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terça-feira, 30 de julho de 2019

Guiné 61/74 - P20021: Recortes de imprensa (103): O 10 de Junho de 1970 na Revista Guerrilha, edição do Movimento Nacional Feminino, dirigida por Cecília Supico Pinto (1) (Mário Migueis da Silva)

1. Em mensagem do dia 20 de Julho de 2019, o nosso camarada Mário Migueis da Silva (ex-Fur Mil Rec Inf, Bissau, Bambadinca e Saltinho, 1970/72), fala-nos da revista Guerrilha, dirigida e editada por Cecília Supico Pinto.


A revista Guerrilha


Propriedade do Movimento Nacional Feminino, a revista Guerrilha, lançada durante a Guerra do Ultramar/Colonial, não terá tido o sucesso que a sua criadora, diretora e editora, Cecília Supico Pinto (a famosa Cilinha), terá antevisto.

A julgar pelo que pude testemunhar no terreno, a revista esteve longe de atingir os seus objetivos de chegar às centenas de milhar de militares espalhados pelo Império. Na verdade, aquando da minha passagem pela Guiné, fiquei com a ideia de que a revista (edição mensal) era, em número muito reduzido, distribuída pelos comandos das unidades, de onde, na maioria dos casos, nem chegava a sair. Talvez a falta de verba, afetada com a despesa dos milhões de aerogramas mandados imprimir pelo Movimento, e muito bem, para facilitar a vida à correspondência dos nossos soldados e marinheiros com as famílias, namoradas e madrinhas de guerra tenha contribuído para uma divulgação deficiente junto daqueles aos quais se destinava.

Terá sido o que foi, mas tinha uma apresentação cuidada, divertia, levantava o moral e abordava assuntos de interesse para uma tropa, tão carecida de carinhos e estímulos. Pela parte que me toca, só não gostava nada das duas páginas de fotonovela, que achava menos próprias para homens de barba rija (era matéria para Crónicas Femininas, valha-nos Deus).

Para ilustrar um pouco as minhas palavras, seguem-se algumas imagens, recolhidas da publicação de Junho de 1970 (ano em que cheguei à Guiné) e, na sua maioria, alusivas às condecorações no “10 de Junho”, em Lisboa.
Espero que gostem.

Esposende, 19 de Julho de 2019
Mário Migueis


A capa (desfile de tropas durante as cerimónias do "10 de Junho", em Lisboa (1970) 



Ao centro, o Capitão Graduado João Bacar Djaló, Comandante da 1.ª Companhia de Comandos Africanos, que tive oportunidade de cumprimentar em Fã Mandinga, onde, na altura, estava sediada aquela unidade de elite (participou na “Invasão de Conakry” e numerosíssimas outras operações do mais elevado risco; seria morto em combate pouco tempo depois de ser condecorado com a “Torre e Espada”). 

A segunda figura, da esquerda para a direita é o Capitão-Tenente Alpoim Calvão, cérebro da “Invasão de Conakry”, que cheguei a ver, mas não conheci, nem de perto nem de longe, nos “paços” do “Comando-Chefe”, na Amura. Os restantes elementos da primeira fila, todos eles igualmente condecorados com a “Torre e Espada”, são o Furriel Cherno Sissé (Guiné), e, salvo erro, o Coronel Hélio Felgas e o Tenente Miliciano de Infantaria José Augusto Ribeiro, cuja província/colónia onde prestavam serviço desconheço.



Marcelo Caetano e as tropas em parada 


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Nota do editor

Último poste da série de 19 de fevereiro de 2019 > Guiné 61/74 - P19507: Recortes de imprensa (102): "Diário de Notícias", 3/2/1966: o cão da CCAÇ 617. um bravo Boxer, que se bateu como um leão (João Sacôto / José Martins)

domingo, 21 de julho de 2019

Guiné 61/74 - P20001: (In)citações (136): Fatemá (ou Fatumatá), a mulher grande, viúva do régulo de Contabane, Sambel Baldé, mãe do atual régulo, Suleimane Baldé, que foi soldado do exército português... Morreu em 2010, centenária... Um exemplo espantoso da arte de bem envelhecer (Paulo Santiago / José Teixeira / José Brás / Cherno Baldé / Mário Miguéis da Silva)




Guiné-Bissau > Sinchã Sambel > 2005 > Fatemá ( ou Fatumatá) e Paulo Santiago, ladeados por familiares e amigos. Por de trás, João Santiago, filho do Paulo, que também quis sentir as emoções de seu pai ao voltar à Guiné da sua juventude.

Fotos (e legendas): © Paulo Santiago  (2005). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís GRaça & Camaradas da Guiné]


1. A propósito da mulher grande, Fatemá ou Fatumatá, de Contabane (*),  volta-se aqui a reproduzir mensagem de Paulo Santiago  (ex-alf mil do Pel Caç Nat 53, Saltinho, 1970/72, que voltou à Guiné em 2005, 2008 e 2010), com data de 8 de Novembro de 2010 (*)


Telefonema que recebi, às 23.00 horas de ontem, do Zé Teixeira, que recebera a mesma notícia do Carlos Nery [, ex-cap mil, CCAÇ 2382, Buba, 1968/70), que, por sua vez, a recebera de um antigo milícia: "Morreu a Fatemá"!

Fatemá (ou Fatumatá), Mulher Grande, Grande Senhora, que conheci há 40 anos, tendo-a visitado em 2005 e 2008, era viúva do régulo de Contabane, Sambel Baldé, mãe do actual régulo, Suleimane Baldé, ex-1.º cabo do Pel Caç Nat 53, que tive a honra de comandar.

A Fatemá ficou na memória de inúmeros militares que foram passando por Contabane, Aldeia Formosa e Saltinho, onde, na outra margem do rio Corubal, nos anos de 1970-71, foi construído o reordenamento de Contabane, hoje chamado Sinchã Sambel. O meu convívio, mais intenso, com a Fatemá decorreu no período em que vivi naquele reordenamento, de maio a agosto de 1972. Nos dias em que não havia saídas para o mato, quase sempre, a seguir ao jantar, tinha longas conversas com o Sambel e a Fatemá. 

Ela lembrava-me a minha avó Clementina que me enviou o bolo-rei mais delicioso que até hoje comi, apesar de muito duro quando o recebi em Bambadinca, história que já contei aqui no blogue.
 
A Fatemá era dotada de grande jovialidade e simpatia. Ainda hoje quando encontro algum ex-militar da CCAÇ 2701, a que estive adido, sabendo que estive recentemente na Guiné, em 2008, vem a pergunta : "W a Fatemá ainda é viva? Como é que ela está?"

Em fevereiro de 2005, acompanhado pelo meu filho João, apareci de surpresa em Sinchã Sambel, a Fatemá fez-nos uma recepção que jamais esqueceremos. Sem o saber desencontrara-me do Suleimane que tinha vindo, dias antes para Lisboa, e a Fatemá, naquele dia foi régulo e chefe de tabanca. Ela mobilizou toda a aldeia para receber os visitantes. Foi uma tarde, prolongou-se pela noite, de fortes emoções onde pontificava aquela figura matriarcal que no final nos ofereceu um cabrito.
Na Guiné, onde a esperança de vida é muito baixa, a Fatemá era uma excepção notável, e com certeza única, tempos atrás ultrapassara os cem anos. O Suleimane, ontem, quando lhe telefonei,  disse-me que a mãe tinha 114  anos (?!), e,  sendo assim, nasceu no séc XIX, passou pelo séc XX e vem morrer no séc XXI. 

Soube envelhecer com dignidade, para quem nunca soube o que era botox ou pilling, a Fatemá tinha uma pele lisa, com muito poucas rugas, e,  para além deste aspecto exterior, possuía uma cabeça cheia de memórias. Em 2005, falou-me dos militares portugueses que foi conhecendo ao longo dos anos da guerra, uns que eu conhecia, outros não. Curiosamente, esqueceu o comandante da CCAÇ 3490, ou fez por bem não o mencionar.

Em Março de 2008, encontrei-a  já muito prostrada, muito apática, e já não me reconheceu
Ontem à tarde, segundo o Suleimane, "ficou-se"... morreu de velhice. Hoje, às 10.00 horas, seria enterrada. Que Alá a tenha em descanso.

Águeda, Aguada de Cima, 8 de novembro de 2010

2. Comentários ao poste P7249:

(i) Luís Graça, editor:

Paulo: A ternura com que falas desta mulher, que bem podia ter sido tua avó ou bisavó... Os laços de afecto que deixaste por onde passaste... Eu não sei se isto é muito "português", só sei que é de um grande português, cidadão e homem, de sue nome Paulo Santiago e cuja presença, entre nós, muito honra a Tabanca Grande...

Há mais postes onde evocas a Fatemá... Por exemplo, fui buscar este excerto:

"Jamil [ Nasser, comerciante libanês do Saltinho,] desistiu da abertura de uma casa em Mampatá, mas a ideia foi aproveitada por um outro comerciante do Xitole, o Rachid. Passou-se para o reordenamento de Contabane, na outra margem do rio, e estou a ver a Fatemá, mulher do régulo Sambel, mãe do meu 1º Cabo Suleimane, a 'pendurar-se' ao pescoço do Spínola e a cobri-lo de beijos."(...) (**)


(ii) José Brás (**):

[ex-fur mil, CCAÇ 1622, Aldeia Formosa e Mejo, 1966/68); nasceu em Alenquer; trabalhou na TAP como tripulante comercial de 1972 a 1997; foi sindicatista e autarca; mora em Montemor-o-Novo; tem mais de 130 referências no nosso blogue; é autor de “Vindimas no Capim”, 2.ª Edição, Lisboa, Publicações Europa América, 1987, e também de "Lugares de Passagem", Chiado Editora, Lisboa, 2010].

A minha memória sobre a Fatemá  não é tão objectivamente clara como a que aqui aparece do camarada Santiago.

Há coisas da Guiné que me escapam hoje e penso mesmo que me escaparam sempre, para minha desgraça pessoal,  porque tenho isso como uma lástima que não me aumenta razões para a consideração de outros nem de mim por mim próprio.

Tentando entender porque terá sido isso, quero crer que se deve a uma certa rejeição pela guerra e pelas razões da guerra e, nesse tempo, mesmo pelos seus intérpretes no terreno, apesar de também eu a ter assumido.

Por isso Fatemá era apenas a mais prestigiada das mulheres de Sambel. tenente de segunda linha, homem que permaneceu a nosso lado, creio que até ao fim da guerra. Dele, lembro cartas que escrevi para um seu filho que estava em Lisboa e que ele queria em Contabane para casar com uma mulher "negociada" pelo pai, coisa que gerou conflito de posturas porque o filho, tendo escolhido mulher, outra, já não aceitava a decisão do pai.

Lembro também do posto rádio que montei em sua casa, com AN-GRC9,  para apoiar uma incursão da minha companhia na estrada que ligava a Madina do Boé, operação que deu apenas uma vítima, uma cobra com mais de 4 metros apanhada pelos soldados e cozinhada em Aldeia Formosa.

E também me lembro do embaraço desse dia, obrigado a partilhar o arroz de chabéu com galinha na mesma malga de madeira onde comiam Sambel e as suas mulheres da forma tradicional da Guiné.
Sei que muito soldado português partilhou experiências destas sem quaisquer dificuldades, mas para mim não foi agradável, coisa que, como disse já, sinto hoje como postura verdadeiramente lamentável na medida em demonstra a pouca adaptação que terei tido nesta experiência.

 (iii) José Teixeira (ex-1.º Cabo Aux Enf da CCAÇ 2381, Buba, Quebo, Mampatá e Empada, 1968/70; tem mais de 340 referências no nosso blogue; régulo da Tabanca de Matosinhos) (**)

 Não me lembro da Fatemá (...), quando trilhei as picadas de Quebo e Mampatá [, em 1968/70].

Recordo o régulo Sambel, seu marido, e a sua dedicação e fidelidade a Portugal. O seu filho, o nosso amigo Suleimane, actual régulo de Contabane, esse sim, como soldado milícia partilhou comigo algumas...  aventuras em Mampatá. Hoje prezo muito a sua amizade e a da sua esposa, a Ádada, que conheci ainda bajuda. Que bonita que era e ainda é!

Tal como o Paulo Santiago, tive a felicidade de conviver com a Fátemá em 2005, quando a Ádada (...) me reconheceu, passados trinta e cinco anos (que belo e feliz momento!).

Estava a saborear este encontro, quando vejo surgir à porta da sua morança a velhinha Fatemá, que se dirige a mim com um sorriso, para logo me abraçar e,  com as lágrimas nos olhos,  me pedir "Branco na volta, branco na volta !"

Por mais que lhe dissesse que agora só lá íamos para matar saudades, ela insistia "Branco na volta!"... Seguiu-se uma amena conversa, interrompida aqui e além pelos seus bisnetos, que queriam brincar comigo ao fotógrafo.

Voltei em 2008. Notei que estava mais parada, porque os anos não perdoam. Retenho a imagem de uma mulher linda, apesar da idade, lúcida e,  sobretudo, tal como o filho e outros familiares que conheço, muito ligada a Portugal e aos portugueses que por lá passaram.

Com a sua morte perdeu-se um forte elo de ligação, com os portugueses que pisaram aqueles trilhos do regulado de Contabane.

3. Comentários  ao poste P19995 (*)

(i) Mário Miguéis da Silva (ex-Fur Mil Rec Inf, BissauBambadinca e Saltinho, 1970/72; bancário reformado, cartunista,  vive em Esposende)

Na entrevista (pág. 10 e 11) feita por mim e pelo ex-alferes Rocha  ao respeitável Sambel Baldé, régulo de Contabane (pai do atual régulo, Suleimane Baldé) [, e publicada no jornald e caserba, "O Saltitão"], perguntávamos, a certa altura, ao entrevistado "quantas chuvas tinha"...."Cinquenta e sete", respondeu Sambel, com convicção. 

Ora, tendo sido referido aqui no blogue, aquando do falecimento da Fatumata (senhora de uma simpatia e gentileza inexcedíveis, mulher mais velha de Sambel e mãe do atual régulo) que esta deveria ter a proveta idade de 114 anos e,  tendo ainda em atenção que a Fatumata, para quem a conheceu e ao Sambel, não era mais velha que este, antes pelo contrário, das duas uma: ou o Sambel tinha mais que 57 anos em 1971 (data da entrevista) ou a Fatumata não tinha assim tantas chuvas quando faleceu [, em 2010]... (Experimentem fazer as contas).

Para os menos familiarizados com a guerra no sul e leste da Guiné, o Sambel alude, na entrevista, ao ataque do PAIGC à tabanca de Contabane (nas proximidades de Aldeia Formosa), que destruiu completamente (disso se falou já abundantemente aqui no nosso blogue). 

Madina-Contabane foi edificada na margem esquerda do Corubal, junto ao Saltinho, pelas tropas da CCAÇ 2701, em 1971, para recolher, em definitivo, a população, algo dispersa durante dois anos, da antiga Contabane. 

O capitão André, a certa altura da entrevista referido pelo Sambel, era o comandante da CCAÇ 2406 ("Os Tigres"), que precederam a CCAÇ 2701 no Saltinho (já publiquei uma foto no blogue, montando o tigre da CCAÇ 2406, "escultura" que tem na sua base uma lápide alusiva aos vários mortos da Companhia).

(ii) Cherno Baldé, Bissau (*):

(...) A segunda hipótese deve ser a mais provável, pois 114 anos são "muitas chuvas" para as condições reais em que nós vivemos, mesmo sendo uma mulher. O método da contagem (chuvas) e a ausência de registos escritos fazem mais que complicar a contagem. E, para piorar, no meio tradicional fula, a idade não era importante senão no momento e em função do beneficio que dai poderia resultar. Convinha ser jovem e forte nos momentos de recrutamento para tarefas mais ou menos bem remuneradas, e mais velho quando isso permitia beneficiar de alguma herança ou deixar de pagar impostos.

Gostei muito da lenda sobre a origem do cavalo e da entrevista ao Régulo Sambel Baldé. A lenda do cavalo retrata a epopeia das guerras com o reino Bambará de Segou, de onde é originária a maior parte dos primeiros fulas que povoaram o actual territorio da Senegambia (Guiné, GBissau, Senegal e a Gambia).

O verbo "firmar" é uma tradução directa da lingua fula, o mesmo que dizer "estar vs morar". Fez-me lembrar o meu velho pai que falava igualzinho, e bem vistas as coisas, com muito mérito e inteligência se tivermos em conta as suas origens e histórias de vida. Queria ver qualquer um de vocês a falar fula com a mesma desenvoltura de espirito e clareza no sentido. Caso para dizer: Mesmo se nunca mereceram o devido respeito e confiança da parte de muitos portugueses, mormente administradores coloniais e comandantes de companhias do exercito, os nossos pais e avôs foram extraordinários e dignos de admiração. (...)

(iii) Paulo Santiago (*):

Foi o Suleimane que me falou nos 114 anos da mãe, pode haver exagero, talvez...Ela teria uns sessenta e picos quando por lá andámos, mais os quarenta que ainda viveu. O Suleimane,é mais velho que eu doze anos,tem agora oitenta e três.

(iv) Mário Miguéis da Silva:

Caro Cherno Baldé, as tuas palavras alusivas aos vossos pais e avôs conseguiram comover-me. Tive com as populações de etnia fula, com as quais convivi ao longo dos dois anos da minha comissão de serviço, uma relação da maior cordialidade. Percebi, desde cedo, as carências de que padeciam e a delicadeza da sua posição. Embora suportassem tudo com elevação, com a maior das dignidades, não me passava ao lado o seu sofrimento, a sua preocupação com o futuro dos seus. Isto, apesar do seu passado de guerreiros altivos e indomáveis. 

De um modo geral, procurei ser muito amigo de todos, acarinhando as crianças e fazendo o que estava ao meu alcance para ajudar pais e mães. Mas, os Homens-Grandes, gente humilde no seu comportamento exterior, mas sábia e altiva como nenhuma outra no território, sempre me infundiram o maior respeito e mereceram grande amizade. Quando, como agora, dou comigo a recordar algumas vetustas personalidades, que tive a honra de conhecer no seio das suas tabancas disseminadas pelo leste e sul da Guiné, e embora não tenha quaisquer problemas de consciência quanto ao meu comportamento em relação às mesmas, não deixo de me sentir algo entristecido por não ter podido ser tão generoso com elas quanto desejaria.

Obrigado pelo teu comentário ao poste e um grande abraço. (*****)

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(*****) Último poste da série > 11 de julho de 2019 > Guiné 61/74 - P19968: (In)citações (135): Achega II - E o PAIGC exaltou o Comandante Guerra Mendes a substituto de Salazar, na toponímia de Bissau (Manuel Luís Lomba)

sábado, 20 de julho de 2019

Guiné 61/74 - P19998: Os nossos seres, saberes e lazeres (344): "O Saltitão", Jornal da CCAÇ 2701 (3) (Mário Migueis da Silva, ex-Fur Mil Rec Inf)

1. Lembremos o que nos dizia o nosso camarada Mário Migueis da Silva (ex-Fur Mil Rec Inf, Bissau, Bambadinca e Saltinho, 1970/72), na sua mensagem de 12 de Julho de 2019, onde nos falava de um projecto em que esteve envolvido no Saltinho, a criação de um jornal para a CCAÇ 2701, a que foi dado o o título de O Saltitão:

Quando, no final de Agosto/71, após as minhas primeiras férias na metrópole, regressei ao Saltinho, fui convidado pelo Capitão Carlos Trindade Clemente, Comandante da Companhia ali instalada (CCAÇ 2701), para levar avante a criação do Jornal da Unidade, que era uma coisa que ele tinha em mente há muito tempo. Só ele saberá das razões que o levaram a escolher-me para missão de tamanha responsabilidade, tanto mais que eu não fazia parte dos quadros da Unidade – estava lá em diligência desde Março/71, após estágio de informações, com a duração de cerca de três meses, em Bambadinca. Claro que logo aceitei a incumbência com o maior entusiasmo, ou não tivesse eu, sem que ele conhecesse o facto, grande experiência do antecedente naquelas coisas do jornalismo – fora, de parceria com um conterrâneo do mesmo pelotão, o grande feitor do Jornal de Parede da 5.ª Companhia no RI 5, nas Caldas da Rainha (recruta do 4.º turno de 1969 – Curso de Sargentos Milicianos), após termos afastado a indesejável concorrência à bofetada.
[...]
Esposende, 10 de Julho de 2019
Mário Migueis

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2. Publicação das últimas 7 páginas do primeiro número de O Saltitão









(FIM)
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Notas do editor:

Postes anteriores de:

18 de julho de 2019 > Guiné 61/74 - P19989: Os nossos seres, saberes e lazeres (341): "O Saltitão", Jornal da CCAÇ 2701 (1) (Mário Migueis da Silva, ex-Fur Mil Rec Inf)
e
19 de julho de 2019 > Guiné 61/74 - P19995: Os nossos seres, saberes e lazeres (342): "O Saltitão", Jornal da CCAÇ 2701 (2) (Mário Migueis da Silva, ex-Fur Mil Rec Inf)

Último poste da série de 20 de julho de 2019 > Guiné 61/74 - P19997: Os nossos seres, saberes e lazeres (343): Na Bélgica, para rever e para descobrir o nunca visto (6) (Mário Beja Santos)

sexta-feira, 19 de julho de 2019

Guiné 61/74 - P19995: Os nossos seres, saberes e lazeres (342): "O Saltitão", Jornal da CCAÇ 2701 (2) (Mário Migueis da Silva, ex-Fur Mil Rec Inf)

1. Lembremos o que nos dizia o nosso camarada Mário Migueis da Silva (ex-Fur Mil Rec Inf, Bissau, Bambadinca e Saltinho, 1970/72), na sua mensagem de 12 de Julho de 2019, onde nos falava de um projecto em que esteve envolvido no Saltinho, a criação de um jornal para a CCAÇ 2701, a que foi dado o o título de O Saltitão:

Quando, no final de Agosto/71, após as minhas primeiras férias na metrópole, regressei ao Saltinho, fui convidado pelo Capitão Carlos Trindade Clemente, Comandante da Companhia ali instalada (CCAÇ 2701), para levar avante a criação do Jornal da Unidade, que era uma coisa que ele tinha em mente há muito tempo. Só ele saberá das razões que o levaram a escolher-me para missão de tamanha responsabilidade, tanto mais que eu não fazia parte dos quadros da Unidade – estava lá em diligência desde Março/71, após estágio de informações, com a duração de cerca de três meses, em Bambadinca. Claro que logo aceitei a incumbência com o maior entusiasmo, ou não tivesse eu, sem que ele conhecesse o facto, grande experiência do antecedente naquelas coisas do jornalismo – fora, de parceria com um conterrâneo do mesmo pelotão, o grande feitor do Jornal de Parede da 5.ª Companhia no RI 5, nas Caldas da Rainha (recruta do 4.º turno de 1969 – Curso de Sargentos Milicianos), após termos afastado a indesejável concorrência à bofetada.
[...]
Esposende, 10 de Julho de 2019
Mário Migueis

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2. Páginas 5 a 11 do primeiro número de O Saltitão








(Continua)
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Nota do editor

Poste anterior de 18 de julho de 2019 > Guiné 61/74 - P19989: Os nossos seres, saberes e lazeres (341): "O Saltitão", Jornal da CCAÇ 2701 (1) (Mário Migueis da Silva, ex-Fur Mil Rec Inf)

quinta-feira, 18 de julho de 2019

Guiné 61/74 - P19989: Os nossos seres, saberes e lazeres (341): "O Saltitão", Jornal da CCAÇ 2701 (1) (Mário Migueis da Silva, ex-Fur Mil Rec Inf)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Migueis da Silva (ex-Fur Mil Rec Inf, Bissau, Bambadinca e Saltinho, 1970/72), com data de 12 de Julho de 2019, onde nos fala de um projecto em que esteve envolvido no Saltinho, a criação de um jornal para a CCAÇ 2701, a que foi dado o o título de O Saltitão.


O Saltitão

Quando, no final de Agosto/71, após as minhas primeiras férias na metrópole, regressei ao Saltinho, fui convidado pelo Capitão Carlos Trindade Clemente, Comandante da Companhia ali instalada (CCAÇ 2701), para levar avante a criação do Jornal da Unidade, que era uma coisa que ele tinha em mente há muito tempo. Só ele saberá das razões que o levaram a escolher-me para missão de tamanha responsabilidade, tanto mais que eu não fazia parte dos quadros da Unidade – estava lá em diligência desde Março/71, após estágio de informações, com a duração de cerca de três meses, em Bambadinca. Claro que logo aceitei a incumbência com o maior entusiasmo, ou não tivesse eu, sem que ele conhecesse o facto, grande experiência do antecedente naquelas coisas do jornalismo – fora, de parceria com um conterrâneo do mesmo pelotão, o grande feitor do Jornal de Parede da 5.ª Companhia no RI 5, nas Caldas da Rainha (recruta do 4.º turno de 1969 – Curso de Sargentos Milicianos), após termos afastado a indesejável concorrência à bofetada.

A Direção do jornaleco pertenceria por inteiro, e por inerência do cargo, ao mentor da obra, o Capitão Carlos Clemente, Comandante da Companhia, que, desde logo, delegou em mim todas as competências e mais algumas: Migueis, você fica com inteira liberdade para orientar e dirigir o Jornal. Não há censuras. Mas, respeitaremos o objetivo primordial – já falámos sobre isso –, que é contribuir para manter as tropas com o moral tão elevado quanto possível. Do resto, tratará o nosso bom censo. Gostaria também que o jornal não estivesse virado apenas para as elites. Com erros ou sem erros de gramática, ponha-me os soldados a escrever. Com estas ou com outras palavras, a mensagem estava passada. E, se, no imediato, não seria possível atender a esta última recomendação do nosso Capitão – lembremo-nos do baixo nível de literacia, ao tempo, da maioria esmagadora dos nossos soldados –, para lá caminharíamos rapidamente nos números seguintes.

O Corpo Redatorial, sem o qual nada seria possível, acabaria, então, constituído por mim próprio – o moiro de trabalho, pois claro – e pelos 1.ºs Cabos Operadores Cripto, José Sargaço e Rui Coelho – com gente desta estirpe, O Saltitão só poderia ter feito um enorme ronco não só na Guiné como também no resto do mundo e arredores (se não acreditam no sucesso da coisa, perguntem ao PIFAS, que ele ainda se há de alembrar).

Para gáudio dos seus mentores, feitores, colaboradores e apoiantes, ainda naquele mês de Setembro de 1971, saltaria para as bancas o primeiro número de O Saltitão (a ideia do nome foi-nos sugerida pelo lugarzinho onde nos encontrávamos, pois claro), em tamanho A4 (normalmente, cada número dos jornais do género não passava de meia dúzia de páginas e era impresso em folhas tamanho A5), e impressão em stencil, maquineta que, em conjunto com umas boas toneladas de papel almaço branco e liso, o Capitão Clemente se apressara a requisitar a Bissau – ainda estou a ver e a ouvir o helicóptero de dois rotores, pairando, a 10 metros de altura, sobre a pista do Saltinho, a descarregar cuidadosamente aquele fardo gigantesco de resmas e mais resmas de papel para impressão.

Para satisfação da curiosidade dos estimados seguidores do nosso blog, estou a anexar algumas das cerca de trinta páginas do primeiro número do mensário (Setembro/1971). Dependendo dos likes (leia-se comentários) recebidos, divulgarei ou não o segundo número editado (Outubro/71).

Esposende, 10 de Julho de 2019
Mário Migueis

O héli de dois rotores, descarregando as preciosas toneladas de papel para impressão do Saltitão
Com a devida vénia à Sputnik Brasil, onde a foto foi publicada oportunamente

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2. Primeiras 5 de 19 páginas do primeiro número de O Saltitão






(Continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 13 de julho de 2019 > Guiné 61/74 - P19976: Os nossos seres, saberes e lazeres (340): Na Bélgica, para rever e para descobrir o nunca visto (5) (Mário Beja Santos)

quarta-feira, 17 de julho de 2019

Guiné 61/74 - P19986: (Ex)citações (355): Mortes por afogamento - A morte por afogamento, sem recuperação do corpo, do 1.º Cabo Radiotelegrafista Manuel Andrade da CCAÇ 2701 (Mário Migueis da Silva)

1. Em mensagem datada de 17 de Julho de 2019, o nosso camarada Mário Migueis da Silva (ex-Fur Mil Rec Inf, Bissau, Bambadinca e Saltinho, 1970/72), fala-nos das circunstâncias da morte, por afogamento no Corubal, nos Rápidos do Saltinho, em Agosto de 1970, do 1.º Cabo Radiotelefonista Manuel Andrade da CCAÇ 2701, cujo corpo não foi recuperado.

A morte por afogamento, sem recuperação do corpo, do 1.º Cabo Manuel Andrade, especialidade de Radiotelefonista, foi a única baixa fatal sofrida pela CCAÇ 2701 durante a sua comissão de serviço no Saltinho desde Maio/70 a Fev/72.

Segundo o José Sargaço, ex-1.º Cabo Operador Cripto, com o qual, por coincidência, estivera a falar sobre o afogamento do Andrade, duas horas antes da publicação do post de 15/07, tudo se passou assim:

O Andrade, dias após a chegada ao Saltinho, em Maio/70, foi, com um grupo de combate da CCAÇ 2701, destacado para Cansonco, tabanca em autodefesa situada a sensivelmente quinze quilómetros do aquartelamento, onde se manteve cerca de dois meses. Na tarde - seriam mais ou menos dezasseis horas - do próprio dia em que regressou de Cansonco, isto é, em 09/08/1970, o Andrade, ainda empoeirado da viagem, convidou o José Sargaço para irem tomar uma banhoca no rio (a Companhia dispunha de balneários, mas era aquela vontade de se refrescar no rio, tal como fizera antes).

Como, desde a ida do Andrade para Cansonco, o caudal do Corubal engrossara imenso (estava-se já em plena estação das chuvas - Maio a Novembro) e a corrente das águas era tremenda, eram eles dois os únicos elementos presentes junto ao rio e limitavam-se a ensaboar-se e a refrescar-se sentados numas pequenas pedras da margem. A certa altura, o Andrade, excelente nadador, talvez por ignorar a terrível força da corrente que se fazia sentir (quando partira para Cansonco, os rápidos eram ainda de grande mansidão), levantou-se e mergulhou num local em que a profundidade das águas não iria além de um metro. Só que, levado pela corrente, quando emergiu já estava nas proximidades dos pegões da ponte do Saltinho, sendo arrastado irremediavelmente naquele turbilhão tremendo, onde desapareceria para sempre.

Impotente para lhe valer, até porque o Andrade logo desapareceu sob as águas, limitar-se-ia o José Sargaço a alertar imediatamente os camaradas da Companhia. Mas, apesar das diligências efetuadas por nativos e tropas apeadas ao longo das margens do rio no próprio dia e no dia seguinte ao desaparecimento, sempre apoiados por um helicóptero, o corpo jamais seria recuperado.

Esposende, 16 de Julho de 2019
Mário Migueis


A bordo do Carvalho Araújo, rumo à Guiné, em Abril/70. Da esquerda para a direita: José Simão, 1º cabo escriturário (já falecido); José Sargaço, 1º cabo operador cripto; com a farda nº3, Manuel Andrade, 1º cabo radiotelefonista (morto por afogamento em 09/08/70).

Ainda a bordo do Carvalho Araújo, o José Simão, o José Sargaço e, mais à frente, o Manuel Andrade

Aspeto do Corubal, junto à ponte do Saltinho, durante a estação seca 

Aspeto do Coruba,l junto à Ponte do Saltinho, durante a estação das chuvas

A ponte do Saltinho
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Notas do editor:

Comentário de Mário Miguéis  no poste Guiné 61/74 - P19982: Jorge Araújo: Ensaio sobre as mortes por afogamento no CTIG: atualização: o caso do 1º cabo Henrique Manuel da Conceição Joaquim, do BENG 447, afogado em 31 de julho de 1974, na ilha da Caravela e cujo corpo não foi recuperado

Por coincidência, hoje mesmo estive a falar com o José Sargaço, ex-1.º cabo operador cripto da CCAÇ 2701 (Saltinho), a propósito de uma fotografia por ele afixada no Solar do Marquês, em Cantanhede, onde, no mês passado, decorreu o último convívio da Companhia. 
Na foto, que vou remeter a/c do Vinhal, para eventual publicação, estão presentes três 1.ºs cabos da CCAÇ 2701, a bordo do navio que os levou à Guiné em Maio/70: José Simão, José Sargaço e Manuel Andrade. Este último é precisamente o morto por afogamento no R. Corubal em 09/08/70. Um abraço, 
Mário Migueis

Último poste da série de 16 de julho de 2019 > Guiné 61/74 - P19983: (Ex)citações (354): como é que a máquina burocrática do exército fazia chegar, à família, a notícia funesta da morte ou desaparecimento em combate de um militar ? O caso do sold at cav nº 711/65, José Henriques Mateus, desaparecido no rio Tompar, afluente do rio Cumbjiã, no decurso da Op Pirilampo, em 10/9/1966 (Jaime Silva, seu colega de escola, no Seixal, Lourinhã, ex-alf mil paraquedista, BCP 21, Angola, 1970/72)

quinta-feira, 11 de julho de 2019

Guiné 61/74 - P19969: Notas de leitura (1196): "SE SENTES NÃO HESITES", por Manuel Clemente; alma dos livros, 2019 (Mário Migueis da Silva)

 


1. Em mensagem datada de 9 de Julho de 2019, o nosso camarada Mário Migueis da Silva (ex-Fur Mil Rec Inf, Bissau, Bambadinca e Saltinho, 1970/72), fala-nos do livro "SE SENTES NÃO HESITES", da autoria de Manuel Clemente, filho do Coronel Carlos Clemente, ex-Capitão, Comandante da CCAÇ 2701 que esteve no Saltinho.



"SE SENTES NÃO HESITES" é o novo livro de Manuel Clemente, lançado pela “alma dos livros” em Maio passado.

Convidando-nos a refletir sobre como encarar e viver a vida de uma forma diferente, mais consentânea com a felicidade que tanto almejamos e, sem dúvida, merecemos, tem estado no top de vendas da Bertrand e da FNAC, entre outras, e caminha já a passos largos para a sua 3.ª Edição (1.ª em Maio/2019 e 2.ª em Junho/2019), ou não tivesse sido considerado entretanto pela crítica competente O LIVRO REVELAÇÃO DO ANO.

Ainda assim, na perspetiva dos colaboradores e seguidores do nossos estimado blog, especialmente voltado, e muito bem, para temas relacionados com a Guerra Colonial/do Ultramar, poderia parecer despropositada, neste espaço tão específico, a alusão a uma obra e a um autor que se vão debruçando sobre assuntos bem diversos. Acontece que o jovem autor não é apenas mais um excelente autor que acaba de escrever mais um interessantíssimo livro, mas alguém que, desde os bancos da faculdade, vem revelando uma simpatia muito especial pelos povos daquela África que nos haveria de marcar para sempre. Formado em Gestão e Engenharia Industrial pelo ISCTE-IUL, interrompeu, a dada altura, a sua atividade profissional para fazer voluntariado de longa duração (cerca de oito anos) em Cabo Verde, dando, assim, livre curso, àquilo que seriam os impulsos dos seu coração. Atualmente, escreve igualmente crónicas de opinião para o jornal Público (suplemento P3) e integra uma organização (PARA ONDE) que apoia projetos de voluntários para todo o mundo.

Dizer, por fim, que o jovem e conceituado escritor é filho do Coronel Carlos Clemente, que acompanhou na sua recente visita ao Saltinho, conforme fotos anexas (Carlos Clemente comandou, em 1970 e 1971, a CCAÇ 2701*, cuja malta muito justamente o haveria de homenagear, um ano atrás, durante o penúltimo convívio da Unidade, realizado no Sameiro, em Braga).

E SENTES curiosidade, NÃO HESITES e adquire o título recomendado para os teus (e/ou dos teus) momentos de reflexão e sossego.

E, já agora, um bom Verão para todos.
Mário Migueis
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*Unidade a que pertenceram os nossos camarigos Martins Julião e Fernando Mota (então, alferes milicianos), e onde esteve adido, com o seu Pel Caç Nat 53, o intrépido Paulo Santiago (igualmente ex-alferes miliciano), que tão bem conhecemos.

Pela parte que me toca, tive a felicidade de ter privado com todos eles até ao seu regresso definitivo à metrópole nos princípios de 1972.
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Em Bissau, um ano atrás. Na primeira linha, o coronel Carlos Clemente, o filho, Manuel Clemente, e dois parentes do Sado, que aparece de pé, junto a um amigo do coronel, que também não quis deixar de o acompanhar nesta visita de cortesia à Guiné-Bissau. As restantes três pessoas são também amigos muito próximos do Sado (a ele se referiu já várias no blog o Paulo Santiago), que, como ele, residem em Bissau.

Carlos Clemente e Suleimane Baldé, régulo de Contabane – Saltinho/2018

Carlos Clemente no Saltinho, ladeado pelo amigo que o acompanhou à Guiné-Bissau e pelo atual régulo de Contabane, Suleimane Baldé. Também de pé, o Sado Baldé, quadro superior da Guarda Fiscal, que o capitão Clemente, no final da comissão, trouxe consigo – o Sado era ainda um miúdo – para Bissau, assegurando-lhe condições de estadia e ingresso imediato no liceu.

Carlos Clemente, amigo e filho, ladeados por um numeroso grupo de moradores do Saltinho - 2018
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Nota do editor

Último poste da série de 10 de julho de 2019 > Guiné 61/74 - P19962: Notas de leitura (1195): "Crónicas de um tenente", de Fernando Penim Redondo, Lisboa, edições Colibri, 2019, 188 pp. Prefácio de Mário de Carvalho (A. Marques Lopes)

quinta-feira, 28 de março de 2019

Guiné 61/74 - P19629: Memória dos lugares (389): Ponte do Rio Colufe (que desagua no Rio Geba, em Bafatá), onde houve um acidente com um Unimog 411, em 6/1/1971, em que morreram, afogados, 3 militares, 1 do GAC 7 e 2 da madeirense CCAÇ 2680 (Cabuca e Nova Lamego, 1970/71) (Mário Migueis e José Martins)



Guiné > Zona de Região de Bafatá  > Bafatá > Vista aérea >  Bafatá,  o porto fluvial e o Rio Geba, vistos de oeste; ao fundo, a ponte do Rio Colufe, assinalada a amarelo. Esta ponte era em betão (?), mas havia outra, mais a montante, em madeira, em troncos de palmeira... Ou eu estou confundido ? Já se passaram 50 anos...

O Fernando Gouveia e o Manuel Mata (que lá viveram quase dois anos) podem esclarecer este ponto... Ou o próprio Humberto Reis que andou por lá, pelo ar, a tirar a fotografias da bela e doce Bafatá do nosso tempo... Ou ainda a malta de Galomaro / Dulombi... Na carta de 1955 só parece haver uma ponte a atravessar o rio Colufe, a sul de Bafatá... Quem me ajuda ? (LG).

Foto (e legenda): © Humberto Reis (2006). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar:  Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Guiné > Região de Bafatá > Bafatá > Cmd Agr 2957 (Bafatá, 1968/70) > Regina Gouveia, esposa do ex-alf mil ex-Alf Mil Rec e Inf, ambos membros da nossa Tabanca Grande: "O  transbordar dos rios na época das chuvas. Na ponte do rio Colufe com a água a chegar aos meus pés." [Não há dúvida, pela foto, que a estrutura é em betão. LG]
Foto (e legenda): © Fernando Gouveia  (2009). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar:  Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Guiné > Região de Bafatá > Carta de Bafatá (1955) (Escala 1/50 mil) > Posição relativa do Rio Colufe que vai desaguar ao Rio Geba, em Bafatá.

[...] "A característica geral da área do Batalhão [BART 2917, Bambadinca, 1970/72, Setor L1] é a planície, onde correm muitos rios cavados num planalto de40 metros de altitude. A rede hidrográfica encontra-se orientada para os Rios Colufe, Geba e Corubal, verificando-se, na época das chuvas e nos baixos cursos destes dois últimos, o nivelamento das águas dos rios e das bolanhas, durante a preia-mar. Na época seca, com excepção dos Rios Geba, Corubal, Colufe,  Gambiel  e Udunduma, todos os restantes são transponíveis a vau. Na época das chuvas, todos os rios do sector são praticamente intransponíveis a vau." [...]

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2019)
Brsaão da CCAª 2680


1. Recuperam-se 3 comentários ao poste P7853 (*)

(i) Mário Migueis [da Silva] 

[ex-fur mil rec info, CCS / Q.G. (Bissau). Colocação: Com-Chefe / Rep-Info (Amura-Bissau) Função: Serviço de Informações Militares (SIM) Unidades em que esteve em diligência: Bart 2917 / Bambadinca (Novembro 70 a Janeiro 71, incl.); CCaç 2701 e CCaç 3890 / Saltinho (Março 71 71 / Outubro 72); bancário reformado, vive em Esposende]

Quando passei por Bambadinca (Nov 70 / Mar71) [, ao tempo do BART 2917, 1970/72],  houve um acidente grave numa das pontes situadas na área de influência do Batalhão instalado em Bambadinca: um "burrinho" desgovernado caiu no rio, tendo morrido vários soldados afogados. Só me lembro de um furriel conhecido por "Fafe" , que também esteve no local, tentando, infrutíferamente, salvar alguns dos sinistrados. 

Não sei se este tema já foi alguma vez abordado no blogue, mas, de qualquer forma, agradeço que, quem souber, me responda a esta simples pergunta: como é que se chamava essa ponte?...


(ii) José Martins

 [ex-fur mil trms, CCAÇ 5, Gatos Pretos, Canjadude, 1968/70); nosso colaborador permanente, com mais de 350 referências no nosso blogue; vive em Odivelas]

Tentei encontrar, no periodo indicado pelo Mário Miguéis, mas apenas encontrei um acidente de viação seguido de afogamento, no Rio Colufe, vindo a falecer três militares, sendo um do GAC 7 e dois da CCaç 2680.

Terá sido este?

26 de fevereiro de 2011 às 21:40


(iii) Mário Migueis:

José Marcelino Martins:

Os meus agradecimentos pela atenção que me dispensaste, embora nem o Rio Colufe, nem as unidades indicadas (GAC 7 e CCAÇ 2680) me digam nada. Não faço ideia do local onde estavam instaladas.

Vou tentar encontrar alguns elementos entre os meus canhenhos, tais como alguma cópia de cartas topográficas que possa ter ainda em meu poder. Mas, acho estranho que ninguém ligado a Bambadinca se recorde do caso.

Um grande abraço,

Mário Migueis

27 de fevereiro de 2011 às 01:00


2. Comentário do editor Luís Graça:

Mário e José, só ao fim de oito anos (!), é que dei conta  dos vossos comentários, ao reler ontem   o poste P7852 (*), em que se falava da ponte do Rio Udunduma, afluente do Rio Geba, que atravessava a estrada Bambadinca-Xime.

Desgraçadamente só temos uma referência à CCAÇ 2680...Sabemos que:

(i) era uma companhia madeirense, moblizada pelo BII 19, Funchal;

(ii) esteve em Cabuca e Nova Lamego (1970/71);

(iii) era comandada pelo cap mil art Emílio Jerónimo Pimenta Guerra;

(iv) embarcou em 2 de fevereiro de 1970 e regressou a 27 de dezembro de 1971:

(v)  a CCAÇ 280 foi rendida em Cabuca  pela CCAV 3404 (1971/73) e esta pela  2ª CART / BART 6523 (1973/74).

Quanto ao GAC 7, temos pelo menos cinco referências... Sabemos que, por volta de 1970/72, ao tempo do nosso saudoso Vasco Pires (, cmdt do 23º Pel Art, em Gadamael), o GAC7 (GA7) tinha "trinta e dois pelotões espalhados pelo TO da Guiné, apoiando tropas debaixo de fogo IN, atingindo importantes alvos, quer por ordem superior, quer como fogo de contra-bateria, por vezes apoiando outros aquartelamentos, até tiro direto, para impedir supostas invasões do quartel"...

Tenho ideia, sim, desse acidente, referido pelo Mário Miguéis, o qual deve ter sido já no final da minha comissão (que acabava em março de 1971)... Já não me lembro dos pormenores: o Miguéis diz que foi com um "burrinho" (Unimog 411), que caiu ao rio e provocou a morte, por afogamento, de três militares, um do GAC 7 e dois da CCaç 2680. 

Deveria tratar-se de um Pel Art, desembarcado no Xime, em LDG, e que seguia em coluna auto até Nova Lamego ou Cabuca, via Bambadinca e Bafatá, com escolta da CCAÇ 2680 / Comando de Agrupamento 2958.

Nem a data nem o sítio certo, no Rio Colufe, são indicados pelo José Martins... Lembro-me da pomnte, em betão,  sobre o Rio Colufe, afluente do Rio, em Bafatá..., no Rio Colufe [ou Rio Campossa], afluente do Rio Geba. Mas havia outra, nas proximidades, feita em troncos de palmeira. Era utilizada por quem vinha do sul /sudoeste (Setor L5, Galomaro).

Tudo indica, pelas pesquisas na Net, que se trate do acidente, ocorrido em 6/1/1971, de que resultaram a morte por afogamento dos seguintes militares:

1º cabo Arlindo Baptista Loureiro, GAC 7;

Sold Silvano Rodrigues Figueira, CCAÇ 2680 / Cmd Agr 2957; natural do Curral das Freiras, Câmara de Lobos 

1º cabo Armando Martins Simões Melo, CCAÇ 2680 / Cmd Agr 2957.

Havia uma ponte em betão e outra em madeira (que devo ter atrevessado, mas já não me lembro muito bem). Em qual delas se terá dado o acidente ? (**).


Guiné > Zona de Região de Bafatá  > Bafatá  Ponte sobre o rio Colufe, "com a sua célebre estrutura em troncos de palmeira". Em janeiro de 1970, a ponte era guardada por uma força do Esquadrão de Reconhecimento Fox 2640 (Bafatá, 1969/71) a quem pertencia o nosso camarada Manuel Mata.

Foto (e legenda): © Manuel Mata  (2006). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar:  Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]]


Guiné > Zona de Região de Bafatá  > Bafatá >  Ponte (em madeira) sobre o rio Colufe, vista por quem vinha de Dulombi e Galomaro, com Bafatá em frente.  Vê-se que falta uma secção do corrimão da ponte, do lado esquerdo, sinal de que o sítio era propício a acidentes...

Foto: Cortesia do Ricardo Lemos, ex-fur mil mec, CCAÇ 2700 (Dulombi, 1970/72), que vive em Matosinhos, e a quem já convidámos em tempos para integrar a Tabanca Grande.  Foi publicada no blogue CCAÇ 2700 - Dulombi, 1970/72), criado e mantido desde 2007 pelo nosso grã-tabanqueiro, da primeira hora, Fernando Barata.

Foto (e legenda): © Ricardo Lemos   (2006). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar:  Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]]
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Notas do editor:

(*) 24 de fevereiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7852: A minha CCAÇ 12 (12): Dezembro de 1969, tiritando de frio, à noite, na zona de Biro/Galoiel, subsector de Mansambo (Luís Graça / Humberto Reis)

(**) Último poste da série > 21 de março de 2019 > Guiné 61/74 - P19606: Memória dos lugares (388): Ponta Varela, na margem esquerda do Rio Geba, subsetor do Xime... Mas está por fazer a história das "pontas" (pequenas explorações agrícolas, junto a cursos de água: Ponta do Inglês, Ponta Luís Dias, Ponta João da Silva, no Rio Corubal; Ponta Brandão, em Bambadinca; Ponta Geraldo Landim, no Rio Dingal / Mansoa; Ponta Salvador Barreto, no rio Cacheu, etc.)