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quinta-feira, 23 de junho de 2011

Guiné 63/74 - P8467: Controvérsias (126): E no meio disto tudo isto... onde estão os combatentes, os tais que a Pátria devia contemplar? (Joaquim Mexia Alves)

1. Mensagem do nosso camarada Joaquim Mexia Alves*, ex-Alf Mil Op Esp/Ranger da CART 3492/BART 3873, (Xitole/Ponte dos Fulas); Pel Caç Nat 52, (Ponte Rio Udunduma, Mato Cão) e CCAÇ 15 (Mansoa), 1971/73, com data de 21 de Junho de 2011:

Meus camarigos editores
Eu sou assim!
Escrevo com a caneta do coração!
Se calhar sou injusto com algumas pessoas.
Que me perdoem!
Mas estou-me a ver envelhecer, (e a todos nós), e receio muito que as gerações vindouras tenham de nós uma imagem deturpada e depreciativa.
E dói-me saber que alguns de nós, que juraram a bandeira de Portugal, "vindos de todas as partes", estão abandonados à sua desgraça, e nós que somos tantos ainda, nada ou pouco fazemos.
Será que não conseguimos juntar uns milhares, entre combatentes e familiares, e dizermos chega! a quem de direito, sobretudo pensando naqueles de nós que vivem na rua propriamente dita, ou na rua das suas doenças e desesperos?

Como sempre fica ao vosso discernimento a publicação.

Um abraço camarigo para todos
Joaquim Mexia Alves


E NO MEIO DISTO TUDO… OS COMBATENTES???

Têm sido dias férteis em actividades “culturais” e outras, à volta dos combatentes.

Vai-se explorando o filão, agora “recentemente” descoberto, pois afinal ainda há muitos combatentes e para além do mais os “gajos” até têm família e portanto um “mercado” a explorar.

E ouvem-se estes e aqueles, ouvem-se as mulheres, (verdade seja dita parte vivida, integrante e importante de toda a problemática dos combatentes), reúnem-se livros e antologias, mas não se vislumbra minimamente uma verdadeira preocupação com os combatentes, com a sua dignidade, sobretudo com aqueles abandonados, pela “Pátria que os devia contemplar” e não contempla.

E vamos lendo e sabendo de colóquios sobre a Guerra de África, homenagens diversas por este país fora, um monumento aqui, outro ali, uns discursos mais inflamados e outros nem tanto.

E muitos de nós, (eu muito provavelmente), vamo-nos deixando embalar nestes “cantos de sereia”, convencidos, (ou tentando convencermo-nos), que somos alguém e que o país, as letras e as artes, se preocupam connosco.

Não há melhor forma de adormecer a revolta, a indignação, que é ir falando das suas causas, dando razão, “passando a mão pelo pêlo”, e nada fazendo, enquanto os revoltados, os indignados, (nos quais me incluo), vão lambendo as feridas, cansados de tanto combate, tentando convencer-se de que têm alguma força, mas verdadeiramente e no fundo, se vão deixando dividir em teias politicas, em opiniões “politicamente correctas”, em “distribuições partidárias”, em narcóticas “manifestações artísticas”, a maior parte das vezes incompletas e de tendências politicas bem marcadas.

Será que os lucros de alguma destas obras, que nós combatentes tão afanosamente compramos, revertem no todo ou em parte, para aqueles de entre os combatentes, que abandonados pela sociedade, pelo país, pelo estado, apenas sobrevivem, e mal, às imensas dificuldades, provações e doenças que a própria guerra lhes acarretou ao serviço do seu país.

E com isto não me refiro obviamente às obras “particulares” de alguns autores, que têm todo o direito a receber a paga do seu trabalho e engenho, mas sim a certas obras, subsidiadas, financiadas, assentes no trabalho de outros, alguns combatentes, e que afinal nada trazem de ajuda àqueles que tanto precisam.

E eu também concordo que não sou nenhum ex-combatente, mas sim um combatente.
Faz parte do meu passado e o meu passado é o meu todo com o meu presente e o meu futuro.
Assim como se tivesse um nome familiar quando era criança, (que por acaso não tinha), do tipo “Quim”, ou outro qualquer, e que agora, não era por já não ser criança que passava a “ex-Quim”.

E isso também nos leva a perceber que estivemos ao serviço de Portugal, e não de um qualquer regime.
Os regimes passam, as Nações ficam, ou deviam ficar.
E se ficam, a responsabilidade das Nações para com os seus filhos permanecem.
Não podemos apenas querer reter as partes boas, e as riquezas, temos também de aceitar as dificuldades e as pobrezas.

Mas o que mais me revolta, para além da minha indignação total por causa dos combatentes abandonados, (e refiro-me aos da “Metrópole” e das então “Províncias Ultramarinas”), é que no fundo e de uma maneira geral, as coisas não mudam e nós “embarcamos” em panegíricos e elogios sobre certas obras, trabalhos, actividades e discursos que no fundo se servem de nós, mas se estão verdadeiramente “borrifando” para nós.

Alguma vez os organizadores/editores desta tão “proclamada” Antologia se permitiriam amputar sem licença um poema de Manuel Alegre, por exemplo?
Mas com toda desfaçatez, (e não compro a teoria do erro), fizeram-no a um poema do José Brás!

Explico-vos então porque não acedi a que a letra do Fado da Guiné, fosse publicada nesta Antologia.

É que ao ser contactado, logo informei e dei como muito útil para uma verdadeira Antologia deste tipo que tivessem em conta tantos poetas anónimos, (em que o nosso blogue é fértil, por exemplo), que tendo vivido a guerra na sua própria pele, dela escreviam em verso, como só quem viveu pode escrever.

Foi-me respondido que só fariam parte da Antologia, obras já publicadas, o que logo me fez perceber o “filme” da Antologia.
Mais do mesmo!

Poderia ficar aqui a escrever sobre toda esta revolta e indignação que teimam em viver em mim, como na maior parte de nós, mas talvez noutro dia continue estes pensamentos em voz alta, para “acordarmos” do torpor em que nos deixámos cair, a começar por mim próprio.

Deixo esta ideia.



Esta obra compro-a de muito boa vontade, não só para mim, mas para dar de presente em tantas e tantas ocasiões em que tal se proporciona.

Perdoem-me o arrazoado de palavras e se sou injusto com alguém, que me perdoe também, mas estou farto de ser espezinhado na pessoa daqueles que comigo lutaram na Guiné, Angola, Moçambique, e que o meu país, a sociedade do meu país despreza, embora de vez em quando deles se aproveite.

E estou zangado, sobretudo comigo próprio, que tão pouco faço, e tão impotente me sinto para mudar as coisas.

Um abraço para todos do
Joaquim Mexia Alves
Alf Mil Op Esp
Guiné - 1971/73
____________

Notas de CV:

(*) Vd. poste de 19 de Junho de 2011 > Guiné 63/74 - P8446: Convívios (349): 12º Encontro da Tabanca do Centro, 29 de Junho (Joaquim Mexia Alves)

Vd. último poste da série de 8 de Junho de 2011 > Guiné 63/74 - P8440: Controvérsias (125): As feridas da guerra (José Firmino)

sábado, 26 de fevereiro de 2011

Guiné 63/74 - P7865: Operações do BART 2917 (Bambadinca, 1970/72) (1): Quadrilha Sagaz, Satecuta, subsector do Xitole, 11-12 de Julho de 1971



1. Excertos do Cap II da História do BART 2917, Bambadinca, 1970/72 - Documento classificado como "reservado" - , segundo versão policopiada gentilmente cedida ao nosso blogue pelo ex-Fur Mil Trms Inf, José Armando Ferreira de Almeida, CCS/ BART 2917, Bambadinca, 1970/72, membro da nossa Tabanca Grande; cotejada igualmente com a versão, em suporte digital, corrigida e melhorada pelo Benjamim Durães (*).

Já aqui publicámos alguns excertos deste documento, nomeadamente com elementos de caracterização sociodemográfica e político-militar do Sector L1 (*)... Hoje damos início a nova série, Operações do BART 2917, com a publicação de um excerto , correspondente às pp. 78-81, e à Op Quadrilha Sagaz, que envolveu forças da CART 2716 (Xitole) e CART 2714 (Mansambo)... 

O objectivo nas NT, com, esta operação que decorreu em 11 e 12 de Julho de 1971, era atingir a antiga tabanca de Satecuta (subsector de Xitole, abaixo de Galo Corubal, na margem direita do Rio Corubal), onde se estimava que o PAIGC tivesse sob o seu controlo cerca de 300 habitantes (p. 42), defendidos por um grupo, comandado por MÁRIO MENDES (p. 44) (Segundo informação do António Duarte, nosso camarigo, lisboeta, furriel miliciano da 3ª terceira geração de quadros metropolitanos da CCAÇ 12, o "Mário Mendes, comandante de bi-grupo na zona do Xime, foi morto numa acção da CCaç 12 no final de 1972: numa deslocação feita para lá de Madina Colhido, foi abatido pelo apontador de HK21 do 4º pelotão"). 

Em 11 de Julho de Julho de 1971, noutro subsector (Xime) do Sector L1,  "um grupo IN não estimado flagelou, durante 25 minutos, da direcção de SSE com CAN S/R, MORT 82 e FOGUETÕES 122 o aquartelamento e a tabanca do XIME, causando um ferido ligeiro à população" (p.78)... (No meu tempo, ainda não havia, no Sector L1,  os Katiusha).

Esta operação acaba também de ser descrita por nosso camarada Jorge Silva, no poste P7843 (**).


[ Fixação / revisão de texto / título: L.G.] 


Mapa (esboço) do Sector L1, ao tempo do BCAÇ 2851 (1968/70), do BART 2917 (1970/72) e da CCAÇ 12 (1969/71)... 

Observações: NT= Nossas Tropas; Badora, Bissari, Corubal, Cuor, Xime = Regulados; RGeba, RCorubal = Rio Geba, Rio Corubal; N, W, S, L= Quatro pontos cardeais: norte, oeste, sul, este; IN= Inimigo; 1 = Um bigrupo (50/60 guerrilheiros); 2 = Dois bigrupos (90/100 guerrilheiros); A/B = 1 grupo de artilharia (morteiro 82, canhão s/r 75 e 82) + 1 grupo especial de bazuqueiros (RGP) (Mangai…).



Guiné > Zona leste >Sector L1 > CCAÇ 12 (Bambadinca, 1969/71) > Um coluna logística ao Xitole... O pessoal fazendo uma paragem na Ponte dos Fulas, destacamento do Xitole.

Foto: © Arlindo Teixeira Roda (2010) & Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados


11 e 12.JULHO.71  > OPERAÇÃO “QUADRILHA SAGAZ”

(DESENROLAR DA ACÇÃO)

- No dia 08.JUL pelas 9,00 horas um Grupo de Combate da CCAÇ 12 saiu de BAMBADINCA para o XITOLE onde chegou através de GALOMARO, pelas 16,00 horas a fim de garantir a defesa do XITOLE e tabancas em A/D na área durante a operação.

- No dia 09.JUL pelas 13,00 horas um Grupo de Combate da CCAÇ 12 saiu de BAMBADINCA para MANSAMBO afim de reforçar a guarnição de MANSAMBO durante a operação garantindo a defesa da povoação e tabancas em A/D da área durante a operação.

- Tal antecedência de reforço, que pode ter denunciado a operação,  foi devida aos apoios aéreos inicialmente concedidos para 10.JUL.71 terem sido cancelados pela mensagem 3131/C de 091645JUL71 (já com as tropas da CCAÇ 12 em movimento) e posteriormente concedidos para 12JUL71.

- No dia 11.JUL pelas 22,00 horas os AGRUPAMENTOS saíram dos seus respectivos quartéis em marcha, pela estrada de MANSAMBO – XITOLE,  tendo o AGRUPAMENTO VERMELHO [CART 2714, Mansambo], atingido pelas 23,30 horas a PONTE do RIO BISSARI, continuando a progressão a corta mato ao longo da margem esquerda deste rio até à bolanha que corre para leste da sua confluência com o RIO SAMBA ERIEL onde emboscou pelas 3,00 horas do dia 12.JUL para descanso do pessoal.

- Entretanto o AGRUPAMENTO AZUL [CART 2716, Xitole] ao atingir a área de CULOBO abandonou a estrada inflectindo para W na direcção de GALO CORUBAL tendo pelas 04,30 horas emboscado na área de (XIME 4F6-37) aguardando a chegada dos meios aéreos.

- No dia 12 pelas 04,00 horas o AGRUPAMENTO VERMELHO continuou a progressão para Sul tendo pelas 5,30 horas emboscado na área de (XIME 4F1-54) onde aguardou a chegada dos meios aéreos.

- Pelas 6,30 horas o AGRUPAMENTO AZUL referenciou uma patrulha IN de 4 elementos armados que, descobrindo o trilho das NT,  fez um disparo de LROCK e alguns tiros de LM possivelmente para alertar outras forças IN e população da área. As NT não reagiram para evitarem revelar a sua posição. Os AGRUPAMENTOS tentaram simultaneamente entrar em contacto entre si (o AGRUPAMENTO VERMELHO para perguntar o que sucedera, o AGRUPAMENTO AZUL para informar que a patrulha seguira para NW), mas não conseguiram estabelecer a ligação rádio.

- Pelas 7,00 horas chegou a DO-27 a BAMBADINCA,  tendo nele imediatamente embarcado o Comandante da Operação que se dirigiu para o XITOLE (as nuvens muito baixas obrigaram o piloto a seguir o RIO CORUBAL a baixa altitude para conseguir atingir aquela pista de aterragem).

- Estabelecido contacto rádio com os AGRUPAMENTOS,  o Comandante da Operação ordenou o reinício da progressão,  indo aterrar no XITOLE onde ficou em alerta.

- Pelas 7,15 horas o AGRUPAMENTO VERMELHO continuou a sua progressão para Sul, paralelamente ao antigo trilho de GALO CORUBAL com grandes dificuldades devido à densidade da vegetação que embaraçava a progressão o que, associada às nuvens baixas que cobriam o Sol, desorientava o guia nativo.

- Pelas 7,20 o AGRUPAMENTO AZUL reiniciou a progressão mas como o guia principal encontrasse grande dificuldade na sua orientação devido à arborização apresentar nesta época um aspecto uniforme, o capim estar já com uma razoável altura e as nuvens muito baixas encobrirem o Sol, houve, a seu pedido,  que deslocar um auxiliar de guia de um dos pelotões para a testa da coluna para entre ambos encontrarem o caminho a seguir.

- Pelas 8,30 um grupo IN estimado em 40 elementos emboscou com MORT 82, RPG-2 e ML em [XIME 4F3-37] o AGRUPAMENTO AZUL,  ferindo nos primeiros disparos os dois guias que tiveram posteriormente a ser evacuados.

- A pronta reacção das NT obrigou o IN a debandar levando consigo pelo menos 4 elementos feridos confirmados visualmente por vários elementos das NT e pelos rastos de sangue deixados no terreno. Ao mesmo tempo que debandava o IN flagelava a zona com MORT 82 cujos impactos cobriram eficazmente a sua retirada não permitindo a perseguição das NT.

- É de realçar que este grupo tem que dispor de um muito bom apontador de MORT 82 dada a precisão de tiro desta arma. As NT,  impedidas de perseguir o IN, flagelaram-no com MORT 60, BAZOOKA e dilagramas provocando possivelmente mais baixas pois os impactos situaram-se na zona de retirada do grupo IN.

- Apenas se deu esta emboscada,  o Comandante da Operação sobrevoou a área tendo pelas 8,40 horas pedido a evacuação dos dois guias feridos e orientado o AGRUPAMENTO AZUL para uma clareira em [XIME 4F3-38] de onde se iriam fazer as evacuações e nas imediações da qual o AGRUPAMENTO AZUL emboscou.

- O AGRUPAMENTO VERMELHO que,  aos primeiros rebentamentos se encontrava a uma distância estimada em 1.000 metros do local dos impactos, possivelmente em [XIME 4E7-44], emboscou preparando-se para socorrer o AGRUPAMENTO AZUL se necessário ou intersectar, capturando-o ou ao menos aniquilando-o, o Grupo IN em retirada.

- Às 9,00 horas obtida a certeza de que o IN não retirara na sua direcção e de que o AGRUPAMENTO AZUL não precisava de auxílio, o AGRUPAMENTO VERMELHO deixando parte das suas tropas emboscadas iniciou o reconhecimento da zona definida pelos pontos:

PONTO 12 - XIME 4D7-45; PONTO 13 – XIME 4E7-47; e pelo PONTO 3 – XIME 4E2-36,

Não tendo sido detectados trilhos ou indícios de instalação IN.

- A vegetação muito densa, dificultando a orientação, frequentemente obrigava a retroceder até ao antigo trilho do GALO CORUBAL para orientação.

- Pelas 10,10 horas do dia 12 com a protecção do Helicanhão foi feita a evacuação dos dois guias feridos e ordenado pelo Comandante da Operação o seu prosseguimento dentro dos planos estabelecidos.

- O AGRUPAMENTO AZUL informou então de que os guias evacuados eram os únicos que conheciam o caminho dispondo agora apenas de dois auxiliares de guias e que,  dado o aspecto actual da vegetação e as condições meteorológicas que dificultavam a orientação, estavam bastante diminuídas as possibilidades de atingir o objectivo.

- Perante esta informação e dado que o DO necessitava de abastecer, o Comandante da Operação ordenou, pelas 10,25 horas, que as tropas emboscassem até ao regresso do DO à zona em virtude de ter reconhecido ser impossível prosseguimento do AGRUPAMENTO AZUL sem que o mesmo fosse orientado por um meio aéreo.

- Abastecido o DO em ALDEIA FORMOSA,  o Comandante da Operação dirigiu-se imediatamente à zona onde chegou pelas 11,30 horas precisamente na altura em que o AGRUPAMENTO AZUL voltava a ser flagelado em [XIME 4F2-39] com MORT 82, ML e Lança Rocket, por um grupo IN estimado em 40 elementos, sem consequências para as NT, que reagiram prontamente, sendo de admitir terem provocado baixas do IN, uma vez que os pontos de impacto de MORT 60, Bazooka, e dilagramas se situaram sobre a área de instalação do Grupo IN; mais uma vez os impactos de MORT 82 cobriram eficazmente a retirada do IN, não permitindo a sua perseguição pelas NT.

- Não tendo os meios aéreos localizado o IN, o Comandante da Operação determinou a sua continuação dentro dos planos previstos,  passando o DO a orientar directamente a progressão do AGRUPAMENTO AZUL.

- Entretanto o Helicanhão teve de seguir para ALDEIA FORMOSA para abastecer.

- Pelas 12,15 horas com o AGRUPAMENTO AZUL,  progredindo na mata cerrada em direcção ao objectivo e a cerca de 3 km de distância deste o piloto do DO informou que em virtude de ter recomeçado a chover na área da linha de borrasca que se aproximava, não lhe era possível continuar a orientar o AGRUPAMENTO AZUL atingir SATECUTA e tendo o AGRUPAMENTO VERMELHO já explorado a área de GALO CORUBAL, o Comandante da Operação deu ordem de retirada aos AGRUPAMENTOS pelas 12,20 horas, para a estrada XITOLE – MANSAMBO por itinerários sensivelmente paralelos aos que tinham seguido na aproximação.

- No dia 12 pelas 12,40 horas o AGRUPAMENTO VERMELHO sensivelmente em (XIME 4E7-48) detectou um elemento armado IN que se erguera a coberto de um tronco de árvore alertando todo o pessoal.

- As NT abriram fogo, tendo o IN respondido com grande intensidade e potencial de fogo diverso, com MORT 82, LROCKET e ML , não tendo as NT caído na zona de morte.

- Ao fim de cerca de 5 minutos de fogo intenso, o IN retirou para Leste na direcção da Ponte do RIO JAGARAJÁ.

- Da batida imediatamente feita, estimou em 20 elementos armados o efectivo do grupo IN e verificou-se que os impactos e crateras provocadas pelas armas das NT se situavam na zona de instalação IN e, pelos rastos de sangue e sinais de corpos arrastados, era de admitir que o IN tivesse sofrido baixas. Não foi encontrado qualquer material abandonado,  a não ser cápsulas de cartuchos e um chapéu de palha.

- Na consequência do fogo IN, sofreram três feridos ligeiros provocados por estilhaços; foram eles o:

- Alferes Mil Atirador JOAQUIM SILVA PEREIRA;  Soldado Atirador MANUEL AUGUSTO SILVA RIBEIRO; e o  Guia Nativo Assalariado IABO BALDÉ.

- Sobrevoada entretanto a zona,  o PCV nada detectou tendo o AGRUPAMENTO VERMELHO continuado a progressão inflectindo mais para Norte atingindo a estrada XITOLE – MANSAMBO, a 2 km a Sul da Ponte do RIO BISSARI, pelas 15,15 horas.

- O PCV manteve-se na área até que o péssimo estado de tempo o obrigou a aterrar pelas 13,00 horas,  orientando sempre o AGRUPAMENTO AZUL que, quando o PCV abandonou a área,  seguia em bom andamento e aparentemente sem dificuldades de orientação cerca de [XIME 4G3-22].

- Pelas 15,15 horas o AGRUPAMENTO AZUL foi novamente flagelado em [XIME 4D7-49] com MORT 82, ML e lança Rocket, tendo-se notado nesta flagelação uma considerável redução de utilização de armas ligeiras o que leva admitir que o Grupo IN agora estimado, pelos vestígios deixados, em cerca de 30 elementos tivesse nos primeiros recontros, sofrido baixas ou esgotado munições.

- Mais uma vez é de realçar o excepcional trabalho do apontador de MORT 82, cobrindo excelentemente a retirada do IN que debandou pela reacção das NT. Nesta altura constatou o Comandante do AGRUPAMENTO AZUL que o guia se encontrava perdido pois dizia ser a estrada XITOLE – MANSAMBO para OESTE,  pelo que solicitou orientação aos meios aéreos que imediatamente haviam ocorrido à área.

- O Comandante da Operação determinou então ao Helicanhão que orientasse o AGRUPAMENTO AZUL para a estrada MANSAMBO – XITOLE,  o que fez até ao seu limite de autonomia de voo e visibilidade para atingir ALDEIA FORMOSA numa manifestação de espírito de missão verdadeiramente notável,  aliás já manifestada também pelo piloto do DCON que,  após a saída do Héli,  continuou a orientar a progressão do AGRUPAMENTO AZUL até cerca das 17,30 horas, [altura] a que teve de regressar a BAMBADINCA e posteriormente a BISSAU.

- No dia 12 pelas 16,30 horas o AGRUPAMENTO VERMELHO atingiu MANSAMBO, em meios auto a partir da Ponte sobre o RIO BISSARI.

-No dia 12 pelas 18,30 horas o AGRUPAMENTO AZUL atingiu a estrada do XITOLE na área do PONTÃO sobre o RIO JAGARAJÁ e pelas 21,00 horas atingiu o quartel do XITOLE transportado em viaturas auto a partir da PONTE PULON.

- No dia 13 pelas 2,30 horas [?] do dia 13 o Grupo de Combate da CCAÇ 12 abandonou o XITOLE tendo atingido BAMBADINCA pelas 15,30 horas.

-No dia 14 pelas 6,30 horas o Grupo de Combate da CCAÇ 12 abandonou o XITOLE tendo atingido BAMBADINCA pelas 14,00 horas.


________________

Notas de L.G.:


quinta-feira, 6 de maio de 2010

Guiné 63/74 - P6327: O Spínola que eu conheci (17): A visita de inspecção ao Xitole e às tabancas em autodefesa de Sinchã Madiu, Cambesse e Tangali em 16 de Novembro de 1970 (Benjamim Durães / Jorge Cabral / Luís Graça)


Guiné > Guiné > Zona Leste > Sector L1 > CCAÇ 12 (1969/71) > Janeiro de 1970, ainda no tempo do BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70)  > Coluna logística, no itinerário Bambadinca - Mansambo - Xitole.  O troço entre Mansambo e Xitole esteve interdito durante cerca de um ano (desde Setembro de 1968).

Foto: © Humberto Reis (2005). Direitos reservados
.


Continuação da publicação do  Despacho do Com-Chefem, de 7/1/1971,  relativo à visita de inspecção ao BART 2917 (Bambadinca, 1970/72) (*)


3. Visita a Xitole (**) em 16Nov70


- Verificou-se que, contra o que está determinado, o planeamento operacional é realizado pelo Comando do BART, o qual define as acções a realizar, os efectivos da força, os itinerários, etc.

É um sistema teórico há muito banido do TO da Guiné e sobre o qual têm incidido incisivas críticas. Deve ser dada plena iniciativa aos comandantes de Companhia, em ordem a responsabilizá-los pelo cumprimento da missão cometida.

- Não foram realizadas acções de reconhecimento na região de Seco Braima (***), assim como a sul das tabancas em 'autodefesas', o que não é admissível para uma subunidade já com alguns meses de permanência na Zona. Esta anomalia demonstra à evidência um muito precário controlo operacional do Comando do BART.

- O plano de defesa do Xitole constitui um documento teórico, mas destinado a satisfazer uma determinação superior do que a accionar um sistema dinâmico de defesa. Salienta-se a falta duma planta ou croquis da povoação e do quartel com as zonas de responsabilidade devidamente delimitadas, sectores de observação, etc. O dispositivo de defesa não englobava a povoação, o que se revela francamente inconveniente do ponto de vista propriamente de defesa e do ponto de vista psicológico, para as populações que nos compete defender.

- Foram-me apresentados vários problemas de natureza logística como o aluguer de aviões civis para transportar açúcar que faltou na Companhia. Sobre este assunto deve ser mandado levantar averiguações e reembolsada a Companhia da despesa feita com o o aluguer do avião, devendo tal encargo ser liquidado pelo CTIG. Também foi salientada a falta de cimento.

Estas anomalias deveriam ter sido detectadas e resolvidas pelo Comando do BART e não pelo Comando-Chefe.

4. Visitas às tabancas de Sinchã Madiu, Cambesse e Tangali  (***) em 16Nov70

- A organização de defesa destas tabancas deverá ser melhorada. Não as considero em condições de poderem suportar um ataque em força durante o período de tempo necessário, em ordem a evitar o seu aniquilamento antes da intervenção das forças militares sediadas no Xitole.

Ressaltaram várias anomalias susceptíveis de serem sanadas no âmbito da defesa passiva. Nomeadamente a bertura de campos de tiro (capinação).

Nota-se também a ausência de exercícios de alarme, em ordem a automatizar e dinamizar a reacção das populações,

- As populações das tabancas de Cambesse e Tangali pediram a construção de escolas, o que se justifica plenamente face ao número de crianças em idade escolar.

Não se encontrava presente o Capitão Comandante da Companhia; todavia fiquei com boa impressão sobre o Comando desta Companhia, e nomeadamente sobre o Alferes que a estava a comandar interinamente. (pp. 2-3)

[Revisão / fixação de texto: L.G.]

Continua

Próximo ponto. 5. Visita Mansambo em 18Nov70
______________

Nota de L.G.:

(*) Vd. poste anterior da série > 6 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6326: O Spínola que eu conheci (16): A visita de inspecção ao BART 2917 e suas subunidades, Sector L1, Bambadinca, de 16 de Novembro a 19 de Dezembro de 1970 (Benjamim Durães / Jorge Cabral / Luís Graça)

(**) De acordo com a história da unidade (BART 2917, Bambadinca, 1970/72), o Xitole era sede de posto administrativo (com o mesmo nome). Tinha três lojas comerciais. A sua economia baseava-se na exploração do coconote e da madeira. A guerra teve um enorme impacto negativo na actividade económica.  A população rondava, no tempo do BART 2917, as 3 centenas. Unidade de quadrícula: CCAÇ 2616, com um destacamento na Ponte dos Fulas, no Rio Pulom (1 Gr Comb / CCAÇ 2616 + 1 Esq Pel Mort 2106, substituído em Dezembro de 1970 pelo Pel Mort  2268, por ter terminado a comissão).

(***) Seco Braima ou Darsalame, na foz do Rio Poulom, afluente do Rio Corubal...

(****) A sudeste de Xitole, na estrada Xitole-Saltinho, regulado do Corubal: eram tabancas em autodefesa, colaborantes com as NT. Sinchã Madiu tinha  120 habitantes, recenseados; Cambesse, 174; e Tangali,  146.  Em Maio de 1971, Cambesse tinha uma 1 Esq (-) do Pel Mort 2268 e 1 secção da CCAÇ 2616, em reforço do sistema de autodefesa.

sábado, 5 de setembro de 2009

Guiné 63/74 - P4900: (Ex)citações (42): Resposta ao P4813 (J. Mexia Alves)

1. Mensagem de J. Mexia Alves (*), Alf Mil da CART 3492 (Xitole / Ponte dos Fulas), Pel Caç Nat 52 (Ponte Rio Udunduma, Mato Cão) e CCAÇ 15 (Mansoa), com data de 20 de Agosto de 2009:


Resposta ao P4813

Caro Camarigo António Pereira da Costa
Não vou escrever muitas palavras a responder à tua resposta.

Já nos conhecemos de outras discussões e sabemos bem que se concordamos nalgumas coisas, noutras temos opiniões diferentes o que é muito salutar.

Julgo que nos envolve uma amizade especial, cimentada nos lugares do Xime e Bambadinca, pelo que estou à vontade, como tu estás, para podermos concordar e discordar.

Apenas dois ou três pontos:

1 - «Temos exemplos como do Ten. Veloso da FAP que desertou, em Moçambique, com avião, mecânico e tudo… É também uma forma de valentia.»

É opinião tua!
Para mim é uma forma desprezível de afirmar a sua discordância.

Se vamos por esse ponto de vista, também é valentia assaltar um banco!

2 – Quando digo que nós ganhámos a guerra e o PAIGC também, quero utilizar um sentido figurado.

Ganhámo-la porque fizemos ambas as partes o que nos era pedido, mas soubemos na maioria esmagadora dos casos, fazer as pazes connosco e com os outros.

Uma guerra só pode ser “ganha” por ambos os beligerantes, se as duas partes chegarem à conclusão de que a guerra nada resolve e que não é preciso morrer gente para que as pessoas se entendam.

3 – Eu nunca disse que ganhámos a guerra, disse sim que não a perdemos!

Continuo sem entender a necessidade de se afirmar que perdemos a guerra, (refiro-me às Forças Armadas Portuguesas), baseados sempre no que havia de vir.

Mas parece-me que para falar sobre isso tem de se entrar na politica e por aí eu não vou.

O 25 de Abril não precisa disso, justifica-se por si próprio.
Coisa bem diferente é o 26, 27 28 e por aí adiante e aqui também, já me estou a referir a outros textos em que se fala dos que foram deixados, dos que foram assassinados e dos que tendo vindo, continuam ostracizados.

Sem qualquer falta de respeito por ti ou por outros, não voltarei a este tema, ou melhor, não responderei a mais nenhuma resposta que eternize esta troca de opiniões.

Com a amizade que nos une, abraço-te camarigamente
Joaquim Mexia Alves
__________

Notas de CV:

Sobre o assunto em (Ex)citação vd. postes de:

11 de Agosto de 2009 > Guiné 63/74 - P4813: (Ex)citações (39): Resposta a J. Mexia Alves (A.J. Pereira da Costa)

13 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4680: (Ex)citações (34): Resposta ao amigo Pereira da Costa (J. Mexia Alves)

12 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4672: Blogoterapia (117): Quem somos nós? (António J. Pereira da Costa)

OBS:- Lamentavelmente esta mensagem do nosso camarada Mexia Alves extraviou-se e perdeu a actualidade. Foi-nos reenviada e agora publicada. Julgamos estar o assunto devidamente escalpelado.

segunda-feira, 11 de maio de 2009

Guiné 63/74 - P4317: Os Bu...rakos em que vivemos (8): Estância de férias Mato de Cão, junto ao Rio Geba (J. Mexia Alves)

1. Mensagem de Joaquim Mexia Alves, ex-Alf Mil da CART 3492, (Xitole / Ponte dos Fulas), Pel Caç Nat 52, (Ponte Rio Udunduma, Mato Cão) e CCAÇ 15, (Mansoa).

Caro Carlos

Tendo em vista a série Os Bu... rakos em que vivemos, lembrei-me do Mato de Cão, pois então, nome oficial segundo sei, da reconhecida estância de férias junto ao Geba, e que albergou durante largos meses o Bando do 52.

Ora bem, chegava-se ao Mato Cão, (tiro-lhe o de), vindo de Bambadinca, pelo rio Geba, de sintex a remos, aportando aos restos de um antigo cais(?), onde se desembarcava.

Se me não falha a memória, logo à esquerda, e com vista para a bolanha do lado do Enxalé, ficava o complexo dos balneários, sobretudo a zona de duches.
Dado o clima ameno e soalheiro, estes duches ficavam ao ar livre, e eram constituídos por um buraco no chão, que dava acesso a um poço, cheio de uma água leitosa, e que respondia inteiramente aos melhores padrões da qualidade de águas domésticas.

Os utentes colocavam-se à volta do referido buraco e, alegremente, todos nus em franca camaradagem, (nada de más interpretações!), utilizavam uma espécie de terrina da sopa, em alumínio da tropa, presa por umas cordas, e que, trazida à superfície cheia de água, era a mesma retirada da referida terrina com umas estéticas latas de pêssego em calda, derramando depois os militares a água sobre as suas cabeças para procederem aos seus banhos de limpeza.

Para se chegar ao destacamento propriamente dito, subia-se então uma ladeira íngreme, (o burrinho da água só a conseguia subir em marcha atrás), acedendo-se então à parada à volta da qual, mais coisa menos coisa, se desenvolvia todo o complexo militar.

À esquerda, salvo o erro, ficavam os espaldões de dois morteiros 81 e respectivas instalações, dormitórios do pessoal do pelotão de morteiros.

Um pouco mais à frente e do lado direito ficava o bar e a sala de banquetes, toda forrada a chapas de zinco e assim também coberta, sendo aberta do lado da frente para o exterior, como convém a instalações de férias em climas tropicais.

A arca a pitrol refrescava as cervejas que o pessoal ia com todo o prazer consumindo. Fazia também algum gelo para dar mais alegria aos uísques emborcados, sobretudo ao fim da tarde.

Para encurtar razões, e sobretudo o texto, os quartos de dormir eram todos situados abaixo do chão, cavados na terra, para que assim não se perdesse o calor que tanta falta fazia nas longas noites de Inverno da Guiné!

Por cima, o telhado, de chapas de zinco, era sustentado normalmente em paus de cibo, que assentavam em graciosos bidões cheios de uma massa de cimento e terra.
Lembro-me de como era agradável o jogo que então fazia, quando deitado na cama, os ratos, de quando em vez, passeavam por cima do mosquiteiro, e com pancadas secas os projectava contra o tecto, voltando depois a cair sobre o mosquiteiro.

Tal jogo e divertimento não se consegue nas melhores estâncias de férias das Caraíbas!

No espaço central deste planalto, (porque o Mato Cão era um pequeno planalto), erguiam-se as tabancas do pessoal africano do Bando do 52.

Tudo estava rodeado de umas incompreensíveis valas sobretudo para o lado Sinchã Corubal, Madina, Belel, junto à qual, se a memória não me atraiçoa, estava uma guarita térrea com uma metralhadora Breda.

Ao fim da tarde, e na esplanada do bar e sala de banquetes, bebendo umas cervejas e uns uísques, o pessoal esperava ansioso o ligar da iluminação pública, o que curiosamente nunca acontecia, talvez pelo facto de não haver gerador no Mato Cão.

Bem, o Mato Cão era um verdadeiro Bur…ako, tendo apenas a vantagem, valha-nos isso, do pessoal amigo do PAIGC não ter incomodado muito durante a minha estadia.

Há aliás um post no blogue, de alguém ligado à Força Aérea que faz uma descrição do Mato Cão, por onde passou de helicóptero, que é reveladora das condições de vida (**).

Ah,… uma coisa boa… tinha um lindíssimo Pôr-do-Sol!

Abraço camarigo do
Joaquim Mexia Alves

Mando fotografias que podem escolher obviamente.
Tenho pena de não ter nunhuma dos banhos!!!
Na 2024 está este vosso amigo com os Furriéis Bonito, Santos e Varrasquinho, por ordem de alturas!!

A chega à Estância era sempre um momento vivido com prazer

Para que não fiquem dúvidas quanto à qualidade do serviço, aqui fica a vista parcial das modelares instalações

Na sala de jantar imperava o conforto e era obrigatório o uso de traje formal, como documenta a imagem

Um pequeno descanso após as lautas refeições, era sempre bem-vindo

Os momentos de diversão eram proprcionados utilizando os mais modernos equipamentos à disposição. Indispensável a companhia de animais domésticos, seleccionados entre as melhores raças da espécie.

Mais um recanto. Cada hóspede tinha direito a dois colaboradores, sempre atentos às suas necessidades

O convívio e a camaradagem são notáveis. Reparem que o camarada da direita (Fur Mil Varrasquinho), para não correr o risco de estragar a sequência de alturas, se encolhe ligeiramente

Prova de que não estamos aqui a enganar as pessoas, é este lindíssimo pôr-do-sol em Mato Cão.

Fotos: © J. Mexia Alves (2009). Direitos reservados.
Fotos editadas e legendadas pelo editor



2. Comentário de CV:

Desculpem-me, mas é mais forte do que eu. Tenho que meter a colherada.

O camarada Mexia há muito que nos presenteia com alguns mimos literários, carregados de humor e ironia. Duas coisas indispensáveis quando queremos doirar a pílula.

O período entre o 25 de Abril e o 1.º de Maio é, por excelência, a época em que, como aves migratórias, aparecem os heróis da clandestinidade, que coitados, em países subdesenvolvidos como França, Bélgica, Holanda e equiparados, para evitarem a chatice de irem fazer a guerra colonial, sofreram as mais violentas agruras, disparando perigosas canções revolucionárias, enquanto figurões, como o Mexia Alves, se deleitavam em luxuosos aquartelamentos militares da Guiné, Angola e Moçambique, onde a falta de conforto era coisa impensável.

No caso particular, Burako de Mato de Cão (***), fala quem sabe, pois as Termas de Monte Real foram fundadas pela família deste nosso camarada.
__________

Notas de CV:

(*) Vd. poste de 6 de Maio > Guiné 63/74 - P4288: Espelho meu, diz-me quem sou eu (1): Joaquim Mexia Alves

Vd. último poste da série de 27 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4252: Os Bu... rakos em que vivemos (7): Destacamento de Rio Caium (Luís Borrega)

(**) Possivelmente o António Martins de Matos... Vd. poste de 11 de Março de 2009 >Guiné 63/74 - P4010: FAP (15): Correio com antenas... (António Martins de Matos, ex-Ten Pilav, BA12, Bissalanca, 1972/74)

... Mas não é. O Joaquim já descobriu qual é, é um poste, mais antigo, de 2 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1912: Um buraco chamado Mato Cão (Nuno Almeida, ex-mecânico de heli / Joaquim Mexia Alves, ex-Alf Mil, Pel Caç Nat 52)

Aqui vai um excerto: é uma história, bonita, de solidariedade entre a gente do ar e da terra:

(...) Mensagem de Nuno Almeida, ex-Esp MMA (Canibais), DFA Guiné, que vive em Lisboa (foto à esquerda, cortesia do blogue de Victor Barata, Especialistas da Base Aérea 12, Guiné 65/74), a quem agradeço, mais uma vez´, este depoimento, mas não volto a convidar para aderir à nossa Tabanca Grande, porque ele já cá está, de pleno direito... (LG):

Camarada Mexia Alves:

Estava a ler o blogue do Luís Graça e vi a sua referência a Mato Cão, o que me fez recordar um episódio, não sei se passado, também, consigo e que passo a relatar:

Fui mecânico de helicópteros da FAP e cumpri o ano 1972 na Guiné. Um dia, creio que no Verão de 1972, fui com um heli fazer o que, creio, se chamava o Comando de Sector (levar o [Ten-] Coronel de Bambadinca a visitar os aquartelamentos).

Fomos visitando vários locais e, quando sinto o piloto fazer manobra para proceder a uma aterragem, fico em estado de choque, pois não se vislumbrava nada no terreno que indicasse haver ali alguém ou algo minimamente capaz de albergar seres humanos. Inicialmente temi que o piloto tivesse detectado alguma falha no aparelho e fosse aterrar para que eu verificasse a condição do mesmo e poder continuar a voar. Mas quando aterramos (num espaço de mato desbravado e completamente inóspito), e a intensa poeira, levantada pelas pás do heli, começa a assentar, vejo surgirem, de buracos cavados no chão, homens em estado de higiene e aspecto físico degradantes (pelo menos aos olhos dum militar que dormia em Bissau e tinha água corrente para se lavar a seu bel prazer).

Chocou-me, e ao piloto também, a situação sub-humana em que esses homens estavam a viver.

A sua reacção, ao verem o [Ten-] Coronel, foi a de parecer que o queriam linchar, tal era a sua revolta pelo que estavam a ser obrigados a suportar.

Quando regressámos a Bambadinca, o piloto foi ao bar e comprou dois pacotes de tabaco Marlboro, escreveu neles algo que creio foi: "com a amizade da Força Aérea", e quando passámos à vertical de Mato Cão largámos esses pacotes, querendo demonstrar a nossa solidariedade para com quem tão maltratado estava a ser.

Mais tarde, em [25 de] Novembro de 1972, fui ferido [com gravidade], ao proceder a uma evacuação, na mata de Choquemone, em Bula, e aí melhor me apercebi das privações e sobressaltos que, a todo o momento, uma geração de jovens, na casa dos 20 anos, foi obrigada a suportar, adquirindo mazelas físicas e, principalmente, psicológicas, que ainda hoje perduram, e que muitos teimam em não aceitar que existem e estão latentes no nosso dia-a-dia.

Abraços, do ex-1º cabo FAP Nuno Almeida (o Poeta)
(...)

(***) O sítio, paradisíaco, do Mato Cão era tão popular na época que no nosso blogue há mais de três dezenas de referências com este descritor: Vd. marcadores ou palavras-chave na coluna do lado esquerdo...

Esta estância (turística) também era muito frequentada por outros camaradas nossos como o Beja Santos (Pel Caç Nat 52, 1968/70), Luís Graça e Humberto Reis (CCAÇ 12, 1969/71), Jorge Cabral (Pel Caç Nat 63, 1969/1)... Mas nesse tempo não ainda havia as luxuosas infra-estrtuturas hoteleiras aqui tão bem descritas pelo J. Mexia Alves (devem ter construídas e inauguradas depois, em 1972)... O turistame fazia lá campismo selvagem... Bons tempos! Nessa altura o Rio Geba era muito concorrido, até se faziam comboios entre o Xime e Bambadinca e até mesmo Bafatá (no chamado Geba Estreito)... Dizem-nos que o rio agora está assoreado, por aquelas bandas... (LG)

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Guiné 63/74 - P4146: Parabéns a você (3): No dia 6 de Abril de 2009, ao camarigo Joaquim Mexia Alves, ex-Alf Mil Op Esp, Guiné 1971/73 (Editores)

Joaquim Mexia Alves pertenceu originalmente à CART 3492 (Xitole / Ponte dos Fulas), antes de ingressar no Pel Caç Nat 52 (Bambadinca, Ponte Rio Udunduma, Mato Cão) e depois na CCAÇ 15 (Mansoa).
A CART 3492 pertencia ao BART 3873 (Bambadinca, 1971/74).



O nosso camarigo (*) Joaquim Mexia Alves está hoje de parabéns.

Falar dele é fácil e difícil. Fácil, porque não é preciso estar a inventar para enumerar as suas qualidades de cidadão e amigo. Difícil, porque acabamos por pecar por defeito.

Há poucos dias dizia ele que entre nós os dois se criou uma empatia muito grande, aquando da organização do último Encontro da Tertúlia. Foi fácil e aconteceu normalmente. Ele no terreno, contactando o restaurante e organizando tudo para que o Encontro corresse da melhor maneira, como correu, e eu apenas secretariando, organizando a papelada, parte para que ele, confessou, tinha pouco ou nenhum jeito.
O entendimento entre nós foi imediato, não sendo preciso mais que meia dúzia de telefonemas e alguns mails. Do resultado, melhor que o vosso testemunho não há.

O contacto que tivemos naquele dia e uma pequena tertúlia espontânea com alguns camaradas, acontecida numa esplanada de café, à noite, em Monte Real, deixou claro a pessoa que é, e como é fácil criar com ele amizade. Os presentes discutiram a guerra da Guiné e, aqui e ali discordaram, mas respeitaram-se e apertaram as mãos como verdadeiros camarigos.



Ortigosa, Monte Real, 17 de Maio de 2008 > III Encontro da Tertúlia do Blogue do Luís Graça & Camaradas da Guiné, brilhantemente organizado por Joaquim Mexia Alves

Pessoa leal no confronto verbal, não fugindo à polémica quando se trata de defender os seus pontos de vista, respeitador da opinião dos seus antagonistas de ocasião, extremamente correcto no trato, o Joaquim é uma pessoa agradável e afável. Sendo uma figura muito conhecida em Monte Real, onde a sua família tem tradição, não vi nele qualquer ar de vaidade. Foi preciso eu perguntar-lhe se o homenageado num memorial existente no Jardim de Monte Real era seu familiar. Respondeu que sim, que era o seu pai, mas sem entrar em pormenores quanto ao passado daquela figura marcante de Monte Real e do Distrito de Leiria.

Monte Real >Termas de Monte Real > O Joaquim Mexia Alves junto ao busto do fundador das termas, Olímpio Duarte Alves, que foi também governador civil de Leiria (1959-68). Na base do monumento lê-se: "A Olympio Duarte Alves, uma vida ao serviço destas termas que fundou e do termalismo nacional".

A sua colaboração no Blogue é tão extensa que pesquisar as suas intervenções é coisa complicada. Localizei uns quantos postes mais marcantes que poderão consultar. Destes é fácil derivar para outros não referenciados.

Deixo estas fotos relativas à sua passagem pela Guiné, onde como Alferes Miliciano, esteve ao serviço CART 3492, Pelotão de Caçadores Nativos 52 e CCAÇ 15.

Mato Cão > Joaquim Mexia Alves, ex-Alf Mil Op Esp

Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Xitole > Destacamento da Ponte dos Fulas > O Joaquim Mexia Alves, ex-alferes miliciano de operações especiais, que de Dezembro de 1971 a Dezembro de 1973 passou por três unidades no TO da Guiné: pertenceu originalmente à CART 3492 (Xitole / Ponte dos Fulas), antes de ingressar no Pel Caç Nat 52 (Bambadinca, Ponte Rio Udunduma, Mato Cão) e depois na CCAÇ 15 (Mansoa ). A CART 3492 pertencia ao BART 3873 (Bambadinca, 1971/74).

Joaquim Mexia Alves, ex-Alf Mil Op Esp, CART 3942 (Xitole), Pel Caç Nat 52 (Mato Cão / Rio Udunduma) e CCAÇ 15 (Mansoa)

Guiné > Arquipélago dos Bijagós > Ilha de Bolama > Bolama > CART 3492 > 1972 > "No jipe, frente para trás: Alf Canas, Alf Novais, Alf Lima (Secretaria?), Alf Rodrigues (meu camarada de curso, também que era da CCS e veio depois para o Xitole, por troca com o Alf Gonçalves Dias se não me engano), Alf Martins (CART 3493, Mansambo) e eu [, assinalado cum círculo]".

Lisboa > Sociedade de Geografia > 6 de Março de 2008 > Três históricos do Pel Caç Nat 52 > Joaquim Mexia Alves, à esquerda da foto, no lançamento do livro Diário da Guiné, 1968-1969: Na Terra dos Soncó, de Mário Beja Santos, que está ao centro. À direita, está o Henrique Matos que foi o 1.º Comandante do Pel Caç Nat 52. Desta vez, no lançamento do 2.º livro (Diário da Guiné, 1969-1970: O Tigre Vadio), este quadro não se vai repetir, devido à ausência do J. Mexia Alves.

Monte Real > Base Aérea n.º 5 > 25 de Fevereiro de 1988 > O Cap Pil Av Jaime Brandão, mais o seu amigo e conterrâneo Joaquim Mexia Alves, preparando-se para um passeio de... A7.

Talvez por ser um homem sensível, tem uma veia poética e musical que não se coíbe de demonstrar, principalmente quando está entre amigos, situação em que se sente como peixe na água.

Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Xitole > CART 3942 / BART 3873 > 1972 > O nosso autor e cantor Joaquim Mexia Alves... Além da CART 3942 (Xitole), o J. Mexia Alves comandou, como Alf Mil Op Esp o Pel Caç Nat 52 (Mato Cão / Rio Udunduma) e e esteve ainda, na parte finald a sua comissão, na CCAÇ 15 (Mansoa )


Quinta do Paul, Ortigosa, Monte Real, Leiria > 17 de Maio de 2008 > III Encontro Nacional da Nossa Tertúlia > Um momento poético-musical: da esquerda para a direita, o J. Luís Vacas de Carvalho, o J. Mexia Alves e o David Guimarães


Fado da Guiné

Letra (original): © Joaquim Mexia Alves (2007)
Música: Pedro Rodrigues (Fado Primavera)

Lembras-te bem daquele dia
Enquanto o barco partia
E tu morrias no cais.

Braço dado com a morte,
Enfrentavas tua sorte,
Abafando os teus ais.
(bis)

Dobrado o Equador,
Ficou para trás o amor
Que então em ti vivia.

Da vida tens outra margem
Onde o medo é coragem
E a noite se quer dia.
(bis)

Aqui estás mais uma vez,
Forte, leal, português,
Sempre de cabeça erguida.

Não te deixas esquecer,
Nem aos que viste morrer
Nessa guerra em tempos ida.
(bis)

Que o suor do teu valor
Que vai abafando a dor
Que te faz manter de pé,

Seja massa e fermento
Desse nobre sentimento
Que nutres pela Guiné.
(bis)

Joaquim Mexia Alves
Monte Real,
18 de Agosto de 2007


Para o camarigo Mário Beja Santos
na véspera da apresentação do seu livro

Hoje fico assim,
Sentado a pensar.
Queria tanto que a memória
Se fizesse viva
E eu pudesse recordar.

Não,
Mais que recordar,
Viver
Aquele caminho do Mato Cão
E o cheiro daquele tarrafo
A agarrar-se-me ao coração.

Lembro-me agora
De quando ali cheguei
Ao pé deles
Os do 52
Ali na Ponte do Udunduma.
O medo entranhado
No suor quente,
Os pensamentos a correrem
Por aqueles espaços fora.

Todos me pareciam estranhos!
Não eram os meus homens
Aqueles que comigo embarcaram
Indecentemente,
Mesmo antes do Natal.
Não aqueles não eram a minha gente!

Confesso agora,
Tinha medo,
Muito medo!
Sei lá se sou capaz,
Sei lá se um dia à noite
No escuro silencioso do breu...
Sei lá!

Mas vá lá que és homem,
Mostra-te sem medo,
Levanta-te na tua altura,
Deixa que te meçam
E percebam que estás aqui
E não vais recuar.

Olha-os nos olhos,
Entrega-te por eles
De modo que eles percebam,
Para que também eles
Se venham a entregar por ti.

Sorri
O sorriso dos sem medo,
Ou melhor dos loucos,
Que já nem sequer pensam
Porque também não vale a pena
Já pensar.

E passa o tempo,
E as conversas chegam.
A empatia começa a nascer
E a confiança neles
E deles em mim
A tomar forma,
A criar raízes.

Já são a minha gente
E eu já sou deles também.
À volta da cadeira de verga
(Já falei dela uma vez),
Sentados pelo chão, (***).
Trocam-se recordações.
Surge um nome,
Um tal Tigre de Missirá!
Que raio tem o homem
Que eu não tenha!
Também já não interessa,
O homem já não mora cá.

Pois se deixaste um nome,
Se deixaste recordações,
Não penses tu,
Ó desconhecido,
Que não hei-de fazer melhor.

É assim que há muito,
Muito tempo,
Já povoavas os meus pensamentos!
Sabia lá eu um dia
Que te havia de encontrar,
Na guerra das palavras escritas,
Em que a arma
É uma caneta.

Hoje fico assim,
Sentado a pensar.
Será que o livro do Mário
Traz cheiros de bolanha molhada,
Barulhos de macaréu,
Gritos de macaco cão,
Cantares de humor duvidoso
De homens tisnados do sol,
Que cantam para espantar
O medo de não voltar.

Hoje fico assim
Sentado a pensar,
Que um livro pode trazer
Um abraço do passado
Para agora no presente
Viver, sonhar, recordar.

Hoje fico assim
Sentado a recordar...

Joaquim Mexia Alves
Monte Real, 10 de Novembro de 2008


Sentado na minha cadeira (2),
Cerveja na mão,
Fito os olhos no longe,
Tão longe,
Que vai para além do horizonte.
O Sol começa a descer ,
Lá ao fundo,
Para os lados do Enxalé,
E os seus raios de luz
Tocam a terra de sangue
E pintam o ambiente de vermelho.
O momento é mágico,
Porque não há nada mais bonito
Que o Pôr do Sol na Guiné.
Na bolanha,
Junto ao Geba
(Que se ouve a murmurar),
Passa um pequeno tornado.
Quase que o podia agarrar!
Ao meu lado,
O Furriel Bonito.
Deve estar a meditar
No que é que eu estarei...
A pensar!
Estou para aqui, isolado,
Vivendo como uma toupeira
Debaixo de terra,
Cercado de arame farpado.
A letargia da rotina diária
Toma conta de mim
E tanto me faz
Que o dia nasça
Como chegue ao fim.
Fecho os olhos por um momento.
Estou em Monte Real!
É fim de tarde,
Hora de banho
E vestir a preceito,
Que o meu pai não deixa
Que se jante no Hotel
Sem uma roupa de jeito.
Já lá vem o chefe de mesa
Que tem muito que contar,
Fala-me da carne e do peixe,
Tenho a boca a salivar.
Tocam-me no ombro!
Esfumou-se o meu sonho!
É o Mamadu que me diz,
Com o seu sorriso:
«Alfero,
O comer está pronto.»
O que lhe falta
Em smoking de profissão,
Excede em alegria
E dedicação.
Levanto-me,
Olho em redor.
Nas pequenas tabancas,
A luz das fogueiras
Ilumina a escuridão
Da falta de luz.
Abano a cabeça,
Para afastar o torpor,
E grito bem alto
Com a minha voz forte,
A afastar o temor:
«Pessoal,
vamos morfar,
que nunca se sabe,
quando isto vai acabar!»

Monte Real, 29 de Março de 2008
Poema (original): © Joaquim Mexia Alves (2007)


Ao nosso querido amigo, camarada, camarigo Joaquim Mexia Alves, os Editores Luís Graça, Virgínio Briote, Carlos Vinhal e os restantes 312 tertulianos do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné, desejam-lhe as maiores venturas para os próximos 40 anos que queremos sempre com boa saúde.
__________

Notas de CV:

(*) Camarigo - Palavra inventada por Joaquim Mexia Alves que significa mais que um amigo, mais que um camarada. Significa as duas coisas juntas, alguém que sendo camarada junta a particularidade de ser ao mesmo tempo amigo.

Da vasta colaboração de Joaquim Mexia Alves podem ver estes postes de:

7 de Setembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1056: Estórias avulsas (1): Mato Cão: um cozinheiro 'apanhado' (Joaquim Mexia Alves)

12 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1271: O cruzeiro das nossas vidas (1): O meu Natal de 1971 a bordo do Niassa (Joaquim Mexia Alves)

2 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1912: Um buraco chamado Mato Cão (Nuno Almeida, ex-mecânico de heli / Joaquim Mexia Alves, ex-Alf Mil, Pel Caç Nat 52)

25 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1997: Álbum das Glórias (22): O Alf Mil Pires, cmdt do Pel Caç Nat 63, em Mato Cão, na festa do meus 24 anos (Joaquim Mexia Alves)

15 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2179: Fado da Guiné (letra original de Joaquim Mexia Alves)

19 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2364: O meu Natal no mato (5): Mato Cão, 1972: Com calor, muito calor, e longe, muito longe do meu clã (Joaquim Mexia Alves)

13 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2631: Dando a mão à palmatória (5): Recado para uma ida à Guiné (Joaquim Mexia Alves)

30 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2701: Blogpoesia (10): Olhando para uma foto minha, no Mato Cão, ao pôr do sol, com o Furriel Bonito... (Joaquim Mexia Alves)

15 de Maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2845: A guerra estava militarmente perdida ? (4): Faço jus ao esforço extraordinário dos combatentes portugueses (Joaquim Mexia Alves)

19 de Junho de 2008 > Guiné 63/74 - P2961: O Nosso III Encontro Nacional, Monte Real, 17 de Maio de 2008 (11): Às vezes dá-me umas saudades da Guiné... (J. Mexia Alves)

1 de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3261: Gloriosos Malucos das Máquinas Voadoras (7): o meu amigo e conterrâneo Jaime Brandão (J. Mexia Alves)

26 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3940: Sr. jornalista da Visão, nós todos fomos combatentes, não assassinos (2): J. Mexia Alves, ex-Alf Mil (Xitole, Mato Cão, Mansoa)

(*) Camarigo - Palavra inventada por Joaquim Mexia Alves para significar mais que amigo, mais que camarada. Camarigo significa as duas coisas juntas, alguém que sendo camarada junta a particularidade de ser ao mesmo tempo amigo.

Vd. postes da série Parabéns a você de:

20 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2367: Parabéns a você (1): Humberto Reis, CCAÇ 12 (Bambadinca, 1969/71): born in Portugal, December 19th, 1946 (Luís Graça)
e
27 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4084: Parabéns a você (2): Carlos Vinhal, nosso co-editor, um rapaz de Leça, que desmontava minas em Mansabá (Luís Graça)

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Guiné 63/74 - P3758: Fauna & flora (13): Macaco cão a ladrar, gente do PAIGC a chegar (Joaquim Mexia Alves)

1. Mensagem de Joaquim Mexia Alves, com data de 13 do corrente:

Assunto - Macaco-cão

Caro Luís: Respondo-te só hoje, desculpa, à tua "provocação" sobre o macaco-cão (*).

Em primeiro lugar iria jurar que as duas fotografias foram tiradas na mesma altura e com o mesmo macaco, mas talvez não.

Uma coisa é certa, são as duas tiradas no Mato Cão, disso não tenho dúvidas.

Na segunda fotografia quem está comigo é o Tomango Baldé, que era um "tipo" um bocado arrevezado, mas bom combatente e muito valoroso.

A expressão "cabrito pé de rocha" nunca a tinha ouvido, portanto não era utilizada por aquelas paragens.

A "minha" gente deve ter comido aquele macaco, mas ao que me lembro era coisa muito esporádica.

Agora ratos, como conta o Jorge Cabral, isso sim! E era bem bom, pois tinha uns bocados que pareciam coxas de perdiz ou coisa parecida.

Comi uma ou duas vezes. Era, (pelo menos ali), cozinhado por alguns em óleo de palma/óleo de dendem, como o saborosíssimo chabéu, de que tenho grandes saudades de comer na varanda do Jamil Nasser, no Xitole.

Lembro-me também de ter morto um Facochero, e de me terem preparado um bife frito com banha da cobra, propriamente dita.

Quanto ao macaco cão, da zona do Mato Cão [, a noroeste de Bambadinca, na margem direita do Geba Estreito, frente a Nhabijões,] já andava um pouco arredado, daquilo que me lembro.

Mas tal como te contei, junto da Ponte dos Fulas [, destacamento no Rio Pulom, a norte do Xitole], e para a direita, para quem está voltado para Bambadinca, havia, depois de andar um pouco na mata, uma mata de cajueiros onde o macaco cão fazia poiso.

Lembro-me que era um grupo relativamente grande, mas quantos machos, fêmeas e crias, ó Luis, tem paciência mas não estava para aí voltado!!!

Recordo, sim, que os guias diziam que, se o macaco cão fazia muito barulho, era porque andavam perto o pessoal do PAIGC, e a explicação era que eles os comiam e era uma forma do grupo de macacos cães se avisarem uns aos outros.

Experimentei uma vez a carne, que ao que me lembro era adocicada, mas um dia vi numa tabanca, (da qual não me lembro o nome), a caminho do Saltinho, um macaco cão esfolado e pareceu-me um bébé recém nascido, pelo que pararam por aí as minhas degustações gastronómicas do referido animal.

Espero não chocar ninguém que leia os escritos da nossa Tabanca e não esteja habituado a estas coisas.

Se me lembrar de mais alguma coisa, logo te informarei.

Penso que o que aqui escrevo não serve para estudo nenhum, mas são sempre recordações.

Abraço camarigo do
Joaquim Mexia Alves
Ex-Alf Mil Pel Caç Nat 52
Mato Cão, 1973
joquim.alves@gmail.com

___________

Nota de L.G.:

(*) Vd. poste de 11 de Janeiro de 2009 > Guiné 63774 - P3720: Fauna & flora (2): Os macacos-cães do nosso tempo (Luís Graça / J. Mexia Alves)

sexta-feira, 24 de novembro de 2006

Guiné 63/74 - P1312: Ponte dos Fulas: Estão ali uns gajos que me querem matar (Joaquim Mexia Alves, CART 3492)

Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Xitole > Destacamento da Ponte dos Fulas > CART > 1970 > Uma coluna logística, vinda de Bambadinca, passa pela Ponte dos Fulas, sobre o Rio Pulom, a caminho do Xitole (CART 2716, 1970/72).

Foto: © Humberto Reis (2006). Direitos reservados.













Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Xitole > Destacamento da Ponte dos Fulas > CART 3492 > Março de 1972 > Aqui viveram o Alf Mil Mexia Alves e os homens do seu Gr Comb durante várias semanas... Este como muitos outros destacamentos e aquartelamentos na Guiné seguiam um plano de construção e manutenção incrementalista: que cada unidade que por lá passava ia acrescentando um bidão, uma vala, uma fiada de arame farpado, um telhado de zinco, uma mesa, um banco... Este destacamento era uma espécie de guarda avançada do posto administrativo, tabanca e aquartelamento do Xitole, bem como da ponte sobre o Rio Pulom, imprescindível para manter operacional a estrada Bambadinca-Mansambo-Xitole-Saltinho. (LG)

Fotos: © Joaquim Mexia Alves (2006)


Texto enviado em 10 de Outubro de 2006, pelo nosso camarada Joaquim Mexias Alves, ex-alferes miliciano de operações especiais, que no período de Dezembro de 1971 a Dezembro de 1973 foi pertencendo sucessivamente à CART 3492 (Xitole / Ponte dos Fulas), ao Pel Caç Nat 52 (Bambadinca, Ponte Rio Udunduma, Mato Cão) e . por fim, à CCAÇ 15 (Mansoa ).


Caro Luís Graça: Anexo umas fotografias da Ponte dos Fulas (1), destacamento do Xitole.

Numa delas vê-se o torreão, à entrada da ponte, onde ficava sempre uma secção do Pelotão a montar segurança 24 horas.

Fui o primeiro da CART 3492, logicamente com o meu Pelotão, a ocupar este destacamento em Março de 1972.

Ao que sei, foi ali o primeiro ataque que o BART 3873 sofreu na Guiné, precisamente nesse mês de Março.

A coisa não teve muita importância, nem consequências, mas lembro-me de ter tido um pensamento estranho, mas muito realista, qualquer coisa como isto:
- Afinal é verdade! Estão ali uns gajos que me querem matar!!!

As condições de vida eram excelentes, como com certeza atestaram muitos dos nossos camaradas que por lá passaram.

Lembro-me sobretudo da bolanha em frente, com umas árvores, que me davam sempre a insegurança de saber que seria o local óptimo para uma flagelação ao destacamento.

Junto ao destacamento, do lado esquerdo da estrada, no sentido para Bambadinca, e para dentro da mata, tive uma forte emboscada que contarei noutra oportunidade.

Abraço do
Joaquim Mexia Alves

_________

Nota de L.G.:

(1) Vd. post de 17 de Janeiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDLVI: De Lisboa para o Xitole, com amor (Humberto Reis)

(...) "Desde Novembro de 1968 a Agosto de 1969, o itinerário Bambadinca-Xitole esteve interdito. Nessa altura, uma coluna logística do BCAÇ 2852, no regresso a Bambadinca, sofrera duas emboscadas (uma das quais, a primeira, com mina comandada), a cerca de 2 km da Ponte dos Fulas, na zona de acção da unidade de quadrícula aquartelada no Xitole (CART 2413). A coluna prosseguiu com apoio aéreo.

"Nove meses depois, a 4 de Agosto de 1969, a CCAÇ 12 participou na reabertura desse itinerário, que era absolutamente vital para as NT (aquarteladas em Mansambo, Xitole, Saltinho...). Na Op Belo Dia, participou o 2º Gr Comb da CCAÇ 12 (o pelotão do Humberto Reis e do Tony Levezinho) com forças da CART 2339 (Mansambo) - a que pertencia o Carlos Marques dos Santos - formando o Destacamento A. Nessa operação, não foram encontradas minas nem abatizes no itinerário mas o IN emboscou 1 Gr Com do Dest B, constituído por forças da CART 2413 do Xitole, na Ponte dos Fulas, quando as NT estavam a reabastecer-se de água (...).

Comentário do David J. Guimarães (ex-furriel miliciano da CART 2716, aquartelada no Xitole (1970/1972), e pertencente ao BART 2917, sediado em Bambadinca, cometado uma das fotos do Humberto Reis:

" (...) Efectivamente lá ao fundo da fotografia vê-se bem o Fortim, junto à ponte, e em cima dela pelo que vejo é a primeira viatura militar que está na foto.

"[Essa] fotografia foi tirada do ponto mais alto do destacamento da Ponte dos Fulas. Quem tirou a fotografia [o Humberto Reis] tinha um abrigo à sua esquerda e mais atrás o local onde comíamos, reuníamos, limpávamos armas, conversávamos, etc. Era um coberto ao ar livre...

"(...) A estrada passava pelo meio deste acampamento onde nós só estávamos para guardar a ponte sobre o rio Pulom (Ponte dos Fulas). Era um local isolado. Tínhamos um bem: não saíamos em patrulhamento.

"Tínhamos montadas duas Metralhadoras Pesadas Bredas .. Uma dentro do Fortim e outra bem cá em cima junto ao coberto acima referido ... Essa estava apontada para a zona do Xitole, que distava 3 Km dali....

"Foi aqui que comecei a minha comissão no mato, pois o 3º Grupo de Combate a que eu pertencia, foi por sorteio o que calhou ir para ali ao 3º mês... De notar que os Morteiros do Xitole também protegiam aquela zona, estando perfeitamente com orientações para aquela direcção - bem mas isso era com os tipos das armas pesadas. Nunca tivémos ali nenhum ataque e ainda bem, senão tenho a sensação de que estaria aqui a contar outra história ou como ex-prisioneiro ou então... estaria com o Cunha, agora, no outro mundo...

"As colunas para nós eram um espectáculo mesmo (2)... Não mais que isso, pois nada fazíamos senão vermos a passar os carros todos para um lado e, depois ao fim da tarde, para o outro ... Até ao próximo mês... E lá ficavamos nós na Ponte dos Fulas... No meio do silêncio da savana. A beber uns copos, claro...

"Diariamente do Xitole deslocava-se lá um Pelotão que nos ia levar géneros ao almoço e ao jantar... Note-se que tinhamos a noção exacta de que a área circundante e a zona entre o Xitole e a cerca deste destacamento - eram terra de ninguém onde o IN andaria mais ou menos à vontade...

"O único civil que lá recebíamos era o Mamadu, um pescador, bom homem, bem alto ... e que já morreu".

(2) Vd. posts de:

20 de Maio de 2005 > Guiné 69/71 - XXII: O inferno das colunas logísticas na estrada Bambadinca-Mansambo-Xitole-Saltinho (Luís Graça)

11 de Agosto de 2005 > Guiné 63/74 - CLXX: As heróicas GMC e os malucos dos seus condutores (CCAÇ 12, Septembro de 1969) (Luís Graça)