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terça-feira, 3 de dezembro de 2019

Guiné 61/74 - P20411: Pequeno dicionário da Tabanca Grande, de A a Z (6): edição, revista e aumentada, Letras D/E


Foto nº 1



Foto nº 2

Guiné-Bissau > Bissau > Abril de 2006 > Viagem Porto-Bissau > Duas imagens que queremos ver banidas para sempre: na foto nº 1, um chimpanzé em cativeiro;  na foto, aparece também a Inés, filha do Xico Allen...Na foto nº2, um babuíno, macaco-cão ("sancu", em crioulo), segura a mão de um outro elemento da "comitiva humana" de que a Inês faz parte...

Fotos (e legenda) : © Hugo Costa  (2006). Todos direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].


Observações: 

O chimpanzé  não é macaco, é símio ( "dari", em crioulo)... O "dari", o "sancu" e a Inês pertencem à ordem dos Primatas... O "dari" é um símio e a Inês um(a)hominídeo(a), ambos têm cerca de 98% do mesmo ADN... O "dari" é um Pan (género) Troglodytes (espécie). A Inês, um exemplar da espécie Homo Sapiens Sapiens. 

Por sua vez, o macaco-cão (babuíno) é um antropóide cercopitecídeo do género Papio... 

Os três têm em comum um antepassado longínquo, que remonta há 70 milhões, antes da extinção dos dinossauros... O "sancu" e o "dari" são espécies ameaçadas, o "dari" é seguramente o que vai desaparecer primeiro, depois talvez o "sancu" e a seguir o ser humano...

De um modo geral, as populações da Guiné-Bissau, não muçulmanas, caçam e comem o "sancu". No "mato", no tempo da "guerra de libertação", o macaco.cão fornecia muita da proteína animal de que precisavam os guerrilheiros do PAIGC, e as populações sob o seu controlo... Sobretudo depois de 1980, a caça (ilegal) ao macaco-cão aumentou (*). Hoje é, infelizmente, produto-gourmet nalguns restaurantes de Bissau...

Quanto ao "dari", o chimpanzé da matas do Cantanhez e do Boé , há em princípio um maior respeito pelas suas semelhanças com o ser humano. Os muçulmanos respeitam-nos pro ser um homem, um ferreiro que não respeitava as   Mas os juvenis são objeto de tráfico... O habitat do "dari" está condicionado pelas atividades humanas (além da caça, o risco de epidemias, a expansão das áreas de cultivo, e nomeadamente do caju, e a desmatação ilegal para extração de madeiras exóticas, como o pau de sangue, exportado para a China).


Guiné-Bissau > Região de Tombali > Parque Nacional do Cantanhez > Madina > 10 de Dezembro de 2009 > 7h32 > Um "dari" (chimpanzé) descendo uma árvore ... Este grande símio (o mais aparentado, do ponto de vista genético, ao ser humano) é muito difícil de observar e fotografar... Contrariamente a outros primatas que existem no Parque, ainda com relativa abundância como o macaco fidalgo ("fatango", em crioulo). Duvido que algum de nós, durante a guerra colonial, tenha visto algum "dari" no seu habitat... As regiões a que hoje está confinado (Cantanhez e Boé) foram palco de guerra entre 1961 e 1974 e,  antes disso, de caça e tráfico animal.


Diz a lenda (guineense) que o "dari", em tempos, era um homem, um ferreiro, que Deus transformou em animal selvagem, por castigo, por não respeitar o dia de descanso da semana... 

Foto: © João Graça (2009). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Pequeno Dicionário da Tabanca Grande, 
 de A a Z: 
[Em construção, desde 2007]

Letras D / E

1. Continuação da publicação do Pequeno Dicionário da Tabanca Grande (**), de A a Z, em construção desde 2007, com o contributo de todos os amigos e camaradas da Guiné que se sentam aqui à sombra do nosso poilão, e que até têm um livro de estilo (***). Entradas das letras D e E:


Dari - Chimpanzé (das matas do Cantanhez e do Boé) (crioulo)

DC 3 - Avião de transporte (FAP) 

DC 6 - Avião de transporte (FAP) 

DCON - Missão de acompanhamento (FAP) 



Degtyarev [ou Dectyarev RDP] - Metralhadora ligeira, de calibre 7,62 mm x 39 mm, m/13 , 1953 de origem soviética (PAIGC) Metralhadora ligeira Dectyarev RDP, calibre 7,62 x 39 mm, m/13,  (Origem: ex-URSS)(PAIGC)

Degtyarev-Shpagim - Metralhadora pesada 12,7 mm, de origem soviética (PAIGC) 

Desenfianço - Escapadela (por ex., até Bissau) (gíria) 

Dest - Destacamento 

Dest A - Destacamento A 

DFA - Deficiente das Forças Armadas 

DFE - Destacamento de Fuzileiros Especiais 

Diorama - Maqueta a 3 dimensões (v.g., aquartelamento de Guileje) 

Djídio (ou gigio) - Cantor ambulante que ia de tabanca em tabanca, transmitindo as notícias (crioulo) 

Djila - Vd. Gila 

Djubi - (i) Olha! (crioulo); (ii) mas também criança, menino


Djurtu -  Mabeco, ou cão selvagem (crioulo);  "djurtus" é a alcunha da seleção nacional de futebol da Guiné-Bissau.

DO 27 - Dornier 27 (Avioneta), avião ligeiro de transporte; também era usado como PCV  - Posto de Comando Volante(FAP), que os "infantes" abominavam...

Drone - Máquina voadora não tripulada (não existia no nosso tempo) (FAP) 

Drop Tanks - Depósitos de combustível (FAP) 

EAMA - Escola de Aplicação Militar de Angola, com sede em Nova Lisboa (hoje, Huambo)

ECS - Escola Central de Sargentos (Águeda)


EE - Escola do Exército (antecessora da AM - Academia Militar)


Embondeiro - Cabaceira, baobá (Senegal) 

Embrulhanço - Contacto pelo fogo com o IN, ataque, emboscada (gíria)

Embrulhar - Ser atacado (pelo IN) (gíria) 

Enf - Enfermeiro 

Enf Para - Enfermeira paraquedista 

Engine Master - Botão principal de uma aeronave (FAP) 

EP - Exército Popular (PAIGC)


EPA - Escola Prática de Artilharia (Vendas Novas)

EPC - Escola Prática de Cavalaria (Santarém) 

EPI - Escola Prática de Infantaria (Mafra), também conhecida por Máfrica (gíria)ou ainda Entrada Para o Infermo (gíria)

EREC - Esquadrão de Reconhecimento [de Cavalaria]

Esp - Espingarda 

Esp Aut - Espingarda Automática




Esp Aut FN (Vd. FN) - Espingarda automática, de calibre 7,62 mm, FN FAL [, acrónimo de Fabrique National, Fusil Automatique Léger]. De origem belga (1954), equipou as NT no início da guerra colonial.

Esp Aut G3 {Vd. G3]- A Gewehr 3 (G3) (em alemão, Gewehr quer dizer espingarda) é uma espingarda automática, de fabrico alemão (1959), usada pelo Exército Português durante a guerra colonial, e recentemente descontinuada (em setembro de 2019). De calibre NATO (7.62 × 51 mm), tinha como rival, do lado do PAIGC, a famigerada Kalash!



Esp MMA - Especialista Mecânico de Manutenção Aeronáutica (FAP) 


Espaldão (de obus, de morteiro...) - Termo usado em engenharia militar para designar um  anteparo de uma trincheira ou fortificação, que serve para proteger a artilharia (ou armas pesadas de infantaria) e a respetiva guarnição.

Esq - Esquadrão 

Esq Mort - Esquadrão de Morteiro 

Esquadra - Organização militar de aeronaves (FAP) 





Um caça Fiat G.91 R/4 dos “Tigres” da Guiné.




Esquadra 121 Tigres - Constituída por Fiat-G 91, T-6 e DO-27 (BA 12, Bissalanca) (FAP) 

Esquadra 122 - Heli AL III (BA12, Bissalanca) (FAP) 

Esquadra 123 - Nord Atlas e DC-3 (BA12, Bissalanca) (FAP) 

Esquentamento - Blenorragia, doença venérea (corrimento de pus pela uretra) (calão) 

Estado Novo - Regime político que vigorou em Portugal, de 1933 a 1974. Foi antecedido pela Ditadura Militar que, com o golpe de Estado de 28 de maio de 1926, pôs fim à República (1910-1926).

Estilhaços de frango - Pouca comida (gíria) 
 
________
 

Notas do editor:

(*) Vd. postes de: 


21 de novembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16744: Em bom português nos entendemos (15): Comer macaco, não obrigado... "Santchu bai fika na matu"... E cão ("kakur") fica com o dono, no restaurante em Bissau... Ajudemos a salvar os primatas da Guiné... O "santchu", o "dari"..., ao todo são 10 primatas que correm o risco de extinção se os hominídeos continuarem a destruir o seu habitat e a fazer deles um petisco...


14 de novembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16717: Manuscrito(s) (Luís Graça) (101): Comer macacos... só os do nariz!... Ajudemos os guineenses a proteger o "sancu" (macaco) e o "dari" (chimpanzé)...Ficaremos todos mais pobres quando eles se extinguirem... e quando as areias do deserto do Sará chegarem às portas de Bissau!... Ficaremos todos mais pobres, os guineenses, os amigos da Guiné, todos nós, os últimos dos hominídeos...

(**) Vd. postes anteriores da série:

18 de outubro de 2019 > Guiné 61/74 - P20255: Pequeno dicionário da Tabanca Grande, de A a Z (5): edição, revista e aumentada, Letra C

14 de outubro de 2019 > Guiné 61/74 - P20240: Pequeno Dicionário da Tabanca Grande, de A a Z (4): 2ª edição, revista e aumentada, Letras M, de Maçarico, P de Periquito e C de Checa... Qual a origem destas designações para "novato, inexperiente, militar que acaba de chegar ao teatro de operações" ?

13 de outubro de 2019 > Guiné 61/74 - P20237: Pequeno Dicionário da Tabanca Grande, de A a Z (3): 2ª edição, revista e aumentada, Letra B

13 de outubro de 2019 > Guiné 61/74 - P20235: Pequeno Dicionário da Tabanca Grande, de A a Z (2): 2ª edição, revista e aumentada, Letra A


(***) Vd. 22 de abril de 2018 > Guiné 61/74 - P18548: O nosso livro de estilo (11): Proverbiário da Tabanca Grande, 4ª edição revista e aumentada: "Camarada, mais do que um dever, é uma honra que te é devida, ir a Monte Real pelo menos uma vez na vida"...

segunda-feira, 2 de dezembro de 2019

Guiné 61/74 - P20408: Da Suécia com saudade (61)... E agora também dos States, Florida, Key West... Carta aberta aos Editores e Camaradas da Tabanca Grande: o que todos (!) temos em comum é termos participado, cada um de seu modo e à sua maneira, na experiência incrível que foi a guerra da Guiné... Por favor, não caiamos na perigosa tentação de nos dividirmos em operacionais... e não operacionais (José Belo)

1. Mensagem do nosso régulo da Tabanca da Lapónia... ou, nesta altura do ano, da Tabanca de Key West, Florida:

De: Joseph Belo Data: 1 de dezembro de 2019 17:13

Assunto: Carta aberta aos Editores e Camaradas da Tabanca Grande

 Resumindo uma vida, o nosso Zé Belo [, foto atual à esquerda]: 

(i) é o português mais 'assuecado' (ou o sueco mais 'aportuguesado') da Tabanca da Lapónia e da Tabanca Grande;

(ii) ex-alf mil inf da CCAÇ 2381, Ingoré, Buba, Aldeia Formosa, Mampatá e Empada, 1968/70, cap inf ref; (não precisa de certificado para comprovar que andou no mato, no Norte e no Sul da Guiné);


(iii) jurista, vive na Suécia há mais de 4 décadas, e onde constituiu família: continua a ter um pontinha nnas suas raízes portuguesas: "Com netos sueco-americanos, o sangue Lusitano vai-se diluindo cada vez mais. Mas, como dizem os Lusíadas... 'Se mais mundos houvera, lá chegara'...".

(iv) reparte os dias do ano entre a Suécia, o círculo polar ártico e a Flórida, EUA, onde a família tem negócios; 
 
(v) tem 133 referências no nosso blogue; entrou "de jure e de facto" para a nossa Tabanca Grande em 8 de março de 2009


(vi) é mestre na arte e na ciência da simulação, camuflagem, guerrilha e contra-guerrilha,  bem como da criação de renas, e ainda arranja tempo para beber uns daiquiris à sombra das palmeiras de Key West, curtindo a sua musiquinha; pode estar meses 'desaparecido' e 'incontactável' mas volta sempre ao 'local do crime', quer dizer, a este blogue, ao seu blogue, ao nosso blogue, aos seus velhos camaradas; afinal, "os velhos soldados nunca morrem, podem é desaparecer"... por uns tempos;

(vii) mandou-nos esta mensagem, pro volta das 5 da tarde de ontem, domingo, com a seguinte nota: "Algumas pequenas, mas actuais, considerações pessoais, não desde a escuridão gelada da Suécia mas desde a solarenga Key West/Florida... Em carta aberta a Camaradas escrevi algumas linhas sobre o assunto talvez tornado actual. Vai seguir com os meus infelizmente cada vez mais numerosos erros ortográficos que, com o passar das já muitas décadas, cada vez me tornam mais num verdadeiro..."Bacances".

 
Os operacionais e os outros... divisões artificiais


Em alguns dos últimos comentários no blogue, meus e de outros, muito se escreveu sobre francamente... nada!  O que nas nossas idades é patético. Os "piropos" foram desnecessariamente variados, esquecendo-se que o que se procura comentar são as ideias apresentadas e não quem as apresenta. Misturar maneiras de ser, de estar na vida, de educação recebida na juventude, e não menos, das condições sociais onde nascemos, nada disto terá a ver com os assuntos comentados.

 É óbvio que este  conjunto de factores formará as nossas maneiras diferentes de olhar o mundo. Mas justificará a maneira intempestiva como alguns a expressam? Todos podem não concordar em tudo e... ainda bem! Não nos torna uns melhores que outros pelo facto de discordarmos, mesmo que profundamente.

Mas os nossos patéticos "piropos" têm a importância que têm, e  não é isso que aqui me traz. Entre as linhas de alguns comentários começou a insinuar-se a ideia de divisão entre militares operacionais e os outros.

Ora, o que todos (!) temos em comum é termos participado, cada um de seu modo e à sua maneira, na experiência incrível que foi a guerra da Guiné. Marcou os nossos verdes anos. Marcou-nos para toda a vida. O que por lá se sacrificou em sangue, lágrimas, suor, juventude, e, não menos, saúde, tem sido quase impossível de descrever nos nossos livros. Mas em verdade é isso que nos une.

 Uma tão importante e vasta Organização como são as Forças Armadas não criou as inúmeras Especialidades militares existentes por simples capricho. Todas elas são necessárias para a "máquina" funcionar dentro dos parâmetros desejados.

O mais heroico combatente das tropas especiais não "funciona" sem as... "Côbinhas Quentes"... produzidas pelo humilde cozinheiro do Quartel. Assim como o cozinheiro não viria a sobreviver na mata sem a guarda atenta do combatente. (Clarinho, clarinho, para militar entender. ) Se alguns de nós tiveram o azar de passar toda a sua Comissão nas matas da Guiné, e outros a sorte de servir em especialidades colocadas em localidades mais resguardadas..., na maioria dos casos estas situações nada tinham a ver com eles próprios.

 As colocações eram decididas a outros níveis mais centrais. As eternas cunhas e corrupção? É claro que também por lá andavam, como em todos os Exércitos do mundo. Mas, e a não cairmos no "micro-analisar" as situações, será difícil de nos acusarmos uns aos outros. Ao reparar-se na diversidade dos contribuintes para este blogue, de tudo existe quanto a Especialidades militares.

É isso que o tem enriquecido, mantido, e feito crescer muito para além de outros blogues de ex-combatentes. Depois de uma já longa vida de experiências feita, devemos estar atentos e não nos deixarmos cair em divisões que, por artificiais, são desnecessárias.

 Um abraço.
 J. Belo
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Nota do editor:

Último poste da série > 29 de agosto de 2019 > Guiné 61/74 - P20105: Da Suécia com saudade (60): E agora também dos States, Florida, Key West... Acenando aos amigos através das câmaras ao vivo do mítico Sloppy Joe's Bar (José Belo)

quarta-feira, 2 de outubro de 2019

Guiné 61/74 - P20196: Dando a mão à palmatória (32): O texto sobre os "Alentejanos de pele escura" é do nosso camarada Fernando de Sousa Ribeiro, é de 2008 e tem sido sistematicamente "pirateado" na Internet... O interesse pelo tema surgiu quando o autor conheceu, em Mafra, na EPI, no COM, um soldado-cadete que era um "mulato de Alcácer" e que, na recruta, foi vítima de "bullying" racista...


Alcácer do Sal > 28 de janeiro de 2018 > A frente ribeirinha, ao pôr do sol, vista da moderna ponte pedonal que faz a "cambança" do rio Sado...

Foto (e legenda): © Luís Graça (2018). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Comentário do Fernando de Sousa Ribeiro:

Luís, o texto intitulado "Alentejanos de pele escura" é meu! Fui eu que o escrevi! Juro que fui eu! O texto é meu, desde as quadras populares (exclusive, claro) até ao fim. [. Ou seja, excluimdo os três primeiros parágrafos.]

O que o blogue "Comporta - Opina" fez foi transcrever ipsis verbis o conteúdo de um post publicado em 2009 num fórum neonazi (!!!), chamado Stormfront, por um membro do dito fórum que usa o nick "Looking for a fight", que talvez seja um antirracista infiltrado no fórum. O poste está neste endereço: https://www.stormfront.org/forum/t592627/.

O membro do fórum "Looking for a fight" indicou os endereços de onde retirou os textos que transcreveu, mas o blog "Comporta - Opina" omitiu-os.

O texto "Alentejanos de pele escura" foi publicado pela primeira vez em 2008 no blogue "Da Kappo" (escrito propositadamente com K), da angolana Paula Santana, que é economista, vive em Londres e usa o nick Koluki. 

Um dia, Koluki convidou-me a escrever um poste destinado  a ser publicado no seu blogue, sobre um tema que eu muito bem entendesse. Como Koluki é negra, lembrei-me de falar sobre os negros que deram origem aos "mulatos de Alcácer".

"Como é que um gajo do Porto se atreveu a escrever sobre pessoas de Alcácer do Sal?", poderás perguntar. Por incrível que pareça, tudo começou na tropa!

Em Mafra, numa das casernas destinadas aos cadetes do 1.º ciclo do COM [, Curso de Oficiais Milicianos], eu partilhei um beliche com um "mulato de Alcácer". Ele dormia na cama de cima e eu na de baixo. 

Não consigo lembrar-me do nome dele, por mais que me esforce. Do que eu me lembro (bem demais) é do seu aspeto nitidamente mestiço, da sua inconfundível pronúncia alentejana, assim como do racismo de que ele era vítima por parte de alguns outros cadetes instalados na caserna. Este "mulato" era troçado e gozado por eles de todas as formas e feitios, naquilo que agora se chama "bullying". 

Como eu não o gozava, e além disso partilhava o beliche com ele, esse "mulato" deu-se bem comigo e contou-me as suas origens e a razão de ser do seu aspeto físico. Ele foi um excelente companheiro, que sofria muitíssimo com as manifestações de racismo de que era alvo, apesar de ser um português da Metrópole como os restantes cadetes.

Mais tarde, no meu pelotão em Angola, houve um soldado que era de Grândola, chamado Nunes. De vez em quando, este soldado fazia referências aos "mulatos de Alcácer", nas conversas que tinha comigo e com o resto do pelotão.

Depois de ter passado à disponibilidade e ao longo dos anos que se seguiram, continuei a ter uma certa curiosidade pelos "mulatos de Alcácer". Fui a Alcácer do Sal várias vezes, assim como a Grândola e ao Torrão, além de ter percorrido a Ribeira do Sado. Fui, nomeadamente, a S. Romão, que é, aliás, uma aldeia muito pequena.

Quando a angolana Koluki me convidou a escrever um artigo para o seu blog, fui à Biblioteca Pública Municipal do Porto consultar a bibliografia que lá existisse sobre os "mulatos de Alcácer" (escassíssima, para minha grande surpresa), no sentido de refrescar a memória e completar a informação que eu próprio tinha sobre o tema. 

Finalmente escrevi o pequeno texto que a blogger Koluki publicou em 2008 e eu próprio reproduzi no meu blog pessoal em 2012.

A concluir, lembro-me de uma canção que foi um grande êxito há uns quantos anos, chamada As Meninas da Ribeira do Sado. Em parte nenhuma da canção é referida a cor da pele das ditas meninas, e por isso toda a gente pensa que elas são tão brancas como as outras alentejanas. Mesmo assim, pergunto-me se não haverá algum racismo nesta canção, que troça das meninas da Ribeira do Sado, assim como foi troçado o cadete de Alcácer do Sal com quem partilhei o meu beliche em Mafra.

Fernando de Sousa Ribeiro, ex-alferes miliciano, CCAÇ 3535 do BCAÇ 3880, Angola 1972-74

2. Comentário do editor Luís Graça:

Fernando, o seu a seu dono... Eu tinha visto o teu texto, "Alentejanos de pele escura", no blogue A Matéria do Tempo", de Fernando Ribeiro [ 18 de abril de 2012 > Alentejanos de pele escura],  nome que só agora relaciono com a tua pessoa...

Fernando Ribeiro, engenheiro, do Porto, só podias ser tu... Pelo nome, e sobretudo  pelos conteúdos... Aliás, o blogue já era meu conhecido e seguido por mim, ocasionalmente... Reparo agora, com mais atenção, que já existe desde dezembro de 2005, e tem entre os seus "companheiros de jornada" o nosso blogue, Luís Graça & Camaradas da Guiné.). Obrigado, e sobretudo parabéns,  o teu é um blogue de grande qualidade, temática e literária...   Por que é que nunca me falaste dele antes ?

Mas vi que este teu  texto, com maiores ou menores acrescentos (e sobretudo imagens) estava "espalhado" pela Net, desde 2010 a 2019... Tendo tido dúvidas sobre a fonte original, e sobretudo o autor, acabei por "encalhar" no blogue "Comporta-Opina", para mais tinha umas belas gravuras que me convinha reproduzir. Enfim, devia ter apurado a minha pesquisa...

O poste da "Comporta-Opina" é de 2010, mas afinal de contas o texto original é teu, e é mais antigo, é de 2008: como dizes, foi publicado pela primeira vez em 2008, sob pseudónimo ("Denudado", o teu "nickname"), no blogue "Da Kappo", da angolana Paula Santana ("Koluki"). E eu confirmo, acabei por descobrir aqui o link, que reproduzo:https://koluki.blogspot.com/2008/07/be-my-guest-ii-denudado.html.

O lapso foi involuntário, mas aqui fica o meu/nosso  pedido de desculpa... Nestes casos, costumo/costumamos dar a mão à palmatória. (**)

Deixa-me acrescentar que lamento a "praga" do plágio e de outras práticas desonestas,  de violação da propriedade intelectual... O mínimo que temos que é é dar o seu a seu dono, citado as fontes...  Enquanto professor na Escola Nacional de Saúde Pública, apanhei para aí uma dúzia de casos de "pirataria" em trabalhos académicos (em cursos de pós-graduação, mestrado e até doutoramento)... Nunca humilhei ninguém por isso, tinha sempre uma "conversa particular" com o/a prevaricador/a, e dava-lhe uma segunda oportunidade para refazer o trabalho... 

A nota final, naturalmente, ressentia-se. Mas cheguei a dar zero a um grupo de médicos estrangeiros que copiaram um trabalho uns pelos outros... Uma coisa "tosca", "grosseira"... Nos outros casos, havia sempre uma história pelo meio: gente com dificuldades (, a começar pelos estrangeiros que são admitidos em Portugal como médicos e não dominam o português escrito e falado), mas também de alunos, mães e pais, profissionais de saúde, para mais, que tinham dificuldade em lidar com o stress conjugado da vida académica, familiar e profissional...

"Copiar" é sempre mais fácil do que  "criar", mas é um "crime" que acaba por dar nas vistas, mais tarde ou mais cedo, e por não compensar... Eu costumava avisar os meus alunos, logo de início: "A cometerem um crime, que seja um crime perfeito"...

Obviamente, há aqui problemas éticos e deontológicos graves, mas também disciplinares e legais... A Academia só há pouco anos começou a levar estes casos a sério... Mas fico-me por aqui... LG
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segunda-feira, 8 de abril de 2019

Guiné 61/74 - P19657: O nosso livro de estilo (12): Atingimos os 11 milhões de visualizações na passada sexta-feira, dia 5... E comentar continua a ser fácil e necessário!... E mais tabancas e tabanqueiros são precisos!


EM 15 ANOS, 11 MILHÕES DE VISUALIZAÇÕES (1,8 ATÉ MAIO 2010 + 9, 2 MILHÕES ATÉ SEXTA-FEIRA, DIA 5

9,203,204



I. E COMENTAR CONTINUA A SER FÁCIL... SOB O SAGRADO POILÃO DA TABANCA GRANDE...



1. As opiniões aqui expressas, sob a forma de postes ou de comentários, são da única e exclusiva responsabilidade dos seus autores, não podendo vincular o fundador, proprietário e editor do blogue, Luís Graça, bem como a sua equipa de co-editores e demais colaboradores permanentes.

2. Camarada, amigo, simples leitor: Podes escrever no final de cada poste um comentário, uma informação adicional, um reparo, uma crítica, uma pergunta, uma observação, uma sugestão... (De preferência sem erros nem abreviaturas; evitar também as frases em maiúsculas ou caixa alta).

Basta, para isso, apontares o ponteiro do rato para o link Comentários, que aparece no fim de cada texto (ou poste), a seguir à indicação de Postado por Fulano Tal [Editor] at [hora], e clicares...

3. Tens uma "caixa" para escrever o teu comentário que será publicado instantaneamente, sem edição prévia, sem moderação, sem "censura prévia"(leia-se: triagem, moderação)...

Enviar um comentário para: Luís Graça & Camaradas da Guiné


1 – 1 de 1
Blogger Tabanca Grande disse...
Veteraníssimo Miranda Ribeiro: o que é feito de ti ? Não tens dado notícia. Espero que a vida e a saúde e tudo o mais estejam a correr bem. Daqui vai um abraço natalício do editor, amigo e camarada Luís Graça.
8 de abril de 2019 às 07:31
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Amigo ou camarada da Guiné: A tua opinião é muito importante para nós. Escreve aqui, com inteira liberdade e responsabilidade. Tal significa: respeitar as boas regras de convívio que estão em vigor entre nós; não há moderação dos comentários; limite máximo: cerca de 4 mil caracteres:



Pode utilizar alguns tags HTML, como <b>, <i>, <a>

 
 
 
 
Prove que não é um robô


No caso de teres uma conta no Google, deves usar essa identificação. Mas também podes entrar como "anónimo": põe no final da mensagem o teu nome, e facultativamente a localidade onde vives; sendo ex-combatente do ultramar, podes indicar o Teatro de Operações onde estiveste, local ou locais, posto e unidade a que pertenceste; e, se possível, evita as abreviaturas de nomes, siglas, acrónimos, pseudónimos...

Em suma, os camaradas da Guiné "dão a cara", não se escondem atrás do bagabaga...

Se voltares ao blogue, encontrarás logo a mensagem que lá deixaste. Repete as operações acima descritas para visualizar o teu comentário.

4. Escreve com total liberdade e inteira responsabilidade, o que significa respeitar as boas regras de convívio que estão em vigor entre nós: por exemplo,

(i) não nos insultamos uns aos outros;

(ii) não usamos, em público, a 'linguagem de caserna', o palavrão, etc. (a não ser textos mais literários, como um poema, um conto...);

(iii) somos capazes de conviver, civilizadamente, com as nossas diferenças (sociais, políticas, ideológicas, filosóficas, culturais, étnicas, religiosas, clubísticas,  etc., incluindo as fenotípicas - por exemplo, a cor da pele ou do cabelo);

(iv) somos capazes de lidar e de resolver conflitos... sem puxar da G3, da pistola Walther ou da catana;

(v) todos os camaradas têm direito ao bom nome e à privacidade;

(vi) não trazemos à baila (,ou seja, ao blogue) a "actualidade" (política, económica, social, ambiental, etc.)

5. Os editores reservam-se, naturalmente, o direito de eliminar, "a posteriori", rápida e decididamente, todo e qualquer comentário que violar as normas legais (incluindo as do nosso servidor, Blogger/Google), bem como as nossas regras de bom senso e bom gosto que devem vigorar entre pessoas adultas e responsáveis, a começar pelos comentários ANÓNIMOS (por favor, põe sempre o teu nome e apelido por baixo), incluindo mensagens com:

(i) conteúdo racista, xenófobo, homofóbico, pornográfico, etc.;

(ii) carácter difamatório;

(iii) tom intimidatório, provocatório ou persucotório ("ciberbullying", por exemplo);

(
iv) acusações de natureza criminal;

(v) apelo à violência;

(vi) linguagem inapropriada;

(vii) publicidade comercial ou propaganda claramente político-ideológica;

(viii) comunicações do foro privado, sem autorização de uma das partes.

Ocasionalmemte, alguns comentários poderão transformar-se em postes se houver interesse mútuo (do autor e dos editores).

6. Além dos editores [Luís Graça (Lourinhã), Carlos Vinhal (Leça da Palmeira / Matosinhos),  Eduardo Magalhães Rodrigues (Maia), Virgínio Briote (jubilado) (Lisboa) e Jorge Araújo (Almada)], há os colaboradores permanentes, membros seniores do nosso blogue, que recebem, automaticamente, na sua caixa de correio (e apreciam depois o conteúdo de) todos os comentários: 

Cherno Baldé (Bissau);
Hélder Sousa (Setúbal);
Humberto Reis (Alfragide / Amadora);
Jorge Cabral (Lisboa);
José Martins (Odivelas);
Torcato Mendonça (Fundão);
Mário Beja Santos (Lisboa).



O seu papel é o de ajudar os editores a cumprir e a fazer cumprir as regras do nosso blogue. Alguns deles têm, aleatoriamente, poderes de administradores, podendo eliminar, de imediato, comentários que infrinjam as nossas regras editoriais, o que só muito raramemente acontece (ou aconteceu, em 15 anos de existência no nosso blogue).

II. COMENTAR É FÁCIL... E NECESSÁRIO!

Amigos e camaradas:

Originalmente (até julho de 2012) o sistema de triagem dos comentários era pouco amigável, era muito apertado... A intenção (boa) era a de prevenir e combater o SPAM automático (correio indesejado, publicidade, etc.)... 

Alertados para os problemas que estavam a causar aos leitores, desencorajando-os de participar, foram então feitas  as alterações que se impunham às nossas definições.

Assim, podem comentar com ou sem conta no Google, com ou sem foto... Como "anónimos", terão sempre que assinar (pôr o vosso nome) por baixo da mensagem...

O Blogger também simplificou a caixa de comentários,  tornando-a mais amigável e prático... Aos anónimos o sistema estava a exigir a cópia manual de um número e uma palavra, com letras pouco ou nada legíveis... Mas às vezes o teste anti-robô: identificação de imagens... Se entrares como anónimo, mas que dizer que és uma robô...

Amigos e camaradas: continuem a alimentar o blogue com os vossos comentários. É a "seiva" (vital) do poilão da Tabanca Grande. E "tragam mais cinco"!...



PS1 - Encontramo-nos em Monte Real, Leiria, dia 25 de maio de 2019, para o XIV Encontro Nacional da Tabanca Grande (, espero que não seja o último!...).

PS2 - O nosso coeditor, amigo e camarada Jorge Araújo (, que vive em Almada,)  deu-me, na sexta feira passada, uma boa e encorajante notícia, às 10h38: "Estou de partida para Almeirim, para um encontro de camaradas da Guiné. Iremos, durante/fim de almoço abordar o tema do nascimento (oficial) da TABANCA DE ALMADA."
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terça-feira, 22 de maio de 2018

Guiné 61/74 - P18666: Em bom português nos entendemos (16): senhores dicionaristas, grafem lá o vocábulo "grã-tabanqueiro" ou simplesmente "tabanqueiro"... O nosso pequeno contributo para a celebração do dia 5 de Maio, Dia da Língua Portuguesa e da Cultura da CPLP...



5 de Maio Dia da Língua Portuguesa e da Cultura da CPLP (com a devida vénia...)


1. O dia 5 de maio é, anualmente, o Dia da Língua Portuguesa e da Cultura da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP)... Recorde-se que há 9 países com língua oficial portuguesa, incluindo a nossa querida Guiné-Bissau... E estima-se em mais de 260 milhões os falantes da língua portyguesa.

Este ano houve 180 iniciativas em 57 países, segundo notícias da Lusa, reproduzida pelo Público, de 30 de abril de 2018. Nessas iniciativas, que se prolongam até ao fim do mês de maio, incluem-se mostras de cinema, concertos, recitais de poesia, feiras do livro, espectáculos teatrais, concursos de literatura, encontros com escritores, promoção das artes plásticas, divulgação do português como língua de ciência ou celebração do ensino do português.

Por seu turno, o ministro dos Negócios Estrangeiros recordou que o português é hoje uma das cinco línguas mais faladas no mundo e a primeira no hemisfério sul. "O português já é hoje uma língua de trabalho no sistema das Nações Unidas, já é língua oficial de algumas das organizações especializadas das Nações Unidas, mas esperamos que venha a ser num futuro mais ou menos próximo uma das línguas oficiais da Organização das Nações Unidas", afirmou o chefe da diplomacia portuguesa.


2. O nosso pequeno contributo, a nível do blogue da Tabanca Grande, é também o de resgatar a memória dos que, de um lado e do outro, fizeram a guerra e a paz, na Guiné, entre 1961 e 1974... Guerra colonial, guerra do ultramar, guerra de África, guerra de libertação...

Temos ajudado a reconstruir o "puzzle" (esburacado) da memória desses tempos... E esse trabalho, de construção e reconstrução da memória, passa também pelo "resgaste" de vocáculos e expressões que usávamos, uns e outros, nesse tempo e lugar... A sua origem é duversa: há vocábulos e expressões do crioulo da Guiné, mas também da língua fula, da gíria e do calão da tropa... e da guerrilha.

No nosso blogue temos em uso cerca de 400 abreviaturas, siglas, acrónimos, expressões idiomáticas, termos da gíria, calão, crioulo, etc. Alguns destes vocábulos poderão um dia vir a ser grafados pelos nossos dicionaristas ou lexicógrafos. Acabámos, por exemplo, de propôr a inclusão do vocábulo "grã-tabanqueiro" no Dicionário Priberam da Língua Portuguesa" (que, com alguma frequência, cita o nosso blogue).

Eis o texto que lhes mandámos:

No blogue, lusófono, coletivo, que eu criei em 2004 e que dirijo, com um equipa de editores e colaboradores, “Luís Graça & Camaradas da Guiné”, é usado o vocábulo “grã-tabanqueiro/a” para designar os membros da rede social a que chamamos “Tabanca Grande”… Originalmente era uma tertúlia (virtual) e os seus membros tratavam-se por “tertulianos”. 

A própria Tabanca Grande (que reúne antigos combatentes da guerra colonial, em especial da Guiné) deu origem a outras “tabancas” (de Matosinhos, do Centro, da Linha, dos Melros, da Maia, de Faro, de Porto Dinheiro, etc.)… Os seus membros tratam-se por “tabanqueiros”… “Grã-tabanqueiro” ( e não “grão-tabanqueiro”) é o que  pertence “formalmente“ à Tabanca Grande… E são já 773, entre vivos e mortos…

Uma pesquisa no Google, com a expressão “grã-tabanqueiro”, dá-nos cerca de 18900 resultados. Este blogue também é fértil em “novos vocábulos”, ligados à guerra colonial e à Guiné, como por exemplo “alfabravo” (obrigado) ou “camarigo” (camarada e amigo). Temos cerca de 400 “abreviaturas,siglas, acrónimos, expressões idiomáticas, gíria, calão, crioulo”, em uso no blogue…

 O blogue, com 14 anos, tem em média um milhão de visualizações de páginas por ano, e vai a caminhos dos 19 mil “postes” publicados…

Em bom português nos entendemos. O Mundo é Pequeno e a Nossa Tabanca… é Grande. Mantenhas,

Luís Graça

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Nota do editor:

domingo, 22 de abril de 2018

Guiné 61/74 - P18548: O nosso livro de estilo (11): Proverbiário da Tabanca Grande, 4ª edição revista e aumentada: "Camarada, mais do que um dever, é uma honra que te é devida, ir a Monte Real pelo menos uma vez na vida"...


Infografia: Miguel Pessoa (2018)

No 14.º  aniversário do nosso blogue (23/4/2018) e a escassos duas semanas  da realização do XIII Encontro Nacional da Tabanca Grande (Monte Real, 5 de maio 2017), decidimos reeditar os nossos provérbios (e outros lugares comuns do nosso humor de caserna), agora em lista revista e aumentada 4.ª edição...

Esta lista, aberta, é património de toda a Tabanca Grande e de todos os amigos e camaradas da Guiné... Afinal, este blogue é de quem o faz, edita, escreve, comenta, lê, divulga, diz bem e diz mal...

A última edição do "nosso proverbiário" era de 4 de abril de 2017  (*). E muitos dos nossos mais recentes "periquitos" ainda não a conheciam... Recorde-se que  já somos hoje 772, entre vivos (710) e mortos (62).



O NOSSO PROVERBIÁRIO


A blogar é a que a gente se entende.

A 'roupa suja' lava-se na caserna, não na parada.

Ainda pior do que o inferno da guerra, é o inverno do esquecimento dos combatentes.

Amigo do seu amigo, camarada do seu camarada.

Amigo traz amigo e amigo fica.

Aqui o povo é quem mais "ordenha".

As nossas queridas enfermeiras paraquedistas: os anjos que desciam do céu.

Até aos cem, ainda se aguenta, depois dos cem, só com água benta.

Até aos cem é sempre em frente!... E depois dos cem, é só para quem for resistente e resiliente...

Até aos entas, bem eu passo, dos entas em diante, ai a minha perna, ai o meu braço!...


'Bazuca': o que fazia mal ao fígado, fazia bem à alma.

Beber a água do Geba.

Boa continuação da viagem pela picada da vida!... Cuidado com as minas e armadilhas!

Brincando por fora, sangrando por dentro.


Cabral só há um, o de Missirá e mais nenhum.

Camarada e amigo... é camarigo!

Camarada não tem que ser amigo: é o que dorme contigo, no mesmo buraco, na mesma cama, no mesmo abrigo.


Camarada, mais do que um dever, é uma honra que te é devida, ir a Monte Real pelo menos uma vez na vida.

Camarada, que a terra da tua Pátria te seja leve!

Catorze anos a blogar, pois é!, são sete comissões na Guiné!

Combatente um vez, combatente para sempre!


Dão-se lições de artilharia para infantes.

Desaparecidos: aqueles que nem no caixão regressaram.

Desarmados, jubilados, reformados, aposentados mas não... arrumados.


E quem não bebeu a água do Geba, nunca poderá entender a vida, o conteúdo e o continente das nossas estórias.

E também lá vamos facebook...ando e andando.

É proibido fazer juízos de valor sobre o comportamento de um camarada (do ponto de vista operacional, disciplinar, ético, moral, social).

Encontro Nacional da Tabanca Grande: orar, comer.. e amar em Monte Real!

Entra e senta-te à sombra do nosso poilão.

Estás com o bioxene. [Estás com os copos.]

Estás porreiro ou vais p'ró carreiro!?...

Estorninhos e pardais, aqui somos todos iguais.

Exorcizar os nossos fantasmas.


F... e mal pagos.

'For the Portugese Armed Forces from Scotland with love'... [Da Escócia com amor, para as Forças Armadas Portuguesas.]


Guerra do Ultramar, guerra de África, guerra colonial (, como se queira).

Guerra ganha, guerra perdida? Camarada, não percas tempo com a discussão do sexo dos anjos...

Guiné, de floresta verde e de chão vermelho.

Guiné? ... Não era pior nem melhor, era diferente.


Há comentadores e comentadores: alguns são como o peixe e o hóspede, ao fim de três dias fedem...

Havia os desertores, os refratários, os faltosos... e nós.

Humor com humor se (a)paga.


In Memoriam: para que não fiques, pobre camarada, na vala comum do esquecimento.


Lá vamos blogando, recordando, (sor)rindo, e às vezes cantando, gemendo e chorando!

Lá vamos contando (e cantando) os quilómetros pela picada da vida fora!

Lembra-te, ó português, a tua bandeira é a das cinco quinas, a dos cinco pagodes é na loja... do chinês!

Lugares ao sol, não temos... Só à sombra, do nosso poilão!

Luso-lapão só há um, o Zé Belo, e mais nenhum.


Mais morto de alma do que vivo de corpo.

Mais vale andar neste mundo em muletas do que no outro em carretas.

Mais vale um camarada vivo do que um herói... morto!

Melhor que as bajudas, era a 'água de Lisboa' que nos fazia esquecer as bajudas.

Meu pai, meu velho, meu camarada.

Miguel & Giselda, o casal mais 'strelado' do mundo.

Muita saúde e longa vida, porque tu, camarada, mereces tudo.


Não deixes que o teu espólio de memórias vá parar à Feira da Ladra ou ao OLX.

Não deixes que sejam os outros a contar a tua história por ti.

Não é o Panteão Nacional, é melhor, é... a Tabanca Grande.

Não fazemos a História com H grande, mas a História não se fará sem a nossa... pequena história.

Não há tabanca sem poilão.

Nem medalhas ao peito nem cicatrizes nas costas.

Ninguém leva a mal: em cima o camarada, em baixo o general.

No céu... não há disto!


O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande!

O nosso maior inimigo: o Alzheimer (de que Deus nos livre!)...

O seu a seu dono: respeita os direitos de autor.

Ó Sitafá, deixa lá, cabeças e rabos de sardinha não são bem a mesma coisa.

O último a morrer, que feche a tampa... do caixão.

Olhe que não, sr. general, olhe que não.

Os bravos não se medem aos palmos.

Os bu...rakos em que vivemos.

Os camaradas tratam-se por tu.

Os camaradas da Guiné dão a cara, não se escondem por detrás do bagabaga.

Os filhos dos nossos camaradas, nossos filhos são.

Os netos dos nossos camaradas, nossos netos aão.

Os nossos queridos 'nharros'...


Para que os teus filhos e netos não digam, desprezando o teu sacrifício: "Guiné? Guerra do Ultramar? Guerra Colonial? Não, nunca ouvi falar!"...

Partilhamos memórias e afetos.

Patrício Ribeiro, o "pai dos tugas" em Bissau.

'Periquito' salta pró blogue, que a 'velhice' já cá está!

Periquitos até aos 6 meses, maçaricos até a um ano... e depois vecês  (velhinhos comó c...)

P'rós insultos, não há contemplações nem indultos.



Que Deus, Alá e os bons irãs te protejam!

Quem não faz 69, não chega... aos 100!

Quem não tem "turpeça",  senta-se no chão... e quem "turpeça" também cai.


Rapa o fundo ao teu baú da memória.

Recorda os sítios por onde passaste, viveste, combateste, amaste, sofreste, viste morrer e matar, mataste, e perdeste, eventualmente, um parte do teu corpo e da tua alma...


Saber resolver os nossos diferendos, os nossos conflitos... sem puxar da G3!

Sempre presentes, aqueles que da lei da morte já se foram libertando.

Siga a Marinha!

Só há três coisas de que aqui não falamos: futebol, política e religião.

Somos uma espécie em vias de extinção.

Soubemos fazer a guerra e a paz.


Tabanca Grande: a mãe de todas as tabancas.

Tabanca Grande: onde todos cabemos com tudo o que nos une e até com aquilo que nos separa.

Tabanca Grande: onde não há portas nem janelas nem arame farpado nem cavalos de frisa

Tuga, que Deus te livre da doença do... alemão.

T/T Niassa, Uíge, Ana Rita, Angra do Heroísmo... Os cruzeiros das nossas vidas.


'Um blogue de veteranos, nostálgicos da sua juventude' (René Pélissier dixit).

Uma geração que soube fazer a guerra e a paz.

Uma guerra... a petróleo!


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sexta-feira, 23 de março de 2018

Guiné 61/74 - P18450: O nosso blogue em números (52): 90 mil visualizações de página / visitas nos últimos 30 dias, 3 mil por dia...



Às 21h50 de ontem, o Blogger, o nosso servidor, dava-nos esta informação (estatística) sobre o movimento do blogue, nos últimos 30 dias  (de 21/2/2018 a 22/3/2018:

(i) tivemos um total de 90158 visualizações / visitas (o que dá uma média diária de 3 mil);

(ii) os valores diários variaram, nesse período,  entre 2222 (mínimo), em 3 de março, e 5379 (máximo),  em 21 de março de 2018;

(iii) 72,5% das visualizações vieram de 5 países: Portugal (28,3%), Reino Unido (16,5%), França (15,2) e EUA (12,5%);

(iv) atingimos ontem os 8,5 milhões de visualizações de página, de acordo com o contador do Blogger (que está ativo desde julho de 2010);

(v) a este valor temos que  acrescentar o "saldo histórico" de 1,8 milhões de visualizações, registadas outro contador (entre abril de 2004,  início do blogue,  e julho de 2010);

(vi) o total de visualizações de página é, pois, de 10,3 milhões, desde o início do blogue;

(vii) com um total de 269 postes publicados, desde o início do ano de 2018 até hoje, a média diária é de 3,3 postes;

(viii) desde o início deste ano, foram feitos cerca de 1150 comentários, o que dá uma média 4,4 comentários por poste... Total (histórico) de comentários: 71 843;

(ix) temos 609 seguidores do nosso blogue;

(x) o número total de membros registados na Tabanca Grande, aqui no blogue, é de 766 (dos quais 61 já faleceram).

Estes números só dizem respeito ao blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné, não incluem a página do Facebook, Tabanca Grande Luís Graça (os "amigos facebook...eiros" são 2740).

Recorde-se que temos um "livro de estilo", um conjunto de regras que não se aplicam ao Facebook. Ser "amigo do Facebook" não significa ser membro, automaticamente, da Tabanca Grande.

quarta-feira, 14 de março de 2018

Guiné 61/74 - P18416: O nosso livro de estilo (13): afinal para que serve e a quem serve o nosso blogue (Luís Graça / Virgílio Teixeira / Hélder Sousa)


Cabeçalho do nosso blogue, que tem como editores: Luís Graça, Carlos Vinhal, Virgínio Briote e Jorge Araújo. e que se publica, diariamente... A sua origem remonta a 23/4/2004.


1. Não podendo comunicar com toda a malta ao mesmo tempo, por email, por precaução (, não vai o nosso servidor Google, onde temos conta, pensar que andamos a mandar carradas de SPAM e correio indesejável, violando assim as regras do contrato...), o nosso editor Luís Graça enviou há dias, em 8 do corrente, uma mensagem para umas dezenas de grã-tabanqueiros, com destaque para os bedandenses, que dizia o mais ou menos o seguinte, com um link para o poste P18391 (*)

Assunto - Bedanda, a ferro e fogo...

Camaradas: ainda vai havendo, na nossa Tabanca Grande, gente com curiosidade intelectual e espírito crítico, que ainda não arrumou as botas, que acompanha com regularidade o nosso blogue, lê, comenta, faz prova de vida... Mas sinto que a malta, ao fim destes anos todos, está a perder o fôlego... E não é caso para menos: 14 anos a blogar, é mais do que a guerra toda, de 1961 a 1974...

Ainda é possível o blogue trazer material capaz de despertar a curiosidade e interesse da malta? Acho que sim, vejam os trabalhos do nosso novo editor, Jorge Araújo, um "periquito" ao pé da maior parte de nós... Ou o livro, em pré-publicação, com as surpreendentes memórias do Dino, o José Claudino da Silva... Ou o "Abre-te, Sésamo" do Virgílio Teixeira... mais outros dois "periquitos" que vieram enriquecer a nossa Tabanca Grande...

Enfim, faço apelo aos bedandenses, cujo endereço de email tenho aqui à mão... bem como outros amigos e camaradas que têm mostrado interesse por esta nova série, "(D)o outro lado do combate"... Peço-vos para verem, comentarem, divulgarem, darem a cara, aparecerem, fazerem, enfim, prova de vida...

Com um abraço do camarada Luís Graça, também ele " cansado da guerra", como vocês todos...

PS - Não se esqueçam, dia 22, há almoço-convívio da Tabanca da Linha... E a 5 de maio, o XIII Encontro Nacional da Tabanca Grande, em Monte Real, o Carlos Vinhal irá divulgar detalhes do evento, dentro em breve...



2. Dos vários comentários que recebemos, na caixa do correio, destacamos o do "periquito" Virgílio Teixeira, e o do "colaborador permanente", de longa data, o Hélder Sousa, que, apesar dos seus probleminhas de saúde, lá arranjou tempo e disposição (, dois recursos  preciosos para "jovens idosos" como nós...) para "consolar" o editor que, como todo o mundo, também tem os seus altos e baixos, os seus momentos de euforia e depressão...  

Estes dois comentários, já partilhados em grupo, merecem ser aqui reproduzidos, se não no todo, pelo menos em grande parte, nesta série "O Nosso Livro de Estilo", não para fazer "doutrina", mas para suscitar outros comentários, e sobretudo ajudar a reflectir sobre o passado, o presente e o futuro do nosso blogue, que é património de todos nós, ajudar enfim os nossos editores a "pilotar o barco" (**):


(i) Comentário do Virgílio Teixeira, com data de 8 do corrente:

Virgílio Teixeira, Bissau, 1969

Bom dia, Luís. Fiquei com a sensação que estavas desiludido e a pensar fechar o blogue, espero bem que não, ainda tenho muito material para divulgar.

Não são cenas como esta de Bedanda, que são uma coisa do outro mundo, isto sim é a guerra viva!
Nunca tinha visto um 'turra' além daquele morto, estas fotos do PAIGC são inéditas. Como é que os gajos carregavam aquilo tudo, um canhão às peças, e manga de 'ameixas' pesadas.

A discussão que deu já esta publicação, está para além dos meus conhecimentos, vou lendo e comentar pouco, eu estava do outro lado da guerra. Mas aprecio quem sabe, ou julga saber, de tantos pormenores que escaparam à maioria dos mortais!... Bem hajam os seus contributos.

E força, não vamos agora desistir, quando eu acabo de entrar. De qualquer modo, isto terá sempre um fim, penso eu, não vai haver gente com garra e disponibilidade para dar andamento num futuro a médio prazo, isto é, pessoal com os teus conhecimentos e cultura para responder a tudo e a todos, e o peso da idade vai carregando nas costas. Pelo menos a mim (...)



Luís Graça, Bambadinca, 1969
(ii) Resposta do editor Luís Graça, com data de 9 do corrente:

Obrigado, Virgílio, pelo teu apreço, alento, incentivo, verdadeira prova de camaradagem (,mesmo ainda não nos conhecendo pessoalmente)...

Não fiques em cuidado, é apenas um desabafo da minha parte... De resto, o blogue já não é meu, embora seja eu a pagar o alojamento no Google / Blogger... Estamos de pedra e cal, para dar e durar... Ainda não morremos todos, e os que infelizmente vão morrendo, não ficam na "vala comum do esquecimento"... É esta a nossa missão...

Temos um novo elemento na equipa editorial, o Jorge Araújo, que também é prof como eu, mas ainda no ativo... Temos muita gente que nos lê: só ontem foram 3100 visitas, durante o mês (últimos 30 dias) foram c.89 mil...

Temos766 membros na Tabanca Grande... Temos gente entusiástica como tu, com um fabuloso álbum fotográfico e uma memória de elefante!... Temos milhares de camaradas que já passaram por aqui, uns ficam, outros não voltam...

Claro que não podemos fechar a porta, fazer greve, encerrar para férias... É nosso timbre, de resto, publicar todos os dias do ano, nem que seja um único poste...
 (...) Para rematar a conversa, a nossa Tabanca Grande (, e em especial o nosso blogue) precisa de uma solução "institucional" que garanta que o nosso trabalho fica disponível, para os nossos filhos, netos e bisnetos, para os investigadores, para os portugueses e guineenses que queiram saber, em primeira mão, o que foi aquela guerra e aquela terra, "verde e vermelha", onde passámos os nossos 21, 22, 23, 24 anos, na maior parte dos casos...

Haveremos de encontrar essa solução, que essa sim é a minha preocupação no futuro próximo (...)


Hélder Sousa, Piche, 1970
(iii) Mensagem do Hélder Sousa, com data de 9 do corrente:

 (...) Vamos por partes... A primeira é que já estou habituado, de quando em vez, que o "nosso" Luís tenha estas palpitações sobre a utilidade do Blogue, sobre o interesse da sua continuidade, sobre se ainda consegue ser atractivo, sobre se ainda haverá quem se disponha a revelar mais e/ou novas fotos, histórias, relatos, lembranças, etc. daqueles tempos.

E, ao estar habituado, sei que isso será motivado por alguma indisposição momentânea e que depois passa. Eu também, em várias circunstâncias, e por diversos motivos e sobre vários temas ou situações, também passo por essas crises existenciais, daí que nestas alturas não dê muito relevo a isso, sei que pode "dar forte mas passa depressa"...

Também acho que todos nós, aqueles que de mais perto, há mais tempo ou que mais se interessam por este fenómeno, que é o Blogue, a sua temática e duração, sabe que o Blogue, mais do que do Luís, é "nosso" e por isso compete-nos, a todos, acarinhá-lo e desenvolvê-lo.

Um dos focos das angústias do Luís é facilmente anulado. Se nos seguem? Claro, basta ver as estatísticas com as visitas ou visualizações diárias! E até a composição, por país, dos visitantes nos mostra esse fenómeno, para mim inesperado, do número de visitas a partir de França, revelando claramente que os emigrantes, e/ou seus descendentes procuram (re)encontrar as suas raízes e acham o Blogue útil para esse fim.

As regras de conduta pelas quais o Blogue se rege são, de facto, muito justas e correctas. Foram elas que, em princípio, me cativaram. Achei que, com elas, se podia estar aqui em convívio com pessoas que não têm necessariamente de pensar como eu, ter os mesmos pontos de vista sobre a guerra que vivemos, as suas origens, os seus porquês, a sua justeza, ou não, as suas consequências e sobre a inevitabilidade de coisas que entretanto aconteceram. Aqui, com aquelas regras, considerei ser possível trocar opiniões, comentários, etc., com pessoas, camaradas da Guiné, em respeito mútuo, sem necessidade de "convencer" ninguém, apenas dar a opinião e que cada qual aproveite, ou não, o que quiser. E assim tem sido, de um modo geral.

Ainda sobre as "audiências" tive oportunidade de dizer ao Luís que o Blogue é seguido e não apenas de modo mitigado, por guineenses, na Guiné-Bissau e provavelmente não só. Em "conversa" com o nosso Cherno, em determinada altura percebi que ele próprio também estava a ter "angústias" sobre se devia ou não continuar a comentar no nosso Blogue. Não queria ser intrometido e tinha dúvidas se os seus comentários poderiam ser mal recebidos, como de alguém que estivesse a entrar em casa alheia... Disse-lhe que nem sequer pensasse isso, pois todas as suas contribuições têm sido valiosas no sentido de esclarecer melhor o que se vai mostrando ou dizendo sobre os povos, costumes e até de 'ambientes' da Guiné.

No seguimento disso ele, em certa altura revelou que, presumo que lá na Guiné, já lhe perguntaram "Mas, porque é que gostas tanto de perder tempo com esses...", referindo-se às suas intervenções no nosso Blogue. Ora bem, postas as coisas assim revela-se imediatamente que há lá quem nos siga, indiscutivelmente, pois se assim não fosse não lhe poderiam fazer a pergunta, embora, por um lado não se manifestem e por outro, aparentemente, discordem dessa 'colaboração'.

Após a observação acima transcrita ele, Cherno Baldé,  acrescentou: "Mas, eles não podem entender que aquilo vem de longe, desde quando era ainda criança (aqui deduzo que seja o facto de interagir connosco) e, habituei-me à sua forma de ser e de pensar (presumo que se refira a nós,  portugueses de cá) quando, muitas vezes, não concordo."

Portanto, e definitivamente, o Blogue tem audiência. E muita! Até de pessoas que não se manifestam, ou raramente o fazem, e quando o fazem é para dar conta das suas discordâncias... "que isto é só para intelectuais"... "que o Blogue está 'bandeado' com o IN" (revelando a sua enorme incapacidade para viver e conviver)... "que é um roteiro de viagens"... "que está sempre a falar de livros e a promovê-los"... "que servia para dar protagonismo ao Graça" (esta é miserável, mas houve quem argumentasse assim...) e outras palermices do género.

Em suma, enquanto pudermos, isto é das melhores coisas que há sobre o nosso tempo e temos o dever de manter o Blogue vivo. Com ele dar testemunho dos tempos e dos modos que vivemos. Se os vindouros pegam nele ou se o desprezam isso já não será da nossa responsabilidade. Não podem é dizer que "não sabiam" (...)
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 8 de março de 2018 > Guiné 61/74 - P18391: (D)o outro lado do combate (21): "Plano de operações na Frente Sul" (Out - dez 1969) > Ataque a Bedanda em 25 de outubro de 1969 (ao tempo da CCAÇ 6, 1967-1974) - II (e última) Parte (Jorge Araújo)