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sexta-feira, 15 de abril de 2011

Guiné 63/74 - P8105: Álbum fotográfico do Florimundo Rocha, ex-sold cond auto (CCAÇ 3546, Piche e Ponte Caium, 1972/74) (Parte II)


Guiné > Zona Leste > Região de Gabu > CCAÇ 3546 (Piche, Ponte Caium e Camajabá, 1972 / 1974) > 3º Grupo de Combate (Os Fantasmas do Leste) > Destacamento da Ponte de Caium > 1973 > Álbum fotográfico do Florimundo Rocha > Foto nº 8 > A famosa equipa de futebol..."Em primeiro, ao centro, o Rocha, o dono da bola, à direita o José Alberto, à esquerda o Pinto. De pé, na segunda fila, à direita, o Barbeiro, o furriel Barroca, o Santiago que tem a fita na cabeça, e o furriel Ribeiro" (CA).



Guiné > Zona Leste > Região de Gabu > CCAÇ 3546 (Piche, Ponte Caium e Camajabá, 1972 / 1974) >   3º Grupo de Combate (Os Fantasmas do leste) > Piche > 1972 > Álbum fotográfico do Florimundo Rocha > Foto nº 4 > O Unimog 411, conduzido pelo Rocha, sentado em cima do escape...





Guiné > Zona Leste > Região de Gabu > CCAÇ 3546 (Piche, Ponte Caium e Camajabá, 1972 / 1974) > 3º Grupo de Combate (Os Fantasmas do Leste) > Destacamento da Ponte de Caium > 1973 > Álbum fotográfico do Florimundo Rocha > Foto nº 6 > > O Rocha, o Sobral [, de Cercal do Alentejo,] e o Jacinto Cristina [, o padeiro, membro da nossa Tabanca Grande].



Guiné > Zona Leste > Região de Gabu > CCAÇ 3546 (Piche, Ponte Caium e Camajabá, 1972 / 1974) > 3º Grupo de Combate (Os Fantasmas do Leste) > Destacamento da Ponte de Caium > 1973 > Álbum fotográfico do Florimundo Rocha > Foto nº 9 >  O Carlos e o Rocha,  junto a uma das máquinas da TECNIL [, a empresa encarregue da construção da nova estrada Piche-Buruntuma].


Fotos enviadas por Susana Rocha, em nome de seu pai. Legendas de Carlos Alexandre. Edição: L.G.

Fotos: © Florimundo Rocha (2011) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.






1. Mais fotos do álbum do Rocha (*), com legendas, a nosso pedido, do seu camarada Carlos Alexandre, ex-sold trms, e que tem uma verdadeira "memória de elefante", a avaliar pelas mensagens que temos trocado:

Data: 15 de Abril de 2011 00:28
Assunto: Fotos do Rocha

Luís,  boa noite, só na foto do grupo no Unimog [Foto nº 4], não consigo [lembrar] os nomes de dois companheiros, embora os reconheça. Assim,  na nº 9 ,  eu próprio já tinha enviado uma igual, estou eu e o Rocha no veículo da TECNIL [, a empresa que tinha a empreitada da construção da nova Piche-Buruntuma].

Na foto nº 6, esdtão o Rocha,  o Sobral [, de Cercal do Alentejo, ] e o Cristina, eu próprio fui o fotógrafo.

A do Unimog, a foto nº 4,  foi tirada em Piche concerteza, já que não identifico os miúdos, e assim sendo foi tirada em 1972. Os companheiros são:

(i) o Rocha sentado no escape do Unimog:

(ii)  a seu lado o Pinto, atrás do Pinto o furriel Ribeiro;

(iii) a seu lado um companheiro com quem temos muitas fotos, também do abrigo do Rocha mas de quem infelizmente não recordo o nome;

(iv) na parte superior o Gordinho;

(v) Atrás do furriel Ribeiro,  o Sobral,  de óculos escuros, seguido do Pereira, do José Alberto, e do tão falado Wolkswagen;

(vi) Atrás deles julgo ser o Santiago [, 1º cabo];

(vii) O companheiro que está entre os miúdos, reconheço-o perfeitamente, vivia no abrigo do lado oposto, mas infelizmente do nome também não me recordo.

A do grupo de futebol da Ponte Caium [, foto nº 8], temos  o Rocha ao centro, à direita o José Alberto, à esquerda o Pinto. Em cima,  à direita, o Barbeiro, o furriel Barroca, o Santiago que tem a fita na cabeça, e o furriel Ribeiro. 

Tenho muita pena de não lembrar os nomes dos dois companheiros, a eles as minhas sinceras desculpas,contudo não é por isso que a minha admiração e o meu respeito por eles sejam menos valorizados.

Espero ter ajudado, ficarei ao dispor.

Um abraço ao grande produto, assim como aos enormes produtores.

Carlos Alexandre
________________ 

Nota do editor

(*) Vd. poste anterior desta série > 14 de Abril de 2011 > Guiné 63/74 - P8100: Álbum fotográfico do Florimundo Rocha, ex-sold cond auto (CCAÇ 3546, Piche e Ponte Caium, 1972/74) (Parte I)

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Guiné 63/74 - P8100: Álbum fotográfico do Florimundo Rocha, ex-sold cond auto (CCAÇ 3546, Piche e Ponte Caium, 1972/74) (Parte I)




Guiné > Zona Leste > Região de Gabu > Piche > CCAÇ 3546 (Piche, Ponte Caium e Camajabá, 1972 / 1974) > Destacameto da Ponte de Caium > 1973 > Regresso da ida á lenha, de "burrinho" (Unimog 411) com atrelado. Foi esta viatuarque caiu na zona da morte da emboscada do dia 14/6/1973, tendo morrido 4 dos seus cinco ocupantes (salvou-se o condutor,o Rocha) (*).




Guiné > Zona Leste > Região de Gabu > Piche > CCAÇ 3546 (Piche, Ponte Caium e Camajabá, 1972 / 1974) > Destacamento da Ponte Caium > 1973 > O Rocha na Tabanca de Sinchã Tumane, nos arredores.





Guiné > Zona Leste > Região de Gabu > Piche > CCAÇ 3546 (Piche, Ponte Caium e Camajabá, 1972 / 1974) > Destacamento da Ponte Caium >  1973 > O Carlos Alexandre e o Rocha no varandim tabuleiro da ponte.

Legendas do Carlos Alexandre
Fotos: © Florimundo Rocha (2011) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.





1. As fotos foram-nos enviadas pela Susana Rocha, filha do nosso camarada Florimundo (ou Flor, como é carinhosamente conhecido em Lagoa, sua terra natal) Rocha... Foram editadas por nós. Alguns estão em mau estado de conservação. As legendas foram completadas com a ajuda do Carlos Alexandre, de Peniche, ex-sold trms, ao tempo em que o Rocha e o Jacinto Cristina estiveram na Ponte Caium... Os três são membros da nossa Tabanca Grande.

Eis aqui a resposta ao meu mail, com data de 12 do corrente:


Luís,  boa noite. Relativamente às fotos enviadas pela filha do Rocha, só uma é mais dificil de analisar dado o seu mau estado, mas julgo não me enganar na identificação das suas personagens. 


A foto que nos mostra o regresso com a lenha [, uma secção do 3º Gr Comb, Os fantasmas do leste, que estava destacado da Ponte de Caium], temos o Rocha a conduzir. A seu lado o Ribeiro (o companheiro que desventrava e tratava a carne das caçadas ). Atrás do Rocha está o Silva, que na altura era sonâmbulo.


Atrás do Silva,  o Cristina, claro o nosso padeiro, só o consegui identificar depois de ampliar a fotografia. A seu lado,  o Pereira, que é natural de uma aldeia perto do Pinhão, foi identificado pelo Barbeiro, um companheiro, que tambem conhece o blogue, com quem mantenho uma relação mais próxima, falamos pelo telefone, e estamos sempre juntos nos encontros do batalhão (E neste caso eles vivem perto um do outro).


Atrás do Silva e de bigode, o Gordinho. Atrás do Gordinho,  o José Alberto, de que só se vê a cabeça. (É cmpanheiro de alguns encontros do batalhão, vive em Vidago).


O companheiro no cimo da lenha, [no atrelado,] onde a foto está em piores condições, tenho mais dificuldade em identificar, mas é concerteza o Chaves, companheiro que não vejo desde África.


A foto em que o Rocha está sozinho foi tirada na aldeia de Sinchã Tumane.


A outra sou de facto eu e o Rocha no varandim do tabuleiro da ponte. Julgo ter sido tirada antes da emboscada em 1973 (*), já que o casaco fino que uso só esteve em África até às minhas férias, altura em que se deu o triste acidente. Aliás as três foram tiradas em 1973.


Espero ter sido preciso, e ajudado na identificação do pessoal. e no que fôr necessario estarei ao dispõr para responder ao que souber e puder.


Um abraço. Carlos Alexandre

_____________

Nota do editor:

(*) Vd. poste de 7 de Abril de 2011 > Guiné 63/74 - P8061: (De)Caras (7): Reconstituição da emboscada do dia 14/6/73, a 3 Km de Piche, pelo sold cond auto Florimundo Rocha (CCAÇ 3546, Piche e Ponte Caium, 1972/74), o único sobrevivente do Unimog 411

terça-feira, 12 de abril de 2011

Guiné 63/74 - P8089: (Ex)citações (137): Obrigado, Albino Silva, pelo teu poema, Que me fizeste, Guiné! (Carlos Alexandre, CCAÇ 3546, Ponte Caium, 1972/74)

1. Mensagem do Carlos Alexandre, um dos nossos bravos de Caium [, foto à esquerda]:


Data: 10 de Abril de 2011 14:39
Assunto: Poema Guiné

Luis, boa tarde. Acabo de ouvir a minha voz, no poema do companheiro Albino Silva, ex-Soldado Maqueiro [, da CCS/BCAÇ 2845,] Teixeira Pinto, 68/70. (*)


A minha veia pouco tem de poética, no entanto se tivesse de expressar o meu sentimento sobre aqueles dias, estaria grato  a este companheiro que me ensinasse a  fazê-lo, tal como ele o fez. 


Acredito que, tal como ele diz, é seguramente o sentimento da grande maioria dos que viveram o bom e o mau naqueles dias, naqueles lugares. 


Obrigado, companheiro Albino,  pela expressão tão abrangente.

Carlos Alexandre, 
ex soldado transmissões,
CCAÇ 3546
Ponte Caium (1972/74)


____________


Nota do editor:


Último poste da série > 12 de Abril de 2011 > Guiné 63/74 - P8088: (Ex)citações (136): Dois milhões e meio de visitantes, os meus parabéns! (Felismina Costa)


(*) Vd. poste de  10 de Abril de 2011  > Guiné 63/74 - P8075: Blogpoesia (142): O que me fizeste Guiné (Albino Silva)

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Guiné 63/74 - P8082: Tabanca Grande (275): Florimundo Rocha, natural de Lagoa, ex-Sold Cond Auto, CCAÇ 3546 (Piche e Ponte Caium, 1972/74), chegado aqui por mão da sua filha, Susana Rocha



Guiné > Zona Leste > Região de Gabu > Piche > CCAÇ 3546 (Piche, Ponte Caium e Camajabá, 1972 / 1974) >  Destacamento da Ponte Caium > Ponte de Caium: em cima, se não me engano, o Carlos Alexandre e o Florimundo Rocha





Guiné > Zona Leste > Região de Gabu > Piche > CCAÇ 3546 (Piche, Ponte Caium e Camajabá, 1972 / 1974) >  Destacamento da Ponte Caium > O Florimundo Rocha na aldeia fula das proximidades, Temanco (Malã Dalassi)... A ida a lenha e o futebol eram duas das poucas distracções do pessoal ali destacado...


Guiné > Zona Leste > Região de Gabu > Piche > CCAÇ3546 (Piche, Ponte Caium e Camajabá, 1972 / 1974) >  Destacamento da Ponte Caium  > O Sold Cond Auto Florimundo Rocha, ao volante do seu "burrinho do mato", a viatura Unimog 411, depois da recolha de lenha, nas proximidades do destacamento. Foi este mesmo "burrinho" que ele conduzia no dia 14/6/1973... 

Fotos enviadas por Susana Rocha. Legendas de L.G.



Fotos: © Florimundo Rocha (2011) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.



1. Já há dias escrevemos aqui quão  bonito, espantoso e até maravilhoso era o facto de serem as filhas (mas também filhos) dos nossos camaradas, a trazer "pela mão" até ao nosso blogue,  os pais, nossos camaradas... Independentemente do sexo (ou género), são filhos de outra  Galáxia, a da Internet. 

É bom recordar que a nossa geração, nascida (a maior parte) no pós-guerra, ainda é filha da galáxia de Gutemberg... Muitos de nós andavámos na escola do "ler, escrever e contar"... Na nossa escolinha, o computador era a velha ardósia e o pau de giz e até o papel A4 era um luxo... Temos muitos camaradas nossos que ainda não tem acesso a um computador nem à Internet, não podendo por isso chegar a esta comunidade virtual que é a nossa Tabanca Grande... 

Gestos como o da Cristina Silva e da Susana Rocha (*) são bonitos e merecem ser conhecidos... Oxalá outras filhas e filhos possam e saibam seguir este exemplo...

A história do Florimundo Rocha (**) ficaria no esquecimento  se não fora a a sua filha Susana Rocha, de 29 anos, ter chegado até nós com os seus contactos e  a sua mensagem de amor filial. Foi através dela que chegámos à fala, por telefone,  com o camarada Rocha. E foi ela que nos transmitiu o desejo de integrar o pai na nossa Tabanca Grande. Para esse efeito, comprometeu-se a mandar-nos, digitalizadas, alguns fotos do seu álfum fotográfico.

Hoje é dia de apresentar o Rocha aos nossos amigos e camaradas que se sentam sob o poilão da Tabanca Grande. Ele vai juntar-se ao Jacinto Cristina e ao Carlos Alexandre que já representavam, e bem, os "bravos da Ponte de Caium". Já tivemos aqui ocasião, há dias, de ler o seu dramático relato da emboscada de 14/6/1973, na estrada Buruntuma-Piche, a três quilómetros de Piche, e de que ele foi o único sobrevivente dos cinco ocupantes do Unimog 411 ("burrinho") que ele próprio conduzia (***).


Deixemo-nos de mais conversas, e sentemos o Rocha junto aos demais camaradas (e amigos) da Guiné. Espero que a filha,  Susana Rocha, lhe vá dando notícias nossas, uma vez que ele não tem email. Ficamos a aguardar, por parte da Susana,  o envio de um foto actual do pai (****). 

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Notas do editor:









quinta-feira, 7 de abril de 2011

Guiné 63/74 - P8061: (De)Caras (7): Reconstituição da emboscada do dia 14/6/73, a 3 Km de Piche, pelo sold cond auto Florimundo Rocha (CCAÇ 3546, Piche e Ponte Caium, 1972/74), o único sobrevivente do Unimog 411


Guiné > Zona Leste > Gabu > Carta de Piche (1957) (1/50000) > Local provável da emboscada, levada a cabo por um forte dispositivoo do PAIGC, integrando "cubanos",  a "três ou quatro quilómetros de Piche", a seguir a a um curva, do lado esquerdo da estrada (alcatroada) Ponte Caium-Piche, em 14 de Junho de 1973.  O troço Ponte Caium-Buruntuma não estava alcatroado em 1974 (segundo o depoimento do Rocha). Repare-se que estamos perto da fronteira com a Guiné Conacri, na direcção sudeste (para onde terão retirado as forças do PAIGC, c. de 200, segundo a versão do Rocha).



Reconstituição da emboscada do dia 14/6/73, feita em 4 do corrente, ao telefone, pelo Florimundo Rocha (ex-sold cond auto, CCCAÇ 3546, Piche e Ponte Caium, 1972/74, natural de Lagoa, e que já expressou a sua vontade de integrar a nossa Tabanca Grande, comprometendo-se as fotos da praxe, através da sua filha Susana Rocha) [, foto à direita, 1973, Ponte Caium]:


1.O Rocha já se lembra do número de viaturas que seguiam na coluna, nesse dia fatídico, de 14/6/1973. Ele ia à frente a conduzir o seu Unimog 411, o “burrinho do mato”, que lhe estava distribuído. A seu lado, de pé, ia o Charlô (alcunha do Carlos Alberto Graça Gonçalves, natural de Lisboa) . E atrás, sentados nos bancos, os restantes camaradas do pelotão que haveriam de morrer nesse dia e hora, numa curva da estrada para Piche, a escassos 3 quilómetros da sede da unidade, a CCAÇ 3546/BCAÇ 3883… A saber: o Torrão, o Fernandes e o Santos…

2.Também não pode precisar a hora, mas terá sido depois das 9 da manhã. Foi seguramente da parte da manhã. Antes de partirem para Piche, uns tinham jogado à bola, e outros (uma secção) tinham ido à lenha, como era habitual… Eram actividades que eles faziam pela fresca. Lembra-se que o Torrão nesse dia estava de serviço à lenha. Quanto ao futebol, costumavam jogar, de manhã, pela fresca. O Rocha não falhava um jogo, aliás veio continuar, depois da peluda, a jogar futebol, em clubes da 2ª e 3ª divisões, no Algarve.

3.Já não tem a certeza, mas atrás de si, devia vir uma Berliet, com restos de materiais de construção ou madeiras. Também não se lembra se havia mais viaturas. Tem ideia que “malta de Buruntuma [, CCAÇ 3544, ], ou de Camajabá [, outro destacamento de Piche, CCAÇ 3546]” também vinha atrás, numa terceira viatura… O Wolkswagen (alcunha de um camarada que ficará ferido) vinha atrás, numa outra viatura. O Rocha não o deixou vir com ele. Nessa altura as relações entre ambos não eram as melhores.

4. A distância entre a primeira viatura (o 411) e a segunda (talvez a Berliet) deveria ser de “80 metros”. Ele, Rocha, não ia a mais de 70 km, que era o máximo que o “burrinho” dava, em estrada alcatroada. O asfalto ia até à Ponte. Trabalho da Tecnil, cujas máquinas chegaram a ser atacadas e algumas incendiadas pelo PAIGC. As bermas estavam limpas, o capim cortado. Estamos no início da época das chuvas. E foi “na curva” que o Rocha começou a ver cabeças, de gente emboscada. “Eles tinham-se entrincheirado nos morros de terra deixados pelas máquinas da Tecnil”… Pelo número de efectivos (falava-se no fim “em mais de 200”), está visto que a emboscada “não era para eles”, mas sim para o pessoal de Piche.

5.Quando o 411, conduzido pelo Rocha, entrou na “zona de morte”, na curva, os primeiros tiros (ou roquetadas) furaram-lhe os pneus. A malta foi projectada. A viatura capotou. O Rocha ficou caído mo lado direito da estrada. Os tipos do PAIGC estavam do lado esquerdo. O fogachal foi tremendo. Ele ainda conseguiu proteger-se atrás da viatura que ficou a trabalhar, de pernas para o ar. Lembra-se de ter pegado em duas ou três G3, dos camaradas feridos, e de ter respondido ao fogo do IN.

6.A emboscada poderá ter demorado “15 a 20 minutos”… O IN teve tempo para tudo: meio escondido, a uns 50 metros já da viatura sinistrada e dos camaradas feridos, viu uns gajos "brancos", “cubanos”, a falar espanhol, a saltar para a estrada… Já não pode precisar quantos eram, mas eram sobretudo “brancos”, poucos negros… Falavam em voz alta, e diziam qualquer coisa, em espanhol, como “condutor morto, condutor morto”… Completamente impotente, sem poder intervir, viu com os seus próprios olhos o espectáculo macabro, os tiros de misericórdia que acabaram com a vida dos camaradas moribundos, tiros na nuca ou na boca. Confirma o que já tínhamos dito antes: os corpos foram depois retalhados, por rajadas de Kalash…

7.Ainda se lembra da chegada das chaimites de Piche, que fizeram fogo contra as forças inimigas, que ripostaram, já no final dos combates. Talvez meia hora depois do início da emboscada. Ainda se lembra, dos 3 ou 4 feridos que foram evacuados, de heli, em Piche. Houve alguém que sugeriu que ele aproveitasse a boleia e se fizesse maluco. Mas ele recusou. Nesse mesmo dia regressaria à Ponte Caium. Não se lembra de ter tido o conforto de nenhum superior hierárquico. Uma simples palavra, muito menos um louvor. Voltou para a ponte e dormiu, como “dormia todos os dias, como ainda hoje dorme” (sem pesadelos ?..., não me respondeu à pergunta)…



Guiné > Zona Leste > Região de Gabu > Piche > CCAÇ3546 (Piche, Ponte Caium e Camajabá, 1972 / 1974) >  Destacamento da Ponte Caium > Da esquerda para a direita: O 1º Cabo Pinto, e os soldados Ramos, Cristina (segurando granadas de morteiro 60), o Wolkswagen, o Fernandes, de pé (outro que morreu na emboscada de 14/6/1973) e o Silva ("que percorreu 18 km com um tiro no pé!")...  Foto e legenda do Jacinto Cristina: falta identificar o condutor do Unimog 404.


Foto: © Jacinto Cristina (2010). Todos os direitos reservados


8. A única versão que até agora tínhamos desta emboscada, era a do Cristina (que ficou no destacamento e que,portanto, só pode contar o que lhe contaram os sobreviventes; ou do que se lembra dessas versões, e que já aqui resumimos, em tempos=:

“Em data que o Cristina já não pode precisar, a sua companhia sofreu uma violenta emboscada, entre Piche e Buruntuma, montada por um grupo ‘estimado em 400’ elementos IN (ou ‘turras, como a gente lhe chamava’)...Um RPG 7 atingiu a viatura da frente da coluna, que ia relativamente distanciada do grosso da coluna, e que explodiu...Houve de imediato 4 mortos: O Charlô e o Fernandes foram dois deles... Dos outros dois o Cristina já não se lembra.

“Com as granadas de mão dos mortos, o Wolkswagen conseguiu aguentar o ímpeto da emboscada, mas chegou a ter uma Kalash apontada à cabeça... Ninguém sabe como ele se safou... O Silva por sua vez levo um tiro no pé, fugiu, e mesmo ferido fez 18 km até ao aquartelamento”...

9… E voltamos ao monumento erigido á memória dos mortos da Ponte Caium. A ideia, não há dúvida, “foi do Alexandre”, do Carlos Alexandre, que tinham conhecimentos de moldes por trabalhar na construção naval, em Peniche. Ele, Rocha, também deu uma ajuda. Mas não lhe perguntem datas nem pormenores. Disse-lhe que o Cristina já não se lembrava de nada e que o Alexandre estava furioso por causa da amnésia dos camaradas.


10. Disse-me, por outro lado, que a filha ia mandar-nos as fotos pedidas, para poder entrar na nossa Tabanca Grande. Sentiu-se muito bem em falar comigo e contar toda esta tragédia. Estava mais calmo do que da primeira vez, em que me falou desta tragédia, emocionadíssimo. É um homem simples e franco. Pu-lo à vontade, mas ainda não consegui que ele me tratasse por tu… “Muito obrigado, o senhor (sic) tem aqui uma casa às suas ordens, quando vier a Lagoa”… 

11.Da nossa conversa, à noite ao telefone (foi ele que me ligou), fiquei a saber que,  em Janeiro de 1973, tinha vindo de férias à Metrópole. Estava, de regresso, em Piche quando se deu a tragédia que matou o Furriel Cardoso, já em 19 de Fevereiro de 1973. Só depois dessa data é que foi para a ponte, para onde ninguém gostava de ir. E por lá ficou até ao fim da comissão.

12. Mas logo a seguir, aconteceu outra tragédia: a morte do Silva, apontador de canhão sem recuo… Morreu na sua viatura quando tentaram levá-lo, moribundo, até ao helicóptero, foram pela estrada fora, sem picar, sem segurança. Tarde demais. Um estúpido acidente, que marcou muito o grupo.

13. Os furriéis só iam um de cada vez para ponte: o Cardoso, que foi vítima da explos
ão de uma armadiha; o Ribeiro, de Braga; o Barrroca, alentejano… No dia da embocada, estava o Ribeiro na ponte. Mais o Cristina, municiador, do morteiro “grande”, o 10,7… 

O Rocha esclarece ainda que na foto de grupo [vd. poste P8029], não é o Santiago (que é da Covilhã), mas sim o Serra (que é de Barcelos), quem aparece à esquerda, de pé… 

Nunca foi a um convívio do batalhão ou da companhia. Voltei a dar-lhe os contactos telefónicos do Cristina. Tentara ligar para o fixo, mas ninguém atendeu. Em, contrapartida, já tinha falado com o Alexandre (ou o Alexandre com ele)…. 

Sobre a ponte diz que era de boa construção, dos princípios dos anos 60. “Até se dizia que tinha sido construída pelo Amílcar Cabral”… Rectifiquei: o Cabral não era engenheiro de pontes, mas agrónomo… Não bate certo… 

13. Outras memórias da ponte: O Gen Spínola um dia aterrou lá, estavam a jogar futebol… Usavam todos barba e cabelo compridos. Não havia barbeiro. O Spínola deu uma piada qualquer, ia de heli para Buruntuma. 


14. Despedi-me do Rocha, para o poupar, mas com a promessa de voltarmos a falar, com mais tempo e vagar. Percebo que lhe fazia bem. E que, por outro lado, só lhe interessa a verdade dos factos… Parece ter boa memória fotográfica.
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Nota do editor:

Último poste da série 14 de Janeiro de 2011> 

Guiné 63/74 - P7615: (De)Caras (6): A emboscada às NT na estrada Galomaro-Bangacia (Duas Fontes), em 1/10/1971: o relim do comandante do PAIGC Constantino dos Santos Teixeira,Tchutchu

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Guiné 61/74 - P8055: O Mundo é Pequeno e a Nossa Tabanca... é Grande (40): A aparição do Florimundo Rocha, de Lagoa, Algarve (Carlos Alexandre, ex-Sold Trns, CCAÇ 3546, Piche e Ponte Caium, 1972/74)




Guiné > Zona Leste > Região de Gabu > Piche > CCAÇ 3546 (Piche, Ponte Caium e Camajabá, 1972 / 1974) > Destacamento da Ponte do Rio Caium > Legenda rectificada (*): Quatro camaradas, quatro amigos: Da esquerda para a esquerda: (i) Serra (sold atirador, natural de Barcelos, e não o 1º Cabo Santiago, que é da Covilhã); (ii) Florimundo Rocha (sold condutor auto, algarvio de Lagoa); (iii) Carlos Alexandre (operador de transmissões, fadista, carpinteiro naval, natural de Peniche); e (iv) Jacinto Cristina (padeiro e municiador do morteiro, natural de Ferreira do Alentejo)...

Foto gentilmente cedida pelo meu amigo (e camarada) Jacinto Cristina,d e Figueira de Cavaleiros, Ferreira do Alentejo.


Foto: © Jacinto Cristina (2010) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.



1. Mensagem de Carlos Alexandre, outro bravo de Caium, membro da nossa Tabanca Grande, a viver em Peniche:

Data: 2 de Abril de 2011 15:00
Assunto: A aparição do Rocha


Luís, boa tarde. Como era de esperar, ao ter conhecimento desta nova aparição (*), e como não podia deixar de ser, apenas esperei horas decentes para fazer o contacto telefónico, e por volta das doze e trinta surgiu a mesma voz perdida há trinta e sete anos atrás aquando,  por força das circunstâncias, o batalhão [, o BCAÇ 3883, ] regressou a Portugal e deixou os de rendição individual ao Deus dará,  sem o mínimo de condições de agir, dado o estado físico e psicológico subjacente aos dias vividos naqueles lugares... Mas até aí em grupo, onde nos identificávamos como um colectivo e nesse colectivo éramos como um por todos e todos por um,  como é evidente eu tal como outros que lá ficaram, fomos entregues ao desprezo angustiante, por aqueles cuja responsabilidade, no mínimo, era acompanhá-los e deixá-los bem entregues, para que não tivessem de passar o que é próprio de quem se sente completamente só e ao abandono, depois de termos passado por onde passámos.

Foi com muita expectativa e alegria que marquei os números indicados, e com eles o prazer de falar com o Rocha [, o Florimundo Rocha] (*). A conversa foi curta, apenas uma troca de informações, mas ficou presente a importância da sua presença no próximo encontro do batalhão a realizar nem sei quando nem onde, mas espero contactá-lo quando receber essa informação.

O Rocha estava instalado no abrigo em frente ao das transmissões, os companheiros destes grupos estavam mais perto uns dos outros,  como é natural, por consequência o contacto estava mais presente, a nossa relação era mais achegada, pertencíamos ao grupo dos abrigos do lado de Buruntuma.

Foi um prazer falar com o Rocha, espero ser muito maior o encontro depois destes anos todos.

Já a gora permitam-me voltar ao mesmo esclarecimento, o companheiro indicado como sendo o Santiago não corresponde à verdade, como já foi referenciado anteriormente, e segundo o Rocha esse companheiro é o Serra. O Rocha saberá identificá-lo melhor deu.

Obrigado pela presença tão especial que o passado nos presentei-a através do vosso esforço.

Carlos Alexandre.
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Nota do editor:

(*) Vd. poste de 1 de Abril de 2011 | Guiné 63/74 - P8029: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (39): Florimundo Rocha, natural de Lagoa, ex-Sold Cond Auto, CCAÇ 3546, 1972/74 (Piche, 1972/74), outro "bravo da Ponte Caium", sobrevivente da emboscada de 14/6/1973

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Guiné 63/74 - P7742: O Nosso Livro de Visitas (106): José Fernando Estima, natural de Águeda, ex-Fur Mil, CCAÇ 3546/BCAÇ 3883, Piche, Cambor (1972/74)


Guiné > Zona Leste > Carta de Piche (1957) > Escala 1/50000 > Pormenor da posição relativa de Piche, Cambor (na estrada Piche-Canquelifá) e Ponte Caium (na estrada Piche-Buruntuma)...


Telefonou-me há dias o José Fernando Estima, morador em Espinhel, Rua Cabo do Lugar, nº 140, 3750 Águeda.


Foi Furriel Miliciano da CCAÇ 3546/BCAÇ 3883, a mesma subunidade do Jacinto Cristina e do Carlos Alexandre, dois bravos da Ponte de Caium. Pertencia ao 2º Gr Comb. Esteve em Piche, em Camajabá e em Cambor, a norte de Piche, na estrada para Canquelifá: no destacamento de Cambor passou mais de um ano, enquanto o 3º Gr Comb estava na Ponte Caium (havia um outro grupo em Buruntuma). Fiquei com a ideia de que também terá estado em Canquelifá...

Desse tempo lembra-se do Cap Cristo (Cap Mil Inf Fernando Peixinho de Cristo, comandante da CCAÇ 3545, sediada em Canquelifá)… Lembra-se de passar pela Ponte Caium… (Falámos do monumento, desenhado pelo Carlos Alexandre e construído pela malta do 3º Gr Comb, os "Fantasmas do leste"...mas não tenho a certeza de ele ter uma ideia precisa desse monummento)...


Lembra-se do Cristina… E lembra-se de ter voltado ao Xime (a 1ª vez, desembarcou lá, vindo de LGD, de Bissau, em Março de 1972)… Da segunda vez, lembra-se de ter encontrado um 1º cabo da sua terra, que levava 11 urnas para Bissau… (Este episódio deve ter ocorrido em Abril de 1972, e deve estar relacionado com a emboscada no Quirafo, de 17 de Abril de 1972)... Lembra-se de ter feito a viagem de regresso, com os seus camaradas, desarmados, à civil, de Piche ao Xime (ou a Lamego ?), com "segurança" do PAIGC ao longo da estrada...

O nosso camarada Estima trabalha em Aguada de Cima, Águeda, mesmo junto ao Restaurante Vidal, um dos restaurantes de referência dos apreciadores de leitão (Dizem que serviu em 1996 três leitões para um banquete da Rainha Isabel II)… Não conhece o Paulo Santiago, em contrapartida é amigo (ou conhecido) do Victor Tavares, nosso camarigo, ex-1º Cabo pára-quedista da CCP 121/BCP 12 (Bissalanca, BA 12, 1972/74).

O Estima pediu a sua entrada formal na nossa Tabanca Grande. Ficou de pedir ajuda,  a um dos seus filhos ou filhas,   para digitalizar fotos do seu álbum. Pediu-me para mandar um abraço à malta da sua companhia e do seu batalhão, extensivo a toda a Tabanca Grande.

Recorde-se aqui o historial da CCAÇ 3546/BCAÇ 3883:

(i) O BCAÇ 3883 foi mobilizado pelo RI 2, tendo partido para a Guiné, de avião, em Março de 1972 ( o comando e a CCS em 19/3/1972; a CCAÇ 3544, a 20; a CCAÇ 3545, a 22; e a CCAÇ 3546 a 23); (ii) A CSS ficou sediada em Piche; (iii) O comandante era o Ten Cor Inf Manuel António Dantas; (iv)  O comandante da CCAÇ 3546 (Piche, Cambor, Ponte Caium e Camajabá) era o Cap QEO José Carlos Duarte Ferreira; (v) As outras companhias do BCAÇ 3883 eram a CCAÇ 3544 (Buruntuma e Piche; teve dois comandantes: Cap Mil Inf Luís Manuel Teixeira Neves de Carvalho; Cap Mil Inf José Carlos Guerra Nunes) e a CCAÇ 3545 (Canquelifá e Piche; comandante, Cap Mil Inf Fernando Peixinho de Cristo);   (vi) O batalhão regressou a casa, de avião, em Junho de 1974.
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Nota de L.G.:

Último poste da série > 2 de Fevereiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7709: O Nosso Livro de Visitas (105): José Figueiral, ex-Alf Mil da CCAÇ 6 (Bedanda)

domingo, 9 de janeiro de 2011

Guiné 63/74 - P7579: Álbum fotográfico de Jacinto Cristina, o padeiro da Ponte Caium, 3º Gr Comb da CCAÇ 3546, 1972/74 (6): Evocando a G3...., em dia de aniversário da nossa amiga Cristina ! (Luís Graça)









Fotos: © Jacinto Cristina (2011) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados




Continuação da publicação do álbum fotográfico de Jacinto Cristina (Sold At Inf, CCAÇ 3546, 1972/74) [, foto à esquerda] (*).

Recorde-se a história de vida (civil e militar) do nosso Jacinto Cristina:

(i) Natural de Ferreira do Alentejo, hoje com 61 anos, é industrial de panificação em Figueira de Cavaleiros;

(ii) Fez a recruta no RI 14, em Viseu, e a especialidade no RI 2, Abrantes;

(iii) Casado (com a Goretti) e já com uma filha (a Cristina), foi mobilizado para a Guiné, como Sold At Inf, da CCAÇ 3546 / BCAÇ 3883 (Piche);

(iv) O comandante da CCAÇ 3546 era o Cap QEO José Carlos Duarte Ferreira;

(v) As outras companhias do BCAÇ 3883 era a CCAÇ 3544 (Buruntuma e Piche) e a CCAÇ 3545 (Canquelifá e Piche);

(vi) O Cristina esteve na Guiné entre Março de 1972 e Junho de 1974;

 (vii) Esteve no destacamento de Ponte de Caium, na estrada entre Piche e Buruntuma, cerca de 14 meses (Fevereiro de 1973 / Abril de 1974), onde foi municiador do morteiro 10,7 e padeiro.


As fotos que acima publicamos, de verdadeira declaração de amor à G3 e demais acessórios de qualquer atirador de infantaria (cinturão com 4 cartucheiras, com 20 munições cada, de calibre 7,62; baioneta;  cantil; faca de mato; granada ofensiva e defensiva...) devem constar em milhares de álbuns de camaradas nossos que passaram pelo TO da Guiné e que tratavam  religiosamente o seu  álbum fotográfico... Devem-se ter vendido milhares de fotos destas. Nunca tive álbum fotográfico, nem  mandei, para a metrópole, nenhuma foto destas... Nem sei se a malta mandava fotos destas, pelo correio, às namoradas, madrinhas de guerra, irmãs, mães, amigas... Aqui a G3 aparece como um verdadeiro fétiche, um talismã, um escudo protector, uma companheira inseparável: andámos juntos, fomos unha com carne na Guiné,  amei-te muito, devo-te a vida, jamais te esquecerei... Em termos físicos, simbólicos, psicológicos e até culturais, a G3 é, antes de mais uma figura feminina,  uma arma de defesa;  é uma amante, mas também uma mãe: não sei se a interpretação... algo freudiana, é abusiva; para outros combatentes, poderia ser vista também sob uma perspectiva mais falocrática: uma extensão do nosso corpo, a nossa "canhota", o nosso pénis mortífero...


Não sei se o Jacinto fez muito uso dela, da G3, no destacamento da ponte Caium; deve ter lançado, sobretudo, granadas de morteiro em resposta aos ataques e flagelações a que o destacamento foi sujeito (terão sido apenas dois ou três no tempo em que lá esteve, segundo me confessou)...

Prefiro, em qualquer dos casos, inclinar-me para a analogia da G3 com a mulher... A razão é simples: ele dormia com o retrato das duas mulheres da sua vida, a esposa Goretti e a filhota Cristina...

A minha amiga Cristina, hoje engenheira e empresária, vive na Madeira, é casada com o meu amigo Rui Silva... E hoie faz anos... Já tinha   dois aninhos quando o pai foi parar a Piche e à ponte Caium...
Querida Cristina, que estas fotos "roubadas" ao álbum fotográfico do teu pai (que tu representas aqui no nosso blogue, já que ele não tem computador nem e-mail nem essas modernices...), te ajudem a matar as saudades da terra (e da casa paterna), a encurtar as distâncias, a abrilhantar a tua festa... Daqui te envio muitos beijinhos de parabéns, em meu nome pessoal, mas também de todos os amigos e camaradas do teu pai Jacinto, representados na nossa Tabanca Grande.  Como costumamos dizer, os filhos dos nossos camaradas nossos filhos são...  Um beijo filial do editor-em-chefe... LG

PS - Pessoal: Um xicoração para o Rui, e muitos beijinhos para a nossa "princesa", a tua filhota... (Cá em casa já cantámos hoje, em conjunto os "parabéns a você", em tua honra, nós, os quatro, que temos o privilégio  de sermos amigos teus e do Rui: eu, a Alice, o João e a Joana; o espumante  fica para se abrir num próximo encontro, certamente breve, em Alfragide, em Figueira de Cavaleiros ou até no Funchal).

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Nota de L.G.:

(*) Último poste da série > 15 de Dezembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7438: Álbum fotográfico de Jacinto Cristina, o padeiro da Ponte Caium, 3º Gr Comb da CCAÇ 3546, 1972/74 (5): Canquelifá, a ferro e fogo, 18 de Março de 1974

sábado, 20 de novembro de 2010

Guiné 63/74 - P7312: Parabéns a você (176): Soldado Cristina, padeiro, municiador de morteiro e bravo do pelotão da Ponte de Caium






















Guiné > Zona leste > Região de Gabu > Piche > CCAÇ 3546 (1972/74) > Fotos do álbum do Jacinto Cristina... Desta vez, optámos deliberadamente por seleccionar de fotos que mostrassem o dia-a-dia  do nosso camarada na sede da companhia e eventualmente em outros sítios, excluindo a Ponte de Caium (que já foi objecto de anteriores postes *)... Os dois álbuns, a que tivemos acesso, não tem legendas... Mas as fotos falam por si...Uma delas creio ter sido tirada em Bafatá (nas piscinas municipais)... As restantes devem ser de Piche...



Fotos: © Jacinto Cristina (2010) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.



Já tem sessenta e um,
O camarada Cristina,
Que na Ponte de Caium
Foi soldado, cumpriu a sina.

Foi soldado, cumpriu a sina,
Carregando uma espingarda,
C’a Goretti e a menina
Rezando ao anjo da guarda.

Rezando ao anjo da guarda,
P’ra que volte depressa e bem,
Honrada a Pátria e a farda,
Sem dever nada a ninguém.

Sem dever nada a ninguém,
Tomou conta do morteiro,
Bom camarada também,
E sobretudo padeiro.

E sobretudo padeiro,
Foi pau pra toda a obra,
De pescador a pedreiro,
Com muito tempo de sobra.

Com muito tempo de sobra,
Vinte e sete meses  de Guiné,
Põe-te a pau com turra e cobra,
E aguenta a ponte de pé.

E aguenta a ponte de pé,
Foi ordem do comandante,
Vejam o bravo que ele é,
Brincalhão e confiante.

Brincalhão e confinante.
Ou não fora alentejano,
Venha daí o espumante,
Que eu volto cá pr’ó ano.

Que eu volto cá pr’ó ano,
Com mais notícias de Piche,
E com saudades do catano
Dessa malta toda fixe.

Dessa malta toda fixe,
Do Sobral ao Torrão,
Mais o Carlos de Peniche,
E o resto do pelotão.

E o resto do pelotão,
Que lhe diz emocionado:
Pelo exemplo e pelo pão,
Jacinto, muito obrigado!

Os bravos do pelotão da Ponte de Caium


O Cristina (Jacinto, de seu nome de baptismo) fez anos, 61, no dia 14. Mas só hoje, sábado, que é o seu único  dia de descanso semanal, celebra a data com a família ... Pediu ao seu genro, o Dr. Rui Silva, para lhe ler estes versinhos, em nome de de todos os bravos da Ponte de Caium!... (LG) 
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Nota de L.G.


(*) Postes anteriores:


18 de Novembro de 2010 Guiné 63/74 - P7303: Álbum fotográfico de Jacinto Cristina, o padeiro da Ponte Caium, 3º Gr Comb da CCAÇ 3546, 1972/74 (4): Parabéns ao municiador (e às vezes apontador) do Morteiro 10.7, que fez 61 anos no passado dia 14...








segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Guiné 63/74 - P7245: Memória dos lugares (111): Ponte Caium: Mais fotos ... (Carlos Alexandre, CCAÇ 3546, Piche, 1972/74)



Guiné > Zona leste > Região de Gabu > Piche > Ponte Caium > CCAÇ 3546 (Piche, Ponte Caium e Camajabá, 1972 / 1974) > Foto nº 1: "O rio no seu auge, em plena época das chuvas..." 


Guiné > Zona leste > Região de Gabu > Piche > Ponte Caium > CCAÇ 3546 (Piche, Ponte Caium e Camajabá, 1972 / 1974) > Foto nº 2: "As máquinas da Tecnil destruídas por ataque do PAIGC... Esta empresa estava empenhada na construção da nova estrada Piche-Buruntuma"...



Guiné > Zona leste > Região de Gabu > Piche > Ponte Caium > CCAÇ 3546 (Piche, Ponte Caium e Camajabá, 1972 / 1974) > Foto nº 3: "O Carlos Alexandre é o primeiro a contar da esquerda... O Santiago, presumo que seja o segundo".





Fotos: © Carlos Alexandre (2010) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados




1.Mensagem do nosso camarada Carlos Alexandre (*):




 Luis Graça, boa noite. As fotografias prometidas  aqui estão:


A primeira mostra-nos o rio no seu auge.


A segunda as máquinas da Tecnil destruídas. Não me recordo como foram parar na ponte, mas tendo em conta a posição das viaturas, creio ter sido consequência de alguma emboscada entre Camajabá e Buruntuma. Liguei ao Serôdio camarada que na época era radiotelegrafista em Camajabá e tambem ele me diz que sim. 


A terceira para que se conheça o Santiago, já referenciado por engano numa foto enviada pelo Cristina. 


O camarada Arménio Estorninho que faz referencia ao nome do condutor Rocha tem toda a razão em dizer que se trata do Florimundo Rocha e que na sua terra é conhecido pelo Flor, já que eu próprio me lembro de em determinada altura o mesmo me ter dito isso.


Ainda nas referências à pequena capela (ou oratório) o camarada que enviou a fotografia e que está junto a ela, tira-me o resto das dúvidas relativamente ao texto (Nem só do pão vive o homem)... A pequena capela sofria na altura de muito mau trato e,  como estavamos com a mão na massa,  foi muito simples reparar com um pouco massa de cimento e fazer o mesmo texto desta vez recortando o próprio cimento.



Continuação de boa noite e obrigado pela possibilidade do contacto à volta de um assunto tão sério quanto rico na essência de homens tão nobres e silenciosos.


Carlos Alexandre (**) 






Peniche > Estaleiros Navais de Peniche, SA > Foto que me mandou o Carlos, com a seguinte legenda, em 5 do corrente: "Luis, bom dia. Ontem falei com o Mota que ao ouvir o teu nome reconheceu-te logo, diz-me que na altura trabalhava nas finanças, será? O local de encontro era a Humus. Junto envio uma foto do estaleiro, tirada julgo que em Março ou Abril deste ano, tendo em conta o barco verde que está a reparar e as obras do novo Plano Inclinado para construção de navios até 100 metros de comprimento. Vai ser inaugurado brevemente com duas unidades de aço já em construção de 56 metros, para Moçambique".

A empresa onde trabalha o nosso camarada Carlos Alexandre, e de que é presidente (e o maior accionista) um velho conhecido meu,  Carlos Mota, antigo oficial da marinha mercante e conhecida figura da oposição democrática da região oeste ao regime de Salazar-Caetano.  Desde 1973 que não o via. Revi-o agora, em grande forma, num vídeo do Jornal de Negócios. Quando vim da Guiné, encontrávamo-nos com alguma frequência na Livraria Húmus, cooperativa de que ele era sócio, fundador e dirigente (sem esquecer  outros jovens  de talento, irreverentes e combativos como o Zé Maria Costa, professor na Escola Industrial e Comercial de Peniche, de quem me lembro bem, e outros como o José Rosa, o Carlos Vital e o Adelino Leitão, de quem me lembro menos bem). A Húmus teve um papel de relevo na intervenção cívica e cultural de Peniche (se não me engano, terá sido encerrada por intervenção da PIDE/DGS, ainda antes do 25 de Abril, estava já eu a trabalhar em Mafra, ainda nas finanças, antes de voltar à Lourinhã e fixar-me, em 1975, definitivamente em Lisboa). 

Recordo-me de,  um dia (no verão de 1971 ou de 1972), o meu pequeno grupo de amigos da Lourinhã (onde se incluía o meu saudoso amigo Luís Venâncio Rei, na altura ainda estudante de medicina, mas também o advogado e conservador do registo predial Manuel Vasques, que trabalhava na Lourinhã e vivia em Peniche) ter lá levado o genial e também saudoso Mário Viegas (1948-1996), que costumava vir passar uns dias à Praia da Areia Branca, onde a família (de Santarém) tinha casa de verão. Não sei por que carga de água a sessão de poesia acabou ao rubro, com o truculento Zé Maria (se a memória não me atraiçoa ...) a "provocar" o provocador nato que era o Mário Viegas, estudante da Faculdade de Letras (justamente acabado de sair da tropa, e com quem tive oportunidade, nesse fim de semana, de falar da guerra na Guiné)... 


Nessa noite, para mim memorável, o Mário terá declamado, entre outros poemas que ele sabia de cor e dizer como ninguém, um excerto do  Manifesto Anti-Dantas, do Almada Negreiros (claro, não posso garantir, nem sei se nessa época o jovem Mário Viegas, então com 22 ou 23 anos, já tinha no seu reportório este extraordinário poema panfletário que é uma diatribe e um libelo contra a arrogância intelectual!...).

Carlos Alexandra, manda um abraço meu ao teu "patrão" e transmite os votos de bom sucesso para a empresa, cujo futuro é importante todos vós, para Peniche, para as nossas gentes do mar, para a nossa região, para a nossa economia, para o nosso país. E, como vês, camarada, o mundo é pequeno e a nossa Tabanca... é Grande!

Foto gentilmente enviada pelo Carlos Alexandre (2010)  

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Notas de L.G.:


 (**) Último poste da série > 6 de Novembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7234: Memória dos lugares (109): Ponte Caium (Carlos Carvalho, CCAV 2749, 1970/72)