domingo, 26 de abril de 2020

Guiné 61/74 - P20907: Bom dia, desde Bissau (Patrício Ribeiro) (14): O 25 de Abril passado em Farim, com crocodilos à mistura no rio Cacheu..., mas levando o luxo (!) da água e da luz ao hospital local... E, hoje, almocei ostras na grelha!



Guiné-Bissau > Bissau > 26 de abril de 2020 > Hoje há ostras na morança do Patrício Ribeiro... Acabou de comprar à porta um balde de 20 litros... e mandou-nos um "cherimho"... só para fazer inveja!... (São bem merecidas: afinal, ele é capaz de ser um dos últimos malucos "que gosta do que faz".... e que escolheu viver na Guiné-Bissau!)


Portugal > Lisboa > Praça do Comércio > 25 de abril de 2020 > O meu neto, de 3 anos, a quem eu pedi para ir ver se ainda lá estavam os blindados...


Guiné- Bissau > Região do Oio > Farim > Hospital > 25 de abril de 2020 > Uma sessão de formação: o Patrício Ribeiro, ao centro, de máscara... (É que a Covid-19 também já lá chegou...)


Guiné- Bissau > Região do Oio > Farim > Hospital > 25 de abril de 2020 >   À entrada do hospital há um cartaz a explicar "o que é o corononavírus" (em português, o que poucos entenderão: primeiro, porque não sabem ler; segundo, porque não falam português...).


Guiné- Bissau > Região do Oio > Farim > Hospital > 25 de abril de 2020 > O milagre da vida: uma criança que acabara de nascer, na véspera, em 24 de abril...


Guiné- Bissau > Região do Oio > Farim >  24 de abril de 2020 > Rua


Guiné- Bissau > Região do Oio > Farim > 25 de abril de 2020 > Rua (que parece estar a ser alcatroada...)


Guiné- Bissau > Região do Oio > Farim >  25 de abril de 2020 > Praça central com monumento do tempo colonial...


Guiné- Bissau > Região do Oio > Farim > 25 de abril de 2020 > Praça central, com monumento do tempo colonial... O Patrício Ribeiro, de costas...


Guiné- Bissau > Região do Oio > Farim > 25 de abril de 2020 > Monumento que resistiu ao "camartelo revolucionário", comemorativo do 5.º centenário da morte do Infante D. Henrique (1460-1960): ainda dá para perceber a estrofe de Camões. "Por mares nunca dantes navegados"... As letras e os algarismos, em metal, foram retirados (muito provavelmente roubados).


Guiné- Bissau > Região do Oio > Farim > 25 de abril de 2020 > Porto fluvial, na margem direita do rio Cacheu... E até por aqui há crocodilos.


Guiné- Bissau > Região do Oio > Farim >  25 de abril de 2020 > Porto fluvial.


Guiné- Bissau > Região do Oio > Farim > 25 de abril de 2020 > Cambança do rio Cacheu: em primeiro plano, o Patrício Ribeiro...

Fotos (e legendas): © Patrício Ribeiro (2020) Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem do nosso amigo e camarada Patrício Ribeiro, um português, natural de Águeda, criado e casado em Angola, Huambo, ex-fuzileiro em Angola durante a guerra colonial, a viver na Guiné-Bissau desde meados dos anos 80 do séc. passado, fundador, sócio-gerente e director técnico da firma Impar, Lda.; tem mais de 90 referências no nosso blogue]

Data: 26 de abril de 2020 12:59
Assunto: 1- Farim e o 25 de Abril

Bissau / Farim, 25 Abril de 2020

Luís

Junto mais umas fotos; Farim, Mansoa e Lisboa, nesta data de Abril e da nossa quarentena.

Fotos dos nossos passeios… pelo interior da Guiné, muitos dos que as vão ver, passaram por aqui, há uns anitos, o “tempo passa rápido”.

Atravessamos o Rio Cacheu para chegar a Farim, como tantas vezes o temos feito, de piroga. A jangada mais uma vez estava avariada, em reparação, do lado de Farim (tenho quase sempre este azar)

Fomos entregar os nossos trabalhos: fornecimento de água corrente e iluminação, 24h ao dia, com energia fotovoltaica. Estes luxos… já não existiam há anos no Hospital.

A entrega foi da parte da ONG IMVF de Portugal [, o Instituto Marquês de Valle Flôr], à direcção do Hospital e Direcção Regional de Saúde.

O Hospital de Mansoa, também passou a beneficiar destes luxos, agora também já tem água na torneira 24h ao dia. Instalamos duas bombas fotovoltaicas (envio foto).

Desta vez, esta data tão simbólica, foi passada em Farim, as outras trinta e cinco anteriores, foram todas passadas na Guiné. A primeira em Luanda [, em 25 de abril de 1974,]  a ouvir a rádio BBC, “é a nossa vida” enquanto nos deixarem.

Como eu queria saber o que se passava em Lisboa, mandei o meu neto com 3 anos, à Praça do Comercio, para ele ver se ainda lá estavam os blindados… O que ele me disse, como podes (ver na foto), é que... não estava lá ninguém… (Nota: Ele já cumpriu a Quarentena, já saiu de Bissau há 15 dias.)

Luís,

Como diz o nosso amigo Rosinha (cheio de saudades), está na hora de eu ir grelhar um balde de 20 litros, cheio de ostras, que comprei há pouco à porta.

Se as fotos que te envio forem muitas, lança algumas à lama do rio Cacheu, que os crocodilos que lá andam, mesmo no porto de Farim, agradecem. Fica ao teu critério, todas levam legenda.

Um bom domingo para todos, e riam-se... de um maluco, que gosta do que faz.

Abraço
Patrício Ribeiro
impar_bissau@hotmail.com


Guiné- Bissau > Região do Oio > Mansoa >  Hospital > 24 de abril de 2020 > Painel fotovoltaico.
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Guiné 61/74 - P20906: Blogues da nossa blogosfera (129): Jardim das Delícias, blogue do nosso camarada Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 (44): Palavras e poesia


Blogue Jardim das Delícias, do Dr. Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547/BCAÇ 1887, (Canquelifá e Bigene, 1966/68), com a devida vénia, reproduzimos esta publicação da sua autoria.


Abril abriu muitas portas, por uma delas passou o Serviço Nacional de Saúde que, justamente, se enaltece no dia da Liberdade. Nesta data histórica, a Direção do Sindicato dos Médicos do Norte realça a importância de um Serviço Público de Saúde universal e inclusivo, sem o qual não seria possível o combate sem tréguas à epidemia que nos assalta.

A Direcção do SMN


HOMENAGEM

Adão Cruz

Sou médico há 56 anos. Lembro-me de sentir muitas vezes na minha vida profissional, vida que procurei levar o mais eticamente, o mais competentemente, o mais dedicadamente e conscientemente possível, desilusões e mesmo algum sentimento de desonra em pertencer à classe médica. Tudo isto, por comportamentos desviantes dentro da própria classe, dentro da sua especial missão de vida, que feriam o nosso principal tesouro, a dignidade e o profundo sentimento humanista.

Sempre tive e ainda tenho muitos amigos das mais diversas profissões, desde trabalhadores mais humildes até cientistas, empresários, políticos e banqueiros. A todos, de formas obviamente diferentes, nunca os deixei de homenagear com a minha leal e sincera amizade, e com o reconhecimento e admiração por muitos exemplos das suas vidas. Porém, esta pandemia que hoje está a roer a nossa existência individual, familiar e social criou em mim, no meio de todos os males, sentimentos que eu nunca havia experimentado de forma tão emocionada e profunda. Por isso a minha homenagem, nesta altura, a todos os profissionais de todas as áreas, amigos e desconhecidos, não pode caber dentro de limites, pois em situação tão complexa, tão intrincada e tão interactiva, é muito difícil separar os mais importantes dos menos importantes.

Nesta infelicidade que nos bateu à porta, há, no entanto, uma multidão de seres humanos que me levaram, indiscutivelmente, à reconquista de uma honra especial em pertencer à sua classe, a classe médica e o Serviço Nacional de Saúde. Um Serviço Nacional de Saúde, fruto do glorioso Vinte e Cinco de Abril, prestes a ser celebrado, um Serviço Nacional de Saúde que abrange políticos, autoridades sanitárias, administrativos, médicos, enfermeiros, auxiliares e pessoal mais anónimo, todos imprescindíveis ao seu funcionamento e ao seu mais sólido e nobre futuro. A todos a minha homenagem.

Fiz cuidados intensivos há largos anos, quando as unidades de cuidados intensivos começavam a aparecer, de forma muito primária, comparadas com as de hoje. Mesmo assim, senti bem fundo a responsabilidade e a abnegação que elas exigiam. Por isso, não me levem a mal que eu deixe aqui uma homenagem muito especial, acima de todas as homenagens, ao trabalho de todo o pessoal que de uma forma heróica dedica as suas vidas, nestes dias tão negros, à prática intensivista, em Portugal e fora de Portugal. São para mim, sem margem de dúvidas, os Heróis da actualidade, aos quais cada país, depois da vitória, deveria erguer o mais majestoso e merecido monumento.

20.04.2020
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Nota do editor

Último poste da série de 19 de abril de 2020 > Guiné 61/74 - P20874: Blogues da nossa blogosfera (127): Jardim das Delícias, blogue do nosso camarada Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 (43): Palavras e poesia

Guiné 61/74 - P20905: Blogpoesia (674): "Sobre o Vinte e Cinco de Abril", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

1. Do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) este poema sobre o 25 de Abril:


Sobre o Vinte e Cinco de Abril

Receio bem que as gerações nascidas depois do vinte e cinco de Abril nunca cheguem a dissipar as névoas, tendenciosas que toldam, intencionalmente, esse acontecimento.
O Cavalo de Troia que o trouxe foi aquele minúsculo movimento de capitães, de carreira, por uma causa muito particular e interesseira, a de se libertarem da sina de se verem a arriscar a vida em comissões sucessivas a caminho de África.
Eu residia com minha família, de três filhos, em Almada e trabalhava em Lisboa.
Assistimos a tudo na cratera do vulcão.
Depois de regressar da Guiné e de ter tirado a ferros, o curso de Direito.
Rapidamente o movimento dos capitães foi subalternizado pelo movimento marxista internacional.
Viu nele a oportunidade de cravar aqui em Portugal uma outra versão da experiência cubana.
Vi chegar a Santa Apolónia, dum dia para outro, o líder Álvaro Cunhal.
Vindo de Moscovo.
Mário Soares. De Londres ou Paris.
Cada qual com interesses políticos antagónicos.
Cunhal, pró-soviético, colectivista;
Soares, pró Ocidente, capitalista. Do livre mercado e da democracia.
Extremaram-se as posições. Em movimentos contrários.
Um verdadeiro tsunami político-social.
Aceleradamente se desencadearam saneamentos das cátedras e das altas patentes das estruturas militares.
Uma onda de ocupações selvagens, das empresas mais poderosas; a reforma agrária selvagem irrompeu devastadora.
Os canais da TV e da Rádio foram ocupados.
Anunciou-se a perseguição religiosa.
As universidades pararam. Desertas de docentes capazes.
O MRPP insolente, escavacou num instante uma série dessas faculdades.
Quem estava no fim dos seus cursos superiores ficou perdido, sem saber o que fazer.
O País ficou partido ao meio: A fronteira, guardada a fogo, era Rio Maior.
Estancaram os mantimentos para Lisboa.
Havia que secar as praças e mercados. Vi o da Ribeira sem nada nas bancas.
Houve famílias com miúdos pequenos, que fugiram para a província.
Eu fui um deles.
Tentei emigrar para o Canadá e os serviços da política não me deixaram.
Foi um período muito turbulento que se implantou.
Foi o Vinte e Cinco de Novembro, com Ramalho Eanes e um grupo patriota de militares conseguiu clarear e inverter a supremacia comunista.
A partir da sua vitória, muito lentamente o País foi voltando ao normal.
Outro facto político de tremenda importância foi a chamada descolonização.
Depois de 13 anos de sacrifício não houve família que não visse partir para a guerra de África algum dos filhos.
Quantos por lá ficaram para sempre.
E é de ressaltar que a guerra do ultramar estava práticamente sobre controle.
Em Angola, Moçambique e na Guiné.
Havia prosperidade e progresso crescentes. Reais. Sobretudo nas duas primeiras.
O Governo estava a estudar instituir uma União ou Confederação das províncias ultramarinas com a metrópole.
As potencialidades desta fusão de interesses, respeitadores dos interesses nacionais, era enormes.
Mas, a gula dos países europeus ocidentais ficou embriagada com a hipótese de entrarem gratuitamente em África, para lhe sugarem as riquezas.
Rapidamente, o poder políticos passou para as mãos glutonas desse países oportunistas.
As populações "brancas" residentes e que já viviam bem, viram-se abandonadas pelas nossas forças militares.
E, depois, foi a debandada. Aquele movimento escabroso de aviões em cortejo a despejarem retornados com seus caixotes. O cais, desde a Ribeira até lá longe, ficaram a rebentar com tanto caixote.
Os retornados que trabalhavam na banca e nas funções públicas entraram, e bem, para os quadros. Entupindo por dezenas de anos as carreiras de quem cá estava.
Desenvolveu-se um certo confronto e hostilidade entre ambas as partes.
De realçar também que o Governo nacional estava a desenvolver uma reforma administrativa profunda.
A legislação fundamental, Constituição incluída, foram revistas em pontos muito importantes. Implantando uma igualdade de cidadania real.
Entre homens e mulheres. Em todos os sentidos.
Tudo ficou paralizado e sujeito ao vendaval das facções políticas.
Esta visão, tudo isto, foi ocultado e desvirtuado às novas gerações.
Creio bem que quem hoje tem para baixo de cinquenta anos já não vai ter tempo de dissipar as nuvens de desinformação que lhes meteram na cabeça...

Mafra, 25 de Abril de 2020
10h23m
Jlmg
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Nota do editor

Último poste da série de 19 de Abril de 2020 > Guiné 61/74 - P20873: Blogpoesia (673): "Grande buraco", "Está posta a mesa" e "Seguramente, vem...", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

Guiné 61/74 - P20904: (De)Caras (157): O comerciante Mário Soares, de Pirada, quem foi, afinal? Um "agente duplo"? - Parte VI: Uma foto intrigante, com uma reprodução da "Guernica", de Picasso, tirada na sala de jantar, pelo alf mil médico Manuel Valente Fernandes, CCS / BCAV 8323 (1973/74)


Guiné > Região de Gabu > Pirada > c. 1973/74 > BCAV 8323 (Pirada, 1973/74) > "Residência do célebre sr. Mário Soares, um dos dois comerciantes instalados em Pirada em 1973. Três dos alferes do Batalhão: Transmissões, Tesoureiro e Médico (eu, à direita)"...

O nosso camarada C. Martins, que também é médico, em comentário de 19/10/2012,  foi o primeiro a chamar a atenção para a reprodução que está na parede: " Mesa farta, contraste volumétrico entre dois comensais, e o quadro de parede é tão só a "Guernica" de Picasso e por fim são servidos por um 'empregado'  de mesa a preceito. Para os padrões da Guiné..é obra. Ganda sortudos" (*)

Foto (e legenda): © Manuel Valente Fernandes (2012). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. O autor da foto, o  Manuel Valente Fernandes, ex-alf mil médico da CCS/BCAV 8323 (Pirada, 1973//4) , é membro da nossa Tabanca Grande desde 17/10/2012.



Pirada, abril de 1964, o Mário Soares, ao centro,ladeado
pelo  alf mil António Pinto, `sua direuta; e o alf méd

médico (e  intérprete do fado de Coimbra) Luiz Goes
 (1933-2012), à sua esquerda. 
Foto: António Pinto (2007)

Na foto, acima,  aparece o Demba, o criado, todo bem "afiambrado, já citado em 1964&65, pelo Carlos Geraldo... O anfitrião,  comerciante Mário Soares, deve ter sido o fotógrafo...

Através do Carlos Geraldo (**) , que o conheceu e privou com ele, a partir de 15/10/1964, sabemos que o Mário [Rodrigues] Soares era um bom copo e um bom garfo, sabia receber bem, adorava receber na sua casa os oficiais milicianos (e, eventualmente, capitães e oficiais superiores)  era Lisboeta, teria ido para a Guiné em finais dos anos 50, princípio dos anos 60, por causa de "problemas financeiros" (sic), tinha esposa, duas filhas e um filho, adolescentes (em 1965) (um deles, o rapaz, a estudar em Lisboa), era um civil com cultura acima da média, tinha gira-discos e discos em casa, além de um máquina de projetar cinema (, nºão sabemos de 8 0u 16 mm),,, E, claro, um gerador. 

Intrigante, porque deslocada, é esta "reprodução" da Guernica, de Pissau, um quadro gigantesco, a óleo, pintado em 1937, que se tornou um ícone da paz e da denúncai da guerra e do genocídio...

O Mário Soares, c. 1973/74.
 Foto de Manuel  Velente Fernandes
"Agente duplo", informador tanto da PIDE/DGS como do PAIGC ?... Não temos elementos conclusivos...

Curiosamente, na sua apresentação, o Manuel Valente Fernandes não qualquer referência a um eventual protagonismo do Mário Soares no processo de retração do dispositivo militar e na transferência do aquartelento para o PAIGC, em agosto de 1974... Nem sabemos se ele lá estava nessa altura. O médico nem sequer cita o seu nome, a propósito desses acontecimentos

(...) Obviamente tive vivências semelhantes a qualquer dos camaradas que estiveram neste TO. Do que me ficou ressalto:

(i) A experiência da intensa solidariedade que se gerou entre os camaradas que vivenciaram juntos o risco de vida de cada um e a permanente entreajuda, isto durante largos períodos. Materializa-se actualmente na emoção dos encontros de antigos camaradas (o meu batalhão mantém estes encontros).
(ii)  As perturbações na saúde mental de tantos camaradas. Tive a experiência de dois dos nossos que manifestaram psicoses agudas (um militar da CCS e outro da 1ª Companhia, em Bajocunda), ambos felizmente com bom prognóstico após a evacuação.

(iii) A vivência da paz: aqueles almoços entre membros do batalhão e membros do PAIGC, no período que mediou entre o 25 abril e 25 agosto 1974 (regresso a Bissau), durante o período de retração do dispositivo. Aquele convívio com os ex-inimigos não se esquece, incluindo as conversas respeitantes à ideologia política, um tema então tão apetecido pelos jovens milicianos portugueses. (...) (*)



Mário Soares > Pirada >
14/2/1974. Foto: António
Rodrigues  (2015)
2. Será que o Mário Soares foi mesmo preso, a seguir ao 25 de Abril, de acordo com a informação do médico José Pratas ? (**P) 

Não tenho aqui, em meu poder,  o livro, "Senhor médico, nosso alferes: Guiné, os anos de guerra" (Lisboa, By the Book, 2014). O Beja Santos, que  fez aqui, no blogue,  um  recensão dessa obra,  escreveu o seguinte:
 
(...) "Em Pirada, tinha um agente da PIDE na vizinhança, bom para seviciar e intimidar, o Carvalho, substituído pelo senhor Pereira que tinha farroncas mas com as flagelações termia como varas verdes.

"Também em Pirada vivia Mário Soares, com quem Pratas conviveu, pode aperceber-se como o Soares intermediava entre o PAIGC e as autoridades portuguesas, houve encontros secretos à mesa da sua sala de jantar ou no respaldo das cadeiras de lona. Tinha acesso privilegiado às informações da PIDE, ascendente junto das redes de informadores locais, geria com astúcia o assédio e a adulação das autoridades locais. Reflete sobre o drama deste protagonista entre dois campos em confronto".

E cita o autor, José Pratas:

“O tempo corria em seu desfavor, porque a guerra no terreno se perdia em cada dia que passava e era facilmente previsível a derrota da teimosia de Lisboa. No seu relacionamento com a tropa, este europeu, porventura o branco mais africano que conheci, só a muito custo conseguia refrear os impulsos beligerantes das chefias militares, sedentas de ação, indisponíveis, por dever de ofício, para tolerar diplomacias paralelas de que muitas vezes é feita uma guerra de guerrilha”.

"E veio a independência e mais problemas para Mário Rodrigues Soares", de acordo com a versão do José Pratas:

(...) “Poucos dias depois seria preso e enviado para Bissau. Ter-lhe-á valido a intervenção de Alpoim Calvão, que intercedendo a tempo junto do novo dono do Palácio do Governo, o terá arredado da mira das armas de um pelotão de fuzilamento. 

Deportado, chegou a Lisboa com a roupa suja que ainda trazia vestida, para ser detido de imediato no aeroporto da Portela pelo COPCON e arbitrariamente preso em Caxias sem culpa formada. Libertado sem julgamento, ultrapassou tranquilo todas as prepotências e perdoou com indiferença aos mandantes e funcionários do PREC”. (...) (***)


3. A historiadora Maria José Tíscar, no seu livro "A PIDE no Xadrez Africano: Conversas com o Inspector Fragoso Allas"( Lisboa, Edições Colibri, 2017, pp. 191/192), revela a identidade de dois comerciantes portugueses, que terão sido "informadores da PIDE" na Guiné, um deles o comerciante Rodrigo José Fernandes Rendeiro, que alguns de nós conhecemos em Bambadinca. 

Das conversas da autora com o antigo inspetor Fragoso Allas, vem à baila um outro nome,  o do Mário Soares, estabelecido em Pirada,

Contrariamente ao Rendeiro, que terá tido problemas logo a seguir ao 25 de Abril, pela sua ligação à PIDE/DGS, o Mário Soares teria ficado na Guiné-Bissau, após a  independência. Mas terá "caído em desgraça" e sido expulso do país, um ano e tal depois, em novembro de 1975.(****)

O inspector da PIDE/DGS, Fragoso Allas, entrevistado pela Maria José Tíscar, não deixa dúvida sobre a "duplicidade" do papel do Mário Soares que, legal e formalmente, nunca foi agente da polícia política. Cito o Mário Beja Santos (***);

(...) "A sua [de Fragoso Allas] grande preocupação era montar uma rede de informadores na Guiné, depois de ter avaliado a situação, reorganizou o gabinete do centro de cifra, seguiu-se a rede de informadores, os postos mais importantes da DGS estavam perto do Senegal, era o caso de Pirada, Bigene e Guidage, para a Guiné Conacri só havia o posto de Buruntuma. Explica a importância de Pirada [, as palavras do Fragosos Allas]:

“Estava localizado mesmo junto à fronteira com o Senegal. O posto estava dentro da casa de um comerciante. O agente da DGS ali colocado vivia dentro da casa do tal comerciante. Mas o que sucedia na prática era que o comerciante era mais agente da DGS que o próprio agente; 90% das vezes era o comerciante que atendia o rádio. Converteu-se num agente duplo. 

"O comerciante chamava-se Mário Soares. Era habilidoso, tinha boas relações com as autoridades portuguesas e tinha bons contactos, também, com as do Senegal. Teve atuações muito importantes para nós. O Mário Soares era útil como agente de contrainformação. Quando queríamos enviar informações falsas ao PAIGC dizíamos-lhe que era muito secreto e então ele ia logo transmiti-las. 

"As informações que ele fornecia sobre o PAIGC quase não serviam, porque nós sabíamos que ele também trabalhava para eles. Quando cheguei à Guiné, o General Spínola estava muito zangado com ele e queria mesmo expulsá-lo da província, mas isso não seria conveniente porque o posto da PIDE estava dentro da sua casa, pelo que me interessei para que ele continuasse na sua atividade”.

No Arquivo Amílcar Cabral não há referências ao comerciamte Mário Soares. E os ataques a Pirada muito provavelmente ele não os sabia com antecedência, por via do PAIGC. Tenho de falar pessoalmente com a investigadora Maria José Tíscar (, que conheci em fevereiro passado) e com o médico José Pratas, para saber qual o fundamento de cada uma das suas versões, nomeadamente no que diz respeito ao "fim da história".

Quer tempo caído em desgraça, a seguir ao 25 de Abril (segundo José Pratas), ou tenha ficado na Guiné, no tempo do Luís Cabarl (, segundo Maria José Tíscar), em recompensa pelos seus "pequenos favores" ao PAIGC (para logo a seguir, em novembro de 1975, ser expulso). a história deste homem parece confirmar o velho ditado popular: "Não se pode servir a dois senhores!"... A duplicidade, em tempo de guerra, é sempre um jogo perigoso.

[De qualquer não tendo aqui o livro à mão, recomenda-se a sua leitura, e em especial o capítulo dedicado à Guiné: A PIDE no Xadrez Africano: Angola, Zaire, Guiné, Moçambique (Conversas com o Inspetor Fragoso Allas) (2ª Edição).  de María José Tíscar, edição: Edições Colibri, janeiro de 2018 ‧ isbn: 9789896896799]

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Notas do editor:


(**) Vd. poste de 25 de abril de 2020 > Guiné 61/74 - P20898: (De)Caras (129): O comerciante Mário Soares, de Pirada, quem foi, afinal? Um "agente duplo"? - Parte V: Quando fui a Pirada, em DO-27, em 2/5/1972, levar o inspector da PIDE/DGS, Fragoso Allas, a Pirada, para conversões secretas com os senegaleses... A 18 desse mês, Spínola encontra-se com o Senghor, em Cap Skiring (Gil Moutinho, ex-fur mil pil, BA 12, Bissalanca, 1972/74)

Vd. postes anteriores da série:

21 de abril de 2020 > Guiné 61/74 - P20884: (De)Caras (128): O comerciante Mário Soares, de Pirada, quem foi, afinal? Um "agente duplo"? - Parte IV: Versões contraditórias sobre o "resto da história" deste português, de quem o ex-alf mil médico José Pratas (, BCAV 3864, Pirada, 1971/73) disse que foi "porventura o branco mais africano que conheci"

18 de abril de 2020 > Guiné 61/74 - P20867: (De)Caras (127): O comerciante Mário Soares, de Pirada, quem foi, afinal? Um "agente duplo"? - Parte III (Depoimento do nosso saudoso camarada Carlos Geraldes)


(***) Vd. postes de: 


(****) Vd. poste de 3 de novembro de 2017 > Guiné 61/74 - P17929: (D)o outro lado do combate (16): O Rodrigo Rendeiro, depois de regressar a Bissau, terá fornecido preciosas informações à FAP , permitindo a localização (e bombardeamento) das bases do PAIGC em Morés e Dandum, segundo Maria José Tístar, autora de "A PIDE no Xadrez Africano: conversas com o inspetor Fragoso Allas", Lisboa, Colibri, 2017 (pp. 191/192)

sábado, 25 de abril de 2020

Guiné 61/74 - P20903: Boas Memórias da Minha Paz (José Ferreira da Silva) (8): “Covidando” com os meus botões ou “Covidando” com o confinamento

1. Em mensagem do dia 17 de Abril de 2020, o nosso camarada José Ferreira da Silva (ex-Fur Mil Op Esp da CART 1689/BART 1913, , Catió, Cabedu, Gandembel e Canquelifá, 1967/69), enviou-nos esta Boa memória da sua paz, dedicada ainda ao confinamento.


BOAS MEMÓRIAS DA MINHA PAZ - 7

“Covidando” com os meus botões
ou
“Covidando” com o confinamento

Nunca estive preso, excluindo aquela vez (“verão quente” de 1975) em que me detiveram durante mais de cinco horas no posto fronteiriço de Vila Verde de Ficalho/Rosal de la Frontera, por me terem confundido como um PIDE em fuga, quando apenas pretendia gozar uns dias em viagem por Marrocos.
Também não vamos considerar como “prisão”, quando caídos naquela emboscada no Oio, em que, durante 3h40, não podíamos levantar cabeça. Essa sim, bem mais perigosa.


E, já agora, por que não lembrar os meus camaradas da CART 1689 que “viveram presos e soterrados” naqueles 38 dias de Gandembel, dos quais eu me safei por estar de férias?

Pois é por isso que, neste confinamento de voluntário à força, me vejo a cogitar/”covidar” com os meus botões. E passo a divagar.

Desde o dia 19 de Março que não saio à rua. Tinha abusado no último convívio do “Bando” de Combatentes (Op Sarrabulho, em Ponte de Lima) no dia 11, mas ainda saí duas vezes: uma ao ribeiro, para apanhar os agriões (que a mulher, depois, se recusou a colocar na mesa) e a outra quando jantámos, no dia 19, num restaurante dos camionistas, vindos de Coimbra a caminho de casa. Neste caso, em que comemos sós, com mais outra pessoa na sala, naquelas enormes instalações. Ficámos de tal maneira assustados, que fomos quase directos para a casa de banho exterior e mergulhámos até hoje no ninho renovado. Nos telefonemas recebidos dos familiares, recusámos dizer onde andávamos.
Desde então, estamos realmente em prisão. E por aquilo que se consta, há criminosos a viver melhor que nós, os inocentes. Isto, para não falar nos outros (os maiores) que nos gozam e que vão gozando à grande e à francesa.

E aqui no cativeiro, vamos experimentando uma nova vida. A minha Mulher, que sempre reinou no lar, mostra agora ainda mais o que vale (que remédio!), à beira daquele que, nas coisas da casa, nunca deixou brilhar. Valha-me o gozo desse proveito, que não devo desprezar.
Nesta situação, também gozo muito ao ver os filhos e netos a procurar-nos via Skype ou Whats App. Momentos inesquecíveis, cheios de amor, carinho e ternura. Relíquias de uma época insólita, para eles mais tarde recordarem.

Quase sempre na cama, tenho a TV ligada. Procuro ver mais as graças do que as desgraças. Mostro algum interesse pela evolução deste coronavírus e lamento em murmúrios o que vejo informar/divulgar. Não fora a curiosidade de saber o porquê daquelas aflições de autarcas do norte e o sucesso das poucas mortes na zona de Lisboa, eu consideraria que tudo marcha razoavelmente. E já com dois AVC, vou afligir-me, porquê?

Gostaria de ler. Ler aquilo que devia e o que gostaria de saber. Porém, a visibilidade não ajuda e o cansaço também. E é por isso que me limito a dormir o máximo, como se na guerra estivesse, ansioso que o tempo passasse. Vejo a TV, mas já não aguento a violência, mesmo que sejam heróis americanos a salvar o Mundo. Coisa que acontece umas 20 vezes por dia. Gosto de coisas mais leves, tipo “coboiadas” americanas, espanholas ou italianas. O enredo já pouco importa. Ligo mais à paisagem, à música e ao insólito. E vejo repetidamente aqueles “Artistas” que em miúdo tanto me entusiasmaram. Todos galãs ou vilões de se lhes tirar o chapéu. E elas, tão giras, tão pudicas e tão belas!



Apesar disso, uma grande diferença eu noto. Agora, vejo mais que a justiça era a lei da bala. Não aceito que os índios eram maus e que os pistoleiros eram heróis. Os índios, americanos genuínos porque originários daquela terra, ganharam o meu maior respeito e fico com pena deles. E deliro nos poucos filmes em que o índio se vinga (ah, grande Apache Charles Bronson!).


E tinha que aparecer aquela dupla Terence Hill mais o Bud Spencer, cujas histórias hilariantes nos levam ao Oeste Americano, às Caraíbas ou ao Brasil.

Foram dias e dias de relaxe e boa disposição. Até que me falharam as pilhas do comando da televisão. E o canal Fox Movies ficou-se para sempre. Não imaginam quantas vezes vi os filmes do Trinitá, dos Super Polícias e do Banana Joe. Foram dias e dias a gramar até… enjoar.



Foi então que influenciei a minha Mulher para furar o confinamento e ir ao supermercado buscar alguma coisa em falta e… se pudesse… trazer-me pilhas das mais pequenas, para o comando da televisão do quarto.
Ela veio de lá toda entusiasmada com aquilo que viu. Tantos eram os cuidados com a desinfecção, a disciplina e a limpeza, que lhe deram confiança para sair de casa mais duas vezes no mesmo dia.
Perdi eu a confiança no confinamento, fiquei fulo e desconfiado. Já não deixo minha Mulher aproximar-se e obrigo-a a usar luvas e máscara. Já lá vão três dias a viver desta maneira. Possivelmente, terei que quebrar esta medrosa teimosia.

Para terminar:
Nota 1: - Hoje, dia 16 de Abril de 2020, pelas 14h55, acabei de saber que o novo teste à Covid-19 feito a minha Mãe, acusou “negativo”. Ela foi internada no Hospital S. Sebastião, com a doença, no dia 30 de Março. Apesar dos seus 100 anos e, portanto, pertencer ao grupo de maior risco desta pandemia, melhorou, está bem, está a vencer o malvado!
Nota 2: - Perante tal graça divina, já chamei minha Mulher, pedi-lhe desculpa, mandei-a vir para a cama e já lhe dei o comando da televisão: - Olha, escolhe o programa que quiseres, mesmo que seja uma telenovela.

José Ferreira
(Silva da Cart 1689)
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Nota do editor

Último poste da série de 18 de abril de 2020 > Guiné 61/74 - P20868: Boas Memórias da Minha Paz (José Ferreira da Silva) (7): Op. Confinamento, retrato do estado psicológico dos Bandalhos

Guiné 61/74 - P20902: 16 anos a blogar (4): Os dias de Abril, mês “de águas mil”, de Constituições, de Revoltas e de Revoluções, que mudaram Portugal (1) (Manuel Luís Lomba, ex-Fur Mil Cav)

1. Mensagem do nosso camarada Manuel Luís Lomba (ex-Fur Mil Cav da CCAV 703/BCAV 705, Bissau, Cufar e Buruntuma, 1964/66) com data de 24 de Abril de 2020:


Os dias de Abril, mês “de águas mil”, de Constituições, de Revoltas e de Revoluções, que mudaram Portugal

A condição de reformado fez-me cliente assíduo (ou rato) de arquivos e bibliotecas, e, graças ao longo tempo em que me enfronhei no “Portugaliae Monumenta Historica” (5 grossos volumes), cheguei à conclusão de que D. Afonso Henriques foi o primeiro “capitão de Abril” da nossa História, ao ter escolhido esse mês para organizar e comandar a revolta do nascimento de Portugal.

Começou por se tornar soldado, ao auto-armar-se cavaleiro, “como os reis”, tomando em sua mão a espada e ungindo o seu bico com sangue do corte no seu pescoço e não com sangue do corte dos seus testículos, como era próprio dos dependentes; a culminar dois anos de reuniões conspirativas e como líder, no dia 5 (seria no dia 25?) de Abril de 1127, trocou a malta de Coimbra pela malta do Norte, “furtou” os castelos do Neiva e de Faria, “para fazer guerra à mãe” e fundar a nossa Nacionalidade.

Nuno Tristão
A Guiné que nos é tão cara, mátria de um lugar de memórias, que a História já regista no blogue LG&C, foi descoberta por Nuno Tristão, em meados de Abril de 1446, mas África a sul do Sahara já não era virgem de portugueses: parte da sua malta já havia andado a “inventar” o mulato pelas suas praias e ele pagou com a vida a sua ida para o mato nessa então Guinela.

No descobrimento do Brasil e Novo Mundo (a América), por Pedro Álvares Cabral, em finais de Abril de 1550, dois grumetes da sua malta navegante aproveitaram a ida à missa campal de Acção de Graças para desertar para o mato – são os primeiros “cara” da “invenção” do mestiço.

O rei de Portugal por uma semana, D. Pedro IV, em Abril de 1826, explicitou e outorgou a Carta Constituição da Monarquia Portuguesa, a nossa primeira Constituição abrilista e a nossa segunda Constituição vintista.

D. Maria II, a brasileira nossa rainha, em Abril de 1838, jurou a nossa segunda Constituição abrilista e 3.ª Constituição da Monarquia Portuguesa.

A redacção da 1.ª Constituição Política da República, a nossa 3.ª Constituição abrilista e a 4.ª de Portugal, foi iniciada em Abril de 1911.

A “Operação Georgette" do exército alemão, desencadeada em Abril de 1918, derrotou na Flandres francesa o Corpo Expedicionário Português, sob a dependência do comando inglês, - a Batalha de La Lys. Em 22 dias de combates, os soldados portugueses sofreram quase tantas baixas como as sofridas nos 13 anos da Guerra do Ultramar do nosso tempo.

(Foi na 1.ª Grande Guerra. Se Portugal não tivesse entrado, o seu Ultramar seria perdido para a Alemanha ou Inglaterra, mas a nossa geração teria sido poupada à sua guerra, desencadeada em 1961). A Constituição Política da República Portuguesa, explicitada pelo Estado Novo, que nos fará conhecer a geografia da Guiné e andar durante dois anos aos tiros e a bombardear as suas matas e bolanhas, entrou em vigor em 11 de Abril de 1933, sendo a nossa 4.ª Constituição abrilista.


Adiante, adiante, a dar lugar a memórias do nosso tempo.

O guineense Amílcar Cabral, jovem eng.º agrónomo, benfiquista ferrenho e putativo génio inspirador e o motor da liquidação do Império português, em carta de Abril de 1950 à sua namorada, a colega flaviense Maria Helena, opinava essa Constituição como “dos mais belos documentos da igualdade dos homens (…) com práticas diametralmente opostas”.

Salazar esconjurou o golpe palaciano de 11 de Abril de 1961, a abrilada da sua demissão, da autoria do seu ministro da Defesa, General Botelho Moniz, não obstante apoiado pelo seu ex-PR General Craveiro Lopes e inspirado pela embaixada dos Estados Unidos; outra oportunidade que nos teria livrado de dar com os costados na Guerra da Guiné.

O nosso conhecido navio Niassa zarpa de Lisboa, em 21 de Abril desse ano, carregando o primeiro contingente de tropas – a decisão de Salazar, de “rapidamente e em força para Angola”, que assumira o ministério da Defesa.

A 4.ª Comissão Especial entrou e andou clandestinamente no sul da Guiné, entre 1 e 8 de Abril de 1972, chegou a Cubacaré e conseguiu dependurar a bandeira da ONU no galho duma árvore.

José Medeiros Ferreira
Em Aveiro, realizou-se nos princípios de Abril de 1973 o 3.º Congresso da Oposição Democrática, com o beneplácito da lei e a presença de alguns oficiais da Marinha e do Exército, putativos “capitães de Abril”, a primeira reunião pública em que foi publicamente advogado o início das conversações, pelo fim das guerras do Ultramar. A mudança de regime à mão armada não foi abordada e a tese do socialista Medeiros Ferreira (lida pela sua mulher, pela sua situação de desertor) de Descolonizar, Democratizar e Desenvolver, foi ruidosamente contestada pelas correntes de opinião revolucionárias, marxista e maoísta.

Na esteira desse congresso, em 14 de Abril desse ano, um grupo de ex-oficiais milicianos, evocando que “não seriam a geração da traição”, anunciou a organização do I Congresso dos Combatentes, a realizar em princípios de Junho, livre de antagonismos e de facções, a sua comissão executiva central era formada por três oficiais deficientes da Guerra do Ultramar e o seu Presidente da Mesa será o General Reformado António Augusto dos Santos, a pedido do ministro da Defesa.
A reunião da malta do QP, no Agrupamento de Transmissões da Guiné, resultou na contestação de 51 oficiais à motivação e ao conteúdo do Congresso dos Combatentes, o oficial guineense Marcelino da Mata e o oficial cabo-verdiano Rebordão de Brito, condecorados com a “Torre Espada”, foram os subscritores do telegrama de repúdio, o General Spínola proibiu a representação da Guiné e o Ministro da Defesa proibiu aos militares do QP da sua representação. Pouco depois e cavalgando a onda das reacções corporativas da classe dos Capitães aos Decretos-Lei n.º 353 e 373/73, “do Curso de Promoção a Capitães Milicianos”, os então Majores Ramalho Eanes e Carlos Fabião, prós e o Capitão Vasco Lourenço, fogoso anti-spinolista, recolheram centenas de assinaturas de contestação e de requerimentos de demissão de Capitães do QP.
A comissão executiva lisboeta do Congresso dos Combatentes correspondeu à turbulência criada pelos prós e contras ou pela direita e a esquerda com a demissão, o Dr. José Vieira de Carvalho, ex-alferes miliciano combatente, presidente da sua comissão no Norte e Presidente da Câmara Municipal da Maia agarrou a sua organização e dinamização, a dar nas vistas com os “rateres” do escape e com o amarelo-torrado do seu Renault 5 – a novidade automobilística na altura – mas demitiu-se, ao chegar a hora.

Gen António de Spínola
O General Spínola reuniu em Bissau cerca de 400 oficiais do mato, em 16 de Abril de 1973, para lhes dar directivas e lhes anunciar o “fim da guerra” da Guiné, convicto da situação de fraqueza do PAIGC, confiante no êxito dos três Majores na negociação da rendição premiada dos seus bi-grupos no Chão Manjaco e optimista quanto ao efeito dominó dessa rendição nos combatentes das regiões Leste e Sul.
O Capitão Vasco Lourenço, comandante da quadrícula de Cuntima, criticou essa sua táctica e estratégica com tal veemência, que ele o tomou de ponta.
De facto, o PAIGC aproveitou-se do contexto da trégua para essas reuniões no Chão Manjaco para reabastecer os seus combatentes na região Norte, e, em 20 de Abril, correspondeu ao dia D dessa manobra com o assassinato desses três Majores negociadores e dos seus quatro acompanhantes.

Duas semanas depois da reunião de Bissau, o General Spínola aterrou na tabanca de Cuntima, em visita de inspecção ao comando do Capitão Vasco Lourenço e à sua CCaç 2549, pegou-lhe por tudo e por nada, ameaçou-o com a transferência para Jolmete, a fazer a aprendizagem de comando com o seu capitão miliciano e mandou distribuir uma circular pelas unidades, a divulgar o seu relatório acerca da inaptidão do Comandante da Companhia de Cuntima.

A companhia a nomadizar em Jolmete era comandada pelo transmontano António Carlos Almendra, alferes miliciano graduado em capitão, ora Coronel na reforma, merecedor de 15 louvores e de 10 condecorações, então camarada do camarada e tabanqueiro Manuel Resende. Diz-se que durante os 18 meses do exercício desse comando, ele fora sempre abonado do soldo de alferes e que a diferença para o soldo capitão terá saído do próprio bolso do General Spínola.

Mas o General Spínola e o Capitão Vasco Lourenço não se ficaram por aqui.

O I Congresso dos Combatentes, mais ou menos nacionalista, decorrerá de 1 a 3 de Junho de 1973, no auge das violentas batalhas dos 3 G´s – Guidaje, Guileje e Gadamael -, travadas pelas reservas de infantaria e pela parafernália da artilharia de última geração do PAIGC, planeadas e comandadas por oficiais do exército regular cubano, que nos custaram 63 mortos e 269 feridos militares, 15 mortes e 18 feridos civis e 6 aviões abatidos – 4 DO e T6 de pistão e 2 Fiat G 21 de propulsão.

O Tenente-Coronel, Comandante do Agrupamento de Transmissões da Guiné e anfitrião da reunião anti-Congresso dos Combatentes irá hospedar-se no Palácio da Praça do Império, e sentar-se na cadeira que fora do General Bettencourt Rodrigues, alçado pelo “golpe de Bissau”, em 26 de Abril de 1974, e o COPCON lisboeta catrafilará o Dr. Vieira de Carvalho no Forte de Caxias, durante 9 meses, sob ameaças de fuzilamento, acusado do delito de organizador desse Congresso e como fundador e dirigente do Partido do Progresso.

O I Congresso dos Combates funcionou de embrião ao MFA, Movimento das Forças Armadas, acontecera o advento da revolta do 25 de Abril e o Capitão Vasco Lourenço como o seu profeta.

(Continua)
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Nota o editor

Último poste da série de 23 de abril de 2020 > Guiné 61/74 - P20893: 16 anos a blogar (3): o obus de Bambadinca (foto do Frederico Amorim, autor da página "Mundo do Fred", 26/4/1997)

Guiné 61/74 - P20901: Os nossos seres, saberes e lazeres (387): Em frente ao Vesúvio, passeando por Herculano e Ravello (1) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 23 de Outubro de 2019:

Queridos amigos,
Alguns anos atrás, parti de Salerno só para ter um cheirinho de Nápoles. Era dia de sol escaldante, chocou ver aquelas toneladas de lixo que parece que deixam indiferentes os napolitanos.
Com tempo limitado e um calor sem tréguas, escolheu-se a Nápoles influenciada pelos tempos greco-romanos, nada de museus nem de andar a cirandar pela baía, mas deu para perceber que é uma das cidades mais belas do mundo, com acervo arquitetónico e um património artístico incomparáveis. E andou-se em ruminação, já se conhecia Pompeia e Pastum, havia que conhecer Herculano, voltar a Amalfi, subir até Ravello, visitar o Palácio Real de Caserta, uma imitação colossal de Versalhes com 1200 quartos, entre outros destinos.
Teve-se muitíssima sorte com o tempo, nada de calor fervente, um cálido tempo outonal. Então, e já com umas lambuzadelas tiradas de vários guias, começou a incursão, para não variar entrou-se na Nápoles greco-romana e confessa-se que foi tão empolgante que se voltaria sem rebuço amanhã mesmo, a despeito do lixo e de um trânsito caótico sem igual.

Um abraço do
Mário


Em frente ao Vesúvio, passeando por Herculano e Ravello (1)

Beja Santos

Se em Itália é difícil encontrar um metro quadrado sem a presença da Antiguidade, Nápoles é um território luxuriante de sucessivos processos civilizacionais: na Magna Grécia chamou-se Neapolis, a cidade nova, ainda há vestígios desta Nápoles greco-romana; foi parte do Império Bizantino, parte do Reino Normando da Sicília, pertenceu à Casa de Anjou, teve rei de Aragão, foi colónia de Espanha, voltou a mudar de mãos com o rei Bourbon Carlos III, foi possessão napoleónica e em 1860, já com um novo governo Bourbon, Garibaldi chegou a Nápoles e nesse mesmo ano Nápoles passou a fazer parte do novo Reino de Itália. Conheceu um profundo declínio, os viajantes do Grand Tour deram a conhecer este mundo antigo deificado pelo romantismo. A Nápoles atual é o somatório de todas essas parcelas e não se pode percorrer as suas ruas e visitar os seus monumentos sem ter em linha de conta as sucessivas camadas. Aqui bem perto, a erupção do Vesúvio atulhou com nuvens de poeira Pompeia e Herculano. É uma cidade brindada por uma espaçosa baía, um espinhaço montanhoso parece formar um balcão e estender-se por um promontório que vai até Salerno. São panoramas que nos fazem cortar a respiração, os da costa amalfitana e a uma certa distância erguem-se Ischia e Capri. É nas velhas ruas de uma Nápoles monumental que se vai andarilhar, logo no primeiro dia. Não se mostra, mas é uma cidade que fervilha de lixo, toneladas de lixo que se derramam à volta dos ecopontos e dos baldes, por vezes com odor fétido, situação incompreensível pois choca com o fervilhar desta cidade que possui um património inaudito, desde o mundo antigo à atualidade.


Um sinal da presença espanhola, estamos no tempo do vice-rei de Espanha, D. Pedro de Toledo, o planeador da cidade, um urbanismo em expansão que saltou as muralhas, constroem-se palácios, as tropas estão aquarteladas no Quartieri Spagnoli. Nápoles é então a maior cidade da Itália. O domínio espanhol só acabará em 1707, com o Tratado de Utreque, Nápoles será cedida à Áustria.





Impossível ficar insensível aos meandros destas ruas longilíneas, correspondentes às três principais vias da Nápoles greco-romana, andarilha-se por becos, ruelas e impasses para fugir a um trânsito caótico de motoretas e carros, há nichos que nos lembram as nossas alminhas, sempre com velas acesas, espreita-se para os interiores, sempre uma pomposidade discreta. O viandante tem à sua mercê um fartote de edifícios históricos, igrejas e museus, é uma atmosfera de outubro muito agradável, é muitíssimo bom este deambular sem a pressão do cronómetro. Entra-se num café para mordiscar um bolo tradicional de Nápoles, a babá, mete-se conversa com um autóctone, deve ser alguém que gosta do mundo subterrâneo, fala longamente sobre a Nápoles subterrânea, a cidade está cheia de catacumbas, aquedutos, grutas, algumas funcionaram como abrigo durante os bombardeamentos da II Guerra Mundial. E despedem-se falando de Kaputt, de Curzio Malaparte, a obra-prima termina em Nápoles, nesses tempos de bombardeamento, em 1943. Segue-se trajeto e dá-se de frente com Pio Monte della Misericordia, estamos em plena Via dei Tribunali. Que há de notável? O Pio Monte é um género de Misericórdia, foi fundado para ajudar os pobres e os doentes e para libertar os escravos cristãos do Império Otomano. No seu interior está um retábulo extraordinário, os Sete Actos de Misericórdia, uma tela prodigiosa de Caravaggio. O viandante gosta de boa publicidade e não resistiu a fotografar o convite e depois, em todo o seu esplendor, o claro-escuro de Caravaggio.



Continua o enamoramento até se chegar à catedral, Il Duomo, construção iniciada em finais do século XIII no tempo de Carlos I de Anjou. Sabemos bem que todas estas belezas arquitetónicas vão tendo alterações ao longo dos séculos. Tudo aliás começara com uma basílica paleocristã alterada pelos Angevinos, possui linda fachada marmoreada, é um dos templos de maior devoção em Itália. Por ali vai andar placidamente o viandante, visitará a Cappella di San Gennaro; encontra-se um relicário do santo em trabalho gótico, ouro maciço, no Museu do Tesouro, ali ao lado. A singularidade do templo deve-se ao facto do esplendor não estar todo ele concentrado nas naves nem no altar. Há a Capela de São Januário, como já se referiu. Mas há também Santa Restituta, a visita é indispensável, está aqui a estrutura da basílica paleocristã alterada pelos Anjou, com uma decoração que foi reposta em finais do século XVII. Por ora vamos deambular. Quem aqui vier, não perca o batistério, o mais antigo do mundo ocidental. Os estilos embrincam-se, ressalta o barroco, a profusão de colunas antigas, há uma capela com estrutura e decoração gótica original, veja-se o chão de mosaicos.






Fiquemos por aqui. De seguida, vamos até Santa Restituta, é bem merecedora da nossa contemplação, volta-se à rua para ver o resto do teatro romano, entra-se numa galeria de nome Príncipe de Nápoles, já deve ter conhecido dias melhores, o viandante hesita entre visitar de barriga a bater horas um dos museus arqueológicos de maior valor ou então comer uma pasta fresca e deambular sem destino. Ganha o estômago e o prazer da mesa. Alguém escreveu que depois de ver Nápoles já se podia morrer, ao viandante não parece destino sublime, aqui a gastronomia é fina e há muitíssimo mais para ver antes de pensar viajar até às estrelinhas.

(continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 18 de abril de 2020 > Guiné 61/74 - P20869: Os nossos seres, saberes e lazeres (386): Uma memorável visita ao mundo albicastrense (3) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P20900: Tabanca Grande (493): José Carvalho, natural do Bombarral, com amigos na Lourinhã, ex-alf mil inf, CCAÇ 2753, "Os Barões do K3" (Bissau, Bironque, Madina Fula, Saliquinhedim / K3 e Mansába, 1970/72): senta-se à sombra do nosso poilão, no lugar n.º 807


O alf mil inf José Carvalho, CCAÇ 2753, Os Barões do K3,  (Bissau, Bironque, Madina Fula, Saliquinhedim / K3 e Mansába,  1970/72)
 

O médico veterinário José Carvalho, natural do Bombarral, com amigos na Lourinhã; novo membro da Tabanca Grande com o nº 807. . Fotos (e legendas): © José Carvalho  (2029). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem de José Pimentel de Carvalho, médico veterinário e novo membro da Tabanca Grande, que passa a sentar-se à sombra do nosso poilão, no lugar nº 807:

Data: 14/04, 18:40 (há 10 dias)

Assunto: Inscrição como membro da Tabanca Grande

Boa tarde Luís Graça,

Depois de há bastante tempo visitar regularmente o blogue, que considero ser uma obra notória e importante para a história recente de Portugal, por isso felicito os seus obreiros, neste período de confinamento, em que até consigo ter tempo…, concretizo a decisão de apresentar a minha inscrição para membro da Tabanca Grande.

Sou oriundo do concelho do Bombarral, vizinho da Lourinhã, em cujo concelho iniciei a minha actividade profissional, na industria avícola, quando a mesma começava a ser uma das principais actividades económicas da região.

Teremos até amigos comuns, um dos quais que recordo com saudade, o Álvaro Carvalho, condiscípulo no Liceu de Leiria, nos anos sessenta, ambos com o mesmo encarregado de educação local, e irmão do meu colega e amigo homónimo José Carvalho.

Nasci em 1948, no Bombarral, José Júlio Faria Pimentel de Carvalho, fui incorporado no Exército Português em Julho de 1969, na EPI Mafra, passei pelo BI 17, Angra do Heroísmo, onde se formou a CCaç  2753, "Barões do K3",  e chegámos à Guiné em Agosto de 1970. 

A companhia finalizou a comissão em Junho de 1972 e eu com a incumbência da comissão liquidatária, em inicio de Agosto.  

Fui Alf Mil Inf tendo passado, entre 1970 e 1972 por Bissau, Bironque, Madina Fula, Saliquinhedim / K3 e Mansabá.

Junto-me a mais dois ”Barões”, que são membros veteranos da Tabanca Grande, o grande Amigo Vítor Junqueira, com quem ultimamente tenho convivido nos almoços da Tabanca do Centro,  e o Francisco Godinho.

Profissionalmente desenvolvi a minha actividade de Médico Veterinário, predominantemente na área da avicultura e na industria farmacêutica (saúde animal).

Em ficheiro anexo envio as duas fotografias requeridas, uma de 1972, outra desta semana e proponho no futuro enviar outras da Guiné, que porventura os distintos editores, avaliarão do interesse ou não da sua publicação.

Termino felicitando e agradecendo o notável esforço de todos Tertulianos, que ao longo destes anos, têm contribuído para o enorme sucesso do blogue.

Um abraço do
José Pimentel de Carvalho


2. Comentário do editor LG:

Caro José Carvalho: os amigos dos meus amigos meus amigos são... Além disso, como camaradas que fomos, tratamo-nos por tu, o que esbate logo eventuais distâncias... Seguramente que já nos encontrámos por aqui, na Lourinhã, e, como soi dizer-se nestas circunstâncias, "a tua cara não me é estranha"... 

E começas logo por citar dois grandes amigos de infância, o Álvaro Carvalho, médico psiquiatra (Lourinhã,  1948 - Lisboa,  2018) (e meu colega de escola primária, um amigo de toda a vida: tem aqui, neste blogue, pelo menos 3 referências, textos meus de apreço, saudade e homenagem) e o José Andrade de Carvalho, seu mano, também médico veterinário como tu. Em suma, sempre fui amigo da família, incluindo a Hermínia.

Quanto ao Vitor Junqueira, há muito que nos honra com a sua presença na Tabanca Grande, organizou o nosso II Encontro Nacional, em Pombal, em 2007, Tem cerca de 7 dezenas de referências no nosso blogue e dele já publicámos algumas das nossas melhores histórias. Há uns anos a esta parte deixou de ser tão assíduo, o que é humanamente compreensível: andamos para aqui a blogar desde 2004...

O Francisco Godinho ainda há pouco tempo o encontrei na Casa do Alentejo. Também nos honra com a sua presença, contando com quase 3 dezenas de referências no nosso blogue.

Naturalmente, não precisas de cartas de recomendação: estás aqui de pleno direito, como ex-combatente no TO da Guiné,  e já te sentei no lugar n.º 807, à sombra do nosso secular, mágico, protetor e fraterno poilão... Como sabes, não havia tabanca sem poilões, e a nossa tem um muito grande, justamente para poder caber, sob a sua frondosa copa, todos os nossos camaradas... (e alguns amigos/as, que, não tendo sido militares, têm uma relação especial com a Guiné).

É caso, de  resto, para dizer que o Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande. E, no teu caso, não preciso de lembrar que a nossa Tabanca é Grande, justamente porque nela cabemos todos nós, com tudo aquilo que nos une e até com aquilo que nos pode separar. E uma vez, que não há mais nenhum José Carvalho, ficas com o nome por que  foste batizado e és conhecido, e que passa, a partir de agora, a figurar na nossa lista alfabética, de A a Z, na coluna estática do lado esquerdo do blogue. (Se preferires, podes ficar como José Pimentel de Carvalho, como és conhecido profissionalmente.)

Sendo tu já um leitor de longa data do nosso blogue, sabes quais são as nossas regras editoriais e o nosso "modus faciendi": textos e fotos para publicação mandas, como fizeste agora, para um dos editores. Tratamos depois do resto.

És naturalmente bem vindo e seguramente recebido de braços abertos por todos/as. Não tenho, assim de cor, a certeza de ter algum bombarralense como grã-tabanqueiro... Conheço o Patuleia, mas ele foi combatente em Angola, embora tenha cá bons amigos e camaradas, como o António Marques, da  minha CCAÇ 12 (Bambadinca, 1969/71): estiveram muito juntos, no Hospital Militar Principal, em recuperação, em 1971/72.

Desculpa só agora responder-te: poderia desculpar-me com a situação atual criada pela pandemia de COBID-19 e  com  o "teletrabalho" (, que, de resto,  já existe há muito entre nós,  editores, em boa verdade desde o início do blogue, em 23/4/2004)... Mas não, precisava apenas de ter uma horinha para te dar bom andamento ao teu pedido e apresentar-te aos demais camaradas e amigos.

Vejo, por outro lado, que somos também da saúde pública, e portanto com mais afinidades, para além da Guiné e dos nossos comuns amigos da Lourinhã.  Estás apresentado, desejo-te boa saúde e longa vida, e aguardo as tuas próximas histórias.

A tua CCAÇ 2753 tem 27 referências no nosso blogue. Vão aumentar, seguramente, com a tua partilha de memórias (e afetos).
Luís Graça

PS - O nosso coeditor Carlos Vinhal é teu contemporâneo, esteve  em Mansabá,  entre abril de 1970 e março de 1972. Foi Fur Mil At Art, com a especialidade de minas e armadilhas da CART 2732.

Guiné 61/74 - P20899: No céu não há disto... Comes & bebes: sugestões dos 'vagomestres' da Tabanca Grande (9): Petiscos exóticos... em tempo de isolamento social (José Belo, régulo da Tabanca da Lapónia)






Tabanca da Lapónia >  2020 >  Não se aceitam, reservas... devido à situação de confinamento na sequência da pandemia de COVID-19...  que também cá chegou, à última grande  extensäo verdadeiramente selvagem da Europa... Também não há "take way".

Fotos (e legenda): ©  José Belo (2020). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Duas mensagem, com data de 23 do corrnte,  de José Belo ex-alf mil inf da CCAÇ 2381, Ingoré, Buba, Aldeia Formosa, Mampatá e Empada, 1968/70, e manteve-se no ativo, no exército português, durante uma década; está reformado como capitão inf do exército português: jurista, vive entre (i) Estocolmo, Suécia,  (ii) nas imediações de Abisco, Kiruna, Lapónia, no círculo polar ártico,  já próximo da fronteira com a Finlândia, e (iii) Key-West, Florida, EUA; é o único régulo da tabanca de um homem só (, mas sempre bem acompanhado das suas renas, dos seus cães e dos seus ursos)


Os isolamentos, os petiscos e os ...URSOS

1. Nos últimos anos o número de ursos tem vindo a aumenter consideravelmente neste extremo do extremo norte europeu.

Näo säo täo perigosos como se possa esperar pois evitam ao máximo os encontros com humanos.
A darem-se encontros inesperados, ou se acompanhados de crias, a história pode tornar-se bem diferente.

Daí que, e desde há muito, a carne de urso é uma das especialidades locais apreciada por muitos, seja ela assada, grelhada,fumada ou em enchidos vários.

Neste período de isolamentos virais recomenda-se como petisco compensador..

Aqui seguem algumas fotos sugestivas,com a curiosidade de a foto do cäo mostrar o tipo de colête com picos afiados que ajuda o animal em... encontros inesperados.

Um detalhe "técnico" para os chefes amadores: A carne que nestes assados parece estar (aos olhos lusitanos) sempre "mal passada" em verdade näo o está. O método muito usado por aqui de assar em forno com temperaturas pouco elevadas,  mas durante muitas horas, dá-lhe este aspecto e sabor suculento de mastigacäo muito agradável.

2. Tendo consciência que os exóticos ursos da Lapónia näo säo únicos, e que alguns também se passeiam por ruas do nosso querido Portugal, sinto necessidade de dar um esclarecimento quanto ao texto por mim enviado.

O nosso Blogue é, em verdade, um ponto de encontro de antigos combatentes da Guiné. Tem servido,e serve,para nele serem publicadas recordacöes pessoais daqueles tempos, Experiências várias,assim como importante documentacäo de acontecimentos Históricos com a Guiné relacionados.

E aí devem também ser incluidas as célebres fotos com macaquinhos no ombro direito ou esquerdo,de acordo, certamente, com as preferências políticas do fotografado.
Ao enviar texto e fotos culinárias para um tal blogue, näo espero que os Camaradas väo de imediato buscar o avental e a panela... dirigindo-se para a cozinha.

Mais näo é que uma busca inocente de levar até aí algumas das muitas realidades "exóticas" deste extremo do extremo norte europeu, considerado de facto como a última grande (!) extensäo verdadeiramente selvagem da Europa..

Säo para muitos ...tempos de isolamento...e talvez estas "variantes" sirvam para ajudar a "matar o tempo". Espero.
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Nota do editor:

Último poste da série > 24 de abril de 2020 > Guiné 61/74 - P20895: No céu não há disto... Comes & bebes: sugestões dos 'vagomestres' da Tabanca Grande (8): Mais algumas dicas da "Chef" Alice Carneiro, do restaurante "Chez Nous"... Não comam muito, comam bem, façam exercício, e não se esqueçam também de alimentar os nossos bons irãs...