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quarta-feira, 15 de novembro de 2023

Guiné 61/74 - P24851: S(c)em comentários (17): "Por ti, Portugal, eu juro!": Memórias e testemunhos dos comandos africanos da Guiné (1971-1974), tese de doutoramento, de Sofia da Palma Rodrigues (2022), UC/CES: Resumo



Guião do Batalhão de Comandos da Guiné (1972/74)

Batalhão de Comandos da Guiné (BCmds)
Cmdt: Maj Cav Cmd João de Almeida Bruno | Maj Inf Cmd Raul Miguel Socorro Folgues | Maj Inf Cmd Florindo Eugénio Batista Morais
2º Crndt: Cap Inf Cmd Raul Miguel Socorro Folques | Cap Inf Cmd João Batista Serra | Cap Cav Cmd Carlos Manuel Serpa de Matos Gomes | Cap Art Cmd José Castelo Glória Alves
Início: 2nov72 | Extinção: 7set74 


Guiné > s/l > s/ d > O tenente graduado 'comando'  João Bacar Djaló,  ao centro, rodeado de pessoal da 1ª CCmds Africanos. Entre outros, é possível identificar o furriel “Dico” Andrade, o 1º da esquerda, o furriel Orlando da Silva, ajoelhado, no meio e o 1º da direita, em cima, o soldado Francisco Gomes Nanque, que esteve preso na Libéria após a operação a Conacri. 

Fonte: Amadu Bailo Djaló - "Guineense, Comando, Português: I Volume: Comandos Africanos, 1964 - 1974". Lisboa, Associação de Comandos, 2010, pág. 190.
 


Sofia da Palma Rodrigues

Universidade de Coimbra > Centro de Estudos Sociais (UC/CES > 
Teses de doutoramento  > Teses Defendidas > Resumo


Data de defesa > 30 de maio de 2022

Programento de doutoramento > Pós-Colonialismos e Cidadania Global

Orientação > Maria Paula Meneses e Mustafah Dhada

Resumo:

Enquanto foi governador da Guiné (1968-1973), António de Spínola fundou o Batalhão de Comandos Africanos, a única tropa de elite das Forças Armadas Portuguesas integralmente composta por africanos negros. 

A estes homens, fez promessas de uma vida melhor, garantindo-lhes que seriam eles quem comandaria os destinos do território quando Portugal vencesse a guerra (1961-1974). Que seriam eles quem, na Guiné, ficaria à frente do novo projeto de Estado que planeava implementar: um Estado pluricontinental, composto por províncias autónomas que, no seu todo, formariam o Portugal do futuro. 

O desfecho deste projeto político, que se opunha aos ventos da História que sopravam na metrópole, está no centro da análise desta tese. Ao perseguir as narrativas de homens que, depois da conquista das independências, deixaram de caber no sonho português e perderam a nacionalidade portuguesa, este trabalho questiona e aprofunda os dilemas da descolonização a partir do processo guineense. 

Tendo como base uma pesquisa multidisciplinar e multissituada (Marcus, 1995), assente nos questionamentos, reivindicações e metodologias propostas pela História Oral (Spear, 1981; Mazrui, 1985; Vansina, 1985) e pelas Epistemologias do Sul (Santos & Meneses, 2013), traz para o debate da História os testemunhos dos homens que formaram o Batalhão de Comandos Africanos da Guiné e propõe-se discutir o absolutismo da narrativa contada pelo Estado-nação (Ranger, 1971, 2004).

Palavras-chave > Colonialismo; Pós-colonialismo; Forças Armadas Portuguesas; Guiné-Bissau; História Oral

(Fixação de texto para efeitos de publicação deste poste:  LG. Com a devida vénia)
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Nota do editor:

segunda-feira, 13 de novembro de 2023

Guiné 61/74 - P24845: S(c)em Comentários (16): "Furriel, se 'turra' apanha nós (e fez um gesto com o dedo indicador no pescoço, como quem diz: "corta-nos nos o pescoço ou mata-nos"), mas se apanhar pessoal branco trata-o bem" (João Moreira, ex-fur mil at cav MA, CCAV 2721, Olossato e Nhacra, 1970/72)


Guiné > Região do Oio > Olossato > 5 de julho de 1970 > O João Moreira, ex-fur mil at cav MA, CCAV 2721 (Olossato e Nhacra, 1970/72) e o alferes de 2.ª Linha Suleimane

Foto (e legenda): © João Moreira (2023). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Comentário do João Moreira ao poste P24843 (*):

OP Jaguar Vermelho, 26 de maio de 1970, 09h00

(...) Às 09h00 o meu grupo de combate (4.º Gr Comb), reforçado com 15 milícias, saiu para a região de Bissancage, onde encontrou um trilho muito recente e batido, de Morés para Madina Mandinga e o alferes Silva decidiu emboscar neste local.

Enquanto o alferes Silva estava a instalar os primeiros elementos do 4.º Gr Comb, que eram milícias, surgiram 2 elementos inimigos armados. Deste contacto resultou o ferimento e captura de 1 elemento inimigo e a fuga do outro.

Do contacto também resultou a morte de um soldado milícia nosso, que foi morto pela rajada dum soldado nosso (F.R.) que, por precipitação ou por medo, fez fogo para o local onde estava o alferes e os milícias e só parou o fogo quando o alferes e os milícias gritaram para parar. Não sei se o alferes avisou do que se estava a passar, mas o soldado tinha obrigação de saber que estavam ali os nossos militares.

Quando a situação estava controlada e trouxeram o guerrilheiro para o local onde estava o resto do grupo de combate, os outros milícias queriam matá-lo à pancada. Tive que intervir para acabar com esta cena de vingança. Mas há uma frase dum soldado milícia nosso que não esqueci, nem esquecerei e que é a seguinte:

"Furriel, se 'turra'  apanha nós (e fez um gesto com o dedo indicador no pescoço, como quem diz: "corta-nos o pescoço ou mata-nos") mas se apanhar pessoal branco trata-o bem" (**)
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sexta-feira, 10 de novembro de 2023

Guiné 61/74 - P24838: S(c)em Comentários (14): Os fulas, que se alistaram nas forças armadas portuguesas, valorizavam o dinheiro, mas nunca perdiam de vista o mais importante que eram objectivos políticos a longo prazo (Cherno Baldé, Bissau)


Guiné > Região de Bafatá > Fá Mandinga  (?) > c. 1970/72 > O tenente graduado 'comando'  João Bacar Djaló,  rodeado de pessoal da 1ª CCmds Africanos. Entre outros, é possível identificar o furriel “Dico” Andrade, o 1º da esquerda, o furriel Orlando da Silva, ajoelhado, no meio e o 1º da direita, em cima, o soldado Francisco Gomes Nanque, que esteve preso na Libéria após a operação a Conacri. 

Foto de Amadu Bailo Djaló, publicado na pág. 190 do seu livro, " "Guineense, Comando, Português: I Volume: Comandos Africanos, 1964 - 1974", Lisboa, Associação de Comandos, 2010, 229 pp, + fotos, edição esgotada. 
 


Cherno Baldé, quadro superior
com formação em  economia e gestão,
vive e trabalha em Bissau;
colaborador permanente do nosso blogue:
 integra a Tabanca Grande
desde 19/6/2009;
1. Comentário de Cherno Baldé ao poste P24832 (*):


"Amadu, vais ser oficial. E a questão do vencimento vai resolver-se (...)".

O Amadu Djaló, com 32 anos de idade, dos quais 8 como soldado, estava cansado da guerra e do corre-corre da vida militar, sobretudo, dos comandos onde servia desde 1964.

Mas, no entendimento do seu Comandante [major inf 'cmd' A
lmeida Bruno], o problema era, antes de mais, financeiro, o dinheiro. E o Amadu, se acreditarmos no que está escrito no texto, não dá quaisquer sinais de discordar desta análise do seu superior.

Na minha opinião, esta deve ter sido a atitude prevalecente entre os soldados nativos e sobretudo dos comandos e que fazia pensar que estes soldados não lutavam por qualquer outra causa que não fosse pelo dinheiro.

Provávelmente, seria o caso para muitos que estavam a combater do lado português, mas a verdade é que, para uma grande maioria, sobretudo da etnia fula (fulacundas), e em especial as autoridades "gentílicas", a escolha entre os dois lados era óbvio, pois a sua aliança com as autoridades portuguesas tinha motivações de sobrevivência do seu poder (tribal) sobre os outros grupos rivais no mesmo território e que tinha sido duramente conquistado havia poucos anos antes do domínio europeu em África.

Estes,  sim, valorizavam o dinheiro, mas nunca perdiam de vista o mais importante que eram objectivos políticos a longo prazo que, inclusive, poderiam se transformar em conflitos com o poder colonial.

Cordialmente, Cherno Baldé  | 9 de novembro de 2023 às 00:12
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Nota do editor:

(*) Vd. poste de 8 de novembro de 2023 > Guiné 61/74 - P24832: S(c)em comentários (13): Éramos todos iguais mas uns mais do que outros... (Amadu Djaló dixit, mas por outras palavras)

quarta-feira, 8 de novembro de 2023

Guiné 61/74 - P24832: S(c)em comentários (13): Éramos todos iguais mas uns mais do que outros... (Amadu Djaló dixit, mas por outras palavras)


Lisboa > 2009 > O Amadu Djaló
(1940-2015)
no Cais do Sodré. 
1. Excerto do poste P24828 (*):

 (...) No final de 1972, eu era 2º sargento, estava com muitos anos de guerra, sentia-me muito cansado.

Num dia daqueles entrei no gabinete do major Almeida Bruno, comandante do Batalhão de Comandos, e pedi-
he que me transferisse para uma companhia africana. Depois de olhar para mim, mandou chamar o 1º sargento e pediu-lhe  o meu processo.

Começou a folheá-lo e, uns momentos depois, mandou chamar o tenente Jamanca. Nisto entrou o Marcelino da Mata e, logo a seguir o Jamanca.

O major, dirigindo-se ao Jamanca, perguntou-lhe  
porque é que ainda não tinha sido entregue o meu processo de promoção. Como o Jamanca ficou calado, o comandante voltou a fazer a pergunta e o Jamanca continuou calado. 

Nessa altura, o Marcelino disse  que no batalhão já se vendiam os postos e que era  por isso que não gostava de lá estar.

O comandante não ficou muito satisfeito com esta  
saída do Marcelino e mandou-o estar calado.

− Amadu, 
vais ser oficial. E a questão do vencimento vai resolver-se. (...) (**)

In: Amadu Bailo Djaló (Bafatá, 1940-Lisboa, 2015), "Guineense, Comando, Português: I Volume: Comandos Africanos, 1964 - 1974" (Lisboa, Associação de Comandos, 2010), pág. 242).

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Notas do editior;:

Guiné 61/74 - P24829: S(c)em comentários (12): As (des)ilusões de Luís Cabral... (António Rosinha, ex-topógrafo, TECNIL, Bissau, 1979-1993)


Guiné-Bissau > Região do Boé  (?) > 24 de Setembro de 1973 > Foto (e legenda) da revista PAIGC Actualités, nº 54, Outubro de 1973

"O Camarada Luís Cabral, secretário geral adjunto do nosso Partido, eleito Presidente do Conselho de Estado, seu representante nas relações internacionais, sendo igualmente o comandante supremo das Forças Armadas Revolucionárias do Povo (FARP)"...

No Arquivo Amílcar Cabral / Casa Comum, estas e outras fotos do dia 24 de setembro de 1973, o da proclamação unilateral da independência da Guiné-Bissau, por parte do PAIGC, partido revolucionário que se intitulou único e legítimo representante de todo o povo da ex-Guiné Portuguesa (!), são alegadamente  tiradas na  "região libertada de Madina de Boé" (sic), uma ficção que se mantem até hoje, 50 anos depois, mesmo contra toda a evidêncial factual... 

O PAIGC sempre foi um partido que viveu, no plano interno e externo,  da propaganda, do "show-off", do cinismo, da mentira (a começar pelos comandantes da guerrilha e dos comissários políticos que engavam o Amílcar Cabral com números fantasiosos de retumbantes vitórias militares,e alguns eram racistas e violentos para com a sua própria população), para não dizer até da capacidade de  sedução,  da basófia  e da "lata" (nomeadamente dos seus "diplomatas"... reclamando-se, nas instàncias internacionais,  do controlo, por exemplo, de 2/3 do território e de 400 mil habitantes, com estruturas que seriam as futuras bases do novo Estado independente: escolas hospitais, armazéns do povo, granjas, forças armadas, tribunais, gestão local, etc.).

 Já falámos, "ad nauseam", da ajuda sueca (alegadamente "desinteressada", "humanitária", "solidária",  etc.), que atingiu valores que chegaram aos 2,5 mil milhões (!) de coroas suecas [c. 269,5 milhões de euros] durante o período de 1974/75-1994/95 (sendo de 53,5 milhöes de coroas suecas, ao valor actual, ou sejam, cerca de 5, 8 milhões de euros, o montante correspondente ao período da "guerra de libertação", de 1969/70 até 1976/77)... 

Enfim, essa ajuda chegou a representar 5 a 10% do total do valor das importações da Guiné-Bissau...Ao fim destes anos todos, os suecos fecharam a torneira, ao descobrirem que estavam a mandar o dinheiro dos contribuintes para o lixo... 

A administração de Luís Cabral e, depois, do golpista  e tribalista'Nino' Vieira, dois heróis da liberdade da Pátria, infelizmente não conseguiram trilhar com sucesso os caminhos da liberdade, da justiça, da paz, da reconciliação e do desenvolvimento com que sonhara e por que lutara o "pai" da Pátria, Amílcar Cabral, hoje tão mal-amado e esquecido na sua própria terra, talvez  por ser meio-guineense e meio-cabo-verdiano...




Antº Rosinha , ex-fur mil em Angola, 1961/62, topógrafo da TECNIL, Guiné-Bissau, em 1979/93, ex-"colon" e retornado, como ele gosta de se intitular com a sabedoria, bonomia e o sentido de humor de quem tem várias vidas para contar... por que já as viveu (as "Berças", Angola, Brasil, Guiné-Bissau, Portugal pós-25 de Abril...)



Antº Rosinha disse (*)...

"Declarações de Luís Cabral que deplorava ter encontrado os cofres vazios, uma administração sem quadros", quer dizer, o aprendiz de colonialista, Luís, irmão de Amílcar, estaria à espera de uma passadeira vermelha e um abre alas com banda de música.

Depois de andarem 13 anos a dizer que não precisavam de nada do 'colon', que nós sabemos governar melhor e os nossos amigos vão-nos ajudar, admira a desilusão de Luís Cabral, com a debandada dos funcionários colonialistas.

De facto até parecia fácil governar as colónias portuguesas para quem conhecia bem aquela "paz colonial", por dentro e por fora, com a colaboração de funcionários como Luís Cabral, Amílcar Cabral, Aristides Pereira... em geral.

Para alguns correu bem, outros nem tanto. (**)


7 de novembro de 2023 às 19:10

quinta-feira, 6 de julho de 2023

Guiné 61/74 - P24454: S(C)em comentários (11): "Na imensidão da Lapónia a Natureza é uma das terapias espirituais" (José Belo)


Foto e legenda: Joseph Belo (2023) > "Na imensidão da Lapónia a Natureza é uma das terapias espirituais". 


1. Escrevi há dias (no passado dia 25 de junho...) ao José Belo, na sequência do assunto do(s) alce(s) que andava(m) a rondar a porta da Tabanca da Lapónia (*):

"José, será publicada, logo-logo (que possível...), o teu escrito, sem necessidade de invocares o democrático e universal direito de resposta em defesa da honra da tua bicharada de estimação, neste  caso o alce, que é um bicho cornudo, não é peixe e muito menos cherne (...).  

Que uma senhora, em Portugal,  mande "seguir o cherne", está no seu pleno direito, mesmo sabendo-se que era a esposa legítima de um candidato a primeiro-ministro. É "lobbying", mesmo que  encapotado.  De qualquer modo. seguir ou não o cherne, é uma decisão de cada eleitor num país livre e democrático. Mas na Suécia, que é uma monarquia constitucional, não passava pela cabeça de ninguém mandar "seguir o alce", confundindo-o com o cherne... Vou até à capital fazer uma Ressonância Magnética à cornadura... Cuida-te!... Luís

Em resposta, no mesmo dia, às 20:56, o nosso correspondente no círculo polar ártico (deve haver poucos blogues que se deem ao luxo de ter um correspondente naquela parte do planeta), mandou-me este "miminho de prosa" que eu transcrevo abaixo, e que só posso agradecer-lhe, desvanecido, por revelar desvelo, carinho e até empatia  em relação à minha pessoa que, como qualquer ser humano, também precisa (e consome) "cuidados de saúde" como, por exemplo, "ressonâncias magnéticas à cornadura" para detetar eventuais demências precoces como a "doença do Alemao".

Felizmente, José, não tenho nenhuma "neuropatia" (a avaliar pela bateria de testes e exames que me fizeram, uma neurologista, uma psiquiatra, uma hematologista, uma imagiologista,  um neuropsicólogo, um ortopedista e um fisiatra, para além da minha médica de família e do meu "personal trainer"...), pelo que não há razão nenhuma para o bom (mas preguiçoso) irã do poilão da Tabanca Grande não me escolher a mim (discriminando-me pela positiva), apontar-me o dedo e dizer-me, como o Jesus Cristo:  "Larga as canadinas e anda!"... (Zé, um milagresinho, depois do teu miminho, também me dava agora jeito, mesmo sabendo que na Tabanca da Lapónia é feio meter cunhas, e que, como diz o provérbio popular português, "quando Deus não quer, os santos não  ajudam"). (**)




2. Mensagem do J. Belo (régulo vitalício da Tabanca da Lapónia):

"Data - 25 jun 2023, 20:56

Assunto - Os cuidados com a saúde

Luís, aparentemente as maleitas näo estão a dar-te descanso.

Tendo em conta o que escreves,  estás a seguir as coisas de perto com as respectivas terapias.

Na imensidão da Lapónia a Natureza é uma das terapias espirituais. Alguns atiram-me à cara os meus privilégios económicos com os negócios,  sem compreenderem que o verdadeiro privilégio que disponho é esta natureza indiscritível.

Tu tens o nosso mar do Oeste que também é uma terapia espiritual e física."
____________

Notas do editor:

(*) Vd., poste de 20 de junho de 2023 > Guiné 61/74 - P24418: (In)citações (251): Sigamos o alce, que vem pachorrentamente pastar à porta do Joseph Belo, à hora do jantar...

(**) Último poste da série > 27 de junho de 2023 > Guiné 61/74 - P24434: S(C)em comentários (10): eu vi morrer na IAO, no CIM de Bolama, em 10/7/1972, no treino de dilagrama, o alferes Carlos Figueiredo e o soldado José Mata (António Carvalho, ex-fur mil enf, CART 6520/72, Mampatá, 1972/74)

terça-feira, 27 de junho de 2023

Guiné 61/74 - P24434: S(C)em comentários (10): eu vi morrer na IAO, no CIM de Bolama, em 10/7/1972, no treino de dilagrama, o alferes Carlos Figueiredo e o soldado José Mata (António Carvalho, ex-fur mil enf, CART 6520/72, Mampatá, 1972/74)

1. Comentário ao poste P24433 (*), que decidimos transformar em poste para a série "S(C)em comentários" (**). 

O autor é o nosso querido amigo e camarada António Carvalho, mais popularmente conhecido como o Carvalho de Mampatá, ex-fur mil enf,  CART 6250/72, "Os Unidos de Mampatá" (Mampatá, 1972/74), escritor, autor de "Um caminho de Quatro Passos", Rio Tinto: Lugar da Palavra Editora, 2021, 218 pp., vive em Medas, Gondomar;  tem 76 referências no nosso blogue; é membro da Tabanca Grande desde 13/9/2008.


Caro Luís: Sinto-me grato por nos trazeres (mais uma vez) a narração sentida de uma das tuas páginas do "livro" das coisas imorredoiras do nosso tempo da Guiné. 

O modo como contas a morte "matada" de dois azarados, ainda por cima resultante de um misto de negligência e jactância de um pretenso guerreiro, leva-me a uma profunda reflexão que me permitem agora os meus setenta e três anos. 

Houve, estou certo, muitos acidentes decorrentes da formação militar feita à pressa e da graduação atribuída a jovens de 21 anos, no meu ponto de vista, sem a maturidade exigível a comandantes. Mas a guerra obrigava a distinguir com galões os mais aptos fisicamente. 

Eu vi morrer na IAO, na ilha de Bolama, ao 13º dia de Guiné, no treino de dilagrama, o alferes Figueiredo,  de S. Pedro do Sul,  e o Mata,  de Pinhel. (***) Não vou aqui culpar nenhum deles, aliás, presumo que o acidente se deveu a uma deficiência do grampo que segura a alavanca. 

Mas foi muito perturbador para mim e para todos os presentes a morte, no dia 10 de Julho de 1972,  desses dois jovens, sendo o comandante um ano ou dois mais velho que o comandado. 

A guerra, sendo primordial (como bem dizes), ela é a opção mais imbecil do ser humano, porque resulta da desistência do diálogo e da reflexão sobre a singularidade da condição humana, bem distinta da relação primária entre os outros seres vivos.


Carvalho de Mampatá |
27 de junho de 2023 às 17:24 

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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 26 de junho de 2023 > Guiné 61/74 - P24433: Contos com mural ao fundo (Luís Graça) (2): Que Alá te proteja dos teus amigos, que dos inimigos cuidas tu!

(i)  Carlos Manuel Moreira de Almeida Figueiredo, natural de São Pedro do Sul, alf mil art , CCS/BART 6520/72, CIM Bolama, 10/7/1972; porto pro acidente com arma de fogo: 

(ii) José António Mata, natural de Pinhel, sold at, CART 6520/72, CIM Bolama, 
 10/7/1972; porto pro acidente com arma de fogo: 


A CART 6250/72 fez a IAO no CIM Bolama, entre 10 de junho e 26 de julho de 1972.


Vd. também poste de 5 de novembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21517: Pequenas histórias dos Mais de Nova Sintra (Carlos Barros, ex-fur mil at art, 2ª C/BART 6520/72, 1972/74) (10): Relembrando a morte, por acidente com um dilagrama, no CIM de Bolama, em 10/7/1972, do alf mil Carlos Figueiredo


(...) Caro camarada Barros

Subscrevendo o que disse o meu irmão mais velho (combatente na Guiné) Manuel Carvalho, não posso deixar de acrescentar mais alguma coisa sobre esse terrível acidente ocorrido em 10 de julho de 1972, no décimo terceiro dia após a nossa chegada, porque assisti a toda aquela cena e ao que se lhe seguiu. 

A minha companhia, a  CArt 6250, do RAP 2, cumpriu a sua missão em Mampatá, sector de Aldeia Formosa, mas fez a IAO convosco. 

Depois da tragédia, ambos os corpos foram postos junto dos bancos laterais de um Unimog, procurando os soldados sentados nesses bancos ocultá-los com as pernas. Dali foram para a capela do cemitério de Bolama. Coube-me,  bem como a mais alguns voluntários, limpar e vestir esses corpos mutilados. Dispenso-me de mais pormenores. O Mata, da minha companhia,  está sepultado na aldeia de Valbom, concelho de Pinhel, o Figueiredo está sepultado no cemitério de S. Pedro do Sul, num jazigo tipo capela, junto ao passeio do lado esquerdo, em relação ao portão principal. Sempre que passo por essas terras visito esses cemitérios. Porquê ? Não sei. (...)

António Carvalho ex-Fur Enf da CART 6250 (Carvalho de Mampatá)
6 de novembro de 2020 às 20:40

sexta-feira, 14 de abril de 2023

Guiné 61/74 - P24221: S(C)em Comentários (9): Atravessando uma bolanha em... Angola: artigo publicado "Jornal de Angola", de 2/4/2023, ilustrado com foto (pirateada...) do Humberto Reis, tirada no subsetor do Xitole, na margem direita do rio Corubal, no decurso da Op Navalha Polida (2-3 de janeiro de 1970)



Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá > Sector L1  (Bambadinca) > Subsector do Xitole > 2/3 janeiro de 1970 > Forças da CCAÇ 12 (na foto, o 2.º Grupo de Combate, dos furriéis milicianos Humberto Reis e Tony Levezinho). O Humberto vem atrás dos homens da bazuca e do lança-rockets (igual à dos páras). E, mais atrás, os 1.ºs cabos (metropolitanos) Alves e Branco. 

Não apareço na foto mas participei na Op Navalha Polida, em 2 e 3 de janeiro de 1970,  integrado desta vez no 4.º Gr Combate. Como me dizia amavelmente o meu capitão Brito - era um gentleman! - , eu era o peão das nicas, o tapa-buracas, o suplente, o que substituía os camaradas furriéis doentes, convalescentes, desenfiados ou em férias... Não sei por que carga de água é que os psicotécnicos me disseram que eu era bom para apontador de armas pesadas de infantaria. Como a CCAÇ 12 era uma companhia de intervenção, não tendo armas pesadas, eu tornei-me um polivalente, um pau para toda a obra... (LG)

Foto da autoria de Humberto Reis (ex-fur mil op esp, CCAÇ 12, Bambadinca, 1969/71). Tem sido imensa e despudoradamente  "pirateada" por aí, nas redes sociais, em livros, etc., sem referência ao autor e ao nosso blogue.

Foto:  © Humberto Reis (2006). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem de Fernando de Sousa Ribeiro (que integra a nossa Tabanca Grande desde 11/11/2018; foi alf mil, CCaç 3535 / BCaç 3880, Angola, 1972 / 74; tem 27 referências no nosso blogue): 

Data - 9 abr 2023 17:45
Assunto - Atravessando uma bolanha em... Angola
 
Boa tarde, Luis

Espero que tenhas tido uma boa Páscoa, apesar da morte recente da tua cunhada, que muito lamento.

Há um blog de um jornalista angolano, que por sinal é bastante tendencioso. O jornalista chama-se Luciano Canhanga, usa o pseudónimo Soberano Kanyanga, e o seu blog chama-se "Mesu Majikuka", que significa "Olhos Abertos" em quimbundo. 

Eu visito ocasionalmente o blog dele e, na última espreitadela que fiz, dei de caras com a fotografia do teu grupo de combate atravessando uma bolanha, como se a fotografia tivesse sido feita no Cuando Cubango no tempo da guerra civil angolana!

Aparentemente, a fotografia foi publicada no Jornal de Angola para ilustrar uma crónica do dito jornalista. A crónica também tem muito que se lhe diga, mas não é isso que agora me ocupa. O que me ocupa é o recorte do jornal, que pode ser visto no seguinte post:

http://mesumajikuka.blogspot.com/2023/04/kwitu-kwanavale-e-o-meu-representante.html




Folha de rosto do blogue Mesu Majikuka, e do poste de sábado, abril 08, 2023 > Kwitu Kwanavale e o meu representante. A foto que aqui se reproduz (e que é por sua vez de um artigo publicado pelo autor no "Jornal de Angola", em 2 de abril de 2023) foi tirada na Guiné, em 2 ou 3 de janeiro de 1970: retrata a atravessia de uma lala ou bolanha, de forças da CCAÇ 12, a caminho da península de Galo Corubal - Satecuta, na margem direita do Rio Corubal (Op Navalha Polida). Os créditos fotográficos são de atribuir a Humberto Reis e ao blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2006).

Aposto que não deste consentimento para a publicação da fotografia num jornal diário em Angola.

A sua publicação em Angola engana facilmente os incautos, pois, por um lado, o Cuando Cubango tem vastíssimas áreas alagadiças e, por outro, os uniformes camuflados usados pelas Forças Armadas Angolanas eram (ainda serão?) iguaizinhos aos que nós próprios usávamos. As FAA devem tê-los encomendado às OGFE em Portugal.

Quanto à fotografia propriamente dita, apetecia-me tecer algumas considerações, pois não gosto de alguns aspetos que vejo nela, mas isso agora não vem ao caso. Limito-me a dizer-te que me parece que ela documenta o que não se devia fazer numa situação como aquela.

Desculpa a minha sinceridade e aceita os meus votos de continuação de Boa Páscoa

Fernando de Sousa Ribeiro

2. Comentário de LG:

Obrigado, Fernando, pelo teu cuidado. Já regressei ao Sul, depois de quatro semanas no Norte a que uma parte de mim também pertence. (Aliás, basta ver o blogue A Nossa Quinta de Candoz, de que sou um dos editores.)

Quanto ao uso (e abuso) da tal foto pelo "Jornal de Angola"... Devo começar por esclarecer que: 

(i) a foto não é minha, é do meu amigo, camarada  e vizinho (de Alfragide) Humberto Reis, colaborador permanente do nosso blogue, ex-fur mil op esp, 2.º Gr Comb /  CCAÇ 12 (Bambadinca, 1969/71);  

(ii) eu, ex-fur mil arm pes inf, nunca tive pelotão distribuído, mas ao longo da comissáo andei mais com o 4.º Gr Comb e foi com eles que apanhei mais porrada;

(iii) concordo contigo: a malta do 2.º pelotão "fica mal na fotografia", ao atravessar aquela lala ou bolanha, no subsetor do Xitole, no decurso da Op Navalha Polida (2 e 3 de janeiro de 1970): serve para se mostrar o que não se deve fazer, num situação de guerra, uma morteirada em cima da malta e ia tudo ao charco...

Mas adiante: fizeste bem alertar-nos para mais um uso indevido desta foto... Não é o primeiro nem será o último. A foto da autoria de Humberto Reis, tem sido imensa e despudoradamente  "pirateada" por aí, nas redes sociais, em livros, em jornais, etc., sem referência ao autor e ao nosso blogue. 

Pessoalmente, não sei o que fazer mais para além de, mais uma vez, lembrar uma das dez regras básicas do nosso blogue, o respeito pela propriedade intelectual e pelos direitos de autor... É nossa preocupação habitual, na edição dos postes, de fazer a devida atribuição dos créditos fotográficos....

Procuramos cumprir e fazer cumprir o princípio da defesa (e garantia) da propriedade intelectual dos conteúdos aqui inseridos (texto, imagem, vídeo, áudio...). Gostamos de partilhar os nossos conteúdos, mas dentro da mais elementar das regras: qualquer outra utilização desses conteúdos, fora do propósito do blogue (ou da nossa página no Facebook), necessita de autorização prévia dos autores e dos editores (por ex., publicação em livro, jornal ou revista,  programa de televisão),,,

S(c)em (mais) comentários (*)...
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quarta-feira, 15 de março de 2023

Guiné 61/74 - P24144: S(C)em Comentários (8): "Meter o chico" não é uma expressão assim tão deselegante como pode parecer hoje: muito boa gente "meteu o chico", gostaram da guerra e por lá quiseram continuaram (António Graça de Abreu, autor de "Diário da Guiné", 2007)



BI militar do nosso amigo e camarada António Graça de Abreu: (i) ex-alf mil, CAOP1, Teixeira Pinto, Mansoa e Cufar, 1972/74; (ii)  membro da nossa Tabanca Grande desde 2007; (iii) tem 320 referências no blogue; (iv) é escritor,  autor de mais de 20 títulos, entre eles, "Diário da Guiné: Lama, Sangue e Água Pura" (Lisboa: Guerra & Paz Editores, 2007, 220 pp).


1. Comentário de António Graça de Abreu ao poste P24141 (*)

(...) Oh, Luís, "meter o chico" não é uma expressão tão deselegante como possa parecer hoje. Muito boa gente "meteu o chico." No nosso blogue temos um ror de camaradas, gente boa, que "meteu o chico", gostaram da guerra e por lá quiseram continuar. Alguns deles estão na génese do necessário 25 de Abril. Eu, que sou tudo menos perfeito, não tenho complexos de direita, nem de esquerda, não gosto é que me lancem poeira para os olhos. (...)

2. Ciberdúvidas da Língua Portuguesa > Consultório:

Pergunta: 

"Durante o tempo em que prestei serviço militar, era frequente designar por "Chicos" os militares do quadro permanente, e por «meter o chico» o acto de, após o serviço militar obrigatório, seguir a carreira militar. Gostaria muito de saber a origem dessa expressão. Muito obrigado."

José João Roseira  Eng. eletrotécnico reformado  Vila Nova de Gaia, Portugal  

Resposta:

"A expressão é de facto muito conhecida, com o sentido referido pelo consulente, mas infelizmente não encontro a sua origem comentada em nenhuma fonte. Talvez algum consulente nos possa dar uma pista."

Carlos Rocha  6 de setembro de 2010

in Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, https://ciberduvidas.iscte-iul.pt/consultorio/perguntas/a-origem-da-expressao-meter-o-chico-portugal/28744 [consultado em 14-03-2023]

3. No nosso blogue encontrámos uma referência (mas há mais...) à expressão "meter o chico": vd. excerto do poste P20240 (***)

(...) o termo 'chicalhada' era uma forma de se referir, em termos depreciativos, os oficiais e sargentos do quadro das Forças Armadas, o pessoal da carreira militar, os quais eram em geral muito mais velhos do que os soldados do contingente geral, os furriéis milicianos e os alferes milicianos. 'Meter o chico' era um termo depreciativo, designando uma acção desprezível de um furriel ou alferes miliciano que, no final da comissão, optava pela continuação na vida militar: veja-se por exemplo o Fado do Miliciano, do Cancioneiro do Niassa, que o J.M.A. Santos diz ser a versão do Exército do Fado da Marinha. (...)

S(c)em (mais) comentários... (***)
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Notas do editor:

sexta-feira, 10 de março de 2023

Guiné 61/74 - P24133: S(C)em Comentários (7): Ouvi um alto dirigente do MPLA, já depois da independência, dizer que o governo angolano deveria agradecer às Forças Armadas Portuguesas o facto de existir uma consciência nacional em Angola, em vez de uma pertença tribal somente (Fernando de Sousa Ribeiro, ex-alf mil, CCAÇ 3535 / BCAÇ 3880, Zemba e Ponte do Zádi, 1972/74)


1. Comentário (ao poste P24128) (*), assinado pelo Fernando de Sousa Ribeiro, que integra a nossa Tabanca Grande desde 11/11/2018; foi alf mil, CCaç 3535 / BCaç 3880 (Angola, 1972 / 74):

Fernando de Sousa
Ribeiro
Alguns anos depois da independência de Angola, ouvi um alto dirigente do MPLA dizer que o governo angolano deveria agradecer às Forças Armadas Portuguesas o facto de existir uma consciência nacional em Angola, em vez de uma pertença tribal somente. 

Explicou ele que, no serviço militar prestado nas fileiras das Forças Armadas Portuguesas, foram postos em contacto angolanos das mais diversas etnias e origens geográficas, o que os levou a descobrir que o que os unia era mais do que o que os separava.

Em Angola não havia "pelotões nativos", "comandos africanos" ou "companhias indígenas", cujos membros pertenceriam, na sua maioria ou mesmo na sua totalidade, à etnia A ou à etnia B. Havia apenas militares regulares, que eram jovens como nós, cumpriam o serviço militar obrigatório como nós e no fim passavam à "peluda" como nós. 

Assim como nas companhias e pelotões metropolitanos eram indiferenciadamente incorporados minhotos, alentejanos e transmontanos, também nas companhias e pelotões angolanos eram incorporados, sem distinção, ovimbundos, bacongos e quiocos. 

Nos últimos anos da guerra, esta mistura foi levada ainda mais longe, com a incorporação de militares angolanos em unidades e subunidades metropolitanas, que saíam de cá incompletas. Foi o que se passou com o meu batalhão, que teve alfacinhas, tripeiros e beirões misturados com luandenses, malanjinos e beguelenses. Tudo misturado. 

O resultado foi francamente positivo, na minha opinião.


Fernando de Sousa Ribeiro, ex-alferes miliciano da C.Caç. 3535, B.Caç. 3880


quarta-feira, 8 de março de 2023

Guiné 61/74 - P24128: S(C)em Comentários (6): Penso que Salazar sabia que não era com homens e armas que ganhávamos aquela guerra (António Rosinha)


Angola > 1961 > Desfile de tropas > O Rosinha, furriel miliciano aparece aqui em primeiro plano, assinalado com um X. Repare-se no tipo de armamento, obsoleto, das NT: pistola-metralhadora FBP, para os graduados; espingarda Mauser, para as praças, capacete de aço para todos; farda: caqui amarelo e polainas, como na Flandres...

Foto (e legenda): © António Rosinha (2006). Todo os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

1. Comentário do António Rosinha ao poste P24119 (*):

Antº Rosinha foi fur mil em Angola, 
1961/62; e depois topógrafo da TECNIL, 
na Guiné-Bissau,  em 1979/93...
Aqui, em Pombal, em 2007,
 no II Encontro Nacional da
Tabanca Grande. 
Foto: LG (2007)
Se começou tudo numa desordem total (1961), e sabemos que o fim foi um-deus-dará, como é que não devia ser um eterno improviso durante toda a guerra?

Nunca ninguém viu uma secção abandonada, sem Companhia, quer militarmente quer administrativamente?

Num posto isolado durante alguns meses, 
onde havia apenas dois pequenos comerciantes daqueles do mato, nem chefe de posto havia?!... Era e será hoje, esse lugar um autêntico cu de judas.

Após alguns meses abandonados, ou 
esquecidos, será este o melhor termo, esses oito ou nove rapazes, uns brancos outros mulatos, outros assim assim, em finais de 1961 em Angola no Quanza Norte, já não tinham farda nem botas ou sapatos militares em condições, remediavam-se com alguma roupa civil, sem qualquer transporte nem rádio, incomunicáveis portanto.

Tinham mausers, uma metralhadora e um morteiro e respectivas munições, estas com relativa fartura.

A alimentação, o furriel e um dos cabos (havia mais que um cabo) assinavam uns vales aos dois comerciantes que ali havia, e lá se resolveria um dia, esses vales era uma tradição angolana antes da guerra, não era muito estranho.

O ambiente psicológico é que já era explosivo, ao ponto de o furriel apanhar uma boleia de um camionista e foi bater à porta da companhia que os abandonou, mais de 40 Km,  e requerer um médico.

Conheço esta história porque fui eu substituir esse furriel que, de facto, esse rapaz estava mesmo a "bater válvulas" como se dizia a quem precisava de psiquiatra.

Tive sorte de não ter de pegar em armas, ao contrário do que aqueles rapazes tinham sofrido nos meses anteriores, antes de serem esquecidos naquele lugar, e passados uns 3 meses por meios que seria um excesso relatar aqui, fomos passar o Natal a Luanda com tudo resolvido e mais ou menos prontos para esquecer.

Um daqueles cabos ainda antes do Covid reuníamos em almoço anual do Regimento de Luanda e nos lembramos do barril de 100 litros que deixámos em duas asnas, já meio vazio no hall de entrada da casa abandonada de comerciante, que nos servia de quartel.

Tive sorte nesta guerra, sem tiros, só na caça e só por obrigação, que detesto caçar.

Por mim ainda havia dinossauros e não se tinha colonizado ninguém, nem os romanos nos tinham colonizado.

Penso que Salazar sabia que não era com homens e armas que ganhávamos aquela guerra.(**)

5 de março de 2023 às 23:57 

segunda-feira, 6 de março de 2023

Guiné 61/74 - P24122: S(C)em comentários (5): E no Geba, às portas de Bafatá, cantava-se, em 1967: "Oh! São, oh São / E o vento mudou / E ela não voltou / E ela partiu / P... que a pariu, Nunca mais ninguém a viu..." (A. Marques Lopes, cor inf ref, DAF)

Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá > Geba > CART 1690 (1967) > "Aqui era a nossa discoteca... Aqui cantávamos a Sandie Shaw e o Eduardo Nascimento... E bebíamos uns 'shots' valentes", diz o A. Marques Lopes (o terceiro a contar da esquerda).


Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá > Geba > CART 1690 (1967) > Igreja de Geba, onde já ninguém ia rezar... Devia ser de meados dos anos 30 do séc. XX, e estava em estado de grande degradação. Havia um projeto da ONG Viver100Fronteiras para a sua reconstrução.

Fotos do álbum de A. Marques Lopes, um dos históricos do nosso blogue, coronel inf, DFA, na situação de reforma, ex-alf mil da CART 1690 (Geba, 1967) e da CCAÇ 3 (Barro, 1968). 

Fotos (e legendas): © A. Marques Lopes (2005). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Lembram-se da Sandie Shaw, e da sua "Pupet on the string" (Marioneta, à letra, em português), um dos grandes êxitos do "hit parade" musical do ano de 1967? Foi com esta canção que a provocante inglesa Sandie Shaw (n. Londres, 1947) ganhou o Festival Eurovisão da Canção de 1967, em Vienba... Ainda por cima teve a irreverência de cantar desçalça, naquela época, por protesto, dizia-se, pela conservadora BBC ter pensado seriamente em "tirar-lhe o microfone" depois descobrir que a rapariguinha andava envolvida numa cena de adultério... 

Com 20 aninhos, imaginem, e aquelas hormonas todas a fervilhar!... Ficou no goto dos rapazes de Geba que deviam ter sensivelmente a mesma idade que ela ...e tinham testosterona para dar e vender...


2. Já o Eduardo Nascimento, um pouco mais velho (nascido em Angola, em 1944) era um pacato rapaz lusitano, tal como o Eusébio... Tem hoje direito a entrada na Wikipédia, onde se diz uma infâmia: que terá ido ao Festival Europeu da Canção por vontade expressa de Salazar, quando um "pretinho" dava jeito à máquina de propaganda do Estado Novo...

(...) Líder do conjunto angolano Os Rocks, participou num dos concursos de música ié-ié, realizados no Teatro Monumental, em Lisboa. Em 1967 perenizou-se com o tema O Vento Mudou, vencedor do Festival RTP da Canção

A música foi representar Portugal no Festival Eurovisão da Canção, realizado em Viena, ficando em 12º lugar (ex-aequo com a Finlândia), entre dezassete países. 

Eduardo Nascimento foi o primeiro negro a pisar os palcos da Eurovisão. Dizia-se na altura que tinha sido Salazar quem quisera que Eduardo Nascimento representasse Portugal, para provar que não era racista. O tema viria a ser gravado pelos Delfins, por Adelaide Ferreira e pelos UHF. 

Com Os Rocks Nascimento gravou ainda dois EP (...). O cantor continuou a actuar com Os Rocks até 1969, altura em que voltou para Angola e abandonou a carreira musical. Posteriormente veio a exercer funções na TAP." (...)

Os rapazes do Geba, às portas de Bafatá, cantarolavam, em 1967, uma paródia de "O Vento Mudou", numa típica manifestção de bom humor de caserna: 

"Oh! São, oh São, 
E o vento mudou, 
E ela não voltou....
E ela partiu,
P... que a pariu,
Nunca mais ninguém a viu..." 
 
3. O nosso camarada Nuno Nazareth Fernandes, autor da música, ex-alf mil, BENG 447 (Brá, Bissau, 1972/74), radialista em Bissau, no PIFAS, membro da nossa Tabanca Grande, nº 684,  já aqui desmentiu categoricamente essa "boca foleira" (que vai ficar na Wilipédia!), afirmando que no Festival RTP da Canção de 1967, "o Eduardo Nascimento ganhou com o todo o mérito, porque era a melhor canção, e rompia com o chamado nacional cançonetismo", e sendo  falso que o Salazar tenha imposto o seu nome para ir ao festival da Eurovisão (**).

Reiteramos as nossas desculpas ao Eduardo Nascimento e ao Nuno Nazareth Fernandes. 

S(C)em Comentários (***). 

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Notas do editor:

(*) Vd. postes de:


5 de março de 2023 > Guiné 61/74 - P24121: S(C)em comentários (4): A Massiel de Ingoré, ou melhor, a cantora espanhola, que venceu o Festival da Eurovisão da Canção em 1968, e que deu a alcunha à autometralhadora Daimler ME-78-63, ao tempo em que o nosso Zé Teixeira passou por lá (e também deu uma voltinha com ela...), entre maio e julho de 1968

(***) Último poste da série > 5 de março de 2023 > Guiné 61/74 - P24121: S(C)em comentários (4): A Massiel de Ingoré, ou melhor, a cantora espanhola, que venceu o Festival da Eurovisão da Canção em 1968, e que deu a alcunha à autometralhadora Daimler ME-78-63, ao tempo em que o nosso Zé Teixeira passou por lá (e também deu uma voltinha com ela...), entre maio e julho de 1968

domingo, 5 de março de 2023

Guiné 61/74 - P24121: S(C)em comentários (4): A Massiel de Ingoré, ou melhor, a cantora espanhola, que venceu o Festival da Eurovisão da Canção em 1968, e que deu a alcunha à autometralhadora Daimler ME-78-63, ao tempo em que o nosso Zé Teixeira passou por lá (e também deu uma voltinha com ela...), entre maio e julho de 1968


Guiné > Ingoré > 1968 > CCAÇ 2381 (1968/70) > O 1º cabo auxiliar enfermeiro José Teixeira, dando uma voltinha  numa autrometralhadora Daimler, no início da sua comissão que o levaria do Cacheu (Ingoré) até ao Sul, às regiões de Quínara (Buba, Empada) e Tombali (Quebo, Mampatá, Chamarra).

O veículo tem a matrícula ME-78-63. Viemos a descobrir que  a alcunha, Massiel, era uma homenagem à cantora espanhola María de los Ángeles Félix Santamaría Espinosa (nascida em Madrid, em 1947), mais conhecida como Massiel, que no ano de 1968 havia vencido o Festival Eurovisão da Canção em Londres, à frente do concorrente da casa, e o favorito (com a canção "Congratulations"), Cliff Richard. A canção vencedora chamava-se "La, la, la". (Vd. aqui o vídeo no You Tube, 2' 02''.)

Ora cá temos, mais uma cançonetista em voga na época, outra mulher, a seguir à Sandie Shaw (*), a ser homenageada pelos rapazes das Daimler...  O Pel Rec Daimler deveria ser o mesmo do tempo do Manuel Seleiro, o 2043 (Ingoré e São Domingos, maio de 1968/ março de 70).(**)

Foto (e legenda): © José Teixeira (2005). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].


1. Não sabíamos, até há pouco tempo quem era a Massiel, mas sabemos, desde 2005, quem é o nosso querido amigo e camarada José Teixeira, um dos históricos régulos da Tabanca de Matosinhos... e que tem no nosso blogue nada menos do que cerca de 4 centenas de referências...  E foi, na guerra, um simples (mas valente) 1º cabo auxiliar de enfermagem... É ele mesmo quem se apresenta:

(i) "Fui enfermeiro de campanha na CCAÇ 2381. Fui para a Guiné em fins de Abril de 1968 e regressei em Maio de 1970. Estacionei cerca de 3 meses em Ingoré, no Norte, onde a companhia fez o seu treino operacional [de maio a julho de 1968].

(ii) "Seguimos depois para Buba e fixámo-nos em Quebo (Aldeia Formosa), [no final de Julho de 1968]. Aí a CCAÇ 2381 teve como missão fazer escoltas de segurança às colunas logísticas de abastecimento entre Aldeia Formosa/Buba e Aldeia Formosa/Gandembel, ao mesmo tempo que garantia a autodefesa de Aldeia Formosa, Mampatá e Chamarra;

(iii) "Regressámos a Buba, em Janeiro de 1969, para servirmos de guarda às equipas de Engenharia que construiram a estrada Buba/Aldeia Formosa;

(iv) "Face ao desgaste físico/emocional fomos enviados, a partir de 1969, para Empada onde vivemos os últimos meses de Comissão".
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 27 de fevereiro de 2023 > Guiné 61/74 - P24104: Sem Comentários (2): A cantora descalça, Sandie Shaw, britânica, vencedora do Festival Eurovisão da Canção (Viena, 1967) que deu o nome a uma Daimler, a ME-90-93, do Pel Rec Daimler 1130 (Ingloré e São Domingos, 1966/68)

(**) Último poste da série > 4 de março de 2023 > Guiné 61/74 - P24116: S(C)em comentários (3): "A gratidão é uma doença canina que não se transmite ao homem"

sábado, 4 de março de 2023

Guiné 61/74 - P24116: S(C)em comentários (3): "A gratidão é uma doença canina que não se transmite ao homem"



Parece que chegou  ao fim um dos mais notáveis blogues da nossa blogosfera (*): "Espaço aberto a antigos Oficiais da Reserva Naval na publicação de documentos, relatos, imagens e comentários. Um meio de comunicação e participação na divulgação do legado histórico da Reserva Naval da Marinha de Guerra Portuguesa"...



1. Comentário de Tabanca Grande Luís Graça ao poste P24095 (*):

A gratidão... Uma das coisas mais belas de que o ser humano é capaz... Outros animais como o cão (doméstico) também são capazes de mostrar "gratidão" ao seu "dono" (que o salva, o alimenta, o cuida, o protege, o ensina...). 

Dizem os etólogos (os especialistas em comportamento animal). Diz também quem tem animais de estimação. Eu não gosto nem de cães nem de gatos. Traumas da infância.

Mas os seres humanos são mais complicados... Há até uma frase que é lisongeira para os cães e cruel para os homens. "A gratidão é uma doença canina que não se transmite ao homem"... E os grupos, as organizações e as instituições que o homem cria ainda são piores.

O "homo sapiens sapiens" ao fim de algumas centenas de milhares de anos de evolução continua a ser um primata, territorial, social, omnívoro, predador... (o maior que habita o planeta). Somos capazes do melhor e do pior. A gratidão está do lado das coisas boas, de um dos pratos da balança. Mas somos capazes do oposto, a ingratidão e outros sentimentos e comportamentos negativos: o egoísmo, a inveja, a par da intolerância, da estupidez, da arrogância, da crueldade, do prazer sádico (por exemplo, de matar e torturar), do racismo, da xenofobia, etc., etc.

Somos capazes, por outro lado, de sentimentos e comportamentos altamente positivos, como o amor, a amizade, a abnegação, a solidariedade, a camaradagem, o altruísmo, a empatia, a compaixão...

Mas vamos ao ponto em que tu, MLS (Manuel Lema Santos) (*), tocas: as nossas organizações (das associações profissionais aos clubes, das escolas às empresas, das igrejas aos partidos, etc.) não têm uma cultura de gratidão... Mesmo aquelas cuja missão é orientada por valores "nobres", como a saúde, a educação, a ciência, a solidariedade, etc...

Nas nossas empresas (em geral), na universidade, e por aí fora, a cultura do "mérito" tem levado ao paroxismo da competição 'versus' cooperação, entreajuda, trabalho em equipa, poder partilhado, etc... "Empowerment", "achivement", "autorrealização", "leadership", sucesso, triunfo, métricas, avaliação, certificação, acreditação, excelência, etc. é o que se ensina nas escolas de gestão... Não há lugar para os mais "fracos", os que têm um momento de dúvida ou de fraqueza, os que falham, os que têm distúrbios emocionais, os que não sabem lidar com o stress ou sofrem um surto psicótico...

Gratidão ?... "Human touch" ?... Não, são termos que não entram no vocabulário das novas organizações, e dos seus novos colaboradores ou parceiros... Mas já não entravam nas "velhas" organizações do nosso tempo (que já passou)...

Somos todos ingratos. E todas as pátrias são ingratas para os seus velhos combatentes. Sempre foi assim. Porque lhes fazem lembrar coisas que todos querem esquecer, e que eles não podem... Ingratidão, é isso. S(C)em (mais) comentários. (**)

26 de fevereiro de 2023 às 00:17
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 25 de fevereiro de  2023 > Guiné 61/74 - P24095: Blogues da nossa blogosfera (179): "Reserva Naval", criado e mantido pelo nosso camarada Manuel Lema Santos, chega ao fim... por razões pessoais e familiares do autor (mas também, em parte, pelo cansaço bloguístico e pela ingratidão das nossas instituições e associações)