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quarta-feira, 7 de outubro de 2020

Guiné 61/74 - P21426: Notas de leitura (1313): "O Cântico das Costureiras", de Gonçalo Inocentes (Matheos) - Parte IV (Luís Graça): as primeiras minas e fornilhos A/C



Guiné > Região de Quínara > São João > CCAÇ 423 (1963/65) > Os efeitos devastadores das primeiras minas e fornilhos A/C no CTIG, na estrada Nova Sintra-Fulacunda.


Fotos (e legenda): © Gonçalo Inocentes (2020) Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]




Capa do livro

1. Continuação da apresentação do último livro do Gonçalo Inocentes (Matheos),  "O Cântico das Costureiras: crónicas de uma vida adiada, Guiné, 1964/65" (Vila Franca de Xira, ModoCromia, 2020, 126 pp, ilustrado).

Recorde-se que o autor do livro, de que já publicámos três notas de leitura (*),  Gonçalo Inocentes (Matheos), membro nº 810 da nossa Tabanca Grande, foi fur mil, CCAÇ 423 e dpois da CCAV 488 / BCAV 490, de rendição individual, tendo passado por Bissau, Bolama, S.João, Jabadá e Jumbembem, entre 8 de abril de 1964 e 14 de agosto e 1965... 
 
Nasceu em 1940, em Nova Lisboa (hoje, Huambo, Angola). Está reformado da TAP e vive em Faro.

Esta CCAÇ 423, "independente",  é uma das primeiras subunidades a ser mobilizada para a Guiné: pertencia ao RI 15, partiu em 16/4/1963 e regressou, dois anos depois,  em 29/4/1965. Esteve em São João e em Tite, mas também em Jabadá (1 grupo de combate). O comandante era o cap inf Nuno Gonçalves dos Santos Basto Machado.

Segundo o nosso autor, terá sido a primeira a conhecer o pesadelo das minas A/C e dos fornilhos:

"As minas form um pesadelo desde os primeiros dias da companhia. Quase todas as baixas resultaram  do rebentamento destes engenhos" (...) "O IN percebeu cedo de sua eficiência e começaram até a juntar aos fornilhos bombas que a nossa força aérea lançava e não rebentavam" (p. 60).

A nossa  historiografia militar (por ex., Aniceto Afonso e Carlos Matos Gomes) aponta para a segunda metade do mês de outubro de 1964 para o início do emprego generalizado de minas e fornilhas anticarro.

 No Leste, na região de Bafatá, o primeiro engenho a explodir acontece na estrada Bambadinca-Xitole. É desta época a debandada de várias tabancas fulas e futa-fulas, nomeadamenet do regulado do Corubal e Xime, que se refugiam em Bambadinca. Intensifica-se a atuação do PAIGC nas margens, esquerda e direita do rio Geba, nas áreas de Jabadá, Porto Gole, Enxalé, Xime, Bambadinca.

Os fornilhos, permitindo atuar à distância através de um fio ou arame, e selecionar a viatura (, em geral a do meio) cujo rebentamento provocaria mais estragos.  resposta das NT foi deixar de  de fazer colunas auto, deixando as viaturas no quartel e optando por operações a pé. Os picadores começaram a detetar minas antigas e criou-se então o "vício" de as levantar por causa do "ronco" e do prémio monetário.

Tudo indica que nos primeiros fornilhos e minas  A/C, a provocar baixas mortais entre as NT, tenham sido postos na estrada Nova Sintra-Fulacunda. E que as primeiras vítimas tenham sido os nossos camaradas da CCAÇ 423. 

Veja-se a lista, publicada pelo nosso camarada A. Marques Lopes sobre os militares portugueses metropolitanos mortos e enterrados em cemitérios locais (**)





Guiné > Região de Quínara > CCAÇ 423 > c. 1964 > S/l> O fur mil Arménio Dias de Almeida a levantar uma mina A/C... Será morto, por ferimentos em combate, na zona de São Jioão- Nova Sintra, em 9 de janeiro de 1964. Estas podem ser das últimas fotos dele.

Fotos (e legenda): © Gonçalo Inocentes (2020) Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Na pág. 61 do seu livro, o autor publica três fotos do furriel [Arménio Dias de] Almeida a levantar uma mina A/C. Será mais tarde abatido pelo IN, em 9/1/1964, sendo o seu corpo ficado inumado em Bolama, conforme lista que se reproduz a seguir, com os mortos da CCAÇ 423, de 3/7/1963, 18/7/1963 e 9/1/1964.


NOME e POSTO / UNIDADE / DATA DA MORTE / LOCAL DA MORTE / CAUSA D MORTE NATURALIDADE / LOCAL DA SEPULTURA (**)

António Augusto Esteves Magalhães, 1.º Cabo / CCaç 423 / 03.07.63 / Estrada Nova Sintra-Fulacunda, HM241 / Ferimentos em combate / Amares / Cemitério de Bissau, Campa 291, Guiné.

Alberto dos Santos Monteiro, Soldado / CCaç 423 / 03.07.63 / Estrada Nova Sintra-Fulacunda / Ferimentos em combate / Rio Tinto, Gondomar / Cemitério de Fulacunda, Guiné.

José Rato Casaleiro, Soldado / CCaç 423 / 18.07.63 / Estrada Tite-Nova Sintra / Ferimentos em combate / Freiria, Torres Vedras / Cemitério de Bissau, Campa 360, Guiné.

Arménio Dias de Almeida, Furriel / CCaç 423 / 09.01.64 / São João, Nova Sintra / Ferimentos em combate / Vila Cova de Perrinho, Vale de Cambra / Cemitério de Bolama, Campa 3/64, Guiné.


De qualquer modo, a situação nas estradas e picadas de Quínara tornaram-se um terror para as NT, ao ponto da "Maria Turra" , na "Rádio Libertação", em Conacri, considerá-las já como "áreas libertadas"... 

Daí ter sido decido, por ordem de Bissau, já no tempo de Schulz, fazer uma "demonstração de força", em 13 de outubro de 1964, realizando-se para o efeito de uma coluna de carros que fizeram o percurso Nova Sintra-Serra Leoa, ida e volta. 

O moral do pessoal estava em baixo, Mas a operação realizou-se,  com detetores de minas na frente e levando as viaturas  troncos de palmeira e sacos de areia para amortecer o impacto dos fornilhos e minas A/C (p. 171).

Felimente nenhum  engenho explosivo foi accionado desta vez. Mas no regresso a São João, via Nova Sintra, , o pessoal da CCAÇ 423 foi surpreendido com fogo cerrado de "costureirinha" e "kalash". 

Regressou-se a São João, com o moral mais em alta, apesar de um Unimog ter capotado e ter havido feridos cuja gravidade obrigou a helievacuação.

(Continua)

__________

PS - O livro pode ser adquirido pelo correio, com pagamento por transferência bancária. Preço de capa com portes incluidos: 15 (quinze) euros.


Email do autor: Goncalo Inocentes <rpeixoto.inocentes@gmail.com>


NIB - 0018 0000 0160 5800 0013 9

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Notas do editor:

(**) Vd. poste de 28 de abril  de 2008 > Guiné 63/74 - P2799: Lista dos militares portugueses metropolitanos mortos e enterrados em cemitérios locais (1): De 1963 a 1964 (A. Marques Lopes)

segunda-feira, 28 de setembro de 2020

Guiné 61/74 - P21398: Pequenas histórias dos Mais de Nova Sintra (Carlos Barros, ex-fur mil at art, 2ª C/BART 6520/72, 1972/74) (8): os meus livros de bolso, da RTP, oferecidos pelo MNF, em 25/1/1973, deixei-os a alguns guerrilheiros do PAIGC, em 17/7/1974... E comigo trouxe "farrapos" da nossa bandeira, e ainda os guardo, como símbolo do nosso sofrimento e coragem



Uma amostra da Biblioteca Básica Verbo - Livros RTP, uma coleção de livros de bolso, num total de 100 títulos, de autores portugueses e estrangeiros, traduzidos, lançada em 1970, pela Editorial Verbo, em colaboração com a RTP... Foi um tremendo sucesso editorial, com 15 milhões de cópias vendidas ou oferecidas... Uma boa parte foi oferecida, por intermédio do Movimento Nacional Feminino, aos militares destacados nos TO de Angola, Guiné e Moçambique. O último título publicado, o nº 100, em outubro de 1972, foi "Os Lusíadas". O primeiro tinha sido  a novela "Maria Moisés", de Camilo Castelo Branco (230 mil exemplares), O preço de capa de cada livro era de 15 escudos (, equivalente hoje a menos de 4 euros).

Fonte: Imagem adaptada, com a devida vénia do sítio joaocouto-espinho.com

 


Carlos Barros, Esposende

1. Mais uma pequena história do Carlos Barros, enviada por mensagem de 19 do corrente, às 17h49, ainda a propósito da visita da presidente do Movimento Nacional Feminino  a Nova Sintra,  em 1973:

Estimado amigo.
 
A memória está ainda um pouco fresca, embora desgastada pelo tempo. É importante documentar, com testemunhos, fotografias, registos escritos e outras fontes que serão importantes para construir um pouco da história da Guerra Colonial, concretamente, no nosso caso, da Guiné.

No dia 25 de janeiro de 1973, Nova Sintra recebeu caixotes de livros, da RTP,  oferecidos pelo MNF [, Movimento Nacional Feminino] e no fim da comissão, na entrega do destacamento [, em 17 de julho de 1974,]  ofereci os meus a alguns guerrilheiros do PAIGC. 

Não sabia  se seriam lidos ou poderiam ir  parar à "fogueira"... Uma coisa é certa, eles receberam essas "obras literárias" e eu, pessoalmente, não tencionava trazê-las para a então Metrópole.

Jantamos e jogamos às cartas com o "Inimigo" e notei entre os guerrilheiros que não existia ódio nem rancor e foi uma convivência pacífica.. 

No dia seguinte, numa sessão solene do arrear da bandeira, com a 2ª Cart presente, meus companheiros,  mais os  guerrilheiros do PAIGC,  abandonamos Nova Sintra, a caminho de Tite. E, mais tarde, para o cais do Enxudé a caminho de Bissau, com as LDG  a transportar, via  rio Geba, o imenso material e os militares,  rumo  a Bissalanca. para, finalmente, nos libertarmos de uma Guerra que nunca desejámos.

Um pormenor: fui receber a bandeira de Portugal, já em mau estado,  embrulhei-a e rasguei subrepticiamente, umas pontas e ainda possuo esses"farrapos" como recordação. Uns "farrapos" que são bocados do nosso sofrimento e coragem nessas terras guineenses

No dia 23 de janeiro de 1963 o PAIGC fizera uma ataque ao Quartel de Tite, dando-se o início  da guerra na Guiné e as NT sofreram um morto e um ferido e o PAIGC 8 mortos confirmados e outros feridos graves. 

Penso que era objetivo do PAIGC atacar a prisão de Tite para libertar guerrilheiros presos. Estive em Tite uns meses e depois o meu pelotão foi destacado para Gampará, outro inferno da Guerra....

Fico-me por aqui, neste dia chuvoso que me inspirou para a escrita.

Bom fim de semana
Carlos Barros

___________

Nota do editor:

Último poste da série > 19 de setembro de  2020 > Guiné 61/74 - P21371: Pequenas histórias dos Mais de Nova Sintra (Carlos Barros, ex-fur mil at art, 2ª C/BART 6520/72, 1972/74) (7): os craques da bola...

sábado, 19 de setembro de 2020

Guiné 61/74 - P21374: (De) Caras (163): A Cilinha veio de helicóptero a Nova Sintra, em março de 1973: na despedida estávamos todos a olhar para o helicanhão... (Carlos Barros)



Guiné > Região de Quínara > Nova Sintra > 2ª CART / BART 6520/72 (1972/74) > 1973 > A visita da Dona Cecília Supico Pinti, a "Cilinha" (Lisboa, 1921 - Cascais, 2011).  O terceiro, a contar da esquerda para a direita, "magricelas e de bigode", era o Carlos Barros.

A popular figura da  presidente do Movimento Nacional Feminino é acompanhada pelo alf mil Figueira, natural de Cabo Verde  (, não visível na foto).  Ela, sempre muita elegante nas suas calças à boca de sino. como então se usavam nesse tempo, blusa preta, um grande colar, óculos escuros, cabelo sobre os ombros, e mala ao ombro... Parece abrir os braços para uma criança da tabanca sobre a qual se debruça um militar, em tronco nu, que lhe dá instruções. Possivelmente a criança iria dar-lhe uma pequena lembrança ou uma flor. 

Espantosamente, nenhum dos militares que a aguardavam, à entrada do destacamento, quase todos em tronco nu, não parecem prestar-lhe qualquer atenção, tendo dirigido a vista para algo que estaria a acontecer por detrás do fotógrafo... O Carlos Barros esclarece agora o "mistério"...
 
Foto (e legenda): © Carlos Barros (2020). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Carlos Barros


1. M
ensagem do Carlos Barros [, um de "Os Mais de Nova Sintra", 2ª C/BART 6520/72 (Bolama, Bissau, Tite, Nova Sintra, Gampará, 1972/74), membro da Tabanca Grande, nº 815, natural de Esposende]

Date: sábado, 19/09/2020 à(s) 16:00
Subject: A visita da Cilinha a Nova Sintra, 1973

Luís:

Para não adensar o "mistério", pelo contrário, quero "desmistificá-lo, penso que tenho uma explicação sobre os "olhares" dos militares na despedida da Cilinha do MNF. (*)

Ela chegou de helicóptero e vinha um "helicanhão" na sua proteção e estávamos todos a olhar para o Héli que sobrevoava a pista,  daí a razão da nossa observação e admiração pela atuação do helicóptero na vigilância sobre a mata que circundava o destacamento de Nova Sintra.

Ela fez um discurso sobre o valor e coragem dos nossos soldados, fazendo a "apologia" da Guerra Colonial e não o combate ou crítica à mesma, o que era natural já que o regime assim o exigia.

Estávamos quase todos em tronco nu porque fazia muito calor e o Comandante Interino Alferes Figueira deixava-nos à vontade... O tempo era de guerra e o "rigor da farda" era e tinha de ser "esquecido"... (**)

Um abraço
Carlos Barros

PS - A Cilinha usava aquele estilo de cabelo na sua visita a Nova Sintra. A Segurança, por outro lado,  estava garantida e era dentro do destacamento, perto da pista, que ela foi recebida.


2. Pedido de esclarecimento do editor Luís Graça, em 12/9/2020:

Carlos: Esclarece lá o "mistério" desta foto... Ninguém olha para a Cilinha...Isto deve ter acontecido em março de 1973... Confirma. Um ano depois, em março de 1974,  ela está estava de visita a Nhala...

Mantenhas. Luís
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Guiné 61/74 - P21371: Pequenas histórias dos Mais de Nova Sintra (Carlos Barros, ex-fur mil at art, 2ª C/BART 6520/72, 1972/74) (7): os craques da bola...



Guiné > Região de Quínara > Nova Sintra >  2ª CART / BART 6520/72 (Bolama, Bissau, Tite, Nova Sintra, Gampará, 1972/74) > Equipa de futebol dos graduados...

Foto (e legenda): © Carlos Barros (2020). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Mais uma pequena, pequeníssima,  história do Carlos Barros [, um de "Os Mais de Nova Sintra", 2ª C/BART 6520/72 (Bolama, Bissau, Tite, Nova Sintra, Gampará, 1972/74), os últimos a ocupar o aquartelamento de Nova Sintra antes da sua transferência para o PAIGC em 17/7/1974; membro da Tabanca Grande nº 815; vive em Esposende, é professor reformado];


Nos tempos livres, no Destacamento de Nova Sintra, respirava-se futebol.

A Equipa de Condutores/mecânicos era a mais "forte" mas os Graduados conseguiam vencer essa equipa... Bem, nem sempre...

Almeida, grande goleador! Os furriéis Elias, Barros, Mendonça, S. Gonçalves,...eram os craques...

Hoje valiam milhões e milhões... de cêntimos!

A fotografia da equipa de futebol é do ano de 1973 (, não tenho registo do mês...) onde se disputavam jogos, sempre renhidos,  de futebol, entre grupos de combate e os célebres jogos entre Condutores e Graduados, com resultados imprevisíveis mas sempre com "Fair Play".

Chegamos a disputar jogos de voleibol e tínhamos um campo de voleibol, muito improvisado, mas dava para entreter...

Carlos Barros
Nova Sintra 1972/74
_____________

Nota do editor:
 
Último poste da série > 14 de setembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21358: Pequenas histórias dos Mais de Nova Sintra (Carlos Barros, ex-fur mil at art, 2ª C/BART 6520/72, 1972/74) (6): a evaporação das cervejas

segunda-feira, 14 de setembro de 2020

Guiné 61/74 - P21358: Pequenas histórias dos Mais de Nova Sintra (Carlos Barros, ex-fur mil at art, 2ª C/BART 6520/72, 1972/74) (6): a evaporação das cervejas


Guiné > Região de Quínara > Nova Sintra > s/d > Largada de frescos e correio, de paraquedas... Foto do álbum de Herlânder Simões, ex-fur mil da companhia de "Os Duros de Nova Sintra", de rendição individual, tendo estado no TO da Guiné, em Nova Sintra e depois Guileje, entre maio de 1972 e janeiro e 1974.

Foto ( e legenda): © Herlânder Simões (2007). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]




Guiné > Região de Quínara > Mapa de São João (1955) > Escala de 1/50 mil > Posição relativa de Bolama, São João, Nova Sintra, Serra Leoa, Lala, Rio de Lala (afluemte do Rio Grande de Buba)


Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2020)


1. Mais uma pequena história do Carlos Barros, um de "Os Mais de Nova Sintra", 2ª C/BART 6520/72 (Bolama, Bissau, Tite, Nova Sintra, Gampará, 1972/74), os últimos a ocupar o aquartelamento de Nova Sintra antes da sua transferência para o PAIGC em 17/7/1974:


Cervejas evaporadas… 

por Carlos Barros


É o mês de reabastecimento em Nova Sintra e a coluna auto e os militares que prestavam segurança, iam a caminho de Lala, local de atracagem das LDG e LDM no rio de Lala, afluente do rio Grande Buba. 

Chegado ao local, esperavamos pela chegada das lanchas e, enquanto aguardavamos, uma criança africana que tinha sido transportada numa Berliet de Nova Sintra, pega num fio de electricidade, com um chumbo improvisado, um “joelho” de canalização enferrujado, um anzol com isco e lançou ao rio. 

Passados cinco minutos sente-se um grande puxão e o miúdo alou a “pesqueira” e pescou um grande peixe-serra que foi puxado para a margem e, com uma afiada faca do mato, foi morto e esquartejado , servindo mais tarde, de alimento para a tabanca. 

Um dos graduados do 3º grupo de combate levou uma granada ofensiva e lançou-a para um cardume de peixes que nadavam à superfície e, após da explosão, só se viam peixes “à tona” e só foi recolhê-los para uma caixa que serviram de jantar, na Messe para os graduados, e quase todos comeram, menos o sargento Rasteiro, para nós, “persona non grata”… 

Foi o regresso das viaturas e militares ao destacamento , sendo conferido todas as bebidas e materiais transportados e, como  era habitual, faltavam cervejas … 

Como desapareciam, todos nós sabíamos e o Rasteiro ficava “fulo” pela “evaporação” das cervejas que eram transportadas em caixas de cartão e em contacto com a água, no transporta para as viaturas, o cartão desfazia-se e as cervejas caiam para o rio mas podem acreditar que não ficavam lá… 

As viaturas “ marchavam” de regresso a passo de caracol para dar tempo aos soldados beberem as suas cervejas para arrelia do Rasteiro… 

Naturalmente que nós, graduados, sabíamos da marosca e eramos cúmplices.  A tropa manda(va) desenrascar… 


Carlos Barros, Nova Sintra 1974 (**)


[Carlos Barros, ex-fur mil. 2ª CART / BART 6520/72 (Bolama, Bissau, Tite, Nova Sintra, Gampará, 1972/74), membro da Tabanca Grande  nº 815; vive em Esposende; é professor reformado]

________________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 10 de maio de  2007 > Guiné 63/74 - P1747: Tabanca Grande (8): Herlânder Simões, ex-Fur Mil, um dos Duros de Nova Sintra (1972/74)

sábado, 12 de setembro de 2020

Guiné 61/74 - P21349: Pequenas histórias dos Mais de Nova Sintra (Carlos Barros, ex-fur mil at art, 2ª C/BART 6520/72, 1972/74) (5): A visita da Cilinha ao destacamento de Nova Sintra, em 1973...



Foto nº 1A


Foto nº 1

Guiné > Região de Quínara > Nova Sintra > 2ª CART / BART 6520/72 (1972/74) > 1973 > A visita da Dona Cecília Supico Pinti, a "Cilinha" (Lisboa, 1921 - Cascais, 2011). 

A popular figura da  presidente do Movimento Nacional Feminino é acompanhada pelo alf mil Figueira, natural de Cabo Verde (, presumivelmemte o  que está à sua direita, de bigode, vestido á civil). Ela, sempre muita elegante nas suas calças à boca de sino. como então se usavam nesse tempo, blusa preta, um grande colar, óculos escuros, cabelo sobre os ombros, e mala ao ombro... Parece abrir os braços para uma criança da tabanca sobre a qual se debruça um militar, em tronco nu, que lhe dá instruções. Possivelmente a criança iria dar-lhe uma pequena lembrança ou uma flor. 

Espantosamente, nenhum dos militares que a aguardavam, à entrada do destacamento, quase todos em tronco nu, não parecem prestar-lhe qualquer atenção, tendo dirigido a vista para algo que estaria a acontecer por detrás do fotógrafo... O Carlos Barros não nos esclarece sobre o que se terá passado... O que vem adensar o "mistério"... 

A visita da "Cilinha" era sempre motivo para grande alvoroço nos nossos aquartelamentos...Tinha um carinho especial pela Guiné e pelos militares que aí "defendiam a Pátria", a avaliar pelas diversas vezes que visitou o território, a última das quais  já em março de 1974 (*)

Foto (e legenda): © Carlos Barros (2020). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Guiné > Região de Tombali > Nhala > 10 de março de 1974 > Visita da Cilinha > A Cilinha olha directamente para a objectiva, A seu lado o comandante de batalhão, ten cor Carlos Alberto Ramalheira, e o cap Braga da Cruz, comandante da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4513 de Nhala. (*)

 Foto (e legenda): © António Murta  (2020). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]




Data: 1 set 2020 22h00
Assunto: Foto / documento histórico

Nova Sintra-Setor do Quínara-Guiné 1972/74
"Os Mais de Nova Sintra"
Bart 6520/72 - 2ª Cart


A Cilinha do Movimento Nacional Feminino, numa visita ao destacamento de Nova Sintra, em 1973

O Alferes Figueira, cabo-verdiano, grande amigo, acompanhou a visita desta "ilustre" personagem
ao nosso destacamento onde a guerra estava sempre ativa. (**)



Um abraço  Carlos Barros. ex-furriel miliciano (***)

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Notas do editor:

segunda-feira, 7 de setembro de 2020

Guiné 61/74 - P21332: Pequenas histórias dos Mais de Nova Sintra (Carlos Barros, ex-fur mil at art, 2ª C/BART 6520/72, 1972/74) (4): A cabrinha Inha...


Guiné > Região de Bolama > Nova Sintra > 1972 > Entrada do quartel dos Duros de Nova Sintra, a CART 2711, 1970/72... É possível que este pórtico, "Rancho dos Duros", tenha sido inspirado pelos vizinhos, mais antigos, do "Rancho da Ponderosa", destacamento de Ualada, subsetor de Empada, ao tempo da CCAÇ 1587 (1966/68).

Foto (e legenda): © Herlander Simões (2007). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagen complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]




Guiné > Região de Gabu > Piche > Foto nº 112/199 do álbum do João Martins > 1968 > Uma mulher fula amamentando, com o leite do seu próprio peito, a "sua" cabrinha (ou cabritinho ?), provavelmente um dos bens mais preciosos do seu escasso património familiar... Uma ternura de foto do álbum do nosso camarada João Martins, já célebre nas redes sociais.... Era mais fácil aos fulas vender-nos uma vaca do que um cabrito...

Foto: © João José Alves Martins (2012). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Carlos Barros, Esposende


1. Mais um pequena história do Carlos Barros, um de "Os Mais de Nova Sintra", 2ª C/BART 6520/72 (Bolama, Bissau, Tite, Nova Sintra, Gampará, 1972/74), os últimos a ocupar o aquartelamento de Nova Sintra antes da sua transferência para o PAIGC em 17/7/1974:


A cabrinha Inha

por Carlos Barros (*)
 

Os militares da 2ª Companhia de Nova Sintra, com reforços de pelotões de Jabadá (1ª C/BART 6520/72) e Fulacunda (3ª C/BART 6520/72) estiveram envolvidos na abertura da estrada Nova-Sintra –Fulacunda, em 1973.

Ao rasgar essa estrada, por entre mato denso, iriamos ter problemas com o inimigo , o que se veio a verificar já que fomos emboscados algumas vezes, tentando obstruir a nossa progressão porque esse acesso a Fulacunda não interessava militarmente ao PAIGC.

O furriel Barros estava com o seu grupo de combate na segurança da estrada, com outro grupo, e estavam homens e mulheres africanas envolvidas na descapinagem do estradão.

Verifiquei, por mero acaso, que uma indígena tinha apanhado uma cabrinha à mão que se tinha perdido da mãe e perguntei-lhe o que iria fazer com o animal. Prontamente me respondeu, dizendo que a ia matar e depois comê-la!

Abeirei-me dela e pedi que ma vendesse por 50 pesos , o que concordou perante a minha alegria, vendo que o animal não seria morto. (**)

No regresso ao destacamento, trouxe a cabrinha para o quartel, arranjei e adaptei um biberão e comprava leite na cantina e assim a Inha era alimentada por mim com todo o carinho e protecção.

Foi crescendo, dormia debaixo da minha cama na caserna e na parada do destacamento seguia-me para todo o lado.

O Capitão Cirne queria comprar a Inha mas confesso que não a vendia por dinheiro nenhum porque gostava muito do animal. A cabrinha era acarinhada pelos soldados do meu grupo, sendo a coqueluche da companhia e passeava por todo o lado, sem ninguém a molestar.

Tinha chegado a hora do jantar e, quando começávamos a comer o arroz com salsichas, vieram os soldados Cruz , Barros e Lurdes à messe e um deles disse-me:

- A Inha “adormeceu”…

Levantei-me a correr para a caserna e encontrei já morta a minha Inha, perante o meu desgosto…

O que aconteceu?

Um dos soldado deu-lhe cascas de manga e, provavelmente, teve uma congestão,  já que só se alimentava de leite e não vi outra razão…

Perdi a vontade de jantar e peguei n cabrinha, enterrei-a junto à caserna e depois coloquei uma cruz com uma lápide com os dizeres: “Aqui jaz a INHA”…

Foi um dia triste para mim e para os meus companheiros do pelotão e, nesse mesmo dia, morreu à mesma hora, uma gazela selvagem que tinha sido apanhada pelos militares e que se encontrava num galinheiro, “Gazeleiro,  improvisado….Triste coincidência…

Nunca mais desejei nenhum animal comigo, já que eles querem viver em liberdade, como todos nós seres humanos,  que, felizmente, só a conseguimos obtê-la no dia 25 de Abril de 1974.

Nova Sintra, maio de 1973,

Carlos Manuel de Lima Barros

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Notas do editor:

(*) Último postes da série > 4 de setembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21325: Guiné 61/74 - P21319: Pequenas histórias dos Mais de Nova Sintra (Carlos Barros, ex-fur mil at art, 2ª C/BART 6520/72, 1972/74) (3): As ratazanas (e o PAIGC) ao ataque em Gampará


5 de julho de 2020 > Guiné 61/74 - P21142: O nosso livro de visitas (206): Carlos Barros, natural de Esposende, ex-fur mil at art, 2ª CART / BART 6520/72 (Bolama, Bissau, Tite, Nova Sintra, Gampará, 1973/74)

(**) Vd, poste de 9 de março de 2018 > Guiné 61/74 - P18393: Fotos à procura de... uma legenda (102): Uma mulher fula a amamentar a "sua" cabrinha!... Ainda em tempo, celebrando o Dia Internacional da Mulher (Foto de João Martins, Piche,1968)

sexta-feira, 4 de setembro de 2020

Guiné 61/74 - P21325: Guiné 61/74 - P21319: Pequenas histórias dos Mais de Nova Sintra (Carlos Barros, ex-fur mil at art, 2ª C/BART 6520/72, 1972/74) (3): As ratazanas (e o PAIGC) ao ataque em Gampará



Guiné > Região de Quínara > Fulacunda > Mapa de Fulacunda (1956) > Escala 1/50 mil > Posição relativa de Gampará e da Ponta do Inglês na Foz do Rio Corubal 

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2013)




Carlos Barros, ex-fur mil at art, 
2ª C/ BART 6520/72 (1972/74)

1. Mais um pequena história do Carlos Barros, um de "Os Mais de Nova Sintra", 2ª C/BART 6520/72 (Bolama, Bissau, Tite, Nova Sintra, Gampará, 1972/74) (*):


As ratazanas ao ataque… 

 por Carlos Barros


O 3º Grupo de Combate da 2ª CART / BART 6520/72  foi destacado para Gampará, um pequeno inferno de guerra, zona conquistada “recentemente” ao PAIGC e que este movimento guerrilheiro nunca deixou de atacar, de uma forma insistente: eram constantes flagelações ao aquartelamento, inúmeras emboscadas no mato, em suma, era a guerra em toda a plenitude…

A maioria dos militares dormia ao ar livre, no período mais quente e outros recolhiam-se nas casernas, feitas de adobes com cobertura de chapas de zinco, onde o frio e a chuva, tinham entrada livre…

O furriel Barros dormia numa caserna, sobre um colchão de espuma, sem lençol, e dormir nestas condições era terrível já que a ansiedade estava constantemente presente, devido aos ataques dos guerrilheiros inimigos para além dos mosquitos, inimigo número um dos militares “metropolitanos”…

Os ratos eram às centenas, atacavam os militares, subiam pelas paredes dos adobes e “guinchavam” numa melodia de sons agudos e incomodativos.

Um dia, para fazer face a esta praga, o Barros pediu aos mecânicos da companhia para fazerem uma ratoeira e, passados dois dias, apareceu,  ao furriel, uma ratoeira cheia de molas, parafusos e outras “tecnologias”. Ratoeira montada durante uns dias, e os ratos entravam e saiam da ratoeira num gozo irritante…O Barros sentia-se ultrajado e agiu…

Fez uma ratoeira simples, com tábuas dos caixotes das batatas, uma caixa forrada com folheta, das latas de conservas, uma porta “levadiça”, um arame em caracol, com isco, a segurar a entrada da ratoeira improvisada e, no final, de uma semana, o Barros tinha apanhado 47 ratazanas, sim, foram quarenta e sete, nada mais , nada menos que essa quantidade de ratos…

E o que fazia o Barros, todas as manhãs? Imagine-se!...

Colocava as ratazanas num bidon, regava-as com gasolina e soltava-as numa curta corrida contra a morte…

Hoje, não faria isto, mas a guerra transtorna as nossas mentes e a realidade foge-nos…

O Barros não ficou com a patente da armadilha, pelo contrário, deu a conhecer aos “artistas inventores” dos condutores a estrutura e o funcionamento do mesma e, a partir daí, o furriel Barros, era o grande inventor e o inimigo das ratazanas… O Barros apanhava, e a população nativa, levava a “mercadoria” para as suas tabancas, para comerem como “pitéu”…

Em Gampará havia alguma população e eram maioritariamente Balantas e Mandingas e as ratazanas assadas eram comidas por esta população e vi, muitas vezes, eles nas bolanhas secas, com uma catana, esburacarem as tocas para apanharem esses roedores para sustento da família….

Como curiosidade, e um pouco aparte desta história, segundo censo de 1960, a população total da Guiné era de 521 336 habitantes, dos quais 519 229, constituíam a população residente.

A densidade populacional média, para toda a “Província” aproximava-se dos 15 habitantes por Km2.

No grupo mandinga contam-se os Mandingas, os Saracolés, os Bombarás, os Jacandas, os Sossos e os Jaloncas. A Guiné tinha uma diversidade étnica muito grande: Balantas, Manjacos, Mandingas, Papel, Brame, Fulas, Beafadas,Bijagós, Felupes, Torancas…Estas etnias e muitas outras, eram constituídas por vários subgrupos, numa complexidade tal, que a convivência entre eles não era fácil, como se pode depreender.

Estes dados é apenas , para dar a conhecer um pouco da população guineense mas, muito mais poderia descrever…

Uma coisa é certa, o Barros continuou na sua luta contra os ratos, uma longa guerra que continuou no tempo e, no final da Comissão, já em Esposende, contei esta história à minha família e amigos meus que a acharam engraçada e curiosa…

Carlos Barros
Esposende, 19 de junho de 2020
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quinta-feira, 3 de setembro de 2020

Guiné 61/74 - P21319: Pequenas histórias dos Mais de Nova Sintra (Carlos Barros, ex-fur mil at art, 2ª C/BART 6520/72, 1972/74) (2): A fuga da 'beijuda'


Guiné > Região de Quínara > Mapa de Tite  (1955) > Escala 1/50 mil > Alguns topómimos mais conhgecidos: Tite, Enxudé, Jabadá, na margem esquerda do Rio Geba.

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2020)




Carlos Barros, Esposende


1. Mais um pequena história do Carlos Barros, um dos Mais de Nova Sintra, 2ª C/BART 6520/72 (Bolama, Bissau, Tite, Nova Sintra, Gampará, 1972/74) (*):



A fuga da “beijuda" 

por Carlos Barros


O 3º Grupo de Combate dos “Mais de Nova Sintra” foi garantir a segurança da estrada Tite-Enxudé, um acesso de extrema importância, uma vez que o cais do Enxudé [vd. infografia acima], garantia o acesso, por via marítima e fluvial, à cidade de Bissau, através da utilização de pequenas embarcações para o transporte de tropas, material de guerra e outras mercadorias..

No seu abrigo, o Barros entretinha-se a comer castanhas de caju oferecidas por um grupo de crianças que, geralmente, recebiam sopa quentinha vinda da cozinha de Tite, que era pedida pelo furriel Barros.

Sobrava sempre sopa,  já que a maioria dos soldados não a comia e, deste modo, “matava-se a fome” àquelas gentis e simpáticas crianças que, com os seus sorrisos, alegravam o ambiente.

De repente, ouviu-se uma gritaria tremenda:

− Socorro, socorro, ele vem atrás de mim!  −  uma jovem beijuda africana que fugia de um pretendente ao casamento…

− Furriel, ajude-me, ajude-me!…

O Barros não se queria envolver numa situação complicada e que não lhe dizia respeito e respondeu à jovem para fugir para a mata densa,  que depois  ria despistar o intruso…

Passados momentos, numa correria louca,  apareceu o africano, suando por todos os poros da pele, e perguntou ao Barros se tinha visto a beijuda...

O Barros respondeu-lhe que sim e que ela tinha fugido por aquele caminho, totalmente oposto ao percurso seguido pela jovem africana…

Naturalmente que os dois jamais se encontrariam e até ao final do dia, nunca mais soube do desfecho daquela “intriga” não palaciana mas... "tabancaciana"- 

− Acontece-me cada uma! −  desabafou o furriel Barros para um soldado que o acompanhava na segurança… 

Para esquecer isto, o Barros convidou o amigo para beberem uma cerveja fresquinha que estava dentro de um balde com água perto do Unimog…

Tite,  1972

Ex-furriel Barros
2ª C/BART 6520/72

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Nota do editor:

Último poste da série > 3 de setembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21318: Pequenas histórias dos Mais de Nova Sintra (Carlos Barros, ex-fur mil at art, 2ª C/BART 6520/72, 1972/74) (1): Bacari, o caçador furtivo

Guiné 61/74 - P21318: Pequenas histórias dos Mais de Nova Sintra (Carlos Barros, ex-fur mil at art, 2ª C/BART 6520/72, 1972/74) (1): Bacari, o caçador furtivo



Guião do BART 6520/72 (Tite,  1972/74). 
Coleção: Carlos Coutinho
(com a devida vénia...)


Carlos Barros, ex-fur mil at art, 
2ª C/BART 6520/72 (1972/74).
"Os Mais de Nova Sintra"

1. Vamos dar início à publicação de algumas "pequenas histórias dos Mais de Nova Sintra", série da autoria  do novo membro da Tabanca Grande, Carlos Barros, ex-fur mil at art, 2ª CART / BART 6520/72 (Bolama, Bissau, Tite, Nova Sintra, Gampará, 1972/74).

 O nosso camarada é professor aposentado e  um  apaixonado pela  sua terra natal, Esposende, em cuja vida comunitária continua a participar proativamente. (*)


Bacari, o caçador furtivo

por Carlos Barros


O Bart 6520/72, o nosso Batalhão de Artilharia, já tinha 18 meses de Comissão e o tão ansiado regresso à Metrópole, estava cada vez mais próximo. Havia um redobrado cuidado nas saídas para o mato e no cumprimento das normas de segurança ao destacamento de Nova Sintra, guarnecido pela 2ª Companhia. 

O arame farpado era constantemente vigiado assim como qualquer acesso ao destacamento porque o inimigo era astuto e conhecia bem o terreno.

Numa tardinha, na despedida do astro-rei, o vigia a um dos postos viu um vulto no meio de capim à espreita e foi dado o alarme porque poderia ser um guerrilheiro do PAIGC. Via-se a cabeça a mover-se entre as ressequidas ervas do capim e o soldado avisou:

 Quem está aí, levante os braços e entregue-se! 

O militar poderia ter disparado mas teve o bom senso de tomar as devidas cautelas e com a arma G3 em posição de fogo apontou ao “fantasma”…

Ouve-se um grito:

− Não dispare , não dispare, sou o Bacari!

O Bacari era um elemento da povoação nativa que andava sempre à caça e, muitas vezes de noite, não avisava os militares de Nova Sintra, o que punha em risco a Companhia.

Felizmente, o desfecho não foi trágico mas poderia ter sido e este amigo foi avisado para nunca mais sair de noite para caçar, o que cumpriu até ao final da Comissão [, ou seja, até 17 de julho de 1974].

Ao amigo Bacari, nesta noite, tinha-lhe saído a sorte grande…

Nova Sintra,  1974

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Nota do editor:

quarta-feira, 2 de setembro de 2020

Guiné 61/74 - P21316: Tabanca Grande (501): Carlos Barros, ex-fur mil, 2ª CART / BART 6520/72 (Bolama, Bissau, Tite, Nova Sintra, Gampará, 1972/74) que passa a sentar-se à sombra do nosso poilão, no lugar nº 815... É natural de Esposende e professor aposentado.


Carlos Barros, novo membro da Tabanca Grande, nº 815. Foi fur mil at art, 2º CART / BART 6520/72 (1972/74), "Os Mais de Nova Sintra"


1. Mensagem de Carlos Barros, ex-fur mil. 2ª CART / BART  6520/72 (Bolama, Bissau, Tite, Nova Sintra, Gampará, 1972/74) (*), que passa a sentar-se à sombra do nosso poilão, no lugar nº 815:


 
Data: 18/06/2020, 20:43

Um pouco da minha biografia:

(i) Sou Professor Aposentado, casado, embora continue , como voluntário num Projeto de Leitura/Literacia, numa Escola do Concelho de Esposende, "Escola de Mar";

(ii) sou dirigente, há mais de 15 anos,  da Associação Humanitária de Bombeiros Voluntários de Esposende (AHBVE);´

(iii) pertenço à  Redação do Jornal "Farol de Esposende!,  redator permanente;

(iv) organizo anualmente, o Encontro/Convivio dos "Mais de Nova Sintra, (vamos no 45º),  sempre no Centro do País: Mealhada-Águeda-Recardães:  o 1º organizador foi o furriel José Sousa Gonçalves (12 anos seguidos,  de 1975 a 1987) e agora sou eu, nas calmas e faço-o com muito carinho;

(v) intervenho noutras atividades -Futebol;  fui Presidente da ADE (, Associação Desportiva de Esposende) e dirigente muitos anos;

(vi) em suma, sou um cidadão simples, humilde , solidário e interveniente.

Fico por aqui...Um abraço
Carlos Barros (Ex-furriel Miliciano)
Bart 6520/ 2ª Cart.

Nota: Todos os nossos testemunhos serão importantes para construir a História da Guerra Colonial

2. Resposta do editor LG, na volta do correio:

Carlos, então somos colegas, ambos somos professores, um profissão nobre...Na tua terra, Esposende, tenho amigos... E há um camarada do nosso blogue, que esteve comigo em Bambadinca, em finais de 1970, o Mário Miguéis da Silva, bancário reformado e talentoso cartunista... És capaz de o conhecer...Esteve no Saltinho, não muito longe de ti, que estavas m São João, mais a sul..

Mas vejo que não me mandaste nenhuma foto, das que te pedi, uma mais ou menos atual, e outro do "antigamente"... Vê lá isso, para eu te poder apresentar à Tabanca Grande, com pompa e circunstância... E também consegui abrir as fotos da entrega do aquartelamento de Nova Sintra, em 17 de julho de 1974, e outras do teu álbum, que me mandaste e que querias partilhar com os nossos leitores. Aguardo a 2ª via,

Boa saúde, boa reforma, bom desconfinamento... Luís

3. No mesmo dia, 18 de junho, às 22h43, o Carlos Barros respondeu:

Boa noite:

O Mário Miguéis é meu conterrâneo e grande amigo de infância. Estudamos juntos em Esposende, é um ano mais velho que eu, no Externato Infante Sagres.

A família são talentosos em "cartoon", todos eles, com ligeiras diferenças no talento. No ano passado fui a Lamego visitar o irmão. o Arquitecto Quim Miguéis.

Sabia que tinha estado em S. João onde esteve o alferes Garcia que faleceu assim como o nosso capitão da Companhia, Armando Cirne.

Ser professor é algo de dignificante e marcante na sociedade, sem desprimor para as demais profissões. Ser professor é ser diferente...

Por hoje é tudo. Um abraço e b.f.s.

Bom fim de semana.
Carlos Barros
Esposende 

4. Comentário de L.G.:

As tais fotos "históricas" não há maneira de cá chegarem... Mas entrentanto o Carlos Barros tem estórias do seu tempo de "soldado do fim do império" que aguardam publicação. Para não atrasar mais a sua edição, o Carlos Barros fica apresentado à Tabanca Grande, o que já devia ter acontecido há  dois meses atrás. Senta-se agora no lugar nº 815 (**), não precisa de pedir mais licença para entrar... Tem página no Facebook.

Sobre a sua companhia e batalhão, a 2ª CART / BART 6520/72, acrescentaremos o seguinte; mobilizados pelo RAL 5, partiram para o TO da Guiné em 23 de junho de 1972 e regressaram a 21 de agosto de 1974. Oficialmente estiveram em Nova Sintra e Bissau. Comandantes de companhia: cap mil inf Armando da Fonseca Cirne; cap art José Manuel Campante de Carvalho; e cap mil inf João Barbosa Machado. E ficaram justamente conhecidos pro "Os Mais de Nova Sintra".

O comano e a CCS do BART 6520/72, por sua vez esteviveram, em Tite, tendo por  o batalhão por comandantes o ten cor art Rui Ferreira dos Santos, e ten cor art Fernando José de Alemeida Mira. 

A 1º CART esteve em Jabadá e Bissau (cap mil inf José Pereira Baptista Dias), e a 3ª CART em Fulacunda (cap mil inf José João Mousinho Serrote).
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Notas do editor:


domingo, 5 de julho de 2020

Guiné 61/74 - P21142: O nosso livro de visitas (206): Carlos Barros, natural de Esposende, ex-fur mil at art, 2ª CART / BART 6520/72 (Bolama, Bissau, Tite, Nova Sintra, Gampará, 1973/74)

Carlos Barros, Esposende
1. Mensagem do nosso camarada Carlos Barros, natural de Esposende, professor refiormado, ex-fur mil 2ª CART / BART 6520/72 (Bolama, Bissau, Tite, Nova Sintra, Gampará, 1973/74) [, foto à esquerda, do Facebook]:


Date: quarta, 17/06/2020 à(s) 18:06
Subject: Bart 6520, 2ª Cart
Estimado amigo:


Brevemente irei escrever  algo sobre a minha/nossa vivência  em Bolama, Bissau, Tite, Nova Sintra, Gampará..

Para iniciar, envio este sucinto texo para mim, histórico sobre a entrega ao PAIGC,  do nosso destacamento de Nova Sintra.

Um abraço e parabéns pelo seu trabalho. Carlos Barros, Esposende.

Quando os guerrilheiros entraram no destacamento de Nova Sintra, o Comandante, Capitão Machado e outros graduados, devidamente fardados com os seus camuflados de combate, receberam com dignidade os combatentes do PAIGC acompanhados com uma população civil que lhe era afeta.

Numa fase inicial, depois de contactos prévios com os Comandantes do PAIGC, foram autorizados a entrarem no aquartelamento e, por mera coincidência, os furriéis Barros (eu próprio) e o Ferreira tomaram a iniciativa de irem ao encontro dos guerrilheiro, abrindo-lhes o " portão" junto às bananeiras.

E não houve qualquer problema nessa convivência, embora numa fase inicial, existia um certa "receio", natural, porque algo poderia acontecer de menos bom, como aconteceu em Angola e Moçambique.

Estes são os factos para a história, entre muitos, da Guerra Colonial.


2. Resposta do nosso editor LG,  18 jun 2020 15h35:

Boa tarde, camarada Carlos. Obrigado pela tua mensagem. Registo e saúdo a tua vontade de partilhar, connosco, as tuas boas e más memórias do guerra do fim do império... É um período que precisa de ser melhor conhecido, até porque está carregado de muitas emoções....

Eu já lá não estava, regressei em março de 1971...Vejo que és de 1950, eu sou de 1947...Gostava de saber algo mais sobre ti para te poder apresentar à nossa Tabanca Grande que já reune quase um batalhão e meio de gente... Somos 808 [, agora já 810], entre vivos e mortos, os camaradas (e os amigos) da Guiné... Contigo seremos 809 [, agora 811]...Manga de pessoal!...Preciso apenas de 2 fotos tuas, uma antiga, outra mais atual...

No ficheiro que mandaste, não consigo abrir as imagens...Não seria possível mandá-las, de novo, mas à parte, em anexo, em formato jpg, com boa resolução ?

No teu anexo, só consigo ler as legendas das fotos (que devem ter interesse documental para a nossa história da Guiné):
  • Entrega do destacamento de Nova Sintra ao PAIGC dia 17 de Julho de 1974
  • Os guerrilheiros na entrada do quartel de Nova Sintra .
  • Destacamento de Nova Sintra- 1972/74
  • Visita voluntária ao destacamento S. João: final da Comissão. Eu não fui.  Rebentou uma mina anti-carro: feridos…Parece que adivinhava…
  • Nas tabancas de Nova Sintra: População nos seus afazeres dométicos…1973
  • Regresso a Bissau-Lisboa: Cais do Enxodé : 18 de Julho de 1974
  • Esplanada de Bissau 1973
  • O furriel Barros a almoçar: 1973
  • O convívio dos militares com a população guineense 1974
  • Campo de futebol de Nova Sintra 1973
  • O Barros e o Apolinário, furriéis “matando” a sede…(nunca morria…)
  • Equipa de futebol dos condutores e a dos graduados Junho de 1974
  • Equipa de futebol dos condutores e a dos graduados Junho de 1974.

Fico a aguardar mais notícias. Um alfabravo. LG

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quarta-feira, 16 de outubro de 2019

Guiné 61/74 - P20246: Episódios da minha guerra (Manuel Viegas, ex-fur mil, CCAÇ 1587, Empada, Catió e Ilha do Como, 1966/68) - Parte I: O ataque ao destacamento avançado, "Rancho da Ponderosa", na tabanca de Ualada, subsetor de Empada


Guiné > Região de Quínara > Empada > CCAÇ 1587 (Cachil, Empada, Bolama e Bissau, 1966/68) > Ualada > Destacamento "Rancho da Ponderosa> O soldado Jorge Patrício, à porta do destacamento. A tabanca terá sido abandonada pela população e o destacamento desativado no segundo semestre de 1968 (, facto a confirmar), na sequência da retração e racionalização  do dispositivo no CTIG, no início do "consulado" de Spínola, altura (2º semestre de 1968/ 1º semestre de 1969) em que foram abandonadas outras posições como Ponta do Inglês, Gandembel,  Ganturé, Cacoca, Sangonhá, Beli, Madina do Boé, Cheche... (Em 2009, o José Patrício vivia em Viseu, já aposentado da função pública.)

O destacamento deve ter sido construído pela CCAÇ 1423 (RI 15, Tomar), que  ocupou o aquartelamento de Empada entre janeiro de 1966 e dezembro do mesmo ano, seguindo depois para o Cachil.  [Foi comandada pelo Capitão de Infantaria Artur Pita Alves, Capitão de Infantaria João Augusto dos Santos Dias de Carvalho, Capitão de Cavalaria Eurico António Sacavém da Fonseca, de novo Capitão de Infantaria João Augusto dos Santos Dias de Carvalho, e de novo Capitão de Infantaria Artur Pita Alves. Ostentou como Divisa “Firmes e Constantes”.]


(i)  a CCAÇ 616 (RI 1, Amadora), ocupou o aquartelamento entre abril de 1964 e janeiro de 1966, quando acabou a comissão. [Foi comandada pelo nosso grã-tabanqueiro , de Ferrel, Peniche,   alf mil Joaquim da Silva Jorge,  pelo cap mil inf  Francisco do Vale,  cap inf  José Pedro Mendes Franco do Carmo, de novo pelo alf mil inf Alferes Miliciano  Joaquim da Silva Jorge e cap cav Germano Miquelina Cardoso Simões; ostentou como Divisa “Super Omnia”]M

(ii) segui-se a Companhia de Milícias n.º 6, do recrutamento local, quem ocupou o aquartelamento entre Janeiro de 1965 e Dezembro de 1971, até à extinção da força.

Por informação posterior, do nosso amigo e camarada Joaquim Jorge, ficamos a saber que "quem "fundou e construiu a 'Ponderosa' foi a CCAÇ 616 da qual eu era comandante em 17 de Março de 1965."
Fonte: Cortesia do CM - Correio da Manhã, edição de 4/10/2009. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Guiné > Região de Bolama > Nova Sintra > 1972 > Entrada do quartel dos Duros de Nova Sintra, a CART 2711, 1970/72... É possível que este pórtico, "!Rancho dos Duros", tenha sido inspirado pelos vizinhos,  mais antigos, do "Rancho da Ponderosa", destacamento de Ualada, subsetor de Empada,  ao tempo da CCAÇ 1587 (1966/68).

Foto (e legenda): © Herlander Simões (2007). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagen complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


[Foto à esquerda: Manuel Rosa Viegas, ex-Furriel da Companhia de Caçadores, nº 1587, Empada , Catió e ilha do Como, entre 1966 e 1968; vive em Faro; é o mais recente membro da Tabanca Grande, nº 798 (*)]


Episódios da minha guerra (Manuel Viegas, ex-fur mil, CCAÇ 1587, Empada, Catió e Ilha do Como, 1966/68) - Parte I:  O ataque ao destacamento avançado, "Rancho da Ponderosa", na tabanca de Ualada, subsetor de Empada.


É com profunda nostalgia e tristeza que irei narrar algumas das operações em que colaborei e ataques e flagelações que sofri.

O episódio que irei transcrever em 1º lugar, não é o que mais me marcou psicologicamente, mas sim fisicamente.

Estava colocado em Empada e calhou a primeira vez, juntamente com o meu pelotão , que estava no destacamento avançado,  a cerca de cinco quilómetros de Empada, de nome "Rancho da Ponderosa" (**).

Tinha como finalidade fazer a segurança a uma pequena tabanca [, Ualada, a sudoeste de Empada,]   e ao mesmo tempo servia para resguardar a retaguarda da companhia de Empada.

O Rancho tinha uma circunferência de duzentos metros aproximadamente , e era ladeado de abrigos . Ao aproximar-se o sol posto e após os soldados terem jantado , aproximei-me deles e disse-lhes para iram para os abrigos , mas alguns deles não gostaram muito e um deles ainda disse “ o furriel Viegas é sempre o mesmo” , e três ou quatro por represália foram para a capelinha que lá tínhamos.

Acabei por me dirigir a eles diplomaticamente e fazer-lhes ver que estava na hora do inimigo atacar, a muito custo abandonaram a capelinha , tendo ficado para trás o Manuel dos Santos , que por coincidência era dos que com quem eu me dava melhor . A capelinha ficava junto ao abrigo do morteiro 81, passados alguns minutos dos soldados se retirarem para os abrigos , quase simultaneamente, atacaram-nos de norte para sul com canhões sem recuo , talvez tenha sido a primeira vez que utilizaram os mesmos.

Entretanto eu saltei para o buraco do morteiro , e o Manuel dos Santos rastejou até ás granadas que estavam próximas do morteiro , mas tanto ele como eu não tínhamos experiência de mandar as morteiradas , foi a nossa sorte, a falta de experiência , estas caíram próximas dos nossos abrigos onde eles estavam a alvejar o aquartelamento. Além das granadas que lhes caíram em cima, os dos abrigos responderam com todo o material que tinham.

O ataque não demorou muito, cerca de vinte minutos,  eles foram bastante flagelado, deixando algum material abandonado na sua retirada .

Uma das granadas caiu no aquartelamento , em cima da mesa do refeitório onde tínhamos acabado de jantar, os pratos, os púcaros e os tachos ficaram todos furados.

Eles estavam preparados para dar um golpe de mão, e matar-nos a todos, só que as coisas correram mal para eles, para nosso bem. Só com um senão da nossa parte que fica para toda a vida,  o Manuel dos Santos ficou surdo oito dias e eu fiquei surdo de um ouvido, e tanto ele como eu ficámos com um zumbido para toda a vida.

PS. - Supomos que eles tinham tudo planeado para dizimar o Rancho do Ualada ("Ponderosa") , porque nessa mesma noite eles anunciaram na rádio que tinham feito uma limpeza total e só se safou um cão.

Aproveito para dizer que a minha companhia até ao dia do embarque trouxe três flâmulas de ouro, salvo erro quem trouxe mais do que nós foram os paraquedistas  [, do BCP 12,] com cinco.

Manuel Rosa Viegas,
ex-fur mil, CCAÇ 1587 (1966/68)



Guiné > Região de Quínara > Carta de Empada (1961) > Escala 1/50 mil > Posição relativa de Empada e, a sudeste, Ualala.

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2019)
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Vd. postes de 


(...) Houve uma Companhia que em memória da célebre série da TV, "Bonanza",  fez um pórtico com o nome "Rancho da Ponderosa" e este vingou, ficando a ser conhecida por todo o branco como Ponderosa. 

(...) Em 1969 a Tabanca [, de Ualada, a sudoeste de Empada) ] estava deserta. Tinha sido abandonada e a população recolhida em Empada. Como tinha um bolanha muito produtiva, a população ia todos os dias para lá trabalhar nos campos de arroz e a minha Companhia fazia deslocar 2 Secções para o local, no sentido de proteger a população. Algumas das fotos que te envieiforam tiradas lá (, uma em cima de um bagabaga, pro exemplo). Vou ver se consigo um foto que já vi,  com o pórtico do Rancho da Ponderosa. (...)

9 de novembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10643: Manuel Serôdio, ex-fur mil CCAÇ 1787 (Empada, Buba, Bissau, Quinhamel, 1967/68) (Parte V): O subsetor de Empada

(...) Ualada era uma tabanca junto à bolanha do mesmo nome, e junto à qual existiu um destacamento defendido por 2 grupos de combate. Tendo o destacamento sido abandonado e destru[ido pelas nossas tropas, a população de Ualada refugiou-se em Empada. (...)