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terça-feira, 16 de fevereiro de 2021

Guiné 61/74 - P21907: Memórias de José João Braga Domingos, ex-Fur Mil Inf da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4516/73 (8): "As colunas para Farim e Guidaje", "Os engraxadores" e "As ostras de Bissau"


Guiné > Região do Oio > K3 > 1973 > O José João Domingos: paragem da coluna para Farim

Foto (e legenda): © José João Domingos  (2021). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Continuação da publicação das memórias, em curtas estórias, do nosso camarada José João Domingos (ex-Fur Mil At Inf da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4516 (Colibuía, Ilondé e Canquelifá, 1973/74):


22 - AS COLUNAS PARA FARIM E GUIDAJE

A partir de outubro passamos a fazer segurança às colunas de Bissau para Farim, às quintas-feiras, com passagem em Nhacra, Mansoa, Cutia, Mansabá e K3, tendo substituído uma companhia independente de açorianos (ou madeirenses) que, já com a comissão cumprida, estava a ser bastante castigada.

Em novembro ou dezembro, uma das colunas estendeu-se a Guidaje. Lá fomos andando, um bocado receosos, porque uns meses antes tinha sido um fim do mundo naquela zona. Até Binta tudo correu bem mas, a partir daí, as coisas complicaram-se porque o comandante do esquadrão das Panhard, com justa prudência, exigia um carro rebenta minas com um rodado semelhante ao daqueles veículos. O rodado da Berliet que desempenhava tal função não cobria o rasto daqueles carros. Vai não vai, anda não anda, e lá foi um Unimog a desempenhar a função.

Pelo caminho, metia respeito observar os sinais dos combates ocorridos em maio de 1973, quando ainda estávamos na Metrópole, com várias viaturas militares consumidas pelo fogo, perto da picada. Mas, enfim, lá chegámos a Guidaje sem contratempos.

Enquanto nos instalavamos fomo-nos apercebendo do estado psicológico de grande desânimo em que se encontravam os camaradas ali colocados, apesar de seis meses passados sobre a ocorrência. Mostraram-nos um dos abrigos onde teriam morrido vários camaradas, as valas onde também morreu gente e, mais impressionante, as campas de algumas das vítimas das flagelações e combates que, creio, repousam hoje nas suas terras de origem, graças ao trabalho de camaradas que não os esqueceram.

Estivemos até tarde à conversa, ouvindo camaradas a contar as situações horríveis por si vividas, contadas de forma dorida, não para impressionar periquitos, antes buscando uma palavra de ânimo e solidariedade de outros que, mais novitos e não tendo passado por situação semelhante, estavam ainda com alguma força psíquica para os animar.

De manhã cedo, o regresso, que tardou porque quem tinha a incumbência de fazer a segurança não estava para isso. Conversa e mais conversa, lá chegaram a um consenso, mas fiquei com a impressão de que segurança não houve, apenas sorte, mais uma vez.



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23 - OS ENGRAXADORES

Nas deslocações a Bissau tinha por hábito frequentar o café do Bento, 5.ª Rep, embora também fosse, por vezes, ao Império e à Ronda.

Mal o cliente se sentava na esplanada apareciam miúdos guineenses a oferecer os seus préstimos, de engraxador de sapatos ou de fornecedor de mancarra.

No caso dos engraxadores, se o cliente estava recetivo, acordava-se o preço, conforme fossem sapatos ou botas o calçado a engraxar. Se o cliente não queria o serviço o garoto mantinha-se perto dos sapatos, normalmente com bastante pó, e, como quem não quer a coisa, ia passando a escova num dos sapatos e insistindo na prestação do serviço que o eventual cliente ia rejeitando. Porém, quando este olhava para os pés verificava que um dos sapatos estava bastante mais limpo que o outro e acabava muitas vezes por contratar a engraxadela.

Um exemplo concreto de que a necessidade aguça o engenho.


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24 - AS OSTRAS DE BISSAU

Instalados no Ilondé, desde outubro de 1973, passamos a usufruir de vez em quando do consumo de ostras em Bissau.

Vários estabelecimentos de Bissau vendiam ostras mas, não sei porquê, frequentava sempre um estabelecimento que ficava no passeio do Pelicano, mais ou menos ao meio da rua, quase em frente ao Mussá, e tinha uma pequena esplanada.

Pedíamos travessas de ostras, que eram enormes, e, munidos de uma pequena faca, lá íamos abrindo as ostras que mergulhávamos no molho de limão bem picante e acompanhávamos com cerveja que, na altura, já era fabricada na Guiné. As cascas eram depositadas numa enorme caixa de cartão.

Mas, para além do petisco, a casa apresentava outra atração consubstanciada no jovem guineense que servia os clientes, de seu nome Joãozinho, que por acaso já tinha estado em Lisboa.

Dava gosto ouvir as suas histórias das quais me lembro de duas.

A primeira: Joãozinho não acreditava que a ponte sobre o Tejo, em Lisboa, tivesse sido feita com intervenção humana, antes tinha brotado espontâneamente do mar e ninguém o convencia do contrário.

A segunda: na sua estada em Lisboa, Joãozinho foi visitar o Jardim de "Orloge", como ele dizia, e, durante a visita aos répteis, saiu disparado (“no goss”) do recinto com medo “dos cobra”.

Perante a amostra é fácil perceber porque nunca mudei de fornecedor de ostras.

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Nota do editor

Último poste da série de 13 de fevereiro de 2021 > Guiné 61/74 - P21894: Memórias de José João Braga Domingos, ex-Fur Mil Inf da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4516/73 (7): "O Alberto", "O Sipaio" e "O expresso de Ilondé"

segunda-feira, 17 de agosto de 2020

Guiné 61/74 - P21263: No céu não há disto... Comes & bebes: sugestões dos 'vagomestres' da Tabanca Grande (14): No "Chez Alice", as ostras da Lagoa de Óbidos




Lourinhã > Julho e Agosto de 2020 > "Chez Alice" e Restaurante "Atira-te ao Mar" > Ostras ao natural... (São da Lagoa de Óbidos).


Fotos (e legenda): © Alice Carneiro  (2020). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Depois destes meses todos (e já lá vão quase seis!)  de pandemia de COVID-19,  com as todas as medidas que nos impuseram "por mor da saúde pública" (confinamento, distanciamento social, máscara, higienização das mãos e das superfícies, etc.), e  agora em pleno agosto (o nosso outrora "querido mês de agosto"...), estamos todos a recordar coisas antigas e aprender coisas novas: por exemplo, fazer "férias cá dentro",  matar saudades dos entes queridos e dos amigos,  redescobrir os nossos sabores, as nossas comidinhas).

Os nossos vagomestres da Tabanca Grande não têm dado notícias. Mas, nós, por cá, na Tabanca da Lourinhã, continuamos a deixar algumas iguarias, junto ao tronco do nosso  poilão,   porque é preciso alimentar os nossos bons irãs...que nos protegem (a saúde mental). 

Como os nossos leitores já sabem, aqui  não comemos tudo o que cozinhamos, ou melhor, o que a "Chef" cozinha no "Chez Alice"... ou que partilhamos com outros amigos, como os "Duques do Cadaval", do Restaurante "Atira-te ao Mar", no Porto das Barcas, Atalaia, Lourinhã, e outros que nos visitam como o Zé Teixeira e família, do Padrão da Légua. Matosinhos,. e que passam também a ser membros de pleno direito desta tabanca moura.

Por acaso, o petisco  de hoje não dá partilhar. Esta semana são (ou foram) ostras. Ora  as ostras nunca sobram, ficam só as cascas (, que, trituradas, sõa boas para dar às galinhas, mas a gente não criação, cá na Tabanca ). Também não sabemos se os irãs gostam de ostras. Admitindo que não, mais sobram para nós.

O único "senão" da ostra é que dá trabalho a abrir.  É preciso um abre-ostras e o ato tem a sua arte & ciência.  O "Duque do Cadaval" é o mais perito de todos... A abrir (e  a comer) ostras, não há pai para ele... Depois é só só limãozinho (e gelo, para quem gosta de as comer mais fresquinhas)...

 
Em louvor das ostras da Lagoa de Óbidos

por Luís Graça


Não, não há ostras, na festa da Atalaia, Lourinhã.
Não sei porquê,  se é um festival de marisco... 
Os portugueses não gostam de ostras,
também não sei porquê.
Mas também não importa,
este ano não haverá festa da Atalaia, Lourinhã,
nem a do Seixal, Miragaia, Marteleira ou Ribamar.
Calaram-se os santos e as santas padroeiras.
Diz o povo etem razão:
"Quando Deus não quer, mudos estão os santos".

Mas, felizmente, há ostras.
Foi preciso o confinamento
para eu voltar a comer ostras.
Há muito tempo que as não comia,
e que saudades,  deus meu!

Os franceses, ou melhor, os parisienses, 

adoravam as nossas ostras.
E acompanhavam-nas com champanhe... 
E as melhores do mundo
eram les portugaises, diziam.

Crassostrea Angulata, dizem os biólogos marinhos.

Os refugiados europeus
que encontraram um Portugal um porto de abrigo
no meio da barbárie que foi a II Guerra Mundial,
adoravam a nossa ostra
e a nossa lagosta
e a nossa amêijoa,
the  small Portuguse female clams
with garlic and coriander,

vulgo amêijoa à Bulhão Pato. 

Até que veio a industrialização, 

a siderurgia nacional, 
as químicas do Barreiro, 
a ponte,
as lisnaves, 
os superpetroleiros,

e as tintas dos barcos,
o capitalismo sem rei nem roque,
e mataram o Tejo e o Sado
e as ostras do estuário do Tejo e do Sado...

Estupidamente,
como todas as mortes ecológicas por ação humana.

Só agora, lentamente,
estamos a recuperar a ostreicultura nacional, 
no Tejo, no Sado,
na ria de Aveiro,
na lagoa de Óbidos,
na ria Formosa, no rio Mira,
e por aí fora...
Temos condições excecionais
para esta fileira da atividade económica
ligada aos recursos marinhos.
Uma mina de ouro, dizem-nos.

Confesso:
aprendi a comer ostras em Bissau,
à beira do Geba,
no intervalo da guerra...
Ao natural, as ostras,
apenas com lima e piripiri.
Passei por Tavira
mas não me lembro das ostras que lá comi.
Se é que havia ostras, no último trimestre de 68,
na ria Formosa que servia de campo de tiro.
E, se as comi, eram amargas.
 
Se calhar, a maior parte de nós,
dos ex-combatentes,
aprendeu a comer ostras em Bissau...
Calhaus de ostras!...
Conglomerados!...
Com molho de lima e piripiri...
Passava-se um tarde
a matar a fome e a sede, 
à volta de uma travessa de ostras,
longe do Vietname,
que começava logo ali a partir de Nhacra.
A 20 pesos a travessa.
Não havia exercício mais anti-stressante
do que esse, de abrir e comer ostras,
nas esplanadas de Bissau,
à beira rio, com o cheiro a tarrafe,
e saudades do Tejo ou do Douro,
cada um tinha o seu rio de estimação.

Não, não  havia depuradoras,
mas nunca apanhei nenhuma diarreia.
Talvez por sorte.
Em Bambadinca, no rio Geba Estreito,
não havia ostras,
mas havia belíssimos lagostins
a 50 pesos, na tasca do Zé Maria Turra.
Entre duas saídas para o mato,
no intervalo da guerra.
Outro dos nossos exercícios anti-stressantes.

Hoje nem pensar comê-las, às ostras,
na Guiné-Bissau...
Já não há ostras em Bissau...
Há uma imensa cloaca a poluir a ria, o canal.
Talvez em Quinhamel, dizem-me...
E quando lá voltei, em 2008,
nem sequer o caldo de ostras provei,
com pena minha...
O famoso pitche-patche de ostras
da nossa querida Guiné-Bissau.

Depois do 25 de abril,
gostava de ir a Vigo,
comer ostras das rias Baixas.
Nunca fui a Vigo, antes do 25 de Abril.
Muito menos antes da tropa.
Seria logo considerado refratário.
Não tinha sequer passaporte,
Nem mo dariam,
Era um luxo só para alguns privilegiados.

Temos excelentes vinhos brancos,
a começar pelo Verde e os Espumantes,
para acompanhar as ostras ao natural...
São um manjar do pecado...
(Por que é que todas as coisas boas da vida
são pecado, meu deus ?)
Um sabor intenso, a maresia,
a sol, a sal, a azul,
como diria o meu poeta O'Neil
que tinha costela céltica...
Os portugueses são mais fálicos,
gostam mais de percebes...

O'Neil devia gostar de ostras,
que são femininas e delicadas como as amêijoas.

Temos uma gastronomia riquíssima
ligada aos frutos do mar,
de Norte a Sul do país...
Oxalá saibamos defender,
preservar e valorizar,
cada vez mais  este manjar dos deuses,
que são os crustáceos, os bivalves,
o peixe, as algas,
e todas as coisas boas que o mar nos dá...
O polvo, a navalheira,
a sapateira, a sardinha,
a cavala, a sarda, a raia,
outrora comida dos pobres da minha terra.
Mais as lapas e os ouriços e os burriés.

No céu não há disto,
os deuses e os heróis têm que vir cá baixo
comer estes petiscos...
Partindo do princípio
que têm baixo ventre 
e os mesmos baixos apetites dos humanos.

A sobrepesca, a apanha de alhas,
a pesca de arrasto, a poluição urbana e industrial,
as alterações climáticas,  o tráfego marítimo, 
a caça submarina, 
os adubos  e os pesticidas da agricultura intensiva
e muitos outros horrores
deram cabo de muita coisa boa,
ligada aos nossos sabores ancestrais
de quando éramos simples recoletores,
mariscadores, pescadores artesanais
e caçadores oportunísticos.
Ainda não éramos  os temíveis predadores de hoje.

Felizmente que há coisas 
que estão a recuperar, 
por exemplo, as ostras.
Há  ostras aqui ao lado,
da nossa bela lagoa de Óbidos,´
a maior de Portugal,
e que dá de comer
a mais de duas centenas de mariscadores.
Só é pena que a lagoa não vá banhar
as muralhas da bela vila das rainhas,
como no passado.
 
O sucesso da ostra nas nossas rias e lagoas
é um bom sinal:
são amigas do ambiente
e são capazes de filtrar 200 litros de água por dia...

Lourinhã, 15 de agosto 2020.
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Nota do editor:

quinta-feira, 28 de novembro de 2019

Guiné 61/74 - P20391: (De)Caras (144): A liberdade que as motos e as motorizadas nos davam... Ia-se de Bissau a Safim, Nhacra, Ensalma, João Landim... (Virgílio Teixeira, ex-alf mil SAM, CCS/BCAC 1933, Nova Lamego e São Domingos, 1967/69)



Foto nº 1 >  Guiné > Região de Bissau >  11 de março de 1968 > Ponte sobre o rio Mansoa, em Ensalmá (, inaugurada em 1952). De motorizada, o fur mil SAM Riquito (Peugeot) e o alf mil SAM Virgílio Teixeira (Honda)


Foto nº 2 > Guiné > Região de Bissau > 11 de agosto de 1968 > Rio Mansoa, João Landim, junto à "famosa jangada"---


Foto nº 3 > Guiné > Região de Bissau > Nhacra, piscina do quartel, 11 de março de 1968


Foto nº 4 >  Guiné > Região de Bissau > Nhacra, piscina do quartel, 11 de março de 1968: um salto mortal...


Fotos (e legendas): © Virgílio Teixeira  (2019). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Comentário ao poste P20386 , com data de 27 nov 2019, 23h33,  de Virgílio Teixeira,   ex-al mil SAM, CCS/BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1965/67) (*):


Luís, só agora estou a ver estas fotos, excelentes, e de motas a sério, bem como esta mensagem.

Virgílio Teixeira (*)
A minha foto de Safim, está correcta, é em março de 1968, quando o meu batalhão esteve um mês em Brá. Era uma Peugeot, acho que de 50 cc, uma coisa de dar gás, mas que me levava a todo o lado.

Virgílio Teixeira (*)
Depois temos outra em Bissau, na minha nova Honda de 50 cc, ali ao lado era onde se realizava o famoso mercado de Bandim.

Não sei se já foi enviada, estão tantas em postes, mas esta em João Landim (Foto nº 2), junto à jangada que me levou para a outra margem, já não sei o nome do local. Jugudul,  talvez, A mota, que não sei a marca, era de um outro militar, furriel, que está junto de mim.

Tenho outra que também junto, numa outra altura, em que estou eu e o meu Furriel Riquito, na ponte de Ensalma (foto nº 1), e são ambas minhas, a Peugeot e a Honda, mais nova, que tinha lugar para passageiro.

Vejo agora que não tinham matrículas, não devia ser preciso, há aqui uns anos de diferença, ou as motas tinham que ter a matricula ?!

Ambas foram compradas na mesma casa aqui referida, era o representante da Peugeot, e outras marcas e comprei lá ambas, acho que custaram uns 5 contos cada. Não sei o que fiz delas, penso que as deixei por lá, não vendi nada, isso eu sei.

António Martins de Matos (*)
Com aquela de 200 cc [, do ten pilav António Martins de Matos] (*), podia 'abrir' à vontade, e fugir dos turras que por acaso aparecessem, o que não foi o caso.

Em Nhacra no meu tempo, não se comia ostras em parte nenhuma, e em Safim, eram camarões, e talvez ostras, mas não me lembro. Ostras comia por todas as esplanadas em Bissau.

Em Nhacra ia dar uns mergulhos à piscina do quartel, lá de cima da prancha. Junto duas fotos, para os devidos efeitos, estão todas fracas, mas ainda não tinha os dons da fotografia {Fotos nº 3 e 4].

Não parava de contar aventuras, mas tenho receio (medo!) que me venham a dizer que eu fazia a guerra a andar de motorizada, quer pelas aldeias e cidades à volta de Bissau, ou a percorrer o Pilão.

Eduardo Jorge Ferreira
 (1952-2019) e Jorge Pinto (*)
Como se pode ver, quem podia, comprava uma, porque era uma grande independência para a gente desfrutar por todo o lado, sem horários, sem stress [, como era o caso do alf mil Polícia Aérea, Eduardo Jorge Ferreira (1952-2'0199]

Por agora é tudo, gostei de ver novamente as minhas fotos nas minhas loucuras pela Guiné. Tempos, de saudade, pois tinha muito menos idade, e por tudo o mais que não posso aqui  'introduzir' !

P.S. Ressalvo, quaisquer erros, omissões e outras bestialidades que possa ter escrito em cada foto.

Um abraço, podes publicar o meu comentário, se for de interesse.

Um abraço, Virgilio



Guiné > Bissau > Carta de Bissau (1949) > Escala de 1/50 mil > Posição relativa de Bissau, Bissalanca, Safim, Ensalma, Nhacra, ... De Nhacra a Bissau eram cerca de 20 km. De Bissalanca a Nhacra, por Safim, devia ser um pouco mais... E não havia problemas de segurança na região de Bissau, até ao fim da guerra... 

Decididamente o PAIGC nunca optou pela guerrilha urbana...Pelo menos, não consta que tenha morto ou apanhado à mão algum militar que circulava, de moto, ou de motorizada, pela região de Bissau, na maior das calmas... Afinal de contas, Bissau era uma "ilha" e uma "fortaleza"...

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2019).
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Nota do editor:

Vd. último poste da série > 27 de novembro de 2019  > Guiné 61/74 - P20386: (De)Caras (117): Eu e o saudoso Eduardo Jorge Ferreira (1952-2019), prontos para ir a Nhacra, de motorizada, comer umas ostras (Jorge Pinto, ex-alf mil, 3.ª CART / BART 6520/72, Fulacunda, 1972/74)

quarta-feira, 27 de novembro de 2019

Guiné 61/74 - P20388: Recortes de imprensa (106): Anúncios ("O Arauto", 27/7/1967) de casas de Bissau especializadas em ostras: Casa Afonso (chão de papel) e Hotel e Restaurante Miramar, frehte à Casa Pintosinho (Bissau Velho) (Benito Neves, ex-fur mil at cav, CCAV 1484, Nhacra e Catió, 1965/67)



Guiné > Bissau > O Arauto, 27 de Julho de 1967 > Anúncios de duas casas especializadas em ostras, em Bissau : Casa Afonso, no Chão de Papel; e o Miramar, que vendia uma travessa gigante de ostras (da rocha!) por 20 pesos... Dois anos depois ainda eram ao mesmo preço.


Guiné > Bissau > Cabeçalho de O Arauto, Diário da Guiné Portuguesa. Ano XXV - Nº 6242. Preço: 1$00. Director e editor: José Maria da Cruz. Quinta-feira, 27 de Julho de 1967. Era o único jornal diário da província. Cópia de exemplar gentilmente enviado pelo ex-furriel mil atir cav,   CCAV 1484, Nhacra e Catió, 1965/67). Mora em Abrantes.  (*)

(...) "Comprei momentos antes de entrar para o Uíge, no dia 27/07/67, dia em que embarquei de regresso à Metrópole. Já no barco, ao folhear o jornal, fui surpreeendido com a notícia publicada na página 4, sobre o fim da comissão de serviço da CCAV 1484, a que eu próprio pertenci. E bem ao lado desta notícia, cá estão elas, as ostras, publicitadas". (**)

Fotos (e legendas): © Benito Neves (2008). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Croqui  da parte oriental da Bissau Velha, entre a Avenida da República (hoje, Av Amílcar Cabral) e a fortaleza da Amura. No 15 ficava o Hotel Miramar / Cais Bar... A antiga Rua Olivera Salazar é hoje a Rua Mendes Guerra.  O Miramar ficava em frente à Casa Pintosinho (2, no croqui). Era que, em 1969/71, comíamos ostras, a 20 pesos cada travessa, quando vínhamos a Bissau... (LG)

Fonte: Adapt de António Estácio, em "Nha Bijagó: respeitada personalidade da sociedade guineense (1871-1959)" (edição de autor, 2011, 159 pp., il.).

Guiné 61/74 - P20386: (De)Caras (143): Eu e o saudoso Eduardo Jorge Ferreira (1952-2019), prontos para ir a Nhacra, de motorizada, comer umas ostras (Jorge Pinto, ex-alf mil, 3.ª CART / BART 6520/72, Fulacunda, 1972/74)


Guiné > Bissalanca > BA 12 > s/d > c. 1973/74 > O Eduardo Jorge Ferreira, alf mil da Polícia Aérea, à porta dos seus aposentos, pronto para partir para Nhacra,  para comer umas ostras, à civil, de sandálias, e com capacete de segurança, conduzindo a sua motorizada, de 50 cm3 (?), Yahama, matrícula G5907, e levando à boleia o seu amigo Jorge Pinto, alf mil, 3.ª CART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74)... 


 Pormenor digno de registo: o Jorge Pinto, também à civil, de sapatinho de vela, meiinha branca, leva um capacete de segurança pouco ortodoxo: um capacete, branco, da polícia aérea... A ideia só podia ser do nosso saudoso Eduardo Jorge Ferreira (1952-2019), um homem prático e desenrascado...


Foto (e legenda): © Jorge Pinto (2019). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]




1. Mensagem de Jorge Pinto, ex-mil, 3.ª CART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74); tem cerca de 40 referências no nosso blogue:



Luís, eu é que fico agradecido pela iniciativa de aproveitares o meu texto. (*)

Para o ilustrar, lembrei-me hoje de procurar uma velhinha foto, tirada à porta dos aposentos dele, na base de Bissalanca, sentados na motoreta, prontos a partir para Nhacra, onde íamos saborear as referidas ostras.


Tem muito pouca qualidade esta foto mas para mim, passou a ter muito significado, como podes imaginar. Podes usá-la também se achares conveniente. (Segue em anexo : Eu e Eduardo)

A ideia de já teres marcado encontro para outubro 2020, é esplêndida. É uma forma muito bonita de o homenagearmos, valorizando todo o empenho, generosidade e alegria que ele depositava em iniciativas deste género e que nós tanto admiramos.

Quanto às fotos do porco no espeto (*), lembro-me perfeitamente. Foi mais uma das iniciativas sociais que ele promoveu, em que até os filhos dele, a esposa e pessoal da terra também se envolveram.


Resto boa noite para ti. Forte abraço.

Jorge Pinto


Guiné > Bissalanca > c. 1972/74 > O então ten pilav António Martins de Matos com a sua potente Yamaha, de 200 cm3, a 2 tempos,matrícula G-6388,  comprada numa loja da Av da República (hoje, Av Amílcar Cabral) por 16 contos da metrópole (em 1972 era o equivalente hoje a 3.807,75 €). 

Diz ele que havia 4 motos destas na Base. Pormenor curioso: comparando as matrículas da motorizada do Eduardo (G5907) com a moto do António (G6388), a do Eduardo parece ser mais antiga...possivelmente tendo sido comprada em segunda mão. (Mas não sabemos em que data, exatamente, foi comprada a moto do António, terá sido seguramente entre 1972, 1973 ou 1974).

Foto (e legenda): © António Martins de Matos (2015). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]




Guiné > Bissau > Carta de Bissau (1949) > Escala de 1/50 mil > Posição relativa de Bissau, Bissalanca, Safim, Nhacra... De Nhacra a Bissau eram cerca de 20 km. De Bissalanca a Nhacra, por Safim, devia ser um pouco mais... E não havia problemas de segurança na região de Bissau, até ao fim da guerra... Decididamente o PAIGC nunca optou pela guerrilha urbana...

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2019).




Guiné >  Região de Bissau > Bissau > c. 1967/69 >  O alf mil SAM Virgílio Teixeira, CCS/BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69), de motorizada às portas de Bissau, na estrada para o aeroporto de Bissalanca.





Guiné > Região de Bissau > O alf mil SAM Virgílio Teixeira,  de motorizada, em Safim, a caminho de Nhacra. Em Safim, havia um cruzamento: para norte seguia-se para João Landim e Bula; para leste, seguia-se para Nhacra e depois Mansoa.



Fotos (e legendas): © Virgílio Teixeira (2018). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

terça-feira, 5 de novembro de 2019

Guiné 61/74 - P20315: Memória dos lugares (397): Roteiro de Bissau: velhas e novas toponímias, velhas e novas geografias emocionais... (David Guimarães / Humberto Reis / A. Marques Lopes / Agostinho Gaspar)



Foto nº 1 > Guiné-Bissau > Bissau > Av Domingos Ramos > 2001 > O mercado municipal, aliás, "Mercado Central"  (entre a Av Domingos Ramos e a R Vitorino Costa, vd. o mapa da Google)... A mesma tabuleta esmaltada de há trinta e tal anos atrás...




Foto nº 2 > Guiné-Bissau > Bissau > 2001 > Edifício colonial em ruínas, em frente à antiga Casa Pintosinho [, de António Pinto), um dos sítios em Bissau onde comíamos as célebres ostras. Devia ser  na Rua Oliveira Salazar, hoje  Rua Guerra Mendes (paralela à Marginal, agora Av 3 de Agosto, segundo o mapa da Google). Originalmente terá pertencido à Casa Gouveia, fundada por António Silva Gouveia. (A Casa Gouveia mudou para as mãos da CUF em 1927.)



Foto nº 3 > Guiné-Bissau > Bissau > 2001 > A marginal (hoje Av 3 de Agosto) e, em segundo plano, à esquerda, o antigo Pelicano, de saudosa memória. Ao fundo, veem-se os contentores do porto de Bissau (vd. mapa do Google)... O alcatrão há muito que tinha desaparecido.

Fotos nºs 1 a 3  (e legendas) : © David Guimarães (2005). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Foto nº 4 > Guiné-Bissau > Bissau > 1996 > Aspecto pouco abonatório do estado de conservação do "Pelicano,  Restaurante, Bar, Night Cub"... Em 1970 era o melhor café-esplanada de Bissau.


Foto (e legenda): © Humberto Reis (2005). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Foto nº 5 > Guiné-Bissau > Bissau > Av Domingos Ramos > 2001 > à esquerda uma agência do BAO - Banco da Africa Ocidental




Foto nº 6 > Guiné-Bissau > Bissau > Av Amílcar Cabral (antiga Av República) (vd. mapa do Google)  > 2001 >  À esquerda a Pensão D. Berta... A saudosa Berta de Oliveira Bento, cabo-verdiana radicada na Guiné Bissau há várias décadas, faleceu  em 2012, aos 88 anos. Não deixou filhos, mas tinha muitos amigos.


Foto nº 7 < Guiné-Bissau > Bissau > 2001>  Bomba da GALP... Era aqui o antigo Café Bento ou a famosa 5ª Repartição do tempo da guerra colonial.  Ficava na Rua Tomás Ribeiro, hoje Rua António Nbana. O posto de combustível da GALP, é o único na Bissau Velha, pelo mapa do Google fica na Av Amílcar Cabral, fazendo esquina com a R António Nbana. A RTP África também fica aqui perto.

O Café Bento era um dos nossos locais de convívio, dos gajos do mato, dos desenfiados e sobretudo dos heróis da guerra do ar condicionado. Havia 4 grandes repartições militares em Bissau mas a 5ª, o Café Bento, era a mais famosa, porque era lá que paravam todos os "tugas" que estavam em (ou iam a) Bissau, gozar as "delícias do sistema".



Foto nº 8 > Guiné-Bissau > Bissau > 2001 > Praceta junto ao Forte da Amura (construção militar setecentista), por detrás do Zé da Amura, que fica na rua Capitão Barata Feio (hoje, Rua 24 de Setembro)... Confunde-se o Zé da Amura com o Café Bento (que ficava na Rua Tomás Ribeiro, hoje Rua António Nbana).

Fotos nº 5 a 8 (e legendas): © David Guimarães (2005). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Foto nº 9 > Guiné-Bissau > Bissau > 1998: O velho forte da Amura com os seus canhões de bronze

Foto (e legenda): © A. Marques Lopes (2005). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]




Foto nº 10 > Guiné-Bissau > Bissau > 2001>    Estrada para o aeroporto ,em Bissalanca. Agora, Aeroporto Internacional Osvaldo Vieira. À esquerda,  o célebre mercado de Bandim, que ficava a sudoeste da  cidadezinha colonial de Bissau que nós conhecemos: primeiro o Chão de Papel e depois Bandim  (Vd. mapa do Google).

 Foto (e legendas): © David Guimarães (2005). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]




Foto nº 11 > Guiné-Bissau > Bissau >1998: A cidade de Bissau, vista do lado sudoeste; ao fundo, as duas torres da catedral de Bissau (que fica na Av Amílcar Cabral, antiga Av República, vd. mapa do Google)

Foto (e legenda): © A. Marques Lopes (2005). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Guiné > Bissau > s/d [. c 19690/70] > "Praça Honório Barreto e Hotel Portugal"... Bilhete postal, nº 130, Edição "Foto Serra" (Colecção "Guiné Portuguesa") (Detalhe). Colecção: Agostinho Gaspar / Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2010)

Agora a Praça chama-se Che Guevara (vd. mapa do Google)... e o antigo Hotel Portugal agora é Hotel  Kalliste...


1. Há quem lhe chame "saudosismo mórbido, doentio"...  Saudosismo ? Não gosto do termo... Não, não é saudades do "antigamente".  Hoje a Guiné-Bissau é um país independente e pertence à CPLP...  Há um passado que foi irredemediavelmente ultrapassado, pelos dois povos... Mas há também  uma convivência entre esses mesmos dois povos,  há uma história, um património material e imaterial... partilhado por ambos.

Já nada disto existe, a ser não na memória de alguns de nós...Existem as ruas, com outros nomes, existe a maior parte dos edifícios, uns em ruina, outros readaptados... Mas são memórias a que temos direito, aqueles de nós que por lá passámos, não só entre 1961 e 1974 mas depois, nas tais viagens de "saudade" (e não de "saudosismo")... São memórias dos lugares (*). São lugares, são paisagens, que não pertencem a ninguém...  São novas e velhas toponímias, não novas e velhas geografias emocionais...

As imagens de Lisboa ou de Bissau não pertencem a ninguém. As paisagens não pertencem a ninguém. Tal como as cores, os sabores. os cheiros... dos sítios por onde passamos.  Como a terra, que é de todos nós.  Um tsunami (de que Deus, Alá, Jeová e os bons irãs da Tabanca Grande, todos juntos, nos livrem!) pode destruir Lisboa ou Bissau. Mas as imagens, as memórias, essas, ficarão connosco enquanto formos vivos e enquanto existirem os seus suportes digitais: os nossos textos, as nossas fotos, os nossos documentos, este blogue, que não é mais do que um sítio, virtual, onde partilhamos memórias (e afetos), e que oxalá/enxalé/inshallah possa sobreviver-nos...

Adicionalmente, no poste P12980, pode-se ver alguns dos edifícios públicos, com interesse arquitetónico que por lá ficaram, em Bissau, e que é pena se os guineenses não cuidarem deles,  com a nossa ajuda (**)... Sabemos que os guineenses têm outras prioridades mais prementes, como o pão para a boca, o emprego, a saúde, a educção, a paz..., a estabilidade política e a normalidade democrática que, infelizmente, ainda não conseguiram alcançar, quase meio século depois da independência.
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terça-feira, 26 de março de 2019

Guiné 61/74 - P19622: Notas de leitura (1163): O que "ultra" Dutra Faria (citado pela doutoranda e nossa grã-tabanqueira Sílvia Torres) pensava de Amílcar Cabral: um menino de coro (que "ia à missa, todos os domingos, em Bissau"), transviado em Lisboa pelo marxismo e por uma mulher, 'branquíssima'...






Guiné > Bissau > Jornal diário "O Arauto", quarta-feira,  27 de jlho de 1967, Ano XXV, nº  6242 > Cabeçalho do jornal "O Arauto", "diário da Guiné Portuguesa", diretor e editor: José Maria da Cruz.

Notícia: "A Companhia de Cavalaria de Catió termina a sua missão de soberania nesta Província"... A notícia  não refere o número da unidade (o que estava conforme as normas de segurança militar, mas sabemos que era a CAV 1484, a que pertencia o nosso querido amigo, camarada e grã-tabanqueiro Benito Neves). Diz apenas que era comandada pelo sr. Capitão Rui Manuel Soares Pessoa de Amorim, que esteve mais de um ano em Catió e que cumpriu "com exemplar dignidade, heroísmo e espírito de sacrifício a sua sagrada missão, arrecadando resultados francamente positivos no campo militar"...
 
À despedida, houve jantar (melhorado ?), no refeitório do Batalhão local, que serviu para confraternização entre todos os militares do Quartel de Catió, e as autoridades civis e militares. "Aos brindes, falaram o comandante do Batalhão de Catió, o Administrador do Concelho, [o ou um ?] agente da Pide e ainda um representante da Milícia, que puseram em destaque as qualidades reveladas pela Companhia e a simpatia que goza em todos os sectores de actividade do concelho" 

Anúncio das famosas ostras do "Miramar": (i) eram da rocha; (ii) abertas à pressão; e (iii) uma travessa gigante custava 20 pesos e dava para almoçar a meia dúzia de "desenfiados do mato",,, Nãoi se diz, mas eram regados com "lima" e acompanhavam com cerveja ou vinho branco... A "champanha" era muito cara!... (Dois anos depois, continuavama  a custar os mesmos 20 escudos da Guiné ("pesos"), o que equivaleria hoje a 6,3 € - preço de 1967 - ou 5,5 € - preço de 1969 -, considerando que 100 "pesos" equivaliam a 90 escudos da metrópole. Com 20 pesos comia-se um bife com batatas fritas e ovo a cavlo e um cerveja... em Bafatá, no Restaurante "Transmontana", no 2º trimestre de 1969...


Fotos (e legendas): © Benito Neves (2008). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]




TORRES, Sílvia - A Guerra Colonial na imprensa portuguesa da Guiné. A cobertura jornalística do conflito feita pelos jornais O Arauto, Notícias da Guiné e Voz da Guiné, entre 1961  e 1974  / The Colonial War in the Portuguese press of Guinea. The media coverage of the conflict made by the newspapers O Arauto, Notícias da Guiné and Voz da Guiné, between 1961 and 1974.

PRISMA.COM (33) 2017, p. 33-46 DOI 10.21747/16463153/33a2 33


A nossa amiga Sílvia Torres (que tem sete referências no nosso blogue e é membro nº 736 da  Tabanca Grande) (*)  escreveu este artigo, no âmbito do Doutoramento, em curso,  em Ciências da Comunicação, na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade NOVA de Lisboa. 

 Este artigo centrou-se na análise da na imprensa portuguesa da Guiné publicada durante a Guerra Colonial.   A autora quis perceber que tipo de cobertura jornalística fazia esta imprensa colonial sobre o conflito:

"A presente investigação (,,,) visa também recuperar a história do jornalismo então português praticado em tempo de censura (e autocensura), durante a Guerra Colonial e numa das províncias ultramarinas envolvidas no conflito", tendo a autoria concluído que "a imprensa portuguesa da Guiné também serviu as Forças Armadas e que o Governo, da metrópole e da Guiné Portuguesa, se serviu desta imprensa."

No período em análise, entre 1961 e 1974, existiram apenas três jornais na Guiné Portuguesa, em períodos distintos: (i) "Arauto" (até 1968), (ii) "Notícias da Guiné" (1968-1970); e (iii) "Voz da Guiné"  (1972-1974). São estes três periódicos que foram objeto do estudo.

Já aqui falámos do "Arauto" (**), cujos primórdios remontam a 1942, ano em que surgiu sob a forma de boletim, policopiado, da responsabilidade das missões católicas.  Em 1943,  passa a mensário, e é impresso na tipografia da Imprensa Nacional, em Bolama. O diretor é o padre Afonso Simões, e a redação e a administração são na Residência Missionária de Bolama.

Em 1945, passa a ser impresso na Tipografia das Missões e, no início da década de 50, torna-se um jornal  diário (só não saindo à  segunda-feira), com novo diretor:  o padre, também franciscano,  José Maria da Cruz Amaral. Em 1958, o "Arauto"  passa a designar-se "O Arauto". Em 1961, era vendido, em Bissau,  por 1$00.

"Por esta altura, já continha também notícias internacionais, provenientes de agências noticiosas nacionais e estrangeiras" e, "apesar de a publicação não incluir ficha técnica", sabe-se que a equipa era reduzida: só tinha redatores para a "página desportiva"... O resto é feito só por um homem, o padre Cruz Amaral.

 "O retrato é feito por Dutra Faria, então diretor executivo e enviado especial da ANI (Agência
Noticiosa de Informação), a 7 de fevereiro de 1964, n’O Arauto, num texto sobre a Guerra
 Colonial. Dutra Faria revelava que Portugal estava em guerra, “uma guerra revolucionária – e
que abrange, por isso todas as frentes”, sendo uma delas a informação." (Torres, pp. 35/36).

 A falta de recursos humanos, já referenciada por Dutra Faria, bem como os problemas financeiros e técnicos que se agravam, levam ao  encerramento, em 1968, o único jornal diário da província. 

Sobre Dutra Faria [Angra do Heroísmo, 1910 - Lisboa, 1978], Sílvia Torres faz-nos revelações interessantes;

(...) "Dutra Faria, então diretor da agência ANI, foi à Guiné como enviado especial. Desta viagem, fez vários artigos com o mesmo antetítulo – “Na Guiné Portuguesa, junto da Cortina de Ferro”. O segundo texto, intitulado “Entre dois fogos”, foi proibido de ser publicado na edição de 30 de janeiro de 1964. Neste artigo, Dutra Faria diz que o inimigo das Forças Armadas Portuguesas, na Guiné, não se pode “desprezar” porque foi “bem” treinado para a luta de guerrilhas em escolas de Praga e de Moscovo. Faz ainda referência à qualidade e à abundância do armamento que o inimigo possui e à sua inteligência." (p. 40)

Mais interessante, é o que Dutra Faria  escreve sobre o líder do PAIGC, Vamos citar  mais um  excerto do artigo de Sílvia Torres (p. 431):

(...) Amílcar Cabral, “um rapazinho que ia à Missa todos os domingos”, em Bissau, tal como Mário de Andrade o fazia, em Luanda. Os dois, em Lisboa, foram estudantes universitários que “se deixaram empolgar pelo marxismo”: “(…) há responsabilidades a que não podemos fugir e esta é uma delas – não soubemos defender de influências nefastas estes dois rapazes e muitos outros estudantes ultramarinos”.

"Segundo Dutra Faria, também Maria Helena de Ataíde – “uma linda rapariga de olhos claros e cabelos talvez aloirados. Branquíssima” – então esposa de Amílcar Cabral, estudou em Lisboa. Foi na capital da metrópole que se conheceram e que ela exerceu sobre ele “decisiva influência”. O casal chegou a trabalhar em Bissau, “onde (…) um Chefe de Serviços, pelas suas ‘gafes’   monumentais e por um estúpido racismo de última hora, completou no jovem agrónomo de
coroa obra iniciada em Lisboa, no Instituto [Superior de Agronomia], pelos seus colegas comunistas e continuada, depois, pela esposa – revolucionária exaltada: Amílcar Cabral passou-se assim, definitivamente, para o campo dos inimigos de Portugal”.

Por é que este texto, escrito por um dos homens da "ala dura" do regime, foi censurado ?

Sílvia Torres explica (pp. 41/42):

(...) "A 12 de fevereiro de 1964, o Governador da Guiné Portuguesa, capitão-de-fragata Vasco António Martins Rodrigues, envia uma carta para o ministro do Ultramar, onde comunica que aprovou a proibição do texto de Dutra Faria por destacar os “sucessivos êxitos que o inimigo vem conseguindo”; por comparar o inimigo da Guiné, de “superior qualidade”, com o inimigo de Angola; por atribuir responsabilidades a Portugal pelo caminho seguido por Amílcar Cabral; e por desprestigiar o serviço público, ao criticar um seu funcionário." (...)

De qualquer modo, Dutra Faria terá sido injusto em relação a Amílcar Cabral e a Maria Helena de Ataíde Rodrigues, a transmontana de Chaves que foi a primeira mulher do líder do PAIGC e uma das primeiras mulheres a formar-se em engenharia agronómica, e que não era loura, e muito menos estúpida... A história de amor destes dois seres humanos é lindíssima, como todas as grandes histórias de amor... Dutra Faria nunca leu as cartas de amor que eles escreveram um ao outro... E as suas insinuações estão eivadas de racismo e machismo...

Maria Helena [de Ataíde] Vilhena Rodrigues, engenheira agrónoma, transmontana de Chaves, casou em 1951 com Amílcar Cabral, de quem teve duas filhas, Iva e Ana. Iva Maria nasceu em 1953, é hoje historiadora e vive na Praia, Cabo Verde. Conhecia-a pessoalmente em Bissau, em 2008, por ocasião do Simpósio Internacional de Guiledje. Quanto à  Ana Luísa,  nasceu em 1962 e, segundo li, licenciou-se em medicina e vive discretamente em Braga. 

Maria Helena e Amílcar separaram-se definitivamente em meados da década de 60. Cabral irá casar, em segundas núpcias, com Ana Maria Foss Sá, mais conhecida como Ana Maria Cabral, em maio de 1966. É assassinado em 20 de janeiro de 1973, na presença da segunda mulher. É muitas vezes confundida, por alguns camaradas nossos, como a "Maria Turra", a locutora da rádio "Libertação", do PAIGC.

Enfim, ainda em relação a "O Arauto", sabe.se que a publicação, em julho de 1965, de "notas biográficas"   de alguns destacados líderes africanos da época não foi bem vista pelo novo ministro do ultramar, Joaquim Moreira da Silva Cunha [1920-2014]. (, esteve no cargo entre 19 de março de 1965 e 7 de novembro de 1973),  por serem apontados "como "símbolo da auto-determinação e da revolta dos povos de cor contra os países colonizadores"... Na sequência desse desagrado, solicita-se ao governador que: (i) transmita à comissão de censura as necessárias instruções par "põr cobro à publicação das biografias"; e (ii) passe a  estar atento à “orientação seguida pelo jornal”, uma vez que que não estava a  corresponder “aos interesses nacionais” (cit por Torres, p. 42).

Recorde-se que o governador-geral (e comandante-chefe) era então o gen Arnaldo Schulz. Mas estes "mal-entendidos" não são matéria que possa ser tomada como suficiente para que o padre franciscano José Maria da Cruz [Amaral] (1910-1993) venha, mais tarde, alegar que foi vítima de perseguição política  por parte do antecessor de Spínola.

Dois anos depois deste "incidente",  no aniversário de "O Arauto", em 5 de julho de 1967,  José Maria da Cruz  viria a agradecia ao governador [, o gen Arnaldo Schulz,] a concessão de um subsídio de 50 mil escudos [, em dinheiro da metrópole era o equivalente hoje a c. 17.600 €, bastante dinheiro, dava para comprar uma viatura automóvel tipo FIAT 127 ou gama superior...]. Em 1966 o défice do jornal era já de 486 mil escudos [, mais de 178,6 mil euros, hoje, um a pipa de massa] e o diretor já  se questionava  sobre a sua viabilibilidade económica.

Luís Graça (***)

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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 16 de fevereiro de 2017 > Guiné 61/74 - P17052: Tabanca Grande (426): Sílvia Torres, filha de ex-combatente, doutoranda em ciências da comunicação pela NOVA, autora do livro "O jornalismo português e a guerra colonial", nossa grã-tabanqueira nº 736

(**) Vd. poste de 13 de março de 2019 > Guiné 61/74 - P19581: Notas de leitura (1158): o caso do jornal diário "O Arauto", extinto em 1968, num artigo da doutora Isadora Ataíde Fonseca, sobre a imprensa na época colonial (Luís Graça)

(***) Último poste da série >  25 de março de 2019 > Guiné 61/74 - P19621: Notas de leitura (1162): “A nossa guerra, dois anos de muita luta, Guiné 1964/66 – CCaç 675”, por Belmiro Tavares e José Eduardo Reis de Oliveira, edição de autores, 2017 (Mário Beja Santos)

terça-feira, 20 de junho de 2017

Guiné 61/74 - P17493: Convívios (814): os Pel Caç Nat 51, 52 e 54, em Poceirão, na casa do ex-fur mil João Vaz (ex-prisioneiro de guerra em Conacri) (José Manuel Viegas)


Foto nº 1 > Pel Caç Nat  54 >  da esquerda para a direita,  Furriel Arlindo Costa (DFA),  Furriel José Viegas, Cabo Marques, Cabo Coelho (DFA) e Cabo Manuel Januário (DFA)


Foto nº 2 > Pel Caç Nat 51 >  da esquerda  para a direita: Furriel Castro, Furriel Azevedo, Alferes João Perneco, Furriel Carvalho e Cabo Raul.


Foto nº 3 > da direita para a esquerda, Furriel Arlindo Costa (DFA), Alferes Henrique Matos, Cabo Coelho (DFA) e Cabo Marques


Foto nº 4  > Pel Caç Nat 52 > da esquerda para a direita,  Furriel João Vaz (ex-prisioneiro de guerra em Conacri, libertado no decurso da Op Mar Verde) e Alferes Henrique Matos (, o primeiro cmdt do 52)


Foto nº 5 > Para matar saudades das ostras do tarrafo...


Foto nº 6 > ... mais as sardinhas  assadas (, estas é  que não havia na Guiné)


Fotos (e legendas): © José Manuel Viegas  (2017). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Texto enviado em 19 do corrente, pelo José Manuel Viegas, nosso grã-tabanqueiro, algarvio, ex-fur mil do Pel Caç Nat 54 (Mansabá, Enxalé, Missirá, Porto Gole e Ilha das Galinhas, 1966/68): 


Assunto - Encontro dos Pel Caç Nat 51, 52 e 54
Realizou-se no Poceirão, Palmela,  mais um encontro dos Pelotões de Caçadores Nativos, formados pelo nosso camarada Jorge Rosales, do 51 ao 56 [, no CIM de Bolama],  e que serviram na Guiné entre 66 e 68. É já muito dificil encontrar estes nossos camaradas, mas ainda assim juntámos o 51, 52 e 54.

Como não podia deixar de ser,  lá estiverem as célebres ostras do tarrafo,  uma das nossas maravilhas da Guiné.

Depois do nosso almoço,  que foi efectuado na casa do furriel mil João Vaz,  do Pel Caç Nat  52,   lá foram tiradas as fotos da praxe para que perdurem as nossas memórias (e que vão acima publicadas, com legendas).

Com esta publicação fazemos votos que outros camaradas se juntem a nós mesmo aqueles que nos substituíram nos pelotões e nos novos.

Um abraço a todos
José Manuel Viegas
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Nota do editor: