sábado, 27 de novembro de 2010

Guiné 63/74 - P7349: Kalashnikovmania (6): Eu tive três amores, a G3, a HK21 e AK47 (J. Casimiro Carvalho)

1. Comentário do J. Casimiro Carvalho ao poste P7334:

Ó Torcato e Graça :

Ele há coisas que não têm explicação.

Uma delas  são as armas.
Eu, em Lamego, adorava a G3.
Na Guiné adorava a HK 21 
e falava com ela
e ela compreendia-me,
pois eu conhecia.
Comigo a gaja não encravava.

Posteriormente, já em Gadamael, 
apaixonei-me por aquela outra gaja, a AK 47.
E foi amor duradouro, caramba,
mas a gaja era mesmo boa,
que me perdoe a minha querida G3, 
pois não sou gajo de  traições.

Portanto, temos três gajas,
todas elas boas,
com as suas particularidades,
convenhamos.
Como as mulheres, né ?!

Um abraço deste vosso camarigo,
J. Carvalho







O José Casimiro Carvalho foi Fur Mil Op Esp da CCAV 8350, Piratas de Guileje, e da CCAÇ 11,  Lacraus de Paunca, tendo passado por Guileje, Gadamael, Guileje, Nhacra e Paúnca,entre outros sítios, entre 1972 e 1974. Nas três fotos, vemo-lo "afagando" a G3 (em Lamego), a HK21 (em Guileje) e AK47 (em Gadamael ?)... LG

Fotos: © José Casimiro Carvalho (2007). Todos os direitos reservados.
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Nota de L.G.:

Ultimo poste da série > 25 de Novembro de 2010

Guiné 63/74 - P7348: (Ex)citações (113): Achas para a fogueira, ou a influência dos movimentos independentistas na política interna de Portugal (Joaquim Mexia Alves)

1. Mensagem de Joaquim Mexia Alves*, ex-Alf Mil Op Esp/Ranger da CART 3492, (Xitole/Ponte dos Fulas); Pel Caç Nat 52, (Ponte Rio Udunduma, Mato Cão) e CCAÇ 15 (Mansoa), 1971/73, com data de 26 de Novembro de 2010:

Caros camarigos
Aqui vão “achas para a fogueira”!

Leio repetidamente a exaltação dos Movimentos Independentistas em armas da Guiné, Angola e Moçambique, como os grandes precursores do 25 de Abril, que levou Portugal à democracia e ao desenvolvimento.

Mais uma vez e sempre nos colocamos de cócoras e deixamos aos outros a razão da nossa História, amesquinhando-nos e fazendo dos Portugueses o povo que mais mal diz de si próprio na Europa e muito provavelmente no mundo.

Tudo nos serve para tal desígnio, até as doutas opiniões de estrangeiros, que pouco ou mal nos conhecem, ou relatórios internacionais, sempre de duvidosa imparcialidade e normalmente controlados pelas forças dominantes.

Mas o que sobre gostaria de realmente reflectir é o seguinte:
Então e se esses Movimentos não tivessem pegado em armas, obrigando o país a consumir a maior parte dos seus recursos no esforço de guerra, o que seria Portugal hoje?

Com isto não estou a colocar em causa o direito desses povos encontrarem a sua independência, o seu destino, ou pelo menos não o pretendo fazer, porque concordo que esse objectivo era e é perfeitamente legítimo e deve ser alcançado.

Sabemos que por aqueles tempos a economia portuguesa crescia sem problemas e que foi o esforço de guerra a par com alguma conjuntura internacional, (esta ultrapassável), que veio condicionar fortemente esse crescimento e desenvolvimento.

Então, se esse monumental esforço financeiro e não só, que Portugal despendeu na guerra, fosse utilizado não só no continente, mas também no, então todo Português, que país teríamos, o que seriamos hoje?

É que, acredito que com o desenvolvimento então possível, com o acesso cada vez maior à educação, proporcionado por esse desenvolvimento e pela pressão da sociedade, o regime de então iria ser substituído, mais tarde ou mais cedo, (tal como foi em Espanha), sem as consequentes convulsões, gerando uma estabilidade que hoje se reflectiria seguramente nas nossas vidas.

Pois, logicamente podemos invocar que houve a necessidade imperiosa desses povos pegarem em armas, mas também podemos tentar perceber que, se tivessem trabalhado apenas no campo político, Portugal poderia ter dado outra resposta ao desenvolvimento desses territórios, e mais tarde, por força da mudança operada no próprio país como acima refiro, para além da pressão internacional, ter realizado uma descolonização em que as estruturas do poder desses novos países estivesse garantida, não pela força das armas, mas pela força das palavras.

Sim, já sei que virão dizer que o regime nunca cederia, mas a verdade é que nenhum regime como aquele cede quando é atacado, pelo contrário fortalece-se, mas o desenvolvimento que já se estava a notar, (a par com o “cansaço” que também já tão bem se notava e a longevidade do líder), poderia por dentro, levar à mudança estruturada, que iria dar origem a um novo país, a novos países, sem que tantos tivessem morrido para que tal acontecesse.

Enfim, um exercício impossível de concretizar hoje, mas já que falamos tanto do passado, não nos fará mal nenhum pensarmos nisso.

Realmente eu devo ser um pouco masoquista, porque já adivinho a quantidade de “porrada” que vou levar se os editores quiserem publicar este texto, o que deixo inteiramente nas suas mãos.

Um abraço camarigo para todos do
Joaquim Mexia Alves
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 26 de Novembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7344: Convívios (201): 7º Encontro da Tabanca do Centro (Joaquim Mexia Alves/Juvenal Amado)

Vd. último poste da série de 22 de Novembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7319: (Ex)citações (112): O Simples e o Erudito (na Tabanca Grande) (José Brás)

Guiné 63/74 - P7347: Notas de leitura (177): Marcelino Marques de Barros, um sábio guineense (Mário Beja Santos)


1. Mensagem de Mário Beja Santos* (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 17 de Novembro de 2010:

Queridos amigos,
O padre Marcelino Marques de Barros acompanha-me há décadas.
Estudei-o na Faculdade, com a preciosa ajuda do então comandante Teixeira da Mota. Dava logo para perceber que se tratava de uma personalidade excepcional que o país não assimilou mas que tinha deixado uma memória profunda na Guiné.
A homenagem que lhe prestaram no colóquio internacional “Bolama Cidade Longe” foi significativa e vale a pena deixar um apanhado sobre os seus vastíssimos conhecimentos.

Despeço-me até Dezembro,
Mário


Marcelino Marques de Barros, um sábio guineense

Beja Santos

Há, felizmente, uma grande consideração pelo talento, criatividade e obra científica de um padre guineense que viveu na segunda metade do século XIX e na primeira do século XX. Nas actas do colóquio internacional “Bolama Caminho Longe”, que se realizou em Novembro de 1990, numa tentativa, inglória, de constituir uma das peças para um movimento mais vasto que tinha por principal objectivo a recuperação da cidade, o padre Marcelino foi alvo de uma comunicação que torna claro que a sua personalidade é obrigatória para o estudo da cultura, da missionação na Guiné, da etnografia, da filologia e da antropologia da Guiné Bissau.

Nascido em 1844, em Bissau, veio estudar no Seminário Patriarcal de Santarém e no Real Colégio das Missões Ultramarinas em Sernache do Bonjardim. Se cada um de nós é o que é e a circunstância da sua vida, não se pode entender o trabalho científico deste prelado fora do contexto em que viveu: Conferência de Berlim, acordo luso-francês para a definição de fronteiras, separação da Guiné de Cabo Verde, a Guiné como palco de lutas étnicas em que os Fulas derrotaram os Mandingas na batalha de Kansala, cobiça britânica sobre a Senegâmbia portuguesa (questão de Bolama), falta de missionários para trabalhar na Guiné. Marcelino Marques de Barros sai de Sernache em 1866, estão bem identificadas as etapas do missionário: pároco em Bissau, pároco em Ziguinchor, em Bolor e Cacheu, Vigário Geral da Guiné (1873-1888). A par desta laboriosa actividade, na maior parte dos casos, sozinho, revelou-se um escritor compulsivo e um investigador que merece bem que a Guiné-Bissau e Portugal estudem afincadamente os seus conhecimentos aprofundados.

A sua correspondência é admirável. No colóquio “Bolama Caminho Longe” foram passadas em revista algumas das suas muitas informações que foi dando aos seus leitores: descrições de rios; análise dos usos, costumes e línguas dos povos da Guiné; recolha de contos, cantigas e parábolas. Publicista infatigável, colaborou nalgumas das principais publicações do seu tempo, caso da Revista da Sociedade de Geografia de Lisboa, Revista Portuguesa Colonial e Marítima, A Tribuna, Revista Lusitana, etc. Definitivamente em Portugal, trouxe consigo várias lembranças que dão conta das suas preocupações com a ciência e o seu acrisolado amor pelas coisas da Guiné: 200 exemplares de sementes e plantas recolhidas em Bolama e nos Bijagós, devidamente catalogadas e enriquecidas com notas explicativas que entregou ao Conde de Ficalho; notas sobre línguas e a dialectos da Guiné que ofereceu a Carrilho Videira e a Hugo Schuchardt; 30 poesias em crioulo e fotografias que foram publicadas na revista As Colónias Portuguesas; notas para uma coreografia da Guiné; vocabulário da língua felupe, etc. etc. Era poliglota, conhecia perfeitamente o crioulo, foi autor do primeiro dicionário do crioulo guineense. Tentou impulsionar a criação de uma biblioteca pública em Bolama, previu mesmo um museu junto dessa biblioteca onde pudessem ser expostos os “valiosíssimos produtos da história natural superabundando em todas as costas ocidentais da África e especialmente na Senegâmbia portuguesa”.

Guiné e Cabo Verde separaram-se em 1879. Nos anos seguintes, houve fomes em Cabo Verde e o Cónego Marcelino Marques de Barros tomou a iniciativa de sensibilizar a população guineense publicando em 31 de Outubro de 1883: A Fraternidade, Guiné a Cabo Verde, folha destinada a socorrer as vítimas da estiagem da província cabo-verdiana. Foram impressos 10 000 exemplares e saiu um único número. Sensibilizados, os cabo-verdianos agradeceram o socorro financeiro.

A correspondência do padre Marcelino é, a todos os títulos, notável. Vou ficar-lhe devedor para toda a vida pelos esclarecimentos que ele me deu nas coisas da Guiné. Aliás, ele vai aparecer numa citação no meu livro “A Viagem do Tangomau”, é o padre Marcelino quem vai ilustrar a impressão que provoca esse magnificente rio que é o Geba, assim: “Duas enormes serpentes, que perseguindo-se deixam no solo um rasto de mil curvas, dão a lembrar as águas do Geba, que multiplicando as voltas, rompem por bosques e campos de verdura – Que festa não é o viajar por um rio assim, embarcado n’uma canoa toda embandeirada! Verdade é que, à noite só tem o viajante a contemplar o céu carregado de brilhantes, a terra de sombras e fantasmas, o ar de cacimbas; e o silêncio, que aumenta apenas perturbado com o saltar de peixinhos, e com o ressonar dos grumetes estirados nas latas.

Mas, ao amanhecer, que quadros e hinos não o cercam! Renques de palmeira no horizonte coroados de luz da aurora; um crocodilo saindo da margem do rio desce escorregando pelo lamaçal abaixo; palram em volta dos seus ninhos as aves de mil cores. É então que os grumetes seguindo a sua viagem, jogam os seus remos ao som do “bombalão”, sem se incomodarem muito com o hipopótamo, que, de quando em quando, mostra à proa a sua cabeça de mostro marinho. No tracto por onde o rio corre desassombrado de arvoredos, acham-se manadas de gazelas que pascem nos prados; e é de ver como a tiro de clavina se põem todas em debandada, e como fogem algumas garças brancas, que se vão poisar sobre a verde folhagem das árvores como flocos de neve!”.

Morreu em Lisboa, em Março de 1929, com 85 anos.

Este padre Marcelino foi um sábio que necessitamos de reencontrar. Para a glória dos dois países que ele tanto amou.
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Notas de de CV:

(*) Vd. poste de 26 de Novembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7340: Bibliografia de uma guerra (58): Opúsculo da Bibliografia sobre o Fim do Império (Mário Beja Santos)

Vd. último poste da série de 24 de Novembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7326: Notas de leitura (176): Tempo Africano, de Manuel Barão da Cunha (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P7346: Parabéns a você (179): Agradecimento de Jorge Teixeira, ex-Fur Mil Art.ª da CART 2412


1. Mensagem de Jorge Teixeira* (ex-Fur Mil Art, CART 2412, Bigene - Guidage, Barro, 1968/70), com data de 27 de Novembro de 2010:

Camarada e amigo Carlos
Agradeço o teu mail e a mensagem "Facebookada"

Dada a extensão dos meus agradecimentos para todos, dá para publicar em post no blogue?
Senão, diz que eu "amando-lhos" pós comentários, mas se der... agradeço.




E já vão 65

Já posso tirar o passe com desconto (versão in Portojo) e andar de comboio com 1/2 bilhete (voltamos à meninice).

Deixo aqui o meu agradecimento a todos os que me endereçaram os Parabéns pelos mais diversos e variados meios. Antigamente era mais simples recebíamos uma cartita dum ou doutro, umas palmadinhas a abater e pronto, ninguém sabia, nem ficavam a saber, também não convinha, diga-se, agora todo o mundo sabe.

Agradeço também aos que o não fizeram, não é piada, (acontece comigo também), mas não lhes levo a mal porque sei que tinham vontade de o fazer, só não o fizeram para não sobre carregar o blogue. Já viram o que era os 460 (só?) "manfios" Tabanqueiros/Tertulianos a mandarem comentários a este pobre e mal agradecido, ex-combatente?

Já me bastaram os parabéns dos nossos governantes (muito reconhecidos) que me fizeram grande "bicha(s)" à porta numa sessão de cumprimentos, até tiveram a largura (< / >), com grande sacrifício, de me dar 100 €uritos, gajos porreiros! Daí a célebre frase:

- Porreiro pá, porreiro...

Para quem não sabe, começou comigo há muito tempo e não com esse "pobre+zinho" de espírito, Peru Emproado, quando me agradeceram o ter dado o corpo ao manifesto.

Jorge Teixeira e Augusto Vilaça, junto ao Monumento ao Soldado Desconhecido, sito na Praça de Carlos Alberto, na Cidade Invicta.

Já era altura de os editores do blogue se deixarem disto dos Parabéns, até porque dá uma trabalheira danada e não contribui para a felicidade do mesmo, há outras coisas mais importantes, e chegamos a uma altura em que já estamos fartos, fartinhos de fazer anos (65? já!) e já sabemos como é, embora não nos cansemos e gostemos de fazer sempre mais... e mais... e mais... (sem ajuda da duracel, claro, espero), além disso não somos nenhuns meninos do coro para fazer birra de aninhos, por não recebermos os parabéns dos amigos, acho eu, se calhar estou enganado e há quem fique mesmo chateado.

Uma pequena correcção, Carlos: não sou de 1970/72 mas sim 68/70. O seu a seu dono porque gosto deste "68/70", acho lindo, omitindo o 69 (bronca), manias. Na altura até fiz uma placa alusiva ao 69 (tinha a mania das placas, era o "artista" lá do sitio) para a entrada na nossa tabanca/esplanada em Barro. Do VAT 69 transformei-o em "VAiTe 69", porque estávamos com pressa que chegasse 1970, que já chegava de guerras e tínhamos o barco à espera com passagens de borla.

Dá trabalho fazer anos, mas que chatice.
Muito obrigado pelos Parabéns
Um abraço para todos pela paciência de me aturar.
cumprim/jteix
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Nota de CV:

(*) Vd. poste de 26 de Novembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7338: Parabéns a você (178): Jorge Teixeira, ex-Fur Mil Art.ª da CART 2412 (Tertúlia / Editores)

Guiné 63/74 - P7345: (Ex)citações (113): Para mim, os Páras são os Páras. Vou gostar de ler as histórias d' A Última Missão, de Moura Calheiros (Manuel Amaro)


1. Comentário,  com data de 24 do corrente,  do nosso camarada Manuel Amaro   ao poste P7323


Não vou estar na apresentação [do livro do Cor Pára Moura Calheiros], porque estarei a mais de 300 kms. do local. Tenho o maior respeito e admiração pela Família Pára-quedista.


(i) Em 1970, em Aldeia Formosa, fui chamado a dar uma ajuda às nossas Camaradas Enfermeiras, pois tinham um avião cheio de feridos resultantes de uma operação mal sucedida, no Corredor de Guileje.


(ii) Depois do 16 de Março de 1974 ia sendo informado por um Cap Pára, hoje Major General, sobre o andamento do Movimento e da sua missão quando chegasse o dia certo.


(iii) No dia 11 de Março de 1975, estava ali mesmo, no edificio do Aeroporto que fica mais perto do RALIS.

(iv) No 25 de Novembro de 1975, acompanhei [os acontecimentos] pela Imprensa, Rádio e TV.


Mas, conhecendo as instituições, como conheço, para mim, os PÁRAS são os PÁRAS. E vou gostar de ler as histórias d´A Última Missão.


Manuel Amaro
(ex-Fur Mil Enf da CCAÇ 2615/BCAÇ 2892,
 Nhacra, Aldeia Formosa e Nhala,
1969/1971) (*)

Foto: Manuel Amaro, de pé, ao centro,  em Monte Real, no V Encontro Nacional do Nosso Blogue, 26 de Junho de 2010,  ladeado conversando como o Paulo Santiago (à esquerda) e o Victor Tavares (à direita) (**)

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Notas de L.G.:

(*) Último poste desta série > 22 de Novembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7319: (Ex)citações (112): O Simples e o Erudito (na Tabanca Grande) (José Brás)


(**) (2) Vd. postes do Victor Tavares onde se evocam os dias trágicos, para a CCP 121, de Guidaje (Op Mamute Doido, 23-29 de Maio de 1973):



 25 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1212: Guidaje, de má memória para os paraquedistas (Victor Tavares, CCP 121) (1): A morte do Lourenço, do Victoriano e do Peixoto


9 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1260: Guidaje, de má memória para os paraquedistas (Victor Tavares, CCP 121) (2): o dia mais triste da minha vida

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Guiné 63/74 - P7344: Convívios (284): 7º Encontro da Tabanca do Centro (Joaquim Mexia Alves/Juvenal Amado)


1. O nosso Camarada Joaquim Mexia Alves, ex-Alf Mil Op Esp / RANGER da CART 3492, (
Xitole/Ponte dos Fulas); Pel Caç Nat 52, (Ponte Rio Udunduma, Mato Cão) e CCAÇ 15 (Mansoa), 1971/73, enviou-nos, com data de 25 de Novembro de 2010, a seguinte mensagem:
7º Encontro da Tabanca do Centro - Almoço a roçar o Natalício

Foi-me confiada, ou melhor, “imposta”, pelo comandante em chefe da Tabanca do Centro, ou se quiserem pelo Régulo da dita, a difícil e espinhosa (não necessito explicar porquê espinhosa, basta dizerem o meu nome) tarefa de dar a conhecer o que foi este encontro ou “combíbio” (por causa do pessoal do norte), festa pré-Natal à volta da mesa onde, um delicioso leitão e/ou cozido, fartura em tempo de crise, nos foi dado comer e chorar por mais.

Diga-se em boa verdade que antes de aceitar a tarefa de resumir a escrito os acontecimentos procurei demover essa ideia da cabeça do Chefe da Tabanca, sem sucesso, acabando mesmo por deixar no livro de reclamações que não havia o direito de ter de escrever imediatamente a seguir ao exímio narrador de acontecimentos que é o JERO, dada a sua graciosidade de escrita. Não tendo conseguido obter o resultado pretendido, achei melhor calçar umas sapatilhas e pôr-me ao caminho, não fosse o Diabo tecê-las e depois não conseguir descalçar a bota.

Feita a introdução vamos aos factos. Asseguro por minha honra que estiveram representadas quase todas as forças em parada, mas não parados pelo menos até encherem a pança. Registou-se, contudo, uma vez mais, a ausência da marinha, já que desde tropas especiais ou de elite, regulares ou feijão verde até à força aérea, todos marcaram presença.

Também as senhoras se fizeram representar desta vez em qualidade e número, no início e fim da mesa. Obrigado pelo belo efeito que deram à mesa e pela gentileza da companhia que nos fizeram, já que nas conversas tiveram que procurar outros interesses.

Não houve louvores a registar, ninguém se destacou em especial o que é facto de monta nos tempos que correm. Omito os nomes dos presentes, aliás, não sei se todos estavam devidamente autorizados pelas cara-metade, o que evita tornar-me um delator e arranjar-lhes complicações que poderiam levar à sua despromoção ou mesmo desterro familiar. Também não houve televisão ou rádio que conseguisse chegar-se à frente com o valor para assegurar a cobertura do acontecimento, ficou assim essa a cargo dos presentes o que me simplifica a tarefa.

Regista-se que tudo decorreu dentro da normalidade, com a presença das caras já habituais a que se juntaram outras estreantes, mesmo de outras Tabancas (locais), num total de 34 elementos, representando todos os escalões etários, mais usados, novos e meio uso.

O almoço começou por ser regado, no seu início, com o delicioso vinho do Zé Manel mas, não passou do início, tivemos que recorrer aos prestimosos fornecedores da Preciosa.

Convém definir, aqui e agora, que o trato dado à Preciosa decorre do que foi dito pelo comandante Mexia na sua intervenção, referindo ser uma criatura preciosa e juntar a esse facto o ser também esse o seu nome. Irei, por isso, com o devido respeito, falar desta senhora que nos atura as madurezas e nos mima com os seus deliciosos petiscos como Preciosa, apenas.

Dizia eu que abrimos com um mimo que nos havia sido prometido, sem aumento do valor do prato, calcule-se isto nos tempos que correm em que qualquer especulador estaria logo a exigir mais um tanto por cabeça, salvo seja, por presença fica melhor, um belíssimo queijo fresco e umas excelentes fatias de presunto. Agradeço o favor de não começarem a salivar, estamos ainda nas entradas.

Tudo tem um fim, acabaram-se as entradas e a abertura da festa e passámos para o já famoso cozido e a novidade proposta pelo Agostinho, leitão da Boavista. Não, não é do Boavista, é mesmo da Boavista. Curiosamente o Agostinho comeu cozido, vai ter de explicar aqui a razão. Ele disse-me, mas eu acho que ele vai ter de chegar-se à frente e contar aqui mesmo o porquê.

Estava a festa a mais de meio, para não dizer no início do fim, quando começaram as ofertas do Zé Brás ao Régulo da Tabanca Joaquim e do JERO também ao Vasco e ao Mexia e de um outro sorteado entre as senhoras presentes, mas esses acontecimentos ficaram a cargo de outros escribas e não vou gastar mais tinta da minha pena. Foi então que chamada a Preciosa, o Vasco, em nome de todos os presentes, entregou-lhe uma colcha de Alcobaça, como lembrança e reconhecimento colectivo pelos “Kilos” que ela nos obriga a perder nos ginásios por causa dos almoços.

Momentos significativos e importantes na camaradagem se registaram durante todo o decorrer do encontro, não se vendo hipocrisia, cinismo, risos forçados, unanimidade de vontades ou pensamentos, mas onde todos continuaram a manter as suas opiniões e divergências e já a interrogarem-se quando é o próximo almoço, agora que temos aí Dezembro com todas as ofertas e demais coisas apetitosas. Ficou assim estabelecido que o próximo, só no mês dos gatos, Janeiro.

Esta história, com h e grande, por ser verdade e eu a assinar por baixo, tornou-se maior por não saber o que escrever, mas não precisam ler, chegados aqui parem e vão dormir ou passear, conforme a hora e o local, certo? Eu sei, um bem-haja para vocês também.

Expostos os factos, fica-me uma dúvida, devo ou não continuar a dar-me com esta gente. Comem bem, bebem melhor, pagam pouco, dão prendas às pessoas, respeitam-se uns aos outros, discutem e sem estarem de acordo não se ofendem, não sei não, vou pensar. Onde raio vou eu gastar as energias?

Um abraço,
Belarmino Sardinha

Notas:

Em primeiro lugar agradecer ao atabancado Belarmino a sua excelente narrativa, bem como, ao Juvenal Amado e Miguel Pessoa a exaustiva, salvo seja, reportagem fotográfica. Outras há, que a gente sabe!
E neste primeiro lugar cabe forçosamente um agradecimento ao Jero pelo presente que nos arranjou para obsequiarmos a Preciosa, bem como os outros presentes que sempre tão camarigamente vai distribuindo.
Em segundo lugar, explicar que o Leitão não era da Boavista, mas sim dum fornecedor da Preciosa.
Em terceiro lugar confirmar que o Agostinho, autor da ideia do leitão, não comeu o dito cujo, pelo que, tendo explicado a razão aos presentes, tem de a explicar aos ausentes, não vão eles pensar que o Agostinho é "racista" e só come Leitão da Boavista!
...Como desejo de Almirante é ordem, (pobre de mim apenas comandante!), aqui se acrescenta com todo o gosto e prazer o comentário do Vasco da Gama!.
Não há bela sem senão... Não acrescento uma pitada ao escrito de mestre Belarmino, pois qualquer acréscimo o tornaria mais pobre, e quero deixar expressa a minha alegria por poder conviver com malta como vocês, sem qualquer excepção.
Num mundo cada vez mais marcado pelo egoísmo a malta responde com vincado altruísmo; num mundo onde as pessoas têm o olhar apontado ao seu umbigo numa manifestação de amor exclusivo a si próprias a malta responde com solidariedade, não só entre os diferentes atabancados, mas também e sobretudo com a ajuda às gentes da Guiné e a camaradas portugueses que vão passando menos bem.
Conhecer o Blogue do Luís Graça e Camaradas da Guiné, responsável pelo disseminar de todos estes maravilhosos encontros, foi o primeiro passo para afastar "fantasmas" que teimavam em povoar os meus sonhos com pesadelos de constantes emboscadas onde, era sempre assim, as armas da minha companhia se encravavam e não conseguiam ripostar ao fogo das dos outros.
Essa angústia que há muito não me atormenta,partiu para bem longe e é hoje substituída pelas dezenas e dezenas de novos/velhos amigos sempre em franco convívio, com um telefonema a propósito da saúde, ou perguntando se algo é necessário, ou mesmo com uma piadinha anti-benfiquista que, aqui o confesso, me faz sempre sorrir, sabendo que o nosso inimigo histórico, o outro da segunda circular, ainda consegue voar abaixo de nós...
Aqui chegado, quero explicar o tal da " bela sem senão".Recebi de um anónimo que deve ter longa prática de cartoonista, ser lagarto mas com imensa piada, estas duas fotografias tiradas no nosso convívio onde "je", para dar uma de intelectual, aparece devidamente retratado com uns apartes ao meu fervor clubista que eu gostaria de ver publicado a este meu comentário.
Peço o favor ao nosso Comandante Mexia Alves que aqui as anexe pois de pronto as envio pelo correio.Para toda a malta um grande abraço e o meu muito obrigado pelos momentos de amizade que todos me proporcionam.Do meu Buarcos lindo, meu encanto e minha alegria, a amizade sincera do

Vasco Augusto R. da Gama
É favor clicar na imagem para ver melhor!

Esta reportagem pode também ser vista no blogue:

http://tabancadocentro.blogspot.com/2010/11/7-encontro-da-tabanca-do-centro-almoco.html
Fotos: © Juvenal Amado (2010). Todos os direitos reservados.
Um grande e camarigo abraço
Joaquim
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Nota de M.R.:

Guiné 63/74 - P7343: Recortes de imprensa (35): Manecas dos Santos, o último dos cabos de guerra do PAIGC, que comandou os Strela e o cerco a Guidaje, estará na 2ª feira, 29, no lançamento do livro de Moura Calheiros (Diário de Notícias)

1. Transcrição,  com a devida vénia,  de notícia do Diário de Notícias, de ontem 

Livro junta inimigos da guerra colonial em Lisboa
por Manuel Carlos Freire

Manecas dos Santos, comandante dos mísseis do PAIGC e da sua frente norte, esteve na batalha de Guidaje contra os páras de Moura Calheiros

O coronel Moura Calheiros, que em Maio de 1973 comandou a operação de ajuda aos militares cercados pelo PAIGC no norte da Guiné, convidou o chefe dos seus inimigos naquela batalha para o lançamento do livro A última missão.

"O livro é todo baseado em documentos ou depoimentos. É a história real de uma missão", em 2008, para recuperar os corpos de três jovens pára-quedistas mortos nesses combates em Guidaje e que lá ficaram enterrados, "onde fui recordando factos que aconteceram" durante a guerra colonial, conta Moura Calheiros ao DN.

O livro A última missão  [, imagem da capa à esquerda, cortesia do Diário de Notícias], que é lançado segunda-feira na Academia Militar (Amadora), contará com a presença do comandante da frente norte do PAIGC - e responsável pela artilharia, incluíndo mísseis - que liderava o cerco à guarnição portuguesa de Guidage.

Nessa operação morreram quatro pára-quedistas, três dos quais foram recuperados em 2008 pela Liga dos Combatentes e trasladados para Portugal.

A obra, com cerca de 600 páginas, visa "homenagear os soldados que combateram na guerra colonial em África, prestada na figura dos três rapazes que fui buscar a Guidaje" há dois anos, adianta o coronel reformado.

No livro "chamo a atenção para o papel de muitos militares (os sapadores que picavam as minas, os tripulantes das lanchas, condutores dos rebenta-minas) cujo trabalho tem sido ignorado e que também tem direito a ficar na história", enfatiza ainda Moura Calheiros.
A par dessa atenção "aos heróis desconhecidos" da guerra colonial, são feitas algumas "correcções na história" dominante sobre essa época, refere o militar, admitindo que A última missão possa causar polémica em função das "diferentes formas de interpretar" os factos registados. 


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Nota de L.G.:

Último poste desta série > 21 de Outubro de 2010 > Guiné 63/74 - P7151: Recortes de imprensa (34): A guerra do Manuel Resende, ex-Alf Mil At da CCaç 2585/BCaç 2884 (Correio da Manhã)

Guiné 63/74 - P7342: Doenças e outros problemas de saúde que nos afectavam (3): Formiga baga-baga (Rui Silva)

1. Mensagem de Rui Silva* (ex-Fur Mil da CCAÇ 816, Bissorã, Olossato, Mansoa, 1965/67), com data de 25 de Novembro de 2010:

Caros Luís, Vinhal, Briote e M. Ribeiro:


Recebam um grande abraço, também de amizade e consideração.


Em anexo, e dando continuidade aos postes n.ºs 7012 e 7138, aqui vai o trabalho sobre o 3.º item (a formiga “baga-baga”).


Claro que fica ao vosso critério (sempre por mim bem aceite) o publicar ou não este trabalho.


Rui Silva


2. Como sempre as minhas primeiras palavras são de saudação para todos os camaradas ex-Combatentes da Guiné, mais ainda para aqueles que de algum modo ainda sofrem de sequelas daquela maldita guerra.

DOENÇAS E OUTROS PROBLEMAS DE SAÚDE (ou de integridade física) QUE A CCAÇ 816 TEVE DE ENFRENTAR DURANTE A SUA CAMPANHA NA GUINÉ PORTUGUESA (Bissorã – Olossato – Mansoa 1965/67)

(I) Paludismo (P7012)
(II) Matacanha (P7138)
(III) Formiga “baga-baga”
(IV) Abelhas
(V) Lepra
(VI) Doença do sono


Não é minha intenção ao “falar” aqui de doenças e outros problemas de saúde que afligiam os militares da 816 na ex-Guiné Portuguesa, imiscuir-me em áreas para as quais não estou habilitado (áreas de Medicina Geral, Medicina Tropical, Biologia, etc.) mas, tão só, contar aquilo, como eu, e enquanto leigo em tais matérias, vi, ajuizei e senti.

Assim:

As quatro primeiras, a Companhia sentiu-as bem na pele (ou no corpo). As duas últimas (Lepra e Doença do sono), embora as constatássemos – houve mesmo contactos directos de elementos da Companhia com leprosos (foram leprosos transportados às costas, do mato para Olossato nas tais operações de recolha de população acoitada no mato para as povoações com protecção de tropa) –, não houve qualquer caso com o pessoal da Companhia, ou porque estas doenças estavam em fase de erradicação (?), ou porque a higiene e a profilaxia praticadas pela Companhia eram o suficiente para as obstar.


FORMIGA BAGA-BAGA - III

Julgo que a descrição exacta é:

BAGA-BAGA: - Montículo de terra endurecida que abriga uma comunidade de térmitas (Cupim). Pode atingir até cerca de 8 metros de altura.

TÉRMITAS (Cupim): espécie de formiga esbranquiçada e de contornos e cabeça avermelhados que vive numa comunidade, aos milhares, uma comunidade organizada com Rei, Rainha, operárias e soldados, e que constrói o baga-baga com a secreção de saliva misturada principalmente com pó de terra fazendo daquela obra de engenharia (arejamento, climatização e arrumação) o seu habitáculo.

Isto porque havia quem dissesse que a formiga baga-baga é que deu o nome ao montículo e outros que diziam que o baga-baga (montículo daquela formiga) é que deu nome à formiga.

Aconteceu então, numa operação de golpe-de-mão à casa-de-mato inimiga de Biambe, o meu primeiro encontro com estas “más companhias” e quando já tinha algumas semanas de Guiné e de mato.
Dá-se uma emboscada aquando do regresso, o que já se contava e como era habitual, e então valha-nos, mais uma vez, um baga-baga.

“Entretido” aos tiros, só depois me apercebi das alfinetadas que estava a levar nas mãos e braços, e já pelas pernas acima.”Mas o que é isto?” Qual é a minha surpresa, vejo umas formigas avermelhadas a ferrarem-me por todo o lado.

Comecei a sacudi-las sem por a cabeça fora do baga-baga, isto é fora de uma eventual boa pontaria inimiga. À sacudidela elas não saíam e então, verifiquei, para desespero meu, que elas estavam encastradas na minha carne. Com o empenho que elas actuavam parecia que até faziam o pino. Só puxando-as é que elas saíam, sem que no entanto a cabeça deixasse de ficar agarrada através de uns tentáculos enterrados. Lembrei-me das abelhas - nas abelhas o abdómen fica ligado ao ferrão - nestas ficam, não um ferrão, mas umas pinças (ou cornos) com a cabeça agarrada.

Os baga-bagas eram os nossos abrigos predilectos. Ainda bem que existiam. Parecia que tinham sido feitos para aquele tipo de guerra – a guerra de guerrilha. Altos, espessos quanto baste, duros como cimento, e a espaços mais ou menos regulares. Em qualquer operação no mato, principalmente em zona laranjo/vermelha, era constante um olhar prévio em redor para ver onde havia um baga-baga que nos acudisse.

Havia zonas em que existiam mais, julgo que em terrenos mais secos. Nas bolanhas não havia. Certamente que a água das chuvas e das marés que as inundavam, não propiciavam tais obras de engenharia. Ali para os lados de Biambi, Maqué, Iracunda, Morés, Cansambo, etc. aqueles montículos eram mesmo aos montes.

Aquela dor aguda e penetrante em cada ferroada passava no entanto alguns segundos depois. Perguntei-me porquê elas aparecerem naquele baga-baga e não em muitos outros onde me tinha protegido em situações embaraçosas como aquela. Disseram-me, depois, que aquelas formigas constroem o baga-baga mas que depois o abandonam, julga-se quando já não têm condições de habitabilidade, ou acaba aquela geração, ou ainda por predadores e parasitas mais fortes. Seja como for, verifiquei que grande parte dos baga-bagas não tinham aquelas formigas, afinal as legítimas proprietárias, mas sim eram habitados agora por toda a espécie de insectos: grandes, pequenos, com asas, sem asas, aranhas, moscas, moscões, etc., etc. Parasitagem,  afinal.

Apesar das dezenas de ferroadas que se levava, e as marcas eram bem visíveis, o que era certo, pelo que me apercebesse, não havia doença ou alergia subsequente. Afinal aquele Cupim que não gostava que usássemos a sua casa, ainda que para defesa do toutiço, teria uma história bem curiosa do que é uma comunidade, ainda que a nível de pequenos insectos, em que há uma entreajuda impressionante, que constrói com uma preciosa engenharia de habitabilidade e sustentabilidade um território, em que tem as suas operárias, os seus soldados defensores de todo o reino, um rei e uma rainha, esta a fecundar a um ritmo impressionante (cerca de 1000 ovos por dia) aumentando continuamente a prole, qual fábrica de trabalho em série. Afinal aquele torrão de terra, e que jeito dava muitas vezes, tinha muito que contar sobre a mãe natureza. Escondia uma comunidade laboriosa unida e homogénea em que cada um tinha uma missão religiosa a cumprir. Afinal uma lição para muitos…

Havia também por lá umas formigas pretas,  de grande cabeça e com um comprimento de 1 centímetro ou mais, não faltando quem se queixasse delas; embora também as visse por perto não me lembro de ser mordido por elas, já dos Cupins…

Ao clicar no ícone seguinte, pode-se ver um pequeno filme do Youtube  que mostra umas formigas pretas a dominarem os Cupins. No entanto não me parece que sejam as formigas pretas de que a malta se queixava.

Ainda através do ícone se pode ver um outro filme (Cidade das formigas) onde se pode ver que,  ao despejar cimento no estado de líquido pelas aberturas do formigueiro, aquele percorre todo o labirinto e uma vez solidificado mostra todo o habitáculo das formigas. De algum modo, embora ressalvando as proporções, o cupinzeiro (baga-baga) que víamos na Guiné, tem uma arquitectura semelhante.


Numa certa altura do ano, já no Olossato e julgo que tinha a ver com o tempo das chuvas, reparamos a páginas tantas, e já de noite, que as lâmpadas da iluminação à volta do quartel, alimentadas pelo gerador eléctrico, estavam rodeadas de milhares de insectos voadores. Logo também invadiram a nossa messe rodeando as lâmpadas ali acesas. Uma coisa nunca vista. Logo apagamos as luzes e os insectos voadores desapareceram, para num ápice voltarem a rodear as lâmpadas logo estas reacendidas, em voos frenéticos e repetidos em direção à origem da luz.

Chegamos a apagar a iluminação e a incendiar papeis julgando que as formigas se queimavam, desaparecendo assim, mas, qual o nosso espanto, as formigas envolveram as chamas. Aproximavam-se da chama para logo se afastarem ligeiramente (devido ao grande calor, suponho) para logo fazerem nova investida. O calor só era problema quando elas se queimavam (?). Uma coisa impressionante. Mas eles insistiam, insistiam sempre, ao encontro da luz.

Ao ler a história dos Cupins e sabendo que estes numa fase da sua metamorfose possuem asas (ver na figura abaixo, Como funcionam os Cupins-Ciclo de vida) em que o Cupim passa por uma fase da sua vida em que tem asas e a que se dá o nome de Alado) admito que esses vastos enxames em volta de tudo que fosse luz seriam os Cupins na fase de alados. De uma formiga tratava-se certamente. Mas, de tipos de formigas e outros insectos, cobras e passarada na Guiné haviam aos montes.





Fonte: www.mundoestranho.abril.com.br

- Montanha viva

- Ninho é cheio de túneis, tem andares embaixo da terra e pode durar oitenta anos.

CONSTRUÇÃO FIRME
O tamanho do cupinzeiro depende da população da colónia, mas, em média, atinge 60cm de altura. Ele é feito de terra, areia, saliva e excrementos dos próprios cupins. A construção é tão sólida na parte externa que alguns cupinzeiros se mantêm por até 80 anos!


LABIRINTO INTERNO
Por fora, um cupinzeiro do tipo montículo parece um monte de terra ressecada, sem vida. Dentro, porém, ele tem vários túneis e câmaras interligados por onde circulam milhões de cupins. As câmaras têm diversos usos, de depósito de alimento a berçário para ovos.


EM CAMADAS
O cupinzeiro é erguido por compartimentos e ganha “andar por andar”. O ninho cresce tanto para cima como para baixo da terra – cerca de 25% do tamanho total do cupinzeiro pode ser subterrâneo -. Os andares mais novos são mais húmidos e não tão sólidos.


CAMAROTE VIP
Entre as milhares de câmaras, uma se destaca: a câmara real. Nela vivem a rainha e o rei da colónia, responsáveis pela fundação do ninho e pela multiplicação dos cupins. O casal real vive, em média, de 15 a 20 anos e pode ser substituído por outros pares secundários.


ENTRADA VIGIADA
O acesso ao ninho é feito por túneis subterrãneos que desembocam no solo. É por eles que os cupins operários saem para colectar comida. Nessas missões, são protegidos de inimigos, como formigas e vêspas, pelos cupins soldados que fazem uma “escolta”.


Um estudo da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, indica que os verdadeiros reis da savana africana não são os leões, mas sim os cupins. Segundo o pesquisador Robert Pringle, a rede de colónias criadas pelas colónias do insecto influencia mais a população de animais que os grandes predadores ou os gigantes da região, como os elefantes e as girafas. As informações são da Agência Fapesp.

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Segundo a pesquisa, a acção do cupim contribui enormemente para a produtividade do solo, que acaba por estimular a produção vegetal e, por consequência, animal. Os cientistas afirmam que a distribuição dos cupinzeiros por uma área maior maximiza a produtividade de todo o ecossistema.

“Não são os predadores carismáticos – como leões e leopardos – que exercem os maiores controles em populações. Em muitos aspectos, são os pequenos personagens que controlam o cenário. No caso da savana, aparentemente os cupins têm uma tremenda influência e são fundamentais para o funcionamento do ecossistema”, diz Robert Pringle.

Os pesquisadores estudaram cupinzeiros na região do Quénia Central. Eles observaram que essas estruturas tinham cerca de 10m de diâmetro, com distâncias entre 60 e 100m entre eles. Cada um abriga milhões de insectos e muitas vezes são centenários. Os cientistas se surpreenderam ao observar um grande número de lagartos próximos aos cupinzeiros, o que levou à quantificação da produtividade ecológica da área. Eles chegaram à conclusão que cada comunidade de insectos dava suporte a densas agregações de flora e de fauna. As plantas cresciam mais rapidamente quando próximas a essas estruturas e as populações de animais, assim como a taxa de reprodução, eram menores quando ficavam longe dos cupinzeiros.

Imagens feitas por satélite confirmaram as observações. Segundo os pesquisadores, essas imagens mostravam que cada cupinzeiro ficava no meio de uma “explosão de produtividade floral”. Além disso, essas “explosões” parecem divididas organizadamente, com cada uma como se fosse uma casa em um tabuleiro de xadrez.


Os cientistas pretendem agora estudar qual é exactamente a contribuição dos cupins a essa produtividade. Eles acreditam que os insectos – que muitas vezes são vistos como pragas na agricultura – distribuem nutrientes, como fósforo e nitrogênio, que beneficiam a fertilidade do solo.

Segue: Abelhas - IV
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 17 de Outubro de 2010 > Guiné 63/74 - P7138: Doenças e outros problemas de saúde que nos afectavam (2): Matacanha (Rui Silva)

Guiné 63/74 - P7341: Memória dos lugares (113): Fajonquito, fotos de Sérgio Neves, ex-Fur Mil Mec Auto da CCAÇ 674, 1964/66 (1) (Constantino Neves)

1. Mensagem de Constantino Neves, ex-1.º Cabo Escriturário da CCS/BCAÇ 2893, Nova Lamego (Gabu), 1969/71, com data de 23 de Novembro de 2010:

Camaradas
Já vai algum tempo que não vos envio uma das minhas histórias, pois, chegou a altura de o fazer.

Não é nenhuma das minhas histórias, mas sim algumas das fotos do espólio do meu irmão, Sérgio Neves, tiradas em Fajonquito nos anos 1964/66.
Vou tentar comentá-las, pois o meu irmão não tinha o costume de escrever no verso delas, nalgumas apenas escrevia Fajonquito 1964/65/66.

Há muito que as queria enviar, pois o nosso Amigo e Tertúliano Guineense, Cherno Baldé tinha feito o apelo para quem tivesse alguma coisa de Fajonquito, o enviasse.

Também o Camarada Beja Santos comentou no poste P2244, sobre os burros da Guiné.


MEMÓRIA DOS LUGARES

FAJONQUITO (1)

Localização de Fajonquito


Foto 1 > Foto tirada com camaradas. Em todas elas está um grande amigo dele, chamado Faria, que residia em Sobral do Monte Agraço, tão amigo, que pôs ao filho o nome de Sérgio. Há já algum tempo que perdi o contacto dele. Gostava muito de o rever.

Fotos 2; 3 e 4 > Alguma semelhança com a Feira do Cavalo Lusitano em Santarém, é só isso, semelhança, pois é o meu irmão Sérgio Neves, ex-Fur Mil Mec Auto/Burros da CCaç 674, a montar um dos famosos Burros (R) [marca Registada] da Guiné, mais propriamente de FAJONQUITO.

Foto 5 > O meu irmão com o dono do único carro de Fajonquito, na altura, [Simca] seu amigo, que lhe emprestava o carro para ele dar umas voltinhas.

Fotos 6 e 7 > Sérgio Neves, durante as visitas às Tabancas
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 14 de Novembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7280: Memória dos lugares (111): Mondajane, a sudoeste de Dulombi, tabanca fula em autodefesa que ameaçámos queimar no princípio de Setembro de 1969 (Carlos Marques Santos, ex-Fur Mil, CART 2339, 1968/69)

Guiné 63/74 - P7340: Bibliografia de uma guerra (58): Opúsculo da Bibliografia sobre o Fim do Império (Mário Beja Santos)

1. Mensagem de Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 16 de Novembro de 2010:

Queridos Amigos,
Durante o lançamento de "Tempo Africano", de Manuel Barão da Cunha (16 de Novembro), distribuíram pelos participantes o opúsculo "Bibliografia sobre O Fim do Império", editado por DG Edições, com o patrocínio da Liga dos Combatentes, Comissão Portuguesa de História Militar e Câmara Municipal de Oeiras.
O coordenador declara liminarmente que há lacunas a preencher e pede a todos os interessados a competente colaboração.
Conviria que se examinasse o opúsculo e se fizessem propostas.
Por exemplo, vejo falta de referência a obras de Álvaro Guerra, Hélio Felgas e Luis Sanches de Baêna, isto para falar de autores cujas recensões apareceram recentemente no blogue.

O coronel Barão da Cunha disponibiliza, por envio digital, a todos os confrades que queiram apreciar a referida bibliografia, ficando à espera de todas as vossas sugestões (mbaraocunha@gmail.com).

Um abraço,
Mário

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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 24 de Novembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7326: Notas de leitura (176): Tempo Africano, de Manuel Barão da Cunha (Mário Beja Santos)

Vd. último poste da série de 13 de Julho de 2010 > Guiné 63/74 - P6727: Bibliografia de uma guerra (57): Estranha Noiva de Guerra, de Armor Pires Mota, a publicar em Setembro de 2010 (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P7339: In Memoriam (62): Por quem os sinos dobram hoje, 40 anos depois: Fernando Soares, Joaquim de Araújo Cunha, Manuel da Silva Monteiro, P. Almeida, Rufino Correia de Oliveira e Seco Camará, os bravos do Xime, mortos na Ponta do Inglês (Op Abencerragem Candente) (Luís Graça)


Portugal > Caldas da Rainha > 1968 > O futuro furriel miliciano Guimarães, de minas e armadilhas, está a tocar viola, rodeado de camaradas que, como ele, estavam a fazer a recruta no RI 5 das Caldas da Rainha. "Lá ao fundo, à direita e em último plano, uma carinha pequenina, é o Cunha".... Viria a morrer em combate, na região do Xime, na Op Abencerragem Candente, em 26 de Novembro de 1970, às 8h50 da manhã, pertencia à CART 2715, unidade de quadrícula do Xime.  O Cunha,  mais quatro camaradas. E mais o nosso guia e picador Seco Camará.  Assisti aos últimos minutos de vida do Cunha e fechei-lhe os olhos. Cinco horas antes tínhamos bebido o último copo, no aquartelamento do Xime.  Nessa época eu estava integrado no 4º Gr Comb da CCAÇ 12.   Simbolicamente, em homenagem aos bravos do Xime, edito este poste exactamente às 8h50 do dia 26 de Novembro de 2010. 40 anos depois... dessa descida ao inferno da guerra no Xime. (LG)

Foto: © David J. Guimarães (2005). Todos os direitos reservados.



Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Mansambo > CART 2339 (1968/69) > Legenda do fotógrafo: "O milícia e guia das NT, Seco Camará: 56 minas detectadas e muitas guerras"...

Foto (e legenda): © Torcato Mendonça (2007). Todos os direitos reservados.



Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Bambadinca > CCS do BART 2917 (1970/72) > Monumento aos mortos do batalhão e unidades adidas (este monumento foi destruído a seguir à independência da Guiné-Bissau).

Quanto aos da CART 2715 (Xime, 1970/72), recordo que assisti aos últimos momentos do Fur Mil Cunha, morto na Op Abencerragem Candente, juntamente com mais 4 militares da sua unidade, além do guia e picador das NT, o Seco Camará, que estava ao serviço da CCAÇ 12 e da CCS do BART 2917. E ajudei a recuperar e a trazer os cadáveres (ou o que restava deles).

Eis os nomes completos dos camaradas da CART 2715, mortos em 26 de Novembro de 1970 Fernando Soares, Sold;  Joaquim de Araújo Cunha, Fur Mil;  Manuel da Silva Monteiro, Sold;  Rufino Correia de Oliveira, Sold; há um camarada cujo nome desconheço (e que não consta da lista dos mortos do ultramar da Liga dos Combatentes, tal como o Secio Camará). Mas por exclusão de partes (em relação ao resto dos mortos do batalhão) só ser o P. Almeida, Sold. (O Alf Mil Op Esp Ribeiro também pertencia à CART 2715 mas morrerá mais tarde, em Ponta Varela, em 3 de Outubro de 1971; o Fur Mil Quaresma pertencia á CART 2716, era amigo e camarada do David Guimarães, morreu na explosão de uma armadilha). O 1º Cabo Ribeiro julgo que pertencia à CCS.

Foto: © Júlio Campos / Sousa de Castro  (2007). Todos os direitos reservados.


Excerto do desenrolar da acção (Op Abencerragem Candente, 25-26 de Novembro de 1970) (*)

(...) Três horas depois, pelas 8.50h, [do dia 26], já perto da Ponta do Inglês, o IN desencadearia uma violenta emboscada em L sobre a direita, precedida por um tiro isolado que foi confundido com um sinal de aviso duma eventual sentinela avançada, e que apanhou na zona de morte os 3 Gr Comb do Agr C [ CART 2715] e 1 Gr Comb (4º) do Agr B [CCAÇ 12].

Os primeiros tiros do IN, especialmente de LRockets, atingiram mortalmente o picador e guia do Agr B, Seco Camará, que ia na frente, e os quatro homens que o seguiam, incluindo um graduado [furriel miliciano Cunha], tendo ferido gravemente outro. Com rajadas sucessivas de LRockets e armas automáticas o IN, fixando as NT, lançou-se ao assalto sobre os primeiros homens, mortos ou gravemente feridos, conseguindo apanhar-lhes as armas, e só não os levando devido a pronta reacção das NT.

É de destacar aqui a acção heróica dos soldados Soares (CART 2715), que veio a ser mortalmente ferido, Sajuma (apontador de bazooka do 4º GR Comb/CCAÇ 12) que ficou ferido numa perna, e Ansumane (apontador de dilagrama, também do 4º Gr Comb/CCAÇ 12, ferido ligeiramente nas costas), que se lançaram ao contra-ataque, juntamente com outros camaradas e alguns graduados, a fim de quebrar o ímpeto do IN e de recolher os mortos e feridos.

0 ataque durou cerca de 20 minutos, sendo a retirada do IN apoiada com tiros de mort 82 e canhão s/r que incidiram sobre a estrada, e especialmente sobre os 2 últimos Gr Comb (l° e 2º) da CCAÇ 12, assim como rajadas enervantes de pistola metralhadora, de posições que ainda não se haviam revelado, nomeadamente de cima das árvores.

(...) Em consequência da emboscada IN, uma das mais violentas de que há memória na região do Xime, pelo seu impacto sobre as NT, a CART 2715 [Xime] sofreu 5 mortos (l Furriel Mil) e 7 feridos, e a CCAÇ 12 teve 2 feridos (dos quais 1 grave, o Sold Sajuma Jaló), e 1 morto (o picador e guia permanente das NT Seco Camará, na altura ao serviço da CCS do BART 2917, e que do antecedente já tinha dado provas excepcionais de coragem e competência, tendo participado com a CCAC 12 em quase todas as operações a nível de Batalhão no Sector Ll).

Sob a protecçãodo helicanhão (que seguia para Mansambá no momento em que foi pedido o apoio aéreo), os 2 Agr regressaram ao Xime, com 2 Gr Comb do Agr B [1º e 2º da CCAÇ 12] a abrir caminho por entre a mata densa, 1 Gr Comb do Agr C [ 2715] a manter segurança à rectaguarda e os restantes empenhados no transporte dos feridos e mortos, tendo as heli-evacuações sido feitas numa clareira já perto de Madina Colhido e depois de percorridos mais de 5 Km, em condições extremamente penosas [No helicóptero vinha uma ou mais enfermeiras-paraquedistas].

Notícias posteriores [ não se indica a fonte...] admitiam que nesta emboscada o IN tivesse sofrido 6 mortos. Entretanto, desta reacção do IN contra a penetração das NT num dos seus redutos, concluiu-se que aquele foi excepcionalmente bem comandado porque:

(i) escolheu um local que por ser muito fechado dificultava a manobra;

(ii) utilizou pessoal em cima de árvores para ter uma melhor visão e comandamento sobre as NT;

(iii) tinha a retirada preparada com armas colectivas (morteiro, canhão s/r) que só se revelaram na quebra de contacto;

(iv) fez fogo de barragem, especialmente de LRockets, sobre o Gr Comb que seguia na vanguarda, permitindo lançar-se ao assalto. (...) (*)
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Nota de L.G.:

(*) Vd. postes de:

25 de Abril de 2005 > Guiné 69/71 - VII: Memórias do inferno do Xime (Novembro de 1970) (Luís Graça)

26 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1317: Xime: uma descida aos infernos (1): erros de comando pagam-se caros (Luís Graça)

26 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1318: Xime: uma descida aos infernos (2): Op Abencerragem Candente (Luís Graça, CCAÇ 12)

Guiné 63/74 - P7338: Parabéns a você (178): Jorge Teixeira, ex-Fur Mil Art.ª da CART 2412 (Tertúlia / Editores)

1. Neste dia 26 de Novembro de 2010, está de parabéns o nosso camarada Jorge Teixeira* (ex-Fur Mil Art, CART 2412, Bigene - Guidage, Barro, 1968/70).

Aqui estamos a felicitá-lo por mais este aniversário e a desejar-lhe a continuação de uma vida com saúde, junto de seus familiares e dos muitos amigos que tem na Tabanca Grande, Tabancas do Grande Porto, e não só.

Recebe, caro Jorge, um abraço colectivo de parabéns, ficando desde já marcado encontro para o próximo ano, neste mesmo "local"

Pela Tertúlia e Editores
CV
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Notas de CV:

(*) Vd. postes de:

26 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4417: Tabanca Grande (148): Jorge Teixeira, ex-Fur Mil da CART 2412, Bigene, Guidage e Barro (1968/70)
e
26 de Novembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5342: Parabéns a você (45): Jorge Teixeira, ex-Fur Mil da CART 2412 (Editores)

Vd. último poste da série de 24 de Novembro de 2010 > Guiné 63774 - P7325: Parabéns a você (177): Tony Levezinho, um grande camarada, um amigo do peito (CCAÇ 2590 / CCAÇ 12, Santa Margarida, Contuboel e Bambadinca, 1969/71) (Luís Graça)

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Guiné 63/74 - P7337: Blogpoesia (89): Peregrinação (Manuel Maia) (1): Recruta e Especialidade



1. Mensagem de Manuel Maia* (ex-Fur Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4610, Bissum Naga, Cafal Balanta e Cafine, 1972/74), com data de  24 de Novembro de 2010:

Caro Carlos,
Seguem umas quantas sextilhas para editares se assim o entenderes...
Abraço.
manuel maia




PEREGRINAÇÃO - 1

Nas Caldas da Rainha fiz recruta,
três meses de canseiras, de labuta,
nas armas me envolvendo sem prazer...
No 5 éramos seis as Companhias
pejadas de instruendos cujos dias
penavam, ansiosos de os vencer...


Depois d`almoço, um sol impiedoso,
suor encharca o corpo, já oleoso,
do esforço matinal da instrução...
Foi pórtico, foi galho e foi corrida,
p`ra além da repetida ordem unida,
há malta a desmaiar de insolação...


Por toldo protegido está o famoso,
com seu discurso vago, até pastoso,
chefão a quem chamávamos Meirim...
Conversa era a da treta, a debitada,
repetitiva, tão cheia de nada
p`ra nós suplício enorme, sem ter fim...


De todos conhecido é o palanfrório,
uma arengada p`ra iludir simplório
de pouca consistência, a cegarrega...
A acção psicológica exercida
é treta demagógica embutida,
p`ra impor autoridade surda e cega...


De lá para Tavira, no C.I.S.M.I.
atirador então me fiz ali,
uns tempos bem passados, estupendos...
Com obras de restauro, o ex-convento,
quartel a carecer de tratamento,
não tem lugar p`ra tantos instruendos...


Em conta são os quartos lá de fora,
p`la malta alugados, bem na hora,
com tratamento às roupas, incluído...
Sistema p`ro Exército é perfeito,
onde alguém "se orienta", p`ro efeito,
a história, vista hoje, tem sentido...


Será que havia verba definida
p`ra um terço da maralha ali "perdida"
ser instalada algures p`la cidade?
Ao estado caberia a obrigação
de dar àqueles "filhos da Nação",
um tratamento justo, de equidade...

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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 20 de Novembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7311: Blogpoesia (88): Resorts Guinéus (Manuel Maia)

Guiné 63/74 - P7336: Blogoterapia (167): Manhãs de Outono (Felismina Costa)

1. Mensagem da nossa tertuliana Felismina Costa* com data de 24 de Novembro de 2010:

Boa noite amigo Carlos Vinhal,
Resolvi enviar mais um texto.
Este da minha vivência actual, aqui nos subúrbios da capital, onde há muitos anos resido.
Nas manhãs dos fins de semana, levanto-me e vou até à ribeira das Jardas onde costumo tomar o pequeno almoço, na cafetaria desse espaço, e onde observo o que descrevo.
Garanto-vos, que em dias de sol, e sobretudo nesses dias lindos de Outono, vale a pena descer a Rua Cidade de Paris e ir a procura deste espaço.
Durante algum tempo, estou ali. Depois escrevo, viajo no tempo, regrido... mas sou sempre eu.

Obrigada pela atenção.



Manhãs de Outono

O verde das árvores e da relva, o curso sinuoso da ribeira, e o Sol reflectido nas águas que correm mansas com destino ao mar, são um espectáculo agradável, nesta manhã fresca de Novembro, contudo, soalheira e límpida.

Como sempre, o meu fascínio pela Natureza e o interesse por tudo o que me rodeia, faz com que dê atenção aos pormenores.

Observo que as pessoas que por ali circulam, são na sua maioria, cidadãos já na idade da reforma, mais disponíveis portanto, e que procuram aqui uma forma de ocupar o tempo, convivendo uns com os outros, circulando, porque "circular é viver".

Alguns adolescentes utilizam as pistas existentes e andam de patins, skate e bicicleta.

Calmo e tranquilo, é um lugar excelente para se estar só, ou acompanhado.

Faço muitas vezes o caminho que medeia entre a minha casa e a dita ribeira, na procura do sossego, da tranquilidade, que sempre encontro no meio da Natureza:
À minha volta, as árvores moldadas pela imposição do vento Norte, inclinam-se na posição oposta e parecem vir ao meu encontro, descendo da sua altura e quase roçando a minha cabeça.
Sorrio-lhes.
Acaricio alguns ramos a que chego, e falo com elas do tempo que as faz crescer e tornarem-se robustas, e da sua beleza.
Às vezes, até parece que me sorriem.
Conheço-as, e divido com elas a ternura que tudo me merece.
Lesta, subo e desço o parque linear, procurando manter a forma, e depois faço o caminho ao longo da ribeira, até à antiga Melka.
Observo as espécies cinegéticas que a ribeira abriga, e paro por vezes, encantada e agradecida.
Umas vezes… apetece-me cantar!
Outras… choro saudades.
De qualquer das maneiras, vivo o tempo e o momento.
Vivo… a vida!

Emoldurado pelas barreiras arquitectónicas dos prédios subjacentes, o espaço fica por essa razão, afastado do bulício da cidade, mas dentro dela.
Caminho a sós com os meus pensamentos. Regrido muitas vezes, e vou até ao passado, aos meus tempos de menina.
Ali, permanecem os grandes espaços e a Paz que os envolve.
As pequenas grandes coisas a que me sinto sempre ligada, e que valem, porque me enchem a alma:
O Sol Majestoso do meu Alentejo.
A terra da labuta e da alegria, da juventude onde entoava as canções em voga, e as milhentas lembranças das vozes, das presenças amigas, dos cheiros que ficam para sempre, dos sonhos sonhados!

Muitas vezes são as buzinas dos carros que me trazem à realidade.
Viajo no tempo, mais que no espaço!

Deixo o sonho, percorro o espaço deste tempo real, palpável, visível.
Volto à realidade.
Caminho segura sabendo para onde quero ir.

Adultos, crianças e adolescentes… circulam… falam… brincam!
Sorrio-lhes!
E continuo a caminhar, esperando a realização dos sonhos, que ainda me atrevo a sonhar.

Felismina Costa
Agualva, 23 de Novembro de 2010
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 23 de Outubro de 2010 > Guiné 63/74 - P7166: Blogoterapia (163): Recordações da infância (Felismina Costa)

Vd. último poste da série de 10 de Novembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7260: Blogoterapia (166): Virar as costas sem se despedir (José Eduardo Alves)