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terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

Guiné 63/74 - P2558: Pensar em voz alta (Torcato Mendonça) (8): Correio do Torcato Mendonça


Pensar em Voz Alta


1. Correio do Torcato Mendonça.
Deixemo-lo discorrer, pensar em voz alta, sem comentários, limitando-nos apenas a sublinhar uma ou outra passagem.


Meus Caros Editores,

Escrevi uma mensagem com um "esqueleto". Deixou de o ser e segue devidamente coberto. Se presta ou não é outro assunto. É uma terapia, blogoterapia…as madrinhas de guerra não seriam uma aeroterapia?

Neste dia de chuva e mais chuva tratei de vários atrasos…acabei por passar pelo blogue e lembrei-me de mandar este escrito. Foi antes junto a outro – O Livro – em esqueleto coitado. Se está vestido, vai…

Li o Texto do ex- paraquedista Rebocho e, se me é permitido, faço (...) breves considerações:

1- O acesso à correspondência de alguém, só deve ser invocada se antes o " dono dela " deu autorização. Ou não ficou esclarecido ou eu não percebi. Há uma autorização a outra pessoa.

2- Um furriel e um alferes milicianos eram praticamente iguais. Um tinha 3 vês, virados para baixo a que chamavam divisas (salvo erro), o outro tinha um traço chamado galão. Iam para a tropa para o CSM ou COM por terem habilitações literárias diferentes. A instrução era igual ou pouco diferia. Estou certo ou errado?

Conheci furriéis que deviam ser eles a comandar os que o comandavam a eles… No CIOE os cabos milicianos mandavam os aspirantes fazer uma completa de x… Meu aspirante uma… olha toma.

Porque não podia o Casimiro saber…. Bem se fosse dissertar política internacional com o Professor Adriano Moreira – por quem tenho o maior respeito – certamente era diferente…pois…presunção e água benta…

3- Isto é que vai aqui uma moenga…é do tempo. MAS: OS MILICIANOS SÃO MILICIANOS E OS DO QP SÃO DO QP. E AQUI HÁ UM PROBLEMA DO QP!

O 1º Sargento da minha Companhia tinha um trauma por nunca poder ter galões… O Parreira Fur Comando conheceu-o noutra comissão em Bigene, creio eu! Ora eu gosto e respeito muita gente que é ou foi do Quadro Permanente ou do QP.

Malhas que o Império teceu… e ainda hoje faz eco…
Um abraço,
Torcato Mendonça
torcatomendonca@gmail.com

PENSAR EM VOZ ALTA

A - (História; Guileje; a Verdade necessária Sempre)

1 – Bissau; - hoje, 23 de Janeiro 08. Já é passado. Estamos a 27, na rápida voragem dos dias.

Dizia eu nesse dia 23, em mensagem desabafo, ao Virgínio Briote:

Virgínio Briote,

hoje, pela manhã, como é meu hábito, abri o blogue. Li o Post sobre a diáspora. Àquela hora tinha intenção de o fazer a correr. Mas não, voltei atrás e reli. No dia anterior, se não me engano, aconteceu-me ler, parar e voltar atrás, reler e ler até ao fim um escrito de um ex-combatente de Mondim de Basto. Agora, embora por razões diferentes voltei a fazê-lo.
Nos últimos dias, comecei, perante o que leio, o teor dos assuntos abordados e por outras razões ou motivos a questionar-me sobre o blogue. Fiz aquele comentário ao P 2456 – finito.

Ontem li no JN, pag. 60, Olhares cruzados…uma visão de Diana Andringa sobre a guerra colonial. O M. Lopes mandou e-mail com o que o jornalista escreveu. Diz ela ao jornalista: … lá não há nenhum ódio aos portugueses…há uma espécie de turismo sentimental…!
Concordo com o turismo, desconheço os ódios. Não os tenho pessoalmente a ninguém, mas isso não interessa.
Leio o Post da diáspora; a troca de mensagens, a ausência de quadros guineenses, a Crónica de um Descrente e o poema relatando o Bissau de hoje, os comentários que depois aparecem – quer sobre estas questões, quer sobre o Simpósio – concordo, não ignoro o que naquela terra se passa e penso: de facto isto fortalece as minhas dúvidas dos últimos tempos.

Havendo, para mim, situações dissonantes “fiz” um escrito. Chamar-lhe-ia – Heróis Obscenos ou Geração do Hummer ou Da Mata ao Dancing. Perdeu o titulo o interesse, fiz delete e tudo se esfumou… é melhor assim.
O escrito ficou na cabeça. A idade vai diluir e escrever não se faz quando queremos… Acho o meio milhão de visitas uma vitória, vista de vários prismas, de um homem – o Luis Graça. Mesmo que ele queira partilhar com outros; o livro do Beja Santos um acontecimento bonito; o Simpósio será o que os homens de boa vontade quiserem e oxalá sirva o desenvolvimento de uma terra de que gosto, mas não é minha e, a palavra principal é dos guineenses… um país com uma mortalidade infantil de 200 em cada 1000 nados-vivos, um país que lutou de armas na mão… Bem, não continuo.

É certamente ilegítimo questionar assim. Mas vejo um pastor católico (sou anticlerical) ir fazer, com outros, uma viagem para entregar um Jeep, medicamentos e etc. Oxalá tudo corra bem para eles. Incongruência minha? Talvez! Mas porque não ficam com um Hummer? Gasta muita gasolina? Ou podem dizer: pois é mas tu (eu) nunca mais voltas á Guiné.
Certo. Eu sei que não posso voltar. Nada me inibe, contudo, de criticar ou lutar pela ajuda de um povo que merece uma vida melhor e desmerece certos compatriotas…páro mesmo… concordo com o teu comentário e a resposta; com o Descrente e o Poeta esperando que se tornem crentes e não tenham, no futuro, razão para escrever assim.
Espero sair uns dias, talvez ainda esta semana. Não sei ainda ao certo, como não sei a minha relação bloguista. Depois de meados de Fevereiro se verá. Escrevo, sobre vários assuntos e acrescento a Guiné. Tenciono, recomeçar as Estórias de José II e fazer uma análise, em abordagem diferente, à minha participação, como Militar e graduado do Exército Português.
Estive no lado errado da História? Nada disso! Causa injusta? Bem, vamos fazer a abordagem por aí…
Não faço cc, como é meu hábito, ao Luis Graça e por isso o endereço é diferente. Talvez guarde e reencaminhe depois. Não o chateio agora. Eram só duas palavras. Assumo-as todas Camarada. Sempre.
Um abraço,

Depois destas palavras, podia e devia estar mudo e quedo deixando fluir os acontecimentos. Não vou, com qualquer escrito travar ou desviar minimamente algo do seu normal percurso. Posso até parecer um sujeito sem prática solidária. Mas:

Continuo, neste pensar em voz alta, correndo o risco ou tendo a certeza de estar a mensagem fora de contexto do que, a seguir abordo.
Talvez não tenha sido explícito. O que a seguir escrevo não ser a continuidade do atrás escrito. Prefiro contudo continuar a pensar em voz alta.

2 - Hoje, 27 de Janeiro, no Suplemento P2 do jornal O Público, a páginas 3, vem uma frase de Konrad Adenauer – “A História é a soma das coisas que poderiam ser evitadas”. Concordemos ou não com ele, politicamente ou nesta frase, se a adaptarmos á Guerra – Colonial ou do Ultramar – sentimos haver, nesta definição, algo de verdade e correlacionada ela.

Efectivamente, a história poderia ter sido escrita de outra forma se a soma das coisas tivessem sido evitadas. Foi uma guerra que, se não fosse o autismo da classe dirigente, mesmo depois de iniciada, poder-se-ia ter evitado. A generalização a toda a classe dirigente pode ser injusta. Houve quem pensasse, nesse tempo, de forma diferente.

Não cabe aqui e agora fazer história. Deve-se, isso sim, relatar as memórias, os factos vividos, da forma mais fiel e real que nos for possível.
O somatório desses relatos levará, quem de direito a fazer uma análise historiográfica correcta. No caso concreto, serão pois os historiadores a juntar essas coisas. Contudo, aqui interessa focar mais a Guiné, sabendo antecipadamente a impossibilidade de dissociar uma parte do todo. Conscientes disso, sabendo as limitações para uma análise de uma guerra na qual participamos, pretensioso seria ir mais além do que comentá-la de forma ligeira. Vejamos então:

Na Série Televisiva – RTP1 – A Guerra, do jornalista Joaquim Furtado, existem depoimentos importantíssimos para se compreender a Guerra nos vários cenários.

Pode ser um trabalho valioso e um contributo importante para o estudo futuro desse período da nossa história. É um trabalho jornalístico, parece-me não pretender ir mais além, tendo, nesta I Série, valiosa pesquisa documental e importantes depoimentos.

São relatos, com opiniões divergentes de participantes de um e do outro lado. Essa riqueza de informação será determinante, no futuro, que se quer breve, juntamente com outros trabalhos, para compreender e escrever, essa parte da nossa história e dos outros povos intervenientes.

Esperamos pela II Série, pois, certamente, no seguimento da primeira mais esclarecedora e rica se tornará, propiciando os tais importantes elementos de estudo.

O filme de Diana Andringa e do guineense Flora Gomes – As Duas Faces da Guerra – tem abordagem diferente e dá-nos, da guerra na Guiné, uma visão mais profunda.

É um documentário que mostra a guerra, como o título indica em, pelo menos, duas visões diferentes. Há analogia no título com uma moeda, o verso e o reverso. Não é moeda de “Eixo Vertical”. Ou seja, ao passarmos do verso para o reverso temos a visão diferente e livre a abrir-nos caminhos para, no futuro ou porque não já agora, serem exploradas as vivências de quem esteve dos dois lados do conflito e tem dele, logicamente, opinião ou visão diversa.

É um Documentário importante. Sentido fortemente por quem assiste ao filme. Principalmente pelos que viveram aqueles acontecimentos. Sem nos apercebermos somos para lá transportados.
Os relatos são feitos de forma pausada, clara, objectiva. Fala-se da ausência de ódios, entre os antigos intervenientes – não sejamos ingénuos, entre a maioria deles – ou ainda do sonho de Amílcar Cabral. Como seria a Guiné sem o seu desaparecimento?
Temos outro relato importante sobre a internacionalização da guerra e a participação de Cubanos, Jugoslavos, Russos e outros.
Pena não termos uma mais forte amostragem ou depoimentos sobre a chacina de muitos Guineenses que ao nosso lado lutaram.
É um documentário a merecer reflexão e debate. É imprescindível para a análise da nossa memória colectiva futura.

No Blogue, Luis Graça e Camaradas da Guiné, existem já inúmeros depoimentos, comentários e relatos de vários acontecimentos importantes do conflito. Felizmente nem sempre convergentes. Alguns, a que foram chamadas questões fracturantes, essas divergências são mais fortes. Noutros, sobre questões diversas, a crítica, se correctamente feita, é sempre salutar, repõe ou aproxima-se, assim mais da verdade.

Curioso, foi ler a chamada de atenção a um tertuliano (creio eu) menos atento, de Diana Andringa sobre a I Série de A Guerra, esclarecendo a interrupção e a vinda de uma II Série. Desse modo, defende o seu colega Joaquim Furtado. Não com o intuito de defesa mas, quanto a mim, com o objectivo de esclarecer.

De forma diferente temos o esclarecimento, correcto e oportuno, do nosso Camarada de Artilharia e dos Comandos a um Camarada Paraquedista. Entre militares parece mais agreste a resposta. Nada disso, quanto a mim claro.
Efectivamente não há peças de artilharia 10,6. Havia, isso sim, obuses 10,5. Quanto a quem era ou não o Comandante do CAOP 5 foi, pelo Coronel Nuno Rubim, novamente e documentalmente esclarecido.

Talvez seja o acontecimento mais dramático da guerra na Guiné. Por isso, o cuidado no relato dos factos do que efectivamente aconteceu. Em debate sereno, certamente com opiniões diversas dos acontecimentos vividos pelos intervenientes, procurando consensos pois, só assim, se poderá descrever, em verdade, esse período.

É difícil relatar tão dramáticos acontecimentos. Mesmo feito por quem os viveu. Até a semântica pode adulterar o relato. Abandonar versus fugir.

A decisão de abandonar, de sair de um aquartelamento militar deve ser terrível, dificílima para ser tomada. Mas esse acontecimento tem que ser relatado. Analisado com os depoimentos das duas partes. Não só aquele, outros daquela guerra devido á sua importância, merecem tratamento profundo porque alguns são determinantes no desfecho da mesma.

Temos os exemplos do Como, de ficar e mais tarde abandonar Cachil, Balana, Madina do Boé e do desastre do Cheche. Ou acontecimentos passados em Gadamael e, no Norte, em Gudaje, ou o assassinato de quatro oficiais e outros militares – mais conhecido pelo caso dos 3 majores – ou certas tomadas de posição militar e política; por uma Guiné melhor, não bombardear ou não emboscar em certas ocasiões.
Por isso a necessidade de serem os intervenientes, se possível de ambos os lados, a relatar o outrora acontecido, sem receios de criticas, de divergências, de fracturas. A guerra, contada por quem a fez será certamente, para o futuro histórico mais fiel.

Devemos aceitar com humildade as vivências diferentes, a critica, sempre salutar se objectiva – repito –, para contribuir no esclarecimento do período 1961/74, na Guiné 36/74, aqui mais focado.

Não o podemos dissociar de toda a Guerra Colonial, do Ultramar ou de Libertação e incluir o estudo da história da colonização daqueles territórios, das suas gentes e, se feita agora, mais de trinta anos depois da independência, tentar entender o que se tem passado, sem análise tida com ingerência, ou que se passou nos anos de pós independência.

Daí a importância que dou, de forma subjectiva claro, ao Simpósio de Guilije. Pode abrir-se uma porta de futuro. Pode a nossa geração – a que fez a guerra – ou, porque não todos os que o desejarem, contribuir par um desenvolvimento conjunto, partilhado em liberdade, em desenvolvimento sustentado, pois disso estão, ainda hoje, carentes os nossos Povos.

Não queria, por razões óbvias – apesar da minha ínfima participação – falar da importância do Blogue Luis Graça e Camaradas da Guiné. Parece-me contudo ser, para o relato histórico desse período – 63/74 – de enorme importância.

É difícil ou utópico mesmo pensar que a verdade plena vai ficar plasmada no relato histórico. Será o relato mais fiel e verdadeiro possível. Era óptimo conseguir isso.

Vou fazer uma citação: - de quantas mentiras se faz uma verdade – de J. Eduardo Águalusa.
Aproveitamento meu, em parte desconstextualizada do que ele quis dizer. Serve-me no entanto para a minha visão histórica de muitos acontecimentos e isso não o queria para estes.
__________
Revisão / Fixação de texto / Sublinhados: vb

quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

Guiné 63/74 - P2403: Antologia (67): As Duas Faces da Guerra: Como si la guerra fuera un simple juego de ajedrez (Álex Tarradelas)

1. Mensagem do catalão Alex Tarradelas, a residir em Lisboa, com data de 22 de Outubro de 2007:


Caro Luís Graça,

Sou um catalão residente em Lisboa que o outro dia tive a sorte de ver As duas faces da guerra no DocLisboa (1).

Colaboro com os meios Rebelión e Tlaxcala, não sei se conhece, e com motivo do documentário achei que seria interessante escrever um artigo sobre o documentário para que o público espanhol tenha mais consciência do que foi a guerra colonial para Portugal. O artigo é Copyleft, logo, se quiser dispor dele não vai ter nenhum problema.

Espero que não seja um incómodo que tenha utilizado duas imagens do seu blog sem pedir-lhe autorização. Saudações e parabéns pelo seu blog. (...) .


2. Reprodução do artigo, com a devida vénia:

«Las dos caras de la guerra»,
Álex Tarradellas
Tlaxcala


La periodista portuguesa Diana Andringa y uno de los cineastas más reputados de Guinea Bissau, Flora Gomes, decidieron hacer un documental a cuatro manos y a dos voces que abordara las dos caras de la guerra colonial que enfrentó entre 1963 y 1974 al PAIGC (Partido Africano para la Independencia de Guinea Bissau y Cabo Verde) con las tropas portuguesas.

Con motivo del Festival Internacional de Cine Documental de Lisboa, Diana Andringa presentó el documental lamentando la ausencia de Flora Gomes e incidiendo en la necesidad de revisar y recordar el escenario de la guerra, por mucho que les pese a los portugueses.

As 2 Faces da Guerra (Las dos caras de la guerra) se rodó a lo largo de seis semanas, en las que los realizadores recorrieron las regiones guineanas de Bissau, Mansoa, Geba, Bafatá y Guilege. También viajaron a Cabo Verde y a Lisboa. Todo ello para recoger diversos testimonios de quienes vivieron la guerra colonial, tanto militares portugueses como militantes del PAIGC o simples moradores de las poblaciones visitadas.

El hecho de que cada director tense la cuerda por un lado resulta de lo más interesante para tratar uno de los conflictos armados más sangrientos sufridos durante el colonialismo portugués. Prueba de ello es que el documental esté dedicado a Amílcar Cabral y a unos soldados portugueses fallecidos en suelo africano cuyos nombres Diana Andringa encontró grabados en una losa destruida cuando en 1995 se desplazó a la ciudad de Geba como reportera de Público. De hecho, este hallazgo fue el punto de partida de este trabajo.

El homenaje a la figura de Amílcar Cabral es palpable a lo largo del documental. Lejos de querer idolatrarlo, los testimonios definen la gran dimensión humana del revolucionario del PAIGC. Un guerrillero que, a pesar de encontrarse en medio de un cruento conflicto armado con todo lo que conlleva, decía sentir como algo suyo al pueblo portugués. Y es que, más allá de la guerra, existía cierta complicidad entre los dos bandos. Amílcar Cabral declaró al inicio del conflicto: «No hacemos la guerra contra el pueblo portugués, sino contra el colonialismo». Esta idea es clave para entender cómo muchos de los portugueses reclutados en las colonias estaban del lado de los movimientos revolucionarios por la independencia [el PAIGC en el caso de Guinea Bissau y Cabo Verde, el MPLA (Movimiento de la Liberación de Angola) y el FRELIMO (Frente de Liberación de Mozambique)].

Tampoco es casualidad que los militares que se levantaran contra el régimen salazarista durante la revolución del 25 de abril, conocida como la Revolución de los Claveles, fueran soldados combatientes en Guinea Bissau cansados de recibir de la metrópolis órdenes ajenas a la realidad en la que se encontraban inmersos. Por eso, no deberían sorprendernos las imágenes que aparecen en el documental de un militante del PAIGC que con la euforia del 25 de abril grita a una masa exaltada: «¡Viva el PAIGC!, ¡Viva el 25 de abril!, ¡Viva Portugal!».

A media película, la esposa de Amílcar Cabral hace una declaración que resulta clave para entender los propósitos del guerrillero. Declara que, si hubiera sido posible, Amílcar habría cambiado las armas por los libros para hacer la revolución. Era un hombre extraordinariamente culto con un gran poder de convicción a través de sus palabras. Uno de los principales objetivos del revolucionario era formar desde la raíz la cultura de los guineanos y caboverdianos con una educación basada en la historia, la geografía y las tradiciones de estos países y no en las impuestas por Portugal. Y es que resulta irónico y te eriza los pelos oír las palabras de un militante del PAIGC acerca del fin de la guerra. El hombre nos cuenta con toda naturalidad como, una vez terminada la guerra, todos vuelven a ser amigos olvidándose de las antiguas rencillas. Como si la guerra fuera un simple juego de ajedrez en el que las fichas no pueden moverse sin la mano de los jugadores, pero en la que los jugadores pueden disponer de sus fichas siempre que quieran y puedan.

El 20 de enero de 1973 Amílcar Cabral fue asesinado en Conakry. Unos meses después, el 24 de septiembre de 1973, fue declarada la independencia de Guinea Bissau, aunque ésta no fue reconocida internacionalmente hasta la Revolución de los Claveles. Si Amílcar no hubiera sido asesinado y hoy se encontrara en el mundo de los vivos, quizá no estaría tan orgulloso del panorama en el que se encuentra sumido su país. Según datos del UCW (Understanding Children Work) en el año 2000 un 54% de los niños menores de 14 años trabajaban un mínimo 28 horas en Guinea Bissau. La tasa de alfabetización en 2005 rondaba el 44,8%. Esto se debe a los continuos golpes de estado (y las consiguientes guerras civiles) provocados sobre los frágiles gobiernos que muchas veces se asemejan a aquellas fichas de ajedrez que, sin la presencia de los jugadores, no pueden moverse.

En fin, este documental contribuirá a que los portugueses y guineanos revisen una parte desfragmentada de su historia. Y, por mucho que les duela, quizá los debates ayudarán a banalizar la guerra hasta el punto de quitarle el sentido a ésta. Quizá servirá para que, en un futuro, las únicas minas que siembren en los campos, en los bosques y en los caminos sean los libros, la mejor arma para ganar una guerra.

«La destrucción del fascismo en Portugal deberá ser obra del propio pueblo portugués; la destrucción del colonialismo portugués será obra de nuestros propios pueblos.»

«Las masas populares son portadoras de cultura, ellas son la fuente de la cultura y, al mismo tiempo, la única entidad verdaderamente capaz de preservar y de crear la cultura, de hacer historia.»

(Amílcar Cabral)

Para más información, echar un vistazo a este interesantísimo blog realizado por portugueses excombatientes en Guinea Bissau (en portugués): http://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/

______________

Fuente: Rebelion http://www.rebelion.org/noticia.php?id=57955

Artículo original publicado el 22 de octubre de 2007

Sobre el autor:

Álex Tarradellas es miembro de Rebelión, Cubadebate y Tlaxcala, la red de traductores por la diversidad lingüística. Este artículo se puede reproducir libremente a condición de respetar su integridad y mencionar al autor y la fuente.

___________

Nota de L.G.:


(1) Vd. post de 20 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2197: A nossa Tabanca Grande e As Duas Faces da Guerra (4): Encontro tertuliano no hall da Culturgest na estreia do filme (Luís Graça)

sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

Guiné 63/74 - P2333: Exibição do filme As Duas Faces da Guerra, em Coimbra (Fernando Barata)

1. Mensagem do Fernando Barata:

Luís,

Apetece-me dizer: "foi bonita a festa, pá".

Em relação ao documentário pouco devo acrescentar por duas razões. Primeiro, tu tiveste o privilégio de o ver e sabes a obra-prima que ali está, até pelo facto de, finalmente, termos a visão do outro lado, lado esse que, por vezes, tinha tanto de comum com o nosso: o inimigo, que dava pelo nome de obstinação salazarenta e que não teve visão para acompanhar os ventos da História.

Depois, sinto-me pequenino para analisar tamanha obra. Mas se me pedirem para numa palavra a definir direi: WIKIPÉDIA, porque nela tu encontras tudo sobre a Guerra Colonial na Guiné.

Foi, também, agradável ver aquele anfiteatro compostinho essencialmente por gente jovem, alunos daquela instituição da qual me orgulho ter pertencido, mesclado por aproximadamente 20 cinquentões, nos quais eu via Luíses Graças.

Conhecidos ou que se apresentaram como tabanquistas: o Vítor David,o Carlos Oliveira Santos (sempre com as suas intervenções polémicas e inflamadas), o Martins Julião, o Idálio Reis (intervenção comovida e comovente), o Delfim Rodrigues e o Carlos M. Santos.

Tivemos o privilégio de, no debate coordenado pelo Professor José Manuel Pureza, terem participado a Diana Andringa, que pôs todo o enlevo na obra que criou – e como ela se deve sentir orgulhosa, juntamente com o Flora Gomes; o Major-General Pezarat Correia, com uma exposição académica enriquecida pelo facto de conhecer in loco o terreno que estava em discussão; Sílvia Roque, doutoranda em Política Internacional e Resolução de Conflitos, numa análise do conceito de paz centrada na realidade que estava, de momento, a ser discutida e Julião Sousa, também doutorando, que se debruçou sobre a figura ímpar de Amílcar Cabral.

Pela forma como tudo decorreu está de parabéns o Núcleo de Estudos para a Paz.

A Diana estava feliz. Diz o poeta que Coimbra é uma lição, só que desta vez a lição foi a Diana quem a deu, mas em Coimbra, valha-nos isso (1).

Aquele abraço,

Fernando Barata
___________

Nota de vb:

(1) vd posts de:

Guiné 63/74 - P2314: Exibição do filme As Duas Faces da Guerra (2): Coimbra, 4 de Dezembro, 14h30, auditório da FE/UC (Fernando Barata)

13 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2262: Exibição do filme As Duas Faces da Guerra (1): Castro Verde (16/11) e Coimbra (4/12) (Diana Andringa / Fernando Barata)

terça-feira, 13 de novembro de 2007

Guiné 63/74 - P2262: Exibição do filme As Duas Faces da Guerra (1): Castro Verde (16/11) e Coimbra (4/12) (Diana Andringa / Fernando Barata)


Flora Gomes, cineasta guineense, um dos mais conceituadops do cinema africano actual. É co-realizador, com a portuguesa Diana Andringa, membro da nossa Tabanca Grande, do filme-documentário As Duas Faces da Guerra (Portugal/Guiné, 2007)


1. Mensagem da Diana Andringa, de 9 de Novembro último:

Assunto - As Duas Faces da Guerra, em Castro Verde

Não sei se pode interessar algum dos bloguistas, mas... o nosso documentário vai ser exibido dia 16 [de Novembro], às 21H30, no Anfiteatro do Forum Municipal de Castro Verde.

Abraço, Diana

2. Mensagem de L.G., enviada através da tertúlia, no dia de São Martinho:

Malta (alentejana, sobretudo...):

Eis uma boa notícia... Quem puder ir a Castro Verde... [ Fui lá muitas vezes, quando fiz um estudo sobre a Mina da Somincor]...

Mas vamos ver se o filme da Diana / Flora (e que também é um bocado nosso e do IN de ontem, - que raio de nome, IN, tem a razão a Diana, ao pô-lo entre parênteses) chega também a outros sítios do nosso Portugal...

Vou pedir à Diana para nos avisar quando ele passar na RTP, como esperamos que isso venha a acontecer (em breve ?)...

Saudações para toda a Tabanca Grande, em dia de São Martinho. Luís


3. Resposta (ou melhor, pergunta, rápida, do Fernando Barata:

Luigi... E COIMBRA??? (tu, também, cá vieste muitas vezes estudar as noites da Queima...)

Aquele abraço, F. Barata





4. Resposta, quase instantânea da Diana Andringa (cque é a co-realizadora do filme):


Calma! Se arranjarem uma sessão, como fizeram em Castro Verde, leva-se o filme.

Diana

5. Cheque-mate à rainha, por parte do estratego de Coimbra:

Luís: A isto chama-se eficiência!

Documentário: As Duas Faces da GuerraData: 4 de Dezembro - 16H00 (BOLAS!!! os alentejanos de Castro Verde foram mais rápidos que nós)
Local: Auditório da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra
Debate: Diana Andringa, Prof. Dr. José Manuel Pureza, Major-General Pedro Pezarat Correia
Presenças esperadas: Luís Graça, Vírgíno Briote, Carlos Vinhal

Aquele abraço
F. Barata






Luís

A isto chama-se eficiência.

Documentário: "As Duas Faces da Guerra"
Data: 4 de Dezembro - 16H00 (BOLAS!!! os alentejanos de Castro Verde foram mais rápidos que nós)
Local: Auditório da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra
Debate: Diana Andringa, Prof. Dr. José Manuel Pureza, Major-General Pedro Pezarat Correia.
Presenças esperadas: Luís Graça, Vírgíno Briote, Carlos Vinhal

Aquele abraço
F. Barata

domingo, 11 de novembro de 2007

Guiné 63/74 - P2256: Vídeos da guerra (4): Ainda nos bastidores da Operação Paris Match (Torcato Mendonça / Luís Graça / Diana Andringa)

Guiné > PAIGC > Novembro de 1970 > Um guerrilheiro empunhando uma PPSH (a irritante costureirinha).

Fonte: Nordic Africa Institute (NAI) / Foto: Knut Andreasson (com a devida vénia... e a autorização do NAI)


1. A propósito da tristemente famosa Operação Paris Match (1), o Torcato Mendonça mandou-nos a seguinte mensagem, com data de 8 de Novembro:

Meus Caros: talvez pouca importância tenha, até devido à data – Outubro de 1969 – e este facto parece ter-se ter passado antes: Jornalistas do Paris Match, incluindo uma mulher, estiveram em reportagem na Guiné e acompanharam as NT. Caíram numa emboscada e disseram que o potencial de fogo de ambas as partes era enorme, comparando até com o Vietname... E o armamento empregue, principalmente por nós, era contra determinada Convenção...

Saiu no Paris Match, circulou, mas foi logo apreendido em Bissau. Trazia a reportagem e entrevista, com foto de meia página, do Com-Chefe e o seu monóculo. Na reportagem, por ele dada, o/a Jornalista tecia-lhe comentários nada lisonjeiros. Monóculo, pingalim e a II Guerra ainda tão perto!...

Quem, nessa altura estava em Bissau deve lembrar-se do assunto. Há certamente Paris Match guardados. Se isto se confirmasse, com as devidas autorizações, podia postar-se no Blogue, cada vez a dar mais luta...

E, já agora, circulava perdido ou com o IN, no Leste, um jornalista italiano… Talvez as Info saibam… Enviaram mensagens… Falha-me a memória. Guardei, por demasiada tempo bem lá no fundo, aqueles tempos e hoje tão presentes aos cliques de certas noticias.

Um abraço, Torcato Mendonça
Fundão

2. Em resposta, o editor do blogue, L.G., escreveu-lhe:

Torcato:

Obrigado, sempre oportuno e com uma memória de elefante.

Já agora aproveito para perguntar se alguém terá este número da revista Paris Match, nº 1071, de 15 de Novembro de 1969... Ou se consegue obter uma cópia da reportagem onde se fala da Operação Ostra Amarga (Bula, 18 de Outubro de 1969). Seria ouro sobre azul, depois das coisas que já conseguimos saber a partir de dois filmes: As Duas Faces da Guerra (Diana Andringa/Flora Gomes, 2007) e Guerre en Guiné (ORTF, 1969).

O artigo ou reportagem tem por título, em francês: "Guiné: a estranha guerra dos portugueses"... Pode ser que alguém descubra este número numa biblioteca ou arquivo... Será este número que o Torcato viu em Bissau, já no final da comissão da sua CART 2339 ?

Torcato, ficas mandatado para arranjar uma fotocópia da reportagem dos franceses... Quanto à jornalista francesa, já há dias vi a página dela... Se é a mesma (Geneviève Chaubel ?), continua a ser "une belle femme"...

Deliciosa a estória que o Coronel Sentieiro contou, passada no jantar, à noite, em Bula, com os jornalistas franceses, algumas horas depois da tragédia em que morreram os nossos camaradas, o Capela e o Costa, e que foi o baptismo de fogo dos jornalistas (...).

Um Alfa Bravo a todos. Luís


PS - Referências: Guinée: l'étrange guerre des Portugais. Paris Match, nº 1071, 15.11.69

3. Esclarecimento adicional da Diana Andringa:

Julgo que o Torcato Mendonça se refere à mesma operação.

As pessoas que eu contactei não tinham a revista e, na altura, não consegui contactar a fotógrafa. Depois acabámos por desistir da busca, porque preferimos tratar a Operação Ostra Amarga só com as imagens vídeo e as entrevistas com os participantes militares.

Quanto ao que caíu no colo da senhora, foram croquetes... É extraordinário como, de um dia tão terrível, o cor Sentieiro se recorda da história dos croquetes. Penso que deve ter funcionado como um escape, um momento de descompressão.

Quanto ao lado do "IN", há boas reportagens - francesas, inglesas, italianas, suecas, cubanas. Foi daí que retirámos algumas das imagens.

Um documentário sobre a guerra na Guiné, Labanta Negro, de Piero Nelli, ganhou mesmo um prémio no Festival de Veneza, em 1966.

Abraço,

Diana
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Nota de L.G.:

(1) Vd. post de 8 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2250: Vídeos da guerra (3): Bastidores da Op Ostra Amarga ou Op Paris Match (Bula, 18Out1969) (Virgínio Briote / Luís Graça)

sexta-feira, 19 de outubro de 2007

Guiné 63/74 - P2196: A nossa Tabanca Grande e As Duas Faces da Guerra (3): Para a petite histoire do filme (Diana Andringa)

Guiné > Zona Leste > Geba > CART 1690 (1967/69) > Croqui do monumento erigido, em Geba, aos "mortos que tombaram pela pátria"... Em 1995, a jornalista Diana Andringa visitou Geba, na região de Bafatá, e escreveu, a propósito deste monumento, semi-destruído, uma peça, belíssima mas pungente, no Público,de 10 de Junho de 1995, e reproduzida depois no nosso blogue (1)... Foi a partir daqui que começou a amadurecer a ideia do filme, As Duas Faces da Guerra, que acabou por realizar, em 2007, com o guineense Flora Gomes (2).

Foto: © A. Marques Lopes (2005). Direitos reservados.


1. Mensagem da Diana Andringa, com data de 2 de Abril de 2007. Na altura, considerei que era uma mensagem pessoal, não devendo ser divulgada no blogue. Hoje, penso que já faz parte da petite histoire deste filme que se estreia hoje, em Lisboa, com a presença de um pequeno núcleo de representantes da nossa Tabanca Grande, a convite da equipa de produção e realização (2).

Luís Graça,

o meu nome é Diana Andringa, sou jornalista e estou a fazer um documentário, com o realizador guineense Flora Gomes, sobre a guerra colonial/luta de libertação na Guiné Bissau: "As Duas faces da Guerra".

A razão deste documentário é simples: a primeira vez que fui à Guiné impressionou-me o facto de todos aqueles com quem falava me repetirem que nunca tinham combatido os portugueses, mas apenas o colonialismo de Salazar. E a ideia - muito estranha para um(a) civil - de que da guerra tinha nascido um maior conhecimento e uma maior amizade entre os dois povos, havendo até como que uma "fraternidade de armas" entre combatentes de ambos os lados. (Reforçou a vontade de fazer o filme encontrar em Geba uma pedra com nomes de militares, certamente jovens, mortos no dia em que, em Lisboa - opondo-me a essa guerra e defendendo o direito dos povos das colónias à independência - eu fazia 20 anos.)

Regresso agora da Guiné e de Cabo Verde, onde estivemos a entrevistar antigos combatentes do lado do PAIGC - e também algumas pessoas que estavam em contacto com os militares portugueses. Interessou-me sempre perceber se, alguma vez, um desses combatentes se tinha defrontado com alguém que conhecesse, ou de quem fosse amigo. Não consegui encontrar essa história.


Li agora, no seu blogue, a história do encontro de Mário Dias
com o Domingos Ramos (3). Não creio que saber que o Domingos Ramos, como o Mário Dias, preferiu não disparar sobre um amigo, o ponha em causa junto do PAIGC. Um dos organizadores do ataque a Guileje disse-me, sobre o abandono do quartel:
- Ainda bem que saíram, se não teríamos de os aniquilar.

E mesmo pessoas torturadas pela PIDE me explicaram que tinham visto, durante a prisão, cenas de humanidade por parte de portugueses.

Queria, por isso, ver se conseguia que o Mário Dias nos contasse esse encontro com o Domingos Ramos no documentário. Vou filmar nas próximas 2 semanas e, se ele aceitasse este pedido, haveríamos de encontrar uma data que lhe conviesse.

Já lhe enviei um mail, sem êxito. Será que o Luís Graça pode interceder por mim? Ficar-lhe-ia muito grata.

Pode contactar-me por este mail ou pelo meu telemóvel (...).

Melhores cumprimentos,

Diana Andringa
Jornalista
(carteira profissional nº 80)

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Notas de L.G.:

(1) Vd. post de 22 de Junho de 2005 > Guiné 69/71 - LXXIII: Antologia (4): 'Homenagem aos mortos que tombaram pela pátria': Geba, 1995 (Diana Andringa)

(2) Vd. posts de:

8 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2165: As Duas Faces da Guerra, filme-documentário de Diana Andringa e Flora Gomes, no DocLisboa2007 (18-28 Outubro 2007)

17 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2186: Uma guerra, duas vitórias: entrevista de Diana Andringa à RTP África (Luís Graça)

19 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2194: Pensamento do dia (13): É na guerra que se revela o pior e o melhor das pessoas (Diana Andringa, Visão, nº 763, de ontem)

(3) Vd. posts de:

1 Fevereiro 2006 > Guiné 63/74 - CDXCI: Domingos Ramos, meu camarada e amigo (Mário Dias)

2 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDXCIII: Domingos Ramos e Mário Dias, a bandeira da amizade (Luís Graça / Mário Dias)

2 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDXCIV: O segredo do Mário Dias, ex-sargento comando

3 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2148: Blogoterapia (34): Da minha proverbial preguiça ao carro de granadeiros e ao Domingos Ramos que eu conheci (Mário Dias)

Guiné 63/74 - P2194: Pensamento do dia (13): É na guerra que se revela o pior e o melhor das pessoas (Diana Andringa, Visão, nº 763, de ontem)

"Nas guerras sai o que de pior e melhor existe nas pessoas. É nos extremos que nos revelamos" (Diana Andringa, Visão, nº 763, de hoje)

Em entrevista ao semanário Visão (nº 763, de 18 de Outubro de 2007, p. 156), Diana Andringa, a co-realizadora do filme As Duas Faces da Guerra (a estrear hoje, em Lisboa, no DocLisboa2007), traz algumas reflexões sobre a guerra e os homens que a fazem e sofrem, na sequência da sua experiência com a feitura deste filme (mais de 30 horas de depoimentos filmados em Portugal, Cabo Verde e Guiné).

Essas reflexões, que consideramos de antologia, merecem destaque no nosso blogue:

“Noutros tempos, Diana não tinha grande condescendência para com os soldados portugueses, achavam que eles deviam desertar e pronto, a minha simpatia ia toda para aqueles que lutavam pelo lado certo.

"Com o tempo foi mudando: Aquela pedra [, tumular, encontrada no Geba, em 1995,]aqueles mortos de 20 anos, o medo, o isolamento, a morte do camarada ao lado (...). Os homens da minha geração passaram por este trauma. Não foi o de poder morrer, todos nós sabemos que podemos morrer. Mas nem todos sabemos que podemos matar, violar, torturar, decepar pessoas. Foi uma geração que ficou marcada por isto, e os filhos nunca o entenderam. No meio de todo o horror, houve quem conseguise pôr um travão e nunca perder a humanidade...

O filme de Diana Andringa (portuguesa, de 60 anos, nascida em Angola) e Flora Gomes (guineense, de 57 anos, nascido em Cadique) está construído com base em depoimentos e estórias de um lado e de outro:

Gosto muito de pessoas, gosto muito da voz. Há lá coisa mais bonita do que uma pessoa inteligente a falar ?

Mais logo um pequeno grupo (relativamente privilegiado...) da nossa Tabanca Grande terá a oportunidade de assitir à estreia do filme, na Culturgest, às 23h, bem como de conhecer pessoalmente a Diana.- A ela, ao Flora e à restante equipa que produziu e realizou este documentário, desejamos boa sorte!

AVISO À NAVEGAÇÃO >

Estreia do filme "As Duas Imagens da Guerra", DocLisboa2007, Lisboa, Culturgest, Grande Auditório, 19 de Outubro de 2007, 23h
Amigos e camaradas:

Amigos e camaradas:

Falei há um hora atrás (10.30h da manhã) com a Diana Andringa. Ele disse-me que tinha
enviado um mail a toda a malta da tertúlia, independentemente de querer e poder ou não ver o filme, a dar instruções para levantar o convite. (Ainda não vi o mail).

Junto à bilheteira, estará alguém ligada à produção do filme com os convites. É uma moça, alta, bonita, descontraída, caboverdiana, que se chama Isabel Mendes...

Eu vou com o Humberto Reis, meu vizinho. Devemos lá estar por volta das 22h. Não se esqueçam que o filme começa às 23h. O local é na zona do Campo Pequeno: Culturgest , edifício sede da CGD, entrada pela portaria da R Arco do Cego (estação de metro: Campo Pequeno).

A Diana diz que haverá espaço para trocar impressões. Esperemos que gostem do filme. É um filme-documentário, é cinema, não é reportagem, baseado em 30 horas de depoimentos, de estórias de combatentes dos dois lados, filmados em Portugal, Cabo Verde e Guiné (Bissau, Mansoa, Bafatá e Guileje). A Diana diz que o filme passará na RTP mas ainda não sabe se sairá, comercialmente, em DVD. O orçamento deles (escasso)
está esgotadíssimo. O filme foi feito com uns escassos milhares de contos, sendo financiado pela RTP e pelo INCAM.

Tenho pena que muita malta nossa não possa estar connosco. Quando der na RTP, avisaremos. É pouco provável que passe nas salas comercais... Aí só passam os filmes comerciais, de Hollywood, que não falam de nós... É por isso que são importantes festivais como este, o DocLisboa2007, em que são apresentados 150 filmes (!), do cinema dito documental, e em muitos casos de produtores independentes (dos EUA à
Noruega, de Portugal a Angola)...

Há grandes filmes para ver, e que estão em competição no festival. O "nosso" (vamos torcer por ele) está em competição na categoria "Investigações" (documentários sobre temáticas sociais, políticas, etc.). Junto o programa do DcLisboa2007, para "abrir o apetite"... Até mais logo. Luís

Luís Graça
Telemóvel: 93 281 08 72 / 93 845 5475

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Nota de L.G.:

(1) Vd. posts de:

8 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2165: As Duas Faces da Guerra, filme-documentário de Diana Andringa e Flora Gomes, no DocLisboa2007 (18-28 Outubro 2007)

17 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2186: Uma guerra, duas vitórias: entrevista de Diana Andringa à RTP África (Luís Graça)

quinta-feira, 18 de outubro de 2007

Guiné 63/74 - P2189: A nossa Tabanca Grande e As Duas Faces da Guerra (2): Febre de guerra ? Espero pelo filme em DVD (Torcato Mendonça)

Guiné > Zona Leste > Sector L1 > CART 2339 > Mansambo (1968/69) > Limpando as armas, ao abrigo do sol escaldante, no campo fortificado (como dizia o PAIGC) de Mansambo, construído ao longo de 1968, como muitos outros a pá e pica...

Fotos: © Torcato Mendonça (2006) . Direitos reservados


1. Mensagem do Torcato Mendonça, de 15 de Outubro de 2007:


Caro Luis Graça: Não me apetece escrever. Dias menos bons, os últimos, em que "a morte desceu à rua " e, queiramos ou não, digamos ou não estar preparados, sempre toca fundo. A Vida continua. Curioso, no dia seguinte à Sua partida nascia-lhe mais um bisneto.

Nesta tarde abri o e-mail e o blogue. Deu-me alento e voltei atrás no tempo. Há muito, muito tempo, o Carlos M. dos Santos, deu-me a conhecer este sítio. Li. Pensava que a "guerra" há muito tinha acabado para mim. Desejava-o. Mas respondi a um post a dizer que o Malan tinha sobrevivido… em Novembro / Dezembro de 69… e, a partir daí, este sítio, felizmente, faz parte da minha vida (1).

Não recordo, tenho preguiça de ir ver, quantos visitantes e postes tinha nesse tempo. Hoje ultrapassou os 400 mil! Dou-te a ti e a todos os parabéns. Queiram ou não, o que lá se passou está a ser relatado por quem o viveu. Por isso, mesmo com parca vontade, te escrevo.

Tenho receio desta "febre" de debates, documentários e filmes. Da Diana Andringa / Flora Gomes conheço os trabalhos e espero um bom documentário, em que ambas as faces se assumam em verdade e sem complexos. Embora conhecendo trabalhos da Fátima C. Ferreira e J.oaquim. Furtado, estou expectante. Desejo que consigam, mas tenho algum receio. Vou ver, ouvir e reflectir se der para isso. Não gravo. Espero que o documentário da Diana / Flora vire DVD (2).

Agora:

- Os meus parabéns ao Mexia Alves [, pelo Fado da Guiné] (3). Logo lhe mando um mail ou, quem sabe, dou-lhe um abraço. Em Mansambo ouvíamos "The Supreme", etc. na Rádio Mansambo, rapidamente silenciada…

- A sondagem foi…escrevi mas não enviei… não li ainda " O Meu Nome É Legião", o último romance do António Lobo Antunes. Espera-me aqui ao lado. Camarada é aquilo… e mais. Sem anátemas que ainda hoje incompreensivelmente a palavra tem, como acontece com guerra colonial, do ultramar ou de um apito…Aceito as várias designações, ditas com respeito. Não tenho qualquer problema em ter sido soldado ou militar na defesa, justa ou injusta, do fim do Império. Que Império? Tenho ali para ler, escrito pelo australiano Patrick Wiilcken – Império à deriva (fuga da corte do João VI para o Brasil). Malhas que o império teceu… Finou-se. Mas cuidado que é assunto a merecer reflexão profunda em respeito por todas as diversas opiniões, desde que honestas. Nunca foi feito. Nunca acertamos contas com a História. O resultado está á vista…

- Espero que esta onda abra debate sério (4). Receio e espero para ver. Colónias, Ultramar, Reino dos Algarves Daqui e D'Além Mar…se agitar, provocar debates elucidativos a servirem os vários Povos, tudo bem. Não acredito em Estados Inviáveis. Acredito em Governantes dispensáveis (5). Outro assunto…

- Uma penúltima palavra para o Virginio Briote. Gosto dos temas agora tratados por ele. Espero que não tenha ficado chateado com a questão do Quirafo. Saúde para o Coronel e dá um abraço ao V.B.

As últimas palavras para ti: parabéns pelo Trabalho (e aos colaboradores mais directos, V.B. e C.V.) e outros. E fui escrevendo. Que o debate desta noite seja esclarecedor e abra caminhos

Querido(s) amigo(s) um forte abraço do,
Torcato Mendonça
Apartado 43,
6230-909 Fundão
torcatomendonca@gmail.com
__________

Notas dos editores:

(1) Vd. posts de:

15 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCLIII: O Malan Mané estava vivo em Novembro de 1969 e eu abracei-o (Torcato Mendonça)

16 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCLX: Bem vindo, alferes Torcato da CART 2339 (Mansambo, 1968/69) (Carlos Marques dos Santos)

25 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P906: CART 2339 e Malan Mané, duas estórias para duas fotos (Torcato Mendonça)

1 de Agosto de 2006 > Guiné 63/74 - P1011: A galeria dos meus heróis (4): o infortunado 'turra' Malan Mané (Luís Graça)

(2) Vd. post de 17 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2187: A nossa Tabanca Grande e o filme As Duas Faces da Guerra (1): Estou interessado em comprar o DVD (Fernando Inácio)

(3) Vd. post de 15 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2179: Fado da Guiné (letra original de Joaquim Mexia Alves)

(4) Vd. post de 17 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2184: A Guerra do Ultramar no programa Prós e Contras (RTP1, 15 de Outubro de 2007): o debate dos generais (Inácio Silva)

(5) Vd. post de 14 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2178: Efemérides (6): 24 de Setembro de 1973... Quo Vadis, querida Guiné ? (António Rosinha / Leopoldo Amado)

terça-feira, 9 de outubro de 2007

Guiné 63/74 - P2170: As Duas Faces da Guerra: Espero ver alguns de vós na estreia do filme em Lisboa (Diana Andringa)

Guiné-Bissau > Guerra de libertação, guerra colonial, guerra do ultramar, o verso e o reverso, ou as duas faces, as múltiplas facetas, de uma dura e terrível realidade, a da guerra de 1963/74 ... O filme-documentário, de 1 hora e 40m, da portuguesa Diana Andringa e do guineense Flora Gomes terá a sua estreia, em Lisboa, no dia 19 de Outubro, 6ª feira, 23h00, no grande auditório da Culturgest, no âmbito do DocLisboa2007 , o 5º Festival Internacional de Cinema Documental (18-28 de Outubro de 2007). Haverá outra exibição, dia 22, 2ª feira, à mesma hora, no Cinema Londres (Sala 1).

Foto: Programa do doclisboa2007: 5º Festival Internacional de Cinema Documental, 18-28 de Outubro de 2007 (com a devida vénia...). Não temos legenda, mas pelo que se depreende da foto três guineenses (entre eles, um militar com galões de coronel) posam, para o fotógrafo, junto ao monumento de uma antiga unidade das NT, a CCAÇ 3, julgo eu... (embora as insígnias sejam de... cavalaria). Divisa: Glória com Valor... A ser o monumento (ou o que resta dele) da CCAÇ 3, a que pertenceu o A. Marques Lopes, a foto terá sido tirada em Barro.


1. Mensagem que o editor do blogue mandou à Diana Andringa:

Cara amiga Diana:

Obrigado pela sua lembrança e gentileza (1). Os meus parabéns pelo filme, parabéns pela sua persistência, empenho e paixão pela Guiné e os guineenses. Ao fim de 40 anos, alguém teria que fazer um filme-documentário sobre as "duas faces da guerra".

Lancei um desafio à malta da nossa tertúlia, para irmos ver o filme em conjunto... Pelo menos os que moram aqui na área da Grande Lisboa... Sei que é a desoras... De qualquer modo fiz a divulgação devida... Mas o nosso blogue está inteiramente disponível para um texto seu ou do Flora... Disponha. Até ao DocLisboa2007 podemos falar muito mais do v/ filme.

Seria interessante também que pudesse ser exibido e discutido em Bissau, no próximo Simpósio Internacional de Guileje (1-8 março de 2008), que está a ser organizado pela AD (2) . Vou contactar o Pepito (3). Sei que o filme vai estrear esta semana em Bissau. Saudações. Luís Graça


2. Resposta da jornalista e realizadora Diana Andringa :


Por enquanto aceito os parabéns pela persistência, pelo filme prefiro esperar que o veja...

Sei que o Pepito (3) já o viu, no Centro Cultural Português em Bissau - onde estreou dia 5 e houve, segundo me disseram, uma enchente, entusiasmo, emoção, palmas, risos, loas, algumas críticas (cada participante tem na cabeça um filme a que o nosso não pode, obviamente, corresponder, acontecerá o mesmo em Lisboa) e onde vai ser repetido hoje - e talvez também em Iemberem, perto de Guilege, para onde um grupo da Fundação Mário Soares, que está a trabalhar com os arquivos guineenses, o levou, e onde foi visto com entusiasmo, apesar de muitos não conseguirem seguir as intervenções em português.

Já escrevi também ao Pepito a dizer que terei muito gosto em que o filme passe na TV comunitária que estão a criar. E claro que, se ele quiser, será com todo o gosto que verei o filme exibido no Simpósio de Guilege.

Tenho pena de não ter podido acompanhar a estreia em Bissau, até porque acredito que o filme será visto de forma diferente na Guiné, em Portugal e em Cabo Verde e, se alguns risos podem ser comuns (nomeadamente nas falas de um dos entrevistados, o "mais velho" Sulei Baldé), a emoção variará, já que, ainda que se não queira, os "nossos" mortos pesam sempre mais que os do adversário.

Aqui, uma antiga aluna minha, que não conhece a história deste tempo, chorou ao ouvir e ver dois soldados contarem a história terrível que viveram com 22 anos. Para vocês, essa história será quase banal, mas recordará outras, próximas. Na Guiné, cada imagem de arquivo é uma galeria de mortos: na luta de libertação ou nos conflitos posteriores.

Espero ver alguns de vós na estreia em Lisboa (4). Mais tarde, se quiserem, poderemos organizar outros visionamentos.

Abraço,

Diana

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Notas de L.G.:

(1) Vd. post de 8 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2165: As Duas Faces da Guerra, filme-documentário de Diana Andringa e Flora Gomes, no DocLisboa2007 (18-28 Outubro 2007)

(2) Vd. posts de:

6 de Setembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2084: Guileje: Simpósio Internacional (1-7 Março de 2008) (1): Uma iniciativa a que se associa, com orgulho, o nosso blogue

7 de Setembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2086: Guileje: Simpósio Internacional (1-7 de Março de 2008) (2): Programa provisório

(3) O Pepito já me respondeu:

Luís: Por nós, a visualização do filme durante o Simpósio (2) é uma óptima ideia. Eu gostei muito do filme e da abordagem.

abraço
pepito

(4) Já vários camaradas responderam positivamente ao meu desafio e convite:

Gabriel Gonçalves, Humberto Reis, José Martins, Luis R. Moreira, Mário Fitas... (Cito de cor).

Acho que a melhor data é a da estreia, dia 19, 6ª feira, às 23h. Além disso, o auditório da Culturgest é grande (600/700 lugares), não havendo à partida problemas de lotação esgotada... Oxalá houvesse! Falaremos dos pormenores, através de e-mail.

segunda-feira, 8 de outubro de 2007

Guiné 63/74 - P2165: As Duas Faces da Guerra, filme-documentário de Diana Andringa e Flora Gomes, no DocLisboa2007 (18-28 Outubro 2007)

Foto: O Sítio do Sindicato dos Jornalistas (2001) (com a devida vénia...)

1. Mensagem da Diana Andringa (jornalista, portuguesa, n. em Angola, em 1947 )

Luís Graça,

Admitindo que alguns frequentadores do blogue tenham curiosidade em ver este documentário, mas não sejam frequentadores do DocLisboa (1), aqui ficam as informações tiradas do programa do dito (levem a figura de referência à conta dos meus cabelos brancos...).

Abraço,

Diana

Flora Gomes

Foto: Agência Bissau (com a devida vénia...)




2. As Duas Faces da Guerra

19 Out. 23.00 - Culturgest (Grande Auditório)

22 Out. 23.00 - Cinema Londres (Sala 1)

As 2 Faces da Guerra [I] de Diana Andringa e Flora Gomes, 100'

Portugal, 2007.

Diana Andringa, figura de referêcia do jornalismo televisivo português, e Flora Gomes, o mais importante cineasta guinenense (com presença regular em Cannes e Veneza), acordaram fazer um documentário a quatro mãos e duas vozes sobre a guerra colonial.

Luta de libertação para uns, guerra de África para outros, o conflito que, entre 1963 e 1974, opôs o PAIGC às tropas portuguesas é descrito de maneira diferente nos livros de história dos dois países. Mas não são só estas as "duas faces" desta guerra. Para lá do conflito, houve sempre cumplicidades entre as duas partes: "Não fazemos a guerra contra o povo português, mas contra o colonialismo", disse Amílcar Cabral, e a verdade é que muitos portugueses estavam do lado do PAIGC.

Não por acaso, foi na Guiné que ganhou forma o Movimento dos Capitães que levaria ao 25 de Abril. De novo duas faces: a guerra termina com uma dupla vitória, a independência da Guiné e a democracia para Portugal. É esta "aventura a dois" que o filme conta, pelas vozes dos que a viveram.


Fonte: doclisboa2007 (1) (com a devida vénia...)

3. Também o A. Marques Lopes, sempre atento ao que se passa na Guiné-Bissau, mandou-nos a seguinte notícia do portal Notícias Lusófonas, com data de hoje:

«As Duas Faces da Guerra» estreia no Centro Cultural Português [em Bissau]

O filme-documentário "As Duas Faces da Guerra", realizado pela jornalista portuguesa Diana Andringa e pelo cineasta guineense Flora Gomes, estreia sexta-feira no Centro Cultural Português na Guiné-Bissau.

"As Duas Faces da Guerra" foi rodado ao longo de seis semanas e inclui uma série de entrevistas e depoimentos de pessoas que viveram o período da guerra colonial, refere um comunicado da Embaixada de Portugal em Bissau.

Durante seis semanas, os realizadores percorreram as regiões guineenses de Bissau, Mansoa, Geba, Bafatá e Guilege, e estiveram em Cabo Verde e Portugal para recolherem os depoimentos de pessoas que viveram a guerra colonial.

A banda sonora do filme-documentário inclui música portuguesa, guineense e cabo-verdiana da época.

4. Comentário de L.G.:

Felicito os realizadores e faço, aqui, desde já, um convite e um desafio para vermos em conjunto o filme: refiro-me naturalmente a todos os amigos e camaradas da Guiné que residam na área da Grande Lisboa. Vale ?
_________

Nota de L.G.:

(1) doclisboa2007: 5º Festival Internacional de Cinema Documental, 18-28 de Outubro de 2007

terça-feira, 3 de julho de 2007

Guiné 63/74 - P1915: Próximo documentário de Diana Andringa e Flora Gomes: as Duas Faces da Guerra

1. Mensagem da Diana Andringa, jornalista (aliás, um grande nome do nosso jornalismo, bem como do documentarismo televisivo e cinematográfico), com data de 25 de Maio último:


Luís Graça,

Tenho a máxima admiração pelo seu trabalho bloguístico e fico sensibilizada por terem um texto meu no blogue.

Agora chamar-me Adriana é que não vale(1)!

Chamo-me Diana, como as espingardas de caça e as cadelas perdigueiras.

Espero que tenha paciência para, daqui por uns tempos, ver o documentário que o Flora Gomes (3) e eu estamos a fazer sobre a guerra na Guiné (4).

Abraço,

Diana (e não Adriana!)

2. Comentário de L.G.:


Querida amiga: Mil perdões. Vou corrigir. É um lapsus linguae, quiçá freudiano... Um calamitosa gralha, que acontece até aos melhores... Já lhe pedi desculpas, pessoalmente, por e-mail... Aqui fica tardiamente a ressalva, em público...

Repare que no texto original (publicado na anterior versão no nosso blogue) (1), o seu nome estava correcto... A borrada aconteceu num post mais recente (2), onde há um link para o seu texto...

Continuo a aguardar a sua aparição na nossa Tabanca Grande, desde há dois anos... Eu sei que não precisa de um espaço para escrever, mas há coisas (da Guiné...) que se podem partilhar entre... os amigos e os camaradas da Guiné. Vamos ficar aguardar a exibição, para o grande público, do documentário do Flora Gomes e da Diana Andringa, sobre a Guiné... Diga-nos alguma coisa antecipdamente sobre este novo trabalho. Chegou a contactar o Mário Dias, por causa da estória do Domingos Ramos ?

Fale-nos mais desse seu trabalho: as páginas do nosso blogue também são suas... Mantenhas/ Saudações bloguísticas do Luís Graça & Camaradas da Guiné.

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Notas de L.G.:

(1) Vd. post de 22 de Junho de 2005 > Guiné 69/71 - LXXIII: Antologia (4): 'Homenagem aos mortos que tombaram pela pátria': Geba, 1995 (Diana Andringa)

(...) "Texto seleccionado e enviado por A. Marques Lopes, ex-alferes miliciano da CART 1690 (Geba, 1967): A jornalista Diana Andringa esteve na Guiné em 1995, em trabalho profissional, e passou por Geba. Sobre essa passagem escreveu no jornal Público, de 10 de Junho de 1995, o texto que vos vou mostrar, com a sua autorização (até me pediu que lhe enviasse o cópia, que já não possui o original). Vai também um croqui do monumento a que ela se refere. Em 1998, quando lá estive também verifiquei que o monoumento estava destruído, com muita pena minha" (...)

(2) Vd. post de 22 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1775: Tabanca Grande (6): Altamiro Claro, ex-Presidente da CM Chaves e ex-Alf Mil Op Especiais da CCAÇ 3548 / BCAÇ 3884

(3) Flora Gomes: o mais conhecido realizador de cinema da Guiné-Bissau, nascido em Cadique, na região Tomboli, em 1949... O seu filme Nha Fala (2002) apresentou-se, entre outras, à 59ª edição do festival de Veneza onde conquistou o prémio Citta Di Roma-Arco Íris Latino. Foi um co-produção entre Portugal, França e Luxemburgo e contou com o apoio do Instituto Camões.

(4) Julgo tratar-se do documentário Duas Faces da Guerra (realização: Diana Andringa/Flora Gomes; produção: Guiné/Portugal - Lisboa Filmes, 2007).

quinta-feira, 23 de junho de 2005

Guiné 63/74 - P73: Antologia (4): 'Homenagem aos mortos que tombaram pela pátria': Geba, 1995 (Marques Lopes)

Texto seleccionado e enviado por A. Marques Lopes, ex-alferes miliciano da CART 1690 (Geba, 1967):

A jornalista Diana Andringa esteve na Guiné em 1995, em trabalho profissional, e passou por Geba. Sobre essa passagem escreveu no jornal Público, de 10 de Junho de 1995, o texto que vos vou mostrar, com a sua autorização (até me pediu que lhe enviasse o cópia, que já não possui o original). Vai também um croqui do monumento a que ela se refere. Em 1998, quando lá estive também verifiquei que o monoumento estava destruído, com muita pena minha.


Geba, 1995, por Diana Adringa

Mortos. Estes nomes não podem ser senão de mortos. Guimarães, ...ndo Fernandes. Carlos A. Peixoto. ...ul C. Ferreira, ...ostinho Câmara, ...o Alves Aguiar, ...ime M.N. Estevão, ...sé A. V. Sousa, ...tónio D. Gomes.

Tudo em redor, aliás, fala de morte. As paredes em derrocada do que terá sido um quartel português. As viaturas a apodrecer sob o intenso sol africano. Os cacos de garrafas de cerveja. (Bebidas para enganar o medo? Suspensas por arame para, tinindo umas contra as outra, despertar os que dormissem ainda?).

E esta pedra caída, tumular.

Vivos, apenas os meninos que se cutucam, sorrindo, a olhar para nós, estranhos fotógrafos deste cemitério de metal e pedra.

A outra pedra, de pé, tem nomes de cidades, vilas, aldeias: Lisboa. S. Tirso. Moçâmedes. Alcobaça. Madeira. (Nas ilhas não haverá também povoações?) Ponte de Lima. Vila Nova de Ourem. Vila Pouca de Aguiar. Bissau. O tempo, ou a guerra, quebrou-lhe a parte de cima, e agora é uma pirâmide truncada, rasgada do lado direito, onde se inscrevem as primeiras letras dos postos, ou dos nomes, dos naturais dessas terras, que presumimos mortos.

De novo a primeira pedra, a que jaz por terra. A frente dos nomes dos que se presumem ter morrido, inscrevem-se o que supomos serem as datas dessas mortes: 1967, 1968. A última, na pedra, não em tempo, sobressalta-me: 21 de Agosto de 1967. Fiz vinte anos nesse dia. Nesse mesmo dia morreu António D. Gomes. Teria feito, sequer, os vinte anos?

Lembro-me de ter feito vinte anos. Das prendas dos meus pais. E pergunto-me como terão os pais do soldado António D. Gomes suportado a morte do seu filho. Se terão chegado um dia a conhecer este local onde uma pedra caída por terra assinala a data em que o perderam.

"Nós enterramos os nossos mortos nas nossas aldeias, ao lado das nossas casas... Os portugueses deveriam ter, também, um lugar para honrar os seus mortos, os que morreram aqui, durante a guerra", dissera-me, algumas horas antes, um antigo adversário. Aqui. Tão longe de casa, tão longe dos seus. Longe de mais para que possam trazer-lhes flores, arranjar-lhes as campas, preservar-lhes a memória.

Olho de novo as pedras, tentando compreender como se juntavam. Será a que jaz por terra a continuação da outra? Releio as terras e os nomes. Câmara pode ser da Madeira... Será mesmo? Sim. Lá estão em frente de Madeira o posto, sold., e as primeiras letras do seu nome: Ag...-

Agora cada morto tem o posto e a terra onde nasceu, excepto o primeiro, que parece ser de Lisboa, mas cujo posto e nome próprio se perderam, e João Alves Aguiar, de Ponte de Lima, a que o tempo corroeu o posto. Dois alferes, um furriel, sete soldados. Em cima, fragmentado, aquilo que parece a indicação do regimento a que pertenciam: ...RAL-1. ...Combate.

Postas assim as duas pedras em conjunto, apercebo-me de que o soldado que morreu no dia dos meus vinte anos era de Bissau, e de certa forma isso tranquiliza-me, porque não está, afinal, tão longe de casa- como se isso tivesse alguma importância depois de se estar morto, como se me tivesse contagiado essa lista de terras inscrita sobre a pedra, ou outras, sobre outras pedras encontradas ao longo da viagem, onde outros soldados, cabos, furriéis, escreveram como se a naturalidade fosse a sua primeira identificação e a mais forte, o nome da terra natal, primeiro, e só depois o posto, o nome, a data em que escreviam, por vezes uma frase de desesperança, algo como "até quando Deus quiser" — como que temendo que esse "até" fosse curtíssimo, coisa de poucas horas, minutos, talvez, e houvesse que inscrever urgentemente, sobre esses caminhos, placas, pontes, esse sinal de vida e de memória.

Parece estranho que alguém possa ter tido medo aqui, neste local tão calmo, com o tempo suspenso e o silêncio apenas cortado pelo ruído persistente das cigarras. É difícil imaginar, enquanto os meninos se agrupam à nossa volta, curiosos do que fazemos e olhamos, que em tempos houve aqui tiros e gemidos — e homens cumprindo a triste tarefa de escrever sobre estas pedras os nomes dos companheiros mortos.

Um pouco mais adiante, numa das paredes que ainda se mantêm de pé, alguém desenhou um rinoceronte e um leão. Tê-los-á visto realmente? Tê-los-á imaginado? Em frente, sobre uma paisagem aparentemente urbana de prédios e chaminés, voa uma ave. Uma gaivota? Uma pomba? Um símbolo de paz? Um piscar de olho a esse adversário que, a todo o momento, lembrava que a sua luta era "contra o colonialismo português e não contra o povo de Portugal"? E que, muito antes de disparar o primeiro tiro, advertira: "A via pela qual vai ser feita a liquidação total do colonialismo português na Guiné-Bissau e em Cabo Verde depende exclusivamente do colonialismo português. (...) Ainda não é tarde para proceder à liquidação pacífica da dominação colonial portuguesa nas nossas terras. A menos que o Governo português queira arrastar o povo de Portugal para o desastre de uma guerra colonial."

"O desastre de uma guerra colonial". Legenda para fotografia de pedras com listas de mortos, veículos destruídos, quartéis em derrocada — e, contrastando, os sorrisos dos meninos a dar-nos as boas-vindas.

Todos os anos, pelo 10 de Junho — esse dia que o regime colonial-fascista celebrava como Dia da Raça, e em que condecorava, no Terreiro do Paço, os pais, as viúvas e os órfãos dos militares caídos em combate —, ressuscitam algumas vozes saudosas do Império, a criticar a descolonizaçáo e a independência das ex-colónias portuguesas. Fazem-no, muitas vezes, usando a memória dos soldados mortos na guerra colonial. Escamoteando sempre que essas mortes se deveram, exclusivamente, à intransigência de um regime incapaz de compreender a inevitabilidade das independências, e à teimosia de um homem que, nunca tendo posto um pé em África, cuidava saber, bem melhor do que eles, o que melhor convinha aos africanos.

Releio a lista de mortos sobre a pedra e pergunto-me se, vinte anos depois, não será tempo de aceitar, claramente, que foram esses os únicos responsáveis dessas mortes... ».

Diana Andringa. Público. 10 e Junho de 1995.