1. Mais alguns dados sobre a Guiné-Bissau, relativamente às "doenças sexualmente transmissíveis" (*), com destaque para o HIV / SIDA.
A fonte consultado é o relatório da CPLP sobre a Guiné-Bissau, e que corresponde ao capítulo 4 (da pag. 272 à pag. 337) do relatório final. A autora é a consultora brasileira Helena Lima.
Fonte: Helena M. M. Lima - Diagnóstico Situacional sobre a Implementação da Recomendação da Opção B+, da Transmissão Vertical do VIH e da Sífilis Congênita, no âmbito da Comunidade de Países de Língua Portuguesa- CPLP: Relatório final, volume único, dezembro de 2016, revisto em abril de 2018. CPLP - Comunidade de Países de Língua Portuguesa, 2018 [documento em formato pdf, 643 pp. Disponível em: https://www.cplp.org/id-4879.aspx]
(iii) Doenças sexualmente transmissíveis (DST)(Continuação
HIV / SIDA
Prevalência de HIV entre mulheres grávidas: 5%
Prevalência de HIV entre grávidas 15-24 anos: 3,4%
Prevalência nacional geral: 3,3% | Meio rural: 2,3% | Urbano: 3%
Prevalência por género: Homens: 1,5% | Mulheres: 5%
% de recém-nascidos filhos de mães HIV + que nascem infectados pelo HIV: 26%
Número de pessoas vivendo com HIV (2013): 41 mil
Crianças < 15 anos vivendo com HIV: 6.100
Órfãos por causa da doença: 10.614
(iv) Comportamentos de risco e práticas socioculturais e tradicionais, que tornam mais vulnerável a população guineense face ao risco de transmissão de HIV/SIDA e outras DST:
Alguns problemas estruturais vulnerabilizam a população de Guiné Bissau para os agravos diversos relacionados com a sexualidade, como tráfico de mulheres e as diversas modalidades de violência baseada em género.
O modelo patriarcal legitima as práticas socioculturais e tradicionais sobre grupos étnicos que compõem o país.
Circuncisão feminina e masculina
Casamento precoce
Em relação ao casamento precoce, 7,1% referem-se a crianças com menos de 15 anos e 37,1% entre menores de 18 anos.
Segundo inquérito de 2014, entre os manjacos, as mães não deixam os filhos fazer o planeamento e, quando aparecem grávidas, não as deixam fazer o aborto, porque é uma prática tradicionalmente interdita ("mandjidu") (...)
Curandeiros tradicionais, muros, djambacus e balobeiros
Prevalência de HIV entre grávidas 15-24 anos: 3,4%
Prevalência nacional geral: 3,3% | Meio rural: 2,3% | Urbano: 3%
Prevalência por género: Homens: 1,5% | Mulheres: 5%
% de recém-nascidos filhos de mães HIV + que nascem infectados pelo HIV: 26%
Número de pessoas vivendo com HIV (2013): 41 mil
Crianças < 15 anos vivendo com HIV: 6.100
Órfãos por causa da doença: 10.614
(iv) Comportamentos de risco e práticas socioculturais e tradicionais, que tornam mais vulnerável a população guineense face ao risco de transmissão de HIV/SIDA e outras DST:
Tráfico de mulheres e violência de género
Alguns problemas estruturais vulnerabilizam a população de Guiné Bissau para os agravos diversos relacionados com a sexualidade, como tráfico de mulheres e as diversas modalidades de violência baseada em género.
O modelo patriarcal legitima as práticas socioculturais e tradicionais sobre grupos étnicos que compõem o país.
Circuncisão feminina e masculina
A Mutilação Genital Feminina (MGF), embora proibida por lei, é praticada em ambiente doméstico.
Estima-se que as mutilações genitais tenham atingido 44,9% das mulheres entre 15-49 anos e cerca de 49,7% das crianças
entre 0 – 14 anos.
Estima-se que as mutilações genitais tenham atingido 44,9% das mulheres entre 15-49 anos e cerca de 49,7% das crianças
entre 0 – 14 anos.
A circuncisão masculina é socialmente incentivada e tem apoio no serviço público de saúde.
Em inquérito de 2014, alguns dados apresentados sobre a situação dos inquiridos perante a circuncisão / MGF, por sexo:
64,1% dos homens confirma a circuncisão, contra 35,9% que ainda não foi circuncisada.
Para o sexo feminino 37,2% respondeu
que sim foi submetida a MGF,
contra 62,8% que responde que Não.
64,1% dos homens confirma a circuncisão, contra 35,9% que ainda não foi circuncisada.
Para o sexo feminino 37,2% respondeu
que sim foi submetida a MGF,
contra 62,8% que responde que Não.
Casamento precoce
Contracepção
Em relação à taxa de contracepção,
dados de 2014 apontam que 84% da população não usa método algum contraceptivo.
dados de 2014 apontam que 84% da população não usa método algum contraceptivo.
Os homens nunca são responsabilizados por eventual esterilidade, esta é uma questão meramente feminina e de mulheres, em alguns casos são sancionadas pelo divórcio.
Essa verdade não é diferenciada por zonas ou espaços rurais/urbanos,
é uma realidade cultural.
Essa verdade não é diferenciada por zonas ou espaços rurais/urbanos,
é uma realidade cultural.
A religião, a cultura e a tradição obrigam as mulheres a procurarem formas de conseguir despistar os maridos para poderem usufruir dos métodos contracetivos, porque, segundo estes, elas são casadas para se procriar.
Para se livrarem dos maridos, muitas das vezes, elas inventam desculpas em levar as crianças para as vacinas e/ou consultas e aproveitam para fazer controlo
do implante dos métodos.
do implante dos métodos.
Planeamento familiar, gravidez e aborto
entre os manjacos e os papéis
entre os manjacos e os papéis
Segundo inquérito de 2014, entre os manjacos, as mães não deixam os filhos fazer o planeamento e, quando aparecem grávidas, não as deixam fazer o aborto, porque é uma prática tradicionalmente interdita ("mandjidu") (...)
Similaridade em Quinhamel, entre os papéis, onde se testemunhou um grau de liberdade das raparigas em ambientes noturnos e, quando aparecem grávidas, as mães não as exigem, temendo represálias de defuntos e/ou "kansaré".
Segundo a crença dos papéis, se uma mãe se zangar com a filha grávida, ela não poderá tocar na criança após a nascença, porque representa uma rejeição a priori, o que faz com que as mães tenham que se consentir com a gravidez das filhas.
Ainda neste mundo animista, segundo um técnico entrevistado em Caió, uma localidade de elevada taxa de prevalência do VIH, os homens desta localidade contraem matrimónio com mais de cinco mulheres, o que se associa a um elevado índice de promiscuidade, sobretudo nas deslocações de mulheres ao Senegal e das oportunidades sexuais que se lhes assistem.
Outras experiências demonstram que
as mulheres casadas em dificuldade de gravidez recorrem sempre aos "murus" ou "djambacus" para receberem tratamentos tradicionais ou ainda as "balobas" de "ferradias", fazendo pedidos e consequente promessas, em detrimento de aconselhamento e/ou tratamento médico.
as mulheres casadas em dificuldade de gravidez recorrem sempre aos "murus" ou "djambacus" para receberem tratamentos tradicionais ou ainda as "balobas" de "ferradias", fazendo pedidos e consequente promessas, em detrimento de aconselhamento e/ou tratamento médico.
Relativamente ao HIV/SIDA, segundo as perceções de alguns técnicos de saúde
e ativistas de organizações
que lidam diariamente com esta pandemia,
uma larga percentagem de pessoas infetadas recusa a existência, considerando-a "tarbeçado", doença de "badjudeça".
e ativistas de organizações
que lidam diariamente com esta pandemia,
uma larga percentagem de pessoas infetadas recusa a existência, considerando-a "tarbeçado", doença de "badjudeça".
De acordo com certas tradições animistas, a doença é igualmente interpretada como falta de cumprimento de alguns rituais,
caso de se tornar "djambakus"
e/ou cerimónia de "rônia iran".
caso de se tornar "djambakus"
e/ou cerimónia de "rônia iran".
Fonte: Excertos do supracitado relatório.
Com a devida vénia...
Com a devida vénia...
(Continua)
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Nota do editor:
Último poste da série > 4 de outubro de 2019 > Guiné 61/74 - P20204: A Guiné-Bissau, hoje: factos e números (1): população e morbimortalidade; etnias, idiomas e religiões; doenças sexualmente transmissíveis
Último poste da série > 4 de outubro de 2019 > Guiné 61/74 - P20204: A Guiné-Bissau, hoje: factos e números (1): população e morbimortalidade; etnias, idiomas e religiões; doenças sexualmente transmissíveis