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sexta-feira, 17 de janeiro de 2020

Guiné 61/74 - P20565: Convívios (913): A festa dos 10 anos da Magnífica Tabanca da Linha: gente feliz, sem lágrimas, mas com saudades dos que já partiram - Parte I (Fotos de Luís Graça e Manuel Resende)


Foto nº 1 > Da esquerda para a direita,  Zé Carioca, Mário Fitas, dois "homens grandes" da Tabanca da Linha, co o nosso editor Luís Graça.


Foto nº  2 > Aspeto parcial da sala: o evento juntou 59 "magníficos", em dia de chuva...


Foto nº 3 > Gente que veio de longe, de Penamacor, a 275 km,  o C. Martins, o artilheiro de Gadamael, "um dos que fechou a guerra", e que neste foi  um dos quatro "periquitos"; quis takvez recordar os tempos de estudante de medicina, em que aqui viveu, em Algés...


Foto nº 4 >  Outro "periquito", Vasconcelos e Sá, oficial superior reformado (creio que coronel), da FAP..  Veio com o Estrela Soares.


Foto nº 5 > O "periquito" Joquiim Vieira (Lisboa)


Foto nº 6 > O quarto (e último) "periquito", o José Mota Pereira: estava radiante! Veterano da Guiné, de 1965/67...Prometeu integrar   (e escrever para) a Tabanca Grande!


Foto nº 7 > Da esquerda para a direita, Raul Folques (um "Torre e Espada", 'comando', herói de guerra), Virgínio Briote e Luís Graça

Fotos:  © Manuel Resende  (2020). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Foto  nº 8 >  Em primeiro plano, a Maria Elisabete, esposa do Francisco Silva, que já há largos meses, não aparecia, por razões de saúde... Veio, co o Francisco, à última da hora... E ainda bem!... Foi muito bom voltar a vê-la... Quem faltou, desta vez, por razões de saúde, foi o António Marques e a Gina... Dois  históricos, dois Magníficos!... Desejamos rápidas melhoras à Gina, e até ao próximo encontro!... (A flor foi uma gentileza do "Sintra".)


Foto nº 9 > Um belo trio: Maria Elisabete, Alice Carneiro e Maria Irene, esposas respetivamente do Francisco Silva, Luís Graça e Virgínio Briote...


Foto nº 10  > Mais um casal simpático: Arménio Conceição e Madalena (Cascais)


Foto nº 11 > Outro Magnífico... casal "histórico": a Irene e Luís R. Moreira (outro combatente que soube "perdoar mas não esquecer": caímos os dois em minas A/C, em Nhabijões. Bambadinca, no fatídico dia 13/1/1971, eu, ele, o Marques, e outros...)


Foto nº 12 > Joaquim Nunes Sequeira, o "Sintra", que vive em Colares... Sempre afável, bem disposto... Traz sempr uma "coisinha" nova com ele: uma flor, umas tangerinas, um frasco de "água de Lisboa", um "recuerdo" da Guiné... (Neste caso, foi uma fotocópia de bilhetes de entrada num espetáculo da UDIB, Bissau que oremos reproduzir noutro poste)


Foto nº 13 > Miguel Rocha e Manuel Macias, dois grandes amigos e camaradas, um transmontano e outro alentejano (o Macias, da terra do Zé Saúde, Aldeia Nova de São Bento, Serpa)... (Zé, dei o recado ao Manuel: lá estaremos, dia 8 de fevereiro, às 15h, na Casa do Alentejo...)


Foto nº 14 : > O nosso coeditor. do blogue da Tabanca Grande, o  Jorge Araújo, além disso régulo de duas tabancas, Almada e... agora Emiratos!... (Tivemos oportunidade de falar, os dois, por vídeochamada, com a sua "mais que tudo", a trabalhar noutro continente...)


Foto nº 15 > Zé Rodrigues e Manel Joaquim, outros dois "históricos" da Magnífica


Foto nº 16 > Dpois régulos, o Manuel Resende (Taabnca da Linha) e Carlos Silva (Tabanca dos Melros, Fânzeres, Gondomar)


Foto nº 17 > Joaquim Vieira e João Pereira da Costa (, ambos de Lisboa)


47º almoço-convívio da Magnífica Tabanca da Linha > Algés > Restaurante Caravela de Ouro > 16 de janeiro de 2020 >  

Fotos (e legendas): © Luís Graça  (2020). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Escreveu ontem o régulo, Manuel Resende, na página doFacebook da Magnífica Tabanca Linha (grupo fechado):


Realizou-se hoje o 47º Convívio da Magnífica Tabanca da Linha com a presença de 59 convivas. Comemorámos o 10º Aniversário da sua fundação, com a presença de dois fundadores, o Mário Fitas e o José Carioca.

Depois de algumas palavras alusivas ao momento pelo Mário Fitas, em que não foi esquecido o nosso querido amigo Jorge Rosales, cantou-se os PARABÉNS,  seguido de bolo e espumante.

Como já é costume, em todos os convívios temos caras novas e desta vez foram quatro, Joaquim Vieira, C. Martins, José Mota Pereira e Vasconcelos e Sá. Parabéns e sejam bem-vindos.


2. Comentou o Luís Graça, editor da Tabanca Grande (*):

Parabéns ao Manuel Resende que tomou "conta do barco" depois da doença e da morte do Jorge Rosales... Sempre amábel, afável, discreto, eficiente, prestável, impecável...Sempre preocupado com o bem-estar de todos, é o último a sentar-se à mesa depois de fazer a "cobertura fotográfica" de cada evento...

Depois do Hotel Riviera, em Carcavelos, a Tabanca da Linha assentou arraiais" em Algés, no "Caravela de Ouro"... E, penso, que em boa hoa e para  agrado geral: este local bate o outro em todos os parâmetros: acessibilidade, centralidade, comes & bebes...

Parabéns ao Zé Carioca e ao Mário Fitas, outros "dois homens", que representaram os 9 magníficos cofundadores, dois infelizmente já desaparecidos. O Mário lembrou o espírito de comaradagem e convivialidade que sempre tem norteado e  caracterizado os encontros da Magnífica.

Obrigado, Armando Pires (*) e Mário Fitas, pelas vossas palavras, simpáticas, em relação à minha pessoa e sobretudo à Tabanca Grande que, vaidosa, julga-se "a mãe de todas as tabancas"... Mas não há mães sem... pais & filhos!... 

O que é bonito é ver a alegria da malta, num dia como hoje, partilhando três horas do seu tempo, uns com os outros... AS fotos que reproduzimos acima testemunham isso...

Pessoalmente gostei de ter podido ir à festa dos 10 anos da Tabanca da Linha, por várias razões... E uma delas, talvez a principal, é que achei, desta vez, que consegui gerir bem o tempo, de modo a poder dar dois dedos de conversa com cada uma das várias mesas... E depois há sempre jovem "nova" a aparecer, pela primeira vez...Neste caso 4, num total de 59.

Sei que, nas noutras tabancas (do Centro, de Matosinhos, da Maia, dos Melros, só para citar algumas que se reunem com maior regularidade, sem esquecer o "Bando" que é "nómada" e, portanto "não atabanca"...) também reina este espírito, dos amigos e camaradas da Guiné...

E é com este espírito, jovial, que eu quero ver, este ano, a malta toda no próximo Encontro Nacional da Tabanca Grande, em Monte Real... Estamos a negociar datas... o que não está fácil, por causa das muitas "agendas" de todos e de cada um..
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quinta-feira, 16 de janeiro de 2020

Guiné 61/74 - P20564: Convívios (912): Parabéns, Magnífica Tabanca da Linha: 10 anos, 47 encontros...Houve bolo e espumante e o histórico primeiro régulo, Jorge Rosales (1939-2019), foi lembrado com saudade (Armando Pires)


Foto nº 1


Foto nº 2


 Foto nº 3

Magnífica Tabanca da Linha > Algés > Restaurante Caravela de Ouro > 16 de janeiro de 2020 > Aspeto geral da sala (privativa), com vista de céu e mar...(Foto nº1), o bolinho de aniversário (Foto nº 2) e o Mário Fitas, um dos 9 magníficos cofundadores da Magnífica, no uso da palavra (Foto nº 3)

Foto (e legenda): © Armando Pires (2020. Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem  complementar:Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Foto nº 4 > Magnífica Tabanca da Linha > Carcavelos > Hote Riviera > 21/1/2016 > O Armando Pires, de pé, com o saudoso "comandante", o histórico primeiro régulo (e cofundador) da Tabanca da Linha, Jorge Rosales (1939-2019)

Foto (e legenda): © Manuel Resende (2016). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem  complementar:Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Mensagem deixada no Facebook da Tabanca Grande, pelo Armando Pires, hoje dia 16, há 1 hora:

10 Anos, 47 Encontros.
A Magnífica Tabanca da Linha esteve hoje em festa.
Para os rapazes da Guiné, houve bolo de aniversário e as palavras do Mário Fitas, um dos gloriosos 9 fundadores, que recordou o que ali nos unia, - "cada um de nós olha esse passado de maneira diferente, mas cumprimos, e cumprimos a camaradagem que nos uniu sempre que aqui dizemos presente", - disse o Mário, convidando todos a uma ovação à memória do Jorge Rosales, o Exmo. Comandante, que há um ano nos deixou.

Uma palavra final, minha, para a Tabanca Grande Luís Graça, "a mãe de todas as Tabancas".
Obrigado, Luís.

sexta-feira, 27 de dezembro de 2019

Guiné 61/74 - P20505: Feliz Natal de 2019 e Bom Novo Ano de 2020 (21): Fez-me bem passar por Runa. O coração voltou a sentir "aquela" emoção. Talvez por ser Natal (Armando Pires, ex-Fur Mil Enfermeiro)



1. Mensagem do nosso camarada Armando Pires (ex-Fur Mil Enfermeiro da CCS/BCAÇ 2861, Bula e Bissorã, 1969/70), com data de 26 de Dezembro de 2019:

Passei ontem por Runa e a memória levou-me de volta aos dias em que, no Hospital Militar, fui enfermeiro "acidental".[1]

Era no Serviço 5, Medicina Geral, no Anexo da Artilharia 1, em que estava colocado, que se prestava assistência aos veteranos da I Guerra Mundial, recolhidos no Lar Militar, em Runa, Torres Vedras.
Iam para consultas médicas, e internamentos se caso fosse. Reclamei para mim a exclusividade do seu acompanhamento.

Era eu que me certificava das horas certas para os medicamentos, que lhes dava as refeições, que lhes dava banho.
A hora do banho era sempre um grande momento.
Passava horas a conversar com eles, a ouvir-lhes histórias antigas, da família e da guerra, mas a hora do banho é que era.

- Ó ti Chico, este... já não serve para nada, vamos mas é cortá-lo que só está aqui a atrapalhar.

Eles morriam de riso e eu de felicidade por os ver sorrir assim. - Talvez por ver neles os meus avós maternos que tanto adorava.

Acontece que fui de férias.
E na volta, falou-me o 1.º Sargento-Enfermeiro que chefiava o Serviço.
- Você arranjou aqui um bonito serviço. Vieram dois homens de Runa, perguntaram por si, disseram-lhes que você tinha ido de férias e eles queriam ir embora, que só vinham quando você cá estivesse.

Fez-me bem passar por Runa.
O coração voltou a sentir "aquela" emoção.
Talvez por ser Natal.
____________

Notas do editor

[1] - Vd. poste de 5 de novembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10622: Furriel enfermeiro, ribatejano e fadista (Armando Pires) (2): Enquanto não chegar a evacuação, ao meu lado ninguém morre! ... Promessa cumprida! (Parte I)

(...)
Eu nunca fui enfermeiro. A colocação de um penso rápido deve ter sido o que me deixou mais próximo dessa actividade. Quando o Luís Graça me sugeriu como titulo para esta série, “Furriel enfermeiro, ribatejano e fadista” (*), aceitei não por ser uma marca distintiva de mim mas, como escreveu o poeta, por as coisas andarem todas ligadas.
Ribatejano sim, nasci em Santarém. Fadista, aceito na medida em que, naquele tempo e sem modéstia nenhuma, não era nada mau a cantar. Enfermeiro, só o fui por ser ribatejano e fadista.

Quando chegou a hora de assentar praça, Janeiro de 67, o meu destino era a Escola Prática de Cavalaria, em Santarém. Mão invisível desviou-me a trajectória para o Regimento de Infantaria 5, nas Caldas da Rainha. Havia muita gente que não se conformava com a ideia de que a disciplina e as regras militares lhes roubasse “o artista”.

Assim, longe da vista, Caldas com ele. Foram três meses dedicados à tropa e à noite.
Finda a recruta, o comboio levou-me para Tavira, onde no CISMI seria preparado para a especialidade de atirador. As saudades das amigas e dos amigos, da noite e do fado, que estavam a 380 Kms de distância, tornaram devastadora aquela primeira semana ali metido.

Chega segunda-feira e entra um gajo a segredar-nos que conseguira uma cunha do caraças, que ia dar baixa ao hospital, que ia para Lisboa e etc., provocação suficiente para pôr em marcha toda a minha capacidade inventiva.

Acontece que numa certa tarde de domingo, na praça de touros da Figueira da Foz, a promessa de forcado que eu era, levou um encontrão de um touro que lhe deixou fortes mazelas nas 3.ª e 5.ª vértebras lombares. Morreu ali o forcado mas eu ganhara um motivo para, tempos depois, gritar ao alferes que comandava a marcha naquela manhã de segunda-feira, por entre gemidos e ais, que a minha coluna claudicara.

Vim nessa tarde para Lisboa, de ambulância, de baixa ao hospital militar. Deixemos de lado a parte da medicina e vamos à hora das decisões. Que fazer depois da alta? Para onde ir?
Se forem à minha “carta de apresentação” aqui na Tabanca, vão lá encontrar escrita esta parte da história que decidiu o meu futuro militar.

À entrada do Parque Mayer havia um bar (ainda lá se veem as ruínas) chamado Dominó, ponto de encontro e de partida para o que de melhor a noite tinha para nos oferecer. Numa dessas noites, foi ali que uma amiga me disse que tinha uma amiga que, por sua vez, tinha um amigo que trabalhava nos serviços mecanográficos do exército. Na noite seguinte, juntámo-nos os quatro à mesa e ele perguntou o que pretendia eu.
- Ficar em Lisboa, pá. Quero ficar aqui, vê lá o que se arranja. Trabalho na rádio, talvez possa ir para foto-cine.

Diz-me que em Lisboa só dava para enfermeiro.
- Que se lixe, pá. Eu quero é ficar aqui.

E foi assim, ficando as coisas todas ligadas, que nasceu o “furriel enfermeiro, ribatejano e fadista”. Três meses de displicentes presenças nas aulas teóricas de enfermagem a que se seguiram mais três meses de estágio, passados nas diversas enfermarias do Hospital Militar.
(...)

Último poste da série de 26 de dezembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20500: Feliz Natal de 2019 e Bom Novo Ano de 2020 (20): Mesmo cansados da guerra..., votos de que possamos continuar a partilhar memórias (e afetos)... Ah!, e obrigado por tudo: confiança, lealdade, apoio, "fair play", tolerância, cumplicidade, amizade, camaradagem... (Os editores)

quinta-feira, 21 de novembro de 2019

Guiné 61/74 - P20369: Tabanca Grande (488): Miguel José Ribeiro da Rocha, ex-Alf Mil Inf.ª da CCAÇ 2367/BCAÇ 2845 (Olossato, Teixeira Pinto e Cacheu, 1968/70), tertuliano com o número 800 da nossa Tabanca

1. Mensagem do nosso camarada e novo membro da Tabanca Grande, Miguel José Ribeiro da Rocha, ex-Alf Mil Inf.ª da CCAÇ 2367 do BCAÇ 2845, "Os Vampiros" (Olossato, Teixeira Pinto e Cacheu, 1968/70), com data de 19 de Novembro de 2019, encaminhada ao nosso Blogue pelo Armando Pires:

Por sugestão do amigo e camarada Armando Pires venho fazer a minha apresentação de adesão ao blogue "Tabanca Grande".

Sou, Miguel José Ribeiro da Rocha, nasci a 13 de Fevereiro de 1944, em Vila Real, Trás-os-Montes, onde vivi até ao ingresso no Serviço Militar.

A 1 de Maio de 1968, com o posto de Alferes Miliciano, embarquei, integrado na CCAÇ 2367 do BCAÇ 2845, no navio Niassa, rumo à Guiné.

O desembarque das tropas efectuou-se a 7 de Maio de 1968 em Bissau.
A minha Companhia, em coluna directa seguiu para o Olossato, onde permaneceu cerca de 11 meses.
Có, Pelundo, Teixeira Pinto e por fim Cacheu, fizeram parte dos cenários de aquartelamento na comissão da nossa Companhia com epílogo em Abril 1970.

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Sobre a CCAÇ 2367

Com a devida vénia à Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974)

7.º Volume - Fichas das Unidades - Tomo II - Guiné


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2 . Comentário do Editor:

Caro Miguel Rocha, muito bem-vindo à nossa Tabanca, onde te vais sentar num lugar histórico, o 800.º da nossa tertúlia, ou como o Luís gosta de dizer, da sombra do nosso poilão.

Não temos nenhum representante da tua CCAÇ 2367 pelo que assumes a responsabilidade de nos contar a sua história, a começar pela origem do nome "Vampiros" que exibis no vosso crachá.

Do teu Batalhão temos um camarada que em tempos colaborou, e muito, com algumas das suas memórias, o Albino Silva, de Esposende, que foi Soldado Maqueiro da CCS. Penso que o conhecerás pois foi (ainda será?) um elemento muito dinâmico na organização dos Convívios do vosso Batalhão.

Manda as tuas fotos e as tuas memórias para que fiquem ao dispor de quem, no futuro, queira estudar a nossa guerra. A todos nós, antigos combatentes, cabe deixar os meios para que com a maior fiabilidade não deixem morrer a nossa memória.

Em nome dos editores, Luís Graça, Eduardo Magalhães e eu próprio, assim como no da tertúlia, envio-te um abraço e os votos da melhor saúde.

CV
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Nota do editor

Último poste da série de 17 de novembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20359: Tabanca Grande (487): Leonel Teixeira, natural da Madeira, luso-americano, Vice-Cônsul, Vice-Consulado de Portugal em Providence, Conselheiro da Diáspora Madeirense para os EUA, ex-alf mil, CCAV 3364 (Ingoré e Cumeré, 1971/73)... Senta-se à sombra do nosso poilão, no lugar nº 799

quarta-feira, 9 de outubro de 2019

Guiné 61/74 - P20221: In Memoriam (352): Homenagem da Tabanca de Matosinhos ao João Rebola, falecido no dia 1 de Outubro de 2018 (Armando Pires e José Teixeira)

1. Mensagem do nosso camarada Armando Pires (ex-Fur Mil Enf.º da CCS/BCAÇ 2861, Bula e Bissorã, 1969/70), com data de 8 de Outubro de 2019:

Camaradas

Ponderosas, e inesperadas, razões da minha vida pessoal fizeram com que tardasse em cumprir com o pedido que me fez o nosso muito estimado camarada José Teixeira, membro da Tabanca de Matosinhos. É que no passado dia 2, a Tabanca de Matosinhos homenageou a memória de um dos seus maiores, o João Rebola, e o Teixeira pediu-me que vos falasse dos momentos de profundo recolhimento que se viveram no cemitério da Senhora da Hora, e, depois, no almoço, das palavras solidárias que foram dirigidas à D. Elsa Rebola, a viúva do João.

Já no dia anterior teve lugar, na Igreja da Senhora da Hora, uma Missa de Sufrágio em intenção do primeiro aniversário do seu desaparecimento físico, porque o seu espírito de grande humanidade, de grande camaradagem, de homem sério e sempre presente ao lado daqueles que mais precisavam de uma palavra, de um gesto de conforto, esse continua presente junto dos familiares que amou, e dos camaradas que honrou.

À romagem ao cemitério, o Teixeira chamou o ex-combatente Inácio para fazer ouvir, no seu trompete, Toque de Silêncio.

O padre Augusto Baptista, Ten-Cor Reformado, que ainda alferes miliciano foi nosso Capelão em Bissorã, e que com o Rebola, já na sua freguesia de Perosinho, estabeleceu fortes laços espirituais e de amizade, dirigiu palavras de conforto à Maria João, filha do Rebola e ali presente, e recordou, num momento que causou grande comoção entre os presentes, que foi através dele que o João sentiu o último conforto da sua imensa fé católica.

O Capitão Abreu, que foi comandante da CCAÇ 2444, a Companhia do Rebola, falou das suas qualidades de homem e militar de grande postura, convidando-me depois o José Teixeira a que eu usasse da palavra para exprimir a profunda amizade que nos ligava desde o nosso encontro em Bissorã (ver os meus P12905 e P11195), e tendo eu ainda vivas as conversas que mantínhamos pela manhã, através do Skype, onde a vida da Tabanca de Matosinhos, e a sua obra social na Guiné, estiveram sempre presentes.

A campa do ex-Fur Mil João Rebola, no cemitério da Senhora da Hora, onde os seus camaradas da Tabanca de Matosinhos foram prestar-lhe homenagem
Ao lado da Maria João Rebola, filha do João, o Pe. Augusto Baptista, Ten-Cor Ref. na sua alocução
O ex-Fur Mil Armando Pires recordando a sua grande amizade com o Rebola, nascida em Bissorã, e depois mantida vida fora
No uso da palavra, o Cap. Abreu, Comandante da CCAÇ2444, a Companhia do João Rebola
O Pe. Augusto Baptista, Ten-Cor Ref, numa conversa privada com a Maria João Rebola
Ao almoço, no restaurante Espigueiro, "quartel-general" da Tabanca de Matosinhos

Por último, falou-nos a Maria João Rebola:

“Eu cresci a ouvir falar de vós. Por vezes não vos reconheço porque a última vez que estive convosco foi a vinte e tal anos, trinta anos, mas os vossos nomes eu sei-os. O meu pai falava muito dessas estórias que partilharam aqui também e sei de muitas outras que aconteceram na Guiné. Sei que foi um período muito importante para o meu pai. Sei que o meu pai fez irmãos na Guiné e é muito bom saber que esses irmãos o acompanharam até aos últimos momentos. E, quando o Pe. Baptista chegou agora de manhã eu disse-lhe que foi muito importante ter ido visitar o meu pai naquele domingo por que eu sentia que o meu pai não passava desse dia e disse-o ao Pe. Batista quando estive com ele no sábado e o Pe. Baptista conseguiu reformular a sua vida toda para esse domingo e ir lá ao Hospital naquela manhã e estar com o meu pai e dar-lhe a bênção. Eu soube logo, de certeza absoluta, que isso foi muito bom para o meu pai, porque, assim como o Pe. Baptista disse esta manhã, o meu pai era uma pessoa muito espiritual e ter aí nesse momento a bênção de um irmão da Guiné que representava tudo o que vocês sabem para ele, foi o fecho, não sei se hei de dizer, perfeito. Por isso queria agradecer, o acompanhamento todo, os projetos que fizeram juntos, pelos tempos bons que passaram juntos e os difíceis também, e por estarem aqui hoje a partilharem connosco. Obrigado.”

Que o João Rebola repouse em paz, que viva está a sua memória junto de nós.

Fotos: José Teixeira
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Nota do editor

Último poste da série de 7 de outubro de 2019 > Guiné 61/74 - P20211: In Memoriam (351): António Leal Faria (c. 1942-1966), ex-alf mil SG, AB3, Negage, Angola, natural de Torres Novas e antigo seminarista, capturado e executado pela FNLA, na sequência de acidente com DO 27, em Ambrizete, em 24/3/1966... O seu corpo, tal com o dos seus restantes companheiros de infortúnio, não foi resgatado

sexta-feira, 26 de julho de 2019

Guiné 61/74 - P20012: 15 anos a blogar, desde 23/4/2004 (12): Comemorando os 20 mil postes, com um excerto das memórias (boas e más) do Paulo Santiago, no Saltinho, como comandante do Pel Caç Nat 53 (1970/72)... Em que se fala dos banhos à fula no Corubal, de uma perna esfacelada por um coice de morteiro e cosida a sangue frio, e ainda dos foguetões 122mm...


O famoso "Jacto do Povo" (, na gíria do PAIGC), o foguetão ou foguete  de 122 mm, que terá sido utilizado pela primeira vez 24 de outubro de 1969 contra Bedanda e só depois em novembro de 1969, numa flagelação contra Bolama, segundo o nosso especialista em artilharia , o nosso camarada e amigo Nuno Rubim. Felizmente para nós, era um arma pouco precisa e fiável e a Guiné, tirando Bissau, a BA 12 em Bissalanca e Bafatá não tinha grandes alvos, civis ou miitares, apropriados...Afinal, a História com H grande, também se faz com a pequena história...



Guiné > Região de Bafatá  > Sector L5 (Galomaro) > Saltinho > c. jan / fev 1971 > O comandante do Pel Caç Nat 53 (1970/72), Paulo Santiago, tomando o seu banho à fula no Rio Corubal.

Foto (e legenda): © Paulo Santiago (2006). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Paulo Santiago, Pombal, 2007. Foto: LG
1. Comemorando os vinte mil postes publicados em 15 anos, justamente em 21/7/2019 (*),  facto que passou despercebido à generalidade dos nossos leitores, voltamos a reproduzir um texto de memórias do Paulo Santiago, ex-alf mil, cmdt do Pel Caç Nat 53 (Saltinho e Contabane, 1970/72) (**):

Em 6 de Janeiro de 1971, fiz vinte e três anos de idade e um ano de tropa. Tinha entrado para o "calhau" em Mafra [, a EPI,], precisamente no dia em que fiz vinte e dois anos, foi o pior aniversário da minha vida, completamente perdido naquele labirinto de escadas e corredores.

Este 6 de Janeiro no Saltinho foi bem bebido, muito whisky a acompanhar umas rodelas de tomate com sal.

Em 21 de Janeiro, aí pelas 21,00 horas, entra um militar da CCAÇ 2701 pelo bar de Sargentos e Oficiais e informa, meio esbaforido, que um dos sentinelas está a avistar uma pequena luz numa curva do rio Corubal, situada aí a uns 500 metros na margem oposta à do quartel.

Saímos todos a correr em direcção ao posto de sentinela, verificando haver de facto uma pequena luz a mover-se no local indicado. Acrescento que a zona em causa daria uma boa base de fogos para uma flagelação ao Saltinho, com uma posterior retirada pelo rio. O abrigo do [Pel Caç Nat] 53 ficava ali ao lado, e foi onde me dirigi, agarrando no morteiro 60 e duas granadas.

Procuro um local, com visibilidade para a curva do rio, instalo o morteiro, joelho direito em terra, mão direita no tubo, calculo a inclinação e aí vai granada. Tudo foi feito com rapidez, esquecendo-me que a zona do Saltinho, contrariamente à maior parte da Guiné, era rochosa, o que resultou em azar. Não vi, estava escuro, o prato da arma ficou assente num afloramento de rocha. À saída da granada o prato desliza na pedra, atingindo-me a perna direita acima do joelho. A pancada foi tão forte que caí para o lado, cheio de dores, pensei logo ter ossos partidos.

O Cap Clemente e o Alf Julião, da CCAÇ 2701, que estavam ao meu lado, agarram-me ao colo e trazem-me para o Posto médico, onde me deitam na marquesa. Felizmente o osso ficou à vista, mas não estava partido. Havia que coser a perna, trabalho para o Fur Mil Enf Freire.

Como não havia anestesia, estavam quatro matulões a imobilizar-me e eu a sentir a agulha a coser-me, a repuxar músculos e peles. Hoje suporto a dor com alguma rusticidade, deverão ser
ainda resquícios do que passei naquela noite. Levei exteriormente quinze pontos e fiquei
inoperacional um mês e poucos dias.

No dia seguinte, deveria ficar de cama, não consegui e rebentei de imediato com um dos pontos. Agarrado a uma pseudo-bengala lá vim beber uns copos para o bar. Foi um mês de grandes exageros (ainda mais) com as bebidas. O maior problema passou a ser o banho, não podia mergulhar no rio, então protegia o penso com um plástico, sentava-me à beira da rio e, com uma bacia, ia virando água por cima da cabeça, um banho à fula.

Chegamos ao Carnaval e resolvem fazer um baile na escola que ficava junto do quartel, ficando eu a beber uns copos no bar . Por volta das vinte horas, ouço várias saídas de arma que não sei determinar. Venho agarrado à bengala dar uma espreitadela à parada, vejo o rasto de vários foguetões (?) dirigindo-se na direcção de Aldeia Formosa, ouço o estrondo dos rebentamentos, repetindo-se de imediato a mesma cena, várias saídas, o rasto dos foguetes e respectivos rebentamentos.

Chega entretanto o pessoal que andava no baile, ficando também a assistir aquela chuva de foguetes e a ouvir os rebentamentos. Aparece o Fur Rui, das Transmissões, informando que o quartel de Aldeia Formosa acaba de perguntar se estávamos a ser atacados, e quais as armas utilizadas no ataque.

Chegou-se à conclusão que as granadas estavam a cair em zona entre Saltinho e Quebo
e a arma era desconhecida. Passados alguns dias veio informação do Com-Chefe: naquele ataque falhado a Aldeia Formosa, o IN tinha utilizado pela primeira vez Foguetes Katyusha, também
conhecidos por Órgãos de Estaline

O foguete 122 mm, o Grad
 (na terminologia do PAIGC
ou "jato do povo").
Foto: Nuno Rubim (2007)
2. Nota do editor LG:

O pretexto é termos chegado aos 20 mil postes e aos 15 anos a blogar (***),  sem esquecer os cerca de 11,2 milhões de "visitantes" e os quase 800 membros (registados) da Tabanca Grande... Mas, como o tempo é curto, e o relógio não pára, e não há patacão para festas, vamos lá ao que interessa, para  refrescar a nossa memória e corrigir a memória futura...

Na realidade, os tais foguetões ou foguetes 122 mm,  já se teriam estreado antes, no TO da Guiné, em Bolama, em 3/11/1969, ou em Bissorã, em 1/5/1970, segundo a tese do nosso camarada Armando Pires (****), o que o Paulo Santiago contesta, em comentário ao poste P9337:

(...) "Não quero contrariar o camarada Armando Pires, mas não estamos a falar da mesma arma, isto é certo. A Katiusha, Orgãos de Estaline, BM 21 Grad,chamemos-lhe um destes nomes, à escolha, é uma arma, conjunto de tubos de lançamento de foguetes, colocada numa viatura pesada. Tem de haver uma picada para a viatura se deslocar, não pode ser levada às  costas. Assim, não estou a ver nenhuma possibilidade de uma viatura pesada, do PAIGC, se deslocar no interior da Guiné para atacar Mansoa, Bissorã, Bolama. Um quartel, perto da fronteira, com alguma dimensão de espaço, caso de Aldeia Formosa, o ataque foi possível, mas com resultados nulos (para o IN). Também não estou a ver um ataque de Katiusha (4 foguetes) lançar apenas três (Bolama) num alvo de grande dimensão.

A info do COMCHEFE  foi que aquele ataque direccionado para Aldeia Formosa, tinha sido o primeiro com a utilização dos Órgãos de Estaline. É só." (****)

Oiçamos também aqui o nosso especialista de armamento, o Luís Dias: havia dois tipos de "foguetão 122 mm", o foguete (míssil) no calibre 122mm, desenvolvido em 1963,  o 122mm BM-21 GRAD, de lançamento múltiplo, e uma variante, o foguete 9P132/BM-21-P,  também de calibre 122mm (mais curto que o modelo standard) a ser lançado por um único tubo – o lançador 9M28/DKZ-B.  (*****)

(...) "A arma Katyusha era originalmente a denominação para os foguetões utilizados pelos multi-lançadores, que eram transportados em diversos tipos de camiões. Depois da guerra, os soviéticos aperfeiçoaram estes multi-lançadores, com o surgimento do míssil 122mm BM-21 GRAD, colocados em viaturas diversas e com diverso número de tubos.

 Aperfeiçoaram também um míssil portátil, na origem do anterior, mas ligeiramente mais curto, com o mesmo calibre, com a denominação 9P132/BM-21-P, que era lançado pelo uni-tubo 9M28/DKZ-B e era este o míssil mais utilizado nos ataques por foguetões na Guiné, pelo menos dentro do território, tendo sido, inclusive, capturadas diversas rampas de lançamento do tipo referido, conforme diversas fotos existente" (...)

O Nuno Rubim (, um abraço para ele, e as suas melhoras!) também prefere chamar-lhe foguete, embora ficasse conhecido, entre nós, no TO da Guiné, como "foguetão 122mm".  Terá sido utilizado pela primeira vez, em Bedanda, antes de Bolama, Cacine e Cufar (******).

__________



(*****) Vd. poste de 1 de janeiro de  2012 > Guiné 63/74 – P9344: Armamento (7): O foguetão de 122 mm (Luís Dias)

(...) O lançador de foguetes Katyusha é uma arma de artilharia (lançador de foguetes múltiplos) desenvolvida e utilizada pelo Exército Vermelho durante a Segunda Guerra Mundial. Foi apelidado na época de "Órgão de Estaline" pelas tropas alemãs (em alemão: Stalinorgel) em referência ao dirigente soviético com o mesmo nome. Já o nome Katyusha foi dado pelo Exército Vermelho,  retirado de uma música famosa durante o período da guerra, que contava a história de uma jovem russa (Katyuhsa, diminutivo russo para Catarina) cujo namorado estava longe em virtude da guerra. 

(...) O desenvolvimento dos foguetes lançados por artilharia na URSS iniciou-se em finais dos anos 40, a fim de se substituírem ou complementarem os Katyusha de 82mm, 132mm e 300mm, da II Guerra Mundial. A fábrica estatal, situada em Tula, sob a liderança de A. Ganichev, apresentou um foguete (míssil) no calibre 122mm, em 1963, denominado 122mm BM-21 GRAD. Ao longo de 1964 foram produzidos diversos tipos desta série e a serem transportados em camiões e outros veículos de vários tipos e dimensões, com diversos conjuntos e combinações de lançamento múltiplo. 

Também foi fabricado o Foguete 9P132/BM-21-P, no calibre 122mm (mais curto que o modelo standard, embora também pudesse ser usado por um multi-tubo), a ser lançado por um único tubo – o lançador 9M28/DKZ-B." (...)

(******) Vd. poste de 10 de junho de  2007 > Guiné 63/74 - P1828: Armamento do PAIGC (3): O Foguetão 122 mm ou a arma especial Grad (Nuno Rubim)

segunda-feira, 8 de julho de 2019

Guiné 61/74 - P19956: Historiografia da presença portuguesa em África (167): Alfa Moló Baldé e o mito fundador do reino de Fuladu, em 1867 (Cherno Baldé) - Parte I


Guoleghal, a ave mensageira do conto de Canhánima (Sancorlã) e de Fuladu ... Grou-Coroado (Balearica Pavonina). Conhecida na Guiné, coloquialmente, como ganga... Havia muitos na grande bolanha de Bambadinca. (*)

Foto (e legenda): © Armando Pires (2010). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem de Cherno Baldé, com data de 1 do corrente:

Conforme prometido, junto envio mais um texto fruto de algumas notas de leitura feitas à volta da figura mítica, entre os fulas, de Alfa Moló e a criação do reino de Fuladu. Neste texto faço sobressair a importante figura de El-Hadj Omar (Foutyou) Tall, que as crónicas sobre Firdu e sobre Fuladu conferem o papel primordial no levantamento da população fula contra os soninquês pagãos (mandingas) do reino de Gabu na segunda metade do séc. XIX.(*)

Espero que tenha interesse e possa ser publicado no nosso blogue da Tabanca Grande.

Com os melhores cumprimentos, Cherno Baldé




2. Notas de leitura (**):

ALFA MOLÓ E O MITO FUNDADOR DO REINO DE FULADU - Parte I

por Cherno Baldé


Em Junho de 2010, no poste P6661 (*), falando sobre os acontecimentos ocorridos no regulado de Sancorlã, nos períodos de antes e após independência (1903-1974), tinha escrito:

“Na lógica e submundo do homem e da consciência tradicional africana dos últimos séculos, nada acontecia por acaso. Tudo se fundamentava e se justificava, partindo de pressupostos de ordem mística que, aparentemente, estariam na génese de todos os acontecimentos, fossem eles bons ou maus, fossem de natureza política, económica ou social, sempre explicados a partir da conjunção de determinados factores de ordem mística, muitas vezes sob a forma de pactos com seres invisíveis ou simplesmente entre indivíduos ou grupo de pessoas e cujo (in)cumprimento poderia ser sancionado ou premiado a seu justo valor e no devido tempo ».

Estes, eram tempos em que não havia só um Deus, mas muitos deuses, não havia só uma crença, mas uma pluralidade delas, tempos em que a África ainda não se orientava por Meca ou pelo Vaticano, mas sim através dos deuses (Irãs) que habitavam ao seu lado e com os quais podiam falar na sua própria língua.

Os povos que habitavam no reino mandinga de Gabu, mesmo se chegaram em tempos diferenciados, com origens diversas e viviam sob condições sociais diferentes, tinham em comum o facto de partilharem o mesmo espaço sócio-económico e ambiental, obrigando-os, necessariamente, a uma interação económica e mestiçagem cultural constante. Nessas condições, deveras adversas, que os indivíduos fossem de puro sangue (se o termo faz algum sentido) ou que fossem de sangue mestiço ; que fossem homens livres ou de condição servil, as identidades não eram imutáveis, mas submetidas a uma permanente construção, como foi o caso da família de Alfa Moló Baldé.

[Recorde-se: (i) Gabu foi a capital do Império Kaabu (também conhecido por Ngabou ou N’Gabu), um reino Mandinga que existiu entre 1537 e 1867 na chamada Senegâmbia, região que abarcava o nordeste da atual Guiné-Bissau, mas que se estendia até Casamança, no Senegal. 

(ii( Antes disso, Gabu, ou Kaabu, fora uma província do Império Mali que se tornara independente depois do declínio do império. 

(iii) No século XIX, os fulas estabeleceram a sua supremacia na região, pondo fim ao domínio de Kaabu. 

(iv) Durante o período colonial a cidade passou a ser designada por Nova Lamego, mas recuperou o seu nome tradicional após a independência do país." Fonte: Gabu (região). In: Wikipédia, com a devida vénia...]

(i) A chegada e a instalação de familias Fulas no território mandinga de Gabu

Segundo Abdarahmane Ngaindé, os mandingas do reino de Gabu enquanto guerreiros e esclavagistas, tinham construido fortins (tatas),) cobrindo este grande espaço territorial. Citando Michel Benoît, ele escreve :

 "Uma provincia, muitas vezes, não era mais que um tata instalado no meio da floresta que algumas famílias de pastores fulas percorriam com as suas manadas de gado bovino" (Benoît 1988, 510). 

Esta ocupação descontinua do território e a facilidade de instalação dos pastores fulas permitiam amplo aproveitamento do espaço para a criação itinerante dos seus animais.

Os especialistas da história do império de Gabu não são unânimes quanto à data exacta da chegada das primeiras vagas de famílias fulas nesta região de África Ocidental. As testemunhas, quando solicitadas, perdem-se sempre nas neblinas de longas histórias invocadas com muita emoção, mas pontuadas de muitas fantasias e imprecisões. As migrações, dizem, teriam sido feitas por escalas incessantes, facto que dissipa e impossibilita qualquer tentativa de descrever em detalhes a origem e percurso exacto desta ou daquela vaga de habitantes fulas.

Todavia, é sabido que as populações fulas de Fuladu são de origens diversas, podendo-se dinstinguir as originárias de Macina (actual Mali) ], como é o caso da família do autor destas linhas, o Cherno Baldé], de Bundu e Futa-Toro (actual Senegal), assim como do Futa-Djalon (Guiné-Conacri). A chegada desta última categoria é mais recente e data da segunda metade do séc. XIX.

Alguns autores, tais como Mamadu Mané ou Djibril Tamsir Niane, pensam que uma parte desta população se teria fixado nesses territórios com as primeiras vagas mandingas cuja chegada remonta aos séculos XIII/XIV, baseando-se num provérbio popular entre os mandingas segundo o qual "quando um mandinga chega de manhã, invariavelmente, o fula chega à tarde".

No entanto, pensam outros, é bem possível que tenham chegado um pouco mais tarde do Futa-Djalon na sequência das repressões que se seguiram à tomada de poder dos letrados muçulmanos, contra as populações pagãs a quando da revolução teocrática de 1725 (Ngaide, 1998).

De notar que estes movimentos de populações fulas para esta região foram muito semelhantes à digressão conduzida pelo célebre Coli Tenguella que chegou ao Futa-Toro (Senegal) em 1512 para fundar o primeiro reino fula dos Denyankês, tendo atravessado o Futa-Djalon e o actual território da Guiné-Bissau onde teria tido confrontos com os Biafadas, atravessando o rio Corubal (para os fulas o rio Corubal é Mayôh-Côli, isto é, rio Coli, em homenagem ao lendário chefe fula que teria abandonado o Mali, após a morte do pai «Tenguella Bâ », durante o reinado de Askia Mohamed),  o que teria favorecido o aumento da população fula, juntando-se aqueles que ja lá estavam.

A abundância de pastagens,  aliada à existência de extensas bacias hidrográficas, permitiram-lhes consolidar as suas bases económicas e sociais em todas as províncias que os acolheram, reforçadas pelos dons e oferendas aos príncipes e aos diferentes governadores (Farins) dos clãs mandingas reinantes naquelas províncias. Mais tarde e paulatinamente, eles se sedentarizam e se  passaram a dedicar-se, também, a uma agricultura pouco extensiva aos cuidados dos seus escravos ou servos, a fim de garantirem seu sustento.

Em conclusão, diz-nos Ngaidé Abdurahmane, poder-se-ia dizer que, desde finais do séc. XVIII e princípios do séc. XIX, os fulas, chegados em vagas sucessivas, predominam em várias províncias de Gabu e as riquezas destas mesmas províncias dependiam, em larga medida, do número destes últimos. Isto é confirmado, diz-nos Ngaindé, pelo testemunho de Francis Moore [c. 1708 - c. 1756],  citado por Mamadou Mané. Este autor sublinha que « …sem estes estrangeiros (os fulas), os mandingas correriam o risco de passar fome, pois eles tiram deles todo o seu sustento » (F. Moore, 1978).

Este testemunho do inglês F. Moore, é datado do início do sec. XIX (1804). Um pouco mais tarde, na segunda metade do mesmo sêculo, o residente francês em Karabane (Casamansa), E. B. Bocandé (1812-1881), oferece-nos um testemunho similar ao afirmar:

«…é em proporção do número de Fulas estabelecidos no seu território que os chefes das aldeias mandingas devem a sua força, poder, a riqueza e a consideraçao de que beneficiam, porque aqueles o dão presentes de forma continua".

Ainda, segundo Abdarahmane, citando um outro testemunho inglês, Joye Bowman Hawkins « Os fulas eram tratados como sujeitos sob dominação e, como tal, deviam pagar uma taxa anual pela utilização das zonas de pastagens. Nessas condições, cada família era obrigada a pagar um determinado número de cabeças de gado. Os chefes mandingas davam-se ao luxo de escolher os melhores animais da manada, às vezes de forma abusiva, o que tornava as coisas cada vez mais insuportáveis na perspeciva dos fulas" (Bowman,  1981), para os quais aqueles animais não eram simples animais, mas considerados como membros da própria família.

E, é neste mesmo sentido que Mamadou Mané sublinha:  « Porque eram detentores das riquezas materiais (gado e produtos agrícolas como algodão e milho) os fulas eram constantemente abusados e explorados mais que todos os outros, pela aristocracia kaabunké" (Hawkins, 1981 et Quinn, 1971).

Estes testemunhos, entre muitos outros deixados por administradores e aventureiros europeus em África, permitem fazer-nos ver, para além dos abusos recorrentes e das suas consequências sociais, o papel fundamrental que detinham os fulas no reino mandinga de Gabu.

A acumulação de vexames e a situação económica e social no interior do reino no periodo após a abolição da escravatura, pelos ingleses, e o consequente declinio do comércio atlántico, vão estar na origem da revolta que vai derrubar os alicerces do reino e afastar os mandingas dos seus territorios de dominio tradicional.


(ii) Alfa Moló e o nascimento do reino de Fuladu

« Os primeiros anos do reino de Alfa Moló coincidem com a constituição do reino (1867-1881). Durante este período o povoamento fula se reforça e as populações ocupam zonas bem determinadas no antigo reino Gabunké, espalhando-se através do território recentemente 'libertado'. A sociedade fula implanta-se progressivamente e os diferentes elementos da sua organização económica e social se estabilizam. A secunda fase (1881-1903) coincide com o reino do seu filho, Mussa Moló. Este período é caracterizado por uma guerra fratricida que opõe Mussa ao seu tio Bacar Demba e de seguida ao seu irmão Dicori Cumba. Será um período dominado pela recrudescência da violência e das destruições humanas que acompanham-no" (Abdarahmane Ngaindé, 1998).

A juventude de Alfa Moló, diz-nos Abdarahmane citando De Roche, parece ter tido "um carácter particular" (Roche, 1985) na medida em que numerosas fontes de informação confirmam que ele foi educado pelo seu mestre, Samba Egué, que não tinha um filho varão , pelo que considerava aquele como seu filho legítimo a quem, de resto, tinha dado o seu apelido, facto que explica os privilégios que Alfa Moló vai beneficiar durante a sua juventude.

Com efeito, ele teria sido educado como um nobre, beneficiando de toda a atenção requerida e, em vez de se ocupar do gado, ele gostava de se entreter nas lides de cavalos, as idas à caça e ao maneio das armas, actividades reservadas, exclusivamente, aos homens corajosos e também livres. Mais tarde, ele será um caçador destemido, tendo à sua volta auxiliares (aprendizes) aos quais ele introduzia na arte do ofício. Naquela época, os caçadores eram muito considerados, gozando de um grande prestígio, fruto da sua coragem para enfrentar os diversos perigos visíveis e invisíveis escondidos na floresta africana.

Mas, apesar de tudo o que se pode dizer sobre Alfa Moló, que seja de origem nobre ou servil, de nada diminui a importância e o valor da acção que ele e seus companheiros vão realizar e a notoriedade que ele vai adquirir no periodo subsequente. Todavia, o nome de Alfa Moló Baldé só entra, verdadeiramente, em cena depois da passagem de El-Hadj Omar Tall (mais tarde imperador do Sudão), o Marabu que vai estar na origem do mito que envolve o surgimento do reino de Fuladu e os seus principais protagonistas.

segunda-feira, 27 de maio de 2019

Guiné 61/74 - P19832: XIV Encontro Nacional da Tabanca Grande (26): Seleção de fotos de Manuel Resende - Parte I


Leiria > Monte Real > 25 de maio de 2019 > XIV Encontro Nacional da Tabanca Grande >  A foto de família... incompletíssima!... Éramos mais de uma centena...


Leiria > Monte Real > 25 de maio de 2019 > XIV Encontro Nacional da Tabanca Grande > Os fotógrafos, esses, não faltaram... Jorge Canhão, Carlos Vinhal, Luís Graça


Leiria > Monte Real > 25 de maio de 2019 > XIV Encontro Nacional da Tabanca Grande > As nossas duas únicas camaradas presentes: as ex-enfermeiras paraquedistas Giselda Pessoa (Lisboa) à esquerda,  Maria Arminda Santos (Setúbal), à direita... No meio o Jorge Canhão e a esposa, Lurdes (Oeiras).


Leiria > Monte Real > 25 de maio de 2019 > XIV Encontro Nacional da Tabanca Grande > À entrada do Palace Hotel Monte Real..


Leiria > Monte Real > 25 de maio de 2019 > XIV Encontro Nacional da Tabanca Grande > Da direita para a esquerda: António Martins de Matos, Miguel Pessoa, António J. Pererira da Costa, Carlos Silvério e JERO...


Leiria > Monte Real > 25 de maio de 2019 > XIV Encontro Nacional da Tabanca Grande > Dois grã-tabanqueiros, amigos e camaradas, Paulo Santiago (Águeda) e Armando Pires (Algés / Oeiras)


Leiria > Monte Real > 25 de maio de 2019 > XIV Encontro Nacional da Tabanca Grande > O pai e padrimho Manuel Joaquim, com a filha Alexandra e o afilhado Zé Manuel


Leiria > Monte Real > 25 de maio de 2019 > XIV Encontro Nacional da Tabanca Grande > Almiro Gonçalves e Amélia (Praia da Vieira / Marinha Grande)


Leiria > Monte Real > 25 de maio de 2019 > XIV Encontro Nacional da Tabanca Grande > A Tabanca de Porto Dinheiro / Lourinhã, em peso: o régulo Eduardo Jorge Ferreira, mais a Vilma e o João Crisóstomo (que vieram dos EUA)


Leiria > Monte Real > 25 de maio de 2019 > XIV Encontro Nacional da Tabanca Grande > Dois "mangníficos" da Tabanca da Linha e da Tabanca Grande: Armando Pires e Luís Paulino


Leiria > Monte Real > 25 de maio de 2019 > XIV Encontro Nacional da Tabanca Grande > De costas, o Agostinho Gaspar (Leiria)


Leiria > Monte Real > 25 de maio de 2019 > XIV Encontro Nacional da Tabanca Grande > Entradas e entradinhas (I)


Leiria > Monte Real > 25 de maio de 2019 > XIV Encontro Nacional da Tabanca Grande > Entradas e entradinhas (II)


Leiria > Monte Real > 25 de maio de 2019 > XIV Encontro Nacional da Tabanca Grande > Entradas e entradinhas (III): à esquerda, o Armando Pires


Leiria > Monte Real > 25 de maio de 2019 > XIV Encontro Nacional da Tabanca Grande > Entradas e entradinhas (IV): à esquerda, o António Sampaio (Matosinhos) e à direita, o António Maria Silva (Sintra), dois "fregueses" destes nossos encontros anuais...


Leiria > Monte Real > 25 de maio de 2019 > XIV Encontro Nacional da Tabanca Grande > Entradas e entradinhas (I)  > O Luís Graça em conversa com a Lucinda Aranha Antunes; de costas, o João Crisóstomo e em segundo plano o José António Antunes (que esteve em Angola, no tempo da guerra)


Leiria > Monte Real > 25 de maio de 2019 > XIV Encontro Nacional da Tabanca Grande > De que falam o Manuel Luís Lomba (Barcelos) e o ex-deputado e ex-dirigente sindical Arménio Santos (Lisboa)?


Leiria > Monte Real > 25 de maio de 2019 > XIV Encontro Nacional da Tabanca Grande >  Ó João, essa nem parece de um mordomo da elite de Nova Iorque!, diz a Vilma...  O Alberto Carvalho, em segundo plano, à direita.


Leiria > Monte Real > 25 de maio de 2019 > XIV Encontro Nacional da Tabanca Grande >  Uma tarde agradável, uma esplanada concorrida...


Leiria > Monte Real > 25 de maio de 2019 > XIV Encontro Nacional da Tabanca Grande >  Os 'manos' Alexandra e Zé Manel


Leiria > Monte Real > 25 de maio de 2019 > XIV Encontro Nacional da Tabanca Grande > Abel Santos e Manuel José Ribeiro Agostinho (Matosinhos), com a Giselda Pessoa (Lisboa)


Leiria > Monte Real > 25 de maio de 2019 > XIV Encontro Nacional da Tabanca Grande >  Mário Magalhães, o veteranos dos veteranos da Guiné, mais a esposa, Fernanda (Sintra)


Leiria > Monte Real > 25 de maio de 2019 > XIV Encontro Nacional da Tabanca Grande >  Dois transmontanos tripeiros, escritores de talento, Fernando Gouveia e Francisco Baptista


Leiria > Monte Real > 25 de maio de 2019 > XIV Encontro Nacional da Tabanca Grande >  Francisco Baptista (Porto) e Manuel Joaquim (Sintra)


Leiria > Monte Real > 25 de maio de 2019 > XIV Encontro Nacional da Tabanca Grande > Da esquerda para a direita, Eduardo Jorge Ferreira, mais a sua São, o dr. Carlos Camacho Lobo (Maia), o Jorge Pinto e a Ana (Sintra)


Leiria > Monte Real > 25 de maio de 2019 > XIV Encontro Nacional da Tabanca Grande > O Carlos Silvério (Ribamar / Lourinhã) em primeiro plano.

Fotos: © Manuel Resende  (2019). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
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