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terça-feira, 25 de janeiro de 2022

Guiné 61/74 - P22938: "Alfero Cabral ca mori": Lista, por ordem numérica e cronológica, das 94 "estórias cabralianas" publicadas (2006-2017) - Parte III: de 40 a 59

 


Uma caneca que ainda vai fazer furor entre as bajudas da Guiné-Bissau, na próxima incarnação do "alfero Cabral": "Kiss me, I'm an Alfero" [Beija-me, sou um Alfero]... Imagem que ilustrou a "estória" nº 56, acompanhada da seguinte legenda: "Quando eu voltar à Guiné, em vez dos 'corpinhos' 
[, sutiãs]... , vou oferecer às Bajudas, estas belas canecas"...


Foto (e legenda): © Jorge Cabral (2009). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Lista das estórias cabralianas, por ordem numérica e cronológica - Parte III: De 40 a 59 (*):

São "estórias"publicadas no nosso blogue, entre novembro de 2008 e maio de 2010. 

Jorge Cabral (1944-2021), ex-alf mil at art, cmdt do Pel Caç Nat 63 (Fá Mndinga e Missirá, 1969/71), era muito querido e popular entre a malta da Tabanca Grande: basta referir, por  exemplo, que o seu poste de parabéns,  do dia 6/11/2009 (P5221) teve 1531 visualizações e 30 comentários.

E a propósito, da "estória" nº 56 (Cum caneco, alfero apanhado à unha!), escreveu na altura o nosso editor LG o seguinte:

(...) "A cabraliana, a estória cabraliana, é já um género literário, reconhecido e estudado na Universidade. Daqui uns anos alguém fará douramentos sobre este material altamente revelador da dissonância cognitiva e falta de alinhamento dos bandos que, na Guiné, por detrás do arame farpado, defendiam a honra da Pátria (Bruno dixit)...

Como se pode deduzir da leitura de mais esta cabraliana, o boato (desmoralizante) tinha um efeito dissolvente no moral das nossos tropas, como um dia opinou um PIDE/DGS à minha frente, no Café do Teófilo, em Bafatá. Como é possível imaginar o nosso Cabral, o único, o verdadeiro (porque o outro era um renegado...), apanhado à unha e depois em altos conciliábulos e quiçá orgias com o Corca Só e a sua corja de Madina/Belel ?!...

Ainda bem que o Cabral tem, por fim, a oportunidade histórica e soberana de, aqui, no blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné, lavar a sua honra e reafirmar o seu impoluto patriotismo. A guerra da Guiné foi demasiado real para a gente sequer poder ficcioná-la ou fazer humor negro, com ela, com os seus heróis e com as suas vítimas.(...)



(...) Claro que lembro do Tosco! Havia pretas, mulatas e até uma chinesa. Todas, mais os copos, trataram-me da saúde. Entrava sempre a coxear, por via dos descontos… Mas o meu preferido era o Bolero, onde jantava no primeiro andar, antes do Tango em baixo, tocado a rigor por uma orquestra de cegos. Ainda lá fui após o 25 de Abril. A mesma orquestra, as mesmas putas, mas a música mudara – Todos em coro cantávamos a Internacional (...).

13 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3446: Estórias cabralianas (41): O palácio do prazer, no Pilão (Jorge Cabral)

(...) De Bissau conheci muito pouco. Apenas o Pilão, e neste Os Dez Quartos, um palácio do Prazer. Era o local ideal para um sexólogo, pois tendo todos os quartos o mesmo tecto e paredes incompletas, ouviam-se os murmúrios, os gritos, os ais e os uis, deles e delas, em plena actividade. Sempre que lá fui, abstraí-me um pouco da minha função e dediquei-me à escuta, tentando até catalogar os clientes por posto, ramo, forma, jeito, velocidade e desempenho (...)

26 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3519: Estórias cabralianas (42): As noites do Alfero em Missirá e uma estranhíssima ementa (Jorge Cabral)

(...) Eram calmas as noites do Alfero? Deviam ser, pois assim que pôs os pés em Missirá, cessou imediatamente a actividade operacional dos seus vizinhos de Madina. Chegou-se a pensar que o Comandante Corca Só entrara em greve, mas no Batalhão acreditava-se num oculto mérito do Cabral. Aliás, estando ainda em Fá e esperando-se um ataque a Finete, o Magalhães Filipe para aí o mandou, sozinho, reforçar o Pelotão de Milícias. Lá passou oito dias, dormindo na varanda do Bacari Soncó, que o alimentou a ovos cozidos (...).

6 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3572: Estórias cabralianas (43): O super-periquito e as vacas sagradas (Jorge Cabral)

(...) Cumbá, a terceira mulher do Maunde, ainda uma menina, sentiu as dores de parto, ao princípio da noite. Às duas da manhã sou lá chamado. Está muito mal e as velhas não sabem o que fazer. Eu também não. Vamos para Bambadinca. Chegamos, mas Cumbá morre e com ela a criança não nascida. Amparo o Maunde, que chora e grita:-Duas vacas, Alfero, duas vacas! (...)

27 de Janeiro de 2009 >Guiné 63/74 - P3808: Estórias cabralianas (44): O amoroso bando das quatro não deixou só saudades... (Jorge Cabral)

(...) O Amoroso Bando das Quatro deixou-nos muitas saudades. Mas que noite agradável ... até sonhámos com elas. Só que ainda nem três dias haviam passado, já recebíamos tratamento à fortíssima infecção que nos atingira o dito e adjacências. Graças à Penicilina, o caso seria em breve esquecido, pois afinal tinham sido apenas ossos do ofício, os quais segundo alguns até mereceram a pena... Porém, e estranhamente, os sintomas começaram a surgir nos africanos, soldados e milícias, os quais não tinham usufruído da benesse (...).

2 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P3963: Estórias cabralianas (45): Massacres e violações (Jorge Cabral)

(...) Corria o ano de 1968, quando prestes a concluir o Curso, não resisti ao convite do Estado – Férias pagas em África, com grande animação e desportos radicais. Primeiro o estágio-praia para os lados da Ericeira, findo o qual, tive um grande desgosto. Tinham-me destinado ao turismo intelectual – secretariado. Felizmente as cunhas funcionaram e consegui ser reclassificado em atirador, tendo passado a frequentar no Alentejo, o estágio-campo. Terminado este, ainda vivi muitos meses de tristeza e inveja ao ver os meus camaradas integrarem satisfeitos numerosas excursões, as quais iam embarcando (...).


31 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4114: Estórias cabralianas (46): Inspecção Militar: E todos os tinham no sítio... (Jorge Cabral)

(...) Pois, também eu naquela manhã de Junho me dirigi à Avenida de Berna, ao Quartel do Trem Auto, onde hoje funciona a [Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da] Universidade Nova [de Lisboa].Éramos mais de cem, altos e baixos, loiros e morenos, alguns mancos, pitosgas muitos, um quase corcunda, três gagos e dois tontos. Mandaram-nos despir e pôr em fila, numa literal e verdadeira bicha de pirilau. (...)



(...) Calma, simpática, acolhedora, a Vila de Vendas Novas. Bom vinho, petiscos, raparigas bonitas. Que mais podia aspirar o Aspirante? No Quartel fazia tudo, isto é, nada. Acumulara cargos, Justiça, Acção Psicológica, Revista, Cinema e ainda os discursos da Peluda.Cumpria gostosamente um peculiar horário. Após o toque de alvorada, às vezes de ressaca, de cara por lavar e barba por fazer, corria para a Formatura Geral, onde... passava revista ao Pelotão. Meia hora depois, abancava no Bar e tomava um lauto pequeno almoço, antes de regressar à cama. (...)


8 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4155: Estórias cabralianas (48): A Bandolândia ou uma aula de história em... 2092 (Jorge Cabral)

(...) O Cidadão – Aluno XI7 frequenta a décima semana do Curso Unificado – Primário, Secundário, Universitário, o qual segundo as normas da Declaração de Cacilhas, lher irá conferir o Diploma da Sabedoria.Claro que, quando entrou na escola, já dominava muitas das matérias que antigamente demoravam anos a aprender, pois logo em criança lhe implantaram um chip com todos os conhecimentos básicos. Porém XI7, hoje chegou à aula cheio de dúvidas. É que encontrou uma fotografia do seu trisavô, vestido com uma farda e empunhando um instrumento, talvez uma arma.(...)

12 de Maio de 2009> Guiné 63/74 - P4326: Estórias cabralianas (49): Cariño mio... Muy cerca de ti, el ultimo subteniente romántico (Jorge Cabral)

(...) Dois dias depois de chegado a Bambadinca em meados de Junho de 69, fui mandado montar segurança no Mato Cão. Periquitíssimo, cumpri todas as regras, vigiando a mata de costas para o rio, sem sequer reparar na beleza da paisagem.Mal sabia então, que ali havia de voltar dezenas de vezes, durante o ano que passei em Missirá. Pelo menos uma ida por semana para ver passar o Barco, no que se transformou numa quase agradável rotina.(...)


(...) - Meu Alferes! Meu Alferes! Já chegou o Senhor Abade! - O cozinheiro Teixeirinha, todo eufórico, gritava, à porta do meu abrigo.- Abade - pensei comigo - , o Puím?Magro, simples, humilde, o único Capelão que conheci na Guiné, viera de sintex e, antecipando-se, não esperara por ninguém, entrando no Quartel. Logo após o descanso, a missa foi celebrada, mesmo ao lado da Cantina, no local da Escola. Fiéis, sete, dois comungantes e o Padre, de paramentos verdes. (...)


(...) Tanto nas Tabancas Fulas como nas Mandingas, o Alfero actuava à vontade com as Bajudas, perante a complacência dos Homens e Mulheres Grandes… Aliás não ia além de um acariciar voluptuoso, acompanhado com promessas de encontros no Quartel. Na altura teria merecido o cognome de Apalpador. (...) Em Novembro de 1969, visitou uma Tabanca Balanta, Bissaque [, a norte de Fá, ], e ficou deslumbrado com a beleza das Bajudas, designadamente peitoral…

22 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4723: Estórias cabralianas (52): Em 20 de Julho de 1969, também eu poisei na Lua... (Jorge Cabral)

(...) Na Guiné, há mês e meio, mas já em Fá, havia nessa tarde muito calor. O pessoal dormia e toda a gente procurara a aragem possível. Em silêncio, o Quartel repousava… Eu porém, em tronco nu, saíra, a caminho da fonte mais pequena. Resolvera isolar-me, para escrever, calculem, um poema… Lá chegado, ainda nem escolhera um poiso confortável, quando vejo surgir, não sei de onde, um vulto de mulher, apenas com uns panos, caindo da cintura. (...)

28 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4750: Estórias cabralianas (53): A estranha doença do soldado Duá (Jorge Cabral)

(...) Quando uma noite, em Missirá [, o último destacamento de Bambadinca, a norte do Rio Geba, no Cuor,] o Alfero passava ronda, ficou estupefacto, ao constatar que todos os Soldados de Sentinela se encontravam acompanhados das respectivas Mulheres.- Mas que se passa? – indagou…- É por causa da doença! O Duá apanhou a doença do Victor!- Doença do Victor? (...)

(...) Nem um mês tinha de Guiné e já andava a experimentar todas as mezinhas recomendadas pelo Nanque . Bem, todas não. Nunca bebeu a primeira urina da manhã, remédio infalível para o estômago mas ainda no outro dia o receitou a uma distinta senhora, que calculem, se zangou com ele, por se pensar gozada. Tomou porém todas as demais, desde afrodisíacos a um chá para a tristeza, que o deixou eufórico durante quase toda a comissão… Apesar de tantos tratamentos, a verdade é que o Alfero gozava de excelente saúde. (...)

17 de Outubro de 2009 >Guiné 63/74 - P5117: Estórias cabralianas (55): Marqueses e murquesas ou... Peludas e Peluda... (Jorge Cabral)

(...) Há mais de 30 anos, que montei Escritório [de advogado] na Passos Manuel, entre o Jardim Constantino e o Intendente. Um bom local, com velhos da sueca, sem-abrigo alcoolizados e fanadas matronas em pré-reforma. Eu gosto. Aqui na Rua, já quase todas as lojas mudaram de ramo. Ultimamente, surgiram os Gabinetes de Fotodepilação. A propósito e não sei bem porquê, pois os pensamentos tal como as palavras são como as cerejas, lembrei-me primeiro de Pero Vaz de Caminha e do desembarque em Terras de Vera Cruz, quando os marinheiros depararam com as índias nuas, mostrando “suas vergonhas tão altas e cerradinhas”. E depois da Guiné. De uma espantosa conversa ao serão. O Alferes, os Furriéis, os Cabos, como de costume, falavam de tudo e de coisa nenhuma… Nessa noite, discutia-se um tema interessante – pêlos púbicos. Delas, claro está (...)

28 de Outubro de 2009 > Guiné 53/74 - P5172: Estórias cabralianas (56): Cum caneco, alfero apanhado à unha! (Jorge Cabral)

(..) Há uns dias telefonou-me o nosso Amigo Durães [, da CCS/do BART 2917, Bambadinca, 1970/72]. Estava em Setúbal, com um ex-cabo do Pelotão de Intendência de Bambadinca, o qual lhe jurava que o Alferes Cabral de Missirá havia sido, em 1971, apanhado à mão, quando regressava ao seu Destacamento.

Desaparecido durante dias, fora muito bem tratado pelo pessoal de Madina, passando a não ser incomodado pelos Turras. Garantia o homem da Intendência, a absoluta veracidade do evento, conhecido por todos os seus Camaradas. Queria o Durães saber se eu confirmava o facto. (...)


22 de Dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5522: Estórias cabralianas (57): As duas comissões do Alfero... ou a sua dolce vita em Bissau, segundo a Avó Maria e a Menina Júlia (Jorge Cabral)


(...) A foto do Alfero, fardado de Alferes, no cais do Xime, comprova o que Avó Maria sempre disse. O seu neto Jorge deu-se muito bem na Guiné. Até porque, para ela, nunca saiu de Bissau, que devia ser igual à Lourenço Marques dos anos trinta, quando por lá passou. Essa a razão porque o Alfero, cumpriu simultaneamente duas comissões, uma em Fá e Missirá, outra na capital frequentando os bailes do Governador, os quais descrevia com pormenor em longas cartas, nas quais também falava das eloquentes homilias que ouvira na Sé Catedral. (...)


26 de Fevereiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5889: Estórias cabralianas (58): O Dia do Patacão e a Dívida do Alfero (Jorge Cabral)

(...) Tenho a certeza que os primeiros cabelos brancos do Alfero lhe nasceram nos dias do Patacão.
No final de cada mês, deslocava-se a Bambadinca a fim de levantar o dinheiro para pagar os ordenados aos Militares do Pelotão e aos Milícias. Era o dia do Patacão, ansiado por todos e ainda mais pela multidão de credores, que desde manhã acorria ao Quartel. Usurários, Pré-Sogros e Sogros, Batoteiros Profissionais, Dgilas, Alcoviteiros, Fanatecas, Músicos… havia sempre alguém à espera que o Alfero liquidasse as dívidas dos seus homens. Todos devedores, incluindo o Alfero, que prometera pagar, em prestações suaves, a conta do Fontória, onde em férias, numa noite, oferecera de beber a todos e terminara na Esquadra da Praça da Alegria. (...)


10 de maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6364: Estórias cabralianas (59): Notícias do Ano 2050, quando formos todos UPV e morarmos num Velhil (Jorge Cabral)


(...) Tenho como sabem, uma máquina do tempo, na qual viajo ao passado. Porém hoje a máquina avariou e em vez de recuar os quarenta anos programados, avançou e eis-me aqui no ano de 2050. Estou vivo e ainda trabalho pois agora já ninguém tem direito à Reforma. Exerço as minhas funções no Instituto da Promoção da Pobreza. Preparo um Estudo sobre o Empobrecimento Lícito e o certo é que já sei as conclusões – empobrecer é legítimo, justo, lícito e patriótico. (...)


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Nota do editor:


4 de janeiro de 2022 > Guiné 61/74 - P22874: "Alfero Cabral ca mori": Lista, por ordem numérica e cronológica,  das 94 "estórias cabralianas" publicadas (2006-2017) - Parte I: de 1 a 19


sábado, 8 de janeiro de 2022

Guiné 61/74 - P22890: "Alfero Cabral ca mori": Lista, por ordem numérica e cronológica, das 94 "estórias cabralianas" publicadas (2006-2017) - Parte II: de 20 a 39




Guiné > Região de Bafatá > Sector L1 (Bambadinca) > Regulado do Cuor > Missirá > Pel Caç NAT 63 > 1971 > O António Branquinho (simulando tocar um instrumento tradicional,talvez um "nhanheiro"...) com uma bajuda e o Amaral (sentado). Segundo a oportuna observação do nosso amigo e consultor permanente para as questões étnico-linguísticas, Cherno Baldé, "o instrumento, na lingua fula, chama-se 'Hoddu', é mais antigo e, provavelmente, serviu de inspiração para a criacão do Kora dos Mandingas.


Foto: © António Branquinho / Jorge Cabral (2007). Todos os Direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Guiné > Região de Bafatá  > Sector L1 (Bambadinca) >  Missirá > 1971 > Pel Caç Nat 63 > Os furriéis milicianos do "alfero Cabral": da esquerda para a direita, Pires, Branquinho e Amaral, o saudoso Amaral. O António Branquinho é irmão do Alfredo Branquinho, membro da nossa Tabanca Grande.

Foto (e legenda): © Jorge Cabral (2007). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].


1. Lista das estórias cabralianas, por ordem numérica e cronológica - Parte II: De 20 a 39 (*):


20 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1679: Estórias cabralianas (20): Banquetes de Missirá: Porco turra e Vaca náufraga (Jorge Cabral)

(...) Em Missirá comíamos, praticamente todos os dias, arroz acompanhado ora de pé de porco, ora de atum ou cavala, com muito pão e sempre altas doses do insípido vinho quarteleiro, o qual, segundo se dizia, era cortado com cânfora, para diminuir os ímpetos. (...)

24 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1696: Estórias cabralianas (21): O Amoroso Bando das Quatro em Missirá (Jorge Cabral)

(...) Nos Destacamentos em que vivi, todos eram bem recebidos, à boa maneira da gente da Guiné, cuja cativante hospitalidade foi muitas vezes confundida com subserviência ou portuguesismo. Djilas, batoteiros profissionais, artesãos, doentes, feiticeiros, alcoviteiros, parentes dos soldados, visitavam o aquartelamento e às vezes ali permaneciam, fazendo negócios, combinando casamentos, tratando-se ou tratando, ou simplesmente descansando. Desconfio mesmo que alguns guerrilheiros terão passado férias em Missirá (...)

12 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1752: Estórias cabralianas (22): Alfa, o fula alfacinha (Jorge Cabral)

(...) No final do ano de 1970, apresentou-se em Missirá um soldado fula – chamemos-lhe Alfa – vindo da prisão de Bissau, onde cumprira pesada pena. Razão da punição – ausência ilegítima durante cento e oitenta dias, quando após intervenção cirúrgica no Hospital Militar Principal, desaparecera em Lisboa. Impecavelmente fardado, com blusão e tudo, usava uma vistosa popa e farfalhudas patilhas, conservando sempre um palito dependurado ao canto da boca. Falava um calão lisboeta e aparentava ser um verdadeiro rufia alfacinha.(...)

5 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1816: Estórias cabralianas (23): Areia fina ou as conversas de Missirá (Jorge Cabral)

(...) Conheci muito bem o Alferes que esteve em Missirá nos anos de 1970 e 1971. Diziam que estava apanhado, mas penso que não. Era mesmo assim. Quem com ele privou em Mafra e Vendas Novas certamente o recorda, declamando na Tapada: No alto da Vela / Fui Sentinela / de coisa nenhuma / Quem hei-de guardar / Quem irei matar… (...).

19 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1857: Estórias cabralianas (24): O meu momento de glória (Jorge Cabral)

(...) Manga de ronco, Pessoal! Spínola veio a Fá, visitar os Comandos Africanos e praticamente toda a população das Tabancas vizinhas compareceu. Homens e Mulheres Grandes, belas Bajudas, e muitas, muitas crianças. A Pátria, pois então… E uma Guiné melhor. O Caco entusiasmou-se. Tanto, que optou por ir de viatura para Bambadinca. E lá partiu em coluna, comandada pelo Capitão João Bacar Djaló (...).

29 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1900: Estórias cabralianas (25): Dois amores de guerra e uma declaração: Não sou pai dos 'piquininos Alferos Cabral' (Jorge Cabral)

(...) E o Amor, existiu? Não falo de mulheres grandes a partir catota, nem de bajudas a partir punho, e muito menos das rápidas e alcoolizadas visitas às casas de prazer, para... mudar o óleo. Amor mesmo, paixão, dele para ela, dela para ele. Difícil, raro, mas aconteceu. Contaram-me que uma bajuda que tivera um filho do Furriel X, o seguiu até Bissau, e na hora da partida do navio entrou na água com o bebé, tendo morrido ambos (...).

27 de Setembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2135: Estórias cabralianas (26): Guerra escatológica: o turra Boris Vian (Jorge Cabral)

(...) Fá Mandinga fora sede de Batalhão e de Companhia, possuindo muitas e boas instalações. Chegados em Julho de 1969, optámos por ocupar apenas dois edifícios. Quanto aos restantes, convenci o Pelotão, que o respectivo acesso estava minado, razão porque só eu lá poderia entrar. É que vislumbrara duas belas e isoladas vivendas, as quais intimamente destinara a uso próprio. Uma serviria para encontros amorosos. Na outra, utilizaria a casa de banho, lendo e meditando... E assim se passou (...).

22 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2204: Estórias cabralianas (27): Turra desenfiado encontra Alferes entornado (Jorge Cabral)

(...) Já é noite cerrada e o Alferes de Missirá continua em Bambadinca. Numa mão o copo, na outra, o pingalim, encostado ao balcão do Bar, declama. Trata-se do longo poema de Jacques Prévert, “L’orgue de Barbarie” (2). É interrompido, engana-se, esquece-se, volta atrás, mas não desiste. Moi je joue du piano / Disait un / Moi je joue du violon / Disait l’autre (...).

14 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2350: Estórias cabralianas (28): O Hipopótamo, as Formigas e o Prisioneiro (Jorge Cabral)

(...) Nem me lembro qual o Periquito que se apresentou naquele dia em Fá. Mas sei que ao anoitecer, saiu, equipado e armado, cumprindo a minha ordem. Objectivo: caçar um hipopótamo (...).

16 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2354: Estórias cabralianas (29): A Festa do Corpinho ou... feliz o tuga entre as bajudas, mandingas e balantas (Jorge Cabral)

(...) Porque estamos no Natal, recordas o teu de 1969 e um ataque a Bissaque. Eu passei o meu em Fá, e dias antes, noite dentro, quando já o comemorava por antecipação, acorri a defender a Tabanca de Bissaque, guiado pelo Marinho.Este era um velho, seco e pequenino, guardião das instalações de Fá, desde os anos 50(...).

21 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2369: Estórias cabralianas (30): Um Natal em Novembro (Jorge Cabral)

(...) Amanheceu igual, só mais um dia em Missirá. Para o Mato Cão, vai o Alferes, uma secção, e o maqueiro Alpiarça. É lá chegar, esperar, ver o barco e voltar. Não há tempo para o sonho – do outro lado nem Gaia, nem Almada…Já estamos de regresso, ouvimos restolhar. Vem aí gente. Neste lugar só podem ser os turras. Claro que, como sempre, o Alferes empunha apenas o seu pingalim e, em vez do camuflado, enverga camisa branca e calções de banho (...).


28 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2386: Estórias cabralianas (31): As milagrosas termas de Missirá (Jorge Cabral)

A fim de prevenir abusos, a segurança à Fonte, no banho das bajudas, pertencia em exclusivo ao Alferes, o qual nos primeiros tempos guardou uma prudente distância, depois foi-se aproximando e acabou no meio delas, esfregador e esfregado com sabão vegetal, após o que branqueava os dentes com areia. Diziam que aquela água possuía propriedades terapêuticas, curando todos os males de pele, não havendo lica que lhe resistisse (...).


10 de Janeiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2426: Estórias cabralianas (32): Nanque, o investigador (Jorge Cabral)


(...) O Alferes era calmo. Afável, prazenteiro, nunca se irritava. Naquela tarde porém explodiu. É que constatou que as valas estavam a ser utilizadas como retretes.Reuniu o pessoal e, no mais puro vernáculo de caserna, descompôs o Pelotão, furriéis, cabos, soldados, brancos e negros… Que vergonha! Pois não haviam assistido à valente piçada que ele sofrera, na semana passada, quando o Major Eléctrico (2), visitara o Quartel, e criticara tudo, desde a limpeza das panelas ao comprimento do seu bigode!? (...)

4 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2612: Estórias cabralianas (33): Quatro Madrinhas de Guerra (Jorge Cabral)

(...) Madrinhas de Guerra? Pois também herdei uma. Uma não, quatro. Emprestado ao Pelotão, havia um Cabo velhinho, o Carvalho, que se correspondia com catorze. A bem dizer não fazia mais nada. Logo pela manhã, montava a banca e escrevia, escrevia…Acabada a comissão, Carvalho distribuiu as madrinhas. Das quatro que me calharam, três duraram pouco, o que não me admirou. Para cada uma, inventara uma estória, assumindo diferentes personagens e construindo cenários, nos quais a realidade da guerra surgia transmutada, mais parecendo um antigo romance de cavalaria. (...)


10 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2623: Estórias cabralianas (34): O Alferes, o piano e a Professora (Jorge Cabral)

(...) Em Maio de 71, o apanhanço do Alferes excedera todos os limites. Os Amigos da CCAÇ 12 haviam partido e ele, com os seus vinte e três meses de mato, refinara a excentricidade, espantando agora os periquitos de Bambadinca.Naquele dia resolvera visitar a Professora (3). Com que intenção, não sei. Líbido? Mera curiosidade? Alguma aposta? Talvez de tudo um pouco… e se viesse à rede… pois então… (...)

14 de Maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2841: Estórias cabralianas (35): A bajuda de Belel, os Soncó e o amigo dos turras (Jorge Cabral)

(...) Também eu entrei em Belel em Junho de 1971. De Missirá até lá e de lá ao Enxalé, percorri o trajecto na companhia dos Páras e do Comandante do Pelotão de Milícias de Finete. Saímos ao fim da tarde de Missirá, e pela manhã deu-se o assalto à Base. A resistência não foi muito forte, pois muitos fugiram. Ainda assim, alguns ficaram prisioneiros. Recordo um que ostentava umas divisas vermelhas de Cabo. Não se destruíram as instalações, armadilharam-se, designadamente, um depósito de arroz. (...)

20 de Maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2862: Estórias cabralianas (36): Uma proposta indecente do nosso Alfero (Jorge Cabral)

(...) Um Pelotão mesmo à medida do Alferes, sem qualquer vocação guerreira e que apenas ali estava… porque sim. Para eles o Cabral devia ser rico pois lhe pediam tudo e às horas mais despropositadas… Às vezes no meio da noite, era acordado, porque durante o dia chegara um vago parente que era preciso presentear…Com infinita paciência lá ia aguentando. Já comprara oito pares de óculos escuros e cinco rádios para uso alternado, quando alguns soldados resolveram arranjar mais uma mulher, recorrendo mais uma vez aos seus préstimos. Impossível garantiu, mais mulheres custariam uma fortuna. (...)

9 de Julho de 2008 >Guiné 63/74 - P3040: Estórias cabralianas (37): A estranha 'missão' do Badajoz (Jorge Cabral)

(...) Em Missirá existiam sempre cinco ou seis adidos. Um enfermeiro, um cozinheiro, um motorista, dois soldados dos Morteiros e às vezes um mecânico, como o célebre Pechincha. Vinham de Bambadinca, cumprir uma espécie de castigo, pois Missirá representava o isolamento, o mato e o perigo.Chegavam receosos e um pouco atarantados, mas, passado algum tempo, parecia que o castigo se transformara em prémio e já ninguém queria regressar. Gostavam de ali estar, naquele quartel–tabanca, onde muitos nem sequer se fardavam e quase não existia hierarquia. (...)

23 de Setembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3225: Estórias cabralianas (38): O Alferes roncador e a almofada (Jorge Cabral)

(...) Desde miúdo que adormeço rápido e de imediato inicío um ressonar fortíssimo,audível até pelos vizinhos. Dizem-me uns que são silvos assustadores, parecendo urros de touro ou de leão. Outros garantem que se assemelham aos sonoros sinais dos antigos vapores, quando iniciavam a marcha.Ora, ao segundo dia de Bambadinca, mandaram-me à noite montar segurança junto à pista de aviação. Claro que foi chegar, assentar, adormecer e ressonar… O Pelotão quase que entrou em pânico, com o Sambaro a empunhar a bazuca. (...)

25 de Setembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3237: Estórias cabralianas (39): O Marido das Senhoras (Jorge Cabral)

(...) Todos nós tínhamos uma fé. Os africanos eram na sua maioria muçulmanos, os europeus católicos e eu era tudo. Frequentava a mesquita e a igreja, mas também prestei culto aos Irãs balantas. Porque não? O mais religioso de todos era porém o furriel Paiva. No seu abrigo–quarto construíra um pequeno altar, onde colocou quatro imagens das Santas da sua devoção e, entre elas, o retrato de Salazar. (...)

_____________

Nota do editor:

(*) Último poste da série > 4 de janeiro de 2022 > Guiné 61/74 - P22874: "Alfero Cabral ca mori": Lista, por ordem numérica e cronológica, das 94 "estórias cabralianas" publicadas (2006-2017) - Parte I: de 1 a 19

domingo, 2 de janeiro de 2022

Guiné 61/74 - P22868: Homenagem da Tabanca Grande ao Jorge Cabral (1944-2021), ex-alf mil at art, cmd, Pel Caç Nat 63 (Bambadinca, Fá e Missirá, mai 1969 / ago 1971) - Parte IV: Um homem bom que se escondia atrás do seu cachimbo (J. Teixeira, Carlos Silva, Ernestino Caniço, Alberto Branquinho, Eduardo Estrela, Patrício Ribeiro, J.C. Abreu dos Santos, António Carvalho, Juvenal Amado, Hélder Sousa, Jorge Picado, Henrique Matos, Arsénio Puim)

 






Guiné > Região de Bafatá > Sector L1 (Bambadinca) > Fá Mandinga > Pel Caç Nat 63 (1969/71) > 1969 > Jorge Cabral, ao centro, de pé, com alguns elementos do seu pelotão, um cão e uma cabra (ou  bode ?)...

Foto (e legenda): © Jorge Cabral (2006). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].


Jorge Cabral (1944- 2021) - Livro de Condolências (*)

(Continuação)


(xxvi) José Teixeira

Conheci o Jorge Cabral pelas suas "estórias cabralianas" que ao longo do tempo foi escrevendo no nosso Blogue. Estórias que faziam rir ás bandeiras despregadas ao mesmo tempo que me punham ma pensar. Espelhavam o estado de espirito de alguém que vivia livre como um passarinho, mas atento às realidades e sobretudo uma pessoa aberta, atenta e disponível. Não havia barreiras que não ultrapassasse, mas era uma porta aberta. Que o digam os seus alunos e alunas.

Tive a grata oportunidade de o encontra no lançamento do Livro "Pai Tiveste medo" , da Catarina Gomes,  e pudemos conversar um pouco. Adorei aqueles breves momentos porque pude confirmar a imagem que tinha dele.

A humanidade perde um grande valor. Um Homem bom que se escondia atrás do seu cachimbo. Ao filho e demais família os mais profundos sentimentos de pesar.

José teixeira
29 de dezembro de 2021 às 15:14 

(xxvii) Carlos Silva

Jorge

Foi com muita tristeza que tive conhecimento da tua partida, mas desta vez não foi do Cais da Rocha de Conde de Óbidos.

Fica-me a saudade e as recordações dos nossos encontros, bem como, das tuas "Histórias Cabralianas" que muito me fizeram rir até chorar.

Descansa em paz amigo e camarada 

As minhas condolências à família enlutada neste momento de dor.

Carlos Silva


(xxviii) Ernestino Caniço

Conheci o Jorge Cabral nos Encontros Nacionais onde tivemos algumas trocas de impressões. A sua afabilidade evidenciou-se. Estão descritas a suas qualidades por quem melhor o conheceu. Telefonei-lhe há cerca de três semanas. A forma como falou foi indiciadora da sua "desistência". A lista de sobreviventes está cada vez mais reduzida.

Que descanse em paz.
As minhas condolências à família.

Ernestino Caniço

(xxix) Alberto Branquinho

Luís: O meu irmão era furriel do pelotão do Jorge Cabral. Se era o Pel Nat Caç 63 não sei. Chamavam-se por "irmão", apesar de terem irmãos.

Conheci o pai e a mãe muito superficialmente quando ele ainda morava com os pais. Conheci a mulher (de quem estava separado ou divorciado) e o filho (que não vejo há muito) há mais de trinta anos.

Creio que o meu irmão terá o contacto do filho, mas não quero falar-lhe disso agora, porque ontem, quando me deu a notícia, estava muito comovido. E virá, para todos, o tempo oportuno.

Ou manuscrito ou, talvez, dactilografado deverá haver um 2º. volume das "Estórias Cabralianas". A tempo verei através do meu irmão, se o filho o encontra, até porque os direitos de autor lhe pertencem. É que o Jorge mudou de casa depois da saída do 1º. volume.

Cumprimentos
Alberto Branquinho

(xxx) Eduardo Estrela

Partiu o homem,  fica a memória e a saudade nos nossos corações. " Conheciamo-nos" há pouco tempo pois só me apresentei ao " Alfero " no dia do seu aniversário,  conforme sugestão e pedido do Luís Graça.

As tropas desmobilizados mas activas vão a pouco e pouco perdendo efectivos.
Para a família do " Alfero Cabral " as minhas condolências.

Eduardo Estrela

(xxxi) Patricio Ribeiro 

Amigos:
Quando no blogue se publicavam artigos do Jorge Cabral, eu não os queria perder, sabia que me iria rir do humor do Jorge, das suas conversas sobre a sua tabanca.
Quem teve o privilégio de por lá andar, dará maior sentido à sua escrita.

Todos nós agora, andamos no fio da navalha, mas já não são as minas da picada, são as da vida…
Abraço,
29 de dezembro de 2021 às 17:22 

(xxxii) João Carlos Abreu dos Santos

Condolências


Anónimo disse...

(xxxiii) António Carvalho

Nada mais nem melhor posso dizer, para além daquilo que muito justamente foi referido pelos camaradas que me precederam, evocando a memória do nosso grande camarada Jorge Cabral. Uma única vez tive o privilégio de trocar com ele algumas palavras, numa circunstância em que o rodeavam inúmeros camaradas ávido da delícia das suas finas tiradas jocosas. 

Nunca mais se proporcionou qualquer outro reencontro, mas as suas criativas curtas estórias, amplamente divulgadas neste muito valioso blog, tornaram-no conhecido e apreciado por todos os combatentes, em quem deixou uma marca imperecível do seu fino humor e do seu grande caracter. Enquanto ainda vivo, deixo aqui o meu testemunho de muito apreço e estima por este combatente de grande categoria e à família a minha comunhão com a sua dor.

Carvalho de Mampatá

(xxxiv) Juvenal Amado

Esta é uma notícia que nos arrasa sempre. Partiu mais camarada.o nosso Jorge Cabral era um fenômeno social e camaradagem . Vamos sentir a sua falta aqui no blogue, nos encontros, no Facebook onde as suas publicações eram de estilo inconfundível e muito apreciadas. Falei com ele no fim do mês de novembro sobre pretexto que me autografasse o seu livro. Ficou combinado para dezembro. Telefonei-lhe há dois dias , já não atendeu. Deixa saudade. Descanse em paz.


(xxxv) Hélder Sousa

Pois, é mais uma "porra"!

Ainda no passado dia 20 telefonei-lhe e quando percebeu que era eu que estava ao telemóvel começou a quase gritar de lá "tou a morrer, pá, tou a morrer".

Tentei animá-lo, disse-lhe que se deixasse desses pensamentos negativos, que fazia falta, à família, às "almas" (suas alunas), aos amigos.

Perguntei se o podia visitar, disse que sim, das 18:00 às 19:00 e fiquei de ir ter com ele "depois das festas"..... já não vai dar.

Não sei que dizer mais, ainda estou a digerir a informação.

Hélder Sousa



(xxxvi) Jorge Picado 

Lamento muito a perda de mais este camarada e que devia ser naturalmente mais novo do que eu.

Admirei muito os seus textos, sempre curtos, mas concretos e num estilo vivo, alegre, espirituoso, um tanto travesso, reflexo de quem sabia, talvez, projectar a vida de uma forma agradável, enfim, bonita. Era realmente um Grande Humorista.

Nada mais posso enviar do que este singelo comentário, pois não tinha outra relação de proximidade com o nosso "alfero".

Aos seus Familiares apresento os meus sentidos pêsames.

A sua memória ficará perpetuada nos seus muitos formandos que souberem aplicar e transmitir os seus ensinamentos e claro, entre outros escritos seus, naqueles que nesta Nossa Tabanca Grande deixou.

Jorge Picado

(xxxvii) Henrique Matos

Obrigado,  Luís, pela informação, sempre pensei que o Jorge ia resistir. A perda de um amigo deixa-me sempre sem jeito.

Desejo-te um novo ano com muita força para ultrapassar as maleitas. Também já tive a minha dose. Apanhei o bichinho da moda que me mandou para o hospital. Safei-me porque já tinha duas vacinas.

Abraço, Henrique

30 de dezembro de 2021 às 15:24

(xxxviii) Arsénio Puim

Amigo Luís Graça

Obrigado pela informação da morte do alferes Cabral.

Não tive uma convivência habitual com o alferes Cabral, uma vez que ele se encontrava destacado em Missirá. Porém, foi aqui, neste destacamento bem dentro do mato, que, em boa hora, decidi passar a última noite de 1970 e o primeiro dia de 1971, por sinal, juntamente com o médico Mário Ferreira. Uma passagem de ano muito farta, muito alegre, com música e discursos, agradável convívio dos nossos militares e das populações nativas e também com missa no primeiro do ano.

Hoje, passados 50 anos, guardo uma recordação muito viva e positiva do alferes Cabral – da sua pessoa, da sua inteligência, do seu humor, da sua simpatia, da sua integridade. Ficou-me sempre gravada na memória esta sábia frase com que ele terminou um trabalho publicado neste blogue acerca do massacre das forças militares nativas ao serviço de Portugal depois da saída das tropas portuguesas: «num mundo civilizado (não sei se são bem as palavras textuais) os homens são julgados pelos tribunais competentes e os criminosos são condenados às penas legais».

Sinto a morte do alferes Cabral e peço para ele o Descanso Eterno.

Um abraço – Arsénio Puim

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Nota do editor:

(*) Vd. postes de:

28 de dezembro de 2021 > Guiné 61/74 - P22852: In Memoriam (421): Jorge Pedro de Almeida Cabral (Lisboa, 1944- Cascais, 2021), ex-al mil at art, cmd Pel Caç Nat 63 (Fá e Missirá, 1969/71), advogado, professor de direito penal no Instituto Superior de Serviço Social de Lisboa, nosso colaborador permanente e autor da impagável série "Estórias cabralianas" (de que se publicaram cerca de uma centena de postes)

30 de dezembro de 2021 > Guiné 61/74 - P22854: In Memoriam: Jorge Cabral (1944-2021): Velório na igreja de São João Batista do Lumiar (no início do Paço do Lumiar), a partir das 17h00 de sábado, dia 1 de janeiro, e funeral às 15h30 do dia 2, no cemitério do Lumiar. Homenagem da Associação dos Profissionais de Serviço Social

31 de dezembro de 2021 > Guiné 61/74 - P22858: Homenagem da Tabanca Grande ao Jorge Cabral (1944-2021), ex-alf mil at art, cmd, Pel Caç Nat 63 (Bambadinca, Fá e Missira, mai 1969 / ago 1971) - Parte I: "Alfero Cabral", uma genial criação literária, um "alter ego" do autor, usado como arma de irrisão contra o absurdo da guerra (Luís Graça)

1 de janeiro de 2022 > Guiné 61/74 - P22866: In Memoriam (423): Jorge Cabral (1944-2021): cerimónias fúnebres, na Igreja do Lumiar, Lisboa, hoje, a partir das 17h00 (Pedro Almeida Cabral)

1 de janeiro de 2022 > Guiné 61/74 - P22867: Homenagem da Tabanca Grande ao Jorge Cabral (1944-2021), ex-alf mil at art, cmd, Pel Caç Nat 63 (Bambadinca, Fá e Missirá, mai 1969 / ago 1971) - Parte III: Ficam-nos as tuas "Estórias Cabralianas", como consolo (J. Carlos Silva, Carlos Vinhal, João Crisóstomo, J. Marcelino Martins, Francisco Baptista, Luís Graça, Mário Beja Santos, Alberto Branquinho, Adriano Moreira, J. Armando Teixeira, J. Botelho Colaço)

sábado, 1 de janeiro de 2022

Guiné 61/74 - P22867: Homenagem da Tabanca Grande ao Jorge Cabral (1944-2021), ex-alf mil at art, cmd, Pel Caç Nat 63 (Bambadinca, Fá e Missirá, mai 1969 / ago 1971) - Parte III: Ficam-nos as tuas "Estórias Cabralianas", como consolo (J. Carlos Silva, Carlos Vinhal, João Crisóstomo, J. Marcelino Martins, Francisco Baptista, Luís Graça, Mário Beja Santos, Alberto Branquinho, Adriano Moreira, J. Armando Teixeira, J. Botelho Colaço)


Foto nº 1 >  Guiné > Região de  Bafatá > Sector L1 (Bambadinca) > Fá Mandinga > Pel Caç Nat 63 (1969/71) > Novembro de  1969 > O Jorge Cabral, com alguns dos homens do seu pelotão >  Da esquerda para a direita: (de pé) Soldado Django, Furriel António Branquinho, Soldado Carvalho Atibeti, Soldado Duá, Alferes Jorge Cabral, Soldado Preto Turbado, 1º Cabo Rocha (com uma criança da tabanca às costas), Soldado Samba, 1º Cabo Injai, 1º Cabo Monteiro, 1º Cabo Marçal: (em primeiro plano):  Soldado Alfa (?), Soldado Maqueiro Adão, (?) , 1º Cabo João, Soldado Alfa.



Foto nº 1A > Guiné > Região de  Bafatá > Sector L1 (Bambadinca) > Fá Mandinga > Pel Caç Nat 63 (1969/71) > Novembro de  1969 > O Jorge Cabral, com alguns dos homens do seu pelotão > Da esquerda para a direita: (de pé) Soldado Django, Furriel António Branquinho, Soldado Carvalho Atibeti, Soldado Duá, Alferes Jorge Cabral, Soldado Preto Turbado: : (em primeiro plano, de cócoras):  Soldado Alfa (?), Soldado Maqueiro Adão, (?) , 1º Cabo João.



Foto nº 1B > Guiné > Região de  Bafatá > Sector L1 (Bambadinca) > Fá Mandinga > Pel Caç Nat 63 (1969/71) > Novembro de  1969  > O Jorge Cabral, com alguns dos homens do seu pelotão  >  Da esquerda para a direita: (de pé)  1º Cabo Rocha (com uma criança da tabanca às costas), Soldado Samba, 1º Cabo Injai, 1º Cabo Monteiro, 1º Cabo Marçal: (em primeiro plano, de cócoras):  1º Cabo João, Soldado Alfa.

Foto (e legenda): © Jorge Cabral (2005). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].

 
Jorge Cabral (1944 - 2021) > O livro das condolências (*):

(Continuação)


(xiii) João Carlos Silva

Quando me juntei a todos vós por via deste blogue, lembro-me bem de seguir com prazer as “Estórias Cabralianas”. Lamento muito esta triste notícia.

Sentidos pêsames aos familiares e amigos e que o Jorge Cabral descanse em Paz.

(xiv) Carlos Vinhal 

Serão poucas as pessoas que conseguem a unanimidade.

O Jorge Cabral é sem dúvida uma dessas pessoas. Afável, calmo, bem-humorado e, na boca, quase sempre, um desconcertante discurso. Para ele, tudo e nada eram pretextos para fazer graça simples e nunca ofensiva.

Quem segue o facebook apercebe-se facilmente da sua popularidade entre os antigos alunos, principalmente entre as alunas, não por ser engraçado mas por ter graça e por também ser uma “alma”, a Alma Mater de todas as Almas que o conheceram, lhe passaram pela vida e que lhe estão gratas.

Entre nós, aqui no Blogue, foi sem dúvida um dos melhores. Perdemos mais um amigo especial. Palavras circunstanciais mas que com ele têm todo o cabimento. Quantas vezes se terá rido de nós quando nos “zangamos” por coisas insignificantes, quando na vida o que conta é a amizade e a camaradagem.

Lá para onde foi, e para onde iremos todos, estará já a provocar o caos, tirando do sério até aquelas almas mais circunspectas, com as suas estórias cabralianas.

Até sempre, Jorge Cabral.

À família enlutada deixo o meu sentido pesar pela perda do seu ente querido.

Carlos Vinhal
Leça da Palmeira
29 de dezembro de 2021 às 10:14 

(xv) João Crisóstomo

Tinha sido um dia bom. Voltei contente e feliz mas só ao fim do dia me senti com forças para abrir o computador para, nos três departamentos que visito todos os dias  - correio digital, blogue Luís Graça e camaradas da Guiné e pois a CNN - me inteirar das últimas notícias.

Mas logo deparei com a notícia da morte do nosso camarada, numa mensagem do Luís Graça:
Que balde de água fria! Pouco sabia dele antes de ler o seu livro que através dum amigo consegui receber aqui . Mas a partir daí nunca mais deixava de ler no blogue as suas façanhas que, no dizer de Luís Graça, mas que eram sempre todas tão humanas, por vezes evidenciando um grande coração. Quantos de nós nos lembramos durante as nossas férias na metrópole de fazer ou trazer connosco algo para os nossos amigos/as guineenses? Pois o nosso Cabral nao hesitou em comprar e levar dúzias de “corpinhos” para as bajudas das tabancas onde estava estacionado…

Lembro-me de ao ler isto ter partido a cuca a rir, para logo dizer com os meus botões: "mas ele pelo menos lembrou-se de fazer alguma coisa… coisa que nunca me passou pela cabeça!”

As suas “Estórias Cabralianas” foram/eram de grande interesse para mim pois que muitas delas se tinham passado em Missirá e outros lugares onde alguns anos antes dele eu tinha vivido a minha experiência na Guiné. E isso de alguma maneira fazia dele "um camarada especial”!

Parei tudo, e com tristeza e saudade dei largas à minha memória e imaginação; passados minutos sabendo que naquele momento muitos dos meus camaradas estariam também sentindo a sua partida , associei-me a todos esses camaradas , crentes ou não, da maneira que eu como crente encontrei a melhor, encomendando-o ao Senhor. Mas fazia-o também em agradecimento, lembrando os muitos e bons momentos e alegrias que o nosso Cabral soube proporcionar aqueles que o conheceram ou dele ouviram falar.

João Crisóstomo, Nova Iorque


(xvi) José Marcelino Martins

É sempre assim.
Sabemos que vai acontecer, só não sabemos quando.
E por mais que queiramos, nunca estamos preparados.
Até um dia!

(xvii) Francisco Baptista

Alfero Cabral,  partiste antes do tempo mas a morte não espera. Para todos nós partiste cedo, neste tempo cinzento de inverno e pandemia, queríamos mais crónicas tuas para alegrar os dias. Acredito que foste feliz, enquanto a doença não te minou a saúde, tinhas razões para isso, Professor distinto com um óptimo percurso profissional, mestre do humor, com muito talento, o êxito da tua escrita não deixava ninguém indiferente. Foste amado pelas bajudas da Guiné e pelas tuas alunas, foste estimado e admirado pelos homens, teus camaradas e amigos. Tiveste uma vida cheia, na hora da despedida quero dar-te os meus parabéns, embora cedo demais.

A tua recordação perdurará para sempre entre todos os que te leram e conheceram.

Sentidos pêsames a toda a família e amigos.

Francisco Baptista

29 de dezembro de 2021 às 11:31 

(xviii) Tabanca Grande Luís Graça 

Peço, desculpa, o Jorge tinha 77 anos feitos em 6/11/2021. Nasceu portanto em 1944 (e não em 1945, como inicialmente indiquei), tal como o nosso querido Torcato Mendonça, que, também ele, nos deixou neste maldito ano de 2021.

Fui recuperar um poste, já muito antigo, de 2007, em que o Cabral publicou um poema, datado de Missirá, 6 de novembro de 1970, data em que fazia 26 anos, e de que lhe fora enviada uma cópia por um "camarada de pelotão", com a seguinte nota:

(...) "Escreveu-me um Camarada do Pelotão insurgindo-se contra este 'consertador de catotas, engatatão de bajudas, anfitrião da putaria, oferente de soutiens, e pai de todos os meninos da Tabanca', dizendo para eu escrever 'à séria'. E, surpresa das surpresas, manda-me um Poema que eu fiz, no dia do meu vigésimo sexto aniversário. É este, que ora te envio. Garanti-lhe que estou reformado das bajudas e que não me tem aparecido nenhuma 'catota' para consertar, embora pense não ter perdido o jeito…

"Grande Abraço

P.S. - Conta com este gajo 'nada sério', sexta-feira no Cinema [ Tínhamos encontro marcado na Culturgest, no edifício-sede da Caixa Geral de Depósitos, em Lisboa, para a estreia do filme-documentário de Diana Andringa e Flora Gomes, "As Duas Faces da Guerra", dia 19 de Outubro, às 23h, no Grande Auditório...]


(...) Aniversário

por Jorge Cabral

Vinte e seis ou Mil, conto pelos dedos
Os anos que vivi, eu não sonhei
Este tempo de angústia e de medos,
Que soletro e nunca sei.
Que Guerra é esta? Onde não estou!
Que rio aquele? Não cheira a Tejo!
Que combate? Combato, mas não sou.
E quando olho o espelho, não me vejo!
Aqui em Missirá, escravo e senhor
Invento-me. E guarda – prisioneiro
Bebo, fingindo em alegria, a Dor.

Hoje faço anos… e continuo inteiro.

Missirá, 6 de Nov. 1970



... E eu comentei:

"Jorge Cabral, que as circunstâncias obrigaram a ser comandante de um pelotão de caçadores nativos e chefe de tabanca, 'malgré-lui' - entre muitos outros papéis sociais - foi talvez aquele de nós, milicianos, que nunca se levou a sério... Acho que isso o ajudou muito a manter em equilíbrio dinâmico a sua saúde mental... Talvez um dia alguém o eleja como case study das técnicas de sobrevivência em teatro de guerra...

16 de outubro de  2007
Guiné 63774 - P2180: Blogpoesia (5): O vigésimo sexto aniversário de um gajo nada sério, Missirá, 6 de Novembro de 1970 (Jorge Cabral)
 

29 de dezembro de 2021 às 11:31 

(xix) Mário Beja Santos

Meus estimados confrades, quando cheguei a Bambadinca, em agosto de 1968, o Pel Caç Nat 63 era comandado pelo Almeida, fazia a intervenção, o mesmo é dizer toda a serventia, que será reservada ao Pel Caç Nat 52 a partir de novembro de 1969. O Almeida partiu e veio o Jorge, recebi a notícia através do 1º cabo Nhaga Macque: "Chegou novo alfero para o 63, como eu também fuma canhoto". Se Nhaga fumava cachimbo, a novidade trazida pelo novo alfero era um cachimbo digno de Sherlock Holmes, recurvado, sempre encostado no lado direito, seguro por mão sólida, mesmo quando o nosso alfero estava em dia de chalacear, já que ele era bem parcimonioso. 

Vivíamos desencontrados, eu venho para Bambadinca e ele parte para Fá, irá substituir o Pel Caç Nat 54 em Missirá, manteve-se a distância, os encontros esporádicos eram sobretudo operações no Xime, houve mesmo um patrulhamento conjunto, ele do lado do Cuor e o Pel Caç Nat 52 a percorrer Mero, tabanca em duplo controlo. E tínhamos o ritual dos encontros do BCaç 2852, era a nossa unidade comum. 

Trocámos picardia quando visitei a Guiné, em 2010, ele pediu-me se eu visitava Finete e apurava quanto lhe custaria uma morança com chão cimentado e ligação à casa-de-banho e cozinha. Se ele pensava que a pilhéria ficava impune, enganou-se. Fui falar em Finete com o senhor Biloche, construtor conceituado, apresentou-me um projeto com os requisitos necessários, entreguei-lhe o documento na Rua Passos Manuel, era o nosso ponto de encontro, tinha ali escritório e eu visitava a livraria Assírio, riu-se a valer do meu trabalho e agradeceu-me outra incumbência, trouxe-lhe a relação de todos os seus homens, fotografei o autor dessa relação, está tudo publicado no blogue, sei como ele se comoveu imenso. 

Escuso de referir o que ele me disse ao telefone, tinha poucas ilusões sobre o seu combate, era uma comunicação lancinante. Além de um camarada, perco um companheiro de lides em locais onde passámos perigos e num tempo em que nos fizemos homens. Estou a vê-lo à entrada do céu a pedir licença a S. Pedro e este, bem risonho, a dizer: "Entra, Jorge, tu não precisas de pedir licença, tanta foi a bonomia que deixaste lá em baixo". 

Saudações para todos, Mário


(xx) Alberto Branquinho 

Jorge,

Não há nada que mais doa a quem escreve do que não ser publicado (em livro, pois que aqui, neste blogue, estão todas).

Vou tentar contactar o teu filho (através do meu irmão) para ver se (com tempo) consegue localizar a "estrutura" que terias preparada para a publicação da segunda parte das "Estórias Cabralianas". A doença e a morte não te deixaram tempo para isso. E a pandemia também complicou. Veremos.

Adeus.
Alberto Branquinho

(xxi) Tabanca Grande Luís Graça

Camaradas e amigos, caros/as leitores/as: prometo fazer uma antologia (e republicar) algumas das melhores "estórias cabralianas" publicadas no blogue (e parcialmente em livro)... Em homenagem ao talento do Jorge Cabral, e sobretudo à sua grande humanidade, e à amizade e à camaradagem com que nos honrou e privilegiou em vida... Custa muito a aceitar a brutal realidade da morte dos homens bons e das pessoas especiais...

Subscrevo, inteiramente, o que, entre outros, aqui escreveu o nosso sempre generoso e incansável companheiro e camarada Carlos Vinhal:

(...) "Serão poucas as pessoas que conseguem a unanimidade. O Jorge Cabral é sem dúvida uma dessas pessoas. Afável, calmo, bem-humorado e, na boca, quase sempre, um desconcertante discurso. Para ele, tudo e nada eram pretextos para fazer graça simples e nunca ofensiva. (...) Entre nós, aqui no Blogue, foi sem dúvida um dos melhores. Perdemos mais um amigo especial. Palavras circunstanciais mas que com ele têm todo o cabimento. Quantas vezes se terá rido de nós quando nos 'zangamos' por coisas insignificantes, quando na vida o que conta é a amizade e a camaradagem." (...)

(xxii) Adriano Moreira (Admor)

Morreu o Jorge Cabral, mas "Cabral só há um,  o de Missirá e mais nenhum". Esta frase em mim nunca morrerá enquanto eu viver.

Tenho muita pena de nunca ter conhecido pessoalmente o nosso Alfero. Será sempre lembrado por nós e pelos melhores motivos.

Descansa em paz, Camarigo, e até um dia onde quer que seja, havemos de nos encontrar.

Adriano Moreira


(xxiii) Tabanca Grande Luís Graça

Alberto Branquinho, mano do António Branquinho, furriel mil do Pel Caç Nat 63:

Infelizmente, o seu editor, o José Almendra, adoeceu também, de cancro, e nem sei se está vivo. Não conheço ninguém da família, sei que tinha um filho (que o "obrigou", para sua segurança, a sair do apartamento do Campo Grande, para outro no Monte Estoril, mais perto de si...), um neto e um irmão, mais novo, economista ou engenheiro-agrónomo (não sei ao certo), de quem ele falava com ternura...

Foi sempre reservado, o Cabral, nunca ou raramente me falava da família ou dele próprio... Teve um grande desgosto, isso, sim, quando "perdeu" o escritório de advogado, que era a sua "morança", o seu refúgio, e onde deverá ter escrito a maior parte das suas "estórias cabralianas"...

Branquinho, vês se consegues desencantar o "manuscrito" do 2º volume...Escreves-lhe o prefácio e o filho, por certo, arranjará maneira de lhe encontrar uma boa editora... Sei que o filho é fiscalista famoso, tendo inclusive exercido funções governamentais, como Secretário de Estado dos Assuntos Fiscais ou coisa parecida.

Mantenhas. Boa saúde para ti e um melhor ano para todos. Luís

(xxiv) J. Armando Almeida

Profundamente desolado com esta notícia, se bem que, infelizmente, já esperada.

Tive, como muitos de nós, o privilégio de o ter conhecido,com ele convivido e de contar com a sua amizade.

Um abraço sentido a todos os seus familiares e amigos.

Até breve, Alfero!

J. Armando Almeida


(xxv) José Botelho Colaço

Alfero Cabral de quem tive o grato prazer de conhecer, conviver e ser amigo desta Alma, nos comentários seja no Blogue no facebook,  nos sites todos são unanemes em descrever o ser humano que era Jorge Almeida Cabral, por esse motivo carece por defeito tudo o que possa dizer de bem sobre o Sr. Jorge Cabral. 

Um até logo, amigo,  como dizem lá na minha terra. Colaço.


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Vd. poste anterior:

31 de dezembro de 2021 > Guiné 61/74 - P22858: Homenagem da Tabanca Grande ao Jorge Cabral (1944-2021), ex-alf mil at art, cmd, Pel Caç Nat 63 (Bambadinca, Fá e Missira, mai 1969 / ago 1971) - Parte I: "Alfero Cabral", uma genial criação literária, um "alter ego" do autor, usado como arma de irrisão contra o absurdo da guerra (Luís Graça)

segunda-feira, 25 de maio de 2020

Guiné 61/74 - P21007: 16 anos a blogar (14): A minha visita ao destacamento de Missirá, com o alf mil médico Mário Gonçalves Ferreira", na passagem do ano de 1970, ao tempo do "alfero Cabral (Arsénio Puim, ex-alf mil capelão, CCS / BART 2917, Bambadinca, 1970/71)


Viseu > 26 de Abril de 2008 > 2.º Convívio do pessoal da CCS / BART 2917 (Bambadinca, 1970/72) e unidades adidas > O Jorge Cabral, ao centro, "entre um Psiquiatra (Marques Vilar) e um Cardiologista (Mário Gonçalves Ferreira, autor do romance 'Tempestade em Bissau")... Diz o Jorge Cabral que ambos os médicos "me visitaram em Missirá, quando eu comandava o Pel Caç Nat 63, tendo o Mário, passado lá o Natal de 70, com o Padre Puim".

[Não foi o Natal, foi o Fim de Ano, emenda o Puim, que apontava tudo no seu famoso caderninho que lhe será confiscado pelo comando do BART 2917, na altura em que veio "a fmigerada ordem de Bissau" para o meterem no avião da TAP, de volta para os Açores, já que tinha passado a ser  "persona non grata" no CTIG; o caderninho, que deve ter ido parar às mãos da PIDE/DGS, só lhe seria devolvido no pós-25 de Abril,  com uma misteriosa folha a menos]...

Os dois médicos foram igualmente companheiros de quarto do capelão. O Marques Vilar substituiu, em março de 1971, o Mário Gonçalves Ferreira. O Arsénio Puim foi expulso do CTIG em maio de 1971.

Foto (e legenda): © Jorge Cabral (2008). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. A MINHA VISITA A MISSIRÁ NA PASSAGEM DO ANO DE 1970

por Arsénio Puim

[ex-alf mil capelão, CCS/ BART 2917, Bambadinca, maio de 70/maio de 71; aqui ao centro, ladeado à sua direita pelo Benjamim Durães, e à esquerda, pelo "alfero Cabral" > Viana do Castelo, 16 de maio de 2009 > Convívio do pessoal da CCS / BART 2917 e subunidades adidas (Bambadinca, 1970/72).  nFoto: Benjamim Durães (2009)]

Li no blogue uma evocação de Jorge Cabral relativa à visita do Capelão Puim ao Destamento de Missirá, na Guiné, em Dezembro de 1970. (*)

Foi realmente em Dezembro, mas no último do mês, e aí passei a noite de fim de ano. (**)

O transporte foi de sintex através do rio Geba, à tardinha. A placidez das águas, a arborização das margens, a sinuosidade do trajecto e sobretudo a abundância, a variedade e a beleza das aves – de cores as mais variegadas – fizeram desta uma viagem encantadora.

Da margem ao acampamento, julgo que ainda distavam um ou dois quilómetros, que percorri a pé mais o médico Mário Ferreira, que também visitava Missirá. Numa dada altura, ouvimos um grande tropel dentro do mato. Parámos. Mas logo vimos que era um bando enorme de macacos em deslocação. Ao atravessarem o caminho, olhavam-nos e logo continuavam a correria.

A noite de passagem do ano foi muito alegre, com boa comida e alcoolfarta. Houve discursos e música (admito que também discursei) no acampamento, que – é a impressão que guardo – se caracterizava por quase não haver separação física e humana entre ele e a tabanca,  e por todo um espírito que me pareceu nada ter a ver com o lema, demasiado redutor, pertencente a um Pelotão antigo, que ainda se podia ler, impresso num bloco de cimento, na parada [, referência provável ao Pel Caç Nat 52, anterior ao comando do Alf Mil Beja Santos, Missirá, 1968/69, cuja divisa era 'Os Gaviões: Matar ou Morrer' : vd. foto à esquerda].

No primeiro dia do ano tivemos missa no pequeno aquartelamento de Missirá, e voltei a Bambadinca.

Esta é uma das minhas boas recordações da Guiné, graças também ao comandante do Destacamento e 'grande régulo' de Missirá, o ex-alferes Jorge Cabral, que saúdo com amizade. (***)

Arsénio Puim


2. Comentário do editor LG:

Tem andado arredio, do nosso blogue, o "alfero" Cabral, genial criador das "estórias cabralianas"... De tempos a tempos, quando faz anos, lá lhe dou uma telefonadela... Não sei se ainda está "confinado", o que não acredito, mesmo sendo ele do "grupo de risco"... Aliás, somos todos... De qualquer modo, faço votos para que ele  sobreviva à pandemia e ao pandemónio da COVID-19 de que muitos camaradas já não podem ouvir falar mais...

Quanto ao nosso Cabral, já aqui escrevi em tempos que ele  era descendente de militares e que, na sua rica e frondosa árvore genealógica, havia Cabrais e... que Tais!... Na Guiné, foi meu contemporâneo e vizinho, fizemos operações juntas e até bebemos uns copos em Fá... E recordo-o por, entre outras bizarrias,  reivindicar ser ele "o único e legítimo Cabral" (sic), mesmo que o outro, o "usurpador", defendesse os seus pergaminhos de Kalashnikov na mão...

Apesar da sua linhagem ilustre, posso garantir que nunca o vi, nas terras de Badora e do Cuor, a "cantar de galo"... Sempre prezou (e honrou) a sua linhagem, isso é indesmentível e eu disso sou testemunha: costumava garantir, a quem o queria ouvir, que "na Guiné, Cabral só há um, o de Missirá e mais nenhum"... Ou de Fá, conforme o sítio onde estava (e esteve um  ano em cada lado). 

À força de ser propolada e levada pelo vento, de bolanha em bolanha, a histórica e temível frase deve ter chegado aos ouvidos do Corca Só, o chefe da 'barraca' de Madina / Belel, a sul do Morés, a tal ponto que no tempo do "alfero" Cabral não mais voltou a meter-se com a malta de Missirá...(Este Corca Só tinha jurado tirar o escalpe ao Beja Santos, anterior comandante de Missirá, à frente do temível Pel Caç Nat 52).

Em Missirá, um destacamento mais exposto às morteiradas e roquetadas do IN do que Fá Mandinga, contava-se que o "alfero" Cabral, mais do que temido, passara a ser  "respeitado" (e quiçá "venerado")  pelos camaradas do PAIGC, desde o famoso dia em que foi atrás deles, na bolanha, a apaziguá-los e a tranquilizá-los:
- Vocês não fujam, não tenham medo!!!... Sou o Cabral!!!...
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Notas do editor

(*) Vd. poste de 16 de maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2847: Convívios (57): CCS / BART 2917 (Bambadinca, 1970/72): Viseu, 26 de Abril (Jorge Cabral)