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quarta-feira, 30 de dezembro de 2020

Guiné 61/74 - P21711: Boas Festas 2020/21: Em rede, ligados e solidários, uns com os outros, lutando contra a pandemia de Covid-19 (36): Núcleo de Ponte de Lima da Liga dos Combatentes; Fernando Chapouto, ex-Fur Mil; Jorge Picado, ex-Cap Mil; Prof Armando Tavares da Silva, Historiador e António Acílio Azevedo, ex-Cap Mil

1. Mensagem de Boas Festas do Núcleo de Ponte de Lima da Liga dos Combatentes com data de 25 de Dezembro de 2020:

Para os voluntariosos administradores e colaboradores desse magnífico blogue, a começar pelo Luís Graça, aqui vai o nosso postal de Boas Festas!



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2. Mensagem do nosso camarada Fernando Chapouto, (ex-Fur Mil Op Esp da CCAÇ 1426, 1965/67, Geba, Camamudo, Banjara e Cantacunda com data de 24 de Dezembro de 2020:

Desejo que tenham um Santo Natal e um Feliz Ano Novo na companhia de toda a família


Abraço
Fernando Chapouto

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3. Mensagem do nosso camarada Jorge Picado (ex-Cap Mil do CAOP 1, Teixeira Pinto, e CMDT da CCAÇ 2589/BCAÇ 2885, Mansoa e da CART 2732, Mansabá, 1970/72) com data de 24 de Dezembro de 2020:

Amigo Luís
Votos de Feliz Natal e um Melhor 2021 é o que desejo para Todos Vós, com muita saúde e esperança em melhores dias, para voltarmos aos convívios.

Abraça-vos o Ilhavense
Jorge Picado


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4. Mensagem do Prof Armando Tavares da Silva, historiador, com data de 24 de Dezembro de 2020:

Os meus votos de Feliz Natal e de Bom Ano Novo para o Grande Impulsionador de um importantíssimo blogue.

Abraço do
Armando

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5. Mensagem do nosso camarada António Acílio Azevedo, ex-Cap Mil, CMDT da 1.ª CCAV/BCAV 8320/72 e da CCAÇ 17, Bula e Binar, 1973/74, com data de 30 de Dezembro de 2020:

Agradecido pela amizade, endereço a todos os sinceros votos de um Ano de 2021, bem melhor que este que está a terminar.
Muita saúde e paz para todos.

Um forte abração
António Acilio Azevedo

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Nota do editor:

Último poste da série de 30 de Dezembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21707: Boas Festas 2020/21: Em rede, ligados e solidários, uns com os outros, lutando contra a pandemia de Covid-19 (35): Patrício Ribeiro, entre margens, do Mansoa ao Vouga

sábado, 24 de outubro de 2020

Guiné 61/74 - P21478: Os nossos seres, saberes e lazeres (418): No Alto Minho, lancei âncora na Ribeira Lima (12) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 29 de Abril de 2020:

Queridos amigos,
Não há bem que não acabe, aqui fica o relatório do último dia em Ponte de Lima, já pairam no ar notícias inquietantes de um vírus, nos noticiários relevam-se termos como pandemia, confinamento, quarentena, é suposto que em breve seja anunciado um estado de emergência. Por aqui deambulo sem palpitações ou receios de me infetar, mas à cautela já nem a mão estendemos a amigos e conhecidos. Foi uma viagem surpreendente, como repetidamente se veio a afirmar, era um dever de amizade e a confirmação de tudo quanto se lia sobre estes pontos do Alto Minho que tanto emocionavam um amigo cego, que vibrava com a história de Ponte de Lima e Viana do Castelo, sobretudo, nestes locais viveu até à adolescência, e muitas vezes regressou, marcado pela paternidade minhota. Há um travo amargo, o que ficou por ver, os arrabaldes, a passagem por Viana do Castelo foi visita de médico, nunca se conseguiu entrar na Igreja da Misericórdia, nem se visitou o esplêndido barroco da Correlhã, mas outros exemplos podiam ser dados. Isto para acentuar que foi uma viagem memorável e que Deus permita que se possa repetir.

Um abraço do
Mário


No Alto Minho, lancei âncora na Ribeira Lima (12)

Mário Beja Santos

Esta inolvidável peregrinação caminha para o seu termo, hoje é dia reservado a Ponte de Lima, as notícias sobre o coronavírus são cada vez mais alarmantes, vêm aí restrições severas, fala-se em confinamento, logo de manhã, no próximo dia, ruma-se a Lisboa, há uma certa suspeita de que vale a pena passar por Pedrógão Pequeno e encher uma mala com livros, nos noticiários de rádio fala-se em quarentena, ao menos que haja leituras e boa música, o resto virá por acréscimo. Contempla-se este magnífico painel de azulejos, o tema é a Restauração, a aclamação de D. João IV, bate certo neste templo religioso que vem dos confins da Idade Média.
É uma deambulação sem itinerário, voltou-se a visitar alguns parques, estátuas, percorreu-se cuidadosamente a Rua do Arrabalde de S. João de Fora e também a Rua Lima Bezerra, não se esqueceu a Casa de Nossa Senhora de Aurora que se visitou com tanto gosto, com o seu jardim aprimorado, acolhimento de estalo da anfitriã que zela aquele património seja mantido com desvelo, uma casa destas exige restauro permanente, conservação permanente.
E os jardins? Sai-se deste ponto da Ribeira Lima assegurando ao leitor que se cumpriu à risca o guia turístico e o que confere a Ponte de Lima a Rota das Camélias: o passeio ribeirinho, o parque temático do Arnado, com os seus diversificados jardins, o jardim Sebastião Sanhudo, a inevitável Avenida dos Plátanos, o jardim dos Terceiros, e mesmo junto ao edifício da autarquia, o jardim Dr. Adelino Sampaio. Já se anda com os pés a escaldar, mas o dia está magnífico, e o maravilhamento é intenso.
Havia um encontro aprazado com um limiano que é personalidade conhecida da terra pelo denodo com que se bate para que seja respeitada a memória dos combatentes, carteamo-nos regularmente, ele reservara-me surpresa, visitar Ponte de Lima do alto. E que grande surpresa. Começou por me levar a uma elevação onde se desfruta do vale do rio Trovela, as águas que por ali correm vêm dos montes da Boalhosa, passando por Fornelas e pela Feitosa. O que é que há de especial nesta floresta? Uma floresta antiga, ali pontificam amieiros, carvalhos, castanheiros, sobreiros, salgueiros, ainda não entrou a praga do eucalipto, e não constam pinheiros. Antes porém, houve subida ao Monte da Madalena, na freguesia de Fornelos, estamos a 240 metros de altitude, há por ali até um parque em espaço arborizado e aprazível, e está aberto um restaurante, aqui se pode desfrutar uma panorâmica sobre o populoso concelho.
O Mário Leitão insistiu que fôssemos às Lagoas de Bertiandos e S. Pedro d’Arcos, ele foi um pioneiro para que ali houvesse uma reserva natural, expliquei-lhe que tentara por ali cirandar, quase impossível, os caminhos estavam praticamente alagados, só de galochas, que eu não trouxera. E tranquilizei-o, haverá regresso, iremos os dois a esse paraíso da biodiversidade. Insistiu numa fotografia a dois, e eu fiz questão de mostrar o livro das Lagoas de Bertiandos, um dos motivos do próximo regresso.
Lagoas de Bertiandos e S. Pedro d’Arcos
No caminho de regresso encontrou-se este espigueiro em bom estado, tão importante património como as casas, pontes, jardins e lagos que me encheram os olhos. Há um lugar icónico, que é o Soajo, em que estes armazéns de cereais assentam na robustez da pedra, o que produz um efeito de ponto fortificado, que não é, terá sido impressão minha, depois de ter palmilhado aquele magnífico Castelo de Lindoso, de perpétua memória.
Procuro uma síntese de tudo quanto me foi dado observar, tanto em património natural como construído: o bucolismo genuíno da Ribeira Lima, as belas veigas e gândaras dos pequenos vales, o rio longo e plácido, aquela ponte histórica, nó viário fulcral desde tempos antigos e também da alvorada da nossa nacionalidade; a vila cuidada, o seu casario que assinala um passado dinâmico; as visitas a Ponte da Barca, Arcos de Valdevez e Viana do Castelo, por haver reporte, a diferentes níveis sentimentais com a pessoa que aqui se veio homenagear, uma vida que se extinguiu em janeiro de 2020, 90 anos há pouco feitos, e que continua a deixar-me inconsolável. Daí as imagens que se seguem, de tempos imemoriais, até uma lápide para mim indecifrável, mas que tanto me comoveu. São imagens de saudade, valem pelo que valem.
Os estudantes coimbrões falam da hora da despedida nas suas baladas, vai anoitecendo, daqui a pouco não me vou poupar ao meu último caldo verde, porque aqui a comida tem fama e proveito, primeiro o dia tem aquela luz ofuscante que anuncia a escuridão repleta; era inevitável que a última imagem fixasse um troço da Ribeira Lima, que associo sempre a todos aqueles jornais que lia regularmente a um cego ávido de informações da terra-mãe. Cumpri o meu voto, espero dobrá-lo e redobrá-lo, por definição toda a viagem é inacabada.
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Notas do editor:

Poste anterior de 17 de outubro de 2020 > Guiné 61/74 - P21458: Os nossos seres, saberes e lazeres (416): No Alto Minho, lancei âncora na Ribeira Lima (11) (Mário Beja Santos)

Último poste da série de 23 de outubro de 2020 > Guiné 61/74 - P21476: Os nossos seres, saberes e lazeres (417): O que é que isto tem a ver connosco e com a nossa 'guerra'?

sexta-feira, 9 de outubro de 2020

Guiné 61/74 - P21433 - Os nossos capelães (10): Frei José António Correia Pereira, OFM, natural de Ponte de Lima, ex-alf mil capelão, BCAÇ 3884 (Bafatá, 1972/74) (Manuel Oliveira Pereira, ex-fur mil, CCAÇ 3547, Contuboel, 1972/74)


Foto nº 1 > Ponte de Lima > 2019 > 50º aniversário da missa nova de  José António Correia Pereira, aqui sentado, na primeira fila: é o terceiro a contar da esquerda para a direita; o primeiro da ponta é o nosso camarada Manuel Oliveira Pereira. Os restantes são amigos, ex-colegas e ex-camaradas.


Foto nº 2 > Ponte de Lima > 2019 > 50º aniversário da missa nova de  José António Correia Pereira, aqui de costas à direita.   O nosso camarada Manuel Oliveira Pereira foi um dos membros da comissão organizadora do evento: aparece aqui na foto, junto ao altar, a dirigir-lhe a palavra.


Fotos (e legendas): © Manuel Oliveira Pereira (2020) Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

1. Mensagem do nosso amigo e camarada, de Ponte de Lima, o Manuel Oliveira Pereira, ex-fur mil, CCAÇ 3547 / BCAÇ 3884 (Contuboel, 1972//74), membro da nossa Tabanca Grande, da primeira hora;

Date: sexta, 9/10/2020 à(s) 03:46
Subject: Post 21432 - Capelães Militares 

Meu caro Luis, as minhas saudações.

Aqui vai uma achega, ao vosso pedido. (*)

José António Correia Pereira (nº 84 da lista publicada no poste P19023) (**),  meu ex-camarada, amigo e conterrâneo,  foi Capelão Militar  na Guiné, entre Março de 72 a Junho de 1974, integrado no BCAÇ 3884, sediado em Bafatá ( com companhias de quadrícula em Geba, Contuboel, Fajonquito, Sare Bacar). 

Regressado à metrópole, novas missões lhe são confiadas pela sua Ordem: professor, tutor e missionário, em  Moçambique. 

Novamente em Portugal, é nomeado responsável pela feitura de todas as publicações e livros da sua congregação  (OFM). 

Homem de grande cultura e intelectualidade, é autor de diversos livros e tradutor de várias obras de lingua alemã. Foi igualmente responsável das paróquias de Vila Real e Penafiel.

O Zé António, tal como eu, natural de Ponte de Lima, comemorou no ano transacto, o 50° aniversário de vida sacerdotal. Algumas centenas de pessoas da comunidade onde nasceu, aproveitaram o momento para o homenagear a que se juntaram muitos dos seus amigos, familiares, paroquianos, antigos e velhinhos professores, autoridades civis, religiosas e, também, uma mão cheia de ex-camaradas.

O Padre Zé António, continua o mesmo Homem. Um ser humano bom, calmo, ponderado e sempre com uma palavra de conforto e esperança.

Presentemente, é o responsável pela casa da Ordem Franciscana em Leça da Palmeira. Matosinhos.

Abraço
Manuel Oliveira Pereira
 
PS. Junto duas fotografias, cujos registos correspondem ao dia em se comemorou o 50° aniversário de "missa nova". Na primeira o Pe. Zé António é o terceiro, em primeiro plano,  a contar da esquerda. Os outros, somos nós os ex-camaradas.


2. Comentário do editor LG:

Informação adicional sobre o Frei José António Correia Pereira,  a quem desde já convidamos a sentar-se à sombra do fraterno poilão da Tabanca Grande, apadrinhado pelo Manuel Oliveira Pereira (, estando disponível o lugar nº 820):

(i) sacerdote franciscano, é natural de Gaifar, concelho de Ponte do Lima;

(ii) tirou a licenciatura em teologia pela Faculdade de Teologia de Paderborn, Alemanha, e em Filosofia pela Faculdade de Filosofia da Universidade Católica Portuguesa, Braga;

(iii) viveu como missionário na Guiné-Bissau e em Moçambique onde lecionou filosofia no Seminário interdiocesano da Matola;

(iv) foi diretor do centro de Franciscanismo durante três anos e é diretor da Editorial Franciscana há mais de quinze anos.


(**) Vd. poste de 17 de setembro de 2018 > Guiné 61/74 - P19023: Os nossos capelães militares (9): segundo os dados disponíveis, serviram no CTIG 113 capelães, 90% pertenciam ao Exército, e eram na sua grande maioria oriundos do clero secular ou diocesano. Houve ainda 7 franciscanos, 3 jesuitas, 2 salesianos e 1 dominicano.

 Vd. postes anteriores:

17 de setembro de  2018 > Guiné 61/74 - P19021: Os nossos capelães (8): Adelino Apolinário da Silva Gouveia, do BCAÇ 506: "Os filhos da p... matam-me!"... (Alcídio Marinho, ex-fur mil, CCAÇ 412, Bafatá, 1963/65)

25 de outubro de 2016 > Guiné 63/74 - P16638: Os nossos capelães (6): Libório [Jacinto Cunha] Tavares, o meu Capelini, capelão dos "Gatos Negros", açoriano de São Miguel, vive hoje, reformado, em Brampton, AM Toronto, província de Ontario, Canadá (José Martins, ex-fur mil trms, CCAÇ 5, Canjadude, 1968/70)

25 de outubro de 2016 > Guiné 63/74 - P16636: Os nossos capelães (5): Relação, até à sua independência, dos Capelães Militares que prestaram serviço no Comando Territorial Independente da Guiné desde 1961 até 1974 (Mário Beja Santos)

17 de setembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13616: Os nossos capelães (4): O bispo de Madarsuma, capelão-mor das Forças Armadas, em Gandembel, no natal de 1968 (Idálio Reis, ex-alf mil, CCAÇ 2317, Gandembel / Balana, 1968/69)

5 de setembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13577: Os nossos capelães (3): O capelão do BCAÇ 619 ia, de Catió, ao Cachil dizer missa... Creio que era Pinho de apelido, e tinha a patente de capitão (José Colaço, ex-sold trms, CCAÇ 557, Cachil, Bissau e Bafatá, 1963/65)

5 de setembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13576: Os nossos capelães (2): Convivi com o ten mil Gama, de alcunha, "pardal espantado"... Muitas vezes era incompreendido, até indesejado por alguns, pois tinha coragem para denunciar os abusos, quando os presenciava (Domingos Gonçalves, ex-allf mil, CCAÇ 1546 / BCAÇ 1887, Nova Lamego, Fá Mandinga e Binta, 1966/68)

5 de setembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13575: Os nossos capelães (1): Conheci em Bedanda o ten mil Pinho... Ia visitar-nos uma vez por mês para dizer missa... E 'pirava-se' logo que podia (Rui Santos, ex-alf mil, 4.ª CCAÇ, Bedanda, 1963/65)

sábado, 3 de outubro de 2020

Guiné 61/74 - P21412: Os nossos seres, saberes e lazeres (413): No Alto Minho, lancei âncora na Ribeira Lima (9) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 22 de Abril de 2020:

Queridos amigos,
Em Viana do Castelo, lamento profundamente só lhe ter dedicado um dia nesta itinerância em homenagem ao meu saudoso amigo Carlos Miguel de Abreu de Lima de Araújo que aqui estudou e viveu por um bom período. Acompanhei anos a fio a vida da cidade, lia-lhe impreterivelmente o Aurora do Lima, até mesmo a necrologia. Viana é um deslumbramento. Algumas destas imagens abonam a fruição que a cidade oferece, o património é riquíssimo, e duvido que haja alguma panorâmica que rivalize com o que se avista no Alto de Santa Luzia. A fama das gentes de Viana vem de longe e não se circunscreve nem aos seus festejos, ao seu gosto pelo oiro, ao seu valioso casario. São as suas gentes.
Atenda-se ao que Frei Luís de Sousa escreveu na vida de D. Frei Bartolomeu dos Mártires, uma das figuras icónicas da terra, a propósito das mulheres: "Não vivem em ociosidade, mas são daquele humor que a Escritura gaba na que chama forte, aplicadas ao governo da sua casa e a granjear com o trabalho e indústria, das portas adentro, como os homens fora de casa. Assim, há matronas de muito preço e bom exemplo e tão inclinadas a encaminhar as filhas a serem mulheres de casa e governo que, assim como em outras terras é ordinário, na tenra idade, mandá-las a casa das mestras com almofadas e agulhas, assim nesta as vemos ir às escolas com papel e tinta, e aprender a ler e a escrever e a contar".
E fiquemos por aqui, ainda há muito que ver em Viana.

Um abraço do
Mário


No Alto Minho, lancei âncora na Ribeira Lima (8)

Mário Beja Santos

Impensável que a peregrinação em homenagem ao meu saudoso amigo Carlos Miguel de Abreu de Lima de Araújo não passasse pela cidade princesa do Lima, a Viana do Castelo onde ele estudou e fez amizades, como a que manteve com o poeta António Manuel Couto Viana, amizade que sobrou para mim, e daí a oferta que fiz de um conjunto de desenhos dele, com o especial pedido à autarquia, a quem entreguei este património, que ele ficasse numa sala da Biblioteca Municipal de Viana de Castelo que tem o seu nome. Lamento só ter gizado um programa para um dia, Viana e os seus arrabaldes precisam de muito mais tempo. E o paradoxo é que eu lia com absoluta regularidade a imprensa local, durante muitos anos deve ter havido poucos leitores que leram de alto a baixo o Aurora do Lima, como eu. Adiante. Muni-me do que Carlos Ferreira de Almeida sobre Viana escreveu no livro Alto Minho, atenção que a obra é de 1987, há uma expansão urbana e uma requalificação do casco histórico que não consta deste relato exultativo às belezas de uma cidade cheia de História. Logo nos alvores da nacionalidade, a Viana da Foz do Lima era fundamental para a segurança da orla costeira nortenha, a população ia crescendo à volta de uma enseada depois desaparecida. A antiga vila rural de Átrio passou a partir de D. Afonso III a chamar Viana da Foz do Lima, na época moderna acrescentou-se-lhe o epíteto de “notável”. E escreve Ferreira de Almeida que a sua fidelidade à política de D. Maria II e a resistência do seu castelo à revolta da Patuleia levaram a rainha a conceder-lhe a categoria de cidade, com o nome Viana do Castelo. Ferreira de Almeida desenha um itinerário que não será aquele que preparei para o dia de hoje. Mas é importante o que ele escreve sobre o crescimento de Viana, a desenvolver-se na direção do cais, a Sul, e na banda da Ribeira, a Oeste. Refere as quatro portas, creio que só restam vestígios, propícios a expedições arqueológicas, a do Campo do Forno, depois chamada de Santiago, a Norte, a das Atafonas, ou de S. Pedro, para Nascente, a do Postigo, para Sul, e a da Ribeira, no lado Oeste. Detenho-me aqui, a cidade portuária, que muito cedo recebeu o caminho-de-ferro, daqui se partiu para o Brasil e para a pesca do bacalhau, e ofereceu a Portugal nomes sonantes, como D. Frei Bartolomeu dos Mártires.
Desse tempo da pesca do bacalhau, na zona portuária, espera-nos, de cara lavada, o Gil Eanes, o símbolo de uma epopeia que felizmente não está esquecida.
Agora sim, vou embrenhar-me em ruas velhas, não procuro restos da cerca amuralhada, houvesse tempo e até iria à Torre da Roqueta, isolada e à semelhança da Torre de Belém, a defensora do rio, mas não, meto-me ao caminho até à Praça da República, viajo por vários tempos, são aqui frontarias que nos falam do passado. Uma coisa fixei, para jamais esquecer, o nome de certas ruas e certas casas, a Rua de Mateus Barbosa, onde está a casa dos Pimenta da Gama, a Casa dos Barbosa e Silva, esta ligada à vida de Camilo Castelo Branco, e a Casa dos Pedra Palácio, de bonitas varandas, com sóbrios ferros. Como não se pode esquecer a Casa da Praça, pertença dos Malheiro Reimão, aqui já vemos a influência do dinheiro do Brasil. Numa das divagações, já de cabeça perdida porque não atinava com certas ruas, irei encontrar na Rua da Carreira o Paço dos Melo e Alvim, e ainda não consegui apurar se aquele governador da Guiné dos anos 1950, homem da Armada, de nome Diogo António José Leite Pereira de Melo e Alvim, reza a lenda e consta da hagiografia de Amílcar Cabral que tiveram uma desavença, que teria sido a razão do regresso do pai fundador da Guiné-Bissau a Lisboa, não passa de atoarda, Amílcar Cabral e a mulher regressaram a Lisboa devido a doença, carregados de paludismo. Mas ainda assim é a hagiografia que permanece…
Aqui foi delegação do Banco de Portugal, hoje é o Museu do Traje, estamos já em plena Praça da República, foi visita de médico, um outro amigo nosso ofereceu a este museu uma extraordinária coleção de leques que pertencia à sua mãe, o lugar é ajustado, o museu alberga um relevante espólio de trajes e de ourivesaria tradicional. Tem um conjunto de núcleos museológicos, tudo visto a correr. Ficou-me um ressaibo na boca, de amargura, devia ter ido ao Museu de Artes Decorativas, instalado numa mansão do século XVIII, imperdoável porque estão aqui valiosas coleções de faiança antiga, importantes peças da famosa Fábrica de Loiça de Viana, isto para além de pintura, arte-sacra e mobiliário indo-português do século XVIII. Outro motivo para regressar.
Esta Praça da República é, para mais de quinhentos anos, o centro cívico de Viana do Castelo, estão aqui alguns dos seus edifícios mais emblemáticos, como os antigos Paços do Concelho, cuja construção teve lugar na primeira metade do século XVI, um elegantíssimo chafariz e o edifício da Misericórdia onde se incrusta uma joia do Barroco que é a sua igreja, monumento nacional, mais adiante se falará dela, em visita a preceito.
Chegou a hora de amesendar e definir exatamente o que é possível ver durante a tarde. Haverá Santa Luzia e o funicular, a Praça da Liberdade e aquela preciosa peça de arquitetura de Siza Vieira que é a biblioteca e o Centro Cultural traçado por Souto Moura, confesso que fiquei por ali de boca à banda com aquele desmedido arrojo arquitetónico. Enquanto mordisco leio que o navio Gil Eanes foi construído nos Estaleiros Navais de Viana do Castelo em 1955, tinha por missão apoiar a frota bacalhoeira nos mares da Terra Nova e Gronelândia. Hoje tem lá instalado o Centro de Mar e outros serviços. Pois bem, olhando esta fachada de edifício que pertenceu aos Távoras, preparo os itinerários da tarde, folheei publicações e apercebo-me que há muitíssimo mais a ver, teimarei em voltar.
(continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 26 de setembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21393: Os nossos seres, saberes e lazeres (412): No Alto Minho, lancei âncora na Ribeira Lima (8) (Mário Beja Santos)

sábado, 26 de setembro de 2020

Guiné 61/74 - P21393: Os nossos seres, saberes e lazeres (412): No Alto Minho, lancei âncora na Ribeira Lima (8) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 15 de Abril de 2020:

Queridos amigos,
Impunha-se uma visita cuidada ao Centro Interpretativo do Barroco, em Arcos de Valdevez. A Igreja do Espírito Santo foi muito bem escolhida, marca perfeitamente todo o espírito da Contra-Reforma, severidade e austeridade por fora, pompa e esplendor no interior. Somos riquíssimos em Barroco e Rococó.
A Europália Portugal, em 1991, foi um grande sucesso. Lembro-me das filas enormes à porta do Museu Real de Belas-Artes, em Bruxelas, para visitar a exposição O Triunfo do Barroco. Houve também outras exposições de estrondo, somos detentores de um património que a generalidade dos laboratórios universitários já tinham deitado fora, os instrumentos científicos do século XVIII, e as exposições de Arte Oriental e Africana foram altamente representativas, mas nada se comparou ao Barroco, à magnificência da arte religiosa e às carruagens da Embaixada que o rei D. João V enviou a Roma. Pois o Alto Minho também possui um património incomparável, como aqui se exemplifica.
E regressou-se a Ponte de Lima, desta feita a visita foi à Casa de Nossa Senhora d'Aurora, um portento património e com jardim assombroso, como também aqui se mostra.

Um abraço do
Mário


No Alto Minho, lancei âncora na Ribeira Lima (8)

Mário Beja Santos

Numa frase curta, numa síntese regada de sinuosidades e pontos divergentes, ir-se-á com o Barroco (na pintura, na escultura, na talha, na arquitetura e nas artes decorativas), foi um estilo que se instituiu depois do Renascimento e das modalidades do maneirismo, irá prolongar-se até ao século XVIII, e as suas linhas exuberantes ganharão um novo alento com um estilo denominado Rococó. É um período artístico de cerca de dois séculos que terá nomes de autores que ainda hoje são dominantes na cultura portuguesa de obras fundamentais no nosso património. Basta referir Josefa d’Óbidos, a Igreja da Madre de Deus, a Igreja de Santo António (Lagos), a escultura de Machado de Castro, o Convento de Mafra… E quando chegamos ao século XVIII, a região minhota dá cartas valiosas, Braga, Viana do Castelo e vários pontos do Alto Minho. E assim chegamos a esta paragem com enormíssimo interesse, a Rota do Barroco parte de Arcos de Valdevez e que agora se estende ao Alto Minho. E assim entro no Centro Interpretativo do Barroco, sediado na Igreja do Espírito Santo, em Arcos de Valdevez.

Arcos de Valdevez é porta de entrada deste roteiro do Barroco no Alto Minho, e não é por acaso, possui elementos notáveis do Barroco e do Rococó, sobretudo na vertente religiosa. A Igreja do Espírito Santo acolhe o Centro Interpretativo do Barroco, houve para ali um investimento municipal de cerca de um milhão de euros, supõe-se mesmo que esta viagem pode ultrapassar a área geográfica dos dez concelhos do Alto Minho, uma vez que a arte barroca da região está presente na Galiza e em Minas Gerais, no Brasil. O roteiro alicia para visitas do maior interesse, caso do Convento de Mosteiró, em Valença, a Capela das Malheiras, em Viana do Castelo, bem como a Capela da Boa Morte, na Correlhã, em Ponte de Lima, e o Santuário da Peneda, em Arcos de Valdevez. Entra-se na igreja, começa o assombro, estas obras falam mais que um milhão de palavras.



Atenda-se à magnificência do altar, a Confraria do Espírito Santo não se fez rogada e abriu os cordões à bolsa para que esta construção fosse de arromba. Por fora é tudo singelo, em granito, foi utilizado na estrutura principal, nos cunhais, cimalhas e lintéis, o próprio lajeamento que circunda o templo é em granito. A fachada foi reconstruída no século XIX, tem já traços marcadamente neoclássicos. O interior recebe a luz natural por dez janelas naturais, cinco a sul e cinco a norte, seguramente que se pretendeu que toda esta riqueza brilhasse, com toda a pompa, ao contrário do exterior. Veja-se a imagem seguinte.


Não há palavras, parece que todos os comentários não têm o poder de alcançar toda a simbologia que esta arte espelha, nos elementos escultóricos, contempla-se uma joia exaltativa do Espírito Santo e a vista é logo atraída para a sacristia onde somos todos recebidos com uma peça extraordinária alusiva ao Pentecostes, tudo sobre a forma de um altar. Inesquecível.







E regressa-se a Ponte de Lima. Sempre com o intuito de ver para compreender, levei na bagagem uma edição de 1985 das Seleções do Reader’s Digest intitulada Por terras de Portugal, orientada e coordenada por Maria Clara Mendes, doutora em Geografia Humana. Entra-se no casco histórico a caminho da Casa d’Aurora, e toma-se nota do que ela escreveu já sobre o século XVIII: “Nas primeiras décadas deste século ressurgem as casas de burgueses e fidalgos, e no espaço muralhado sobressaem o edifício da Câmara, o Paço dos Marqueses, a Igreja-matriz e os quarteirões definidos pela Calçada dos Artistas, Rua Formosa e Largo de Delfim Guimarães. Nas ruas estreitas entre a Rua do Postigo e a Porta do Souto o casario adensa-se. Os arrabaldes estão já definidos. A actividade industrial foi animada pela fundação de uma fábrica de tecidos de linho e algodão, a Sociedade Económica de Bons Compatriotas Amigos do Bem Público (1779-1786). Mas no fim do século a panorâmica é bem diferente”. Houve demolições, foi o caso da muralha, a atividade mercantil e agrícola levou D. Pedro IV a autorizar a realização das Feiras Novas. Em 1875 foi criado o Banco Agrícola, Comercial e Industrial de Ponte de Lima, e deste período datam a abertura das Alamedas de S. João e de Nossa Senhora da Guia, por ali corre desafogado e calmo o Lima. Mas eu vou em sentido contrário. A visita à Casa d’Aurora, tem o seu quê de peregrinação. Conheci Manuel d’Aurora através do meu saudoso amigo Carlos Miguel de Abreu de Lima de Araújo, foi este querido amigo que me pedia insistentemente para lhe ler as obras do 3.º Conde. Aí vou eu à Rua do Arrabalde N.º 90.



A Sr.ª D. Rosário teve a gentileza de interromper os seus afazeres para me mostrar ao pormenor o interior desta casa senhorial, um deslumbramento de valores, de memórias, até de interseção de culturas. O outro pretexto da visita era o jardim, ele consta do Roteiro das Camélias. É um jardim à francesa, parece datar do tempo em que a casa foi reconstruída entre 1714 e 1730. O bucho é vistoso, o arvoredo variado, irei ver num nicho barroco com fonte Nossa Senhora d’Aurora, no centro do jardim um belo lago e uma imponente araucária.




Ao longo do ano, qualquer visitante tem vegetação à sua espera, mas quanto a flores por aqui pululam rosas, azáleas, dálias e camélias, mas também rododendros e magnólias. As cameleiras são antigas, há para ali uma criptoméria japónica de grande beleza. O folheto da Casa de Nossa Senhora d’Aurora refere algo que não se visitou, os quatro hectares da floresta, onde pontificam carvalhos, castanheiros, pinheiros, cedros e azevinho espontâneo. Pois ficará para a próxima, outra maré, o marinheiro será o mesmo…

(continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 19 de setembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21373: Os nossos seres, saberes e lazeres (411): No Alto Minho, lancei âncora na Ribeira Lima (7) (Mário Beja Santos)