Mostrar mensagens com a etiqueta Projecto Guiledje. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Projecto Guiledje. Mostrar todas as mensagens

segunda-feira, 12 de dezembro de 2005

Guiné 63/74 - P342: Projecto Guileje (8): 'Quem não tem mãe, mama na avó' (provérbio guineense)

"Já temos uma lista inicial de uma dúzia de militantes envolvidos no assalto final [ao quartel de Guiledje] e que irão ser entrevistados (som e imagem) para o nosso arquivo histórico" (Pepito).

© AD - Acção para o Desenvolvimento > Projecto Guiledje (2005)

Caro Luis:

Em referência ao que saiu hoje no nosso blogue [ Guiné 63/74 - CCCLVI: Antologia (33): os 'gringos açorianos' de Guileje (CCAV 8350, 1972/73)] , gostaria de dar as seguintes informações:

1. O texto que apresentas do jornalista Eduardo Dâmaso (Público) sobre o abandono de Guiledje, mereceu uma "resposta" do Comandante do PAIGC, Osvaldo Lopes da Silva, encarregue por Amílcar Cabral para fazer o reconhecimento e preparar as condições do assalto final a Guiledje (Cabral dizia: "se este quartel cai, tudo à volta também cai").

Trata-se de um documento histórico relevante (Público, 26 de Julho de 2004) com informações muito detalhadas de todos os preparativos militares então realizados.

2. Tem sido para nós mais fácil identificar e envolver nesta iniciativa as antigas milícias e população que vivia no quartel de Guiledje, porque continuaram a viver na zona e arredores. O mesmo não se passa com os guerrilheiros do PAIGC que, pelas características próprias da luta, vinham de diversas regiões do país para onde regressaram no fim da guerra. No entanto, já temos uma lista inicial de uma dúzia de militantes envolvidos no assalto final e que irão ser entrevistados (som e imagem) para o nosso arquivo histórico.

Por curiosidade, refiro-te que o topógrafo que vês na foto a fazer o levantamento topográfico do quartel, era um muito jovem militante do PAIGC que entrou no quartel dois dias depois de ele ter sido abandonado. Tem-nos prestado informações interessantíssimas em relação aos corredores de circulação da guerrilha e da população.

3. Paralelamente, já estão identificados os acampamentos do PAIGC na zona de Cantanhez, os quais irão igualmente ser reabilitados para permitir a todos ter uma ideia exacta dos contornos geográficos da guerra e aperceberem-se das condições de vida e luta da guerrilha. Entre eles situa-se o importante acampamento de Candjafra (e não Canjifara, como vem escrito no blogue), que irá ser integrado no percurso histórico do ecoturismo.

4. Sentimos clara e conscientemente que nesta iniciativa nos falta um historiador que organize e trabalhe a informação, que conduza o processo de recolha da "história". Mas como dizemos aqui na Guiné-Bissau, "quem não tem mãe, mama na avó". O que é preciso é salvar a memória, mesmo que com limitações, antes que ela desapareça à espera dos historiadores...

abraços
pepito

sábado, 10 de dezembro de 2005

Guiné 63/74 - P337: Projecto Guileje (7): recuperação do quartel

Guiné- Bissau > Guileje > 2005 > Restos da estrutura (pilares de cimento armado) que sustentava a rede de arame farpado do antigo aquartelamento. Mais de trinta anos depois, a natureza volta a impor o seu domínio sobre os homens e as suas máquinas de guerra.

© AD - Acção para o Desenvolvimento (2005)

Notícias dos nossos amigos da AD - Acção para o Desenvolvimento, a ONG guineense fundada e dirigida pelo Pepito (Carlos Schwarz):



Começaram os preparativos para a recuperação do Quartel de Guileje > 4 de Dezembro de 2005 > Reportagem

O Projecto Guiledje (respeitando a grafia usada pelos nossos amigos) (1) vai ser uma das prioridades da AD para 2006.

Parece haver um grande entusiasmo à volta desta iniciativa por parte dos quadros desta ONG guineense, mas também das "comunidades locais envolvidas, em especial as de Guiledje, Medjo e Iemberém, assim como do nosso parceiro europeu, o Instituto Marquês de Valle Flôr".

Foto nº 1 - O topógrafo faz o levantamento dos últimos pontos da quadrícula.

© AD - Acção para o Desenvolvimento (2005)

Contando com a colaboração de várias tabancas dos arredores, começou por se proceder à limpeza e demarcação da área do antigo quartel, "tendo-se identificado os diversos vestígios que facilitarão a localização das antigas infraestruturas militares".

O levantamento e elaboração da planta topográfica do quartel e arredores (cerca de 6 ha) deverão estar concluídos no final da primeira quinzena de Dezembro de 2005. Nelas ficarão registadas "as fundações das antigas instalações, os abrigos subterrâneos, os marcos, as trincheiras, a linha de pilares de arame farpado e as árvores mais imponentes que vão ser preservadas".

Foto nº 2 - O bom humor do nosso amigo Pepito não faltou na reportagem fotográfica que ele fez para nós.

Legenda: "Para que qualquer projecto tenha sucesso, exige-se o sacrifício de um animal para escorraçar os maus espíritos".

© AD - Acção para o Desenvolvimento (2005)

É aguardada a chegada a Bissau, em 13 de Janeiro de 2006, do arquitecto responsável pela recuperação paisagista do local. Ele vai trabalhar com a equipa local na reconversão do quartel, incluindo "a instalação das palhotas para os ecoturistas, o centro de formação e aprendizagem rural, a sede do parque transfronteiriço, o centro de documentação histórico e as restantes infraestruturas de apoio organizativo".

Foto nº 3 - A presença dos chefes tradicionais locais é bem vinda e, mais do que isso, é "a garantia de que estão connosco e com o projecto".

© AD - Acção para o Desenvolvimento (2005)

Ainda este mês pensa-se poder fazer um furo de água de grande profundidade, de 40 a 60 metros, que irá permitir abastecer o quartel e as tabancas limítrofes.

O repórter fotográfico free-lancer Paulo Barata esteve na Guiné-Bissau no passado mês de Novembro, "onde produziu uma centena de fotos de excelente qualidade que irá servir para editar 9 cartões postais de Cantanhez e criar um cartaz de promoção ecoturística da zona".

Foto nº 4- A leitura da Corão e o juramento de fidelidade dos presentes é "garantia da união de todos na implementação do projecto".

© AD - Acção para o Desenvolvimento (2005)

Ainda segundo a nossa fonte, "em Portugal, o Capitão José Neto [membro da nossa tertúlia] disponibilizou cerca de 150 fotos de Guiledje dos anos 1967-68 que irão ser em breve digitalizadas com a colaboração do Filipe Santos" (que organizou o sítio da AD na NET e que pertence à Escola Superior de Educação de Leiria, um dos parceiros portugueses da AD - Acção para o Desenvolvimento).

Foto nº 5 - As escavações feitas têm trazido à superfície restos de armamento, carros, jericãs, etc.

© AD - Acção para o Desenvolvimento (2005)

Está igualmente avançada "a elaboração do Atlas Florístico de Cantanhez, preparado pelo especialista belga Professor François Malaisse [do Jardim Nacional Botânico da Bélgica], o qual será editado em Abril de 2006".

A AD anda agora à procura de "um especialista que faça o levantamento da fauna selvagem desta zona".




Foto nº 6 - "O pessoal estava mesmo com fome depois de terem feito mais de 4 horas de trabalho voluntário de limpeza e escavações no interior do antigo quartel".

© AD - Acção para o Desenvolvimento (2005)










Foto nº 7 - Estas placas servem para se marcar a localização de cada uma das infraestruturas que existia antigamente.

A este propósito veja-se uma planta do aquartelamento, por nós publicada, de 1966, e da autoria do então Capitão Nuno Rubim, hoje coronel e talvez o maior especialista português em história da artilharia.

© AD - Acção para o Desenvolvimento (2005)


Recorde-se que Guileje fica(va) entre Mejo, a noroeste, na estrada que da(va) a Bedanda; Gadamel fica(va) a sul, ou sudeste, mesmo na fronteira. A localidade e o aquartelamento de Guileje eram cortados pela estrada que ligava a Mejo (à esquerda) e a Gadamael (à direita).

Foto nº 8 - Estes são antigos combatentes do Exército Português em Guileje, e que viviam no quartel. Presume-se que fossem milícias. O seu conhecimento do terreno permitiu mais facilmente a localização de cada um dos edifícios do quartel.

© AD - Acção para o Desenvolvimento (2005)

Por Guileje passaram diversas unidades, as duas últimas terão sido a CCAC 3477 (1970/71) e a CCAV 8350 (1972/73), esta uma unidade constituída essencialmente por soldados açorianos, incluindo gente da Ilha do Pico, segundo informações do Pepito.

Estima-se que vivessem na tabanca de Guileje cerca de 600 africanos, entre civis e militares, na altura em que o aquartelamento foi abandonado, em 22 de Maio de 1973, pelas NT (CCAV 8350, 1972/73), depois de um cerco de 5 dias pela guerrilha do PAIGC.

Foto nº 9 - "A reza final é um momento de grande união e de engajamento nas actividades que iremos fazer ao longo destes 4 anos", comenta o nosso repórter fotográfico, o Eng. Carlos Schwarz, mais conhecido na sua terra como Pepito.

© AD - Acção para o Desenvolvimento (2005)


E, por fim, uma referência simpática ao nosso Blogue e à nossa tertúlia: "De salientar que, também em Portugal, um grupo de antigos militares que fez a guerra na Guiné-Bissau e que se juntaram numa tertúlia, tomaram a iniciativa de criar a ONG (Organização Nova Guiledje), destinada a contribuir e dar apoio a esta iniciativa".

Este recado é para o Humberto Reis, que é o pai da criança... Na realidade, a ideia da ONG - Organização Nova Guiledje não passa disso mesmo, uma ideia bonita que terá de se reproduzir em ideias concretas e efectivas no domínio da cooperação e da solidariedade.

Foto nº 10 - O futuro do projecto de Guileje também pode passar pela inteligência e generosidade de muitos outros actores e figurantes que não aparecem nesta sequência fotográfica, incluindo os militares portugueses que por lá passaram... Pelo menos uma dúzia de companhias, perfazendo mais de 1500 homens...

© AD - Acção para o Desenvolvimento (2005)

Ainda recentemente perguntei ao Pepito se tinha contactos com os ex-militares açorianos. A resposta dele foi não, embora ele saiba que nos Açores e em particular na Ilha do Pico vivem alguns dos que lá estiveram, provavelmente integrados no grupo dos "gringos açorianos" (sic), a CCAÇ 3477 (1971/72). Mas a CCAV 8352 (que só lá esteve seis meses, entre Dez 1971 e Mai 1973) , também era constituída por pessoal açoriano (2).

Na mesma data (21 de Novembro último), o Pepito mandou-me, em anexo, "um quadro que um amigo meu português, António Estácio, me ajudou a fazer, listando todas as companhias que passaram por Guiledje, onde estão os nomes de algumas pessoas que nos têm disponibilizado documentos (fotografias, memórias e informações)"... É uma lista ainda "muito limitada, a necessitar de identificar mais pessoas interessadas em colaborar e a precisar algumas das datas em dúvida".

Aqui fica a lista das unidades militares que estiverem aquarteladas em Guileje (1964-1973):

Unidade / Período de tempo / Pessoa de Contacto

CCAÇ 676 / De Set 1964 a (?) / Ninguém

CCAÇ 726 / De Out 1964 a (?) / Teco

CCAÇ 1424 /De Jul a Nov 1966 / Ninguém (2)

CCAÇ 1477 / De Dez 1966 a Jun 1967 / Ninguém (2)

CART 1613 / De Jun 1967 a Mai 1968 / José Neto (2)

CCAÇ 2316 / De Mai 1968 a Jul 1969 / Ninguém

CART 2410 / De Jul 1969 a Mar 1970 / Ninguém

CCAÇ 2617 (Magriços) / De Mar 1970 a Fev 1971 / Abílio (2)

CCAÇ 3325 / De Fev a Dez 1971 / Parracho

CCAÇ 3477 (Gringos de Guiledje) / De Dez 1971 a Dez 1972 / Ninguém

CCAV 8350/72 (Gringos Açorianos ) / De Dez 1972 a Mai 1973) / Ninguém (2)
__________

(1) Vd. post de 6 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCXL: O melhor que Portugal nos deixou foi a língua (Pepito)

(2) Vd. post de 5 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCXXXIX: José Neto, outro senhor de Guileje (CART 1613, 1967/68) . O nome completo do Abílio, da CCAÇ 2617 (Magriços): Abílio Alberto Pimentel da Assunção.

O Capitão (hoje, coronel) Nuno Rubim deve ter pertencido a uma das Companhias que esteve em Guileje no ano de 1966: a CCAÇ 1424 ou a CCAÇ 1477.

Por fim, da CCAV 8350, temos notícia do ex-furriel miliciano, ranger, Casimiro Carvalho (que pertenceu à Guarda Nacional Republicana / Brigada de Trânsito, estando hoje reformado). Encontramos no sítio da Associação de Operações Especiais (AOE) uma mensagem e o contacto dele, no livro de visitas, com data de 4 de Setembro de 2004:

"É a primeira vez que escrevo aqui. Fui do 2º Curso de Sargentos de 72. Fui para a Guiné integrado na CCAV 8350, infelizmente célebre por ter estado no maldito Inferno Guileje-Gadamael Porto.

"Para quem me conhece sou o da BT/GNR (aposentado), para os restantes sou mais um orgulhoso RANGER que aqui deixa a sua marca indelével. Parabéns pelo site, parabéns aos carolas que dão o seu tempo... e não só, em prol desta família tão grande que dá pelo nome de RANGERS (...). José Carvalho

sábado, 3 de dezembro de 2005

Guiné 63/74 - P314: Projecto Guileje (6): Carlos Schwarz ou, melhor, Pepito

Vista aérea da povoação e aquartelamento de Guileje na "época colonial".

Fonte: AD - Acção para o Desenvolvimento > Projecto Guiledj (2005)

São apontados como autores das fotos desta época, inseridas neste sítio, o Capitão José Neto e Abílio Pimentel. A um e a outro, bem como à AD, os nossos agradecimentos pela permissão da reprodução deste valioso documento.


1. Lensagem de L.G. para o Carlos Schwarz:

Já descobrimos um homem da última companhia que esteve no Guileje: a Companhia Independente de Cavalaria 8350, composta maioritariamente por açorianos. Trata-se do ex-furriel miliciano de operações especiais Casimiro Carvalho. Vê as fotos no post, inserido no blogue, com data de 2 de Dezembro de 2005 [Guiné 63/74 - CCCXXVIII: No corredor da morte (CCAV 8350, Guileje e Gadamael, 1972/73) ].

O Sadibo [Dabo] diz-me que tu és mais conhecido aí pelo teu nome de guerra, Pepito… Posso divulgar essa informação ?

2. Resposta do nosso amigo e director da AD - Acção para o Desenvolvimento:

Luis:

De facto não tinhamos ninguém conhecido dessa Companhia. Obrigado. As fotos ajudam muito a situar as placas e a refazer o contexto onde vamos reabilitá-las.

Mais fotos serão bem vindas. Um novo amigo meu que esteve em Guiledje, em 1967/68, tem cerca de 150 slides de Guiledje que estamos a procurar digitalizar na ESE [Escola Superior de Educação] de Leiria [que é um dos pareciros da AD em matéria de cooperação].

Na próxima semana acaba o levantamento topográfico do antigo quartel e arredores (6 ha) e a 12 de Janeiro de 2006 chega a Bissau o arquitecto para apoiar a sua reconstrução.

Quanto ao meu nome: de facto, só na Tapada da Ajuda, [no Instituto Superior de Agronomia, da Universidade Técnica de Lisboa], aí em Lisboa, onde fiz agronomia, é que sou conhecido por Schwarz. Aqui em Bissau, é só Pepito, desde que me conheço. Usa à vontade o nome e para ajudar assino-o a partir de agora.

abraços
pepito

sexta-feira, 18 de novembro de 2005

Guiné 63/74 - P278: Projecto Guileje (5): contra o demónio étnico (Lui´s Graça)

1. Há tempos escrevi ao Carlos Scharwz, da AD - Acção para o Desenvolvimento, transmitindo-lhe algumas reticências e dúvidas (legítimas) dos nossos amigos e camaradas de tertúlia (Sousa de Castro, Humberto Reis, David Guimarães, entre outros), relativamente ao projecto Guileje. Eis as questões que eu lhe pus:

"Era bom dares mais detalhes sobre um dos subprojectos, a reconstrução do quartel... Alguns camaradas torceram o nariz: será viável (do ponto de vista técnico, ambiental e financeiro) reconstruir o aquartelamento ? tens contactos com a antiga companhia acçoreana que lá estava em Maio de 1973 ? que valor simbólico tem hoje Guileje para os guineenses ? não haverá outras prioridades ? Enfim, são perguntas legítimas"...

2. Responde-nos agora o Carlos Scharwz, a quem agradeço:

Luís,

Vou procurar responder às questões levantadas sobre a pertinência da reconstrução do quartel de Guiledje.

(i) Viabilidade técnica, financeira e ambiental:

Quando se fala em recuperar o quartel, estamos a referir-nos a utilizar as antigas instalações para actividades viradas para o futuro e não como simples depositários de memórias e recordações.

Por exemplo:

- as messes serão usadas como salas de aula do futuro CENAR (Centro de Aprendizagem Rural), onde os jovens adquirirão conhecimentos profissionais (electricidade, carpintaria, pedreiros, ferreiros, etc.) ou de artesanato (construção de camas, armários e mesas em bambú, tara e mampufa; recuperação e produção de máscars e esculturas nalús; etc.);

- a secretaria será a sede do Parque Transfronteiriço de Cantanhez;

- as casas da população será o local onde serão construídos os futuros bangalows para acolher as pessoas que visitem e turistas;

- a cantina será o museu; e assim sucessivamente.

É importante que se diga que não vamos contratar nenhuma empresa para a reconstrução do quartel. Ela será gradualmente feita utilizando o apoio comunitário e pagando a jovens carpinteiros e pedreiros locais. Os custos serão, por isso, muito baixos e evita-se ter infraestruturas luxuosas. Não se pense que se trata de retórica nossa, pois ao longo dos 14 anos a AD tem construído centros de saúde, escolas, centros culturais, casas de ambiente e cultura, etc., sempre com esta metodologia. Com resultados muito bons.

Ambientalmente a reconstrução preservará integralmente todas as árvores que existem e que dão um clima e tranquilidade muito agradáveis. A procura de um arquitecto paisagista é já o reflexo desta nossa opção.

(ii) Valor simbólico para os guineenses:

Para os mais velhos e os de meia idade, Guileje continua a ser um marco decisivo para a conquista da independeÊncia da Guiné-Bissau e o voltar da última página da luta. Foi o momento determinante que decidiu a guerra.

Poucos restam dos que participaram nesse acontecimento. É uma responsabilidade actual e urgente não os deixar morrer sem que nos transmitam o seu testemunho.
Para a concretização da iniciativa Guileje, fizemos apelo a várias pessoas dentro e fora da AD. A resposta deixou-nos absolutamente surpresos pelo entusiasmo e entrega.

(iii) Não haverá outras prioridades?

Claro que, se perguntarmos à população local, eles enumerarão as suas actuais prioridades: saúde, escola, água, meios de transporte.

Para a AD também estas são prioridades suas, não só claramente expressas nos seus estatutos, como na prática dos seus 14 anos e também no projecto que envolve a componente Guileje e que compreende o apoio ao Centro Materno-Infantil de Iemberém (análises clínicas, assistência às mulheres ante e pós-parto, campanhas de vacinação, etc.), a construção de escolas primárias (nos últimos 2 anos construímos 11 escolas, todas elas com latrinas e poços de água).

No entanto, para a AD, são tão importantes estas prioridades como a da sua sustentabilidade futura. Nenhuma escola ou centro de saúde funciona quando se instala uma lógica tribal, tanto a nível nacional como local. O demónio étnico que agora conquista terreno na Guiné-Bissau (e não só), leva a que se priorize o combate a esta lógica, sob pena das tais outras iniciativas prioritárias morrerem logo à partida.

Para a AD a recuperação da memória da luta de libertação, que é pertença de todos, independentemente das respectivas etnias, pode desempenhar um papel importante na coesão nacional e na procura de consensos nacionais.

Por outro lado, há que aliar o passado ao sentimento de progresso futuro, para que a identificação e coesão nacional não tenha um cunho passadista e saudosista, mas seja dinâmica e aglutinadora. Incrementar o ensino profissional onde ele nunca foi feito e onde os jovens estão entregues a si próprios e a repetir exclusivamente o percurso dos seus pais, ou então a emigrar para o estrangeiro ou centros urbanos, é uma iniciativa prioritária.

O ecoturismo vai permitir às associações locais de jovens e mulheres, beneficiarem financeiramente através de guias turísticos locais, venda de artesanato, esculturas, restauração e alojamento. O ambiente permitirá a defesa da biodiversidade, especialmente da fauna selvagem e da flora que é utilizada para medicamentos naturais.

Daí que a recuperação do quartel (que nunca será um quartel, mas um polo de desenvolvimento) se justifique plenamente.

Basta ver o entusiasmo que a população local está a emprestar às primeiras iniciativas já em curso (limpeza e demarcação da zona geográfica do quartel).

Sei que, quando se escreve, dificilmente se consegue explicar bem o que uma conversa ajudaria a esclarecer melhor.

Daí que insista na minha disponibilidade em encontrar-me, quando aí for em Fevereiro de 2006, com as pessoas interessadas nesta iniciativa para batermos um papo e tirarmos as dúvidas restantes.

abraços
Carlos

domingo, 6 de novembro de 2005

Guiné 63/74 - P256: Projecto Guileje (4): planta do quartel (Pepito)

Guiné-Bissau > Guileje (2005) >

Antigo aquartelamento das NT: restos de uma das várias viaturas abandonadas pelo BCAV 8350 (1972/73), quando as NT são obrigadas a retirar para Gadamael, depois de um terrível cerco de 5 dias (de 18 a 22 de Maio de 1973), efectuado pelas forças do PAIGC.

Fonte: © AD - Acção para o Desenvolvimento > Projecto Guileje (2005)


O ataque a Guileje tinha sido começado a ser preparado pelo próprio Amílcar Cabral, que incumbiu dessa missão o comandante Osvaldo Lopes da Silva, em meados de 1972. Era sua convicção de que "se este quartel cai, tudo à volta também cai".

Depois do cobarde assassinato, em Janeiro de 1973, do líder do PAIGC, são retomados os planos para atacar e tomar Guileje. Trinta anos depois, é o antigo comandante do PAIGC, o caboverdiano Osvaldo Lopes da Silva, quem diz estas palavras que calam fundo no coração de qualquer combatente: "estabelecidas as pontes emocionais entre aqueles que, em lados opostos da barricada, viveram com todo o seu ser momentos de sangue, de sofrimento e de destruição, e que hoje se dão as mãos, na construção de um mundo feito de compeensão, amizade e respeito mútuo, a história comum pode ser escrita, com objectividade, como legado às gerações vindouros" (in AD - Acção para o Desenvolvimeno > Projecto Guileje)

1. Mensagem do Carlos Schwarz:

Caro Luis Graça

Mais uma vez muito obrigado pelo envio do draft da planta do quartel, uma autêntica preciosidade, que nos vem ajudar a localizar as diferentes instalações então existentes.

Como lhe disse, agora que a época das chuvas está a chegar ao fim, vamos começar a trabalhar no duro no início do projecto [Guileje]. O ano 2006 será decisivo. Se tudo correr bem, no final do próximo ano, poderemos começar a receber todos os que queiram visitar Guileje e lá pernoitar, mesmo se ainda em condições que não serão as melhores.

Irei sempre dando-vos conhecimento do evoluir do projecto.

abraços
Carlos Schwarz

2. Resposta ao Carlos:
Caro Carlos:

Vamos ver se arranjamos alguém da engenharia militar para dar uma ajuda... Também é possível sondar a nossa Direcção Geral de Edifícios e Monumentos Nacionais, onde há muitos arquitectos que, em princípio, sabem destas coisas...

Para já vou lançar amanhã uma página sobre Guileje, recorrendo a algumas das vossas fotos, de modo a publicitar também o vosso projecto... Com a devida vénia, claro... A AD-Acção para o Desenvolvimento é sempre citada como fonte. Aliás, gostaria de ter depois o teu feedback em relação às legendas (que são da minha responsabilidade).

Ainda não temos ninguém, na nossa tertúlia, que tenha estado em Maio de 1973, em Guileje, aquando do seu cerco e abandono. O João Tunes conheceu Guileje, mas foi em 1970/71.

Carlos, fico à espera de notícias tuas. Contacta entretanto os nossos amigos, em Bissau: Jorge Neto (jornalista, autor do blog Africanidades) e Paulo Salgado (administrador hospitalar, cooperante, e meu antigo aluno).

Um grande abraço.
Luís Graça

Guiné 63/74 - P255: Em bom português (1): Guileje e não Guiledje (Luís Graça)

Consulta ao Ciberdúvidas da Língua Portuguesa:

1. Pergunta:

Povoação no Sul da Guiné-Bissau, na região de Tombali, junto à fronteira com a Guiné-Conacri, Guileje foi um importante aquartelamento das tropas portuguesas durante a guerra colonial.

Construído em 1964, foi sitiado e tomado pelo PAIGC em 22 de Maio de 1973. No tempo do colonialismo, escrevia-se Guileje (vd. a carta da Guiné, dos Serviços Cartográficos do Exército, 1961).

Os guineenses e os cooperantes portugueses na Guiné-Bissau têm hoje tendência para escrever Guiledje ou até Guiledge. Vd. por exemplo, a página pessoal de Fernando Casimiro (Didinho) ou a página de uma organização não-governamental como a AD - Acção para o Desenvolvimento, que tem em curso justamente o Projecto Guiledje .

Pergunto ao Ciberdúvidas: qual é a grafia correcta?

Luís Graça, Portugal

2. Resposta:

Como diz - e atestam os registos mais credíveis que cita (1) - , sempre se escreveu Guileje. Portanto, a grafia Guileje, sem o d, é a única corre(c)ta, dado que em português normal não existe grupo consonântico dj, nem tch, o modo correspondente.

Por isso, é incorre(c)to igualmente escrever "Tchecoslováquia", em vez de Checoslováquia, apesar de em checo a palavra começou por tal som, grafado C (um c com acento circunflexo invertido). Mas o som tch foi o do ch em português até ao princípio do século XIX, e ainda hoje se ouve no Norte do Portugal.

Resumindo, é mesmo assim que se deve continuar a grafar o nome desse aquartelamento das tropas portuguesas durante a guerra colonial, na Guiné-Bissau: Guileje. A corruptela do "dje" (e a do "g") pressupõe um mau domínio da ortografia da nossa língua, com outros conhecidos infelizes exemplos - como é essoutra (má) tendência (no caso, em Angola) de se ter passado a escrever com as letras Ku nomes e topónimos que em português sempre se escreveram, e escrevem, com Qu.
________

(1) Também era assim que se grafava no título do excelente documentário "De Guileje a Gadamael - o corredor da morte", da autoria do jornalista José Manuel Saraiva e do realizador Manuel Tomás, exibido no canal de televisão português SIC, em 1998.

Ciberdúvidas
11/10/2005

Guiné 63/74 - P254: Projecto Guileje (3): planta do aquartelamento (1966) (Luís Graça)



Planta do quartel de Guileje em 1966. Reconstituição de Nuno Rubim, coronel na reserva (e na época comandante da CCmds, de que o nosso camarada Briote era alferes miliciano).

© Nuno Rubim (2005)

1. Texto de L.G.:

Já hoje dei boas notícias, à nossa tertúlia, sobre o projecto Guileje, da ONG guineense AD-Acção para o Desenvolvimento, fundada e dirigida pelo Carlos Schwarz.

Como sabem, ele fez-nos um pedido de apoio com vista à reconstrução do quartel de Guileje, inserido num projecto mais vasto de ecoturismo (abrangendo a mata do Cantanhez) (vd post de 3 de Novembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCLVII: Projecto Guileje (2): arquitecto paisagista, precisa-se! ).

Até agora os nossos tertulianos, à excepção do João Tunes, ainda não se pronunciaram sobre a ideia. Provavelmente estão à espera de mais detalhes sobre o projecto. De qualquer modo, o Carlos Shwarz passou também a ser membro da nossa tertúlia e a receber a nossa correspondência.

O nosso camarada Briote, um das "aquisições" mais recentes da nossa tertúlia (e, em contrapartida, um dos nossos camaradas de Guiné, mais velhos), e que é um tipo bem relacionado, tratou logo de pedir ajuda ao seu antigo capitão dos comandos, Nuno Rubim, hoje coronel na reserva, o qual por sua vez teve a gentileza de lhe/nos mandar um draft da planta do quartel, desenhado por ele em 1998.

Pessoas como o Briote, o Rubim e o Tunes, conheceram Guileje, em diferentes épocas (o Briote e o Rubim, em 1966; o Tunes, em 1970/71). Eles poderão dar ideias e pistas ao Carlos Schwarz... O pedido de um arquitecto, de preferência paisagista, continua de pé. Se calhar, a porta certa estará na Engenharia Militar, como sugere o Rubim (que fica ao cuidado do Briote, uma vez que ainda não é da nossa tertúlia). Um abraço para todos. Luís Graça


2. Texto do Virgínio Virgínio Briote:

Caro Luís,

Entrei em contacto com o meu antigo Comandante da CCmds, actualmente Coronel na Reserva Nuno Rubim, por causa do assunto acima referido [projecto Guileje]. Tens aqui a resposta que me enviou.

Um abraço,
vb

"Caro Briote:

"Interessante esse projecto. Há alguma razão específica para a sua implementação, para além de se referir à zona onde morreram mais homens por metro quadrado do que em qualquer outro sítio,em qualquer das três colónias, no período de 1961-1974 ?

"Junto lhe envio um desenho baseado num antigo esboço que tive. Representa Guileje em 1966, quando lá estive, mas sei que posteriormente sofreu transformações. Se algum projecto ou desenho existiu, teria de forçosamente ter sido elaborado no BEng [Batalhão de Engenharia], que ficava perto da "nossa casa" [Brá], lembra-se ?

Fotografias aéreas. Onde param elas ...? Permanece grande interrogação, até hoje, sobre onde pára grande parte da documentação referente às operações durante a guerra colonial... No AHM [Arquivo Histórico-Militar], onde tenho trabalhado, não está !

Um abraço
Nuno Rubim"

quinta-feira, 3 de novembro de 2005

Guiné 63/74 - P247: Projecto Guileje (2): arquitecto paisagista, precisa-se! (Pepito)

"Foto de um marco existente em Jemberem, sede da nossa ONG em Cantanhez, que foi reparado e que, em homenagem à ONG portuguesa Instituto Marquês Valle Flôr-IMVF (que intervém na zona e com quem vamos trabalhar no projecto Guiledje), se chama Praça IMVF". Este pequeno monumento evoca a passagem, por aquelas paragens, de umc companhia, presumivelmente de caçadores ou de artilharia, a 6521... No mural lê-se; "OS NÒMADAS, PIONEIROS DE JEMBEREM, Pelundo > 27 Out 72, Cadique > 21 Jan 73, Jemberem > 20 Abr 73.

© CSchwarz

1. Mensagem de Carlos Schwarz, fundador e director executivo da ONG AD - Acção para o Desenvolvimento (Bissau). com data de 30 de Outubro último:

Caro Luís Graça

Só agora lhe respondo, uma vez que tivemos sérios problemas de acesso à internet no país.

Será com muito prazer que integrarei a vossa (já agora nossa) tertúlia.

O José Carlos Schwartz [músico, poeta e militante do PAIGG, morto precocemente, a seguir à independência] não é meu familiar. Ele nasceu exactamente uma semana depois de mim e fomos contemporâneos nos estudos: ele na escola técnica e eu no liceu.
Depois da independência fomos vizinhos e bons amigos. Tenho uma admiração enorme por ele.

Voltando à vaca fria, isto é Guiledje. O projecto vai mesmo para a frente, com os percalços e descontinuidades próprios da Guiné-Bissau, um dos quais o golpe palaciano ocorrido ontem (nada que não estivéssemos à espera).

Vim de lá ontem e logo que acabem as chuvas vamos começar os trabalhos de limpeza e desminagem.

Gostaria de aceitar a vossa sugestão de envolvimento no projecto e propor-vos, para já, que ela se materializasse na reconstituição do que era o quartel de Guiledje na época.

Procurei por várias formas aceder ao mapa do quartel aí em Portugal, tendo chegado à conclusão que provavelmente ele nunca terá existido. Nada que não possa ser ultrapassado, uma vez que com as duas fotografias tiradas de avião, um bom arquitecto não possa refazer o mapa e até uma maqueta.

É que nós gostaríamos de reconstruir o quartel à imagem daquilo que ele era, desde que isso não implicasse a destruição de belas árvores que entretanto se desenvolveram no interior.

Para isso, iremos fazer durante a época seca um levantamento topográfico com a sua localização, para que se possa casar com o mapa do antigo quartel.

Pensamos que os pavilhões da messe, etc possam ser adaptados para a formação de jovens no futuro CENAR (Centro de Aprendizagem Rural) e que a zona onde habitava a população possa ser aproveitada para: instalar habitações para novos habitantes da região e reservar uma zona para casas de passagem de visitantes interessados em fazer ecoturismo.

Ora é neste ponto que gostaríamos de ter o vosso apoio. Será que vocês poderão identificar um arquitecto, de preferência paisagista, que aceite fazer de forma solidária, a partir das fotografias aéreas, um mapa com todas as instalações, incluindo uma escala que nos possibilite saber as distâncias entre os edifícios, ruelas, etc?

Proponho igualmente que, quando for aí a Portugal no próximo ano, possamos fazer um encontro com as pessoas interessadas no projecto para incorporarmos as suas ideias.

Um abraço
CSchwarz

quinta-feira, 6 de outubro de 2005

Guiné 63/74 - P210: Projecto Guileje (1): o triunfo da vida sobre a morte (Luís Graça)

Guiné- Bissau > Antigo aquartelamento de Guiledje (2005). Na foto, vêm-se dois guineenses, de nome Abubacar Serra e José Filipe Fonseca, que são a ssociados da AD e os grandes dinamizadores do Projecto Guileje.

© AD - Acção para o Desenvolvimento (2005)

Notícias do nosso amigo Jorge Neto (um tertuliano de fresca data, e que trabalha, vive e sobrevive em Bissau).

Boa tarde a todos,

Recebi na caixa de correio informação sobre uma ONG [Organização Não-Governamental]guineense que tem um projecto de reabilitação/restauro do histórico quartel de Guiledje [na região de Tombali, no sudoeste, na fronteira com a Guiné-Conacri].

Se alguém tiver interesse em conhecer o projecto bem como ver algumas fotos do que era e do que é, aqui fica o link.

http://www.adbissau.org/projectoguiledje.php

Para as fotos:

http://www.adbissau.org/fotos_guiledje.php

Cumprimentos
Jorge Neto


2. Comentário de Luís Graça:

Acabei de ler o documento, em formato.pdf, de seis páginas, intitulado "Guiledje, ideias para um projecto de reabilitação". Gostei, desde logo da citação: "Salvaguardar a memória é a única forma da vida triunfar sobre a morte". Mais do que uma citação, é um programa de acção!

Li e fiquei entusiasmado com as ideias apresentadas, a sua fundamentação, a sua metodologia de acção. E disse logo cá para mim mesmo: Ora aqui está um projecto à nossa medida, à medida destes ex-combatentes da guerra colonial da Guiné e dos demais amigos desta tertúlia.

Sinto que podemos fazer alguma coisa de concreto para viabilizar este projecto. Para já, podemos divulgá-lo e dá-lo a conhecer em Portugal. Penso que é um projecto, de grande interesse (histórico, cultural, económico, social e ambiental) para os guineenses, mas também para nós. Daqui uns anos os nossos netos e bisnetos irão aprender, na escola, onde ficava Guileje e discutir a sua importância para dois países que hoje se tratam como irmãos: Portugal e a Guiné-Bissau...

Guileje vai figurar, seguramente, nos manuais de história tal como Alcácer Quibir, ou outras batalhas que ficaram no nosso imaginário e marcaram o nosso destino. E o mesmo se passará com os netos e os bisnetos dos homens e das mulheres que lutaram pela independência da Guiné-Bissau, de armas na mão, e que cercaram o quartel de Guileje, de 18 a 22 de Maio de 1973 (Op Amilcar Cabral), até ao seu abandono pelos portugueses (1).

Guileje foi, a par de Madina do Boé (Fevereiro de 1969), um dos poucos aquartelamentos (não falo de destacamentos...) que os portugueses tiveram que abandonar, devido à pressão militar do PAIGC (que desde Março de 1973 já dispunha de mísseis terra-ar).

Guine > Guileje > Dois militares portugueses, junto ao Obus 140, em 1970 e 1971. Segundo informação do Carlos Schwarz, fundador e director executivo da AD, "a fotografia junto do Obus 140 foi-me dada por um militar português que lá esteve entre 70 e 71, na CCAÇ 2617, de nome Abílio Alberto Pimentel da Assunção, que é um dos 2 militares". A esta companhia deve-se ter seguido a CCAV 8350 (1972/73), uma unidade constituída essencialmente por soldados açorianos.

© AD - Acção para o Desenvolvimento (2005)

As consequências político-militares desta vitória da guerrilha foram enormes: (i) a partir de Agosto de 1973, está em marcha, em Bissau, o movimento que levará os militares ao poder, em Lisboa, a 25 de Abril de 1974; (ii) a 24 de Setembro é proclamada unilateralmente pelo PAIGC, nas colinas do Boé, a independência da Guiné e Cabo Verde, imediatamente reconhecida por mais de sete dezenas de países de todo o mundo.

Hoje há um projecto de desenvolvimento integrado para a região, incluindo a recuperação e a reabilitação do antigo quartel do Guiledje e da sua envolvente, a criação de um museu e de um centro de documentação, a par da criação do Parque Transfronteiriço do Cantanhez.

A iniciativa é de uma ONG, com sede em Bissau, que acaba de celebrar os seus 14 anos de trabalho em prol do "desenvolvimento justo e solidário". Trata-se da de AD-Acção para o Desenvolvimento, associação sobre a qual se pode saber mais, consultando o seu sítio.

Aqui fica, para já, o registo do meu apreço por este projecto que pode vir a não passar do papel, mas que à partida nos toca e sensibiliza a todos... O entusiasmo, a mobilização, o lobbying e a capacidade de realização ficam para outra fase. Para já deixem-nos sonhar, fazer flashback, voltar a ver o filme de trás para a frente e de frente para trás... Deixem-nos salvaguardar a memória dos portugueses e dos guineenses que viveram momentos dramáticos em Guileje... para que a vida saia vitoriosa, triunfando desta vez sobre a morte. Lá como cá.

Reproduzo, com a devida vénia, duas das fotos que ilustram o sítio do Projecto Guiledje, com conhecimento ao webmaster da página da AD a quem, desde já, agradeço.

Numa das fotos há dois guineenses (que tanto podem ser os autores deste projecto, como os antigos combatentes do PAIGC que participaram na batalha de Guileje: Braima Djassi e Roberto Quessangue, nomes referidos no site, sendo o último o presidente da Assembleia Geral da própria ONG), junto aos restos do brasão da Companhia de Cavalaria que defendia Guileje: a CCAV 8350, (19)72/74, Piratas de Guileje (as inscrições são perfeitamente legíveis na foto inserida na página da supracitada ONG)...

Na outra foto há dois militares portugueses, em 1970 ou 1971, junto ao obuz 140 mm, que equipava o aquartelamento.
______

(1) Sobre a batalha de Guileje, vd. post de 2 de Julho de 2005 > Guiné 69/71 - XCI: Antologia (6): A batalha de Guileje e Gadamael