segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Guiné 63/74 - P9390: O Nosso Livro de Visitas (124): Relembrando o comandante da CART 1525 (Mansoa e Bissorã, 1966/67), Cap Art Jorge Manuel Piçarra Mourão (Afonso Silva)

1. Mensagem do nosso leitor (e camarada) Afonso Silva:


 De: Afonso Silva [ leonel.silva@netcabo.pt]
Data: 23 de Janeiro de 2012 20:05
Assunto: P-9385

Bom dia.


Relativamente  à  noticia relacionada no poste  P9385 existe a seguinte imprecisão:
É mencionado, certamente por lapso mas    indevidamente,   como comandante do BCAÇ 1876 o Ten Cor Inf Jorge Manuel Piçarra Mourão.

Segundo informação que consta no livro   Os Anos da Guerra Colonial, 1961-1975, de  Aniceto Afonso e Carlos de Matos Gomes, no respeitante às unidades mobilizadas para o TO da Guiné  no ano de 1966,  Jorge Manuel Piçarra Mourão  era  Capitão e comandante da CART 1525 (Mansoa e Bissorã) (*). [, Foto à esquerda, como9 comandante do RI 4, e,m 1989-1991; fonte: Sítio do Exército Português].


Sou  um leitor assíduo da  vosso blogue  e  pertenci a um Batalhão que esteve em Angola de 1973/1975 (COTI-2)   onde o Oficial de Operações do Batalhão era o Capitão Jorge Manuel Piçarra Mourão (já falecido).


Tenho um irmão que também esteve na Guiné   (Bambadinca),  nos anos de 1971 a 1973,  e que,  tendo chegado  pouco tempo antes  de eu partir para Angola  e sabendo que eu era atirador,  que me disse: "Tens sorte,  que vais para Angolam  pois  a  Guiné  está a ferro e fogo"... 


E na verdade quem vai lendo o vosso blogue  confirma tudo isso. (**)


Cumprimentos   
A. Silva
______________


Notas dos editores:

(*) Autor de Guiné, Sempre! Vd. recensão bibliográfica feita por Mário Beja Santos, em 20 de maio de 2010 (Poste P6361).


Nasceu em Vila Viçosa, em 1942. Terminou em 1962 o curso da arma de artilharia, na Academia Militar. Tem a Cruz de Guerra de 1ª Classe como comandante da CART 1525. Fez mais duas comissões, em Angola, em 1969/71 e depois em 1973/75 (a última como major de operações, BART 6322/73). Escreveu ainda o livro "Da Guiné a Angola: O Fim do Império" (2004). Foi comandante do RI 4, de 1989 a 1991. Tinha o poste de coronel quando morreu.
  
(**) Último poste da série > 22 de janeiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9386: O Nosso Livro de Visitas (123): Fernando Gomes Pinto da CCAÇ 4945/73 (Guiné, 1973/74)

Guiné 63/74 - P9389: Notas de leitura (325): Bordo de Ataque - Memórias de Uma Caderneta de Voo e um Contributo para a História, de José Krus Abecasis (Mário Beja Santos)

1. Mensagem de Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 6 de Janeiro de 2012:

Queridos amigos,
Estou seguro que “Bordo de Ataque” vai aguçar a curiosidade de muita gente.
O General Abecasis faz um relato minucioso da sua presença na Guiné, impressiona pelo seu desassombro e cativa pelo acervo de informação que disponibiliza, é o olhar da Força Aérea a complementar os meios terrestres e navais. Reconhece logo em 1963 que a guerrilha estava muito bem organizada e dispunha de um líder de mentalidade superior. Não esconde quezílias entre as diferentes armas, considera que Schulz esteve à altura dos desafios e é fortemente crítico da conceção da guerra na retaguarda. Confesso que me surpreende como estas memórias não fazem parte da bibliografia principal da guerra da Guiné.

Um abraço do
Mário


Bordo de ataque: memórias de um oficial general da Força Aérea (1)

Beja Santos

São quase 900 páginas de memórias em dois volumes ("Bordo de ataque, memórias de uma caderneta de voo e um contributo para a história", Coimbra Editora, 1985). José Kruz Abecasis é nome proeminente da Força Aérea, onde deixou um incontornável contributo. A Guiné foi-lhe familiar, sobretudo na década de 60.

No seu primeiro volume de memórias, a Guiné em guerra aparece na página 370 no seguinte contexto: “Durante o período em que exerci as funções de adjunto do comandante da 1ª Região Aérea, o General Resende incumbiu-me de visitar a zona aérea de Cabo Verde e Guiné. Entre 4 e 21 de Agosto de 1963 desempenhei-me desta missão, com vista a uma avaliação objetiva da situação militar e da colaboração prestada pela Força Aérea às Unidades de superfície”. Reuniu com o Governador, Comandante Vasco Rodrigues, e com o Comandante-Chefe, Brigadeiro Louro de Sousa. Cedo inferiu que o inimigo na Guiné era aguerrido e instruído e que o teatro de operações em nada tinha de comum com o de Angola, de onde regressara poucos meses antes. Na altura, já havia aviões abatidos, o Sargento Lobato fora capturado, e o Capitão Rebelo Valente morrera em combate, no Morés. Escreve que as forças portuguesas contavam com um grave desaire a partir do momento em que a operação da ilha do Como não tivera os resultados esperados. Transcrevo: “Nas visitas efetuadas às Unidades aquarteladas em pontos mais excêntricos e vulneráveis à ação do inimigo, tais como Bedanda e Catió, no Sul, e S. Domingos, no Noroeste da província, colhia-se a iniludível certeza do baixo moral que prevalecia nas nossas tropas”.

Descreve os reduzidos meios existentes e os atritos entre o Comandante da Zona Aérea e o Comandante da Base Operacional. Finaliza este apontamento acerca da sua missão de inspeção dizendo: “Na Guiné o inimigo era determinado e dinâmico, ousado e confiante, não descurando uma eficaz ação política externa e um esquema de organização social que, nem por ser uma miragem, deixava de ter impacto ideológico. Entre as nossas forças armadas e tanto nos comandos superiores como no âmbito da própria Força Aérea respirava-se uma atmosfera de tensões e choque entre oficiais que se hostilizavam. A guerra da Guiné poderia tornar-se no problema mais difícil das campanhas do Ultramar Português”.

Um episódio passado em Março de 1964 na Guiné é a rememoração seguinte. Tinha morrido o Alferes Piloto-Aviador Madureira Nobre e o seu corpo fora trasladado para Matosinhos. No percurso transitou pela Base Aérea 5 a ambulância com a urna, para se reabastecer de combustível, ele veio a saber que não lhe tinham sido prestados honras militares e criticou o procedimento, dirigindo-se ao Comandante da 1ª Região Aérea, lamentando a ocorrência não se ter prestado a devida manifestação de pesar por um camarada morto em combate.

Em Julho de 1965, Krus Abecasis partiu para a Guiné com as funções de Comandante da Zona Aérea de Cabo Verde e Guiné e de Comandante da Base Aérea 12. Comenta assim: “Tão grave quanto insensata decisão fora tomada pelo Estado-Maior da Força Aérea que assim procurava, de forma simplista, contornar dificuldades da vida de relação entre oficiais. Mais uma vez se nos deparava a triste sina nacional da incapacidade de análise de experiências passadas que tão caro tinham sido pagas pelo país”. Ficamos igualmente a saber que ele classifica como incompetentes os sucessivos Comandantes da Zona Aérea anteriores, sem qualquer passado de fileira ao nível de Esquadrilha, Esquadra ou Grupo Operacional, e que, ignorantes, eram nomeados para funções que não conseguiam exercer.

O segundo volume tem largas referências às funções que exerceu como Comandante da Zona Aérea de Cabo Verde e Guiné, a partir de 1965. Faz uma descrição da presença do inimigo, porventura mal informado, dá ênfase às forças da FLING, na altura inoperantes, já não passava de um simples lóbi em Dakar. Refere detalhadamente o dispositivo das nossas forças, tanto os efetivos terrestres como os navais e os aéreos. Gostou da condução que Arnaldo Schulz imprimia ao relacionamento interarmas. Apercebendo-se de que a tropa paraquedista vivia em compartimentos tanque e alimentava ostensivo elitismo, tomou as medidas mais convenientes. Desdobra-se em referências às atividades da Força Aérea e só a este nível o seu levantamento é complementar ao escreveu Hélio Felgas para o Exército e Sanches de Baêna para os Fuzileiros. No início de 1965 passava ao topo das prioridades estancar as infiltrações inimigas sobre Mansoa e Nhacra; mas o Sul era a grande inquietação, havia necessidade de encontrar meios aéreos para travar a presença civil e militar do inimigo, daí a chegada de novos aviões, sobretudo helicópteros. O Major-General Abecasis guardou inúmeras recordações, uma delas é mais do que uma mera curiosidade. Um cientista e sacerdote francês, René de Naurois, famoso ornitólogo, apresentou-se na Guiné para completar um estudo das espécies de aves existentes na região, nomeadamente algumas que sabia existirem em ilhas arenosas dos Bijagós e na ilha do Como. O oficial levou o cientista num DO, baixou o nível de voo para cerca de um metro de água rumo à ilha do Como, esta aproximação rasante era a única proteção que tinham, as forças do PAIGC eram apanhadas de surpresa e não podiam pôr a funcionar as suas antiaéreas. E René de Naurois pôde confirmar a presença no Como dos Pelecanus Rufescens. As antiaéreas no Sul eram igualmente um armamento que se pretendia neutralizar, havia já aviões alvejados e temia-se o pior. Em Dezembro de 1965 foi preparada a Operação “Resgate” destinada a garantir a liberdade de ação nos céus da Guiné, pondo o Cantanhez a ferro e fogo. Durante três dias consecutivos foram largadas bombas, primeiro em Cafine e depois sobre toda a área Cafine-Santa Clara-Catesse. Madina do Boé permanentemente fustigada, os ataques a Bachile, destacamento português na ilha do Como, são outras referências quanto à intervenção da Força Aérea no referido período.

Com o intuito de se apurar os resultados práticos da Operação “Resgate”, foi desencadeada a Operação “Safari” que, no entender deste General, redundou numa vergonhosa debandada das nossas forças mal o Capitão Carvalho Araújo ter ficado gravemente ferido, depois de um comportamento galhardo e valente.

Arnaldo Schulz, no início de 1966 dá conta aos seus diretos colaboradores que a situação no Sul se tem vindo a agravar, escrevendo mesmo: “Se excetuarmos a região de Bolama, os Bijagós, a zona de Aldeia Formosa-Contabane, as áreas de irradiação imediata dos principais aquartelamentos – Tite, Empada, Buba, Bedanda, Catió, Cufar, Cabedú e a linha fronteiriça Gadamael-Cameconde, os grupos IN encontram-se um pouco por toda a parte”. Reconhecia-se não haver meios para afastar o inimigo do Cantanhez. Entretanto chegaram novos helicópteros Alouette III, mas não havia ilusões que os meios continuam a ser insuficientes. É neste contexto que o novo Comandante da Companhia de Paraquedistas, Capitão Tinoco de Faria, executou brilhantemente a Operação “Relâmpago”.

(Continua)
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 20 de Janeiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9376: Notas de leitura (324): Passadas, recordações de um aluno do Liceu Honório Barreto, de António Estácio (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P9388: No 25 de Abril de 1974 eu estava em... (14): Bissau, Liceu Honório Barreto (Nuno Rodrigues / Luís Gonçalves Vaz)



São Tomé > s/d > Ensino - Liceu Nacional de D. João II, em S. Tomé, durante a época colonial. Esta foto poderia ter sido tirada no Liceu Nacional Honório Barreto, em Bissau. No dia 25 de Abril de 1974 dois filhos de militares portugueses estavam lá, o Nuno Rodrigues e o Luís Gonçalves Vaz (, este último membro da nossa Tabanca Grande). Foto, da Agência Geral do Ultramar,  de autor não identificado.

Copyright:  © 2008-2011 IICT [Instituto de Investigação Científica Tropical, Arquivo Histórico Ultramarino, Calçaada da Boa-Hora, nº 30. 1300-095 Lisboa,  Portugal. Fonte: ACTD [Arquivo Científico Tropical Digital Repositpry] (Reproduzido com a devida vénia...)

1. Comentário, de 15 de dezembro último, ao poste P9194 (*), assinado pelo nosso leitor Nuno Rodrigues que no 25 de Abril de 1974 tinha 12 anos, vivia em Bissau, andava no 3º ano do Liceu Nacional Honório Barreto e era filho de um militar paraquedista do BCP 12:


Caro LGV [ Luís Gonçalves Vaz]


Se a memória não me falha, a fuga do Liceu Honório Barreto foi logo no dia 26 [de abril de 1974]. Nesse dia fugi,  mais um colega,  em direcção à Câmara Municipal (onde a minha mãe trabalhava),  escoltado pelo meu pai. Lembro-me depois de chegar a casa (uma rua por trás da messe de sargentos praquedistas, corpo a que o meu pai pertencia) e de haver buracos de balas visíveis em alguns sítios.

Foi também esse o dia das primeiras manifestações com o slogan "Vivó Spínola" e da quebra e pilhagem de montras. No dia 27 faltou já na nossa turma um colega (o Martinho) cujo pai era agente da DGS. Pelo que se comentou na altura,  penso que quando o pai foi preso a família foi junto (não foi presa mas acompanhou-o).


Um Abraço

Nuno Rodrigues

2. Comentário de Luís Gonçalves Vaz, com data de 19 de de dezembro:



Olá,  Nuno. O que conta,  é muito familiar!!! Será que fomos colegas? Eu também tinha um colega que faltou no dia seguinte.... Não me lembro se era o "Martinho"! Sei que era de São Tomé e filho de um elemento da DGS, sei pelo meu pai, (na altura Chefe do Estado-Maior do CTIG,) que foram reunidos todos os Pides com as respectivas famílias no Cumeré (centro de instrução perto de Bissau)...

Pergunto: Tinha 13 anos e frequentava o antigo 3º ano do liceu, o Honório Barreto?

Aguardo uma resposta,  meu caro Nuno!

Outra coisa, na data de 26 de abril não houve libertação de presos... só em 27 ou 28!!! Brevemente enviarei essa "estória", mas fiquei a saber que mais colegas fugiram do Liceu, para "viverem na 1ª pessoa tais momentos históricos"!

Forte Abraço, Luís Gonçalves Vaz (Tabanqueiro nº 530)


3. Resposta de Nuno Rodrigues, de 26 de dezembro:

Caro LGV:

Às vezes a memória prega-nos partidas e reconstroi ela mesmo os eventos. Tinha para mim que a confusão havia começado logo a 26, mas pode muito bem ter levado mais um dia ou dois.


Tivemos necessariamente de ser colegas, pelo menos de Liceu (de turma já era pedir muito, mas não sei quantas turmas havia do 3º ano). 

No ano lectivo de 73/74 frequentava o 3º ano dos Liceus no Liceu Nacional Honório Barreto, em Bissau, mas tinha 12 anos (nessa altura andava um ano "desfasado"). Ainda por cá tenho, algures, a caderneta do Liceu se quisermos aferir a turma. A nossa sala ficava em baixo, com janelas para a rua (acho que todas tinham), mas já não sei identificar qual delas era, sei que não era logo a primeira. Dessa turma reencontrei cá dois colegas, um dos quais ainda contacto diariamente.

Na manhã do "estouro" (aquilo pareceu um estouro de pânico da manada) nunca percebemos o que lhe deu origem. Só me lembro do pânico irracional e da fuga subsequente, da malta a saltar aquele portão, liso e altíssimo, como se tivesse asas, só para depois voltar para trás porque, mais à frente, estavam uns miúdos ao pé do campo da bola a atirar pedras.

Mais tarde apareceu no largo do Liceu, penso que era a P.M. [Polícia Militar,] em jipes e com megafones a mandar evacuar as ruas. Foi nessa altura que o meu pai apareceu a pé, não sei de onde, e lá fugimos atrás dele,  direito à Câmara Municipal (atrás não será o termo correcto, quem ficou para trás foi o meu pai). Também me lembro de na altura dizerem que o pessoal da DGS estava detido no Cumeré com as famílias.

Fico a aguardar a "estória" com expectativa.
Um abraço
Nuno Rodrigues




Guiné > Arquélago dos Bijagós > 1974 > Luís Vaz, estudante, com 13 anos de idade,  na pista da Ilha de Bubaque


Foto: © Luís Gonçalves Vaz (2011). Todos os direitos reservados


4. Resposta de Luís Gonçalves Vaz:

Meu caro ex-colega Nuno Rodrigues:


É cada vez mais "nítido" que fomos colegas da mesma turma no Liceu Honório Barreto!!! Basta que me confirme que o nosso colega "Martinho" era ou não natural de S. Tomé?! Pois se me confirmar, era o mesmo colega que nós no dia 28 de Abril sentimos falta e ficámos a saber estava "retido" no Cumeré com a família para a sua segurança e da sua família ... (Lembro-me de ver várias "perseguições" a informadores da PIDE ... e no fim entregavam-nos à Polícia Militar...). Gostei da sua estória, conte outras neste blogue.

Sobre o episódio do "Cerco da Pide" que presenciei, já está publicado em no blogue da CART 3494  [, editado pelo Sousa de Castro]... Pois não sei se o editor chefe (Luís Graça) irá publicar aqui a minha História... (**)


Forte Abraço, Luís Gonçalves Vaz.
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Notas do editor:

(*) Vd. posted e 13 de dezembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9194: Tabanca Grande (310): Luís Gonçalves Vaz, professor, filho do Cor CEM Henrique Vaz (1922-2001)

(**) Último poste da série > 27 de outubro de 2010 > Guiné 63/74 - P7181: No 25 de Abril de 1974 eu estava em... (11): Lisboa a viver num apartamento com mais três estudantes (José Corceiro)

Guiné 63/74 - P9387: Parabéns a você (372): Augusto Silva Santos, ex-Fur Mil da CCAÇ 3306/BCAÇ 3833; Francisco Godinho, ex-Fur Mil da CCAÇ 2753 e José Albino, ex-Fur Mil do Pel Mort 2117

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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 22 de Janeiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9383: Parabéns a você (371): Rogério Freire, ex-Alf Mil Art MA da CART 1525 (Guiné, 1966/67)

domingo, 22 de janeiro de 2012

Guiné 63/74 - P9386: O Nosso Livro de Visitas (123): Fernando Gomes Pinto da CCAÇ 4945/73 (Guiné, 1973/74)

1. A propósito de um pedido que a nossa amiga Mafalda, filha do nosso camarada Armando Ramos, nos fez, publicado no Poste 9382, recebemos esta mensagem do nosso camarada/leitor Fernando Gomes Pinto (C.Caç. 4945-Guiné 1973/74):

Boa noite
Há quase 6 anos que sou assíduo leitor do vosso magnífico blog. Já o partilhei com muitos camaradas.

Hoje ao ler a referência a um documentário da RTP sobre uma senhora que gravou mensagens de combatentes destinadas aos familiares, devo referir que se trata do documentário "A Hora da Saudade".

Pode ser acedido no Youtube em: http://www.youtube.com/watch?v=jcpgEHNl04w

Um abraço
Fernando Gomes Pinto
(C.Caç.4945-Guiné 1973/74)

A Voz da Saudade, assim se chamou este documentário da RTP, dedicada a uma senhora, Maria Estefânia Anacoreta, que aos 47 anos levou a África mensagens das famílias, destinadas aos militares em campanha.

Pode-se ver o texto acima completo e aceder ao filme, através do site da RTP, a quem apresentamos as devidas vénias.


2. Comentário de CV:

Atendendo a que o nosso camarada Fernando nos lê há seis anos, e não existe na tertúlia nenhum representante da CCAÇ 4945, foi-lhe enviado convite para integrar a nossa Tabanca Grande.
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 22 de Janeiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9385: O Nosso Livro de Visitas (122): O meu batismo de fogo, nas férias grandes da escola, em jun/set de 1967, em Bula (Henrique Rodrigues, filho do 2º cmdt do BCAÇ 1876, 1966/1967)

Guiné 63/74 - P9385: O Nosso Livro de Visitas (122): O meu batismo de fogo, nas férias grandes da escola, em jun/set de 1967, em Bula (Henrique Rodrigues, filho do 2º cmdt do BCAÇ 1876, 1966/1967)

1. Em 20 de Janeiro, recebemos a seguinte mensagem de Henrique Rodrigues, filho do Major César Rodrigues, 2º Comandante do BCAÇ 1876.

BCaç 1876

Caro amigo: 

Tendo estado convosco em Bula entre Junho e Setembro de 1967, como prémio de ter ultrapassado o 4º ano dado pelo meu pai,  o então Maj César Rodrigues, 2º Comandante do Batalhão. Pelo facto de ter apanhado o batismo de fogo nos três ataques a Bula, durante esse período, foi importante para ter dado um rumo à minha vida. Sou militar há quarenta anos e estou na reserva. Por acaso não fiz nenhuma comissão mas recordo bem o meu batismo de fogo em Bula. 

Um abraço a todos
Henrique Rodrigues

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Notas de M.R.:

1.    Em nome do Luís Graça e dos restantes Camaradas desta grande tertúlia, gostava de transmitir ao nosso amigo Henrique Rodrigues, que nos congratularíamos muito se resolvesse integrar o nosso "quadro de pessoal". 

É simples juntar-se a nós, bastando para isso cumprir a simples e habitual praxe, que é enviar-nos uma foto actual do tipo passe e, pelo menos, uma foto do tempo da tropa ( que pelos vistos foi bastante). 

Mais gostava de convidar este nosso leitor, a partilhar connosco fotos desse tempo de Bula, e que nos contasse, com pormenores, as referidas "férias grandes" (Jun/Set 1967). 

2.    Recorda-se que o BCAÇ 1876 foi mobilizado pelo RI 2, seguiu para o TO da Guiné em 20/01/1966 e regressou a 04/11/1967. Esteve em Bissau e em Bula. Comandante: Ten Cor Inf Jorge Manuel Piçarra Mourão*. Companhias de quadrícula: CCAÇ 1496 (Bissau, Pirada e Bula), CCAÇ 1497 (Bissau, Fajonquito, Binar, Bissum-Naga e Bissau) e CCAÇ 1498 (Có, Binar e Bissau). 

     3.  Aproveito a oportunidade para retribuir o abraço Amigo que nos enviou.

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Em tempo:

Correcção a este Poste:

Mensagem de : Afonso Silva [ leonel.silva@netcabo.pt]
Data: 23 de Janeiro de 2012 20:05
Assunto: P-9385

Bom dia.
Relativamente  à  noticia relacionada no poste  P9385 existe a seguinte imprecisão:
É mencionado, certamente por lapso mas indevidamente, como comandante do BCAÇ 1876 o Ten Cor Inf Jorge Manuel Piçarra Mourão.

Segundo informação que consta no livro  Os Anos da Guerra Colonial, 1961-1975, de  Aniceto Afonso e Carlos de Matos Gomes, no respeitante às unidades mobilizadas para o TO da Guiné  no ano de 1966, Jorge Manuel Piçarra Mourão era Capitão e comandante da CART 1525 (Mansoa e Bissorã).

Sou  um leitor assíduo da  vosso blogue  e pertenci a um Batalhão que esteve em Angola de 1973/1975 (COTI-2)  onde o Oficial de Operações do Batalhão era o Capitão Jorge Manuel Piçarra Mourão (já falecido).

Vd. poste 23 DE JANEIRO DE 2012 > Guiné 63/74 - P9390: O Nosso Livro de Visitas (124): Relembrando o comandante da CART 1525 (Mansoa e Bissorã, 1966/67), Cap Art Jorge Manuel Piçarra Mourão (Afonso Silva)

Carlos Vinhal
28/12/2013

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Vd. último poste desta série em:


Guiné 63/74 - P9384: Estórias avulsas (118): Minhas (des)venturas na cidade de Bissau do pós-25 de abril... Ou a porrada que o Cor CEM Henrique Gonçalves Vaz não me chegou a dar... (Joaquim Sabido)

1. Uma saborosa história que merece honras de primeira página, escrita pelo nosso camarada Joaquim Sabido, em comentário ao poste P9372 (*)...

Recorde-se que o Joaquim Sabido, hoje advogado em Évora , foto à direita], foi Alf Mil Art, 3ª CArt/BArt 6520/73 e CCaç 4641/73 (Jemberém, Mansoa e Bissau, 1974):

Meus Caros Camarigos, Camarigo Luís Vaz:

No teu (o tu cá tu lá faz parte das NEP do Blogue) anterior poste, no último comentário que lá deixei, disse,  na resposta ao camarigo C. Martins, que invariavelmente trajava à civil, mas isto era lá no sul e lá no tal aquartelamento, digo buraco, [Jemberém,] onde ninguém ia, nem o correio, como disse, lá nos iam levar e muito menos os géneros alimentares, os morfes, o que valeu foi que havia trinca de arroz em reserva e muita raçãozita de combate.

Não posso deixar de corrigir o seguinte: no meu anterior comentário ou num teu outro poste, referi que na mata tínhamos detido 2 elementos do IN, mas, recordando melhor a situação, rectifico o que disse, na verdade mantivemos contacto visual com dois, mas de facto só detivemos um deles que depois entreguei em Cacine.

Bom, mas quando de lá regressámos, viemos para a zona de Bissau, para o Cumuré, aconteceu que eu recebi uma carta da então já, e ainda agora minha mulher, comunicando-me que um camarada alferes se encontrava em Évora em gozo das merecidas e que regressaria no dia não sei quantos de Junho, e que ele me levaria uma caixa com uns paios e chouriços caseiros, queijos, mais um bacalhau seco para poder elaborar as tão saborosas punhetas, enfim, uns mimos. De modo que, ficaram o dia e a hora aprazados, no sentido de eu me apresentar pela hora de jantar, na messe de oficiais, em Bissau, a fim de recolher o avio.

Nunca tinha estado na cidade de Bissau, nem sequer sabia onde se localizava a messe de oficiais, como é que haveria então de conhecer os costumes que por lá se praticavam ?

No Cumuré, pedi um jipe e arregimentei um camarada condutor que conhecia o caminho e conhecia Bissau, para lá me levar, eu jantaria e jantei na messe, enquanto ele se desenrascou por outro lado. Confesso que nesse dia utilizei bens públicos em benefício próprio, mas qualquer ilicitude disciplinar ou criminal já se encontrará prescrita.

Apesar de tudo,  e de já ter ocorrido o 25 de Abril, acautelámo-nos devidamente e metemos no jipe as nossas G-3, uns carregadores, uma Walter 9 mm e mais umas granadas, para alguma eventualidade, que, digo, não seria de esperar acontecer. Mas à cautela, o melhor foi mesmo não confiar.

Saí do jipe mesmo em frente ao bar anexo à messe, fui procurar o camarada que serviu de correio à encomenda e por lá jantei e estive,  até o que o condutor resolveu ir-me buscar. Ainda demos umas voltas por Bissau,  com paragem nos pontos obrigatórios e cerca da uma hora da manhã, do dia seguinte, quando nos aprestávamos para sair à porta do arame farpado que rodeava a cidade, um camarada furriel, que se encontrava de sargento da guarda ao COMBIS, não nos permitiu sair porque tinha ordens para me deter.

Levou-me ao gabinete do oficial de dia em serviço ao COMBIS, que se encontrava acompanhado do camarada alferes que estava de prevenção. Ambos estavam tomando uns uísques, para ajudar a passar a noite. O oficial de dia era o Cap de Cavalaria Bicho, alentejano de Ponte-de-Sôr ou de Niza, já não me recordo, que eu conhecia de Estremoz, quando ele estivera no RC3,  e da tasquinha do Ti Zé de Alter onde nos encontrámos muitas vezes a petiscos, daí que, quando entrei no gabinete ele me ter, de imediato, reconhecido, pelo  que requisitou logo mais um copo para eu também beber daquela garrafa.

Ainda veio pelo menos mais outra garrafa e aí pelas 3 horas da manhã, perguntou-me então o que é que estava ali a fazer...Respondi-lhe que estava com base no Cumuré e,  quando ia para sair de Bissau, tal não me tinha sido permitido pela guarda.

Foi aí que ele me questionou:
- Eh, pá, então foste tu que estivestes na messe a jantar fardado com o camuflado ?
- Fui - respondi-lhe e expliquei-lhe ao que tinha ido e se queria já ali provar alguma coisa.

Respondeu-me que àquela hora não, além do mais eu é que estava metido numa grande alhada, porque o nosso Coronel CEM do CTIG Henrique Vaz (creio que ele até me terá dito: "o nosso Cor Afonso Henriques" – seria que alguns oficiais, pelo menos de Cavalaria usariam tratar o Sr. teu Pai pelo nome do nosso Conquistador ?) viu-te na messe com essa fatiota e, como tal não é permitido, não gostou nada, porque ao jantar todos têm que ir ou à civil ou pelo menos com a farda n.º 2, além do mais, estão lá também as Senhoras a jantar e não é permitido o uso de camuflado, isso é só para a guerra. Vais apanhar uma porrada, tás tramado!

Não esmoreci logo e pedi-lhe para ver o que poderia fazer por mim, telefonou para vários locais procurando pelo Sr. teu Pai, mas já deveria estar a descansar, não sendo possível contactá-lo, então lembrou-se de telefonar para o Comandante do COMBIS, ou seja, o Sr. Cor comandante dele, cujo nome não me recordo. Este já se encontraria deitado, mas ainda assim atendeu-lhe o telefone e, após ter ouvido a explicação do caso e que se tratava de um gajo conhecido dele, Capitão, disse-lhe para tomar nota do meu número mecanográfico, a que Companhia eu pertencia, onde me encontrava, matrícula do jipe, e que me mandasse regressar ao Cumuré.
- No entanto, sempre sob a condição de que, se no dia seguinte ou num outro dia que o nosso Cor Henrique Vaz se lembre de perguntar por ele, sabemo-lo informar e vamos lá buscá-lo.

Assim ficou o assunto.

Felizmente para mim, o Sr. teu Pai não mais se lembrou de mim nem daquela situação, seguramente porque tinha muito mais que fazer, pois outras situações de maior gravidade surgiam-lhe diariamente. Depois quando vim mesmo para Bissau, ainda com ele contactei pessoalmente por umas duas ou três vezes, enquanto estive na guarda ao palácio do Governador. Mas sempre que o via, ao sr. Cor. na messe, eu metia o rabinho entre pernas e circulava para longe dele, de imediato. Isto porque nada estava definido e ninguém sabia quando regressaria e eu não queria lá ficar para dar ao interruptor e apagar a luz e muito menos poder vir a ser recambiado para Angola, conforme ainda por lá correram rumores nessa tão atribulada fase.

Foi apenas esta situação, mas com a qual então fiquei bastante apreensivo e muito à rasca. (**)

Abraços do Camarigo

Joaquim Sabido
Évora

2. Comentário do Luís Gonçalves Vaz:
 
Olá Joaquim Sabido:

Gostei muito da "estória" que partilhou aqui connosco e que envolve o Sr meu pai!Achei-a muito interessante, e típica dele, chamava a atenção... não era importante...era para esquecer e centrava-se então nos problemas mais graves!

No entanto a minha memória, bem como as fotografias da época, lembram-no quase sempre de camuflado... o que era natural, pois se deslocava periodicamente à linha de frente e quando rebentou a bomba no QG em 22 de Fevereiro de 74 e ficou apenas com algumas escoriações, estava de camuflado!..... a não ser quando se sentava à mesa para jantar com a família (quando podia,  é claro!), à mesa não devia haver "clima de guerra", sempre me disse que é um lugar sagrado!!!

Que azar,  meu caro Joaquim Sabido!!!!!
Forte Abraço:

Luís Gonçalves Vaz
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Notas do editor:

(*) Vd.poste de 19 de janeiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9372: Situação Militar no TO da Guiné no ano de 1974: Relatório da 2ª REP/QG/CTIG: Transcrição e adaptação de Luís Gonçalves Vaz (Parte II)

(**) Último poste da série > 6 de novembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9004: Estórias avulsas (117): Posto avançado ou vala comum? (Carlos Filipe)

Guiné 63/74 - P9383: Parabéns a você (371): Rogério Freire, ex-Alf Mil Art MA da CART 1525 (Guiné, 1966/67)

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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 21 de Janeiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9380: Parabéns a você (370): João Graça, médico, músico e amigo da Guiné-Bissau

sábado, 21 de janeiro de 2012

Guiné 63/74 - P9382: Blogoterapia (197): Recordações da CCS/BCAÇ 1911 (Mafalda e Armando Ramos)

CCS do BCAÇ 1911 - Teixeira Pinto e Bissau, 1969/71


1. Mensagem da nossa amiga Mafalda Ramos, filha do nosso camarada Armando Ramos, ex-1.º Cabo TRMS da CCS/BCAÇ 1911 (Teixeira Pinto e Bissau, 1969/71), com data de 19 de Janeiro de 2012:

Sr. Carlos Vinhal,
Muito obrigada pelo carinho*.

Muitos Parabéns por terem criado um blogue de tremenda importância social! Tal deve ser constantemente reconhecido, deve ser premiado e quiçá ser objecto de estudo académico. Tudo farei por divulgar o vosso projecto!

Tenho duas fotografias que gostaria que colocasse. Uma delas é a foto colectiva da CCS do Batalhão mas tem riscos que nós, crianças fizemos...(é pena mas é o que tenho e que guardei religiosamente). Não disponho para já de informações para identificar os camaradas, o meu pai não está comigo mas mal esteja junto, pedir-lhe-ei para identificar os camaradas e se a foto já estiver online no blogue vou colocando anotações à medida da memoria do pai.

Em anexo envio,
Alguma coisa diga,
Agradeço
Um abraço!
Armando e Mafalda Ramos


2. Mensagem/resposta enviada à nossa amiga Mafalda:

Cara amiga Mafalda
Muito obrigado pelas suas palavras que vão direitas ao verdadeiro fundador do Blogue, o Prof Luís Graça. A ele se deve esta grande obra e sucesso da internete, com mais de 3.000.000 de visitas.
[...]
Claro que vou publicar as fotos que mandou embora tenham muito má qualidade. Ainda dei um toque à individual do seu pai, mas pouco consegui.
Se tiver por aí mais vá mandando. Se o seu pai quiser relembrar alguma coisa, ou a Mafalda saiba e nos queira contar, por favor mande para nós publicarmos. Veja se o seu pai se sente bem ao falar da Guiné, caso contrário não o force.

Depois aviso do que publicar.
Dê um enorme abraço ao meu camarada Ramos e receba as minhas saudações e admiração.
Carlos Vinhal
Co-Editor


3. Nova mensagem da Mafalda ainda de 19 de Janeiro:

Carlos,
O seu abraço já foi hoje entregue, pois li ao telefone o seu email!

Fiz-lhe uma ou outra pergunta e não sei bem se ele se sente à vontade, demonstra felicidade por ter feito isto...
Quando estiver com o pai consigo ver melhor, e alguma informação que consiga vou dando.

Além destas duas fotos tenho uma outra mas também do meu pai, e daí desnecessária para o grupo.
[...]
Obrigada mais uma vez!

Eu gostava de saber duas informações que pode saber:

1 - em tempos vi uma reportagem sobre as dedicatórias de rádio que foram feitas aos combatentes. Uma senhora passados anos, recuperou, e deslocou-se aos ex-combatentes levando um leitor de cassete pondo a própria a ouvir a dedicatória que lhe fora dirigida na época. Um trabalho excepcional. Sabe algo sobre isto?

2 - Sei que a minha mãe foi "Madrinha de guerra" do meu pai. O que era de facto uma madrinha de guerra? existem publicações sobre este tema?

Muito obrigada!
Mafalda Ramos


4. Finalmente, foi enviada esta mensagem à Mafalda:

Cara amiga Mafalda
De novo em contacto
Madrinhas de guerras eram meninas ou senhoras que se disponibilizavam a trocar correspondência com militares na guerra. A maioria até eram desconhecidas deles, vindo o conhecimento das revistas femininas da época onde os militares punham anúncios a pedir madrinhas. Outras vezes eram vizinhas ou amigas descomprometidas. Muitas vezes acabava em casamento.

Neste link vai abrir uns quantos postes sobre madrinhas de guerra, quando chegar ao fim da página, encontra no lado direito a opção "Mensagens antigas". Clica e aparecerão mais postes. Vai repetindo a operação até dizer que não há mais mensagens.

http://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/search/label/madrinhas%20de%20guerra

Tem ainda alguns postes dedicados às nossas mulheres:

http://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/search/label/as%20nossas%20mulheres

e às nossas mães:

http://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/search/label/as%20nossas%20m%C3%A3es

Quanto à reportagem das mensagens de Natal de que me fala, lembro-me de ver isso, mas onde e quando, não sei dizer.
Encontrei isto na net:

http://videos.sapo.pt/l4oZyJWpvYSp0CJzUc2C

Já agora, a título informativo, o BCAÇ 1911 de seu pai tem ainda um espólio muito "pobre" no nosso Blogue. O pouco que há e as suas publicações vão ficar alojadas neste endereço do nosso blogue:

http://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/search/label/BCA%C3%87%201911

Esperando ter sido útil
Renovados abraços do amigo ao dispor
Carlos Vinhal
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 15 de Janeiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9359: O Nosso Livro de Visitas (121): Mafalda Ramos, filha do nosso camarada Armando Ramos do BCAÇ 1911

Vd. último poste da série de 8 de Janeiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9332: Blogoterapia (196): Lembras-te? (Juvenal Amado)

Guiné 63/74 - P9381: Blogues da nossa blogosfera (49): Arquivo de História Social, ICS/UL: Estudos Gerais da Arrábida: A descolonização portuguesa: Painéis dedicados à Guiné



1. Não é um blogue, é um sítio, institucional,  do Arquivo de História Social, ligado ao ICS/UL - Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa. Está centrado no processo de descolonização... É ainda pouco conhecido da generalidade dos ex-combatentes da Guiné. Tem grande interesse documental. Merece ser divulgado no nosso blogue.

Nesta página pode-se aceder ao conteúdo de uma série de entrevistas sobre a descolonização portuguesa de 1974/1975.

Trata-se de um projecto do ICS/UL, apoiado pela Fundação Oriente (que é dona do Convento da Arrábida).

Maria de Fátima Patriarca, Carlos Gaspar, Luís Salgado de Matos e Manuel de Lucena  "entrevistaram grandes protagonistas do processo de descolonização: por um lado, governantes, chefes militares, dirigentes do MFA e outros que então actuaram na Guiné-Bissau, em Cabo Verde, Angola e Moçambique; por outro lado, responsáveis metropolitanos ou íntimos colaboradores seus.


Esta equipa de cientistas sociais, sob a coordenaçãod e Manuel Lucena,  "[não  procura] promover qualquer interpretação, chegar a juízos gerais ou encerrar os eventos abordados numa dada problemática, o grupo entrevistador foi seguindo os relatos e aceitando as visões dos seus interlocutores, embora não deixasse de lhes solicitar esclarecimentos por vezes incómodos" (...).

2. Excertos da página > Introdução


(...) "Prelúdio de um livro cuja trabalhosa edição demorará mais tempo, a faseada publicação na Internet, que agora se inicia, de uma série de entrevistas com grandes protagonistas e com qualificados observadores portugueses da descolonização que o nosso país levou a cabo nos seus domínios africanos em 1974/1975, pede os seguintes esclarecimentos:

"(...) Essas entrevistas integram um projecto do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa (ICS), apoiado pela Fundação Oriente, que para o efeito disponibilizou as suas instalações e serviços no Convento da Arrábida. Foi aí que a grande maioria dessas entrevistas teve lugar, no decurso de longos encontros, quase todos realizados em dias de Verão ou princípios do Outono de 1995, 1996, 1997 e 1998.

" (...) Entrevistadores foram Maria de Fátima Patriarca, Carlos Gaspar, Luís Salgado de Matos e Manuel de Lucena que coordenou. Em algumas sessões também participaram, como perguntadores, António Duarte Silva, autor de um livro sobre a descolonização da Guiné, e os jornalistas Jorge Almeida Fernandes, Adelino Gomes e José Pedro Castanheira, bem como a socióloga Maria José Stocker, frequentadores do tema em apreço.

"(...) Entrevistados foram: (..) Por um lado, figuras que, nas ex-colónias foram governantes, chefes militares, dirigentes do MFA ou qualificados participantes, já nos processos de descolonização, já em situações e acontecimentos que os condicionaram. Para cada um dos mencionados territórios considerados (Cabo Verde, Guiné-Bissau, Angola e Moçambique) foram organizados dois painéis, cabendo no primeiro, em regra, os que aí exerciam funções relevantes desde pouco antes do 25 de Abril de 1974 até à definição das regras do jogo descolonizador; e no segundo os que agiram sobretudo (quando não exclusivamente) nas fases de transição para a independência. Angola, onde o processo foi mais longo e complexo, teve direito a três painéis: o dos que lá estavam quando o Estado Novo acabou; o intermédio (correspondente ao alto-comissariado do almirante Rosa Coutinho); e, enfim, o dos que lá estiveram depois do Alvor (Janeiro de 1975), a caminho da independência.

(...) "De longe os mais numerosos, estes painéis e estas entrevistas abrangeram a grande maioria de quem, à partida, constituía a lista dos interlocutores desejados. Com efeito, foram ouvidos os seguintes, sendo as patentes militares aqui indicadas as que tinham na altura das entrevistas" (..)

(...)  "Sobre a Guiné-Bissau

(...) "Em 1995, quando as entrevistas começaram, já vinte anos tinham decorrido sobre os factos nelas evocados. Ainda com muitas paixões por arrefecer, os entrevistadores comprometeram-se a nada publicar antes de passarem seis a dez anos. Muito por causa dessa promessa é que só agora se inicia a sua publicação: a última conversa (com o coronel Carlos Fabião) data de 2002 e as penúltimas, de 1998, têm quase doze anos.

(...) "Editada por Rita Almeida de Carvalho, Fátima Patriarca e Amélia Sousa Tavares, esta série de entrevistas começa pelas relativas à Guiné-Bissau, território onde se deu o arranque formal da descolonização que lhe imprimiu carácter. Seguir-se-ão as de Cabo Verde, onde também foi protagonista o PAIGC, ficando para o fim as duas ex-colónias maiores, Angola e Moçambique. " (...)

Estudos Gerais da Arrábida > A DESCOLONIZAÇÃO PORTUGUESA > Painéis dedicados à Guiné (30 de Agosto de 1995; 27 de Agosto de 1996; 29 de julho de 1997; 1 de agosto de 1997; 11 de abril de 2002) > Links

Sessão de 30 de Agosto de 1995 > Intervenientes: general Mateus da Silva (a), coronel Carlos Matos Gomes (b),  ex-cap mil José Manuel Barroso (c), coronel Florindo Morais (d)

(a) Eduardo Mateus da Silva:

Engenheiro militar da arma de transmissões. Chega à Guiné em junho de 1972, como tenente-coronel. Membro do MFA desde os primórdios. Encarregado do governo da Guiné, depois do 25 de abril.

(b) Carlos Matos Gomes (n. 1946):  

Oficial dos comandos, comandante de Tropas Nativas Especiais. Em Moçambique, participou na operação “Nó Górdio”. Fez a sua missão na Guiné de julho de 1972 a fins de junho de 1974. Pertenceu à primeira Comissão Coordenadora do Movimento dos Capitães na Guiné. Foi membro da Assembleia do MFA.

(c) José Manuel Barroso:

Jornalista. Cap mil  na Guiné de julho de 1972 a maio de 1974. Colaborador direto do general Spínola, na Guiné. Membro do MFA da Guiné.

(d) Florindo Morais:

Vai para a Guiné, como major, nos primeiros dias de junho de 1974, sendo o último comandante do batalhão de Comandos Africanos na Guiné e regressa na véspera da independência. 

Sessão de 27 de Agosto de 1996 > Intervenientes: cor António Ramos (e), embaixador João Diogo Nunes  Barata (f), gen Hugo dos Santos (g).

(e) António Joaquim Ramos (n. 1942 - m.1997):

Oficial pára-quedista. Ajudante de campo do gen António de Spínola na Guiné.

(f) João Diogo Nunes Barata:

Alf mil  na Guiné (1970). Secretário e, posteriormente, chefe de gabinete do Governador da Guiné, gen António de Spínola (a partir de Maio de 1971). Adjunto diplomático da casa civil do presidente da república, António de Spínola (Maio a Setembro de 1974). No desempenho deste cargo, colaborou no processo de descolonização. Delegado do MNE na Junta de Salvação Nacional.

(g) Hugo dos Santos (n. 1933 - m. 2010):

Oficial de infantaria. Fez comissões em Cabo Verde, Angola e Guiné. Membro do MFA, participou na preparação do 25 de Abril e foi responsável pela criação do MFA em Angola. Assessor do gen Costa Gomes. Integrou a delegação portuguesa que negociou a independência da Guiné e de Cabo Verde.

Sessão de 29 de Julho de 1997 > Entrevistado: gen José Manuel Bethencourt Rodrigues (h)

(h) José Manuel Bethencourt Rodrigues (n. 1918- m.2011):

Oficial de infantaria. Ministro do exército (1968-70). Comandante da zona militar leste de Angola (1971-73). Sucedeu a Spínola como governador-geral da Guiné (1973-74).

Sessão de 1 de Agosto de 1997 > Entrevistado: gen Almeida Bruno (i) e José Manuel Barroso (c).

(i) João de Almeida Bruno (n. 1935):

Oficial de cavalaria. Primeiro comandante do Batalhão de Comandos Africanos,  criado em 1972 na Guiné. Recebe a Torre e Espada em 1973, pelo seu desempenho neste teatro de operações. Preso no 16 de Março de 1974 («Golpe das Caldas»). Ajudante de campo do gen Spínola. 

Sessão de 11 de Abril de 2002 > Cor Carlos Fabião (j)

(j) Carlos Fabião (n. 1930 - m. 2006):

Oficial do exército. Fez diversas comissões em Angola e na Guiné. Membro do Movimento dos Capitães, da Junta de Salvação Nacional e colaborador próximo do general Spínola.  Último governador da Guiné.
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Nota do editor:

Último poste da série > 20 de dezembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9242: Blogues da nossa blogosfera (48): O sítio do Ministério da Defesa Nacional: Encerramento, pela ADFA, da evocação dos 50 anos do início da guerra colonial...

Guiné 63/74 - P9380: Parabéns a você (370): João Graça, médico, músico e amigo da Guiné-Bissau

Descritor: João Graça

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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 19 de Janeiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9371: Parabéns a você (369): José Crisóstomo Lucas, ex-Alf Mil da CCAÇ 2617 (Guiné, 1969/71) e Manuel Mata, ex-1.º Cabo Apontador de Armas Pesadas do Esq Rec Fox 2640 (Guiné, 1969/71)

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Guiné 63/74 - P9379: (Ex)citações (173): Os catchurres de dois e quatro pés, o pensamento mágico, e as saudades dos ganguelas do Rio Cubango... (Cherno Baldé / Antº Rosinha)



Guiné > Região de Tombali > Gadamael > CCaç 3518 - os Marados de Gadamael, Gadamael, 1971/74. A mascote da comanhia: nome de guerra, a Marada... Foto nº 83 do álbum fotográfico de Daniel Matos (1950-2011).

Foto: © Daniel Matos (2010) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados .




 1. Comentário, com data de 17 do corrente, da autoria de Cherno Baldé ao Poste P9363 (*):

Caro Rosinha,

Diante da vida como da morte, o africano "tradicionalista" vive habitado pelo (pre)conceito do sagrado e pelo medo do imponderável.

A leitura que eu faço dos monticulos de pedra na estrada a que tu aludes é a seguinte: Uma morte tão brutal e repentina num animal tão lesto e ágil (cão ou gato) como acontece num atropelamento,  viola as regras pré-estabelecidas no supremo contrato pelo direito a vida. Assim, qualquer pessoa (ser) que tenha visto ou assistido a este tipo de cena violenta, deve purificar-se, livrar-se da violência das forãas do mal (mufunessa) através do ritual da deposição de um objecto qualquer em cima do animal morto.

Hoje em dia, esta prática esta em franca regressão.

Relativamente ao periodo a que te referes, o Luís [Cabral] e o pessoal do PAIGC no tinham tempo a perder pois, estavam ocupados a tratar da saude  de outros "catchurres de dus pé", como costumas dizer, que infestavam o país, abandonados precipitadamente pelos seus amos e que seriam bem mais perigosos.


Um abraço, Cherno Baldé.


2. Comentário do Antº Rosinha, com data de 17 do corrente:


Cherno, obrigado pela explicação. Sabes que os pedreiros e serventes e operadores que trabalhávamos na estrada Bissau-Aeroporto, não tinham o teu vocabulário.


E, como te digo,  enquanto não aparecer o tal best-seller de um balanta ou fula, ou ganguela ou bacongo, e forem europeus ou afro-europeus a escrever a vossa história,  não saimos, nem brancos nem pretos, do mesmo sítio sobre o que se passou.


E já há luso-falantes ou franco-falantes africanos suficientes que podem escrever para branco entender.


Sobre o abandono dos cães de dois pés, ouvi demais, que até confrange. Eu tambem abandonei uns ganguelas que as últimas palavras que ouvi deles quando me viram fazer as malas, me disseram
- Vamo-nos matar uns aos outros!.


Foi 30 anos de guerra que se seguiu.


Lembro-me sempre desse lugar, se tiveres Google Earth,  clica para veres duas fotos sobre o rio Cubango: 17 18.9000 S, 18 21.3727 E; e verás uma obra que ainda não tinha terminado.


Eram ganguelas,  eu,  "patrão",  e um Silva, outro "patrão",  da Junta de Estradas, que fazíamos aquela estrada e ponte.


Estávamos muito longe da guerra, porque o MPLA passou procuração ao PAIGC.

Antº Rosinha
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 16 de janeiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9363: Caderno de notas de um Mais Velho (Antº Rosinha) (18): Os cães abandonados de Bissau, no tempo de Luís Cabral

(**) Último poste da série > 18 de janeiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9370: (Ex)citações (172): Que riqueza este nosso blogue! (Hilário Peixoto, ex-Cmdt da CCAÇ 2403, 1968/70)

Guiné 63/74 - P9378: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (3): O stresse pós-traumático de guerra, em estudo da Universidade Autónoma de Lisboa (UAL), em colaboração com a Liga dos Combatentes (Hélder Sousa / João Hipólito)

1. Mensagem do nosso camarada Hélder Sousa (ex-Fur Mil de TRMS TSF, Piche e Bissau, 1970/72) com data de 14 de Janeiro de 2012:

Caros amigos Editores
Recebi este mail que vos reenvio, na convicção que podemos encontrar utilidade nos propósitos a que se propõe.

Por vezes são referidas as necessidades de se fazerem estudos para melhor se caracterizar os fenómenos relacionados com o stresse pós-traumático de guerra e melhor se poder relacionar com os elementos que sofrem com ele, no nosso caso particular os ainda viventes das "guerras de África".

O Prof. Dr. João Hipólito é meu amigo e já temos conversado sobre as questões relacionadas com os ex-combatentes, especialmente sobre a Guiné, pelo que sei que se trata de assunto sério e a ser tratado seriamente.

Há a questão dos envelopes a serem enviados para quem tem endereços, o que no nosso caso praticamente não existem, pelo que aqueles que se interessarem pelo assunto e quiserem colaborar nos trabalhos podem entrar em contacto através dos elementos (endereço postal, telefone e mail) indicados no final.

Pelo que está escrito também se espera que dentro de algum, pouco, tempo, o questionário esteja disponível na 'net', podendo ser respondido directamente por essa via.

Caso achem que esta divulgação tem cabimento no nosso Blogue, fica aqui à disposição.

Abraço
Hélder Sousa


2. Mensagem do Prof João Hipólito enviada ao nosso camarada Hélder Sousa:

Caro Hélder
A Universidade Autónoma de Lisboa, em colaboração com a Liga dos Combatentes está a realizar um estudo sobre o Stresse pós-traumático de guerra em particular e o da população em geral.

Estamos também a criar contactos para incluir no nosso estudos contactos de combatentes de Angola, Guiné e Moçambique que combateram quer do lado português quer do lado oposto.

Para que este estudo seja significativo precisamos do maior número possível de respostas. Por isso eu agradecia a colaboração de todas as “boas-vontades” para ajudar neste trabalho.

Neste momento nós estamos a enviar os questionários às pessoas dispostas a colaborar, combatente residindo em qualquer lugar ou não combatentes residindo em Portugal. Se nos disponibilizarem endereços de mail ou moradas nós poderemos enviar com um envelope já de resposta paga. Dentro de 2-3 semanas, deveremos ter o questionário on-line de maneira a poder ser respondido directamente pela internet.

Se os membros do vosso grupo estivessem dispostos a colaborar, seria uma enorme ajuda. Pensamos que este estudo, por um lado ainda nos ajuda agora no trabalho que fazemos com antigos combatentes em sofrimento; por outro lado na prevenção dos que actualmente estão em missões ditas de paz, e na sua integração no retorno à sociedade civil.

Muito grato pela atenção, ajuda e eventuais outros contactos que nos possam passar, apresento os meus mais cordiais cumprimentos e votos de um rico 2012 apesar da crise que no assola.

João Hipólito, MD. PhD.
Professor Catedrático
Director
Departamento de Psicologia e Sociologia
R. Sta. Marta 47 - 3º  Andar
1169-023 Lisboa
Tel.: 21 317 76 00
Fax.: 21 353 37 02
joao.hipolito@ual.pt
http://www.blogger.com/www.universidade-autonoma.pt






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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 26 de Julho de 2010 > Guiné 63/74 - P6791: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (2): Tina Kramer, etnóloga, Universidade de Frankfurt, em trabalho de campo, em Lisboa

Guiné 63/74 - P9377: Agenda cultural (183): Lançamento do livro Recordações de África - Estórias da Guerra Colonial, de António Bacelar Antunes, ex-Alf Mil Médico, dia 28 de Janeiro de 2012 pelas 16h30 na Fundação Eng. António de Almeida, Porto

CONVITE

Lançamento do Livro Recordações de África – Estórias da Guerra Colonial de A. Bacelar Antunes

Data: Sábado, 28 de Janeiro de 2012, 16h30

Local: Fundação Eng. António de Almeida (Rua Tenente Valadim, 231 – Porto)

Convidamos V. Exa. para o Lançamento do Livro Recordações de África – Estórias da Guerra Colonial de A. Bacelar Antunes que se realiza no dia 28 de Janeiro de 2012 às 16h30 na Fundação Eng. António de Almeida.

Recordações de África – Estórias da Guerra Colonial narra episódios, acontecimentos, pessoas e experiências vividas em Angola no período de 1969 a 1971, onde o autor foi médico militar.


Cumprimentos,
Helda Miranda
Vivacidade – Espaço Criativo
geral@vivacidade.pt ·
Blog: www.vivacidadeespacocriativo.wordpress.com

António Bacelar Antunes nasceu em Pedralva, concelho e distrito de Braga a 19/01/1939. Em 1958 começa a frequentar a Faculdade de Medicina do Porto, onde acaba por se licenciar em Medicina e Cirurgia em Janeiro de 1967. Fez serviço militar, tendo em Abril de 1969 sido mobilizado para Angola, onde esteve durante dois anos. É ginecologista e obstetra. Fonte:  Coisas da Vida.
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 17 de Janeiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9364: Agenda cultural (182): Lançamento do livro Guerra Colonial e Guerra de Libertação Nacional 1950-1974: o caso da Guiné-Bissau, de Leopoldo Amado, dia 24 de Janeiro de 2012, pelas 18h30 no Centro de Informação Urbana de Lisboa, Picoas Plaza

Guiné 63/74 - P9376: Notas de leitura (324): Passadas, recordações de um aluno do Liceu Honório Barreto, de António Estácio (Mário Beja Santos)

1. Mensagem de Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 26 de Dezembro de 2011:

Queridos amigos,
Tomei a iniciativa de pedir ao António Estácio que me deixasse consultar estas memórias em torno da sua vida liceal, fiquei varado pela reconstrução, a carpintaria da escrita apropriada, o registo de histórias que, mesmo por diferentes itinerários, cada um de nós viveu. Acho uma tremenda injustiça esta colectânea de lembranças ficar no olvido. Injustiça até para a cultura guineense. Injustiça porque é prosa muito boa. É muito raro voltarmos à adolescência com tantos pensamentos positivos e lembranças tão sadias como o faz o António Estácio.

Um abraço do
Mário


Traquinices da mocidade no Liceu Honório Barreto, entre 1958 e 1964

Beja Santos

Guardamos, todos nós, recordações das brejeirices e dos actos azougados que praticámos e ajudámos a praticar nos bancos da escola. Os comentários em voz alta nas cadeiras de trás, o professor enfurecido a perguntar quem foi, os tempos das bombinhas de mau cheiro, a malta a ser apanhada a ler revistas…

Nenhum de nós escapou à zomba e à mofa, às faltas colectivas e às barracas durante a imprevista prova oral. E havia as praxes, recordo como se fosse hoje no meu 3º ano em que me coube, logo no início da aula, pedir ao senhor capitão Figueiredo, o professor de Físico-Química, no dia 9 de Abril, ele que era um dos últimos veteranos da batalha de La Lys, que fizesse o favor de explicar à turma, resumidamente, o que tinha sido a batalha, estávamos mortinhos por saber. O senhor capitão Figueiredo fechou o livro dos sumários, ganhou balanço e deu-nos cerca de 45 minutos de ofensiva alemã e tudo fez para justificar o comportamento do Corpo Expedicionário Português. No final, em voz pausada, disse à turma: percebi muito bem que não queriam que eu desse aula; pois bem, vão levar uma lista de 15 exercícios que me entregam no próximo dia.

“Passadas, recordações de um aluno do Liceu Honório Barreto”, por António Estácio, edição do autor, Macau, 1992, é um livro espantoso, não merecia ficar confinado a umas centenas de exemplares, o nosso confrade vazou com melancolia e prodígios de memória um conjunto de passadas (em crioulo da Guiné, estórias, algo que aconteceu e se recorda) e gozos (também em crioulo, brincadeiras, partidas ou piadas). Mesmo admitindo que recebeu muitos contributos, o produto final é uma viagem pela mocidade num estabelecimento de ensino, no pré-anúncio e nos primeiros anos da guerra.

Descreve o liceu instalado em dois pavilhões, o Pavilhão de Baixo e o Pavilhão de Cima. Elenca os nomes dos reitores e dos professores, mostra-nos a salas de aulas e depois entramos no primeiro ano, quase nos sentamos ao lado do Conduinho ou Xandinho, do Lapin, do Tátá, do Carlitos, do Tchengo, do Gui, do Jack Alex, entre algumas dezenas. Os professores também tinham alcunhas: o Dr. António Penedos era conhecido pelo Garú Garú; a professora de Francês era a Dr.ª Clara Shwartz da Silva, mãe do Pepito. Havia alcunhas cruéis, pois claro. A professora de Matemática era a Sr.ª D. Fernanda Barroso (Nha Cassequé) pessoa extremamente magra cuja alcunha provinha da sua semelhança com o peixe seco. O Dr. Aguinaldo Veiga, professor de Ciências Naturais, tinha a alcunha de Aguinaldo Boca, por ser homónimo do personagem cantado numa coladeira muito em voga na altura. Cada professor tem direito às suas histórias e às facécias dos alunos. O Dr. Aguinaldo chamou o Erasmo Serra e perguntou-lhe o que era um rio. O Erasmo pôs-se um tempo a pensar, a malta já gargalhava à espera de o ver disparatar, eis que lhe sai uma soberba definição: rio é uma corrente de água permanente sempre em repouso.

A turma era levada da breca, os professores perderam a paciência, entrou por ali o reitor que anunciou a trinta alunos atemorizados que fora decidido cair sobre aqueles prevaricadores a espada de Dâmocles para os punir exemplarmente. António Estácio escreve e desatei às gargalhadas: “Eramos todos muito novos, uns começaram logo a chorar. Senti um aperto no coração”. Havia relatos de futebol na turma, cachações e lambadas, punham-se migalhas nos livros de ponto. Os anos passam, continua o alvoroço e a balburdia em muitas aulas, o sumário da disciplina de Educação Física e Lavores dizia invariavelmente: “Corridas e saltos”. Os professores vociferam, chamam palerminha e invertebrado aos alunos torcidos nas carteiras. O Dr. Brandão mostra a um aluno o discóbolo e pergunta-lhe o que é e ele responde que é o homem do disco, o professor corrige, e o aluno retorque: é isso mesmo Sr. Dr., eu é que já não me lembrava do nome dele… Nas salas de aulas circulam cães, há claques furiosas de benfiquistas contra sportinguistas, no 4º ano o António Estácio chumba, nessa altura o Tita que escutava na rádio umas lições da BBC dizia a hora I don´t know, o capitão Freire era conhecido pelo Dr. Tell me. Temos depois o segundo 4º ano, estão lá o Gil Bundas, o Toni Porquinho, o Zé Grilo, o Pepito, a Chécha, a Mimela e o Corrente Eléctrica. A guerra já está no horizonte, o professor de matemática era o major Rebelo de Carvalho, dava Canto Coral uma senhora cujo marido era sargento dos fuzileiros especiais. Na aula de História o Armandinho Salvaterra ouve falar numa convenção, tratado ou acordo de Salvaterra de Magos, estava distraído e levantou-se meio atrapalhado dizendo: Pronto! Presente! A professora pede um microscópio, o servente, o Sr. Saná, que não sabia falar português, ficou às aranhas e os velhacos disseram-lhe para ele ir buscar um balde com água, a professora mandou-o pôr o microscópio em cima da secretária, a Dr.ª Palmira Lopes enfureceu-se, houve para ali um pandemónio dos diabos. Inevitavelmente, vem à baila uma história com grilos nas suas invasões periódicas. A malta apanhava dois ou três, metia-os nas caixas das carteiras, as alunas ao levantar a tampa da carteira davam gritinhos. Tínhamos baderna na aula.

António Estácio frequenta o seu último ano no liceu em 1963-1964: ia separar-me de colegas e amigos que tiveram ao longo de anos, era o caminhar para uma meta que ambicionava e ao mesmo tempo temia, ia a caminho da Escola de Regentes Agrícolas de Coimbra, na Bencanta. Exara o nome da malta toda e os professores, a Dr.ª Maria de Lourdes Franqueira Castro e Sousa, a Dr.ª Clara Schwartz da Silva, Dr. Caldeira Firmino e o Dr. Costa Brandão. Para dar geografia chegou um sargento do exército que possuía a licenciatura. Como era careca era conhecido pelo descapotável. O António Estácio também fala dos seus fiascos. A Dr.ª Cecília Quelhas era professora de Ciências Naturais, estava em Bissau a acompanhar o marido, mobilizado como militar. Na prova oral, a professora perguntou-lhe quantas cinturas conhecia e ele respondeu lampeiro: duas, a pélvica e a escapular. A professora prosseguiu querendo saber como era constituída a cintura escapular, ele aí estendeu-se: é constituída pelos ossos das coxas.

Lê-se estas “Passadas” como se vê o Cinema Paraíso ou de qualquer forma se regressa aos tempos de inocência, do espevitar para a vida. É o enunciado em torno de uma família que irá deixar lembranças. Até eu encontrei ali nas turmas do António Estácio o João Cardoso que depois da independência será secretário de Estado e com quem trabalharei alguns meses, em 1991. É um liceu que cresce e onde chegam militares como aquele capitão da administração militar que dava aulas de contabilidade na Escola Comercial e Industrial de Bissau, os filhos do governador Vasco Rodrigues partem em pleno terceiro período de 1964, quando o pai deixa de ser governador para ser substituído pelo general Arnaldo Schulz. Estácio também presta homenagem aos diferentes serventes e contínuos, o Cowboy não se fazia rogado, dava luta e respondia a quem o tratava pela alcunha Obo di bó papé (os tomates do teu pai).

Este livro não é só uma agradável surpresa, naquele mundo que se transfigurava o António Estácio recolheu o ar do tempo, guardou religiosamente a linguagem das pantominices e brindou-nos e aos colegas com um texto cheio de candura adolescente.
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 16 de Janeiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9361: Notas de leitura (323): Malhas que os Impérios Tecem (Mário Beja Santos)