quarta-feira, 24 de agosto de 2022

Guiné 61/74 - P23552: Meu pai, meu velho, meu camarada (68): Lembrando, no centenário do seu nascimento, a popular figura do lourinhanense Luís Henriques, o “Ti Luís Sapateiro” (1920-2012) - Parte VII

 

Cabo Verde > Ilha de São  Vicente > Mindelo > 9/11/2012 > 11h11 >  Baía do Porto Grande e Monte Cara, ao fundo.

Cabo  Verde > Ilha de São  Vicente > Mindelo > 9/11/2012 > 14h45 > Praia da Lajinha, porto e Ilhéu dos Pássaros, e a silhueta da Ilha de Santo Antão ao fundo.


Cabo  Verde > Ilha de São  Vicente > Mindelo > 9/11/2012 > 12h59 > O calçadão da Praia da Lajinha.

Cabo  Verde > Ilha de São  Vicente > Mindelo > 9/11/2012 > 12h11 >  Edifício da Câmara Municipal (trasnformado em hospital militar em 1941, com a chegada de tropas expedicionárias)

Cabo  Verde > Ilha de São  Vicente > Mindelo > 9/11/2012 > 16h45 > Rua típica, de traça colonial, com vendedeiras ambulantes.


Cabo Verde > Ilha de São Vicente > Mindelo > 9 de novembro de 2012 >  Algumas das fotos do álbum de João Graça, que passou por aqui, e passeou pela "capital da morabeza", em trânsito para a Ilha de Santo Antão, com a sua banda, os Melech Mechaya, por ocasião do Festival Sete Sóis Sete Luas

Mindelo, cidade cosmopolita com uma arquitetura  de toque colonial que reflete a influência portuguesa e inglesa, é a capital cultural de Cabo Verde, a terra da Cesária Évora, B.leza, Bana, Luís Morais, Tito Paris,  Bau, e de outros grandes músicos e cantores, terra da morna, da coladera, do funaná, do festival da Baía das Gatas... Terra que faz parte do imaginário da minha infância e à qual nunca cheguei a ir... Foi lá o João por mim, e pelo avô... em 2012. Espero ainda lá poder  ir um dia, mesmo sem o meu pai que amou tanto aquela terra... (LG)


Fotos (e legendas): © João Graça (2012). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

Ao João, 
que foi visitar o avô Luís Henriques (1920-2012)
ao Mindelo,
em 9 de novembro de 2012,
seis meses depois da sua morte.


Ouço os passos do meu avô,
arrastando as botas cardadas
ao longo do calçadão da Praia da Lajinha.
E, mais atrás, vislumbro
a sombra frágil do seu impedido, o Joãozinho,
que há-de morrer, meses mais tarde,
por volta de junho de 1943.
De fome. Da grande fome.

Ouço a voz do dr. Baptista de Sousa,
diretor do hospital:
- Então, ó nosso cabo,
há quantos meses é que estás na ilha ?
- 26 meses, meu capitão.
- Eh!, pá, estás farto de engolir pó,
vou te já mandar p'ra casa!

Ouço o meu avô falar, em verso,
em certas noites de luar,
com o Monte Cara,
a Baía do Porto Grande,
e o Ilhéu dos Pássaros.

Ouço o meu avô perguntar
ao Fortunato Borda d'Água
enquanto lhe escreve mais uma das suas cartas
às suas namoradas:
- Ó Fortunato, afinal, de quem é que tu gostas mais ?
Da que ri ou da que chora ?

Vejo uma multidão de gente,
portugueses, africanos, ingleses,
erguer-se do Monte Verde,
abraçar a ilha
e cantar uma morna
à doce e mágica cidade do Mindelo.

Luís Graça

Cabo Verde > Ilha de São Vicente > Mindelo > 1942 > "A antiga cãmara [municipal] de Mindelo que hoje é hospital de soldados. Julho de 1942. Luís Henriques". [É hoje de novo, o edifício da Câmara Municipal do Mindelo]

 

Cabo Verde > Ilha de São Vicente > Mindelo > Hospital de São Vicente, fundado em 1899, no reinado do Rei Dom Carlos I (1889-1908). Foto do álbum do expedicionário, 1º Cabo Luís Henriques, nº 188/41. Foto; arquivo da família

Fotos (e legendas): © Luís Graça (2020). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Título de caixa alta do “Diário de Lisboa”, 3 de setembro de 1945.



7. Continuação da "história de vida" de Luís Henriques (Lourinhã, 18/8/1920 – Atalaia, Lourinhã, 8/4/2012), conhecido popularmente na sua terra natal como "ti Luís Sapateiro": 
“Morreu o Luís Sapateiro (1920-2012), uma figura muita popular e querida da nossa terra”, lia-se no jornal “Alvorada”, Lourinhã, nº 1103, 20 de abril de 2012, p. 26. 

Assinalando a efeméride do seu centenário, em 202o, o seu filho editou, em pdf,  uma brochura, de cerca de 100 páginas de que temos estado a publicar alguns excertos, ilustrando com maior detalhe  a sua passagem por Cabo Verde,  durante a II Guerra Mundiaçl: foi 1º cabo atirador de infantaria, 3ª Companhia do 1º Batalhão do RI5 (Caldas da Rainha), unidade mais tarde integrada no RI 23 (São Vicente, Cabo Verde), 1941/43) (**).  

De maio a agosto de 1943, esteve hospitalizado, no Mindelo, com problemas pulmonares. De regresso à Lourinhã, em setembro de 1943, vinha "afanado" e cheio de saudades… de comer uvas. 

Depois de passar à disponibilidade, fará sociedade, durante mais de 10 anos, com o seu irmão Domingos Inocêncio Severino.  Abriram a sua própria oficina de sapataria, na Rua Miguel Bombarda, no atual nº 40 (se não erro). Chegam a ter bastantes empregados. Na época ainda não havia produção industrial de calçado. 

Recorde-se que, aos 13 anos, por volta de 1933/34, o meu pai terá uma nova família de acolhimento, a do seu tio materno, Francisco José de Sousa Jr. (de alcunha, “Fofa”), industrial de sapataria e músico, membro da então Banda dos Bombeiros Voluntários da Lourinhã ( atual Banda da AMAL - Associação Musical e Artística Lourinhanense, cujo presidente da direção é um seu neto, Paulo José de Sousa Torres). E é na empresa do tio, na Rua Grande  (R  João Luís de Moura) que aprende o ofício de sapateiro, que era a sua profissão antes da tropa.

O seu pai, e meu avô, Domingos Henriques (que terá nascido na década de 1890), casara 3 vezes: do primeiro casamento, não teve filhos, do segundo teve o meu pai, Luis, e o meu tio (e padrinho) Domingos, do terceiro teve mais mais 11. Com uma família tão numerosa e com as dificudades da época (anos 20/30), tanto o meu pai como  o seu irmão germano acabaram por ser criados pela  família do lado materno (***).

Mas, no verão de 1945, ainda voltará  a ser “chamado para a tropa”, para se integrar no desfile das forças expedicionárias portugueses que se iriam juntar às brasileiras, em Lisboa, em 3 de setembro de 1945. (Não sabemos se chegou a participar nesse desfile, uma vez que entretanto  partiu uma costela quando estava no quartel.)

Recorde-se este episódio, documentado em filme da então SPAC –Sociedade Portuguesa de Actualidades Cinematográfcias, documento hoje guardadoCinemateca Nacional:

(...) No dia 2 de setembro de 1945, aporta ao estuário do Tejo o navio “Duque de Caxias”, levando a bordo um regimento composta 162 oficiais e 1.636 sargentos e soldados, parte da FEB (Força Expedicionária Brasileira) que lutara na Itália, integrada no exército dos Aliados,  na   segunda guerra mundial, vem  do porto de Nápoles com destino final ao Rio de Janeiro .  

No dia seguinte, 3 de setembro de 1945, o Exército Português recebe os bravos militares brasileiros  com um desfile que envolveu mais  de 14 mil  soldados, viaturas militares de diversos tipos,  das armas de  infantaria e cavalaria. A Força Aérea, voando sob  os céus de Lisboa, associou-se ao evento. Milhares de pessoas assistiram entusiasticamente ao desfile.

O regimento expedicionário  brasileiro desfilou igualmente, saindo do Terreiro do Paço,  passando pela Rua Augusta, Rossio, Praça dos Restauradores, e subindo a Avenida da Liberdade até chegar a Praça do Marques de Pombal. Aí o general António Óscar Fragoso Carmona, presidente da república portuguesa, condecorou a bandeira do batalhão de infantaria da FEB com a Medalha de Valor Militar em grau de Ouro, a mais alta condecoração portuguesa.

O “Diário Popular”, desse dia, referiu-se ao evento, em título de caixa alta como “uma epopeia jamais vista em terras lusitanas”. O “Diário de Lisboa”, por sua vez, sublinha que “as tropas brasileiras (…) causaram esplêndida impressão e foram muito aclamadas”.

À noite, houve jantar com fados para oficiais e sargentos,  portugueses e brasileiros, em locais diferentes. Na Feira popular, militares e civis se misturaram numa confraternização  raramente vista em terras lusitanas. (...)


Lourinhã, Praça Cor António Maria Batista > 2 de fevereiro de 1946 > “Just married”, Maria da Graça e Luís Henriques, ela com 23 anos, ele com 25. A boda foi em Peniche, onde o Luís Henriques tinha primos…  Um dos luxos foi a lagosta, que com a II Guerra Mundial e o afluxo de refugiados em Portugal, começava a estar na moda….O casal parece estar junto ao automóvel de aluguer que os levou ao restaurante, em Peniche. 

Foto: arquivo da família.

Luís Henriques casa, entretanto, em 2 de fevereiro de 1946 com a Maria da Graça, natural do Nadrupe,  criada de servir de senhores e senhoras de Lisboa, da Praia e da Lourinhã, desde tenra idade. Namoravam-se  há já uns anos, ainda antes da tropa.  [Foto à direita].

Ela era filha de Manuel Barbosa, natural do Nadrupe, e de Maria do Patrocínio, natural da Lourinhã.  O apelido Graça não é de família: ela nasceu no dia 6 de agosto, dia da festa da padroeira da terra, a N. Sra. da Graça… A última (ou uma das últimas senhoras) onde ela serviu, foi a dona Rosa Costa Pina, professora primária, oriunda das Beiras.


Lourinhã, jardim da Senhora dos Anjos, c. agosto / setembro de 1947: eu, aos 8 meses, ao colo da minha mãe, Maria da Graça (1922-2014) e ao lado do meu pai, Luis Henriques (1920-2012). 

Foto: arquivo da família.


A 29 de janeiro de 1947 nasci eu. E 18 meses depois, a Graciete (que riá casar com o Cristiano Sardinha Mendes Calado,  Alter do Chão, 19/1/1941- Lourinhã, 21/5/2021). 

Até 1964, haverá ainda mais duas raparigas: Maria do Rosário e Ana Isabel.

O Luís Henriques continuará (pelo menos até ao início da década de 1950) a jogar futebol, como atleta amador, e ao mesmo tempo a participar na vida associativa das diversas coletividades da sua terra, desde o SCL - Sporting Club Lourinhanense, até aos bombeiros, a banda de música e a misericórdia e a colegiada de N. Sra.dos Anjos. É mordomo de festas locais (como a da Sra dos Anjos e de São Sebastião).



Lourinhã > c. 1950> Os dois filhos mais velho, Luís Manuel e Graciete. 
O meu pai sempre me tratou do "Lis Manel"

Foto: arquivo da família.



Alcobaça > 2 de julho de 1977 > No casamento da filha Maria do Rosário 
com o Mário Anastácio, filho de Bernardino Anastácio (Toledo, Lourinhã, 28/11/1925 - Lourinhã, 23/8/2017), 
barbeiro, músico, acordeonista. Ao seu lado direito, a filha mais nova, 
Ana Isabel. Na outra ponta, ao lado do noivo, a Maria da Graça.
 Foto: arquivo de família.

(Continua)
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Notas do editor:


(***) Vd. poste de 20 de agosto de 2020 > Guiné 61/74 - P21272: Meu pai, meu velho, meu camarada (62): Lembrando, no centenário do seu nascimento, a popular figura do lourinhanense Luís Henriques, o “Ti Luís Sapateiro” (1920-2012) - Parte I

Guiné 61/74 - P23551: Historiografia da presença portuguesa em África (330): Impressões da Guiné de um missionário franciscano, início da década de 1940 (3) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 9 de Novembro de 2021:

Queridos amigos,
Se acaso existe algum valor nestas impressões de viagem e no cuidado posto pelo Padre António Joaquim Dias quanto à história da presença missionária franciscana na Guiné, dar-se-á o caso o estudioso ou curioso poder reter o olhar de um missionário que ali viveu intensamente na década de 1930 e transitou para a seguinte. Não faz o panegírico da missionação franciscana, mas não ficamos com dúvidas que foi uma pequena saga a sua instalação, o seu fervor apostólico. Como homem do seu tempo, deixou registado o seu olhar sobre aquele mosaico étnico que deixava qualquer viajante assombrado, como era possível em território tão diminuto encontrar-se aquela riqueza multiétnica, multilinguística, aqueles usos e costumes que variavam radicalmente no mesmo espaço e lugar, numa convivência alegadamente pacífica, sem qualquer radicalismo religioso, que se prolonga aos dias de hoje. Tenho vários cartapácios ainda para ler, vamos ver quantas mais surpresas nos reserva o Padre António Joaquim Dias.

Um abraço do
Mário



Impressões da Guiné de um missionário franciscano, início da década de 1940 (3)

Mário Beja Santos

Que grande surpresa, estas Impressões da Guiné escritas por um missionário que ali viveu mais de oito anos, são documentos que ele vai publicando ao longo dos anos no Boletim Mensal das Missões Franciscanas e Ordem Terceira, ainda não sei o que nos reserva este conjunto de cartapácios, a verdade é que há imagens magníficas sobretudo no noticiário guineense. O Padre António Joaquim Dias regressou a Portugal depois de oito anos e meio de apostolado missionário em terras da Guiné e resolveu vazar no Boletim Mensal das Missões Franciscanas e Ordem Terceira a partir do número de novembro de 1942 em diante impressões e dados históricos da presença missionária franciscana na antiga Senegâmbia Portuguesa. Elaborou um texto sobre os missionários franciscanos na Guiné e conta que em 1931 foram desviados do campo apostólico de Moçambique os primeiros missionários, não foi operação indolor, como ele escreve:
“Antigos e prestimosos obreiros de Deus e da Pátria, lamentavam o abandono a que eram condenados. Na Guiné havia míngua de obreiros. Durante anos, um único sacerdote foi todo o clérigo da colónia. Gostosamente prestamos aqui homenagem cordial ao Padre José Pinheiro, ainda vivo e reformado após mais de 30 anos de serviço na Guiné, o qual soube trabalhar sozinho e aguentar-se, esperando contra toda a esperança dias melhores, menos agrestes. Estes surgiram em 1931, com modesto reforço, ao qual se seguiu outra um pouco mais nutrido, em 1932”.

E recorda o seu estabelecimento na vila de Cacheu, as bases da missão central de Bula, em chão de Brâmes ou Mancanhas, a primeira missão da Guiné depois de séculos de entorpecimento religioso e paralisação missionária. Relata os acontecimentos entre 1934 e 1937, não ilude a falta de recursos, começam a aparecer escolas em Farim, em Có, refere que o Governador Carvalho Viegas não era grande apoiante do trabalho missionário, mas que, no entanto, sabia fazer propaganda da presença missionária, iam surgindo artigos anónimos aludindo à obra de assistência social e às missões religiosas, isto quando na prática era o próprio governador que as não apoiava. Nesse ano de 1935 apareceu o Reformatório de Menores e Asilo de Infância Desvalida de Bor, com o auxílio de mais quatro irmãs Franciscanas Hospitaleiras. As baixas eram enormes, em 1936, Padre Pedro, absolutamente exausto, era forçado a sair da Guiné. No ano seguinte era inaugurada a Escola do Sagrado Coração de Jesus de Pelundo. Interrompe aqui o Padre Dias a sua descrição para nos falar de aspetos etnográficos e etnológicos que julga pertinentes divulgar, e espraia-se sobre o mosaico étnico da Guiné.

À luz dos conhecimentos da época, refere a seguinte tipologia: Fulas e Mandingas provenientes de uma mistura de Etíopes e de Nigríticos (negros sudaneses e nilóticos); as demais tribos constituiriam o grupo dos Nigríticos litorais ou guineenses, que não usam línguas Bantus. Diz faltarem estudos sobre a origem e parentesco etnográfico destas gentes africanas e alude a algumas referências sobretudo da literatura de viagens sobre as gentes da Guiné, caso das obras de Valentim Fernandes e de Duarte Pacheco Pereira, pondo ênfase que no século XVI já figuravam na Guiné os Balantas, os Felupes, os Banhuns, os Beafadas e os Nalus. Há também referências à tribo Papel, eram situados na chamada Costa de Baixo, nas ilhas de Pecixe e Jata e provavelmente também na ilha de Bissau.

Os Bijagós também não são esquecidos. André Alvares de Almada, no seu "Tratado Breve dos Rios da Guiné", cita e localiza diferentes etnias, com exceção dos Baiotes, Manjacos, Fulas e Futa-Fulas, e depois o Padre Dias lança-se numa apreciação do mosaico étnico.
Os Felupes já nos primeiros anos do século XVI ocupavam a posição geográfica atual; os Baiotes estavam agora confinados entre o rio Cacheu, os Felupes, os Banhuns e a fronteira, mas não são referenciados na já citada literatura de viagens e o Padre Dias diz mesmo que o Padre Marcelino Marques de Barros dá os Baiotes como uma subdivisão dos Felupes; os Banhuns tinham um território que constituía centro comercial das ilhas de Cabo Verde, estendiam-se pela margem esquerda do rio Casamansa avançando por cima dos Felupes, e eram cingidos ao sul pelos Brâmes, que já lá não existem, e por cima e pelos lados por Cassangas; estes, assentavam no local que cingia os Banhuns, o Padre Marcelino Marques de Barros faz dos Cassangas uma subdivisão dos Beafadas; os Mandingas apareciam agora instalados nas regiões de Farim, Paxisse e Oio (onde tomam o nome de Oincas), alargaram durante o século XVI o seu espaço territorial para a região de Mansoa até às margens do estuário comum aos rios Geba e Corubal; os Balantas terão descido do rio Casamansa para as zonas em que hoje vivem: Barro, Bissorã, Mansoa e Nhacra; os Buramos ou Brâmes comprimiram-se inicialmente entre o rio Cacheu e os Banhuns, foram-se espalhando por toda a região de entre os rios Cacheu e Geba, contam hoje com os regulados de Bula, Có e Jol, o Padre Marcelino diz que os Brâmes são uma subdivisão dos Banhuns; os Papéis podem ser confundidos com os Brâmes por ocuparem territórios afins e estendem-se hoje por toda a ilha de Bissau; os Manjacos são os marinheiros da Guiné, permanecem um ponto de interrogação no quadro etnográfico da colónia, Brâmes, Papéis e Manjacos mantêm afinidades etnográficas e linguísticas; os Beafadas ou Beafares já no século XVI ocupavam as regiões onde hoje vivem, do Quínara ou Guinala, e do Cubisseque e Bissegue, é dado como seguro existiram afinidades linguísticas entre Beafadas e Manjacos; os Nalus mantêm-se igualmente no território que habitavam no século XVI, a sul do rio Tombali; os Fulas constituíam no passado o Grande Império Fula ou Grão-Fula, que principiava no rio Senegal e se estendia para o Sudão, em concorrência com o Grande Império Mandé ou Mandinga, Fulas-Forros e Fulas-Pretos representam migrações Fulas, que foram deslocando para o litoral grupos étnicos instalados primitivamente a leste, são os autóctones mais bronzeados da colónia e ocupam atualmente as zonas do Gabú, Bafatá e Forreá; os Futa-Fulas ou Fulas do Futa Djalon, enviados outrora ao Forreá para extensão da supremacia política, é o tipo mais aproximado do Fula clássico, não foram mencionados pelos escritores de Quinhentos, por não existirem então no nosso território, povoam atualmente a região do Boé; os Bijagós são indígenas de cor preta, encontrando-se porém nalguns sinais evidentes de mestiçagem, dialetos e costumes variam quase de ilha para ilha, podendo admitir-se talvez a hipótese de imigrações várias.

Depois desta exposição sobre os grupos étnicos, o Padre Dias especula o número de habitantes da Guiné, mas diz claramente que falta um recenseamento seguro. O seu poder de observação vai até aos usos e costumes, como se exemplifica:
“As tatuagens estão em moda em alguns grupos étnicos. Usam-nas Manjacos, Brâmes, Papéis, Balantas e Bijagós, no peito, no ventre, nas costas e braços. São produzidas por escarificações à faca ou agulha e infetadas ou cheias de massa de azeite de palma com cinza. Os Mandingas usam tatuar-se na testa e frontais. Os Futa-Fulas tatuam os lábios a azul, pintam da mesma cor as pálpebras inferiores e abrem sinais particulares nas palmas das mãos. Notam-se penteados exóticos em quase todas as etnias, são feitos com pente indígena de madeira, semelhante a largo e comprido garfo de muitos dentes. Os Felupes ornam a carapinha, depois dos dez anos, confiadas de búzio; os Papéis de Biombo (ilha de Bissau) usam risca ao meio ou então tranças isoladas apertadas na base ou ainda tranças em torno da cabeça, de onde pendem anilhas de latão. Os exóticos penteados das mulheres Futa-Fulas, sobremontados por alta forma de palha, são adornados com fita de palha tingida de negro e abastecida de moedas e contas. Os Balantas penduram anéis e anilhas de latão da carapinha torcida e besuntada de azeite de palma e carvão moído, ou então rapam a cabeça, à faca ou a vidro, deixando somente algumas placas de cabelo, de forma redonda, ou valada, longitudinais ou transversais. Das pequenas tranças das mulheres Beafadas pendem conchas e moedas, em toda a volta da cabeça. Finalmente são inconfundíveis os dois sistemas de penteado Bijagó: tufos de cabelo soerguidos no alto da cabeça ou então empastada a carapinha toda em azeite de palma, barro ou carvão moído".

(continua)
Guiné - Catedral de Bissau
Guiné - A Igreja de Cacheu, única relíquia dos velhos tempos
Mancanha em dia de festa
Missão do Felupes. A casa que serve de igreja, escola e residência missionária
Bolama. A procissão na festa de S. José
Guiné. Tipo bijagó
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Nota do editor

Último poste da série de 17 DE AGOSTO DE 2022 > Guiné 61/74 - P23533: Historiografia da presença portuguesa em África (330): Impressões da Guiné de um missionário franciscano, início da década de 1940 (2) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P23550: Parabéns a você (2094): António Fernando Marques, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ2590/CCAÇ 12 (Bambadinca, 1968/70)

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Nota do editor

Último poste da série de 23 de Agosto de 2022 > Guiné 61/74 - P23547: Parabéns a você (2093): Fernando Cepa, ex-Fur Mil Art da CART 1689 (Guiné, 1967/69)

terça-feira, 23 de agosto de 2022

Guiné 61/74 - P23549: Meu pai, meu velho, meu camarada (67): Lembrando, no centenário do seu nascimento, a popular figura do lourinhanense Luís Henriques, o “Ti Luís Sapateiro” (1920-2012) - Parte VI

Cabo Verde > S. Vicente > Mindelo > Agosto de 1941 > "Dias depois da nossa chegada. O regresso do banho da linda praia da Matiota". [Luís Henrique está assinalado na foto, é o primeiro do lado esquerdo, da 3ª fila]. Foto: arquivo da família.


Verde > S. Vicente > Mindelo > Praia da Matiota > Maio de 1943 > "Matiota e a sua baía que é a melhor de S. Vicente, aonde se passa um bocado divertido". 

O meu pai falava muito deste local. Tendo nascido à beira-mar, e gostando de nadar, muito provavelmete passou aqui muitas das suas horas de lazer.  As forças do RI 5 (Caldas da Rainha), entretnato integradas no RI 23, estavam aquarteladas no Lazatero, no sopé do Monte Cara,a oeste do Mindelo. Na altura não havia aeroporto (hoje em São Pedro). Nem a Baía das Gatas (na ponta leste da ilha) era uma praia turística...

Foto: arquivo da família.


Cabo Verde > Ilha de São Vicente > Mindelo > Outubro de 1941 > "O belo porto de mar de São Vicente; ao centro o ilhéu que se confunde com um barco [o ilhéu dos Pássaros]". Foto: arquivo da família.


Cabo Verde > S. Vicente > 1943 > Postal da época,  foto Melo. Coladeira do S. João"  [ou cola san djon] >  Legenda no verso da foto (a tinta verde, já quase ilegível): "Dançando o batuque (sic) na Ribeira de São João, no dia de São João , no interior (?) de São Vicente. Luís Henriques. 24/6/1943". 

A festa de São João Baptista  continua a ser uma das festividades maiores das ilhas do Barlavento  e da comunidade cabo-verdiana da diáspora, por exemplo, no bairro da Cova da Moura, Amadora; ainda hoje, "em São Vicente a festa decorre na Ribeira de Julião, localidade que dista poucos quilómetros da cidade do Mindelo. Mesquitela Lima descreve-a como uma espécie de romaria onde há de tudo um pouco: missa, comeres, beberes e dança, acompanhada de tambores e de apitos. A dança é a umbicada. A anteceder o dia de São João Baptista, coincidindo com a festa pagã do solstício de Junho, há o tradicional saltar da fogueira (lumenaras)" . Foto: arquivo da família.


Cabo Verde > S. Vicente > Mindelo (ou Ribeira de Julião?) > c. 1943 > "Jantar em San Vicente. Nos tera. Nativos em festa. Recordação da minha estada em C. Verde (Expedição). 1941-1943. Luís Henriques". Presumimos que se trata de uma Foto Melo. Foto: arquivo da família.


Cabo Verde > Ilha de São Vicente > Mindelo > Maio de 1943 > "A cidade do Mindelo e ao fundo o Monte Verde. Vê-se parte da baía da Galé". 

A cidade na altura deveria ter 15 mil habitantes. O nº de militares aquartelados na ilha era de 3421: 3015 militares metropolitanos (oficiais: 145; sargentos: 233; praças: 2637) e 406 praças de recrutamento local,  o que dava um rácio de 228:1000 (228 militares por mil habitantes, ou mais do que um militar para cada cinco habitantes).  Os metropolitanos eram conhecidos, em São Vicente, como "mondrongos", termo depreciativo. Na fase da instalação da tropa houve inevitavelmente alguma perturbação e incidentes, mas em geral : "Entre os incómodos e transtornos, por um lado, e os benefícios e vantagens, por outro, o saldo da presença dos militares nas ilhas foi dum modo geral consideradi positivo. E a sua maior evidência é  o sentimento de nostalgia e saudade que a tropa metropolitana deixou nas populações cabo-verdianas" (Adriano Miranda Lima - Forças Expedicionárias a Cabo Verde na II Guerra Mundial. Mindelo, São Vicente, 2020, ed. de autor, pág. 95).

Foto: arquivo da família,


Cabo Verde > São Vicente > Mindelo > “Em 18/5/1943. No dia em que fui para o Depósito de Convalescentes. Os comandantes das esquadras de metralhadoras ligeiras do 2º Pelotão, 3ª secção: [da esquerda para a direita: ] A. C. Pratas, J. C. Filipe e Luís Henriques. Junto à porta da nossa caserna, no Lazareto”. 

Curiosamente, o meu pai (e os seus camaradas) aparece na foto, de cigarro na boca. Julgo que devia ser para a fotografia. Nunca vi o meu pai fumar. Foto: arquivo da família.


Cabo Verde > Ilha de São Vicente > Mindelo > Cemitério de Mindelo > 1943 > Foto do álbum de Luís Henriques (1920-2012), com a seguinte legenda: "Justa homenagem àqueles que dormem o sono eterno na terra fria. Companheiros de expedição os quais Deus chamou ao Juízo Final. Pessoal da A[nti] Aérea  [do Monte Sossego]  depois das cerimónias desfila fazendo continência às sepulturas dos companheiros. Oferecido pelo meu amigo Boaventura [Horta, conterrâneo, da Lourinhã,] no dia 17-8-1943, dia em que fiquei livre da junta (médica)."

Segundo o autor e a obra acima citados (Adriano Miranda Lima - Forças Expedicionárias a Cabo Verde na II Guerra Mundial. Mindelo, São Vicente, 2020, ed. de autor), morreram em São Vicente, entre 1941 e 1946, 40 militares das forças expedicionários (pág. 172) e 28 na ilha do Sal (pág, 173).

Fotos (e legendas): © Luís Graça (2020). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné.


6. Continuação da "história de vida" de Luís Henriques, ex-1º cabo at inf,  3ª Companhia do 1º Batalhão do RI5, unidade mais tarde integrada no RI 23 (São Vicente, Cabo Verde), 1941/43) (*).

Esteve no Mindelo entre julho de 1941 e setembro de 1943. Era natural da Lourinhã. Faria 102 anos, se fosse vivo, no dia 19 de agosto de 2022. 

A pandemia de Covid-19 impediu, há dois anos atrás, a realização de uma pequena sessão, pública, da homenagem que a família e alguns amigos lourinhanses queriam prestar-lhe por ocasião do seu centenário. 

 O seu filho mais velho, o nosso editor Luís Graça, reuniu entretanto, numa pequena brochura de 100 páginas, o essencial da informação documental sobre a sua vida (*).

Publicam-se hoje mais umas tantas fotos, legendadas, desse período de 26 meses em que  esteve no Mindelo. 

(Continua)
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(...) Antes de partir para Cabo Verde, o jovem Luís Henriques foi ao Nadrupe reiterar a sua vontade de continuar a namorar a filha do senhor Manuel Barbosa, pequeno agricultor com terras próprias (e outras de renda), e sete bocas para alimentar (a esposa e seis filhos, 3 rapazes e 3 raparigas)…

O futuro sogro terá sugerido que rompesse o namoro, porque não se sabia o que podia acontecer, “podia morrer ou arranjar outra” (sic)… Mas o meu futuro pai manteve-se fiel à promessa de continuar a namorar a Maria da Graça (que também assinava Maria da Graça Barbosa, mas no seu BI era apenas a Maria da Graça, nascida em 6 de agosto de 1922, no dia da festa local, o da N. Sra. da Graça). (...)

(...) À semelhança dos Açores (cuja guarnição militar foi reforçada com 30 mil homens, bem como da Madeira, com mil homens), para a defesa de Cabo Verde, e sobretudo das duas ilhas com maior importância geoestratégica, a ilha de São Vicente e a ilha do Sal, foram mobilizados 6358 militares, entre 1941 e 1944, assim distribuídos por 3 ilhas (i) 3361 (São Vicente): (ii) 753 (Santo Antão); e (iii) 2244 (Sal).

Mais de 2/3 dos efetivos estavam afetos à defesa do Mindelo (, ou seja, do porto atlântico, Porto Grande, ligando a Europa com a América Latina, a par dos cabos submarinos). 

Os portugueses, hoje, desconhecem ou conhecem mal o enorme esforço militar que o país fez, na época da II Guerra Mundial, para garantir a soberania portuguesa nos territórios ultramarinos. Cerca de 180 mil homens foram mobilizados nessa época. (...)

(...) Tinha memórias muito fortes (incluindo registos fotográficos, de que se selecionam aqui alguns) dos difíceis tempos que passou no Mindelo, Ilha de São Vicente (26 meses, entre julho de 1941 e setembro de 1943; nos últimos 4 meses esteve hospitalizado, por problemas pulmonares, entre maio e agosto de 1943). Mas voltemos à partida, em 18 de julho de 1941, do paquete "Mouzinho de Albuquerque, que teve honras de título de caixa alta no vespertino "Diário de Lisboa" (...)


(...) Um mês antes do Luís Henriques partir para Cabo Verde, no T/T “Mouzinho” (em 18 de julho de 1941), Portugal acabava de perder um barco de pesca e um navio da marinha mercante:

(i) o barco de pesca "Exportador I" fora cobarde e miseravelmente atacado a tiro de canhão por um submarino italiano. a sul do Cabo de São Vicente, em 1/6/1941....

(ii) o navio da marinha mercante portuguesa, de carga e passageiros, da Companhia Colonial de Navegação, o “Ganda”, de 4.333 toneladas brutas, com 72 tripulantes e passageiros a bordo, tinha sido atacado e afundado, em 20/06/1941, ao largo da costa de Marrocos, pelo submarino alemão U-123, sob o comando do capitão tenente Reinhard Hardegen (1913-2018): moreram 5 tripulantes e os s náufragos foram deixados à sua sorte, num salva-vidas, mas mais tarde recuperados por um navio de pesca português e outro espanhol.(...)


(...) Era casado com Maria da Graça (1922-2014), doméstica. Deixou, como descendentes, 4 filhos (Luís, Graciete, Maria do Rosário e Ana Isabel), 12 netos, 8 bisnetos. Era filho de Domingos Henriques Severino, natural do Montoito, e de Alvarina de Sousa, natural da Lourinhã, mas com raízes em Ribamar.

Tinha raízes, pelo lado do pai, Domingos Henriques Severino, no Montoito, e pelo lado da avó materna, Maria Augusta de Sousa, em Ribamar. Ficou órfão, aos 2 anos, de sua mãe, Alvarina de Sousa, natural da Lourinhã. (...) 

Guiné 61/74 - P23548: (In)citações (216): Reflexão (Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 / BCAÇ 1887, Canquelifá e Bigene, 1966/68)

© ADÃO CRUZ


Reflexão

adão cruz

A minha vida clínica de quase sessenta anos está a findar. Desde a pobreza da medicina rural nos confins da Serra da Gralheira, à dura e precária assistência médica na guerra colonial da Guiné, passando pela sombria urgência nos empedrados corredores do velho Hospital de Santo António até às tecnologias dos dias de hoje, tudo atravessei, com a consciência de que a minha consciência nunca me atraiçoou.

De tudo eu vi, desde a máxima nobreza do ser humano à sua maior indignidade e degradação. Em todo o meu percurso, permanentemente irmanado com as forças e as fraquezas humanas, sempre ergui vitórias e tropecei em fracassos, como toda a gente, mas muito especialmente nesta nobre e perigosa profissão em que é possível ser herói mas também vítima da fragilidade humana. Mas os meus sonhos e todos os horizontes que esses sonhos abriram à minha frente durante uma vida inteira, há muito que tendem a ruir e a dissolver-se na angústia e na tristeza de ver o caminho sinuoso por onde está a enveredar a medicina.

A ciência médica evoluiu espantosamente do ponto de vista da investigação e dos avanços tecnológicos, mas de forma muitas vezes anárquica e desarticulada das necessidades sociais. Além disso, o abandono e os ataques ao Serviço Nacional de Saúde pela empresarialização e a industrialização da assistência médica transformaram o exercício da medicina numa fábrica de exames e o doente na matéria prima necessária à superprioridade do lucro. Por outro lado, a alienação da verdadeira clínica como pilar fundamental da medicina e do seu carácter humano na relação com o doente, transfigurou o médico num agente técnico-industrial e o doente numa simples ficha com um número, encarrilado numa espécie de linha de montagem. Como se não bastasse, a perda social de muitos dos conceitos de valor, a par do obscurantismo como grande predador da inteligência e da cultura, constituem o caldo adequado à proliferação de toda esta disforme aberração civilizacional que estamos a viver a todos os níveis.

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Nota do editor

Último poste da série de 16 DE AGOSTO DE 2022 > Guiné 61/74 - P23529: (In)citações (215): Reflexão entre dois copos (Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 / BCAÇ 1887, Canquelifá e Bigene, 1966/68)

Guiné 61/74 - P23547: Parabéns a você (2093): Fernando Cepa, ex-Fur Mil Art da CART 1689 (Guiné, 1967/69)

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Nota do editor

Último poste da série de19 DE AGOSTO DE 2022 > Guiné 61/74 - P23537: Parabéns a você (2092): Mário Fitas, ex-Fur Mil Op Especiais da CCAÇ 763 (Cufar, 1965/66)

segunda-feira, 22 de agosto de 2022

Guiné 61/74 - P23546: Ser solidário (250): Divulgação de uma campanha de fundos que visa ajudar o luso-guineense Mamadu Baio, músico de Tabatô, a publicar o seu primeiro CD em Portugal onde vive há 10 anos (João Graça, médico e músico)


Mamadu Baio, a tradição musical de Tabatô ao vivo, em Lisboa...  Foto: página do Facebook do Mamadu Baio (com a devida vénia)...


Mamadu Baio, na sua aldeia natal, Tabatô, Guiné-Bissau, região de Bafatá foto da época em que era o líder dos "Super Camarimba" (Bissau)... Foto do Facebook do artista.


Lisboa > O Mamadu Baio e alguns dos músicos com que toca, em Lisboa.

Foto (e legenda): © Luís  Graça  (2022). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

1. O Mamadu Baio (leia-se Baiô)  é o representante das melhores tradições musicais da Guiné-Bissau, sendo originário da mítica Tabatô.

Compositor e músico, tem atuado, ultimamente, em duo (em geral com o João Graça) ou em trio (ele, o João Graça e o Avito Nanque) no Camones-Cine Bar (R. Josefa Maria 4B, 1170-195 Lisboa, uma perpendicular à Rua Senhora do Monte,Lisboa, a que vai dar ao Mirador da Senhora do Monte, o mais espectacular e deslumbrante de Lisboa). O trio tem variado, mas em geral é composto pro Mamadu Baio (viola acústica e voz), João Graça (violino) e Avito Nanque (guitarra elétrica).

Tal como o João Graça, o Mamadu Baio é membro ds Tabanca Grande (senta-se à sombra do nosso poilão no lugar nº 642) (*), Há muito que o nosso blogue apoia a música da Guiné-Bissau e os seus artistas!... Não podia, por isso, ficar indiferente à campanha de angariação de fundos que está a decorrer, aqui, 
 
2. Mensagem do João Graça, enviado para a sua mailing-lista, incluindo o nosso blogue (de que ele faz parte):

Data - terça, 16/08/2022, 10:41
Assunto -  João Graça gostaria de contar com o seu apoio

Olá,
Ficaria muito contente se pudesse dar uma vista de olhos na minha campanha GoFundMe:
Gravação disco de (LP recording of) Mamadu Baio
 
O seu apoio significa muito para mim. Muito agradecido!
João  Graça 

Reproduz-se a seguir o texto  do João Graça (em português e inglês). A meta são 6 mil euros. Já foram feitas até hoje 12 doações, num total de 640 euros.  Se os amigos e camaradas da Guiné quiserem (e puderem) ser solidários com esta causa (**), rapidamente atingiremos a meta. 

Os métodos de pagamentos são o Google Pay ou o cartão de crédito / débito. Ser solidário também passa  por divulgar / compartilhar esta bonita iniciativa. 

Para quem não tiver estes dois métodos de pagamento, o orgnizador da campanha, o João Graça,  tem a seguinte conta: 

IBAN LT14 3250 0134 8530 230

 João Graça mandou-nos uma mensagem a dizer o seguinte: "Os doadores que preferirem este método de pagamento, que me enviem o nome e o endereço de email (através do blogue), eu depois faço a  doação, no nome deles, através da plataforma Gofundme. O nome deles aparecerá depois lá, a menos que preferiram o anonimato". 

E a lista de doadores será publicada regularmente no blogue.

O Mamadu Baio, luso-guineense, herdeiro da melhor tradição da música afro-mandinga, que está a viver temporiamente na Holanda / Países Baixos, onde trabalha na construção civil, vai poder realizar o seu sonho de muitos anos: gravar, em Portugal, o seu LP (Long Playing) com as músicas da sua autoria... E todos vamos ficar orgulhosos do seu talento, a começar pela sua esposa, Sílvia Lopes, e o seu filho Malick...

Angariação de fundos > Gravação disco de (LP recording of) 

Mamadu Baio

Caros amigos,

O Mamadu Baio é um grande ser humano, sábio, generoso... e músico guineense absolutamente singular e original, radicado em Portugal há cerca de 10 anos.

Ele vem de uma aldeia da Guiné-Bissau, Tabatô, onde todos os seus habitantes são músicos. Uma das funções dos músicos griots (ou didjius, em crioulo) é precisamente tocar para os régulos (chefes tribais) quando há uma ameaça de conflito entre etnias, para prevenir a violência e promover a paz.

Também são eles quem, em sociedades sem escrita, transmitem as notícias e divulgavam as lendas e as narrativas, dando variados conselhos sobre os relacionamentos interpessoais, baseados no respeito e dignidade humana. Valores esses que são uma preocupação reflectida nas letras deste artista.

Conheci o Mamadu em Bissau, em 2009, numa noite que não irei esquecer. A nossa amizade aprofundou-se, tocámos juntos, visitei a sua aldeia, num dos momentos mais belos da minha existência. De volta a Portugal a música uniu-nos novamente, e juntei-me ao Mamadu no violino em variados concertos.

O projecto, composto por músicas autorais e inspiradas na fusão de diferentes sonoridades, desde o jazz, afrobeat, desert blues e reggae, ganhou maturidade, e está pronto a dar o salto para um disco, que queremos que seja uma celebração, com a dignidade que merece.

Um disco precisa de recursos financeiros para pagar o estúdio de gravação, as cópias, a promoção, os videoclipes de divulgação, enfim todo um processo moroso e oneroso que colocará a música do Mamadu no lugar onde merece estar.

Para isso contamos com o teu precioso apoio financeiro para tornar esta utopia possível. Pode ser pouco mas é valioso, como a gota de água que se transforma em ribeiro.

Muito obrigado,

João Graça
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Hi,

Mamadu Baio is an wise human being and a singular and original Guinean musician, settled in Portugal for more than 10 years.

He comes from a village in Guiné-Bissau, Tabatô, where all its inhabitants are musicians. One of the tasks of griot musicians is to play to tribe chiefs - when the tension between tribes in on the rise, in order to promote peace and non violent conflit resolution.

I met Mamadu in Bissau, 2009, in a night where we talked a lot about music. Our friendship deepened, we played together, i visited his village, in one of the most amazing moments of my life. Back to Portugal the music united us again, I joined him in the violin for various concerts.

The project has been growing, and is ready to enter in a studio, which we want to be a celebration, with the dignity it deserves.

A long play needs financial resources to pay the studio, the copies, promotion, videoclipes, at long last all a process that will lift Mamadu’s music to a place where it deserves.

We are asking your precious financial support that will make this dream possible.

Thank you,


Guiné-Bissau > Bissau > Dezembro de 2009 > Hotel SPA Coimbra, sito na Av Amílcar Cabral >   Da esquerda para a direita, o João Graça, músico e médico,  português, o Mamadu Baio (músico da tabanca de Tabatô e líder dos "Super Camarimba"), Victor Puerta, um cooperante espanhol de Barcelona,  Catarina Meireles (médica portuguesa) e outros/as. "Uma fabulosa moldura humana", disse a Catarina Meireles.

 Local: lobbi bar do restaurante do Hotel Spa Coimbra (que tinha sido recentemente inaugurado).  
 
Foto: © João Graça  (2009). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complemenetar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Guiné-Bissau > Bissau > 17 de dezembro de 2009 > Mamadu Baio, então líder do grupo musical Super Camarimba, "experimentando" o violino do João Graça , instrumento em que ele nunca tinha pegado antes...

Foto (e legenda): © João Graça (2009). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Amadora > Alfragide > 21 de janeiro de 2014 > Mamadu Baio em casa do nosso editor, Luís Graça. em dia de anos do João Graça. 

Foto (e legenda): © Luís Graça (2014). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Lisboa > IndieLisboa'13 > Culturgest > 24 de abril de 2013 > O Jorge Cabral, o Mamadu Baio e a Alice Carneiro, antes do início da projeção do  filme "A batalha de Tabatô", realizado por Joao Viana, numa coprodução luso-guineense, e que tem no Mamadu Baio, líder do grupo musical Super Camarimba, um dos 3 atores principais,,, O filme foi todo rodado na Guiné-Bissau, em Bissau, em Bolama, Bafatá e Tabatô, a cada vez mais célebre tabanca de didjius (contadores de histórias), e escola de grandes músicos  (cantores, tocadores de balafon, kora e  djambé).

Foto (e legenda): © Luís Graça (2013). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís GRaça & Canaradas da Guiné]
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Notas do editor:


(...) Hoje, finalmente, vou apresentar à Tabanca Grande (...) o Mamadu Baio, um verdadeiro "super camarimba" que na língua mandinga, significa jovem activo. "Super Camarimba" (os jovens ativos) é o nome de um grupo musical, criado em 1997 na tradição da música afro-mandinga. Todos os seus membros são de Tabatô, embora hoje estejam separados pela distância. De belíssima sonoridade acústica, as suas músicas são tocadas nos instrumentos tradicionais afromandingas: balafon, kora, djembé, dundunba, cabace e viola... Mamadu Baio canta e toca (viola). As suas composições celebram a paz, a harmonia, a juventude, a alegria de viver e a esperança no futuro. O primeiro CD dos Super Camarimba ("Sila Djanhará", c. 2010) foi gravado no Mali. É um CD de que gosto muito, com destaque para os temas 2 (Camarimba) e 10 (Dona Berta). Sendo edição de autor, não é fácil encontrar no mercado. Em Portugal, toca a solo e em grupo, com músicos guineenses da diáspora.

Sê bem vindo à nossa Tabanca Grande, Mamadu Baio! E fazemos votos para que neste ano de 2014 (em que vais ser pai e vais ter um filho de mãe portuguesa) tenhas mais oportunidades de mostrar o teu talento e a tua criatividade, em Portugal e noutros países (como o Brasil onde já foste cantar e que adoraste). (...)

Guiné 61/74 - P23545: Memória dos lugares (443): Cacine e a "autoestrada" do rio Cacine que, na preia-mar, era um rio azul digno de um qualquer cartaz turístico daqueles locais chamados de sonho (Armindo Batata, ex-alf mil, cmdt do Pel Caç Nat 51, Guileje e Cufar, 1969/70)

 

Guiné > Região de Tombali > Cacine > CCAÇ 1620 > 1967>  O fur mil Manuel Cibrão Guimarães, frente à capela militar de Nª Sra. de Fátima, construída ao tempo da CART 496, em 13/5/1964 e provavelmente completada pela CCAÇ 799, um ano depois (10/6/1965)... O Cibrão Guimarães está vestida com uma "sabadora" (peça principal do traje masculino dos muçulmanos) e um gorro, fula, na cabeça... A peça do vestuário tem a particularidade de ser feita com sacos de farinha de panificação ("ofício" a que sempre esteve ligado: o pai era industrial de panificação; e ele daria continuidade ao negócio até se reformar; natural de Avintes, Vila Nova de Gaia, mora em Rio Tinto, Gondomar; é pai de duas filhas, a esposa, licenciada em farmácia e professsora do ensino secundário, também está reformada). (*)

Foto (e legenda): © Manuel Cibrão Guimarães (2018). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

Guiné > Região de Tombali > Rio Cacine > De Cacine, a caminho de Gadamael > c. 1970 > O alf mil médico Amaral Bernardo esteve na CCAÇ 2726, uma companhia independente, açoriana, que guarneceu Cacine (1970/72). Amaral Bernardo pertencia  à CCS/BCAÇ 2930 (Catió, 1970/72), e passou cerca de um ano (1971) em Bedanda (CCAÇ 6).(**)

Foto (e legenda): © Amaral Bernardo (2011) . Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

Guiné > Região de Tombali > Cacine > Pel Caç Nat 51 > Dezembro de 1969 > Local do nosso desembarque em Cacine, com LDM (à esquerda) e uma AML  à direita [Junto à AML, o alf mil Armindo Batata, comandante do Pel Caç Nat 51].

Guiné > Região de Tombali > Cacine  >   Pel Caç Nat 51 > Dezembro de 1969 >A ponte cais ao fundo e a messe e bar de sargentos à direita. A messe, bar e alojamentos dos oficiais era do lado opsto,  donde tirei a fotografia. O acesso à ponte cais, era uma agradável avenida ladeada de palmeiras.


Guiné > Região de Tombali > Cacine  > Pel Caç Nat 51 > Dezembro de 1969 >  Praia a jusante da ponte cais onde desembarcámos das LDM, durante a noite, vindos de Gadamael Porto, (***)

Foto (e legenda): © Armindo Batata (2007) . Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar:  Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

Guiné-Bisssau > Região de Tombali > Setor de Cacine > Cacine, na margem esquerda do Rio Cacine > 2 de Março de 2008 > Simpósio Internacional de Guileje (Bissau, 1-7 de Março de 2008) > Visita dos participantes ao sul > Por aqui passou a CART 1692... Esta tosca placa em cimento, delicioso vestígio arqueológico dos "tugas", diz-nos que em dois dias, de 16 (início) a 18 de Abril de 1968 (término), foi construído este abrigo, em tempo seguramente recorde, a avaliar pelas "60 bebedeiras neste priúdo (sic)... Trabalho Rápido". Estão também gravados dois topónimos portugueses, Nisa e Alenquer, afinal alcunhas de dois militares da CART 1692 que, nas horas vagas, eram trolhas, segundo informação do cor art ref António J. Pereira da Costa, que conheceu estas paragens como ninguém: esteve lá como ex-alf art,  CART 1692/BART 1914, Cacine, Sangonhá, Cameconde, 1968/69, antes de voltar ao CTIG como capitão ) em 1972/74) (***)

Guiné-Bissau > Região de Tombali > Cacine > 2 de março de 2008  >  Visita no âmbito do Simpósio Internacional de Guiledje (Bissau,  1-7 março de 2008) > O Silvério Lobo junto a uma "bunker", construído pelas NT em cimento armado (seguramente pelo BENG  447). (****)


Bissau > Região de Tombali > Cacine > 2 de Março de 2008 > Visita dos participantes do Simpósio Internacional de Guileje > Os tugas de volta a Cacine, outrora um importante baluarte no sistema de defesa do Rio Cacine contra as infiltrações e ataques do PAIGC. Foi sede do Destacamento de Fuzileiros Especiais 22.  

Cacine era, em 2008, uma terra com ar desolado e decadente. Tímhamos partido,  de Cananima, do outro lado do rio, num barco de pesca, depois de um belíssimo almoço onde não faltou o saboroso e fresquíssimo peixe local. Embarcados, éramos um grupo de 30 participantes do Simpósio. O Pepito, o nosso "capitão de mar-e-guerra",  ficou em terra a planear as eventuais operações de socorros a náufragos. Regresso ao barco, depois de uma duas horas em Cacine: em primeiro plano, o jornalista do Correia da Manhã, o único jornalista português presente no SimpósioInternacional de Guileje, José Marques Lopes, seguido da Júlia, esposa do coronel art ref Nuno Rubim , e da jornalista e cineasta Diana Andringa, os dois últimos, membros da nossa Tabanca Grande.(****)

Fotos (e legendas): © Luís Graça (2008) . Todos os direitos reservados [Edição:  Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

1. Sobre a sua curta estadia em Cacine, em dezembro de 1969 e janeiro de 1970, em trânsito para Cufar, escreveu o ex-alf mil Armindo Batata, comandante do Pel Caç Nat 51 (Guileje e Cufar, 1969/70) (tem 18 referências no nosso blogue):

(...) Os Pel Caç Nat 51 e 67, este de comando do alf mil Esteves, passaram por Cacine  (*****) em Dezembro 1969/Janeiro 1970, em trânsito para Cufar. O Pel Caç Nat 67 tinha guarnecido o destacamento do Mejo até à evacuação desta posição em janeiro de 1969.

O deslocamento de Guileje para Cufar teve um primeiro troço em coluna de Guileje para Gadamael Porto. Prosseguiu em LDM para Cacine onde aguardámos a formação de um comboio fluvial. Chegámos a Cacine já a noite tinha caído. Desembarcámos na praia,  a jusante da ponte cais, com 1 ou 2 AML a fazerem a segurança e iluminados por viaturas.

Os militares nativos "espalharam-se" com as familias e haveres pelas tabancas de acordo com as respectivas etnias. Nessa noite dormi num quarto com aspecto de quarto, que até tinha mesa de cabeceira e, paredes meias, uma casa de banho que, para meu grande espanto, tinha um autoclismo, daqueles de puxar uma corrente; que maravilha tecnológica!.

Ficámos uns dias, não me lembro quantos, mas deu para eu ir a Cameconde, numa das colunas que se efectuavam diariamente (?). Tenho de Cameconde a imagem de uma fortaleza em betão, daquelas fortalezas dos livros da escola, a que só faltavam as ameias. Quem por lá andou me corrija por favor esta imagem, se for caso disso.

Deu também para umas passeatas no rio Cacine. Mas só na preia-mar, quando era um rio azul digno de um qualquer cartaz turístico daqueles locais chamados de sonho. Depois vinha a baixa-mar e o cartaz turístico ficava cinzento. E naquele tempo era quase sempre baixa-mar.

Num fim de tarde, as marés a isso obrigaram, embarcámos nas LDM e ficámos fundeados a meio do rio Cacine em companhia do NRP Alvor, que nos iria comboiar até Catió. O 2º tenente da RN, comandante do NRP Alvor, convidou-nos, a mim e ao alferes Esteves, para bordo e entre umas (muitas) cervejas e não menos ostras, passámos a noite. A hospitalidade habitual da Marinha.

As embarcações suspenderam o ferro com o nascer do sol (exigências da maré) e lá seguimos para Catió. No último troço da viagem, já o rio era mais estreito, portanto já não era o Cacine, fomos acompanhados por T6 no ar e fuzileiros em zebros a vasculharem o rio, já que tinha havido, recentemente, um qualquer "conflito" entre uma embarcação e uma mina. Nada se passou, e o fogo de reconhecimento para as margens, a partir das LDM, não teve resposta.

Não houve incidente algum portanto, mas a viagem foi um bocado complicada, em termos logísticos. Um pelotão de nativos integra as familias dos militares, os seus haveres e animais domésticos. Família, haveres e animais domésticos que afinal eram o triplo ou quádruplo do inicialmente inventariado. Nos animais domésticos estão incluídos os porcos dos não islamizados, que terão que viajar separados dos islamizados. E a aguardente de cana. E o ... e a mulher do ... e o "alferes desculpa mas não pode ser". Em coluna auto lá se arranjam, mas em LDM não foi fácil. Valeu a paciência dos furrieis, um deles de nome Neves e do 2º sargento (...).

Catió tinha uma estação de correios com telefone para a metrópole, um restaurante daqueles em que se come e no fim se pede a conta e se paga. E pessoas brancas sem serem militares. Um espanto!

O plano inicial era os dois pelotões deslocarem-se por estrada de Catió para Cufar. Esse percurso já não era utilizado há bastante tempo (meses?) e foi considerado de risco muito elevado. Não me lembro dos argumentos avançados, mas acabámos por ir para Cufar por rio (LDM com desembarque em Impugueda no rio Cumbijã ou sintex/zebro com desembarque em Cantone? - não tenho a certeza, pode ser que alguém de mais fresca memória se lembre). (...)

Armindo Batata (Excerto) (****) 

[ Revisão / fixação de texto: LG ]


Guiné > Mapa da província (1961) > Escala 1/500 mil > Posição relativa de Mejo, Guileje, Gadamael Porto, Cacine, rio Cacine, rio Cumbijã, Catió e Cufar, na egião de Tombali, na parte sudeste da Guiné, que faz fronteira com a Guiné-Conacri. Foi este o percurso, por terra e rio, que fizeram em dezembro de 1960 e janeiro de 1970, os Pel Caç Nat 51 e 67. (Vd. texto acima, do Armindo Batata).

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2022).
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Notas do editor:



(***) Vd. poste de 27 de outubro de 2012 > Guiné 63/74 - P10582: Álbum fotográfico de Armindo Batata, ex-comandante do Pel Caç Nat 51 (Guileje e Cufar, 1969/70) (9): Ainda a curta estadia em  Cacine, a caminho de Cufar,  em dez 69 e jan 70


(*****) Último poste da série > 20 de agosto de 2022 > Guiné 61/74 - P23540: Memória dos lugares (442): Rio Cacine, Cafal, Cananima, ontem e hoje