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domingo, 13 de setembro de 2009

Guiné 63/74 - P4946: Convívios (161): convívio da CCAÇ 2615, dia 12 de Setembro de 2009 em Fernão Ferro (Manuel Amaro)



1. O nosso Camarada Manuel Amaro foi Fur Mil Enf da CCAÇ 2615/BCAÇ 2892 que esteve em Nhacra, Aldeia Formosa e Nhala, nos anos de 1969 a 1971, e enviou-nos a seguinte mensagem em 12 de Setembro de 2009:


Camaradas,



Junto envio um texto e algumas fotos, sobre o convívio da minha CCAÇ 2615:

Realizou-se hoje, 12 de Setembro, no restaurante Flor da Mata, em Fernão Ferro, mais um convívio da CCAÇ 2615, comemorando o 38º aniversário da sua chegada a Lisboa, no regresso da comissão de serviço na Guiné.


A CCAÇ 2615 fazia parte do BCAÇ 2892, (TCOR Manuel Agostinho Ferreira, Major José Sampaio e Major Pezarat Correia) e chegou a Bissau em 28 de Outubro de 1969.

No regresso, embarcou em Bissau, 6 de Setembro de 1971.


O Comando e os Serviços do Batalhão estiveram sempre em Aldeia Formosa (actual Quebo).

A CCAÇ 2615 esteve em Nhacra, Aldeia Formosa e Nhala.












Foi seu Comandante o Cap Mil António Ramalho Pisco.

Mais uma vez se fez justiça ao lema da Companhia "POUCOS QUANTO FORTES".

O número de participantes vai reduzindo a cada ano, muito por culpa das vindimas, das festas de casamento e das férias no estrangeiro.


Pelo menos são essas as razões que os telemóveis nos fazem chegar.

Mas foi uma festa bonita, com cerca de uma centena de participantes, alegres e divertidos, embora com algumas saudades dos velhos tempos à mistura...

Como habitualmente foi guardado um minuto de silêncio, em memória dos quatro camaradas mortos em combate, bem como por todos aqueles têm “partido” ao longo destes 38 anos.

E no próximo ano lá estaremos, ali ou noutro lugar, porque somos...


"POUCOS QUANTO FORTES"

















Foto da esquerda: A equipa de saúde da CCAÇ 2615 - José Boita, Amadu Djaló Candé, Américo Vicente e Manuel Amaro. Foto da direita: Fur Mil Fernando Pereira, Cap Mil António Pisco e Soldado Nunes Pinto.

Um Abraço,
Manuel Amaro
Fur Mil Enf da CCAÇ 2615


Fotos: © Manuel Amaro (2009). Direitos reservados.
Emblema: © Carlos Coutinho (2009). Direitos reservados.

__________
Nota de MR:

Vd. último poste da série em:

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Guiné 63/74 - P4840: Parabéns a você (20): Manuel Amaro, ex-Fur Mil Enf da CCAÇ 2615/BCAÇ 2892 (Os Editores)

Hoje dia 20 de Agosto de 2009, completa mais um ano de vida, de muitos que ainda tem para viver, o nosso camarada Manuel Amaro.

Manuel Amaro (*) foi Fur Mil Enf da CCAÇ 2615/BCAÇ 2892 que esteve em Nhacra, Aldeia Formosa e Nhala nos anos de 1969 a 1971


Recordemos Manuel Amaro no dia 27 de Maio de 2008, quando se apresentou à tertúlia:

Caro Carlos Vinhal,
Tentando cumprir a praxe da Tabanca Grande, aqui vai o meu pedido de adesão a este grande clube de ex-combatentes.

Manuel Amaro, 62 anos, casado, Técnico Superior de Comunicação e Relações Públicas, aposentado, residente em Alfragide, Amadora.
Ex-Fur. Mil. Enfermeiro na CCAÇ 2615/BCAÇ 2892.
Nhacra-Aldeia Formosa-Nhala.

Cheguei à Guiné em 28 de Outubro de 1969 e a minha Companhia ficou uns tempos em Nhacra, enquanto a CCS foi de avião para Aldeia Formosa e as CCAÇ 2614 e 2616 foram de LDG para Buba. A 2614 fixou-se em Nhala.

No início de Dezembro, logo que a auto-estrada Buba-Aldeia, ficou transitável(?), (a velha, porque a nova nunca foi utilizada, como já foi aqui explicado por vários camaradas), fizemos a viagem Bissau-Bolama-Buba-Aldeia.

Maravilha... Assim que me instalei em Aldeia Formosa, abriu concurso para Professor do Posto Escolar Militar. Concorri e ganhei.

Professor, a tempo inteiro. Mas com o meu espírito de escuteiro, logo inventei forma de praticar a enfermagem, auxiliando a população das pequenas tabancas e praticando a minha boa acção, quase diária. Para isso contei com a colaboração do Cabo Enfermeiro Torres, da CART 2521 e do Furriel da Psico, (hoje Deputado, na AR), que me emprestava a viatura e o motorista.

Desde meados de 1969 até 20 da Março de 1970, Aldeia Formosa era assim como um campo de férias. Mas como não há bem que sempre dure, começou a porrada, a sério.

Mudança de Comandante. Nova política. Um enfermeiro como professor? Nem pensar. A partir de 6 de Maio vai para o mato.
E o Enfermeiro, este mesmo, foi.

De 6 de Maio a 23 de Junho, foram 11 seguidas, entre colunas a Buba, operações, saídas de rotina, essas tretas da guerra.

Mas o destino, a estrelinha estava comigo e não com o Comandante. Aldeia Formosa continuou e eu fui para Buba, substituir o médico, que partiu para férias. Outra Maravilha... Só voltei a Aldeia Formosa em trânsito pois após as minhas férias a CCAÇ 2615 trocou com a 2614 e fomos fazer o segundo ano da comissão em Nhala.

Nhala, que creio que já não existe, (segundo o Daniel Reis do Expresso), era mesmo um fim de mundo. Uma Companhia mais um Pelotão e cerca de 200 civis. Tirando a passagem das colunas Aldeia-Buba-Aldeia, ali nada mais acontecia. Nem amigos, nem inimigos. Mais uma vez a Escola e a Enfermaria.

Muitas horas de trabalho, mas também a possibilidade de sentir o prazer de trabalhar. O prazer de me sentir útil, solidário. E chegamos a Agosto de 1971.

Metade da Companhia segue para Bissau. Aguardar embarque. Eu fico com o último grupo. Quase sem dar por isso, um dia ao jantar digo para os camaradas de mesa: amanhã faço 26 anos. A reacção foi em coro. Temos que fazer uma festa. Fizemos. Dois leitões, uma grade de Casal Garcia, um frigorífico de cerveja, não sei quantas garrafas de scotch. Bebedeiras? Claro. E a meia-companhia de piriquitos que já lá estava, reagiu mal.

Mas tudo acabou bem. Foi quase uma directa, Nhala-Bissau-Uige-Lisboa.

Além dos quase dois anos de Guiné, o Glorioso Exército Português levou-me tanto tempo... que passados todos estes anos ainda não sei o porquê de tudo o que aconteceu desde a minha primeira entrada na porta de armas, em 17 de Abril de 1967. Foram 54 meses. Fardado... Só fiz uma vez Sargento de Dia, mas ainda hoje, quando vejo um refeitório grande, apetece-me gritar... Vossa Senhoria meu Capitão, dá-me licença... A Companhia da Formação está pronta... E só não grito, porque sei que não está lá alguém para... bater os calcanhares, responder à continência e dizer... Pode mandar entrar...

Um dia destes, qualquer dia, podemos falar mais sobre tudo isto...

Um Abraço
Manuel Amaro



Caro Manuel Amaro

Os editores e a tertúlia toda desejam-te um bonito dia de aniversário, com muita alegria, junto dos teus familiares e amigos, marcando desde já encontro para daqui a um ano.
__________

Notas de CV:

(*) Sobre Manuel Amaro vd. postes de:

29 de Maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2895: Tabanca Grande (72): Manuel Amaro, ex-Fur Mil Enf da CCAÇ 2615/BCAÇ 2895 (Nhacra, Aldeia Formosa e Nhala, 1969/71)

22 de Setembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3223: Convívios (85): Pessoal da CCAÇ 2615, no dia 18 de Setembro de 2008 em Benavente (Manuel Amaro)

18 de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3331: O meu baptismo de fogo (12): Aldeia Formosa, 23 de Abril de 1970: realiza-se a premonição de um furriel enfermeiro (Manuel Amaro)

28 de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3374: Controvérsias (8): Cherno Rachide Djaló: um agente duplo ? ( José Teixeira / Manuel Amaro / Torcato Mendonça)

9 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3427: Em bom português nos entendemos (5): Estórias com história... ou deixem-se de estórias / histórias...

29 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4094: Bandos... A frase, no mínimo infeliz, de um general (5): Não esperava ouvir tal coisa (Manuel Amaro)

Vd. último poste da série de > 19 de Agosto de 2009 > Guiné 63/74 - P4834: Parabéns a você (19): Mário Vicente Fitas Ralheta, ex-Fur Mil Op Especiais da CCAÇ 763 (Os Editores)

domingo, 9 de novembro de 2008

Guiné 63/74 - P3427: Em bom português nos entendemos (5): Estórias com história... ou deixem-se de estórias / histórias... (Manuel Amaro / Jorge Cabral / Jorge Teixeira-Portojo / Torcato Mendonça / J. M. Matos Dinis / J. L. Mendes Gomes / Luís Graça)

Blogcomentários sobre o tópico história e/ou estória, a que se refere o Poste P3417 (*):


(i) Manuel Amaro

Meu caro Luís Graça:

Eu nunca escrevi a palavra estória, a não ser em situações como esta, em que acabo de escrever estória.

No entanto, fui convencido, em Junho de 1980, pelo meu amigo Fernando Assis Pacheco, jornalista e escritor, já falecido, que o uso da palavra estória em nada diminuía a história, desde que cada uma fosse colocada no seu "galho". Aceitei, aceito, já votei no blogue, pela continuidade das estórias.

Por outro lado, há dias, ao seleccionar o título para um livro de poesia, optei por "histórias contadas em verso" em vez de "estórias contadas em verso".

Concluindo, acho que é um pouco como os "piercings" ou os brincos, ou o cabelo em "crista de galo"... eu não uso, mas não vejo qualquer inconveniente em que se use...

Mais, creio que o Camões ou o Pessoa, não devem ser chamados para esta questão.
Quem sabe, um dia destes, ainda vou escrever umas estórias para o blogue.

Um Abraço

Manuel Amaro


(ii) Jorge Cabral

Amigo!

Por mim conto estórias.. Quanto ao Pulo Genético...claro, sempre me achei com cara de Mamadu..
Abraço Grande. Jorge


(iii) Henrique Matos

Concordando plenamente com o que o Luís escreveu, só me resta dizer: Se as "estórias cabralianas" fossem história não tinham o mesmo sabor.

Abraços
Henrique Matos


(iv) Jorge Teixeira (Portojo)

Sobre a "estória": Li esta palavra a primeira vez no Jornal A Bola há muitos anos, numa crónica do saudoso Carlos Pinhão, creio que na última página da edição de sábado,-nessa altura o Jornal publicava-se tri-semanalmente no espaço A Duas Colunas.

Como nessa época, os jornalistas, além de saborosas crónicas que nos davam a ler, sabiam imenso da nossa língua. Carlos Pinhão fazia parte da regra. Por isso estranhei aquela palavra. Dias depois li a explicação porque se escrevia "estória" e não história.

Li agora, aqui num comentário, exactamente a mesma descrição da palavra. Por isso, votei a favor da sua manutenção, desde que devidamente correcto o seu sentido. Mas isso depende de cada um de nós.

Um abraço para toda a Tabanca.
Jorge Portojo

(v) Torcato Mendonça

Escrevi uma Declaração de Voto. As pressas dão em vagares e a dita foi-se. Concordo com o Comentário ao Post (ou Poste) sado no blog (ou Blogue????´).

Não me alongo mais: ALINHO LETRAS QUE SÃO ESTÓRIAS E NUNCA ESCREVO HISTÓRIA OU SOBRE ELA.Era ser vaidoso e não sei escrever...

Abraços
Torcato

(vi) José Dinis

Obrigado, Luis Graça, pela investigação sobre o étimo e a tradição do vocábulo "estória". Por outro lado, a língua como forma de expressão, é dinâmica, evolutiva, muito embora se façam distinções entre a linguagem popular e a erudita, dos cultos, e a escrita vai-se ajustando.

No texto que ontem enviei, fiz referência a jogos de futebol, e a estórias concomitantes. Estórias marginais , sem qualquer interesse para o grande estudo que se possa fazer da guerra colonial, que apenas servem para ilustrar pedaços da permanência das NT, sem a ambição, ou glória, de fazer história. Ao contrário, o acidente aéreo que vitimou P.P.Leite, esse é histórico, pois influenciou o desenrolar político da nação.Eis o meu ponto de vista, pois falta-me o necessário conhecimento científico para afirmar convictamente.

Um abraço

José Dinis

(vii) Joaquim Luís Monteiro Mendes Gomes


Eu cá não gosto de ser como o caraguejo. O caminho é para a frente. Se "estória" já valeu no linguajar da sua época, remota, e se por evolução fonética passou para a forma actual de " história" então fixemo-nos na forma actual. De contrário é recuar...

O facto de Mia Couto, Luandino Vieira a terem usado nos seus escritos, é lá com eles...A língua não pode andar ao sabor dos caprichos de cada qual. A língua é um código de comunicação entre as pessoas que a perfilham. No qua está nos códigos só se pode alterar pelos órgãos competentes e com deliberação muito qualificada.Se não vamos voltar a dizer que "pluviou" em vez de "choveu"... Água...já há demais.

Um abraço para todos, especialmente para quem discordar do meu ponto de vista.

Joaquim Mendes Gomes



(viii) António Matos



Depois de tanto ler àcerca da polémica, não tive outro remédio senão enfiar o capacete e assim me proteger de alguma roquetada pela opinião que transmitirei.
Eu uso os 2 grafismos e dou-lhes significados diferentes.

Estou perante as chamadas palavras homonímicas (a homonímia é definida como a propriedade semântica característica de duas unidades lexicais que partilham a mesma pronúncia, mas que conservam significados distintos).

Cá para mim o léxico "história" reflecte o conjunto das estórias;
Um conjunto de histórias nunca vai dar a uma estória.

E esta, hem ?

António Matos

(ix) De novo o Torcato Mendonças

Assunto - Que raio de estória!

Meus Caríssimos Editores:

Não gosto e, menos ainda fazer, a outros, perder TEMPO. Não gosto muito de "purismos"; "fundamentalismos" e outros "ismos". Não gosto de sondagens.
Razões, agora não! Fiquei com a história e a estória atravessadas... isso não é aceitável para mim... feitios...

Logo no primeiro dia lembrei-me de ter lido, escrito por um antigo Professor de uma Faculdade Estatal, um livro, uns escritos... Preguicei e não fui procurar. Mas remoía comigo, dava-me a volta, abria o blog ou blogue e lia...logo á esquerda...e disse: vai procurar, já!

Depois, parei e disse: mas aí, na tua frente nesse portátil tens informação suficiente. Perante isso teclei "Urbano Tavares Rodrigues". Facilmente, com uma simples tecla: O Senhor Professor escreveu em 1977 Estórias Alentejanas.

Obviamente nada mais digo sobre o Homem e o Escritor. Acrescento só: (de outra fonte de informação):

(a) Estória, s.f. - arcaísmo que se procura revitalizar para, em contraste com história (baseada em documentos), significar narrativa de ficção;

(b) Estória, s.f.- história de carácter ficcional ou popular; conto, narração curta.

Perder mais tempo? Eu "escrevo" estórias de Mansambo; do José; Pensar em Voz Alta, Fotos Falantes ( textos de suporte a fotografias da minha passagem pela Guiné - uma foto são mais que mil palavras...); Bloterapia, em escape à "bolha" que me acompanha e, de quando em vez "pluff". Ou outros escritos que nada têm a ver com esta Tertúlia (também não gosto de Tabanca Grande)...

Não vou procurar, devido ao fim-de-semana, quem, de pronto, rindo ou sorrindo, me informaria.

Abraços ou tri-abraços do Torcato (ou Torquato?) ou do José.

Escrevo estórias e escritos afins...são a minha verdade, a minha visão de acontecimentos passados mas que eu sinto serem verdadeiros! Escrevo outros escritos, relatórios e por aí fora, suportados por documentos e saberes adquiridos...também não são histórias ou estórias...mas custam muito €€€€...

Abraços



(x) Luís Graça


Caros amigos e camaradas da Guiné: Se fizerem uma pesquisa no Google, verificam que a expressão "Deixem-de histórias" (com aspas) ganha, por 264 contra 34, à expressão "Deixem-se de estórias"... O Google é democrático... Será ?

Em contrapartida encontrei apenas 13 referências às "estórias cabralianas"!!! Não é muito, mas também não é mau, para um escritor ordinário (no sentido em que ainda não é extra)... Fico simultaneamente feliz, por ele (que eu admiro e que faz o favor de ser meu amigo). Mas fico também intrigado... Eu, pela minha parte, já lhe publiquei, no nosso blogue, meia centena das ditas cujas... E não tenciono ser linguisticamente correcto, no sentido de substituir vir a substituir estórias por histórias...

Estou como o Henrique Matos, não imagino o Jorge a escrever "histórias cabralianas"... Mas também sei que um dia hei-de apresentar o livro dele e começarei justamente com as seguintes palavras:
- Estas são estórias com história...

Quanto às histórias de Mansambo, meu caro Torcato, a culpa é tua e minha, por que fomso nós que as ba(p)tizámos:

"Início de mais uma série de estórias do Torcato Mendonça que foi Alf Mil da CART 2339, Mansambo, 1968/69. Vamos chamar-lhe estórias de Mansambo, aquartelamento construído heroicamente, de raíz, pelo pessoal da CART 2339" (LG).

"Começo então pela… Dança dos Capitães. Uso as iniciais dos nomes. O nome completo será enviado ao Luís Graça, no fim de cada estória. Não é medo. Creio que muitos estão vivos e, devido a um texto recente, achei preferível fazer assim. Assunto a resolver quando do envio. Assumo tudo o que escrevo e, uma vez enviado, deixa de ser meu. Ou seja, o Luís Graça publica ou não da forma que entender" (TM)...
__________

Nota de L.G.:

(*) Vd. poste de 6 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3417: Em bom português nos entendemos (4): Ele há histórias e estórias... (Norberto Gomes da Costa / Luís Graça)

terça-feira, 28 de outubro de 2008

Guiné 63/74 - P3374: Controvérsias (8): Cherno Rachide Djaló: um agente duplo ? ( José Teixeira / Manuel Amaro / Torcato Mendonça)

Guiné > s/d > Bilhete Postal > 11- Raça Maometana (sic). Trajos Típicos [da] Guiné. Edição Foto Iris, Bissau, Guiné, Portugal. Impresso em Portugal [...] Lisboa. Reprodução proibida.
Foto: © Beja Santos (2006). Direitos reservados.

Um observação, mais uma vez, por parte do editor do blogue, para não se deixar passar, impunemente, uma crassa asneira que pode ser atribuída, no mínimo, a ligeireza ou a santa ignorância e, no máximo, a racismo encapotado, a incultura geral, a apressada exploração comercial, por parte do editor deste postal, a Foto Iris, do exotismo da Guiné - aos olhos dos tugas que chegavam, aos milhares, nos T/T Niassa, Uíge, Alfredo da Silva, Ana Mafalda... (Tratava-se, aliás, de um negócio altamente lucrativo, dada a procura dos postais ilustrados).

Primeiro, não há uma 'raça maoematana' (!!!). Aliás, não existe o conceito (antropológico) de raça aplicado aos seres humanos. Só há uma raça (ou melhor: uma espécie), a do Homo Sapiens Sapiens... Os grupos humanos distinguem-se sobretudo pela cultura (etnia, língua, apropriação do espaço, usos e costumes, produção, religião...), embora haja diferenças a nível do fenótipo (por exemplo, a cor da pele).

Por outro lado, não havendo mais do que uma raça (o que remete para o genótipo e não para o fenótipo), também não poderá existir um raça...maometana. Tal como não existe uma raça... cristã. Maomé e Cristo são apenas fundadores de religiões, o islamismo e o cristianismo. Há cristãos e muçulmanos... "brancos, pretos e amarelos"!

Na Guiné-Bissau, o que havia (e há) são diferentes grupos étnico-linguísticoss, alguns dos quais islamizados, como os fulas, os mandingas e os biafadas, que tendiam (tendem) a adoptar o vestuário árabe, de resto generalizado entre as populações norte-africanas e sub-saharianas, porque muito mais apropriado ao clima, e mais confortável e saudável, do que o vestuário ocidental.

Por razões de aliança histórica e estratégica, as autoridades portugueses, sob o governo de Spínola (1968-1973), deram um tratamento especial às autoridades tradicionais locais, políticas e religiosas, ligadas aos grupos islamizados e, em especial, aos fulas que habitavam maioritariamente na Zona Leste (concelhos de Bafatá e Nova Lamego) . O Cherno Rachide Djaló, futa-fula, que vivia em Aldeia Formosa e que já morreu, era naquele tempo a autoridade máxima religiosa do Islão na então província portuguesa da Guiné.

Sobre o Islão e a Guiné Portuguesa, vd. o texto, em linha, de Francisco Proença de Garcia > Os movimentos independentistas, o Islão e o Poder Português (Guiné 1963-1974) (LG).


Comentários ao poste de ontem, sobre o Cherno Rachide, de Aldeia Formosa (Quebo) (*):


Guiné > Região de Tombali > Aldeia Formosa > CCAÇ 2381 (1968/70) > O Maioral Zé Teixeira, 1º cabo enfermeiro, junto ao obus 14 que batia a zona fronteiriça...

Fotos: © José Teixeira (2006). Direitos reservados.

1.José Teixeira, ex-1.º Cabo Enfermeiro da CCAÇ 2381, Buba, Quebo, Mampatá e Empada , 1968/70)

Sobre o Cherno Rachide, sempre o tive como agente duplo. Recordo que o então Major Carlos Azeredo em 1968, todos os dias o ia visitar, quando ele estava em Quebo. Um dia chegou ao refeitório e deu ordens para irmos todos para a paliçada as 17.30 h. Precisamente a essa hora começou um ataque de armas pesadas. Só que as granadas rebentaram todas para além da pista, exactamente o lado oposto da população.

Comentava-se que era para evitar que o Cherno corresse riscos de vida. Dizia-se por lá que o comandante de zona do PAIGC era sobrinho do Cherno e por isso Quebo estava bem protegido. De facto ali à volta toda a gente sofria ataques e Quebo apreciava à distância ou enviava granadas de obuz 14 mm para a tabanca atacada, como aconteceu com Mampatá e Chamarra.

2. Manuel Amaro (ex-Fur Mil Enf, CCAÇ 2615/BCAÇ 2892, Nhacra, Aldeia Formosa e Nhala, 1969/71)

Meu Caro Luís Graça,

Eu conheci pessoalmente o Cherno Rachide Djaló, chefe dos muçulmanos, em Aldeia Formosa. E confirmo que este grande marabu era amigo do General Spínola e de mais alguém em S. Bento, Lisboa, que lhe pagava as viagens para Meca.

Em Dezembro de 1969, era eu professor do Posto Escolar Militar de Aldeia Formosa. Já tinha ouvido algumas histórias sobre a influência, o poder e os "poderes" do Cherno.Um dia fui abordado por um milícia, com ar preocupado, porque o filho (ou sobrinho?) do Cherno queria falar comigo, mas como não falava português, então ele, o milicia, seria o intérprete.

Recebi o visitante, que estava nervoso, mãos a tremer, que não falava português, mas percebia perfeitamente as minhas respostas. A preocupação do Cherno centrava-se na possibilidade de as cerca de trinta crianças que frequentavam a escola, serem aliciadas com o ensino da religião católica.
- Nada disso... zero... zero... - respondi, gesticulando. - E mais, se necessário, eu próprio vou falar com o Cherno, para garantir que não será ensinada religião católica.

Proposta aceite. Reunião marcada. No dia seguinte, lá fui à tabanca grande do Cherno Rachide Djaló.

Primeira surpresa, agradável, o aspecto luxuoso dos tapetes que cobriam aquele chão.Tirei as botas e sentei-me. Segunda surpresa, desagradável. Tinha na minha frente um homem abatido, com ar doente, olhar distante, que nem as vestas brancas, debroadas de amarelo torrado, conseguiam amenizar. O grande marabu estava mesmo preocupado.

Falei-lhe em voz baixa, pausadamente, reafirmando o que já tinha dito ao ajudante. Apenas ia ensinar os alunos a ler, escrever e contar. Fora da Escola, ao ar livre, faríamos educação física, jogos e canções. Mas nada de religião.
Enquanto o milícia traduzia, o Cherno fazia pequenos gestos de concordância.
Depois, fez uma pausa e disse que se era assim os meninos podiam frequentar a Escola.

Ficou tranquilo. Menos tenso, mas nunca sorriu. Despediu-se afectuosamente, como se estisse a abençoar-me. Agradeci, por mim e pelos alunos.

Regressei ao Quartel, mas pelo caminho uma dúvida permanecia no meu espírito.
Alguma coisa não estava certa. Um chefe religioso, mesmo ali, naquele sítio, naquela situação de guerra, não tem aquele comportamento. E hoje ao ler o post do Luis Graça, fez-se luz. Era isso, o "agente duplo".

O Cherno Rachid Djaló era um homem de confiança do PAIGC, pois embora estivesse no terreno ocupado por Portugal, tinha muita influência na população e não deixaria avançar a difusão da cultura e muito menos da religião dos portugueses. Aliás, nos ataques a Aldeia Formosa, os danos civis são quase nulos.

Manuel Amaro
ex-Fur Mil Enf
CCaç 2615,
1969/71


3. Torcato Mendonça (ex-Alf Mil, CART 2339, Mansambo, 1968/69)

Olá, Boa Noite, muito breve numa, nem é comentário, pequena chamada de atenção para o titulo - Agente Duplo. Se me é permitido, falar assim daquele homem, pelo conhecimento que tenho é violento.

Mas ficam muitas interrogações no ar, desde as apontadas pelo Zé Teixeira, as visitas dos Governadores (conheci dois), os antecedentes e a implementação do PAI e PAIGC... e muito, muito! Quantos agentes duplos haveria na Guiné? Porque teria o Cherno de Aldeia Formosa tanto poder?

Isto dava uma bela conversa. Sim, porque há assuntos que se falam...só [, ou a sós ', meu caro José ?].

Os duplos...os duplos... e hoje???

Um tri-abraço do Torcato

Torcato Mendonça
________

Notas de L.G.:

(*) Vd. poste de 27 de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3361: PAIGC - Docs (2): O grande marabu Cherno Rachide, de Aldeia Formosa: um agente duplo ? (Luís Graça)

Vd. também:

2 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2714: Antropologia (5): A Canção do Cherno Rachide, em tradução de Manuel Belchior (Torcato Mendonça)

4 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1815: Álbum das Glórias (14): o 4º Pelotão da CCAÇ 14 em Aldeia Formosa e em Cuntima (António Bartolomeu)

18 de Abril de 2006 > Guiné 63/74 - DCCX: O Cherno Rachid da Aldeia Formosa (Antero Santos, CCAÇ 3566 e CCAÇ 18)

16 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCLXXVIII: Um conto de Natal (Artur Augusto Silva, 1962)

15 de Junho de 2005 > Guiné 69/71 - LVII: O Cherno Rachid, de Aldeia Formosa (aliás, Quebo) (Luís Graça).


(**) Vd. poste des

18 de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3326: O meu baptismo de fogo (12): Aldeia Formosa, 23 de Abril de 1970: realiza-se a premonição de um furriel enfermeiro (Manuel Amaro)

29 de Maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2895: Tabanca Grande (72): Manuel Amaro, ex-Fur Mil Enf da CCAÇ 2615/BCAÇ 2895 (Nhacra, Aldeia Formosa e Nhala, 1969/71)

sábado, 18 de outubro de 2008

Guiné 63/74 - P3331: O meu baptismo de fogo (12): Aldeia Formosa, 23 de Abril de 1970: realiza-se a premonição de um furriel enfermeiro (Manuel Amaro)

1. Mensagem do nosso camarada Manuel Amaro, ex-Fur Mil Enf, CCAÇ 2615/BCAÇ 2892, Nhacra, Aldeia Formosa e Nhala, 1969/71 (*)

Caro Luís Graça,

Com o meu pedido de desculpas por ocupar este espaço, que estará mais adequado às histórias dos nossos camaradas operacionais, atrevo-me a relatar à Tabanca, o meu baptismo de fogo (**).

É o baptismo de fogo de um furriel enfermeiro, destacado no Posto Escolar.

No final de 1969, Aldeia Formosa era um lugar pacífico. Situação que se manteve até 20 de Março de 1970. Por vezes, à noite, ouviam-se uns rebentamentos, mas sempre à distância, mais para sul.

Até que um dia, há sempre uma primeira vez para tudo, o Pelotão do Alf Martins sofreu três emboscadas de que resultou um milícia morto (roquetada no tórax) e cinco feridos ligeiros.

Terminei as aulas mais cedo para que os alunos não assistissem à chegada do pelotão com os feridos e o morto e dirigi-me para o posto médico. Enquanto a equipa de saúde tratava dos feridos, o Keba Sanhá entregou-me o morto que tinha transportado às costas, embalado num pano de tenda. Missão: utilizar uma maca como suporte para recolocar cada órgão no seu lugar, de forma que o corpo fosse entregue à familia para efectuar o funeral.

Duas horas depois, com muito trabalho, silêncio absoluto, algumas lágrimas, a missão estava cumprida.

A vida continuou e passadas quatro semanas, a 18 de Abril [de 1969], nova emboscada: dois soldados mortos. (Os primeiros e únicos mortos em combate, da CCaç 2615).

Desta vez fui "poupado" pela equipa de saúde e fiquei livre para dar apoio moral ao meu amigo Jorge Leitão, furriel de Operações Especiais, a imagem da raiva e do desespero, sem encontrar explicação para o que lhe tinha acontecido.

O ambiente ficou pesado. As conversas na messe e nos quartos giravam sempre à volta do mesmo assunto. Finalmente, aos seis meses de comissão, tinha começado a guerra.

(Na noite de 22 para 23 de Abril, tive um sonho/pesadelo. Eu, que dormia sempre tranquilamente, acordei em sobressalto. Nesse sonho, surgia um avião IN, voando baixo, com um foco de luz para localizar os alvos. E onde é que eu me protegi contra o avião? Nos abrigos de Aldeia Formosa? Não. O meu esconderijo era um tanque/piscina, protegido por uma frondosa nogueira, numa quintinha, com uma casa amarela, que ainda hoje existe, perto do antigo CISMI, na estrada Tavira/Santa Luzia, onde eu passei as férias de verão de 1962.)

Entretanto, a vida no quartel de Aldeia Formosa continuava com uma rotina de paz. Até o corneteiro tocava para o almoço. E no dia 23 de Abril de 1970, poucos minutos depois das 11h30 começou o toque para o primeiro turno ir almoçar. Quase em simultâneo o IN inicia o ataque ao quartel, com armas ligeiras e pesadas, muito perto do início da pista de aviação.

Corri para o abrigo com uma turma de cerca de trinta alunos, previamente treinados.
A resposta das NT foi um pouco lenta, pois naquele momento, mais de metade do efectivo estava de marmita e não de G3.

Lembro-me de ouvir o Alferes do Pelotão FOX gritar: Vou fazer tiro directo... e pensei que com o Obus a disparar, a situação estava controlada. E assim aconteceu...

Foi um baptismo duro. Senti alguma raiva por saber que o IN estava ali tão perto, mas já estava preparado... e depois, aquele sonho/pesadelo alertou-me ainda mais para a possibilidade de acontecer algo semelhante...

Concluindo, o baptismo foi a única vez que estive debaixo de fogo. Durante toda a comissão, não tive oportunidade de disparar um único tiro. A última vez que disparei a minha G3 foi, algures, nos arredores de Évora, um tiro certeiro, como deve fazer um bom atirador, para destruir o prato que tinha utilizado na semana de treino.
A minha missão nesta guerra... foi de paz.

Um dia destes eu escrevo mais um capítulo.

Um Abraço
Manuel Amaro
Fur Mil Enf
CCAÇ 2615
___________

Notas de L.G.:

(*) Vd. postes de 22 de Setembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3223: Convívios (85): Pessoal da CCAÇ 2615, no dia 18 de Setembro de 2008 em Benavente (Manuel Amaro)

29 de Maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2895: Tabanca Grande (72): Manuel Amaro, ex-Fur Mil Enf da CCAÇ 2615/BCAÇ 2895 (Nhacra, Aldeia Formosa e Nhala, 1969/71)

(**) Vd. poste de 16 de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3325: O meu baptismo de fogo (11): Mampatá, 20 de Fevereiro de 1973 (António Carvalho)

quinta-feira, 29 de maio de 2008

Guiné 63/74 - P2895: Tabanca Grande (72): Manuel Amaro, ex-Fur Mil Enf da CCAÇ 2615/BCAÇ 2895 (Nhacra, Aldeia Formosa e Nhala, 1969/71)


Manuel Amaro
Fur Mil Enf
CCAÇ 2615/BCAÇ 2892
Nhacra, Aldeia Formosa e Nhala
1969/71



1. Em 27 de Maio recebemos uma mensagem do nosso novo tertuliano Manuel Amaro dando conta do seu desejo de aderir à nossa Tabanca Grande.

Caro Carlos Vinhal,
Tentando cumprir a praxe da Tabanca Grande, aqui vai o meu pedido de adesão a este grande clube de ex-combatentes.

Manuel Amaro, 62 anos, casado, Técnico Superior de Comunicação e Relações Públicas, aposentado, residente em Alfragide, Amadora.
Ex-Fur. Mil. Enfermeiro na CCAÇ 2615/BCAÇ 2892.
Nhacra-Aldeia Formosa-Nhala.

Cheguei à Guiné em 28 de Outubro de 1969 e a minha Companhia ficou uns tempos em Nhacra, enquanto a CCS foi de avião para Aldeia Formosa e as CCAÇ 2614 e 2616 foram de LDG para Buba. A 2614 fixou-se em Nhala.

No início de Dezembro, logo que a auto-estrada Buba-Aldeia, ficou transitável(?), (a velha, porque a nova nunca foi utilizada, como já foi aqui explicado por vários camaradas), fizemos a viagem Bissau-Bolama-Buba-Aldeia.

Maravilha... Assim que me instalei em Aldeia Formosa, abriu concurso para Professor do Posto Escolar Militar. Concorri e ganhei.

Professor, a tempo inteiro. Mas com o meu espírito de escuteiro, logo inventei forma de praticar a enfermagem, auxiliando a população das pequenas tabancas e praticando a minha boa acção, quase diária. Para isso contei com a colaboração do Cabo Enfermeiro Torres, da CART 2521 e do Furriel da Psico, (hoje Deputado, na AR), que me emprestava a viatura e o motorista.

Desde meados de 1969 até 20 da Março de 1970, Aldeia Formosa era assim como um campo de férias. Mas como não há bem que sempre dure, começou a porrada, a sério.

Mudança de Comandante. Nova política. Um enfermeiro como professor? Nem pensar. A partir de 6 de Maio vai para o mato.
E o Enfermeiro, este mesmo, foi.

De 6 de Maio a 23 de Junho, foram 11 seguidas, entre colunas a Buba, operações, saídas de rotina, essas tretas da guerra.

Mas o destino, a estrelinha estava comigo e não com o Comandante. Aldeia Formosa continuou e eu fui para Buba, substituir o médico, que partiu para férias. Outra Maravilha... Só voltei a Aldeia Formosa em trânsito pois após as minhas férias a CCAÇ 2615 trocou com a 2614 e fomos fazer o segundo ano da comissão em Nhala.

Nhala, que creio que já não existe, (segundo o Daniel Reis do Expresso), era mesmo um fim de mundo. Uma Companhia mais um Pelotão e cerca de 200 civis. Tirando a passagem das colunas Aldeia-Buba-Aldeia, ali nada mais acontecia. Nem amigos, nem inimigos. Mais uma vez a Escola e a Enfermaria.

Muitas horas de trabalho, mas também a possibilidade de sentir o prazer de trabalhar. O prazer de me sentir útil, solidário. E chegamos a Agosto de 1971.

Metade da Companhia segue para Bissau. Aguardar embarque. Eu fico com o último grupo. Quase sem dar por isso, um dia ao jantar digo para os camaradas de mesa: amanhã faço 26 anos. A reacção foi em coro. Temos que fazer uma festa. Fizemos. Dois leitões, uma grade de Casal Garcia, um frigorífico de cerveja, não sei quantas garrafas de scotch. Bebedeiras? Claro. E a meia-companhia de piriquitos que já lá estava, reagiu mal.

Mas tudo acabou bem. Foi quase uma directa, Nhala-Bissau-Uige-Lisboa.

Além dos quase dois anos de Guiné, o Glorioso Exército Português levou-me tanto tempo... que passados todos estes anos ainda não sei o porquê de tudo o que aconteceu desde a minha primeira entrada na porta de armas, em 17 de Abril de 1967. Foram 54 meses. Fardado... Só fiz uma vez Sargento de Dia, mas ainda hoje, quando vejo um refeitório grande, apetece-me gritar... Vossa Senhoria meu Capitão, dá-me licença... A Companhia da Formação está pronta... E só não grito, porque sei que não está lá alguém para... bater os calcanhares, responder à continência e dizer... Pode mandar entrar...

Um dia destes, qualquer dia, podemos falar mais sobre tudo isto...

Um Abraço
Manuel Amaro


2. Comentário de CV

Caro Manuel Amaro,
Por favor, não peças para entrar. A porta está sempre aberta. Instala-te e começa a fazer o que te compete de pleno direito, que é aumentar os nossos conhecimentos, contando a história da tua Unidade, a tua experiência na guerra, que fizeste a teu modo, actuando como professor e enfermeiro. Quantos como tu e como o teu amigo José Teixeira podem contar as mais belas estórias de relacionamento com as populações?

Qualquer um de nós, os chamados operacionais, contam aventuras de guerra, mais ou menos temerosas, mas vós, os que trates da saúde e da instrução daquele povo, tendes estórias diferentes, vividas em ambiente mais íntimo. Nós perscrutávamos o horizonte em busca do IN e vós olháveis para o interior de cada um dos que a vós recorriam, em busca de um pouco de saúde ou de instrução.

Falei no teu amigo José Teixeira a fim de ter um pretexto para publicar a mensagem que ele te mandou (com conhecimento a mim).

Recebe um abraço de boas vindas da tertúlia.
Vamos agora deixar falar o nosso Zé Teixeira.

3. Mail que o camarada José Teixeira enviou ao Manuel Amaro, nosso novo tertuliano

Meu querido amigo Manuel Amaro ou "Tavira" como eras conhecido no RSS - Regimento de Serviços de Saúde em Coimbra, onde tive o grande prazer de te conhecer e gerar amizade, daquelas que nunca mais se irão, (não foras tu escuteiro como eu, sem o sabermos na altura).

A confirmação do que afirmo está no esforço que fizeste para me localizar e vice-versa, como há dias me disseste, quando por instinto, viste o meu nome no blogue, localizaste o meu endereço e assim podemos recomeçar a velha amizade.
Sê bem-vindo a este espaço de partilha e de amizade.

Ao ler o teu pedido de entrada, senti que não estava completo. Permite-me que esclareça os camaradas, que tu sem saberes quais os motivos, pese embora, soubesses que alguns dos teus escritos para o Jornal de Tavira foram ao crivo da "censura" tinhas condições académicas para ires para o CSM, foste incorporado como soldado raso e de seguida selecionado para auxiliar de enfermeiro.
Daí o nosso conhecimento e selar de amizade nos meses que em comum vivemos na cidade dos estudantes, a estudar. Não só para sermos uns "aprendizes de feiticeiro" o melhor que conseguíssemos ser, como continuarmos os nossos estudos académicos.

Por ti soube há dias que meteras requerimento e foste chamado ao CSM, passando a sargento.

O que nunca me passaria pela cabeça é que irias seguir os meus passos pela Guiné mais de um ano depois de eu lá ter chegado. Eu saí de Buba para Empada em Setembro de 1969 e tu chegaste a Buba em Outubro desse ano como "periquito".

Quanto à tabanca de Nhala, posso dizer-te por experiência própria recente, que ainda lá está. Agora livre das amarras do arame farpado em duas fiadas, das minas e dos terríveis tiroteios e rebentamentos que por lá sentimos. Nhala, Sare Donhã, Samba Sábali, Uane, Mampatá, etc. sem esquecer a bolanha dos passarinhos.

Deixa-me só recordar-te que quando deixei a zona, Nhala tinha apenas um Grupo de Combate. Com o crescer dos trabalhos de construção da estrada, parece que a zona "aqueceu" um pouco... Eu safei-me a tempo

Agora ficamos à espera das tuas "estórias", pois o teu apetite pela escrita já vem de longe e deixou marcas.

Um abraço do tamanho do mundo que trilhamos.

J.Teixeira
Esquilo Sorridente