segunda-feira, 24 de janeiro de 2022

Guiné 61/74 - P22937: Notas de leitura (1413): A utopia de André Álvares d’Almada, Revista Sintidus, nº. 1, de 2018 (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 21 de Janeiro de 2019:

Queridos amigos,
Saudemos o aparecimento da revista Sintidus, aqui se junta a referência para ter acesso ao seu conteúdo total. Privilegiou-se a chamada de atenção para o artigo de Raul Mendes Fernandes para as motivações narrativas de André Alvares d'Almada e o seu "Tratado Breve dos Rios de Guiné do Cabo Verde", aquele que será o mais belo documento de apresentação da Senegâmbia, no final do século XVI. Este marinheiro e mercador, Cavaleiro da Ordem de Cristo sonhava que Filipe II apoiasse o povoamento da região com gente vinda de Cabo Verde e lança o seu canto da sereia: afastamento das nações rivais, aproveitamento das riquezas, criação de uma nova classe de proprietários rurais naquele ponto da África Ocidental. As coisas não correram de feição, mas a narrativa é um dos documentos literários mais empolgantes de tudo quanto se escreveu na língua portuguesa.

Um abraço do
Mário



A utopia de André Álvares d’Almada

Beja Santos

A revista "Sintidus", cujo primeiro número saiu em 2018, é uma nova publicação científica na Guiné-Bissau e vale a pena conhecer-lhe os objetivos e ter acesso à versão online para aquilatar da sua importância (ver SINTIDUS).

Chamou-me a atenção o artigo “A viagem do olhar de André Alvares d’Almada”, da responsabilidade do investigador Raul Mendes Fernandes (ramefes@gmail.com). Com base na antropologia social, o cientista disseca as motivações que levaram, em 1594, o Capitão Álvares d’Almada, natural de Santiago, a publicar o "Tratado Breve dos Rios da Guiné do Cabo Verde" desde os Rios de Sanagá até aos Baixos de St.ª Ana; de todas as Nações dos Negros que há na dita Costa, e dos seus Costumes, Armas, Trajes, Juramentos e Guerras. É consensualmente a mais luminosa das narrativas daquilo que se convencionou chamar literatura de viagens do século XVI, é uma obra com mensagem, bem intencional, e aquele viajante, marinheiro, soldado, quase etnógrafo e mercador do século XVI é uma verdadeira prestação de contas endereçada a Filipe II de Espanha e I de Portugal. Homem do seu tempo, Almada pretende convencer o monarca que só há vantagens em povoar uma parte do território da África Ocidental que dá pelo nome dos Rios de Guiné do Cabo Verde com os habitantes das ilhas de Santiago e Fogo, e daí o acervo informativo luxuriante, uma quase monografia escrita em viagem sobre reinos, conflitos e guerras, modos de vida, organização da produção e comércio nos ditos Rios da Guiné.

Almada sabe que o Brasil está a ser colonizado e que Madrid tem os olhos postos nas minas de Potosi, esta “carta de sedução” tem um móbil que é a sugestão implícita de que se pode construir uma zona intermediária entre a Índia e Portugal e utilizar a força de trabalho dos escravos africanos, os moradores de Santiago seriam os agentes da civilização e do negócio, eles iriam jogar um papel estratégico entre a Europa, a Índia e o Brasil. Pretende demonstrar que o povoamento até à Serra Leoa acrescentaria fé e fazenda, embargaria o caminho à concorrência estrangeira. Isto na lógica de que ainda vigorava a divisão do mundo decorrente do tratado de Tordesilhas. Recorde-se que este homem nascido em Santiago era um militar que se distinguira na defesa desta ilha contra ataques dos corsários, recebera o título de Cavaleiro da Ordem de Cristo. Almada sonha com a cristandade e vê nesta região que também pode ser conhecida por Senegâmbia um processo de deslocação atlântica da economia oeste-africana, região onde o fluxo de escravos está no auge, segundo os números que o investigador adianta, a região designada por Senegâmbia e Ilhas Atlânticas era a maior fornecedora de escravos do continente africano, ao longo do século XVI terá fornecido aproximadamente 150 mil escravos. Este tráfico conhecerá profundas alterações com o crescimento de outros fornecedores como a Costa de Ouro, Baía de Benim e Baía do Biafra. Diz o autor que Álvares d’Almada testemunha as fortes ligações que os mercadores Mandingas estabeleciam com o comércio de longa distância no interior do continente, fala no Mandimança, o imperador negro a quem todos os negros da Guiné dão obediência, descreve ao pormenor os mercadores, as suas trocas comerciais e os mercados ao longo do Rio Gâmbia. Descrições cuidadas, como a que faz dos mercadores Mandingas:
“Este ouro, que aqui trazem, vem o mais dele em pó, e dele em peças e muito fino. Estes mercadores são bem entendidos, assim nos pesos como no mais. Trazem balanças mui subtis, marcetadas de prata, e cordões de retrós. Trazem os escritórios pequenos de couro cru, sem fechos, e nas gavetas trazem os pesos, que são de latão da feição de dados; e o marco é como uma maçã de espada. Trazem este ouro em canos de penas grossas de aves, e em ossos de gatos, escondido tudo em atilhos metidos pelos vestidos. Desta maneira, porque passam por muitos reinos, e são roubados muitas vezes, sem embargo de trazerem as cáfilas capitães e gente de guarda; e há cáfila que traz mais de mil frecheiros”.

É uma leitura sem rival, parece que regista tudo, ou é espião ou máquina registadora: como se vestem os mercadores mouros, as armas, as mercadorias dos circuitos de troca e atinge o seu apuro quando pretende imprimir à sua narrativa a configuração de que aquele mundo é paraíso terreal, e situa-se aqui aquele que será porventura o seu parágrafo emblemático:
“Esta terra é tão abundante de tudo que nada lhe falta; abastada de muitos mantimentos, muito fresca de ribeiras de água, laranjeiras, cidreiras, canas-de-açúcar, muitos palmares, muita madeira excelente. Povoando-se viria a ser de maior trato que o Brasil, porque no Brasil não há mais do que açúcar, e o pau, e algodão; nesta terra há algodão e o pau que há no Brasil, e marfim, cera, ouro, âmbar, malagueta, e podem-se fazer muitos engenhos de açúcar, há ferro, muita madeira para os engenhos, e escravos para eles”.

Segue-se a descrição dos reinos, de quem neles vive, não se esquece da navegabilidade dos rios, que há água potável, mas também animais, o que constitui a farmacopeia africana.

Como refere em conclusão o autor, a utopia de Almada construiu-se a partir da crença de que o Brasil era um sonho incerto, Sua Majestade bem podia apostar na ocupação territorial daquela ditosa Senegâmbia, assim afastaria as nações rivais, podia contar com segurança na economia esclavagista e criar uma nova classe de proprietários rurais.

A “carta de sedução” ficou para a História como documento inexcedível como observação e apresentação a um monarca de um novo mundo próspero ao seu alcance. Só que a utopia foi frustrada, o mundo deu outras voltas. E escreve o investigador: “O testemunho que nos deixou Almada revela de forma percursora uma nova visão sobre os homens e a natureza que passaram a figurar na sua narrativa como recursos a serem explorados. Neste sentido Almada é um autor moderno”.

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Nota do editor

Último poste da série de 21 DE JANEIRO DE 2022 > Guiné 61/74 - P22927: Notas de leitura (1412): “África Dentro”, por Maria João Avillez; Texto Editores, 2010 (2) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P22936: In Memoriam: Cadetes da Escola do Exército e da Escola de Guerra (actual Academia Militar), mortos em combate na 1ª Guerra Mundial (França, Angola e Moçambique, 1914-1918) (cor art ref António Carlos Morais Silva) - Parte XXX: Alberto de Sousa Flores, alf inf (Almada, 1896 - França, CEP, 1918)

Júlio Alberto de Sousa Flores (1896 - 1918)


Nome: Júlio Alberto de Sousa Flores

Posto: Alferes de Infantaria

Naturalidade: Almada

Data de nascimento :16 de Fevereiro de 1896

Incorporação: 1916 na Escola de Guerra (nº 265 do Corpo de Alunos)

Unidade: 4ª Bateria de Morteiros Médios, Regimento de Infantaria n.º 18

Condecorações

TO da morte em combate:  França (CEP)

Data de Embarque:  18 de Julho de 1917 

Data da morte:  9 de Abril de 1918

Sepultura: 

Circunstâncias da morte Na batalha de 9 de Abril foi dado como desaparecido, julgando-se ter falecido por ferimentos recebidos durante o ataque alemão.

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António Carlos Morais da Silva, hoje e ontem


1. Continuação da publicação da série respeitante à biografia (breve) de cada um oficiais oriundos da Escola do Exército e da Escola de Guerra que morreram em combate, na I Guerra Mundial, nos teatros de operações de Angola, Moçambique e França (*).

Trabalho de pesquisa do cor art ref António Carlos Morais da Silva, cadete-aluno nº 45/63 do Corpo de Alunos da Academia Militar e depois professor da AM, durante cerca de 3 décadas; é membro da nossa Tabanca Grande, tendo sido, no CTIG, instrutor da 1ª CCmds Africanos, em Fá Mandinga, adjunto do COP 6, em Mansabá, e comandante da CCAÇ 2796, em Gadamael, entre 1970 e 1972.

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Nota do editor:

(*) Último poste da série > 14 de janeiro de 2022 > Guiné 61/74 - P22905: In Memoriam: Cadetes da Escola do Exército e da Escola de Guerra (actual Academia Militar), mortos em combate na 1ª Guerra Mundial (França, Angola e Moçambique, 1914-1918) (cor art ref António Carlos Morais Silva) - Parte XIX: Joaquim Vidal Pinheiro, ten art (Porto, 1892 - França, CEP, 1918)

Guiné 61/74 - P22935: Depois de Canchungo, Mansoa e Cufar, 1972/74: No Espelho do Mundo (António Graça de Abreu) - Parte XXV: Berlim, Alemanha, 1969








Imagens, que julgamos do domínio público, referentes a Berlim, antes da "queda do muro" (que só aconteceria, vinte anos depois, em 9 de novembro de 1989)



1. Continuação da série "Depois de Canchungo, Mansoa e Cufar, 1972/74: No Espelho do Mundo", da autoria de António Graca de Abreu [, ex-alf mil, CAOP1, Canchungo, Mansoa e Cufar, 1972/74. (*)

Escritor e docente universitário, sinólogo (especialista em língua, literatura e história da China); natural do Porto, vive em Cascais; autor de mais de 20 títulos, entre eles, "Diário da Guiné: Lama, Sangue e Água Pura" (Lisboa: Guerra & Paz Editores, 2007, 220 pp);  é membro da nossa Tabanca Grande desde 2007, tem já mais de 300 referências no blogue.

Texto e fotos recebidos em 26/11/2021. Sendo uma viagem realizada em 1969, pode parecer um "anacronismo" publicar este texto nesta série, que é pós-Guiné, o mesmo é dizer, pós-25 de abril de 1974...Mas já aqui publicámos um outro texto do autor, ainda mais "anacrónico", sobre Hamburgo, datado de  1967. Não era fácil, todavia,  para um português, viajar nesse tempo pelos países da então "cortina de ferro", a Europa de Leste... Dada esta explicação sobre o contexto, aqui vai o texto do nosso camarada António Graça de Abreu, que desde cedo, se tornou  o "globetrotter" que conhecemos, o viajante compulsivo com duas voltas ao mundo, em cruzeiros... As fotos não devem ser dele, sendo mais provavelmente oriundas da Net, sem referência à fonte. São imagens que, todavia,  nunca mais gostaríamos de ver na nossa Europa. Vd. também os quatro postes que o nosso editor Luís Graça publicou em 2015, na sequência de uma estadia em Berlim, em março desse ano (***)


Berlin, Alemanha, 1969

por António Graça de Abreu


Ano de 1969. Venho desde Hamburgo (**), no Ford Escort na longa viagem desde Lisboa, atravessando agora tristes fronteiras de uma mesma pátria alemã, percorrendo autoestradas antigas construídas no tempo do Hitler, caminhos então modernos que tanto facilitaram a mobilidade da poderosa máquina de guerra nazi.

Antes da chegada a Berlin, ao entrar na Alemanha de Leste, a polícia e soldados da DDR (Deutsche Demokratische Republik) vasculham tudo, levantam os bancos do carro, metem-se por baixo do veículo, inspecionam, verificam, fazem perguntas após perguntas em sucessivos controles dos passaportes e dos papéis do seguro.

Chego a Berlin Ocidental, em tempos gelados de Guerra Fria. Numa transversal da Kurfürstendamm, a principal avenida da cidade, encontramos alojamento não muito caro num hotelzinho alojado num velho prédio impiedosamente bombardeado durante a 2ª. Guerra Mundial, mas restaurado, reconstruído a preceito, com cicatrizes a disfarçar meio escondidas em quase todos os patamares, esconsos e paredes. Camas confortáveis, um pequeno almoço substancial e saudável, o descanso possível após umas tantas emoções fortes.

Berlin Ocidental, cidade sitiada pela República Democrática Alemã, tem sobrevivido com dificuldade às asfixiantes tragédias da História. Por aqui respira-se alguma liberdade, o engenho e a capacidade de cada um a fazer-se, a exercitar-se na construção de milhões de quotidianos diferentes, melhores.

No terceiro dia na cidade, ida a Berlin Oriental. Tento e consigo entrar com o meu Escort pelo Checkpoint Charlie. Outra vez infindáveis controles, verificação de documentos, suspeitas de sermos uns perigosos espiões a soldo não sei bem de quem. O que vêm cá fazer? Turistas? Sim, meine Mutter, meine Schwester, eine Freundin und ich, (a minha mãe, a minha irmã, uma amiga e eu). O que querem ver? Trazem carro e tudo, porquê a viagem à Alemanha Democrática? Respondo, preencho mais papelada, lá me vou desenrascando no meu alemão, os dois anos de liceu mais um ano de estudo e trabalho em Hamburgo fazem de mim um falante nada vesgo no que à deutsche Sprache, a língua alemã diz respeito, o que também levanta suspeitas aos polícias da DDR.

Em Berlin Oriental, a cidade tem pouco trânsito automóvel, a sensação de uma grande silêncio, não a azáfama e correrias do capitalismo do outro lado do muro. Andamos uns quilómetros por dentro de Berlin Oriental, falta cor e alegria à cidade. Paramos, passeamos num jardim. Não falamos com ninguém, ninguém fala connosco. As pessoas movem-se, vão à luta à sua maneira, trabalham, mas parecem viver numa paz, numa tranquilidade instaurada por decreto.

Há ainda dezenas, centenas de edifícios por reconstruir, bombardeados pelos aviões aliados em 1945, ou esventrados nos combates de rua quando os soldados russos, e logo depois os aliados, entraram e ocuparam Berlin. O grande edifício do Reichstag (uma espécie de Parlamento), ainda em reparações, é uma assustadora sombra do passado.

Guio o carro pela avenida Unter den Linden. Ao fundo, a porta de Brandenburgo, ex-libris da capital alemã, fica neste lado oriental. Logo depois, diante da Berlin Ocidental começa mais uma vez o muro e as barreiras de arame farpado. Mandam-me voltar para trás, a estranha sensação de conduzir um automóvel numa cidade cortada ao meio pelos homens, com obstáculos, polícia e soldados vigilantes por todo o lado.

Muros, guaritas levantadas, metralhadoras prontas a disparar, as barreiras de arame farpado a dividir as duas Berlins, uma sensação de desconforto e mal estar.

Regresso a Berlim Ocidental. Na avenida Kurfürstendamm entro na Kaiser Wilhelm Gedächtniskirche, ou seja, a igreja construída em 1890 em memória do Kaizer Guilherme I, brutalmente bombardeada pelos aliados num raid aéreo em 1943. Lá dentro, no que resta da nave central retalhada pela guerra, um órgão toca Johann Sebastian Bach. A música faz estremecer as paredes do templo, levanta um hino à Alemanha, enobrece o coração dos homens.

António Graça de Abreu

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Notas do editor:

(**) Vd. poste de 31 de julho de 2021 > Guiné 61/74 - P22418: Depois de Canchungo, Mansoa e Cufar, 1972/74: No Espelho do Mundo (António Graça de Abreu) - Parte XIII: Hamburgo, Alemanha Federal, 1967

(***) Vd. postes de

31 de março de 2015 > Guiné 63/74 - P14424: Os nossos seres, saberes e lazeres (80): Berlim, cidade ainda hoje invisivelmente dividida: as marcas da guerra e do terror (Parte I) (Luís Graça) 

domingo, 23 de janeiro de 2022

Guiné 61/74 - P22934: In Memoriam (425): Vasco Pires (1948-2016), um grande abraço, camarada, amigo e companheiro, lá onde estiveres!... Só agora soube do teu falecimento (Carlos Arnaut, ex-alf mil , 16º Pel Art, Binar, Cabuca, Dara, 1970/72)


Vasco Pires (Anadia, 1948- Porto Seguro, Brasil, 2016), ex-alf mil art, cmdt do 23.º Pel Art, Gadamael, 1970/72, é o primeiro à esquerda, de óculos escuros, no final da comissão, em Ingoré, região do Cacheu, 1972.


Foto (e legenda): © Vasco Pires (2014). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem de Carlos Arnaut (ex-alf mil, 16º Pel Art, Binar, Cabuca, Dara, 1970/72, tem dez referências no nosso blogue; entrou para a Tabanca Grande em 12/9/2020):


Data - 23 jan 2022 12:32
Assunto - Vasco Pires


Bom dia, caro Luís.

Só hoje, ao ler o nosso blogue, tive conhecimento da funesta notícia do desaparecimento do meu camarada e amigo Vasco Pires, galante comandante do pelotão de obuses de Gadamael (*).

Como só me juntei à Tabanca Grande em 2020, embora já seguisse o blogue há tempos, não soube do seu falecimento quando vós atempadamente o noticiaram.(**)

A inevitável contagem decrescente da nossa geração levou prematuramente este meu camarada e amigo, do meu curso de Vendas Novas, mas com quem não me cheguei a cruzar no TO da Guiné, nem em Bissau calhou encontrarmo-nos, já que quer um quer outro só por ali passámos de raspão.

Foi com imenso prazer que, anos mais tarde, estava eu envolvido na montagem com dois amigos de uma unidade de preparação e engarrafamento de aguardente, que o fornecedor dos nossos depósitos em aço inox fosse a empresa do Vasco Pires.

Grandes abraços e vários almoços intermináveis, em Peniche e em Anadia, selaram contratos e levaram-nos de regresso aos tempos de cadetes e suas patifarias, lembrando figuras do curso, tentando adivinhar por onde andariam.

Soube, tempos mais tarde, por um dos seus comerciais que ele tinha saído do País, perdendo-lhe então o rasto já que eu próprio também deambulei para outras latitudes.

As memórias perduram, um grande abraço Vasco, lá onde estiveres. (***)

Carlos Arnaut
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 21 de janeiro de 2022 > Guiné 61/74 - P22928: Companhias e outras subunidades sem representantes na Tabanca Grande (1): CART 6252/72 (Bissássema, Tite, Gadamael, Bafatá, 1972/74)

(**) Vd. poste de 31 de outubro de 2016 > Guiné 63/74 - P16663: In Memoriam (268): Vasco Pires, ex-alf mil art, cmdt do 23º Pel Art (Gadamael, 1970/72), acaba de morrer, em Porto Seguro, Brasil (Pedro Araújo, seu afilhado)

Guiné 61/74 - P22933: Blogpoesia (763): "Quando o nome é maior que a pessoa"; "Os botões caem" e "De nariz arrebitado", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

1. Publicação de poesia da autoria do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66):


Quando o nome é maior que a pessoa

O talento que põe certas pessoas acima da normalidade apouca a pessoa que o tem.
Beethoven. Einstein e tantos mais se apagam perante a celebridade da sua obra.
Talvez seja o preço que a natureza cobra pela admiração que toda a gente lhes rende.
Pelo privilégio do pedestal.
Prefiro ser mais rasteiro.
Ficar na sombra.
Quanto mais alto se sobe, normalmente, maior a queda.
Abençoados os simples porque deles é o reino dos céus...


Berlim, 16 de Dezembro de 2021
11h
Jlmg


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Os botões caem

Mesmo bem pregados, à máquina ou à mão.
Não ficam para sempre.
Como a gente. Ninguém cá fica.
Nem para a semente.
Para nós há um campo santo.
Que tudo aproveita.
A terra é insaciável.
Não destrói.
Vêm os vermes. Chama-lhes um figo.
Só os ossos. Nada os quer.
Para quê tanta vaidade?...


Berlim, 17 de Dezembro de 2021
9h27m
Jlmg


********************

De nariz arrebitado

Andar de nariz arrebitado oculta um medo.
E é perigoso.
Olhar para o ar se cai num buraco ou pisa uma silva.
Faz sangrar.
Mais vale andar atento.
Ser normal. Comedido.
Tudo se vê a tempo.
Tudo é lucro.


Jlmg

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Nota do editor

Último poste da série de 12 DE DEZEMBRO DE 2021 > Guiné 61/74 - P22802: Blogpoesia (763): "Rosto alegre"; "Verdes anos" e "A vida não é um concurso", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

Guiné 61/74 - P22932: Agenda cultural (797): Museu do Aljube, Resistência e Liberdade, Lisboa: exposição temporária, de 13/1 a 20/3/2022: "A Guerra Guardada: Fotografias de Soldados Portugueses em Angola, Guiné e Moçambique (1961-74)



Duas exposições (temporárias) de temática colonial 
para ver em 2022, no Museu do Aljube Resistência e Liberdade, rua de Augusto Rosa, 42 • 1100-059 Lisboa | Telefone: +351 215 818 535 | Email: info@museudoaljube.pt

Transportes Públicos: Elétrico 12 | Elétrico 28 | Autocarro 737 | Metro – Estações da Baixa Chiado e Terreiro do Paço | Acessibilidade: Acessível a pessoas com mobilidade reduzida.

Horário: Aberto de Terça-feira a Domingo das 10h00 às 18h00. Última entrada às 17h30. Encerra segundas-feiras e nos feriados de 1 de janeiro, de 1 de maio e de 25 de dezembro.

A Guerra Guardada

13 DE JANEIRO A 20 DE MARÇO DE 2022

Fotografias de Soldados Portugueses 
em Angola, Guiné e Moçambique (1961-74)

Durante os anos da guerra, milhares de jovens recrutados para Angola, Guiné-Bissau e Moçambique tiraram fotografias daquilo que os rodeava: os camaradas, os quartéis, as paisagens, o quotidiano, as populações civis, o aparato militar. Estas imagens escaparam à censura do regime, e foram guardadas ou enviadas pelo correio como provas de vida à distância.

Alguns destes homens construíram laboratórios improvisados, outros acederam a laboratórios oficiais. Vários frequentaram lojas de fotografia que floresceram com a procura gerada pela guerra, muitos compraram e trocaram imagens. Assim construíram os arquivos fotográficos de que agora mostramos partes.

Cinquenta anos após o início do conflito, algumas coleções de antigos soldados foram destruídas, como se o passado se pudesse apagar nesse gesto. Outras, com o desaparecimento dos seus donos, ficaram órfãs. Muitas sobrevivem ainda, conservadas em álbuns ou em caixas, analógicas ou digitalizadas, e são mostradas em círculos restritos ou partilhadas nas redes sociais.

A Guerra Guardada explora coleções pessoais de homens que em tempos foram soldados. A maioria foi recolhida através de entrevistas presenciais no quadro de uma investigação etnográfica em curso no ICS-ULisboa. As restantes estão publicadas em diversos sítios e arquivos da internet. Dispersas um pouco por todo o país, retratam um tempo e um espaço distantes, e mostram uma guerra vivida mas também imaginada. Banais ou extraordinárias, revelam os muitos mundos de uma guerra longa e anacrónica que foi mandada combater pela ditadura. Que possam provocar diálogos em democracia.

Curadoras
Maria José Lobo Antunes e Inês Ponte
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“A Guerra Guardada” – Visita Orientada pelas curadoras
9 de fevereiro de  2022 - 16H00
Museu do Aljube Resistência e Liberdade

As curadoras Maria José Lobo Antunes e Inês Ponte orientam uma visita à exposição “A Guerra Guardada – Fotografias de Soldados Portugueses em Angola, Guiné e Moçambique (1961-74)” .

Duração aproximada: 1h | Entrada livre, sujeita a inscrição em: inscricoes@museudoaljube.pt

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“A Guerra Guardada” – Visita Orientada com Aniceto Afonso
16 de março de 2022 - 16H00
Museu do Aljube Resistência e Liberdade

Uma visita à exposição “A Guerra Guardada – Fotografias de Soldados Portugueses em Angola, Guiné e Moçambique (1961-74)” com Aniceto Afonso, historiador militar.

Duração aproximada: 1h | Entrada livre, sujeita a inscrição em: inscricoes@museudoaljube.pt

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Nota do editor:

Último poste da série > 21 de janeiro de  2022 > Guiné 61/74 - P22926: Agenda cultural (796): Próxima apresentação do último livro do José Saúde ("Aldeia Nova de São Bento"): Beja, Biblioteca Municipal de Beja José Saramago, 3ª feira, dia 25 de janeiro de 2022, pelas 21h00

sábado, 22 de janeiro de 2022

Guiné 61/74 - P22931: Companhias e outras subunidades sem representantes na Tabanca Grande (2): CART 2338, "Os Incansáveis" (Fá Mandinga, Nova Lamego, Canjadude, Cheche, Buruntuma, Pirada e Paiunca, 1968/1969)



CART 2338, "Os Incansáveis"  (Fá Mandinga, Nova Lamego, Canjadude, Cheche, Buruntuma, Pirada e Paiunca, 1968/1969)


 1. Contrariamente à sua "irmã-gémea", a CART 2339 (Fá Mandinga e Mansambo, 1968/69),  a que pertenceram saudosos camaradas e amigos nossos, como o Carlos Marques dos Santos e Torcato Mendonça, dois históricos do nosso blogue, a CART 2338 (Fá Mandinga, Nova Lamego, Canjadude, Cheche, Buruntuma, Pirada e Paunca, 1968/1969) não tem ninguém que aqui a represente condignamente.  

Tem escassas 14 referências no nosso blogue (, contrariamente à CART 2339, que tem 213) mas não tem nenhum representante registado. 

O único nome que temos é do ex-alf mil  José Luís Dumas Diniz, responsável pela segurança da coluna da retirada de Madina do Boé, a fatídica coluna que teve o trágico acidente, na travessia de jangada, no Rio Corubal, em Cheche, em 6 de fevereiro de 1969 (Op Mabecos Bravios).  

Falei um vez com ele ao telefone e convidei-o para integrar a Tabanca Grande.  Cheguei até ele através do seu ex-colega de trabalho, amigo e contemporâneo, o ex-alf mil trms, Fernando Calado, da CCS/BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70), membro da nossa Tabanca Grande, e também meu contemporâneo da Guiné (estivemos juntos, em Bambadinca, entre julho de 1969 e maio de 1970). 

Foi o Fernando Calado que me falou dele e me pôs em contacto com ele, José Luís Dumas Diniz. É uma peça-chave para a história do desastre de Cheche. Já correram rios de tinta sobre este trágico acidente,  mas mas ainda nos falta, em primeira mão, o depoimento deste ator-chave, o nosso camarada da CART 2338 que era responsável pela segurança da jangada... Ele vive entre Cascais e Coruche, se bem percebi... Mostrou-se disponível para dar a sua versão, a publicar no blogue.

O Diniz foi julgado, creio, em tribunal militar, e foi absolvido... O próprio Spínola terá sido uma das testemunhas de defesa... Era preciso um "bode expiatório", o elo mais fraco da cadeia hierárquica...

Prometemos que um dia destes, eu, ele e o Fernando Calado, iríamos  até à Casa do Alentejo para pôr a conversa em dia... Dificuldades de agenda, de parte a parte, não nos permitiram  realizar esse encontro, dificuldades eesas que se agravaram com a história da pandemia de Covid-19. Mas o assunto não está esquecido, mesmo que já se tenham passado mais de meio século sobre os aconteciment0s (, 53 anos, em 6 de fevereiro de 2022).


Companhia de Artilharia n.º 2338

Identificação: CArt 2338

Unidade: Mob: RAL 3 - Évora

Cmdt: Cap Mil Art João Carlos Palma Marques Alvesn | Cap Art Manuel João de Azevedo Paulo

Divisa: "Os Incansáveis"

Partida: Embarque em 14Jan68; desembarque em 21Jan68 | Regresso: Embarque em 04Dez69

Síntese da Actividade Operacional

Em 24Jan68, seguiu para o aquartelamento de Fá Mandinga, a fim de efectuar instrução de adaptação operacional, na região de Xitole, de 06 a 13Fev68 e seguidamente tomar parte na actividade do BArt 1904, tendo actuado em diversas acções e operações nas regiões de Galo Corubal, Enxalé, Mato Cão, Ganguiró e Dongal Siai, entre outras.

Em 13Abr68, foi colocada em Nova Lamego, a fim de substituir a CArt 1742 na função de intervenção e reserva do sector do BCaç 2835 e cumulativamente do Agr 2957.

De 12Jul68 a 26Mar69, estabeleceu a sua base operacional em Canjadude, com um pelotão destacado em Ché-Ché (desde 04Ju168 até à sua evacuação em 10Fev69, na operação "Mabecos Bravios"), tendo actuado em diversas acções e operações, patrulhamentos e escoltas realizadas nas regiões de Canjadude, Ché-Ché, Galo Corubal e Satecuta, entre outras.

Em 20Abr69, por saída da CCaç 1790, assumiu, cumulativamente, a responsabilidade do subsector de Nova Lamego.

Em 22Mai69, foi substituída pela CCaç 2317, tendo seguido por escalões, em 11 e 22Mai69, para Buruntuma, a fim de efectuar a sobreposição e rendição da CArt 1742; em 29Mai69, assumiu a responsabilidade do respectivo subsector de Buruntuma, com um pelotão destacado em Camajabá-Ponte do Rio Caium, ficando integrada no dispositivo e manobra do BArt 2857.

De 19 a 310ut69, por troca, por escalões com a CCaç 2401, foi transferida para o subsector de Pirada, com um pelotão destacado cm Paúnca, voltando à dependência do BCaç 2835 e integrando-se no seu dispositivo e manobra.

Em 01Dez69, foi rendida no subsector de Pirada pela CCaç 2617 e recolheu seguidamente a Bissau, a fim de efectuar o embarque de regresso.

Observações > Tem História da Unidade (Caixa n.º 82 - 2ª Div/4ª Sec, do AHM).

Fonte: Excertos de: CECA - Comissão para Estudo das Campanhas de África: Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974) : 7.º Volume - Fichas das Unidades: Tomo II - Guiné - 1.ª edição, Lisboa, Estado Maior do Exército, 2002, pág. 458.
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Guiné 61/74 - P22930: Os nossos seres, saberes e lazeres (488): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (34): Faiança polícroma, corda seca, ponta de diamante, o azulejo decorativo visto à lupa (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 7 de Dezembro de 2021:

Queridos amigos,
Prossegue a visita ao Museu Nacional do Azulejo, desta feita com alguns casos de pormenor, caso do fabuloso silhar de azulejos com a história do chapeleiro António Joaquim Carneiro, um pequeno mostruário da evolução do século XVIII para o século XIX, onde se fala do arco de azulejos, da Fábrica do Rato, da Fábrica Roseira sem esquecer aquela faiança polícroma como macacadas e cenas de caça, e até três azulejos que nos falam que o conhecimento científico conhecia aplicação didática, muito bela, por sinal.

Um abraço do
Mário



Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (34):
Faiança polícroma, corda seca, ponta de diamante, o azulejo decorativo visto à lupa


Mário Beja Santos

O acervo do Museu Nacional do Azulejo é de tal modo rico e variado que se justifica de termo-nos em certos aspetos de belas e impressivas manufaturas. Recorde-se de que logo à entrada já se viu uma evolução história da azulejaria até à segunda metade do século XVI, onde começa a identidade do azulejo português, viu-se como a pintura cerâmica barroca deu novo alento, apareceram pintores de grande qualidade a trabalhar silhares de azulejos, emolduraram-se retratos, surgiram fábricas, como a Real Fábrica de Louça ao Rato e todo o século XIX se distinguirá por um conjunto de fábricas de grande qualidade. Será o caso da Fábrica Roseira, ativa em Lisboa entre 1832 e 1930, fica na história do azulejo português pelos seus padrões versáteis, os seus motivos seriados, produzidos de modo industrial, quem tinha dinheiro gostava de ver as sua casas apalaçadas com estatuas, telhas, beirais e goteiras decoradas, as fachadas com azulejos dentro de uma nova estética urbana. Veja-se a primeira imagem, poderá ajudar o visitante em interessar-se pelos arcos de azulejos, uma das marcas d’água da engenhosidade de Rafael Bordalo Pinheiro na sua fábrica de Caldas da Rainha.
Outro aspeto que pode merecer a atenção do visitante, e já falamos das figuras de convite, são aqueles painéis humorísticos, caso de O Casamento da Galinha, um dos painéis mais ricos e extraordinários da azulejaria à escala mundial, falamos de cenas de caça, como abaixo se mostra e de altíssima qualidade.
Atenda-se que os temas religiosos eram essenciais em igrejas, capelas e outros lugares de culto, podiam mesmo aparecer em corredores como cobertura parietal. Veja-se a qualidade da policromia deste painel centrado em S. João Batista. O mesmo se poderá dizer do painel seguinte que revela uma cena muito lógica, com a curiosidade de parecer que está debruado como um tapete.
A devoção a S. António é permanente na espiritualidade portuguesa desde a Idade Média, daí não ser incomum um santo marcar presença nos templos, como aqui se evidencia.
A imagem que se segue faz parte da história do chapeleiro António Joaquim Carneiro, e vale a pena reproduzir o que Maria Antónia Pinto de Matos escreve no guia do museu: “Ao longo dos séculos XVII e XVIII o azulejo em Portugal serviu de suporte a narrativas religiosas, mitológicas, cenas de um quotidiano mais ou menos real. No final do século XVIII, começam, timidamente, a surgir exemplos da utilização do azulejo como instrumento de ostentação da burguesia ascendente, sendo neles retratados sinais de riqueza de uma classe emergente. Destes, talvez o mais espetacular seja o conjunto de sete painéis encomendados por António Joaquim Carneiro, um homem cujo nascimento humilde obrigou a vir para a cidade aprender o ofício de chapeleiro e cujo sucesso lhe permitiu o casamento com uma viúva rica. A sua prosperidade permitiu-lhe construir uma fábrica com a sua residência anexa, espaço para o qual mandou fazer, para perpetuar a sua história, este conjunto de painéis. Cada um deles surge legendado, permitindo ao observador acompanhar o percurso do chapeleiro do enquadramento de motivos neoclássicos, diretamente inspirados nos frescos das antigas casas romanas. No conjunto que hoje nos parece próximo da banda desenhada, a narrativa da vida do chapeleiro surge sobre as cenas, como me descrita em fitas desenroladas, que se designam cartelas”.
A azulejaria não esqueceu as novidades científicas, aqui se deixam três azulejos que chamam a atenção do visitante para a importância deste conhecimento.
É deste piso superior que se dá um pormenor do Claustro concebido por Diogo de Torralva, e dá para procurar analogias com o chamado Claustro D. João III, no Convento de Cristo em Tomar.
A todo o momento, os diferentes percursos, e até mesmo até ao século XX, que o itinerário museológico e museográfico é para entendermos e descodificarmos a evolução do azulejo e termos em consideração o seu incontornável desempenho estético, seja no silhar de azulejos, na faiança polícroma, como aproveitamos modelos espanhóis, como a chamada Ponta de Diamante, os revestimentos ditos de tapete, frequentes nos frontais de altar, as cenas de caça, a mitologia, os motivos florais ou a evocação do monarca, neste caso de D. Fernando II, marido de D. Maria II.
E por aqui nos ficamos, em breve a visita finda no extraordinário conjunto que dá pelo nome Grande Vista de Lisboa, uma das joias mais preciosas do Museu Nacional do Azulejo e que é um documento único para a história de Lisboa, pois mostra-nos a cidade vista a partir do rio Tejo antes do terramoto de 1755.

(continua)

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Nota do editor

Último poste da série de 15 DE JANEIRO DE 2022 > Guiné 61/74 - P22909: Os nossos seres, saberes e lazeres (487): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (26): A Arte Religiosa também conta neste portentoso Museu Nacional do Azulejo (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P22929: Parabéns a você (2029): Virgínio Briote, ex-Alf Mil Cav da CCAV 489 e Alf Mil Comando, CMDT do Grupo "Os Diabólicos" (Cuntima e Brá, 1965/67)

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Nota do editor

Último poste da série de 21 de Janeiro de 2022 > Guiné 61/74 - P22925: Parabéns a você (2028): Dr. João Graça, médico, Amigo Grã-Tabanqueiro de Lisboa, que já fez voluntariado na Guiné-Bissau

sexta-feira, 21 de janeiro de 2022

Guiné 61/74 - P22928: Companhias e outras subunidades sem representantes na Tabanca Grande (1): CART 6252/72 (Bissássema, Tite, Gadamael, Bafatá, 1972/74)


Guiné-Bissau > Região de Tombali > Gadamael Porto > 2011 > Vestígos da CART 6252/72, "Os Indiferentes", 72-74... Foto do álbum de Carlos Afeitos, professor, cooperante (2008/12).

Foto: © Carlos Afeitos (2013). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Brasil > Bahía > Porto Seguro > Novembro de 2013 > O Vasco Pires (1948-2016), ex-alf mil. cmdt, 23º Pel Art (Gadamael, 1970/72),  com o seu amigo e camarada, Arménio Cardoso, da CART 6252/72, Os Indiferentes (Gadamael, 1972-74)

(...) "Na semana passada recebi a honrosa visita do meu amigo e nosso camarada Arménio Cardoso - CART 6252/72, que também bebeu das 'águas escuras e amargas' do Rio Sapo. Lembrando quantos dos nossos por lá ficaram e outros tantos voltaram mutilados no corpo e/ou na a<lma, tivemos pois que concluir que somos todos privilegiados sobreviventes.

Há tempos ouvi o depoimento de um membro da E Company, 506 Infantry Regiment (United States), do tão mediatizado Band of Brothers, dizia ele que muitas décadas depois, nas frias noites do rigoroso inverno aqmericano, quando ia para a cama, falava para a esposa:
- Ainda bem que não estou em Bastogne!

Eu também, sem fazer comparações, claro, no fim desses dias em que a vida parece "Madrasta", penso:
- Ainda bem que não estou em Gadamael." (...) (*)

Foto (e legenda): © Vasco Pires (2013). Todos os direitos reservados [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Há ainda muitas companhias e subunidades, mobilizadas para o TO da Guiné, entre 1961 e 1974, que não têm qualquer representante na nossa Tabanca Grande, nem nenhuma ou apenas algumas, escassas, referências no blogue. 

É o caso da CART 6252/72, com apenas meia dúzia de referências no blogue nem nenhum representante, registado. Não sei se o Arménio Cardoso, que vive no Brasil, e era amigo do Vasco Pires (1948-2016), nos acompanha ou nos lê,
 esporadicamente. Se sim, gostava que ele se juntasse a nós.  

Há uma página do Facebook com o nome CART 6252/72 "Os Indiferentes",  criada pelo Luís Francisco Gouveia, ex-fur mil trms: telem  964 153 392 | email:  luisfsgouveia@gmail.com

O nosso mail é: luisgracaecamaradasdaguine@gmail.com


Ficha de unidade > Companhia de Artilharia n.º 6252/72

Identificação: CArt 6252/72

Unidade : Mob: RAP 2 - Vila Nova de Gaia

Crndt: Cap Mil Inf Jorge Manuel Gonçalves Pereira de Melo | Cap Mil Inf Jorge Joaquim Lage

Divisa: "Os Indiferentes" 

Partida: Embarque em 230ut72; desembarque em 230ut72

Regresso: Embarque em 25Ag074


Síntese da Actividade Operacional

Após realização da IAO, de 230ut72 a 17Nov72, no CMl, em Cumeré, seguiu em 18Nov72 para Bissássema, a fim de efectuar o treino operacional e a sobreposição com a CCaç 3327.

Em 08Dez72, assumiu a responsabilidade do subsector de Tite, então com a sede da subunidade em Bissássema, deixando um pelotão em Tite e sendo integrada no dispositivo e manobra do BArt 6520/72. 

Em meados de Abr73, a sede da subunidade foi transferida para Tite, tendo então ficado dois pelotões em Bissássema.

Em 30Jun73, foi rendida, por troca, pela CCaç 4743/72, marchando em 04Jul73 e 19Ju173, por escalões, para Gadamael, onde assumiu a responsabilidade do subsector, a partir de 06Ju173, ficando integrada no dispositivo e manobra do COP 5, e onde sofreu fortes flagelações e ataques ao aquartelamento, até 12Ag073.

Em 08Fev74, foi rendida pela CCav 8452/72, do antecedente ali colocada em reforço, tendo recolhido temporariamente a Bissau.

Em 15Fev74, seguiu para Bafatá, ficando integrada no dispositivo e manobra do BCaç 3884 e depois do BCaç 4514/72, com vista à realização de patrulhamentos, emboscadas e batidas na zona de acção.

Em 17Ag074, foi substituída no serviço de guarnição de Bafatá pela CCS/BCaç 4514/72 e recolheu a Bissau para embarque de regresso.

Observações - Tem História da Unidade (Caixa n.? 120 - 2." Div/Sec, do AHM).

Fonte: Excertos de: CECA - Comissão para Estudo das Campanhas de África: Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974) : 7.º Volume - Fichas das Unidades: Tomo II - Guiné - 1.ª edição, Lisboa, Estado Maior do Exército, 2002, pág.  485.

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Nota do editor:

Guiné 61/74 - P22927: Notas de leitura (1412): “África Dentro”, por Maria João Avillez; Texto Editores, 2010 (2) (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 19 de Dezembro de 2018:

Queridos amigos,
Não nos esqueçamos que esta viagem da Maria João Avillez ocorreu num tempo de grande esperança, era Primeiro-Ministro Carlos Gomes Júnior, deposto por uma conjura militar em 2012. A cooperação com a Gulbenkian tinha resultados manifestos, nas áreas da educação e da saúde. Nesta digressão da jornalista percorre-se uma região do Norte, perto de São Domingos, onde o projeto VIDA marca pontos no desenvolvimento comunitário, a Missão da Cumura recebe vasto apoio, o que outrora era um hospital para tratar leprosos atende hoje um cortejo inumerável de infetados pelo VIH/SIDA; havia igualmente apoio aos centros de saúde, a economia parecia crescer em paz e reconciliação. E depois, o país retrocedeu.

Um abraço do
Mário



África Dentro, por Maria João Avillez (2)

Beja Santos

“África Dentro”, por Maria João Avillez, Texto Editores, 2010, é uma avaliação em jeito de reportagem da intervenção da Fundação Calouste Gulbenkian nas cinco ex-colónias portuguesas de África. A Gulbenkian pretendia uma reportagem captada pelo olhar de uma jornalista. Foi isso que aconteceu. Vamos falar da Guiné-Bissau, onde a Gulbenkian privilegia dois polos de cooperação, na educação e na saúde.

Visitados os projetos de educação, a jornalista dirige-se agora para a área da saúde, atravessa o rio Mansoa, depois o Cacheu, vai ao encontro da VIDA, uma ONG que se instalou no Norte da Guiné, na região de São Domingos. Na génese, integravam um movimento católico “Comunhão e Libertação”, visam o desenvolvimento comunitário, contribuíram para a criação de uma unidade de saúde base, cooperam com sete centros de saúde da região, capacitam agentes de saúde de base e as matronas (parteiras tradicionais). A participação das populações é determinante para que estas estruturas comunitárias sejam vigorosas e perdurem. E temos exemplos concretos: “As Casas das Mães, criadas para dar apoio às grávidas e garantia de condições de parto seguro e limpo, construídas e geridas pelas próprias mulheres; ou os modelos de autogestão da saúde, com preços de medicamentos e consultas decididos em plenário da comunidade; ou ainda os sistemas de seguros comunitários de saúde e a autossuficiência a nível de gestão dos programas de tendas mosquiteiras. Também o Centro de Saúde Materno-Infantil de São Domingos, o único no país com gestão comunitária, que nasceu como evolução da experiência positiva das Casas das Mães”. Também o projeto VIDA aparece ligado a outro projeto: “Jirijipe – Saúde até à Tabanca”, com objetivos precisos: melhoria de acesso a cuidados de saúde materno-infantil; intervenções com impacto na situação da saúde, e aqui há preocupações com as infeções sexualmente transmissíveis e o VIH/SIDA; desenvolvimento do sistema comunitário de saúde. É uma experiência modelar, e alguém comenta: “Esta região sanitária, ao nível da saúde comunitária, é do melhor que existe na Guiné, graças à VIDA! Há medicamentos, há vacinação, há formação, há melhor atendimento e até passou a haver a impregnação da rede mosquiteira!”

Instituição de grande prestígio é a Missão Católica Franciscana de Cumura, foi criada em 1955 por três franciscanos italianos, um deles Frei Settimio Ferrazzetta será nomeado o primeiro Bispo de Bissau. A jornalista conversa com Frei Victor Manuel Henriques, membro efetivo da Província Portuguesa da Ordem Franciscana, formado em Medicina, dirigia o hospital da Missão: “Estou aqui a trabalhar como médico, dando atendimento aos doentes pobres que chegam diariamente. Muitos padecem de lepra, tuberculose e HIV/SIDA e neste momento temos muitos deles justamente com HIV/SIDA, afetados pela tuberculose. Este hospital nasceu inicialmente para atender os doentes de lepra, mas hoje a verdadeira lepra é a infeção HIV/SIDA”. A jornalista recorda as profundas carências do país: mais de metade da população não tem acesso a água potável nem a medicamentos, e apenas 40% recebe algo de parecido com cuidados de saúde. Frei Victor Manuel Henriques faz pedidos à Gulbenkian e é compensado: um eletrocardiógrafo; um monitor de sinais vitais e outro tipo DINAMAP; um desfibrilhador. A Gulbenkian subsidiou um equipamento de radiologia, na altura havia também a promessa de um aparelho de gasometria, para tratamento e diagnóstico dos doentes de tuberculose.

E indaga-se o que é a política de saúde na Guiné-Bissau. Ao tempo, a prioridade era dar cumprimento ao Plano Nacional de Desenvolvimento Sanitário 2008-2017. O financiamento é escassíssimo, havia menos de seis dólares per capita por ano. O Secretário de Estado da Saúde reconhecia a ajuda da Gulbenkian, pelo que tinham feito na criação do Centro de Medicina Tropical e teceu os seguintes comentários: “A Gulbenkian intervinha não só na formação como também na parte dos recursos humanos, associada à criação de condições de trabalho nos hospitais. Foram épocas brilhantes de cooperação porque foram absolutamente decisivas para o país. Basta pensar na luta contra a oncocercose – vulgarmente conhecida como a cegueira dos rios – um programa que conheceu enorme sucesso. Hoje, já ninguém tem oncocercose no país. Foi também através da Gulbenkian que aqui se criou o melhor centro de oftalmologia da Guiné-Bissau e de toda a África Ocidental. A Gulbenkian cofinanciou três centros de saúde em Bissau”. E começa uma visita guiada aos centros de saúde, têm diversos modelos, são de três tipos: o básico, dispõe de todos os serviços de prestação de cuidados primários (consulta pré-natal, pediatria, tratamentos, sala de partos e também quatro camas para observação, é uma estrutura que cobre uma população que oscila entre os 7 e os 12 mil habitantes do setor autónomo de Bissau; o segundo tipo destina-se a uma população maior, está mais bem apetrechado, possuindo médico, laboratório, uma unidade de internamento com 20 ou 30 camas e serviço de obstetrícia; o outro modelo destina-se a zonas mais isoladas ou de difícil acesso, estão igualmente munidos de 20 ou 30 camas para internamento, possuem bloco operatório para cirurgia geral e obstetrícia de emergência e ainda um banco de sangue. As dificuldades são muitas, alguém comenta: “Temos de lutar para manter a corrente elétrica para a conservação de vacinas porque temos três geleiras onde elas estão acondicionadas. À noite, também é sempre mais complicado, a maior parte dos partos é de noite que ocorrem, tem de se transferir as parturientes para outra parte do edifício devido à falta de energia”.

A jornalista encontra o Primeiro-Ministro Carlos Gomes Júnior cheio de otimismo: “Na minha anterior governação, consegui trazer para a Guiné 30 médicos com o apoio de Fidel Castro. Chegaram aqui na altura em que o país conhecia um terrível surto de cólera. Com a ajuda deles, conseguiu-se uma cobertura sanitária eficaz e o surto foi debelado. Temos hoje uma formação de cerca de 140 médicos guineenses, pois reabriu a Faculdade de Medicina, onde clínicos cubanos se encarregam da saúde. Vão tentar criar aqui um hospital de referência. Temos grandes chagas, hospitais públicos sem quase nada lá dentro”. O então Primeiro-Ministro reconheceu existir um excelente relacionamento com a Gulbenkian e no papel determinante que esta tem no apoio às áreas da educação e da saúde.

Construção de uma cozinha e refeitório para as crianças da Missão da Cumura.
Centro materno-infantil em São Domingos.
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Notas do editor:

Vd. poste anterior de 17 DE JANEIRO DE 2022 > Guiné 61/74 - P22915: Notas de leitura (1410): “África Dentro”, por Maria João Avillez; Texto Editores, 2010 (1) (Mário Beja Santos)

Último poste da série de 20 DE JANEIRO DE 2022 > Guiné 61/74 - P22922: Notas de leitura (1411): "O Povo de Santa Maria, seu falar e suas vivências", 2ª edição revista e acrescentada (2021), por Arsénio Chaves Puim, um caso de grande sensibilidade sociocultural e de amor às suas raízes (Luís Graça ) - Parte II

Guiné 61/74 - P22926: Agenda cultural (796): Próxima apresentação do último livro do José Saúde ("Aldeia Nova de São Bento"): Beja, Biblioteca Municipal de Beja José Saramago, 3ª feira, dia 25 de janeiro de 2022, pelas 21h00


Próxima apresentação do último livro do José Saúde: Beja, Biblioteca Municipal de Beja José Saramago, 3ª feira.dia 25 de janeiro de 2022


I. Mensagem de José Saúde, jornalista e escritor, ex-fur mil op esp, CCS/BART 6523 (Nova Lamego, 1973/74), membro da nossa Tabanca Grande, com mais de 210 referências no nosso blogue:


Data - 16/01/2022, 10:44

Assunto - Apresentação do livro na Casa do Alentejo em Lisboa, no passado dia 15... No dia 25,às 22h00, será na Biblioteca Municipal de Beja


1. Guiné: tudo vale a pena quando a alma não é pequena! Esforço e dedicação na peleja de um antigo combatente no mundo da escrita

Camaradas,

Somos pequenas gotas de orvalho que definham escrupulosamente em cada momento que a vida, por enquanto, ainda nos reserva. Somos, também, descendentes de criaturas humanas que, em cada ciclo das suas vidas, foram dando à luz novos seres.

As cidades, vilas, aldeias e lugares desenvolveram-se e o universo rural, sendo o caso que cito neste meu último livro, procurou novos rumos. Dá-se então o êxodo da retirada de gentes da terra que os viu nascer. Não para “paraísos fiscais”, mas na procura de novas oportunidades de trabalho. De homens que partiam a salto para países estrangeiros. Indivíduos que não sabiam ler nem escrever e que fizeram parte da sua juventude desprovidos de um par de sapatos, ou seja, andavam descalços.

Os tempos de outrora não foram fáceis. O contrabando era um meio de sustento para uma casa cheia do nada. Vazias. As lutas dos trabalhadores rurais para um melhor salário, nem que fossem uns magros tostões, foram muitas.

Depois, sim depois, surge o interesse das antigas profissões. Das ceifeiras e mondadeiras; dos almocreves; dos abegões; dos sapateiros e ferreiros; dos pastores e vaqueiros; dos ferradores e dos lobos que desciam ao povoado para se alimentarem dos cascos das bestas; das festas, ou romarias; da feira que trazia o negócio do gado; de homens que muito dizem ao seu torrão sagrado; enfim, uma panóplia de temas que abordo neste meu décimo livro, que dá pelo nome da “Aldeia Nova de São Bento – Memórias, Estórias e Memórias”, que fala, também, a origem do povoado e quem afinal somos e de onde viemos.



Lisboa > Casa do Alentejo > 15 de janeiro de 2022> O José Saúde autografando um exemplo do seu décimo livro, “Aldeia Nova de São Bento – Memórias, Estórias e Memórias” (Lisboa, Edições Colibr, 2021). Vd aqui um pequeno vídeo da sessão de autógrafos,, na página do Facebook do autor.

Foto (e legenda): © José Saúde (2022). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


2. No pretérito sábado, 15 de janeiro de 2022, estive na Casa do Alentejo em Lisboa, Portas de Santo Antão, e gratifiquei-me com a imensidão de gentes que entre as 15 e as 16 horas fizeram questão de ali se deslocarem para adquirir a nova obra.
 

É óbvio que o tempo que atravessamos obedece a cuidados sanitários. Por isso entravam, davam-me dois “dedos de conversa” e lá partiam com o “brinquedo” debaixo do braço.

Fica a minha gratidão pela sua presença em Lisboa, adiantando que no próximo dia 25 de janeiro, terça-feira, pelas 21 horas, na Biblioteca Municipal José Saramago, em Beja, farei mais uma apresentação deste meu livro.

Abraço, camaradas
Zé Saúde
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Nota do editor:

Guiné 61/74 - P22925: Parabéns a você (2028): Dr. João Graça, médico, Amigo Grã-Tabanqueiro de Lisboa, que já fez voluntariado na Guiné-Bissau

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Nota do editor

Último poste da série de 17 de Janeiro de 2022 > Guiné 61/74 - P22913: Parabéns a você (2027): António José Marreiros, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 3544 e CCAÇ 3 (Buruntuma, Bigene e Guidage, 1972/74)

quinta-feira, 20 de janeiro de 2022

Guiné 61/74 - P22924: (Ex)citações (400): Não, não foi o Cherno Baldé... Divulgação do nome do "matador" do Mário Mendes no dia 25 de maio de 2022, quando passarem os 50 anos do duelo fatal, na Ponta Varela... (António Duarte / Luís Graça)


1. Mensagem,  por email,  de Antonio Duarte,  transformada em comentário ao poste P22920 (*)

[António Duarte, foto à esquerda: [ex-fur mil da CART 3493, a companhia do BART 3873, que esteve em Mansambo, Fá Mandinga, Cobumba e Bissau, 1972-1974; foi transferido para a CCAC 12 (em novembro de 1972, e onde esteve em rendição individual até março de 1974; economista, bancário reformado, formador, com larga experiência em Angola; tem mais de meia centena de referências no nosso blogue] 

 
Data - quarta, 19/01/2022, 20:04
Assunto - Cherno Baldé, o "matador" do Mário Mendes ?

Boa noite,  camaradas.

Propositadamente não falei em nomes, porque o blogue é público, lido na Guiné e poderia haver constrangimentos, embora eu acredite que provavelmente os envolvidos já faleceram.

O apontador da HK21 era o Braima S..., louvado pelo CAOP 2.

Foram também louvados pelo CAOP 2, para além do referido Braima, o Ansumane B... e o Indrissa B..., todos da equipa da HK21.

O furriel era o José Domingues, também ele louvado.

Estou com estes detalhes, porque consultei o livro do BART 3873, onde na página 4 cap III, figuram os louvores de julho de 72. (O Luís possui a publicação digitalizada que há longo tempo disponibilizei e que com a paciência que ele tem, publicou no nosso blogue).

O fur Domingues foi um dos que rendeu os graduados fundadores da CCaç 12. Tive há muitos anos a informação, sem confirmação, de que teria falecido bastante novo.

E é tudo.

Deixo ao critério do Luís se o detalhe dos nomes ligados a este acontecimento deverão ser publicados no blogue.

Um abraço a todos
António Duarte


2. Comentário do editor LG:

Obrigado, António, pelos teus esclarecimentos adicionais e pelas tuas preocupações com o direito à privacidade (e ao sigilo) dos nossos camaradas guineenses...

Eu devia ter descartado logo a hipótese do Cherno Baldé, soldado atirador nº mec. 82115269, da minha 1ª secção do meu 4º Gr Comb... (O pelotão que integrei mais vezes durante a minha comissão, tendo embora passado por todos...).

O Cherno foi vítima da mesma mina A/C que eu, tendo sido ferido em 13/01/71, junto ao Destacamento de Nhabijões. Deve ter sido mais tarde substituído pelo Braima S..., de resto mais velho (em termos de antiguidade na tropa), e que foi para a CCAÇ 12 em rendição individual...

Costumamos distinguir 3 "gerações" na composição orgânica da CCAÇ 12: eu e o Cherno Baldé somos da 1ª geração (1969/71), o Victor Alves é da segunda, tal como o Braima S... Tu, António, és da terceira... Infelizmente, só uma história da unidade, e fui eu que a fiz (,vai até fevereiro de 1971; a CCAÇ 12 foi extinta em agosto de 1974).

Obrigado, António, pelas informações adicionais que me deste ao telefone... Talvez publique o teu comentário, com todos os detalhes por ocasião dos 50 anos destes tristes factos...

"Guerra era guerra", diziam-nos os antigos combatentes do PAIGC quando nos encontrámos em Imberém, Gandembel Guileje e Bissau, por ocasião do Simpósio Internacional de Guileje (1-7 de março de 2008).

È verdade, "guerra é guerra", morremos e matámos, matámo-nos uns aos outros, naquela guerra. O Mário Mendes "matou" o nosso sold cond auto Manuel da Costa Soares, que deixou um filho por conhecer,o Rogério Soares... O Mário Mendes foi morto, um ano e quatro meses depois pelo Braima S..., e também era casado e tinha filhos...

Os filhos têm o direito de saber como é que os pais morreram na guerra. Não para se vingarem, o que hoje já não faz sentido, mas completarem o "luto", fazerem o seu "choro"...

A paz e a reconciliação entre os povos também passa pelo doloroso processo de falarmos dos nossos mortos,e dos mortos dos nossos inimigos de ontem (, de há 50/60 anos).

Não há razões para não divulgarmos o nome do "matador" do Mário Mendes, quando se completarem os 50 anos sobre o acontecimento, ou seja, em 25 de maio de 2022. O poste já está em modo de edição... O Braima S... infelizmente já não deve estar vivo, se é que não foi  fuzilado pelo PAIGC a seguir à independência, como outros soldados e sobretudo graduados da CCAÇ 12 que transitaram para a CCAÇ 21
 (, comandada pelo tenente 'comando' graduado Abdulai Jamanca)... Se o Braima fosse vivo, teria hoje 80 anos, diz-me o António Duarte.

Faço um minuto de silêncio à memória de todos estes homens que já nos deixaram, uns de morte natural, outros de morte violenta, e que um dia se cruzaram nas nossas vidas... Ontem custou-me à adormecer com todos estes "filmes" na minha cabeça... LG

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Nota do editor: