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sábado, 27 de fevereiro de 2021

Guiné 61/74 - P21953: Paz & Guerra: memórias de um Tigre do Cumbijã (Joaquim Costa, ex-Furriel mil arm pes inf, CCAV 8351, 1972/74) - Parte III: Depois de Chaves, Estremoz, RC 3, onde fomos formar companhia...


Estremoz > Regimento de Cavalaria, nº 3 > Dragões de Olivença > 2016





Estremoz > Café Águias d’Ouro > 2016 > O autor, à entrada


 
Estremoz > Café Águias d’ Ouro > 2016 > O autor, no interior


Estremoz > Pousada da Rainha Santa Isabel > 2016 > Foram uns belos dias passados na magnífica Pousada da Rainha Santa Isabel – com a Isabel (minha esposa) a sair para mais uma incursão pela linda cidade. A não perder um jantar no restaurante, a 10 metros da Pousada, “A Cadeia”.




Estremoz > Tasquinha Zé d'Alter > 2016 > 
 O homem de pé junto à porta, na fotografia, é o atual proprietário, que em conversa comigo se comoveu ao reviver as noites de fado no tempo do Zé D’Alter.



Estremoz > Tasquinha Zé d'Alter > 2016 > Na entrada da taberna existe uma grande fotografia artística do Zé. Para se poder ver a figura majestosa do Zé , fixar a visão durante uns segundos no quadro preto. Bela homenagem do atual proprietário.  ex-empregado do Zé.


Fotos (e legendas): © Joquim Costa (2021). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]





Joaquim Costa, hoje e ontem.
Natural de V. N. Famalicão, 
vive em Fânzeres, Gondamar,
pero da Tabanca dos Melros



1. Mensagem do Joaquim Costa, com data de 15 do corrente, às 12h54

Olá, Luís: Envio em, anexo, mais um poste, hoje sobre a minha passagem pela região alentejana que me enche a alma, Estremoz, onde formamos a companhia CCAV 8351, juntamente com a CCAV 8350 de Guileje .

Um grande Abraço, e muita saúde, para ti e para todos os bloguistas. Joquim C.



Paz & Guerra: memórias de um Tigre do Cumbijã (Joaquim Costa, ex-Furriel mil arm pes inf, CCAV 8351, 1972/74) - Parte III  (*)


Depois de Chaves, Estremoz formando companhia com destino à Guiné



(i) Estremoz: “A outra família”, o Águias d’Ouro … e o Zé d’Alter


De Tavira para Chaves, de Chaves para Estremoz, feito bola de pingue pongue, mas reconfortado das pequenas férias passadas na bela cidade transmontana, lá abalo eu, agora para o Alentejo.

A guia de marcha para Estremoz vinha acompanhada com a informação da minha mobilização para a Guiné. Não me afetou muito esta notícia uma vez que tinha já interiorizado que seria o meu destino, naquela postura de: se esperares o pior, pior nunca terás.

A minha primeira ação em Estremoz foi um pequeno almoço (mata bicho) na esplanada do café Águias d’Ouro (1). Fiquei logo maravilhado com a traça do café e em particular do edifício, ainda hoje, uma referência arquitetónica da cidade.

Entro no café para pagar e apreciar o seu interior enquanto reparo, sentados em duas mesas, num grupo de jovens com um semblante de quem espera a partida para o degredo. Com medo do contágio fugi e deparo-me com uma visão idílica de um garboso oficial a passear montado num belo cavalo.

Mais tarde confirmei que os rapazes de semblante carregado eram graduadas de uma das 3 companhias em formação neste quartel. O garboso oficial era um prestigiado militar muito conhecido na cidade.


(ii) E a “família” lá foi a chegando de todos os pontos do país


O Transmontano de Vila Real (hoje rendido ao Alentejo), de bigode do mesmo, com quem fui desenvolvendo uma boa amizade, ao ponto de o ter auxiliado; de forma graciosa, durante todo o tempo de Guiné, no consumo do seu tabaco (hábito que ainda permanece nos encontros anuais da companhia). Rapaz fiável, grande observador, sereno e prudentemente desconfiado, como bom transmontano...

O Beirão, “Alcaide de Almeida”, rijo como o granito (mas não pequeno), como diz a canção popular da Beira. Beirão, mas com alma de alentejano dada a sua calma perante qualquer situação. Pró ativo, sempre com a preocupação de se antecipar aos acontecimentos, mas... “de gancho” (como se diz na minha terra), difícil de torcer e convencer (...mais fácil de vencer nos jogos de tabuleiro!), como bom Beirão...

Os dois meninos (quase) da Foz. Os últimos “fidalgos” do Porto, com tertúlias sempre marcadas no Orfeu (café na Boavista, Porto). Aperfeiçoaram o seu Inglès no “engate” de Inglesas no Parque de Campismo da Prelada. Mais o da Rua Senhora do Porto (lindo nome para uma rua!) que , aliás, demonstrou a mesma perícia (no engate das inglesas) no levantamento de minas no Cumbijã.

O Menino da linha (sulista mas não elitista!...). Sempre despreocupado, otimista, positivo, especialista em gerir a fortuna das tias (palavras suas), fã de revistas inglesas (Penthouse), com artigos de fundo e conteúdos densos e que fazia questão de as emprestar a toda a gente, antes de serem religiosamente arquivadas nos aposentos do capitão. Com ele e com o um dos meninos da Foz (a quem devo, para além da amizade, a sua indignação quando todos calaram… ) formamos uma equipa perfeita no comando do 1º pelotão.

O Homem do Barreiro. O político denso, o verdadeiro homem do “reviralho”, foi responsável pelo despertar da consciência política de muitos de nós. Das muitas discussões acaloradas com ele, uma vez, furioso (sendo ele um homem “desarmantemente” calmo), atira-me à cara: não passas de um social democrata (convenhamos que nada mau para a época).

O Nosso “Alfero” de Gaia, o seu nome define a sua pessoa. Humanamente o melhor de nós todos. Após o grato prazer de o conhecer comentei com alguns amigos: este rapaz nunca disparará um tiro em combate, nem em situação de autodefesa. Infelizmente foi dos primeiro a sentir, na pele, as consequências da guerra e a sua brutalidade. Felizmente tudo ficou bem com ele.

O Nosso “Alfero” das terras do Lis... Durante algum tempo, ainda em Estremoz, pertenceu ao meu pelotão. Não nos acompanhou para a Guiné, contudo, do pouco tempo de contacto com ele foi evidente o seu humanismo e grande preocupação com o bem estar dos soldados.

O Homem de Castelo de Bode do 4.º pelotão, calmo, reservado, algo desconfiado, mas bom companheiro não obstante uma relação algo distante.

Dois outros companheiros que tive o grato prazer de conhecer, um muito truculento, destemido nas palavras mas que manifestava um “nervosismo” atroz quando em situação de saída para o mato. Completamente descontextualizado, aproveitou a ida de férias a Portugal e não voltou!...

O outro camarada, uma bom moço, que nunca se adaptou e aceitou a vida militar, foi-se “arrastando”, sempre com a cabeça longe dali, até ir de férias de onde também não regressou!... Desenvolvi com ele uma boa amizade, facilitada pelo facto de ele ter frequentado o Colégio Interno das Caldinhas (Instituto Nun’Alvares), em Santo Tirso, falando sobre uma região que os dois conhecíamos.

Este Colégio Interno, de referencia no período do Estado Novo (ainda hoje uma excelente escola), recebeu muitos alunos que acabaram por ocupar, no país, posições de relevo em diferentes áreas (empresarial, política, artes, etc.,) do qual destaco – Pinto da Costa.

O “Alfero” Algarvio(iu), pescador de águas profundas, amigo de conversa fácil, sempre com uma solução infalível para tudo, consubstanciadas, segundo ele, em algo já testado mas de difícil compreensão para o comum do cidadão. Comportamento comum a qualquer algarvio(iu) de gema.

Creio que de todos nós foi o único que não se deixou afetar pela “bagunça” organizada do destacamento, mantendo-se fiel e dando corpo, no bom sentido da palavra, ao papel de militar asseado e disciplinado.

Seguimos os dois, depois de regressados da Guiné, os caminhos do ensino e da gestão escolar. Como homem de fé, continuo, (sentado e já dormitando), à espera da sardinhada prometida no nosso reencontro em Portimão enquanto aí passei férias durante mais de vinte anos.

Entretanto foram chegando os ditos especialistas:

O Alfacinha... de primeira (Para mim, para lá do Mondego são todos alfacinhas) - O homem que tratava da nossa saúde, física e mental. Um homem talhado para a solução e nunca para o problema. Um privilégio ter um amigo assim. Espero que, passados todos estes anos, me tenha desculpado daquele incidente em Veneza (2)

O outro alfacinha era o  homem que (DES)tratava o nosso estômago. Gingão, “malandreco”, bem humorado, sempre de resposta pronta, ou seja: o verdadeiro vagomestre.

Não esqueço o dia em que, ao refilarmos grosso com ele atirando-lhe à cara que nos estava a matar à fome, organizou uma ceia, com todos os refilões, com produtos que ainda hoje não sei onde os foi desencantar…

O Homem do fato macaco e também alfacinha: Castiço, com gestos peculiares e muito sugestivos, com um “linguajar” ao nível do trabalhar dos motores dos seus unimogues e berliets... aos soluços.

O homem do “Búnquer”, de Aveiro:  A maior parte do tempo metido no seu Búnquer das comunicações. Distante, pouco falador, controverso, mas com quem mantive uma boa amizade.

O “Homem Grande” da Figueira da Foz (Buarcos):  O Abraracourcix (4) da “Aldeia” do Cumbijã - O mais especial de todos !

Benfiquista e/ou antiportista é suposto que ainda guarde no cofre da sua casa de Buarcos as revistas da “penthouse” do Martins e, como bom benfiquista, é muito provável que junte a este espólio meia dúzia de livros, “best-seller” da literatura de “bordel” portuguesa, escrito pelas mãos da Senhora Comendadora Leonor Pinhão e pelos pés da D. Carolina Salgado (Eu, Carolina). Para ser candidato a um convite para o camarote presidencial do Estádio da Luz não resistirá a juntar a este riquíssimo espólio meia dúzia de cópias do filme português (de mais um comendador: João Botelho), o mais visto nas salas de cinema português nos últimos 100 anos [?], sobre a “ a máfia do norte” (Corrupção), que conta a vida do seu putativo “padrinho”, o homem (tal como o eterno capitão: João Pinto) de uma só cor: azul...e branco

Para melhor conhecerem o Abraracourcix da “Aldeia” do Cumbijã, nada melhor do que lerem o capítulo destas minhas memórias: “o que outros disseram de nós” recolhido de vários postes do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Contudo, fica aqui o meu reconhecimento pela confiança que depositou em mim, não obstante embrulhada numa decisão injusta e comunicada de forma intempestiva. Jamais trocaria este gesto de confiança por onças de ouro ou galões.

Depois de uns dias de adaptação à nova realidade, coube-nos a nós receber os nossos soldados vindos de vários pontos do país (a maioria do Oeste), com alguns a entrarem em pânico (como aconteceu com a maioria de nós), quando eram informados que o nosso destino era a Guiné.

A instrução decorreu de forma serena e cúmplice, não obstante a canícula que se fez sentir naquele verão de 1972. Com o decorrer da instrução, e sabendo o que o futuro nos reservava, consolidou-se um grande espírito de grupo entre toda a companhia.

Foi aqui que me tornei um exímio jogador de lerpa (jogo de cartas a dinheiro) graças aos mestres do ofício - os velhinhos sargentos do quartel. No dia em que fazia serviço aos telheiros (instalações fora do quartel onde dormiam os soldados da companhia) era sempre uma noite sem ir à cama já que o casino se montava no final do jantar e fechava as portas já com os soldados formados em parada para regressarem ao quartel para mais um dia de instrução. Sempre que fazia serviço aos telheiros no dia seguinte seguia carta para casa a pedir mais uma mesada adiantada…

Aqueles sargentos eram tramados…

Na impossibilidade de uma referência pessoal (que todos mereciam), aqui ficam os nomes de todos estes valorosos militares e excelentes camaradas e amigos que fazem parte da lista dos convocados para os encontros anuais:

Alfredo Cardoso                                                         Alexandre dos Santos Policarpo           

Mateus Alves                                                              Alfredo José Teixeira da Costa

Amadeu Santos Antunes                                              Aníbal Marques de Oliveira

António Batista Pinto                                                  Alberto Nunes Costa

António José Faísca de Jesus                                       António Fernando Ferreira Oliveira

António Manuel Mota Vieira                                       António José Mendes Antunes

António Paulo Veríssimo                                             António Manuel Pereira Oleirinha                   

António Valente Marques                                            António Santos Grilo

Armando Bessa de Freitas                                           António Vieira Gouveia

Arsénio Pedrosa Marta                                                Armando Piedade da Silva      

Alberto Tavares Augusto Coelho covas                         Abel Santos Ferreira   

Augusto Mesquita Magalhães                                      Aurélio de Oliveira Machado

Avelino Inácio Pimenta                                               Benjamim Vieira Simões

Carlos Alberto da Conceição Pereira                            Carlos Alberto da Silva Machado

Carlos de Jesus Tomé                                                  Carlos Pompeu Fonseca Góis

Casimiro Henriques Dias                                             Diamantino Almeida Gonçalve

Diamantino Augusto Afonso                                        Diogo Bernardino Martins Matos

Dionísio de Oliveira Rafael                                         Eduardo Alexandre Rosa Aleixo

Eduardo Ramos Vitorino                                             Fernando Machado Henriques

Fernando Manuel Antunes                                           Fernando Manuel Gaspar Lopes

Fernando Manuel Marques Carrilho Mourato               Fernando Manuel Moreira Barbosa

Florindo Inácio Marques Rosmaninho                          Florival António Luz

Forivaldo dos Santos Abundâncio                                Francisco da Encarnação Calçada

Francisco Felismino Grácio                                         Francisco José Sanches Ferreira

Francisco Sobral Matias                                              Francisco Valério Cardoso

Franklim Rosário Fernandes                                        Isidro Lopes Correia

Jerónimo Oliveira Vaz Catarro                                     João Carlos Henriques de Almeida

João Jesus Sequeira                                                     João Henriques Carrilho Gomes

João José Ribeiro Fernandes Vilar                                João Manuel Oliveira Querido

João Manuel Reis de Melo                                           João Mendes Corrente

Joaquim Bonifácio Brito                                              Joaquim da Silva Costa

Joaquim dos Santos Anastácio Vieira                            Joaquim Felismino Maximiano

Joaquim Gabriel Nunes Rabiço                                    Joaquim Lourenço Cavaco Pereira

Joaquim Martins de Oliveira Coelho                            Joaquim Ponte Portilho

 

Aproveitando o descanso de um dia de instrução, reunimos um pequeno grupo de amigos e lá fomos à taberna do tão falado Zé D’Alter (3), para beber uns canecos e ouvir o afamado fado espontâneo. Entramos, e logo nos apercebemos que não estávamos a entrar em mais uma taberna mas sim numa casa onde estavam reunidos um grupo de amigos, tal a cumplicidade dos presentes: pessoal da terra e muitos militares. 

Todos falavam com todos ninguém servia ninguém cada um servia-se, da pipa, do garrafão, do tacho, da frigideira etc., Ao terceiro copo já um representante da terra dava o mote ao tocar uns acordes na sua viola cantando, timidamente, o primeiro fado da noite. O esvaziar das canecas libertou os fadistas espontâneos e já todas se achavam capazes do seu número. O ambiente foi aquecendo ao ponto do Zé D’Alter dar um murro na mesa e dizer: silêncio que isto agora é para quem sabe! Fez-se um silêncio de ouro e o fado surge na sua nobreza e pureza maior da taberna na vós do Zé D’Alter. No fim houve palmas, lágrimas e vivas ao fado…e ao Zé.

(Continua)

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Notas do autor:


(1) Edifício construído entre 1908 e 1909, foi inaugurado como café a 4 de Abril de 1909. O seu proprietário inicial era Francisco Rosado, da firma Rosado & Carreço e o estabelecimento funcionava também como buffet e sala de bilhar. Entre 1937 e 1939 tiveram lugar algumas obras a cargo do arquitecto Jorge Santos Costa, cujas principais alterações foram a transformação de uma das portas exteriores numa montra-janela e a remodelação da fachada térrea, ao gosto modernista da altura. Em 1964, sob responsabilidade de José Manuel Pinheiro Rocha, transformou-se o primeiro piso em restaurante, destituindo o edifício de alguns elementos originais. Após um abaixo-assinado de moradores de Estremoz, é classificado como Imóvel de Interesse Público em 1997.

(2) O encontro improvável, em Veneza, de três “Morcões do Norte” e de um Alfacinha especialista em Matacanhas

No ano de 1977 (3 anos depois de regressar da Guiné), eu e mais dois companheiros, o Gil Marques, empresário da industria têxtil (irmão do Motar Paulo Marques, o primeiro português a vencer uma etapa do Paris Dacar) e o Miguel, professor de economia e contabilidade, decidimos, depois de mais uma noite de copos na tasca do Pega, hoje um restaurante com nome no “Evasões” e “Boa Cama Boa Mesa” (à nossa custa), decidimos aproveitar as férias numa viagem (de 31 dias) pela Europa, numa das nossas Dianes.

Um dia se decidiu e no outro abalamos, com partida junto ao nosso café das tertúlias e “jogatanas” de bilhar diárias, o “Pica Pau” com todos os presentes e amigos desejando boa viagem, na Diane do Gil.

Lá consegui meter num pequeno saco umas peças de roupa, um mapa e uma tenda que nunca havia montado. Decidida a primeira paragem em Madrid, como pessoa mais sensata do grupo [???], lá fui pensando em programar minimamente o itinerário de toda a viagem até à capital espanhola.

Já em França, a caminho de Nice, com um amortecedor a queixar-se do peso, surgem na estrada muitos jovens a pedir boleia (muito comum na época em Portugal e em toda a Europa). Eis quando aparece uma jovem no meio do caminho, quase nos obrigando a parar, com o Miguel aos gritos, pára, pára … mas o Gil não parou. Ficamos furiosos com ele, mas ele, com a sua calma, informa: não vamos passar o tempo nisto! Dois dias já passados com as lindas catalãs (professoras primárias a trabalhar em Barcelona) desrespeitando o programa minuciosamente elaborado pelo Costa, e para além do mais o amortecedor não ia aguentar. Òh Gil ! Aguenta, aguenta! Tanto insistimos que ele deu a volta passou novamente pelo local onde ainda se encontrava a miúda, deu nova volta e lá paramos para dar boleia à donzela. Enquanto o Miguel abria gentilmente a porta, surge detrás de um arbusto (estilo David Attenborougt) um rapaz com dois metros de altura, com a miúda sorrindo dizendo: não se importam de levar também o meu namorado? Empurrando-o para dentro do carro antes que dissesse-mos que não.

Durante a viagem o Gil, preocupado com o amortecedor, passou o tempo a chamar nomes ao gigante, que era Sueco, utilizando todo o vocabulário vernáculo do norte que tinha mais à mão, enquanto o rapaz olhava para ele, divertido, sempre com um sorriso nos lábios.

Este incidente foi motivo de conversa até Veneza, onde montamos (tentamos montar ), pela primeira vez a tenda num parque de campismo (até Veneza sempre dormimos ao relento apenas com o saco cama). Começamos a montar a tenda mas não atinávamos com a quantidade de ferros. Já desesperados, diz o Gil: não és tu engenheiro? Então trata tu disso que eu vou tomar banho. O Miguel aproveitou a deixa e fez o mesmo.

Ainda não refeitos da boleia dada ao gigante Sueco, durante o banho continuaram os insultos ao rapaz em voz alta que se se ouvia em todo o parque. Até eu, que também não atinava com a tenda (ou faltava ferros ou faltava pano), estava a ficar incomodado com os palavrões (afinal sou professor “carago”…).

Entretanto, sinto uma mão no meu ombro, viro-me, e vejo um homem lourinho, de olhos claros dizendo, em bom português: já uma pessoa não pode estar com a família sossegada no parque de campismo, sem estar sujeita a ouvir este chorrilho de palavrões. Este lourinho era o grande amigo Caetano o mesmo que me tirou uma matacanha do dedo grande do pé (com a sua faca do mato?) no Cumbijã (Guiné) de boas e más memórias.

(3) Taberna do Zé D’Alter - O homem de pé junto à porta, na fotografia, é o atual proprietário, que em conversa comigo se comoveu ao reviver as noites de fado no tempo do Zé D’Alter. Na altura era um jovem funcionário, de quem o Zé gostava muito e que, contra a sua vontade, o ajudava na taberna no período da noite já que adorava todo aquele ambiente.

Com a morte do Zé, acabou por ficar com o espaço no qual foi forçado a fazer obras. Contudo, guarda religiosamente parte do espólio da antiga casa que compreende fotos de dezenas de companhias crachás, bandeiras e muitas e comoventes dedicatórias ao amigo Zé D’Alter. Em sua homenagem, hoje, na entrada da taberna existe uma grande fotografia artística do ZÉ. [Vd. fotos acima.]

(4) Abraracourcix (Abraracourcix, no original francês, trocadilho com "à bras raccourcis", "de braços muito curtos" [?], ou "a toda força", ele é o chefe gaulês da pequena aldeia dos irredutíveis gauleses, como Astérix. Apesar de ser bastante respeitado pelos seus súbditos e bastante temido por seus inimigos, nem sempre consegue impor as suas ordens. Só tem medo de uma coisa: que o céu caia sobre sua cabeça, mas como ele próprio afirma, quem morre de véspera é peru.

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Nota do editor:

terça-feira, 4 de junho de 2019

Guiné 61/74 - P19855: (In)citações (133): Entre maio e dezembro de 1972, na altura em que estive com os "Gringos de Guileje", a situação era relativamente calma, a CCAÇ 3477 era temida e respeitada pelo PAIGC...As coisas alteram-se sobretudo em maio de 1973, ao tempo da CCAV 8350, "Os Piratas de Guileje" (Luís Paiva, ex-fur mil art, 15º Pel Art, Guileje e Gadamael, 1972/74)


Guiné > Região de Tombali > Guileje > CCAÇ 3325 (Jan/Dez 1971) > Pessoal do Pel Art que guarnecia um das peças 11,4 cm ali existentes, no tempo em que a unidade de quadrícula era a CCAÇ 3325, comandada pelo Cap Jorge Parracho (reformou.se com o posto de coronel). . A CCAÇ 3325 foi subtituída pela CCAÇ 3477 (Nov 1971 / Dez 1972), "Os Gringos de Guileje",  a que se seguiu a CCAV 8350 (Dez 1972/Mai 1973), "Os Piratas de Guileje". O 15º Pel Art, a que pertenceu o Luís Paiva, esteve em Guileje com estas duas  últimas  unidades de quadrícula.

Foto: © Jorge Parracho (2007). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Mensagem de Luís Paiva (ex-Fur Mil Art, 15.º Pel Art, Guileje e Gadamael, 1972/73, ao tempo da CCAÇ 3477 e depois da CCAV 8350, tendo o aquartelamento de Guileje sido abandonado em 22/5/1973)

[É membro da nossa Tabanca Grande desde 30 der outubro de 2009] (*)

Data: quarta, 29/05/2019 à(s) 15:36

Assunto: Solicitação de esclarecimento

Caro Luís Graça:

Em 2009 iniciei no Blogue "Luís Graça & Camaradas da Guiné" a publicação de alguns "posts" (10, segundo julgo) relacionados com a minha comissão de serviço militar na Guiné, no período que decorreu entre 1972 e 1974, sendo que o último post colocado data já de há cerca de cinco anos.

O primeiro "post" relatava de uma forma sucinta os acontecimentos ocorridos a partir de Maio de 1973 em Guileje e Gadamael no tempo em que ali se encontrava a companhia CCAV 8350, conhecida pela denominação de "Os Piratas".

Acontece que num recente almoço-convívio com a Companhia à qual estive ligado anteriormente CCAÇ 3477, conhecida pelos "Gringos de Guileje", tomei consciência de que em alguma(s) dessa(s) minhas intervenção(ões), ocorridas no referido blogue, teria involuntàriamente dado origem a equívocos que ali mesmo procurei desfazer mas que, pùblicamente, me comprometi a tomar a iniciativa de solicitar que fossem devidamente esclarecidos perante todos os leitores do blogue.(**)

Com efeito, se alguma vez dei a entender que a minha estadia em Guileje durante a permanência da CCAÇ 3477 foi relativamente tranquila, terei que, antes de mais, reiterar esta informação, mas acrescentando algo que poderá não ter ficado subentendido e que poderá ter gerado em alguns espíritos alguma confusão e até mesmo desconforto.

Antes de ser colocado em Guileje, eu tomei conhecimento que a zona era extremamente difícil sob o plano militar e que os Gringos que ali tiveram um período bastante difícil, tinham conseguido pacificar a região após várias incursões, e ganho respeito por parte do IN

O PAIGC temia a Companhia dos Gringos e, após várias incursões anteriores à minha chegada, tinham optado por reduzir ali a sua capacidade de ataque pelo que, quando cheguei, deparei com a zona já relativamente pacificada, sobretudo no que se refere a ataques ao aquartelamento, já que naturalmente no exterior a actividade militar e de prevenção da Companhia mantinha-se com saídas constantes e frequentes para o mato.

Deve pois ser salvaguardado o seguinte: eu desempenhava funções de artilheiro pelo que a minha actividade militar era apenas exercida dentro do aquartelamento, e aqui os ataques (após o período em que cheguei) eram reduzidos e aconteciam, tanto quanto a minha memória me permite recordar, numa média de cerca de um por mês.

Fora do aquartelamento -e durante esse período, de Maio a Dezembro de 1972- a situação era diferente mas não me posso pronunciar sobre ela porque eu não saía em missão para o mato.

E se me é permitido comparar com a situação que se iniciou em Maio de 1973, já após a saída da CCAÇ 3477 e durante a permanência da CCAV 8350, a diferença é flagrante porquanto a partir dessa data - e como referi na minha primeira intervenção - o grau e gravidade da situação militar alterou-se por completo dentro do aquartelamento. Dispenso-me de repetir o relato que fiz no Blogue há cerca de uma década sobre esses acontecimentos e que mantém plena actualidade.

Resumindo, e para que fique claro, apenas por interpretação anómala do que escrevi, se pode inferir que a permanência dos Gringos em Guileje foi pacífica porque o que efectivamente afirmei e reitero foi que a minha permanência com a aludida Companhia foi relativamente tranquila face ao que se passaria a seguir, concretamente a partir de Maio de 1973. 

E quando me refiro à minha permanência, refiro-me tão só ao espaço a que eu estava, como furriel de artilharia, confinado, mas também e sobretudo ao tempo em que ali estive com a referida Companhia. Porque, naturalmente, que não me posso pronunciar sobre o tempo anterior à minha chegada e em que aquela Companhia ali esteve na zona e que creio possa ter sido bastante difícil até se ter conseguido razoàvelmente pacificá-la.

Outra eventual interpretação do que escrevi será a partir deste esclarecimento abusiva.

Termino, afirmando que beneficiei na Companhia dos Gringos de grande camaradagem e de um óptimo ambiente de solidariedade que foi o que afinal me levou agora a procurar revê-los após um longo período de cerca de 47 anos.

Solicito que ao presente esclarecimento seja dado o devido destaque por forma a que todos os que leram alguma intervenção anterior minha possam ficar devidamente informados e tomem assim conhecimento que foi apenas uma acidental omissão sobre o tempo em que os Gringos estiveram em Guileje, mas que os meus comentários da altura se referem sobretudo a acontecimentos que tiveram lugar antes da minha chegada e -após a mesma- apenas no exterior do aquartelamento.

É porém voz corrente que presumível e supostamente (talvez antes de eu ser colocado em Guileje), os Gringos teriam capturado diverso armamento. Admito até que isso possa ter ocorrido durante a minha permanência, algo que já não consigo recordar! E reafirmo que a minha opinião tem sobretudo a ver com o teatro de operações dentro do aquartelamento.

Mantém-se o essencial do que escrevi nas intervenções no blogue, relativamente à descrição dos acontecimentos dramáticos que ocorreram em Guileje e Gadamael a partir de Maio de 1973 e já durante o período da Companhia CCAV 8350, conhecida pela denominação de "Os Piratas".

Saudações cordiais.

Luís Paiva
Ex-Furriel de Artilharia do 15º Pelart

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Notas do editor:

quinta-feira, 30 de novembro de 2017

Guiné 61/74 - P18030: (De)Caras (100): J. Casimiro Carvalho, ex-fur mil op esp, CCAV 8530 (Guileje, 1972/73) e a "patrulha fantasma", massacrada em Gadamael, em 4/6/1973


Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje > Núcleo Museológico Memória de Guiledje > c. 2011 > Restos do Memorial à CCAV 8350 (1972/1974) e ao alf mil Lourenço, morto por acidente em 5/3/1973. De seu nome completo Victor Paulo Vasconcelos Lourenço, era natural de Torre de Moncorvo, está sepultado na Caparica.  

Outra das baixas mortais da CCAV 8350 foi o alf mil art Artur José de Sousa Branco: foi morto em combate, em Gadamael, em 4/6/73, era natural de Lisboa, e está sepultado no cemitério do Alto de São João.

Foram duas das 9 baixas mortais dos "Piratas de Guileje" e dois dos 75 alferes que perderam a vida no CTIG.

Foto: © Carlos Afeitos (2013). Todos os direitos reservados [. Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Guiné > Bissau > c. 1973/74 >  "Dos poucos momentos que passei em Bissau... Junto às LFG Orion, Lira e Argos (da esquerda para a direita)"

Foto: © J. Casimiro Carvalho (2017). Todos os direitos reservados [. Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. O nosso camarada Francisco Godinho [, foto  à direita] recuperou, muito a propósito e oportunamente, em 24 do corrente, na sua página do Facebook, um texto do J. Casimiro Carvalho, que merece ser reproduzido no nosso blogue.

O J. Casimiro Carvalho, o nosso "ranger", ex-fur mil op esp, CCAV 8350, "Os Piratas de Guileje (Guileje, 1972/73),  é membro sénior da Tabanca Grande, e tem já cerca de 8 dezenas de referências no nosso blogue.

Publicámos, em tempos, as suas "cartas do corredor da morte" mas há lacunas de informação sobre o período em que esteve em Gadamael (e onde foi ferido).  Desde sempre o tratei, e muito justamente, como "herói de Gadamael". Nunca teve, ele e os outros "heróis de Gadamael", o devido reconhecimento público...

Não sei qual é a origem deste texto que o Francisco Godinho "recuperou".  Trata-se, em todo o caso de um relato dramático, na primeira pessoa, da uma saída para o mato, nas imediações do quartel de Gadamael, sitiado por forças do PAIGC, que acabou tragicamente para 5 dos 12 integrantes da "patrulha fantasma". Temos o dever recordar, mais uma vez, a sua memória e a trágica circunstância da sua morte... (LG).


O J. Casimiro Carvalho administra, desde 2/2/2014,  a página do Facebook Tabanca da Maia Tertúlia, reunindo já mais de meio milhar de membros, entre militares, ex-militares, familiares e amigos, com residência na Maia e imediações. É um grupo criado fundamentalmente "para convívio e para nos conhecermos" (sic). O grupo reúne-se, em almoço-convívio, no último sábado de cada mês. Além do  administrador (J. Casimiro Carvalho), tem um moderador (António Silva).  "Assuntos proibidos: religião, política e futebol"...


2. (De) Caras > J. Casimiro Carvalho > Gadamael, 4 de Junho de 1973: "A Patrulha Fantasma”

Em Gadamael, a mortandade era tanta, a cadeia de comando rompeu-se e houve fugas para o mato e para o Rio Cacine.

De salientar a bravura do capitão Ferreira da Silva (Comando/Ranger) (*), que avocou a si o comando desse pequeno contingente [, que restava em Gadamael,] e debaixo de fogo coordenou os cerca de 30 ou quarenta, verdadeiros heróis, que até à chegada dos abnegados Paraquedistas [do BCP 12], aguentaram aquele apocalipse!

Não havia condutores, o pessoal andava atarantado... aterrorizado e sem chefias que chegassem. Era assim em Gadamael em 1973.

A enfermaria estava pejada de cadáveres, um cheiro nauseabundo, os mesmos eram constantemente regados com creolina, não haviam urnas, os bombardeamentos eram constantes, as granadas caíam com precisão dentro do quartel, se fugíamos para o rio, elas caíam no rio, se fugíamos para o parque auto, caíam aí, havia coordenação de tiro por parte do IN.

Cheguei a conduzir uma Berliet, dos paióis para as bocas de fogo, de tal forma que,  quando havia saídas de fogo, nós já não as ouvíamos. Comigo andava um açoriano [, o 1.º cabo Raposo] (**), dois autênticos loucos varridos, saltávamos em andamento e, quando acabava o fogachal, voltávamos ao camião e seguíamos com o serviço.

Nessa altura, mais valia estar no mato, estávamos sitiados, e por isso,  quando formaram uma patrulha "ad hoc" onde me incluíram, até fiquei contente. Nessa patrulha ia o alferes Artur Branco, que antes tinha dito que o mandaram para ali, e que ia morrer; iam dois putos que tinham vindo voluntários para a tropa (, dois meninos!), aos quais ordenei que ficassem no quartel, ao mesmo tempo que disse: "Sois muito novos para morrer" (ainda se lembram disso e sempre o repetem aos filhos, dizendo que me devem a vida); ia um negro (o "pica"), o cabo José Neves e os soldados F. Anselmo [Fernando Alberto Reis Anselmo, natural de Macedo de Cavaleiros]; e A. Serafim [António Mendonça Carvalho Serafim, natural do Cartaxo] (um destes soldados nunca saíra para o mato), e outros que desconheço. Era uma “patrulha fantasma”.

Saímos para a zona da pista abandonada de Gadamael, as ordens era para emboscar nessa zona, para prevenir aproximações IN. Fomos em fila indiana ao longo do rio Cacine junto ao tarrafo. Passámos por um sítio, onde se vislumbrava uma pequena clareira, de capim médio, e o pica disse: "Alfero, melhor ficar por aqui, boa zona para montar emboscada"... O alferes Branco retorquiu que as ordens eram ir para a pista velha, pelo que continuámos. Uns 200 metros à frente, o negro disse que a pista estava minada e armadilhada pela tropa anterior. Posto isto, o alferes reuniu comigo e chegámos a consenso: que o melhor era recuarmos.

Recuámos em silêncio e ordeiramente, até chegarmos à tal zona da clareira, e começámos a entrar na mesma, agachados para passarmos por baixo do tarrafo.  Normalmente eu ia em 2.º ou 3.º nas patrulhas, e ao entrarmos nessa clareira, um dos militares deu-me passagem, e eu disse que não: "Ide entrando que 'eles' podem estar aí",  num tom bonacheirão e em sussurro, e assim foi.

Uns seis já tinham passado, quando ouvi uns estalidos e, com gestos e murmúrios, dei a entender que estava ali algo. Todos pararam espaçados e em silêncio. Como mais nada se ouviu, eu disse: “Deve ser passarada, avancemos” .... logo a seguir, outra vez o estalar de ramos e mexer de vegetação. Imediatamente gritei: “Emboscada!”, coloquei a arma em modo de rajada, e atirei-me para o chão, não sem antes ver a cara do alferes desfeita por uma rajada, com sangue e ossos (?), a saltar.
Já no chão e com um fogachal tremendo, próprio de armas russas, com a cara de lado bem rente ao mato, passou-me a vida pelo cérebro, e a mente a pensar na “minha mãe”. Estou neste estertor, pensando se abria fogo ou não, pois iria denunciar a minha posição, imaginando um turra a disparar nas minhas costas, deitado.

Nestas fracções de segundos, ouço uma G-3 a disparar ao meu lado, o som era mesmo nosso, então comecei a dar rajadas de 3 ou 4 tiros, enquanto outro militar dava tiro a tiro, compassadamente. Freneticamente, tirei o carregador vazio e coloquei outro, disparando pequenas rajadas por cima da cabeça, que continuava “colada ao solo”. Ao pegar no 3.º carregador, o tiroteio IN parou abruptamente, quando vislumbro um turra no meio da vegetação que se levantou, e assim mesmo levou uma rajada minha que o “tombou” logo ali, depois uma gritaria infernal, por parte deles, e eu, sozinho com um militar ao meu lado, berrei para o mesmo: "Vamos, ou morremos aqui".

Ele gatinhou à minha frente, passámos pelo cadáver do cabo Neves [José Inácio Neves, natural de Alcobaça] e seguimos para o rio, em direcção ao quartel, sempre a olhar para trás a ver se algum IN nos mirava para nos abater. Larguei cinturão, com a ração de combate e os restantes carregadores, para melhor correr, fugindo da morte certa, levando apenas a G-3 sem carregador nem munições.

Chegado ao quartel, sozinho, o meu corpo colapsou, e todos pensaram que eu morrera ali mesmo.  Fui recolhido por camaradas daquele inferno, tão aterrorizados como eu, e descansei um pouco, bebi água sofregamente, sem saber ao certo quantos morreram.

De seguida, saíram paraquedistas [da CCP 122, um Gr Comb, comandado pelo alf paraquedista Francisco Santos]  e foram ao local (a 1200 metros) da emboscada, onde encontraram aquela cena traumatizante, derivado ao que os turras fizeram aos meus camaradas, que me dispenso de pormenorizar aqui, tal o horror.

Quando regressaram, eu quis ver os meus camaradas, que estavam numa Berliet, e não me deixaram. Peguei numa G-3, meti bala na câmara e berrei: “Ou vejo, ou varro esta merda toda”!... Claro que vi, e essa imagem persegue-me ainda hoje, como fantasmas do passado!

Passados uns dias, noutro bombardeamento, fui ferido, e evacuado pelos fuzos até à [LFG] Orion, para Cacine. No entanto, quando fiquei bom, ofereci-me para ir outra vez para o holocausto, onde os meus camaradas morriam.

Andei 20 anos sem sequer mencionar que andei na guerra, ainda que militar da GNR BT [, Brigada de Trânsito da Guarda Nacional Republicana].

Hoje, falo abertamente, sofro em silêncio e não só. A minha esposa encontra-me por vezes a chorar convulsivamente e já não diz nada: Ela sabe...

Décadas se passaram, e numa simples conversa, descobri quem era o herói que ao meu lado disparou até ao último segundo (o tal da decisão de viver... ou morrer): era o soldado Borges, da CCAV 8350 "Piratas de Guileje", o qual abracei chorando e soluçando, revivendo aquele tormento.

Por isso, agora, quem me vê, nas comezainas, convívios, com alegria: e a disparar sorrisos para todo o lado, lembre-se, é um hino à Vida e uma forma de esconjurar os fantasmas do passado. (**)

José Casimiro Carvalho
ex fur mil Op Esp

PS - Nunca poderei esquecer a LFG Orion, seus marinheiros, os fuzileiros, que desobedeceram ao Gen Spínola e acorreram aos militares que morreriam sem o seu socorro.

Os Paraquedistas... nem tenho mais adjectivos: os meus heróis.

Um excerto de "A Guerra": Episódio n.º 10 [Episódio 10 de 18]

Em Gadamael, no sul da Guiné, poderia ter ocorrido um grande desastre militar. Perante ataques do PAIGC, quase toda a guarnição se refugiou no rio, ficando um pequeno grupo a defender o quartel. Spínola ameaça afundar um bote com militares em fuga. Também proíbe o socorro dos náufragos, grande parte civis, mas a Marinha e os Fuzileiros não cumprem a ordem.


3. Comentários:

(i) Francisco Godinho [ex-Fur Mil da CCAÇ 2753, "Os Barões do K3)", Madina Fula, Bironque, K3 e Mansabá, 1970/72; é natural de Moura, vive no Seixal]

Não queria voltar a este assunto, nem de "evocar memórias passadas e tristes" e que não quero que voltem a ocorrer na história presente e futura deste País, que é o meu e o vosso, agora que, parece, está "cimentada" a liberdade e a democracia, (às vezes, fico em alerta, mas enfim) neste nosso rectângulozinho, à beira-mar plantado.

Mas, como conheço o assunto, o protagonista e actor principal, o José Casimiro Carvalho, que faço questão e tenho o orgulho em ter como camarada de armas e amigo, e como também, ainda, tenho pesadelos, ainda que não tão intensos como os dele, dada a dimensão dos acontecimentos que ele, o Casimiro, viveu. (Eu terei outros, talvez não tanto dramáticos, mas igualmente marcantes do ponto de vista psico-social-emocional).

Mas, para que a memória dos portugueses/portuguesas, não se apague, não se deixe embalar em "cantilenas", e também porque, de vez em quando, (como ele muito bem diz) é preciso "exorcizar os nossos fantasmas", aqui vos deixo, para reflexão e "amadurecimento de memória", este pungente "relato real" de uma situação vivida por um jovem (tal como eu, na altura) soldado (, somos todos soldados, naqueles momentos) do Exército Português.

Repito, não para nos olharem como heróis, mas para, ao menos nos respeitarem e, principalmente, não esquecerem os sacrifícios e os "custos" que esta democracia, digamos, "impôs", para existir. 

Um abraço tamanho do mundo, José Casimiro Carvalho, e até ao próximo encontro da nossa Tabanca Grande.


(ii) Manuel  [Augusto]  Reis [ex-Alf Mil da CCAV 8350, (Guileje, Gadamael, Cumeré, Quinhamel, Cumbijã e Colibuia, 1972/74; vive em Aveiro]:

Fui testemunha "in loco" de tudo o que relata o José Casimiro. Foi de uma violência tremenda essa emboscada e foram bravos esses homens que foram obrigados a efectuar esse patrulhamento. Eram 11 homens, mal equipados e mal armados, que partiram do aquartelamento sob os berros e ameaças do comandante de companhia.

Não calei a minha revolta e indignação pelo sucedido, o que me valeu uma despromoção de 2.º comandante, o que para mim constituiu um prémio. Acabei por ser massacrado com tentativas de aliciamento para depor num determinado sentido, caso fosse aberto um inquérito.

Permanece viva a imagem do alf Branco, chegado há dois dias à companhia e, na hora da partida, olhou para mim, incrédulo, como que a perguntar o que devia fazer. Nada disse, mas apeteceu-me gritar: Não vás! Coube-me a mim partilhar este sofrimento e dor imensa com a pobre mãe. Não gosto de recordar esta situação, mas o José Carvalho merece uma palavra amiga pela sua abnegação e doação ao próximo. Sem a sua bravura ninguém regressaria do mato. Bem hajas. [****)


 (iii) Tabanca Grande / Luís Graça:

O alf mil art Artur José de Sousa Branco, da CCAV 8350, foi morto em combate, em Gadamael, em 4/6/73. Era natural de Lisboa, e está sepultado no cemitério do Alto de São João.

Recorde-se que na tarde de 4 de junho de 1973, em Gadamael, o alf mil Branco sai com um reduzido grupo de combate (12 homens) para fazer um reconhecimento nas imediações do aquartelamento, na antiga pista, a cerca de 1 km do arame farpado. O grupo cai de imediato numa emboscada e só não foi totalmente aniquilado graças à pronta intervenção das tropas paraquedistas (CCP 122/BCP 12, acabada de chegar a Gadamael, na manhã de 3 de junho, sob o comando do cap paraquedista Terras Marques).

Um pelotão, sob o comando do alf paraquedista Francisco Santos, da CCP 122, vai em socorro do grupo do alf mil Branco e ainda consegue resgatar os corpos e os sobreviventes. "Os cadáveres tinham sido selvaticamente baleados, ainda estavam quentes e os fatos empapados de sangue" (José Moura Calheiros - A última missão, 1.ª ed. Caminhos Romanos: Lisboa, 2010, pp. 527/528).

Além do alf mil Artur José de Sousa Branco, morreram nesta ação os seguintes camaradas, todos eles sold cav da CCAV 8350 (entre parênteses, o concelho da sua naturalidade): António Mendonça Carvalho Serafim (Cartaxo); Fernando Alberto Reis Anselmo (Macedo de Cavaleiros); Joaquim Travessa Martins Faustino (Santarém); José Inácio Neves (Alcobaça).
____________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 1 de março de 2009 > Guiné 63/74 - P3954: Dossiê Guileje / Gadamael 1973 (6): A posição, mais difícil do que a minha, do Cap Cmd Ferreira da Silva (João Seabra)

(**) Vd. postes de:

15 de junho de 2006 > Guiné 63/74 - P878: Antologia (42): Os heróis desconhecidos de Gadamael (Parte I) (Luís Graça)



(***) Último poste da série > 14 de novembro de 2017 > uiné 61/74 - P17971: (De) Caras (100): Saia uma sandocha de "cabrito pé de rocha, manga di sabe" (Vitor Junqueira, ex-alf mil, CCAÇ 2753, Madina Fula, Bironque, Saliquinhedim / K3, Mansabá, 1970/72; médico reformado, Pombal)

(***) Vd. poste de  2 de dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - P310: No corredor da morte (CCAV 8350, Guileje e Gadamael, 1972/73)

(...) "Nas reuniões anuais da nossa Companhia muitos falam dos actos de bravura deste furriel, desde, debaixo de fogo, conduzindo uma Berliet se deslocar aos paióis para municiar não só as bocas de fogo de artilharia, como para os morteiros, fazer ainda parte duma patrulha onde morreram vários militares ficando ele e outro a aguentar a situação, até serem socorridos, e ter sido ferido, evacuado para Cacine, o que não invalidou que passados poucos dias se tenha oferecido para voltar para junto dos camaradas no verdadeiro inferno em Gadamael. (...)

Vd. também poste de  17 de maio de 2016 > Guiné 63/74 - P16099: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (37): O nosso Blogue e a sua importância (Manuel Augusto Reis, ex-Alf Mil da CCAV 8350)

terça-feira, 17 de maio de 2016

Guiné 63/74 - P16099: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (37): O nosso Blogue e a sua importância (Manuel Augusto Reis, ex-Alf Mil da CCAV 8350)

1. Mensagem do nosso camarada Manuel Reis (ex-Alf Mil da CCAV 8350, (Guileje, Gadamael, Cumeré, Quinhamel, Cumbijã e Colibuia, 1972/74), com data de hoje, 17 de Maio de 2016, subordinada ao tema, O nosso blogue como fonte de informação:


O BLOGUE E A SUA IMPORTÂNCIA

Caros Editores
Amigos e camaradas,

Há perto de um mês, um professor de História da Escola Secundária de Moncorvo, Armando Gonçalves, solicitou ao Blogue a sua colaboração para que pudesse concluir a sua pesquisa sobre as condições que envolveram a morte do Alf Mil Lourenço da CCAV 8350, falecido na Guiné em 5 de Março de 197373(1).

Este caso englobava-se num projecto mais amplo, respeitante a todos os ex-combatentes de Moncorvo, falecidos nas ex-províncias ultramarinas e nascidos no concelho de Moncorvo. Como se depreende a sua tarefa não foi fácil. O conhecimento das datas de nascimento, filiação, localização dos cemitérios onde se encontram os corpos e a localização de familiares ainda vivos exigiu muito tempo e perspicácia ao Armando. Os locais e as circunstâncias em que morreram foram talvez o trabalho mais complicado. A singela homenagem aos ex-combatentes mortos ser-lhes-à prestada com a colaboração da Câmara Municipal, em data oportuna.

Quero deixar aqui duas notas: O meu apreço e gratidão pela dedicação do Armando a ex-combatentes, nossos camaradas e amigos. Não basta dizer que houve uma guerra e como em todas as guerras há mortos, feridos e estropiados. É redutora esta visão. Há algo mais para além disso. O meu apreço pela pronta, rápida e eficaz colaboração do Blogue, que acabou por me envolver neste processo e me sensibilizou para avançar na localização da campa do Alf. Lourenço e da da sua família.

Em pouco tempo se reuniram a maior parte dos elementos que o nosso amigo Armando precisava com a ajuda preciosa do Alf. Gonçalves, outro dos Alferes da CCAV 8350, que vive em Almada e não via há imensos anos. Localizámos a campa do Alf. Lourenço e dois dos seus primos ainda vivos.

Prestar uma singela homenagem, junto da campa do Lourenço, no Monte da Caparica, conversar com o Gonçalves e conhecer uma prima do Lourenço era uma razão forte para me deslocar ao Monte da Caparica, o que fiz logo que se deparou uma oportunidade. Foi um encontro emotivo e gratificante.
Durante o almoço recordámos vários amigos, várias situações e alguns episódios. Recordámos a morte dramática do Alf. Branco, em Gadamael, que foi substituir o Alf. Lourenço e que poucas horas permaneceu entre nós.


Guiné > Região de Tombali > Gadamael > Vista aérea de Gadamael Porto nos finais do ano de 1971. 

Foto: © António Carlos Morais da Silva, Coronel Art Ref.

Assisti, revoltado, na vala, à sua partida para o patrulhamento, desnecessário e sem sentido. Já não o vi regressar.

Ainda hoje dói ao reviver o filme deste episódio. Não é minha intenção responsabilizar ou julgar alguém, o meu relato é factual.

No dia 31 de Maio de 1973 o Coronel Durão ordena-me para fazer um patrulhamento a Ganturé, da parte da tarde. A meio do percurso, perto das 15 horas, rebenta o ataque do PAIGC e ouvem-se as granadas a sibilar por cima das nossas cabeças. Chego ao local e constato que estou a 100 metros de uma boca de fogo do PAIGC. Solicito o regresso ao aquartelamento, conforme combinado, mas é-me negado, e só no dia seguinte de manhã regresso sem autorização superior, por não me ter sido possível estabelecer qualquer contacto, via rádio, com Gadamael. Entro no aquartelamento pelas 11 horas da manhã do dia 1 de Junho.

No aquartelamento sou informado pelo Alf. Seabra de toda a situação. Houve imensos mortos e feridos e não restavam mais de 30 homens, dispersos nas valas. Tinha havido uma fuga desordenada no dia 1 de manhã. Uns conseguiram chegar a Cacine e outros refugiaram-se nas imediações do aquartelamento, onde se sentiam mais seguros do que dentro do aquartelamento. E ainda outros que morriam na travessia do rio.

No dia 1 de Junho, da parte da tarde, o abrigo das transmissões é atingido e são feridos os dois comandantes de Companhia, que acabam por ser evacuados pelos fuzileiros estacionados em Cacine. Poucas horas depois chegam os dois novos Comandantes de Companhia e o Alf. Branco, em substituição do Alf. Lourenço. O novo Comandante da CCAV 8350 teve connosco uma breve conversa, para se inteirar da situação. No dia 2 de Junho ordena um patrulhamento ao Alf. Branco para a zona do antigo heliporto localizado nas imediações do cais. O Alf. Branco não tem homens e caso os tivesse não os conhecia e percorre, vala a vala, a perguntar quem pertencia ao 4.º grupo. Não encontrou ninguém.

Acabou por sair no dia 3, sob pressão do Comandante de Companhia, com 11 homens, voluntários e mal armados. Perante o desespero do Alf. Branco, ainda cheguei a saltar da vala para os acompanhar, mas a protecção divina e percepção da minha inutilidade, aconselhou-me a não o fazer. Mal entrou na mata o pequeno grupo foi fortemente atacado pelos militares do PAIGC, instalados em valas, em missão de protecção avançada aos camaradas estrategicamente colocados no cimo das árvores, para orientar o fogo. Isto acontece a menos de 100 metros do arame fardado. Registaram-se 5 mortos e 1 ferido grave, sendo recolhidos pela Companhia de Paraquedistas 122, recém-chegados.

No ar pairava um misto de dor e revolta. A noite era de breu, alguns comentários ecoaram e  o Comandante de Companhia acabou por exercer algumas represálias sobre mim e sobre o capitão Catarino, ex-adjunto do Major Coutinho e Lima, que também tinha presenciado a saída do reduzido grupo de combate.

Gadamael foi mau demais e só não se transformou num enorme cemitério, devido ao apoio relativamente rápido das três Companhias de Paraquedistas que a partir do dia 3 de Junho passaram a operar em rotatividade.

Recordo algumas palavras escritas na altura.

GADAMAEL-PORTO EU TE AMO, EU TE ODEIO

Na vala recordo os dias alegres da infância, 
os tempos da boémia coimbrã e a ti, Catarina.
Chove, troveja.
Não, não é um trovão, alerta o João.
Deito-me na vala, o mundo parece desabar.
Outra saída, outra e mais outra....
Ouço gemidos. 
O João calara-se para sempre.
É manhã. Ai o café quente de Bissau!....
Os rebentamentos não param. 
Abdulai, nosso guia de Guileje, 
chora os nossos mortos com palavras sentidas e comoventes.
Na vala refilo, 
protesto com palavras obscenas contra tudo e contra todos.
Abdulai, o nosso guia, o nosso amigo,
 morreu.

Um abraço amigo,
Manuel Reis
____________

Notas do editor

(1) Mensagem de Armando Gonçalves com data de 22 de Março de 2016:

Assunto: Victor Paulo Vasconcelos Lourenço

Boa noite, 
Sou professor da Escola Dr. Ramiro Salgado de Torre de Moncorvo. 
Uma das iniciativas para o 25 de Abril na nossa escola é lembrar os soldados mortos no Ultramar. 
Tenho procurado na Internet informação de todos os nossos conterrâneos caídos, pelo facto encontrei o vosso Blogue e o texto de Hélder Sousa, Fur Mil Transmissões TSF (Piche e Bissau e 1970/72) sobre o Alferes Victor Paulo Vasconcelos Lourenço que muito me sensibilizou. Naturalmente, gostaria de apresentar este texto à comunidade, pois poucos conhecerão este episódio. Além de que seria uma homenagem devida. 
Por este motivo procuro que o autor do texto Hélder Sousa possa compartilhá-lo connosco, com a devida autorização. 

Grato pela atenção que possam dar ao exposto, 
Atenciosamente, 
Armando Manuel Lopes Gonçalves.

Último poste da série de 25 de março de 2016 Guiné 63/74 - P15900: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (36): quantos quilómetros terá feito, em 9 dias, o valente soldado José António Almeida Rodrigues, na sua fuga, desde o local onde era mantido em cativeiro, na região do Boé, até ao seu porto de salvação, no Saltinho?

terça-feira, 26 de janeiro de 2016

Guiné 63/74 - P15671: Caderno de Memórias de A. Murta, ex-Alf Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4513 (35): De 11 a 30 de Junho de 1974

1. Em mensagem do dia 23 de Janeiro de 2016,  o nosso camarada António Murta, ex-Alf Mil Inf.ª Minas e Armadilhas da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4513 (Aldeia Formosa, Nhala e Buba, 1973/74), enviou-nos mais uma Memória, a 35.ª.


CADERNO DE MEMÓRIAS
A. MURTA – GUINÉ, 1973-74

35 - De 11 a 30 de Junho de 1974

Da História da Unidade do BCAÇ 4513: 

JUN74/11 – Prosseguem a bom ritmo os trabalhos de Engenharia nas estradas de A. FORMOSA-BUBA, e A. FORMOSA-R. CORUBAL.

- Em virtude de os trabalhos na estrada A. FORMOSA-BUBA estarem quase concluídos, os Grupos de Combate das CCAV 8350 e CART 6250, que estavam de reforço à 2.ª CCAÇ/4513, recolheram às respectivas Companhias. [Só a partir desta data começámos a sentir algum desafogo em Nhala. Era demasiada tropa ali concentrada].

- (...). 2.º Comandante deslocou-se a Nhala.

- Marchou para Bissau, a fim de se apresentar no QG/CTIG, o CAP BRAGA DA CRUZ.

[O “Caso Braga da Cruz” tinha eclodido pouco tempo antes. Encerrava-se agora o último capítulo de uma história lamentável, com efeitos nefastos na Companhia. Por respeito à memória do Capitão e recato de todos os elementos da Companhia, não abordarei aqui o enredo que levou à sua saída de Nhala e ao fim prematuro da sua Comissão. Acrescentaria apenas que este desfecho nada teve a ver com euforias justiceiras ou revolucionárias por se ter dado o 25 de Abril. O “caso” só podia terminar como terminou, quer se tivesse dado antes ou depois do 25 de Abril].


Das minhas memórias: 

13 de Junho de 1974 (quinta-feira) – Notícia de uma ameaça terrível. Que já se esfumara... 

A nota que se segue, de tão desconcertante e extemporânea, vale pelo contributo para a compreensão daquela época de incertezas e ansiedades, e pela amostra do que poderia ter sido a reviravolta decisiva da nossa supremacia militar a nível do Sector, se é que ainda tínhamos supremacia, ou mesmo de toda a zona Sul da Guiné, se não tivesse acontecido o 25 de Abril. Recordo que o Comandante de Companhia comunicou aos alferes a informação recebida que deveria ser apenas para si – e incinerada a seguir -, por não suportar sozinho o sufoco da revelação. Só não recordo a razão desta minha nota já em Junho, quando ela se deve reportar a uma ameaça anterior ao 25 de Abril, como se verá mais à frente. Também não recordo o nome do documento militar com a informação confidencial. Como seria de esperar, a HU não faz qualquer referência à mesma, mas só agora posso constatar isso. 

************

Informações e contra-informações [hoje não percebo esta qualificação] chegadas à Companhia dão conta da eventualidade de uma acção do PAIGC de grande envergadura, talvez definitiva para esta zona, através do isolamento por terra, ar e Rio Buba, seguido de acções ofensivas no terreno. Dá-se conta da minagem da estrada Buba-Nhala-Mampatá, minagem do Rio Buba [creio que seria inédito], e da instalação de enorme quantidade de bases para mísseis terra-ar, constituindo uma barreira no espaço aéreo entre Bissau e Aldeia Formosa. O objectivo do isolamento da zona e consequente quebra nos reabastecimentos de víveres e munições, é o desencadear de emboscadas, flagelações e ataques aos aquartelamentos. A ser assim, isto revelaria uma superioridade militar que, diz-se, incluiria meios aéreos há muito badalados e nunca confirmados. A informação em causa não refere esta eventualidade. Diz-se, apenas...

Diz-se ainda que foram todas estas informações que fizeram o General Spínola antecipar o 25 de Abril para evitar uma chacina na zona. [Hoje isto parece bizarro porque, como se sabe, - mas se ignorava na altura -, o General Spínola nunca esteve na génese do MFA nem do 25 de Abril, embora estivesse informado e, até ao derradeiro momento, sempre em contacto com o Movimento dos Capitães]. Não obstante a Revolução, eles (PAIGC) ameaçaram que virariam toda a sua actual força para este Sector se as conversações sobre a descolonização falhassem. [Seria o reactivar dos planos atrás referidos ou mera chantagem? Mas bizarra é também esta ameaça, a ter existido, pelo contraste entre o que emanava da cúpula do PAIGC e o que era dito no terreno pelos seus representantes, nomeadamente os comandantes militares e os comissários políticos, defensores do cessar-fogo tácito já em vigor].

A verdade é que se falou numa operação de transporte de bombas de Bissau para Aldeia Formosa para serem aqui armazenadas, bem como o estacionamento de alguns Fiat para obstar à tal barreira do espaço aéreo. (Nunca soube se se chegou a iniciar esta operação).

Mais tarde, o Comandante do Batalhão Ten Cor Carlos Ramalheira, em conversa com o responsável militar do PAIGC no Sector Sul, teve a confirmação de que as informações de que dispúnhamos sobre o plano estavam correctas. De facto, as nossas informações militares eram, normalmente, fiáveis.

Não obstante com alguns incidentes, reina agora a paz, mesmo antes dos acordos assinados.

[A História da Unidade revela, no descritivo da Situação Geral do período de 1 a 30 de Junho: “Após a interrupção das conversações de Argel, embora se viva um clima de paz, com um cessar-fogo tácito, continua-se na expectativa, especialmente pelo desenrolar dos acontecimentos que poderão levar à independência e ao regresso à Metrópole das Unidades”].

Mas já é quase impossível o regresso da guerra, tanto porque nalguns locais as nossas tropas já abandonaram as posições, como porque o PAIGC tem agora os seus Comissários Políticos espalhados pelo país a esclarecer as populações, neste momento ainda temerosas, e a evitar conflitos entre aqueles que aplaudem o Partido e aqueles que até agora o combatiam ao nosso lado e que são nada menos que 17 mil. Muitos destes homens, ao princípio, recusaram-se a entregar as armas e a aceitar a ideia de serem integrados na nova ordem quando os portugueses regressarem à Metrópole. Diziam que nos acompanhariam ou continuariam a lutar, incapazes de compreenderem a irreversibilidade da situação. Era de calcular esta atitude, depois de tantos anos a combater pela causa que lhes impingiram como justa, combatendo, sem o saberem, contra eles próprios, exceptuando os que o fizeram por convicção e fidelidade a valores e dependências ancestrais do colonizador.

[Relembro que estou a transcrever memórias com mais de quarenta anos. Mas, naquela altura, recordo, causava-me já algum incómodo pensar na situação dos militares africanos. Como se sentisse uma parte da culpa de terem sido utilizados e no fim descartados e esquecidos, na nossa euforia do regresso a casa. Imaginava-os desamparados e ostracizados pelos sectários revanchistas. Mas longe de imaginar o que se seguiria. Hoje digo sem pejo: foram enganados. Pior, foram traídos. Da parte das autoridades portuguesas pelo abandono ignóbil, sem que fossem expressas claras garantias de integração social, (não estou certo de que não fossem), salvaguarda de represálias, solução de saída do território param os que o desejassem, etc., etc. Da parte do PAIGC, para minha decepção e revolta, a atitude revanchista foi inominável, (para não ser grosseiro), pela sumária eliminação física dos muitos que se destacaram ao lado dos portugueses. Não sou ingénuo nem completamente ignorante para desconhecer que foi assim um pouco em todas as guerras, em todas as épocas e em todas as latitudes. Mas fui ingénuo ao ponto de acreditar que, estando perante um partido revolucionário moderno, civilizado e fundamentado em princípios sérios, (a sua origem e breve história a isso levava a crer), os seus dirigentes seriam o seu reflexo no futuro pacífico da Guiné, com a melhoria das condições de vida das populações e da modernização do país em geral. Que diria Amílcar Cabral de tudo isto? E das bolandas em que vive a Guiné-Bissau desde o fim da guerra? À sua memória faço a justiça de ficar na dúvida. Mas o respeito que lhe tinha era o mesmo que tinha pelo seu homólogo em Angola e foi o que se sabe. E o que se passou e ainda passa lá, não é exemplo para nenhum país civilizado, tal como a Guiné pós independência. Não era disto que falavam os Comissários Políticos, incansáveis no terreno a amaciar desconfianças naturais e a fazer passar a mensagem civilizada de um partido reconciliador e agregador da população guineense. Continuo a admirar e a respeitar uma gesta de guerrilheiros e guerrilheiras do PAIGC, alguns mártires, que conheci em muitas leituras após o fim da guerra, e que me enterneceram com a sua coragem, firmeza de convicções e entrega abnegada à sua luta. Mas isso não diminui a minha revolta. Retomo a transcrição interrompida].

Chegou a haver casos pontuais de rebelião e, neste Sector, o conflito esteve muito sério, fazendo-nos recear o momento da nossa partida, altura em que podíamos ser atacados por aqueles que haviam combatido ao nosso lado. [Referência à recusa em entregar as armas]. Agora já estão a aceitar os acontecimentos e os Comissários e Delegados Políticos do Partido andam livremente pelas “nossas” tabancas em diálogo com as populações e com a tropa.

Há dias estive em Mampatá com um desses delegados e ele mesmo me disse que está a tentar mentalizar as populações. E que, pela nossa parte, podíamos andar desarmados porque as armas já não eram precisas. Em Aldeia Formosa estiveram dois grupos de combate do PAIGC e os alferes que os comandavam encontraram-se com o nosso Comandante do Batalhão. [Pois... Que deve ter zurzido neles, por nos dizerem a nós que podíamos andar desarmados e eles ousarem aproximar-se das nossas Unidades completamente armados. Como se pode confirmar no seguimento da História da Unidade do meu Batalhão].


Da História da Unidade do BCAÇ 4513:

1974JUN/15 – Realizou-se em A. FORMOSA uma reunião com a população a pedido dos Comissários Políticos do PAIGC, em que além destes comissários também estiveram presentes o Comandante e 2.º Comandante do Batalhão. Esta reunião visava o esclarecimento da população quanto ao programa do PAIGC.

- Comandante deslocou-se a COLIBUIA.

1974JUN/16 – Pelas 14h30, um Soldado do Destacamento da CHAMARRA que se deslocava entre A. FORMOSA e CHAMARRA, foi contactado em região XITOLE 7 F 3.34, por um Grupo IN estimado em 40 elementos armados que o deixaram seguir para CHAMARRA.
Posteriormente, cerca das 15h30 foi comunicado a este Comando que esse mesmo GR IN tinha sido avistado relativamente perto do arame farpado de A. FORMOSA.
Contrariamente ao que se esperava o Comandante do GR IN não procurou contactar este Comando, presumindo-se que tenha retirado.

1974JUN/17 – (...).

- Todas as Subunidades continuam conforme directiva superior a executar patrulhamentos de defesa próxima dos estacionamentos.

- (...).

1974JUN/18 – Pelas 10h10 quando Comandante e 2.º Comandante se deslocavam num Jeep isolado e desarmados a visitar trabalhos na frente da estrada A. FORMOSA-BUBA, encontraram na região de UANE a cerca de 15 metros da estrada um Bigrupo do PAIGC armado. Pararam o Jeep, tendo alguns elementos do bigrupo nomeadamente o seu Comandante, aproximado do Jeep para cumprimentos.
O Comandante do Bigrupo, chamado TIJANE informou que viera do UNAL, cujo Comandante CAMARÁ determinara uma patrulha de reconhecimento à referida região.
Despedindo-se, retiraram presumindo-se que em direcção ao UNAL.

[Não recordo ter feito esta viagem no Jeep do Comandante do Batalhão. A lembrança que guardo, possivelmente de outra ocasião, é que seguíamos numa coluna e que à passagem pela zona do Carreiro de Uane o Comandante que ia, como sempre, na cabeça da coluna, a fez parar, por se encontrar próximo da estrada um grupo numeroso de guerrilheiros. O local, do lado direito da estrada, era uma pequena savana de boa visibilidade. Percebia-se que era um bigrupo numa fila perpendicular à estrada, alongada e disciplinada. Só os da frente se aproximaram do Comandante do Batalhão e depois de um diálogo de alguns minutos a coluna seguiu viagem na direcção de Mampatá. Era de supor que estivessem ali à espera há longo tempo. Quando o resto da coluna passou por eles não houve acenos, não houve cumprimentos. Tudo muito sóbrio e disciplinado].

1974JUN/19Terminaram os trabalhos de Engenharia na estrada A. FORMOSA-BUBA, pelo que foi enviada uma mensagem de felicitações ao Comandante do Dest N.º 2 e seu pessoal. [Sublinhado meu]

- Estiveram em A. FORMOSA O Exmo. Major do CEM, MAIA CORREIA acompanhado por JUVENCIANO, 2.º Secretário da Assembleia Popular do PAIGC.

(...).

[Abro aqui um parênteses na transcrição da H. U. para dar o merecido destaque à referência que dá conta da conclusão da estrada Aldeia Formosa-Buba nesta data. Trata-se de um eixo viário da maior importância, mesmo em tempo de paz, pois liga todo o interior ao porto fluvial de Buba, porta privilegiada de entrada e saída para mercadorias e pessoas. E, se é verdade que sempre assim fora, não é menos verdade que entre Buba e Aldeia Formosa (ou Quebo) se podiam levar várias horas de cansaços e percalços, sobretudo na época das chuvas, para não falar das temidas acções da guerrilha. Agora, em viatura, o novo trajecto pode ser cumprido em meia hora ou pouco mais, quer faça chuva ou faça sol. Mesmo para quem o faça de bicicleta ou a pé, é uma grande evolução para as populações locais. Tanto, que ao longo da estrada se foram fixando tabancas de enfiada, como é bem visível no Google Earth. 

Se esta estrada pudesse ter um nome, bem que podia – e devia – ser um tal, que homenageasse todos aqueles que, integrando os batalhões que nos antecederam neste chão, fizeram de cada viagem pela picada temerosa uma odisseia, muitas vezes lá perdendo companheiros.

Junto duas fotografias da estrada actual com um duplo significado: em baixo, viaturas atascadas na lama, lembrando-nos os baixios das velhas picadas, tantas vezes a barrarem-nos o caminho em emergências e perigos. Não haverá ninguém a que estas situações sejam estranhas; em cima e à esquerda a estrada nova, ainda não majestosa, mas maciça e recta, desimpedida de vistas e apta a grandes acelerações. Só tinha um problemazinho na data das fotografias: não estava acabada. Parece-me que ainda lhe faltava o tapete para depois ser alcatroada. O que ainda levaria muito tempo, devido à falta recorrente de alcatrão sobretudo nos últimos meses da obra. E isso obrigava-nos a circular na pista de terra batida lateral, com as consequências que se vêem. A obra agora concluída teve início na frente de A. Formosa em 27 de Outubro de 1973 e na frente de Buba no dia 30 do mesmo mês].


Fotos 1 e 2: 1974, Berliets com pessoal da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4513 de Nhala, atascadas junto à estrada nova, algures entre Nhala e Mampatá, quando se dirigiam para este aquartelamento.

[Prossigo com a História da Unidade].

1974JUN/21 – (...). Pelas 12h00, um Grupo do PAIGC constituído por 48 elementos armados, após contornarem o Destacamento de PATE EMBALO, estacionaram a cerca de 100 metros do arame farpado. Ao serem contactados pelo Comandante do Destacamento e por alguns elementos da população, declararam que a população poderia cultivar onde quisesse e que a guerra já tinha acabado. Cerca das 13h00 retiraram na direcção de KANSAMBEL.

(...).

1974JUN/25 – Pelas 09h00, foi detectado numeroso grupo do PAIGC a cerca de 500 metros do arame farpado do aquartelamento de MAMPATÁ. Este grupo estimado em 120 elementos armados e comandado por um tal INCENDA, depois de contactarem com elementos das NT e população de MAMPATÁ, regressaram novamente ao UNAL, donde tinham vindo.

- Foi deslocada para BUBA metade da CCAV 8351 que, conforme determinação do Comandante-Chefe é deslocada para BISSAU. [Saíam em paz, finalmente, rumo a Bissau e à Metrópole, os Tigres de Cumbijã, do Capitão Vasco da Gama].

1974JUN/26 – Pelas 10h00, Grupo do PAIGC oriundo do UNAL estimado em 50 elementos armados, chegou junto de MAMPATÁ, estacionando a cerca de 160 metros do arame farpado. Era comandado por MIGUEL GOMES, referenciado como Comandante das FAL de CUBISSECO de CIMA. Disseram mais uma vez que a guerra já tinha acabado e que estavam satisfeitos com o procedimento das NT. Cerca das 14h00, regressaram novamente ao UNAL.

- É deslocada para BUBA, a segunda parte e última da CCAV 8351.

- Dois Grupos de Combate da CCAV 8350, sediada em COLIBUIA, foram deslocados para CUMBIJÃ, a fim de guarnecer o respectivo Destacamento.

1974JUN/27 – Pelas 14h00, A. FORMOSA foi assolada por um tufão, de que resultaram vários prejuízos, especialmente nos telhados de alguns edifícios.

 1974JUN/29 – Pelas 14h00, GR PAIGC oriundo do UNAL e estimado em 56 elementos armados, chegou junto de CUMBIJÃ, estacionando a 50 metros do arame farpado. Era comandado por MIGUEL GOMES. Contactaram com um Oficial e praças dos Grupos de Combate sediados no CUMBIJÃ, a quem afirmaram que a guerra tinha acabado e que a população poderia ir cultivar para onde quisesse. Cerca das 15h30 iniciaram o movimento de regresso ao UNAL.

(...).

1974JUN/30 – Pelas 14h00, GR PAIGC oriundo do UNAL, voltou novamente à região do CUMBIJÃ, estacionando a cerca de 200 metros do arame farpado. Este grupo trouxe consigo alguns elementos da população sob seu controle que vieram confraternizar com as suas famílias que se encontravam sob nosso controle. Pelas 16h00, o referido grupo regressou ao UNAL.

- Todas as Subunidades do Sector continuam a realizar os seus patrulhamentos de defesa próxima dos estacionamentos.

- O PAIGC levou a cabo uma manifestação de apoio ao Partido. Esta manifestação constou de um circuito em viaturas cedidas pela BECE e DEST ENG N.º 1, percorrendo todas as povoações de A. FORMOSA, MAMPATÁ, COLIBUIA e CUMBIJÃ. Os manifestantes eram portadores de bandeiras do PAIGC e alguns cartazes com “slogans” de apoio ao Partido.

[Passariam também por Nhala, como se pode ver pelas fotografias que se seguem. A estas junto outras, registando momentos de contacto e convívio com elementos do PAIGC, todas elas facultadas pelo meu amigo e ex-camarada Fur Mil TRMS José Roque que me autorizou a publicá-las e a quem fico agradecido].


Foto 3 e 4: Guerrilheiros do PAIGC deslocando-se à vontade numa picada, provavelmente nas imediações de Nhala, em data que também não posso precisar.

Foto 5: Contacto de guerrilheiros do PAIGC com elementos das nossas tropas em local e data que não posso precisar.

Foto 6: Nhala, Junho de 1974 – Guerrilheiros do PAIGC em convívio com os nossos militares. Ao centro, de bigode, o Fur Mil Trms José Roque junto de um camarada que não recordo. No canto superior esquerdo, sorridente, o Fur Mil Joaquim Carrilho.

Foto 7: Nhala, Junho de 1974 – O Fur Mil Trms José Roque com guerrilheiros do PAIGC.

Foto 8: Nhala, Junho de 1974 – Caravana com manifestantes em apoio ao PAIGC, provavelmente no dia 30, em que percorreram várias localidades em viaturas cedidas pela Engenharia.

Foto 9: Nhala, Junho de 1974 – Outra viatura da Engenharia com manifestantes em apoio ao PAIGC. Repare-se no sujeito no canto inferior esquerdo: só ao editar a fotografia reparei no gesto elucidativo da sua mão direita. Sintomático...

(continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 19 de janeiro de 2016 Guiné 63/74 - P15640: Caderno de Memórias de A. Murta, ex-Alf Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4513 (34): De 1 a 10 de Junho de 1974