art ref, comentou (*):

(...) "Nunca dei pela acção da secção feminina (ou masculina) da Cruz Vermelha Portuguesa, mas admito que tenha apoiado os feridos, os deficientes e os prisioneiros... Como? Não sei. Admito que as suas missões fossem discretas, se não mesmo "secretas" (no caso dos prisioneiros)... Era interessante esclarecer esta questão e qual a atitude do Governo para com ela.(..)

Na Internet também não encontrámos grande coisa... Pode ser que algum dos nossos leitores traga mais alguma achega...Meio século depois do fim da guerra,  os portugueses devíamos ter direito a saber algo mais sobre este assunto... 

Enfim, temos de quebrar o silêncio dos arquivos:

(...) "Para mais informações sobre a história da Cruz Vermelha Portuguesa e assuntos relacionados, bem como para marcação de visitas aos nossos arquivos, contacte directamente o nosso Serviço Histórico-Cultural pelo email biblioteca@cruzvermelha.org.pt (...)


Cruz Vermelha Portuesa (CVP) - História

Por nomeação do Rei D. Luís I, o médico-militar José António Marques [1822-1884] representou Portugal na Conferência Internacional realizada em Agosto de 1864, em Genebra.

Nesta reunião, deliberava-se sobre a neutralidade "das ambulâncias e dos hospitais, assim como do pessoal sanitário, das pessoas que socorressem os feridos e dos próprios feridos no tempo de guerra.”

Portugal foi, assim, um dos 12 países que assinou a I Convenção de Genebra de 22 de Agosto de 1864, destinada a melhorar a sorte dos militares feridos dos exércitos em campanha.

Regressado a Portugal, José António Marques organizou, a 11 de Fevereiro de 1865, a "Comissão Portuguesa de Socorros a Feridos e Doentes Militares em Tempo de Guerra", primitiva designação da Cruz Vermelha Portuguesa.

No ano seguinte, o Professor Doutor José Maria Baldy (General) daria início à primeira presidência da nossa instituição.
 
Ao longo da sua história a Cruz Vermelha Portuguesa prestou auxílio em todas as guerras e grandes catástrofes que Portugal esteve envolvido. Prestou também auxílio internacional em situações de catástrofes e guerras no estrangeiro.

Fonte: Adapt. de
Cruz Vermelha Portuguesa: breve hostorial


Hospital Cruz Vermelha (HCV)

Inaugurado em 1 de Fevereiro de 1965, teve a sua génese no Hospital de Santo António da Convalescença ou Casa de Saúde de Benfica, mandada construir pela Cruz Vermelha Portuguesa para dar resposta na avaliação, diagnóstico e tratamento dos doentes com graves ferimentos sofridos na guerra colonial, desenvolvendo as áreas da traumatologia e neurocirurgia.

Sempre na vanguarda da prestação clínica o Hospital da Cruz Vermelha, em 1981, inaugurou a Clínica de Hemodiálise e a primeira Unidade de transplante renal, realizando os primeiros transplantes renais e de fígado do país.

Em 1985, o Hospital da Cruz Vermelha passou a dispor de um TAC, que veio contribuir para a melhoria do diagnóstico em várias especialidades clinicas.

Em 1998 o Hospital da Cruz Vermelha foi objeto de profunda reestruturação e modernização.

Continuando desde sempre a apostar nas tecnologias mais avançadas e na inovação técnica dos seus recursos humanos o Hospital da Cruz Vermelha é hoje uma unidade hospitalar de referência a nível nacional.

Fonte: Hospital da Cruz Vermelha


O MNF e CVP


(...) O Movimento Nacional Feminino, dirigiu a acção para os militares activos nos teatros de operações; a secção da Cruz Vermelha Portuguesa dedicou-se principalmente ao apoio aos militares feridos e estropiados, cujo número aumentava e para os quais não havia sistema nem de recuperação nem legislação aplicável. 

Os dois movimentos aproveitaram as boas relações das suas dirigentes com o apoio do regime para incentivar a publicação de leis e normas correctoras de erros e injustiças administrativas, entre as quais se contava a alteração à situação dos feridos em combate, conseguindo que estes não perdessem direito aos vencimentos e aos subsídios de campanha quando evacuados para os hospitais centrais; a revisão das pensões dos deficientes militares, que era regulada ainda pelas normas da 1ª Guerra Mundial; o apoio às famílias dos mortos, que permitindo que os corpos dos mortos fossem trasladados para as terras de origem destes, sem qualquer custo para as famílias; e ainda a legislação de apoio aos militares estudantes.(...)

Fonte: Universidade de Coimbra > Centro de Documentação 25 de Abril

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Nota do editor:

(*) Vd. poste de 21 de setembro de  2020 > Guiné 61/74 - P21379: (In)citações (168): Por favor não misturem as instituições, o Movimento Nacional Feminino e a Cruz Vermelha Portuguesa (José Belo, régulo da Tabanca da Lapónia)

Guiné 61/74 - P21379: (In)citações (168): Por favor não misturem as instituições, o Movimento Nacional Feminino e a Cruz Vermelha Portuguesa (José Belo, régulo da Tabanca da Lapónia)



Logo da CVP. Cortesia da Wikipedia


1. Mensagem de José Belo, régulo da Tabanca da Lapónia:

 
Date: domingo, 20/09/2020 à(s) 07:24
Subject: Cuidados a serem usados quanto a misturas de instituições


Caro Luís:
 
Dentro do espírito do texto "Não há só dinossauros na Lourinhã "...

Deverá haver cuidados vários quanto a não misturar, ou mesmo associar, o Movimento Nacional Feminino com a Cruz Vermelha Portuguesa. (*)

A criação, estatutos, objetivos, em muito ultrapassavam, e felizmente ainda hoje ultrapassam, a criação e os objetivos do MNF [, Movimento Nacional Feminino].

O MNF,  criado com o fim de propagandear e apoiar o esforço de guerra de um regime. No período referido, um regime retrógrado de ditadura.

Muito se pode debater a figura (carismática?) da Senhora de Supico Pinto e os seus passeios pela Guiné. Assunto certamente tão interessante para as novas gerações como (ou menos),as descrições  de dinossauros.

Para os que "viveram" a guerra da Guiné, quase escreveria os "dinossauros", colocam-se as seguintes perguntas:

(i) Por muito boas que fossem as intenções dos passeios da Senhora de Supico Pinto, quais os seus resultados práticos?

(ii) Quais as melhorias reais obtidas para o dia a dia dos militares visitados?

Certamente que algumas "plumas coloridas" terão adornado as folhas de serviço dos militares organizadores, acompanhantes, e não menos dos  (alguns!) de...alta-graduação.
 
Quanto ao resto lá caímos nas ...Caridadezinhas! (**)

Um abraço,

J. Belo

2. Comentário anterior do editor LG (*):


Temos falado aqui do papel, mais "mediático",  do Movimento Nacional Feminino (que teria, no seu auge, cerca de 80 mil mulheres inscritas), no apoio psicossocial aos combatentes e suas famílias... 

Papel que numa fase inicial (, com o início da guerra em Angola), substituiu a instituição militar nesse apoio,,,, O Exército não tinha pessoal especializado para exercer essas tarefas... Parece que fomos todos apanhados com os "acontecimentos de 1961", quando havia sinais por todo o lado de que o "terrorismo", a "subversão", os "ventos da história", o "nacionalismo" dos povos africanos e asiáticos, o "anticolonialismo", etc,.também chegariam à(s) nossa(s) porta(s)...

Mas temos ignorado a secção feminina da Cruz Vermelha Portuguesa, que apoiou sempre os feridos, os deficientes e os prisioneiros... Esta instituição teve menos visibilidade na comunicação social...E as suas missões eram mais discretas, se não mesmo "secretas" (no caso dos prisioneiros)...

A Cecília Supico Pinto ocupou a ribalta, ofuscou o papel, discreto mas valioso, de outras mulheres... Por analogia com o "eucalipto", poder-se-ia dizer que secou tudo à sua volta... E no entanto irá criticar, no fim da sua vida, a sua biógrafa por falar "excessivamente" da Cilinha... Autocrítica serôdia ?!...

3. Comentário de António J. Pereira da Costa:

Olá,  Camaradas

Mesmo estando a "gastar cera com ruins defuntos", venho recordar que o Movimento Nacional Feminino nunca teve nem no seu auge, nem no sei fim cerca de 80 mil mulheres inscritas.
Se assim fora,  a sua acção teria sido mais eficaz e visível.

No apoio psico-social aos combatentes e suas famílias os resultados foram pobres, como se sabe. Talvez numa fase inicial (no início da guerra em Angola), tenha substituído a instituição militar, mas pontualmente.

O Exército não tinha pessoal especializado para exercer essas tarefas (e nunca teve), mas o MNF também se "desgastou" depressa. Meios materiais também eram escassos e, sendo caros... era necessário embaratecer a guerra, como sabemos.

Fomos todos apanhados com os "acontecimentos de 1961", quando havia sinais por todo o lado de que o "terrorismo", a "subversão", os "ventos da história", o "nacionalismo" dos povos africanos e asiáticos, o "anticolonialismo", etc,.também chegariam à nossa porta...
É isto que é indesculpável, mas foi assim!

Nunca dei pela acção da secção feminina (ou masculina)  da Cruz Vermelha Portuguesa, mas admito que tenha apoiado os feridos, os deficientes e os prisioneiros... Como? Não sei. Admito que as suas missões fossem discretas, se não mesmo "secretas" (no caso dos prisioneiros)... Era interessante esclarecer esta questão e qual a atitude do Governo para com ela.

A Cecília Supico Pinto ocupou a ribalta, ofuscou o papel, discreto mas valioso, de outras mulheres(?)... Quais?

Pelos apoios de que dispunha e pela necessidade do Regime se mostrar apoiado pelas "mulheres portuguesas", foi sempre apresentada como exemplo a seguir, numa manobra de propaganda, pura e simples, que não teve qualquer resultado palpável.

Quem não a viu ou não sentiu a sua acção (a grande maioria), só se deixou enganar com a manobra se desistiu de observar.

Como, já disse, cumpriu o seu papel histórico e nada mais.

4. Comentário de Manuel Carvalho (*):

Caros camaradas,

Um amigo da Tabanca de Matosinhos e do meu Batalhão que foi ferido e passou algum tempo no Hospital Militar em Bissau diz que a Dona Maria Helena Spínola que era a Presidente da Cruz Vermelha na Guiné e nessa qualidade ia muitas vezes ao Hospital visitar os doentes e levava revistas, tabaco, livros e ia perguntando pelos problemas de cada um e ele como tinha sido evacuado por ferimentos estava sem dinheiro, não demorou muitos dias a aparecer lá o 1º Sargento da Companhia e levar-lhe algum dinheiro. 

Todos sabemos que alguns prisioneiros foram libertados por ação da Cruz Vermelha e esta Senhora terá tido alguma influência nisso certamente. 

Estas duas Senhoras, cada uma com o seu estilo,  tiveram na minha opinião uma atividade muito importante no sentido de minorar o sofrimento,  principalmente das nossas Praças que ganhavam miseravelmente mal e qualquer ajuda por pequena que fosse era sempre bem vinda daí a popularidade da Dona Cecília.

Guiné 61/74 - P21378: Parabéns a você (1869): Cor Art Ref Alexandre Coutinho e Lima (Guiné, 1963/65; 1968/70 e 1972/73); Maria Teresa Almeida, Amiga Grã-Tabanqueira de Lisboa e Raul Albino, ex-Alf Mil da CCAÇ 2402 (Guiné, 1968/70)



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Nota do editor

Último poste da série de 15 de setembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21360: Parabéns a você (1868): Manuel José Ribeiro Agostinho, ex-Soldado Radiotelegrafista da CCS/QG/CTIG (Guiné, 1968/70)

domingo, 20 de setembro de 2020

Guiné 61/74 - P21377: Fotos à procura de... uma legenda (131): a borboleta Almirante-vermelho europeu (Vanessa atalanta)...que, para fugir do frio, chega a percorrer distâncias até 2 mil quilómetros









Marco de Canaveses > Paredes de Viadores > Candoz > Quinta de Candoz > Vindimas > 19 de setembro de 2020 > Borboleta diurna, Almirante-vermelho (Vanessa atalanta) (Linnaeus, 1758),  da família dos ninfalídeos, com asas castanhas, com manchas pretas, alaranjadas e brancas...
 
É um extraordinário insecto que desafia todas as leis da natureza e sabe defender-se dos predadores... Aprendamos com a Vanessa atalanta...

Fotos (e legenda): © Luís Graça (2020). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. No meio das vindimas, aqui na Tabanca de Candoz, e depois das chuvas matinais de ontem, "cacei" (com a máquina fotográfica...) esta borboleta que, não o sabia, se chama "Almirante-vermelho" (devido às suas cores que fazem lembrar as divisas dos marinheiros norte-americanos).

Leia-se na Wikipedia:

(...) O Almirante vermelho europeu (Vanessa atalanta) é uma borboleta da família Nymphalidae encontrada em regiões temperadas da Europa, Ásia e América do Norte. (...=  Medindo cerca de 6,5 centímetros esta espécie durante o frio migra para lugares mais agradáveis chegando a percorrer mais de 2000 km a procura de um ambiente melhor para sua sobrevivência. Voador poderoso desloca-se até mesmo durante a noite.

Esta é uma das maiores borboletas da América do Norte e Europa. Esta presente na Europa meridional, no Norte de África e na Ásia. Recentemente foi introduzida em várias regiões, desde o Canadá ao Hawai e à Nova Zelândia. Em Portugal é bastante frequente podendo ser observada em todo o País.

Os adultos preferem espaços abertos com flores, bosques, prados, jardins e florestas pouco densas. É mais frequente nas zonas baixas, mas pode ser encontrada nas regiões costeiras e no topo da Serra da Estrela.

Esta espécie usa técnicas de camuflagem para escapar de seus predadores. Quando pousa em campo aberto e em rochas mantém suas asas fechadas ficando camuflada devido às cores da face inferior das asas. Quando pousa em locais de flores mantém suas asas abertas confundindo os predadores com o colorido da paisagem.

Alimentam-se de folhas de urtiga, pequenas lagartas, néctar de flores e partes de frutas em decomposição. (...).

2. Fico também a saber, através do portal Wilder:

(...) Mundialmente, estima-se que há entre 160.000 a 175.000 espécies, tanto borboletas diurnas como nocturnas, todas elas agrupadas na ordem dos lepidópteros.

Em Portugal, tal como no resto do mundo, a esmagadora maioria das borboletas são nocturnas, com cerca de 2.600 espécies inventariadas. Já o pequeníssimo grupo das diurnas representa à volta de 135 espécies. (...)


3.  Comentário do editor LG:

Amigos e camaradas da Guiné, tiro o chapéu à Vanessa!...

Como é que uma borbolea, que tem uma esperança média de vida de escassos meses, consegue uma proeza destas: voar 2 mil quilómetros, incluindo de noite, camuflar-se, despistar os seus inimigos, reproduzir-se e adaptar-se aos quatro cantos do mundo, em países de clima temperado (, não, não existe nos países tropicais, como a Guiné-Bissau, e  também não deve ser visita da Tabanca da Lapónia)...

Esta, que ontem apanhei, numa das nossas videiras, em plenas vindimas, devia estar "cansada": tinha acabado de chover, veio um sol radioso, ela posou numa parra de uva, abriu as asas para relaxar (mas expondo-se, ao mesmo tempo, aos gaios, rouxinóis, andorinhas, etc.)...

Tive tempo de lhe tirar mais de uma dúzia de fotos e de até de fazer um vídeo (que não ficou grande coisa)...Aproximei, até 10/20 cm, a objetiva... Ela devia estar mesmo exausta...Por fim, ganhou fôlego e alento e se calhar partiu para a terra dos mouros, mais a Sul, onde as temperaturas são mais altas... Quiçá, voou para a minha terra, Lourinhã, a 350 quilómetros daqui... Hoje já não a encontrei, apesar de percorrer os camp9s, de muleta numa mão e máquina na noutra!... Como cão por vinha vindimada... (Que tristeza, que nostalgia, a vinha depois de ser vindimada!)...

Há por aqui muito inseto, o que faz as delícias das nossas andorinhas que há várias gerações nidificam na Tabanca de Candoz e têm a "morança", o ninho, mais original que eu até agora vi, uma verdadeira obra-prima de "arquiteto"... Há a igreja do Siza Veira na sede do concelho e o nosso ninho de andorinhas, na Quinta de Candoz...

Fico fascinado por estas pequenas criaturas que nos dão lições de vida!

Guiné 61/74 - P21376: Blogues da nossa blogosfera (140): Jardim das Delícias, blogue do nosso camarada Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 (51): Palavras e poesia


Do Blogue Jardim das Delícias, do Dr. Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547/BCAÇ 1887, (Canquelifá e Bigene, 1966/68), com a devida vénia, reproduzimos esta publicação da sua autoria.




 GUERRA NA GUINÉ (PEQUENAS MEMÓRIAS)

ADÃO CRUZ

A Minha Chegada e os Primeiros Três Meses


O velho Uíge atracou em Bissau no dia 13 de Maio de 1966. Entrámos dentro do forno da cidade. Aí aguardei um mês até ao meu destacamento para o mato. Eu e o meu colega e amigo Gomes Pedro, hoje professor catedrático da Faculdade de Medicina de Lisboa e Director do Serviço de Pediatria do hospital de Santa Maria. Ele seguiu para Cuntima, no norte da Guiné, perto da fronteira do Senegal, e eu embarquei para Canquelifá, no leste, próximo da fronteira com a Guiné-Conackry.



Um velho Dakota levou-me até Bafatá. Dentro do avião, além de mim, ia o piloto, o co-piloto que tinha meia cara feita numa cicatriz, uma mulher negra sentada sobre o caixão do filho e um capitão que eu não conhecia de lado nenhum. Este capitão desembarcara momentos antes no aeroporto de Bissalanca, vindo do Porto, e seguia directamente para o mato. Confessou-me que transportava consigo alguma angústia, pois deixara para trás mulher e nove filhos. Três meses depois encontrámo-nos em Begene, no norte. Reconhecemo-nos e tornámo-nos muito amigos. Era o capitão Brito e Faro. De Bafatá segui numa Dornier (foto) até Canquelifá, fazendo uma curta escala no Gabu-Sara, pequena povoação chamada cidade de Nova Lamego. Permaneci em Canquelifá durante o terceiro trimestre de 1966. Muitas coisas boas e más aconteceram durante esse tempo. Relatá-las levava um livro. Na foto o “corpo clínico”. Eu, o meu furriel enfermeiro Alvim e maqueiros.



Como sempre gostei muito de crianças, deixo aqui apenas três momentos como referência das coisas boas dessa minha estadia, e que são três pequeninos poemas dentre os muitos que em mim floriram nesse tempo.


Fátima Demba, a minha companheira de todos os dias.


Este miúdo, cujo nome já se me escondeu no fundo da memória, percorria semanalmente cerca de vinte quilómetros pelo meio do mato, para me vir consultar, trazendo-me sempre uma velha lata com meio litro de leite. Tinha um fígado do tamanho da barriga.



Os dois gémeos filhos do Anso, dois enternecedores bebés que me preencheram alguns momentos de solidão. O Anso era chefe da milícia integrada na nossa companhia. Emprestava-me, muitas vezes, uma velha espingarda de carregar pela boca, para eu caçar uns patos na bolanha. Constou-me que fora fuzilado após a independência.
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Nota do editor

Último poste da série de 13 de setembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21356: Blogues da nossa blogosfera (139): Jardim das Delícias, blogue do nosso camarada Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 (50): Palavras e poesia

Guiné 61/74 - P21375: Blogpoesia (697): "Passos perdidos", "O abraço" e "O convite", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

1. A habitual colaboração semanal do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) com estes belíssimos poemas, enviados, entre outros, ao nosso blogue durante esta semana:


Passos perdidos

A caminhada mal calculada origina erros e perdas de tempo irreparáveis.
Quando não é a própria vida.
Escolher sempre segundo a nossa aptidão é a condição básica.
Todos temos nossas tendências naturais.
Aquilo onde somos mais capazes.
Aí, é mais provável o sucesso.
Pelo menos o pessoal.
Cada faz como sabe e pode fazer.
Daí a variedade de ofertas.
E a riqueza da convivência.
Poder escolher onde bater à porta com vista a ser melhor servido.
É notória a existência de frustrados sentados por essas cadeiras do poder.
A todos os níveis.
Servem mal.
Lesionam sempre o bem-comum...


Berlim, 16 de Setembro de 2020
10h38m
Jlmg


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O abraço

A força dum abraço
Dois braços que se abraçam pondo fim a uma ausência.
Dois braços que selam o começo duma nova vida.
Acabam bem o que começou mal.
Somam forças para um novo projecto.
Dois caminhos que se cruzaramo para bem duma união.
E, muitas vezes, são a porta duma nova ausência.
Quantas contrariedades poderiam ter-se evitado com um simples abraço na hora exacta.
Sempre abraçada deve permanecer a humanidade.
Só assim será fraterna e justa.


Berlim, 18 de Setembro de 2020
7h47m
Jlmg


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O convite

Dum rosto límpido, pode surgir a simpatia.
Da simpatia pode vir a aproximação.
Da proximidade pode nascer, como planta verde um simples convite.
Depois, se lhe der sol, poderão nascer muitos frutos.
Vigorosamente, poderão multiplicar-se.
Assim se constroem as amizades.
Daí poderá nascer o amor se vencerem as afinidades.
É como um rio.
Quando abastecido por bons afluentes.
Daí ao mar só é precisa a inclinação.
Nas suas margens crescerão, por certo, os prados amplos e as searas verdes...

Berlim, 19 de Setembro de 2020
10h50m
Jlmg

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Nota do editor

Último poste da série de 13 de setembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21355: Blogpoesia (696): "África tropical", "Sementes de paz" e "Candelabros", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

sábado, 19 de setembro de 2020

Guiné 61/74 - P21374: (De) Caras (163): A Cilinha veio de helicóptero a Nova Sintra, em março de 1973: na despedida estávamos todos a olhar para o helicanhão... (Carlos Barros)



Guiné > Região de Quínara > Nova Sintra > 2ª CART / BART 6520/72 (1972/74) > 1973 > A visita da Dona Cecília Supico Pinti, a "Cilinha" (Lisboa, 1921 - Cascais, 2011).  O terceiro, a contar da esquerda para a direita, "magricelas e de bigode", era o Carlos Barros.

A popular figura da  presidente do Movimento Nacional Feminino é acompanhada pelo alf mil Figueira, natural de Cabo Verde  (, não visível na foto).  Ela, sempre muita elegante nas suas calças à boca de sino. como então se usavam nesse tempo, blusa preta, um grande colar, óculos escuros, cabelo sobre os ombros, e mala ao ombro... Parece abrir os braços para uma criança da tabanca sobre a qual se debruça um militar, em tronco nu, que lhe dá instruções. Possivelmente a criança iria dar-lhe uma pequena lembrança ou uma flor. 

Espantosamente, nenhum dos militares que a aguardavam, à entrada do destacamento, quase todos em tronco nu, não parecem prestar-lhe qualquer atenção, tendo dirigido a vista para algo que estaria a acontecer por detrás do fotógrafo... O Carlos Barros esclarece agora o "mistério"...
 
Foto (e legenda): © Carlos Barros (2020). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Carlos Barros


1. M
ensagem do Carlos Barros [, um de "Os Mais de Nova Sintra", 2ª C/BART 6520/72 (Bolama, Bissau, Tite, Nova Sintra, Gampará, 1972/74), membro da Tabanca Grande, nº 815, natural de Esposende]

Date: sábado, 19/09/2020 à(s) 16:00
Subject: A visita da Cilinha a Nova Sintra, 1973

Luís:

Para não adensar o "mistério", pelo contrário, quero "desmistificá-lo, penso que tenho uma explicação sobre os "olhares" dos militares na despedida da Cilinha do MNF. (*)

Ela chegou de helicóptero e vinha um "helicanhão" na sua proteção e estávamos todos a olhar para o Héli que sobrevoava a pista,  daí a razão da nossa observação e admiração pela atuação do helicóptero na vigilância sobre a mata que circundava o destacamento de Nova Sintra.

Ela fez um discurso sobre o valor e coragem dos nossos soldados, fazendo a "apologia" da Guerra Colonial e não o combate ou crítica à mesma, o que era natural já que o regime assim o exigia.

Estávamos quase todos em tronco nu porque fazia muito calor e o Comandante Interino Alferes Figueira deixava-nos à vontade... O tempo era de guerra e o "rigor da farda" era e tinha de ser "esquecido"... (**)

Um abraço
Carlos Barros

PS - A Cilinha usava aquele estilo de cabelo na sua visita a Nova Sintra. A Segurança, por outro lado,  estava garantida e era dentro do destacamento, perto da pista, que ela foi recebida.


2. Pedido de esclarecimento do editor Luís Graça, em 12/9/2020:

Carlos: Esclarece lá o "mistério" desta foto... Ninguém olha para a Cilinha...Isto deve ter acontecido em março de 1973... Confirma. Um ano depois, em março de 1974,  ela está estava de visita a Nhala...

Mantenhas. Luís
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