quinta-feira, 17 de maio de 2007

Guiné 63/74 - P1763: Quando a PIDE/DGS levou o Padre Puim, por causa da homília da paz (Bambadinca, 1 de Janeiro de 1971) (Abílio Machado)

Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Xitole > 1970 > O Padre Puim, capelão militar, de origem açoriana, com o furriel Guimarães da CART 2716. Devido às suas homilias, este capelão teve problemas com a PIDE/DGS, acabando por ser expulso do Exército, em 1971, tal como outros (o caso talvez mais famoso foi o do Padre Mário da Lixa, membro da nossa tertúlia). 

Infelizmente, é a única foto que possuímos do ex-Padre Puím, hoje enfermeiroo no Hospital de Ponta Delgada, segundo a informação que tenho. Obrigado ao Abílio, pela evocação desses tempos difíceis de Bambadinca (é o adjectivo mínimo que posso aqui utilizar), coincidindo com a parte final da minha comissão da serviço, como se dizia eufemisticamente. Obrigado também por te lembrares do Henriques, um gajo apanhado, e honrá-lo com a tua amizade. Sei que andou por aí algures, a tentar esquecer... Mas, de facto, não se esquece a Guiné (1)


Foto: © David J. Guimarães (2005). Direitos reservados.


Mensagem do Abílio Machado (ex-Alf Mil da CCS do BART 2917, Bambadinca, 1970/72) (2), enviado com data de 31 de Março último:


Meu Caro:

Vê, por favor, o texto em anexo. Aparte o trecho final sobre o Puim, foi escrito - se bem tenho presente - logo na semana seguinte à minha presença no almoço da [CART] 2716 do Xitole, o ano passado, aqui no Porto . Encontrei-o aqui nas minhas coisas. Era já nessa altura minha intenção enviá-lo para o teu blogue . Mas perdi o endereço e por aqui ficou esquecido. Carecerá de actualizações mas vai mesmo assim.Vale o que vale e o que a memória deixa.

Um abraço

Abilio Machado

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O pudor em falar da guerra...

por Abílio Machado


Tenho a ideia de ter lido há muito, muito tempo – cada vez mais o tempo é pouco - num dos cadernos do Expresso - passe a publicidade - uma referência a algo cujo título se parecia muito com o tema deste blogue.

É uma reminiscência longínqua, confusa, que nada terá de real, eivada, portanto, dos erros e partidas que a memória nos vai pregando ao longo da vida. Relaciono essa leitura com uma época em que, por efeméride ou acaso, vários textos de ficção sairam sobre a guerra colonial.
Não é demência senil - espero - será antes o propósito confesso de esquecer.

A participação numa guerra é sempre uma baliza que ficará a marcar o campo onde as nossas vidas se jogam ou jogarão: mais ainda se a oposição a essa guerra é já uma ideia construída e consciente, como era o caso de muitos de nós.

Esta contradição de estarmos numa guerra de que ideologicamente, politicamente, discordávamos não foi, por certo, a menor das “culpas“ que tivemos de carregar e solucionar no íntimo de cada um de nós. Talvez por isso se contem pelos dedos - como eu me lembro de contar pelos dedos : quando uma mão não chegava, socorria-me dos lábios para continuar a contagem da outra – as vezes que falei às minhas filhas da guerra em que o pai estivera engajado.

Já o meu avô, velho combatente da 1ª Grande Guerra, nunca contou aos filhos as agruras que passou nas trincheiras, o que comiam (tudo o que mexia ), a fuga desordenada para a rectaguarda dos sobreviventes após o desastre da Batalha de La Lys, os gases tóxicos. A minha mãe pasmava, de olhos desorbitados :
-Quem te contou tudo isso?

É impressivo em demasia para ser contado… É uma reserva íntima. Assunto para ser guardado em baú de sótão, como as velhas fotografias de família.

Mas vamos ao que interessa. Por que acedo a este blogue? Não escondo que o faço sentindo que a emoção se me escapa para os dedos e para o teclado. Lá onde quer que a emoção habite …
Num almoço-convívio recente da Companhia sedeada no Xitole, para que fui convidado, o Guimarães deu-me conta e endereço do blogue e de quem se esconde por trás de um nome tão inócuo como Luís Graça.

Meu caro Henriques (desvenda-se o mistério do nome ) : os nomes serão inócuos, as pessoas que eles ocultam, nem sempre o são. E há-as bem carregadas de contra-indicações e efeitos secundários. E incómodas, como o diabo...

Aquela noite em Bambadinca … Ainda lembras ou também queres esquecer? Ainda hoje não sei - ou sei - como escapaste à psiquiatria … O que, naquelas circunstâncias, seria, apesar de tudo, o mal menor. Antes louco que preso. Seria ?

O exemplo do padre Puim - já não é padre: quem o é nos tempos de hoje? Uma instituição caduca! – é o paradigma do que poderiam ter feito naquela situação. E não o terão pensado?

O Puim. Outro exemplo impressivo. Memória perene. Porque há actos que, por dolorosos, queremos rejeitar, mas pelo exemplo não podemos esquecer. E ficam-nos como um padrão, ou uma tatuagem, ou um ferrete. Recortados no horizonte ou cravados na carne a frio são uma referência ou uma lembrança.

A coragem de um padre que não abdicou de o ser lá onde era o seu sítio: o altar. Já corriam, porventura trazidos pela brisa que vinda de certa Casa ribeirinha se espalhava às vezes serena, às vezes inquieta pela parada do quartel, uns ditos de que o padre Puim se desmandava nas homilias.

Os textos, ditos ou escritos, não eram visados pelo lápis azul. O Puim saberia disto? Não vou revelar o que penso, não quero ser inconfidente… E choveram relatórios para Bissau, por certo. Alguém que era regular nas missas.

E chegou o dia 1 de Janeiro – Dia Mundial da Paz. Ainda é ? Era-o em 1971. Ao que me disseram ( eu não ia à missa : as minhas missas com o Puim eram grandes conversas, edificantes, pela noite fora ), o Puim falou sobre a Paz.

Nessa semana, à socapa – houve um silêncio quase opressivo ou é efabulação minha? - aterrou uma DO. Alguém discreto fez-me chegar a nova de que algo se passava com o Puim. Fui ver. Encontro o Puim sentado na cama, nervoso mas determinado, olhando uns sujeitos que impiedosamente lhe desmantelavam o quarto descarnado, de asceta, à cata de … Abriam, fechavam gavetas, apressados … Acabei retirado do quarto.

E levaram-no com eles . Vi-o passar. Parecia mais sereno . Chegou-nos que teria sido mal tratado em Bissau até pela própria Igreja . E que teria sido exilado para a sua terra: haverá coisa pior? Um exílio no próprio chão que o viu nascer?

Ninguém é profeta na sua terra nem fazem milagres os santos que conhecemos. Mais tarde soubemos que estava de facto nos Açores. E que despira o hábito … Mas abraçara outro sacerdócio … A igreja será agora o Hospital de Ponta Delgada.

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Notas de L.G.:

(1) Vd. post de Dezembro 08, 2005 > Blogantologia(s) II - (22): Esquecer a Guiné (Luís Graça)

(2) Vd. post de 29 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1635: Amigos, enquando vos escrevo, bebo um Porto velho à nossa saúde (Abílio Machado, CCS do BART 2917, Bambadinca, 1970/72)

quarta-feira, 16 de maio de 2007

Guiné 63/74 - P1762: II Encontro de Pombal (15): Estórias do Caco Baldé (Spínola) (J.L. Vacas de Carvalho, J. Mexia Alves e outros)



Videoclipe (3 m 21 s) > Estórias do Caco Baldé (Spínola)... Vozes: Joaquim Mexia Alves, J. L. Vacas de Carvalho, António Barroso e Paulo Salgado... Viola: J. L. Vacas de Carvalho. Para reproduzir o vídeo, basta clicar duas vezes na imagem e ligar o som... (1).

Vídeo: © Luís Graça (2007). Direitos reservados. Vídeo alojado no álbum de Luís Graça > Guinea-Bissau_Videos. Copyright © 2003-2007 Photobucket Inc. All rights reserved.
Pombal > 28 de Abril de 2007 > 2º encontro da malta do nosso blogue > Restaurante O Manjar do Marquês > Fim de tarde > Artistas: J. Luís Vacas de Carvalho e J. Mexia Alves... Audiência (participante): Eu, o Paulo Santiago e o seu filho João, o Humberto Reis e a Teresa, o Victor Tavares, o Artur Soares e o António Barroso.... A este pequeno grupo ainda se juntaria depois o Tino Neves e a esposa (acabados de chegar... de Coimbra)... Para além de se cantar (2), também se contou estórias... Por exemplo, a respeito do nosso Com-Chefe, carinhosamente conhecido como Caco Baldé. (LG)
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Notas de L.G.:

(1) Vd. post de 6 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1735: Tertúlia: Encontro em Pombal (14): Vídeo do Hugo Moura Ferreira

(2) Vd. videoclipes anteriores, relativos ao encontro de Pombal:

5 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1734: Tertúlia: Encontro em Pombal (13): Paco Bandeira: Lá longe, onde o sol castiga mais.. (J. L. Vacas de Carvalho / J. Mexia Alves)

1 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1717: Tertúlia: Encontro em Pombal (8): Ah, tigres! Ou uma dupla de fadistas (J.L. Vacas de Carvalho / J. Mexia Alves)

1 de Maio de 2007 Guiné 63/74 - P1720: Tertúlia: Encontro em Pombal (9): (Não) me tirem daqui (Sousa de Castro / Vacas de Carvalho / Mexia Alves)

terça-feira, 15 de maio de 2007

Guiné 63/74 - P1761: A floresta-galeria na escrita de Rui Ferreira


Guiné > Zona Leste > Sector L1 > 1969 > Vista aérea: o esplendedor (e o terror) do Rio Geba e das suas margens.

Foto: © Humberto Reis (2005). Direitos reservados.

1. Mensagem do nosso camarada Rui Ferreira, coronel na situção de reforma, residente em Viseu, autor do livro de memórias Rumo a Fulacunda (1) e que, apesar dos actuais problemas de saúde, nos deu a honra e o prazer da sua presença em Pombal, no passado dia 28 de Abril de 2007:

Meu caro Luís:

Passei a olhar com mais respeito e a dar mais valor ao meu computador quando aderi de alma e coração à nossa tertília.

Todos os dias cá subo ao meu sotão onde num soberbo aproveitamento me fiz rodear das minhas recordações, livros, discos e cassetes que constituem o meu mundo e acabo fatalmente a abrir o correio e a ver as novas do nosso contentamento.

Tenho todo o gosto que um dia tu ou qualquer um dos outros que, por acaso ou não, visite Viseu me dê o prazer de me fazer uma visita. Aqui fica o convite.

Mas não só por isso te estou a contactar. Penso que para além das historias, peripécias e acontecimentos por que duma maneira geral todos fomos passando e que são obviamente muito importantes e têm por direito o seu lugar garantido, poderíamos alargar horizontes com a introdução de novos temas.

E para te falar deles começaria por sugerir que de uma forma absolutamente pessoal cada um se referisse como viu e como viveu e sentiu quando confrontado com coisas tão simples como os obstáculos naturais, o terreno, o clima, a humidade, o calor, as chuvas tropicais, a floresta, a guerra de minas, o culto da velhice nas sociedades africanas, o choro, a grandiosidade do nascer ou a beleza do pôr do Sol em África, a existência de Deus, o cheiro da terra depois das primeiras chuvas, o silêncio de morte, o medo, a angústia duma mutilação, ou mais terra a terra sobre o anexo do Hospital Militar de Campolide, a inadaptação da hierarquia militar à guerra de Àfrica, as comissões dos filhos e as dos enteados, enfim um nunca mais acabar de assuntos possíveis.

E para inaugurar, se assim o entenderes aqui te vou transcrever o que sobre a floresta escrevi
( In Rumo a Fulacunda, pag 218):

(...) a floresta- essa sim bem especial, pois, em alguns recantos perdidos e remotos da nossa área de acção, ela sendo senhora e soberana, em absoluto interferia na nossa actividade. Virgem, brava e selvagem, sôfrega na conquista dos espaços devolutos, desgovernada na expansão, abandonada ao acaso, perdida nas vastidões inocupadas das terras que não eram de ninguém, intocada, altiva e serena, misteriosa e sombria, era de um profundo espanto observar o contraste entre o soturno melancólico das sombras, dos escuros e dos tons de cinzento e negro do seu interior face ao luxo e ao esplendor do verde deslumbrante que ao Sol se expunha.

Crescendo ao deus-dará, resistindo à penetração e indiferente ao correr dos anos, numa amalgama de formas e tamanhos, numa profusão de variedades e numa imensidão de espécies que, disputando o mesmo espaço, a um tempo se irmanavam no mesmo propósito e antagonizavam na conquista da luz que mais não era que a própria vida.

Enlaçando-se, acomodando-se, coabitando, lutando e crescendo, lado a lado, fetos e arbustos, lianas e trepadeiras, canaviais e palmeiras, ramagens e raízes, frutos e flores, folhagens de recorte tão diverso, do ínfimo ao grandioso, do ridículo ao monumental, árvores novas e de pequeno porte, espinheiras, enfim um verdadeiro e absoluto matagal, intrincado e sem sentido, desordenado e sem solução.

Sobressaindo, tudo culminando e suplantando as demais, majestosas e frondosas, dominando em seu redor, se erguiam árvores de tão grande como inimaginado porte. Junto delas nos sentiamos pouco menos que insectos numa confrontação entre as suas impensáveis alturas e a nossa ridícula pequenez, entre a sua longevidade milenar e a nossa curta passagem por este mundo de Deus.

Na floresta não eramos mais que ínfimos seres desambientados e no seu interior, tão denso como se numa noite cerrada se tivesse entrado, pavorosamente tão sombrio, o que negro já era, se voltava a sentir não os mesmos infantis e inocentes temores da meninice ao escuro associados, mas um imenso e real pavor, tanto mais assustador quanto consciente, face ao desconhecido e misterioso. (...).


E por aqui me fico por hoje . Num grande abraço toda a consideração e a amizade do
Rui

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Nota de L.G.:

(1) Sobre o autor e o livro, vd posts:

17 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1285: Bibliografia de uma guerra (14): Rumo a Fulacunda, um best seller, de Rui Alexandrino Ferreira (Luís Graça)


1 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1718: Lendo de um fôlego o livro do Rui Ferreira, Rumo a Fulacunda (Virgínio Briote)

Guiné 63/74 - P1760: Estórias do Zé Teixeira (16): Tarde de Domingo com sorte (José Teixeira, ex-1.º Cabo Aux Enf)

Guiné > Região de Quínara > Empada > CCAÇ 2381 > 1969 > O 1º Cabo enfermeiro Teixeira, um operacional a tempo inteiro (... hoje um notável contador de estórias).

Foto: © José Teixeira (2006). Direitos reservados.


Texto do José Teixeira (1º cabo auxiliar enfermeiro, CCAÇ 2381, Buba, Quebo, Mampatá, Empada, 1968/70) com mais uma das suas estórias:


TARDE DE DOMINGO COM SORTE

por Zé Teixeira

O Reencontro

Trinta e sete anos depois do regresso, reencontrei o camarada Nuno Rosa. Para além da grande alegria pelo encontro, selada com um forte e comovido aperta costelas, surgiram logo de imediato as estórias do costume. Lembras-te daquele ataque … e daquele… das formigas que nos acordaram de noite … das malditas abelhas… etc, etc.

Algumas das estórias já estavam no sótão da memória, provavelmente cheias de pó. Outras continuam activas a bailar no consciente, só que há pormenores que nos escaparam. Assim as estórias tomam outra dimensão, talvez mais realista e sobretudo, após este desfiar de flashes por vezes bem dolorosos, acabam por se deslocarem para o sótão, até ao descanso eterno do guerreiro.


Uma emboscada ao domingo

Estávamos em Buba, no fim do Verão de 1969. O Joaquim Agostinho, com 26 anos devorava etapas na Volta A Portugal. Era o ciclista prodígio, o fora de série que tinha sido descoberto em Torres Vedras. Como o grosso do pessoal da CCAÇ 2381 era Ribatejano, não se falava de outra coisa na caserna.

Era domingo. Logo após o almoço, depois de um Sábado passado em patrulhamento para os lados da bolanha dos passarinhos, surge nova ordem de mobilizar para novo patrulhamento para os lados de Sinchã Cherno e emboscar algures na estrada que se andava a construir até Aldeia Formosa (Quebo), muito perto do local onde cerca de um mês antes tínhamos sofrido uma emboscada, junto a um campo de minas, uma das quais roubou a perna ao Miguel. Este, logo após o acalmar do fogo levantou-se e . . . descobriu que estávamos a pisar um campo, onde foram levantadas 27 minas A/P. e localizados buracos, tipo campas abertas com cruzes e com papéis escritos do género: "Tugas é isto que vos espera”, “Ida para a vossa terra” etc.

Bolsa de enfermeiro às costas, cantil cheio... Os efeitos da velhice não só dava, em resultado das experiências vividas, para um redobrar de atenção e um poder de reacção e desenrasque maior, como também, em certas ocasiões, para um aventureirismo exagerado com graves riscos para a pele.

Naquele dia, partimos à desportiva, bem dispostos, bem bebidos, quando muito, chateados pelo quebrar da rotina, pois em Portugal ao domingo não se trabalhava.

No primeiro local seguro (?) que encontramos, montamos tenda, quer dizer, a emboscada e preparamo-nos para ficar ali o resto da tarde. De repente ouve-se um tiro muito perto e o ruído de algo a cair de uma árvore. Como velhinhos ficamos quietos na expectativa, apenas redobramos de atenção, e eis que surge um dos furriéis com um magestático pato bravo, com seis/sete quilos, que o mesmo tinha abatido a tiro de G3.

A isto chama-se brincar em serviço, pelo que levantamos de imediato a embosca e partimos para outro sítio algures mais à frente. Sem saber que estávamos a cair para a boca do lobo, lá nos colocamos de novo em posição de combate. Agora sim, um pouco abandalhados. O homem que levava o prato do morteiro 60 não ficou junto do morteiro e o municiador do lança roquetes trocou o lugar por mim.

O Nuno com o seu colete de roquetes estava preocupado, pois faltava-lhe o municiador, o qual também trazia uma fornada de granadas. Ao comentar a sua preocupação eu respondi-lhe:
-Não te preocupes que se os turras atacarem, eu municio-te.

O IN que estava emboscado um pouco à frente, deixou-nos pousar e aproximou-se com cuidado ( Creio mesmo que se avançássemos mais uns cem metros, tínhamos caído no seu campo de mira).

De repente o ambiente aqueceu com o IN a cair em cima de nós com toda o seu potencial de fogo, ao qual se segui a nossa resposta rápida. Uma das primeiras roquetadas IN foi rebentar numa árvore por cima da minha cabeça. Os seus estilhaços barreram as folhas das árvores e este camarada procurou de imediato um lugar mais seguro. O roqueteiro bem olhou para trás, à minha procura, mas eu tinha voado para junto de uma árvore, mais segura.

Acabado o desafio, um autêntico Porto/ Benfica de que resultou um empate, ambos os contendores pensaram em fugir, o que foi a minha sorte.

Chega-me a informação de que há um ferido. Logo me aproximo e verifico que o homem do morteiro não hesitou em enviar umas morteiradas, colocando o cano do morteiro na terra mole, de que resultou ter ficado com um rasgão na mão, pois o morteiro ao enterrar-se pelo impacto, pela terra dentro, deixou marcas. Passo a palavra de que há um ferido ligeiro e logo ali me disponho a fazer o tratamento como era o meu dever.

O alferes é que não esteve com meias medidas e decidiu retirar de imediato. Acabado o tratamento, logo verifico que estávamos sozinhos. Duas hipóteses, ou ficar quietos, aguardar algum tempo e depois regressar a Buba, ou correr atrás dos camaradas que iam a 400/500 metros algures na mata!

Como já era fim de tarde, resolvemos procurar seguir os colegas que, entretanto, para mais rapidamente se afastarem, seguiam já na estrada que se avistava ao longe. Até porque ouvíamos ruídos e vozes por perto ( penso que era o IN a afastar-se, caso contrário podiam ter feito ronco e apanhar-nos à mão ou enviar-nos para casa no sobretudo de madeira).

O nosso roqueteiro, o Nuno Rosa, relembrou-me agora, na altura teve um pressentimento de que estava a ser seguido e olhou para trás. Dois dos seus colegas vinham lá longe. Então ajoelhou, colocou as últimas granadas, pois como bom ex-comando, nunca gastava todas as munições que levava, e bateu a mata que ficava à nossa retaguarda, impedindo o IN de qualquer veleidade.
Os outros camaradas continuaram apressadamente o seu caminho com o alferes à frente e o Furriel a sonhar com o arroz de pato, que nunca mais largou

Assim ficaram três homens desarmados, no meio da mata; um morteiro sem granadas, um roqueteiro sem roquetes e um enfermeiro, num fim de tarde domingo que toda a gente queria calmo e pacífico.

Quando em 2005 tive oportunidade de voltar à Guiné, estive muito próximo deste lugar, mas confesso que nada me veio à memória.

Obrigado, Nuno, por teres partilhado esta aventura comigo.

Zé Teixeira
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Nota de L.G.:

(1) Vd. post de 20 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1614: Estórias do Zé Teixeira (14): Voluntário na tropa... nem para comer!

10 de Setembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1059: Estórias do Zé Teixeira (13): A Maria-tira-cabaço-di-branco

7 de Setembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1055: Estórias do Zé Teixeira (12): O Balanta que fugia do enfermeiro

4 de Setembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1044: Estórias do Zé Teixeira (11): As vitaminas abortivas

4 de Setembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1043: Estórias do Zé Teixeira (10): O embalsamador amador

4 de Setembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1042: Estórias do Zé Teixeira (9): camaleões, putos e cobras

26 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCXCVI: Estórias do Zé Teixeira (8): Do tan-tan ao pum-pum, um casamento em Mampatá

20 de Abril de 2006 > Guiné 63/74 - DCCXIX: Estórias do Zé Teixeira (7): Síndrome de guerra

19 de Abril de 2006 > Guiné 63/74 - DCCXVIII: Estórias do Zé Teixeira (6): um atribulado regresso

21 de Março de 2006 > Guiné 63/74 - DCXLVIII: Estórias do Zé Teixeira (5): as abelhas, nossas amigas

21 de Março de 2006 > Guiné 63/74 - DCXLVII: Estórias do Zé Teixeira (4): o lugar do morto

15 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - DXXXVIII: Estórias do Zé Teixeira (3): a festa da vida

11 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - DXXIV: Estórias do Zé Teixeira (2): o Conceição ou o morrer de morte macaca

9 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - DXIII: Estórias do Zé Teixeira (1): Dôtor, Bô ka lembra di mim ?

segunda-feira, 14 de maio de 2007

Guiné 63/74 - P1759: Guileje, SPM 2728: Cartas do corredor da morte (J. Casimiro Carvalho) (3): Miniférias em Cacine e tanques russos na fronteira

Guiné > Região de Tombali > Guileje > CCAV 8350 (1972/73) > O Fur Mil Op Esp José Casimiro Carvalho, no topo de uma Fox, viatura blindada do Esquadrão de Reconhecimento Fox. Estas unidades de cavalaria também possuíam viaturas White (ver foto a seguir) (1).

Guiné > Região de Tombali > Guileje > CCAV 8350 (1972/73) > Viatura blindada White, de matrícula MG-34-69, pertencente ao Pelotão de Reconhecimento Fox, estacionado em Guileje. Documento que faz parte do álbum fotográfico do Casimiro Carvalho, sem data nem legenda. Segundo o Casimiro Carvalho, o pelotão chamava-se Os Pipas (LG).



Guileje, SPM 2728: Cartas do corredor da morte (J. Casimiro Carvalho) (2): 1ª quinzena de Maio de 1973: Miniférias em Cacine e tanques russos na fronteira (2)

Cartas enviadas pelo José Casmiro Carvalho à família. A selecção, a revisão e a fixação do texto são da responsabilidade do editor do blogue (LG) .


Cacine, 6/5/3


Mãezinha. (…) Chamaram-me no dia 4 e disseram-me: Você vai para Cacine receber os mantimentos para toda a época das chuvas, durante um mês. E cá estou…

Tem praia onde tomo banho todo os dias. Come-se assim: Jantar: arroz de frango (aquele escuro, com sangue), mas com frango; meia pera de conserva, 1 banana, vinho à discrição com gelo; café. Almoço: pato com batatas às rodelas, uma espécie de Espanhola, bastante pato, canja (uma delícia), 2 babanas e café. Como vê !!!?

PS – Junto foto contado o patacão.

Guiné > Região de Tombali > Guileje > CCAV 8350 (1972/73) > O Fur Mil Op Esp José Casimiro Carvalho contando o patacão.... Foto enviada à mãe.


Cacine, 6/5/73

Querido pai: A sorte desta vez escolheu-me para ser protegido, pois mandaram-se para Cacine, terra de praia e sol, cocos, mangos, bananas, nada que fazer, nada de patrulhas nem trabalho… Só quando vêm batelões de Bissau é que tenho que conferir tudo (ao todo, durante este mês são 120 toneladas de reabastecimentos) e depois acompanhar de batelão até Gadamael (a 18 km de Guiledje) e voltar para Cacine, à espera de mais.

Sob o meu comando, estão um cabo e um soldado para ajudar. Em dois dias já estou mornaço.

(…) Aqui vai [uma foto de ] um dos carros de combate de Guileje.

(…) Um abraço sincero do seu Operações Especiais que de especial não tem nada. With Love.



Os aviões voltarão a voar, promete o Spínola


Cacine, 13/5/73

Mãezinha: (…) Fui até Gadamael de batelão (isto é que é viajar de barco!) e passei lá uma noite, noite em que Guileje foi atacada.. Também choveu torrencialmente e eu cá fora só de calções a apanhá-la e os soldados, com sabão, debaixo das caleiras a tomar banho” (…)

(…) Todos os dias, praia e banho. Não é nada mau, não acha ? Estou mesmo preto. Ando a sofrer por causa da ‘lica’: são centenas de borbulhinhas que com o suor picam como mil agulhas” (…).


Cacine, 13/5/73

Bijou: (…) Tenho andado aqui de batelão, comido cocos e bananas nem se fala. Mangos (fruta saborosa) há qui aos tombos.

Come-se bem aqui, e continua (hoje bifes de cebolada). Guileje foi atacado outra vez, mas eu não estava lá.

Parece que vai haver aviões outra vez no mato. Disse o Spínola anteontem em Guileje. Um beijo (…).



Carros de combate russos na fronteira

Cacine, 15/5/73


Paizinho: (…) A guerra aqui está cada vez pior. O Hospital de Bissau (3) está repleto (infelizmente). Só em Guidaje ,[ no norte], 40 feridos, alguns dos quais com membros amputados (já a cheirar mal devido a terem esperado 2 ou 3 dias por coluna para serem evacuados). Aviões já não vão lá.

No Cantanhez (todos estes locais que menciono são no sul, onde estou), 13 feridos numa emboscada. Guileje foi atacada outra vez e passados dois dias os melhores homens que tínhamos lá (dois furriéis milicianos) morreram, em consequência de uma mina anticarro que iam levantar. Andamos tods transtornados.

A 18 km de Guileje fica Gadamael e foram para lá 4 canhões sem recuo e 35 homens para os guarnecer. Levaram também granadas anti-tanque, pois foram vistos carros de combate na fronteira da República [da Guiné-Conacri].

O meu serviço aqui é receber os géneros e artigos de cantina que vão para Guileje, para o isolamento, pois com as chuvas ficamos como que numa ilha e não podemos sair de lá, só de avião ou barcos de borracha. Aviões não há. Portanto só de barco (o que é muito perigoso)…

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Notas de L.G.:

(1) Vd. Não sei qual era o nº do Esquadrão. No meu tempo (1969/71), havia um Esquadrão de Reconhecimento em Bafátá, a que pertenceu o nosso camarada Manuel Mata. Vd. posts:

2 de Março de 2006 > Guiné 63/74 - DXCVII: Esquadrão de Reconhecimento Fox 2640 (Bafatá, 1969/71) (Manuel Mata) (1)

3 de Março de 2006 > Guiné 63/74 - DCIII: Esquadrão de Reconhecimento Fox 2640 (Manuel Mata) (2)

25 de Março de 2006 > Guiné 63/74 - DCLII: Esquadrão de Reconhecimento Fox 2640 (Bafatá, 1969/71) (Manuel Mata) (3)

2 de Abril de 2006 > Guiné 63/74 - DCLXXI: Esquadrão de Reconhecimento Fox 2640 (Manuel Mata) (4): Elevação de Bafatá a Cidade

(2) Vd. posts anteriores desta série:

25 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1699: Guileje, SPM 2728: Cartas do corredor da morte (J. Casimiro Carvalho) (1): Abatido o primeiro Fiat G 91

3 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1727: Guileje, SPM 2728: Cartas do corredor da morte (J. Casimiro Carvalho) (2): Abril de 1973: Sinais de isolamento

(3) Vd. post de 7 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1738: Hospital Militar de Bissau (2): O terminal da guerra, da morte e do horror (Carlos Américo Cardoso, 1º cabo radiologista)

Guiné 63/74 - P1758: Convívios (7) : BCAÇ 2893 (Nova Lamego 1969/71), Figueira da Foz, 26 de Maio de 2007 (Tino Neves)



Mensagem enviada pelo camarada Constantino Neves, ex-1º Cabo Escriturário da CCS do BCaç 2893 ( Nova Lamego, 1969/71).



BCAÇ 2893 > CCS/CCAÇ 2617/CCAÇ 2618/CCAÇ 2619 + Pel Mort 2105/Pel Re Daimler




5.º Encontro/Convívio > Figueira da Foz, 26 de Maio de 2007


Quinta de Castros
Serra de Castros - Maiorca
Figueira da Foz



MENU

Entradas > Enchidos grelhados; Salgadinhos

Bufê > Sapateira recheada; Gambas cozidas; Polvo (salada); Ovas; Salmão em espelho; Saladas frias; Bacalhau espiritual; Lombo recheado; Batata assada; Arroz árabe; Sopa de alho francês

Mesas de Doce e de Fruta

BAR ABERTO

Bolo de Aniversário e Espumante

PREÇO: 32,00 € (Crianças até aos 4 anos não pagam, dos 5 aos 10 pagam 16,00€ ).

CONFIRMAÇÃO: Até ao dia 12 de Maio de 2007

PONTO DE ENCONTRO


Concentração em frente à Câmara Municipal da Figueira da Foz, até às 11,30 horas.

NOTA: Agradecia que me confirmassem logo após a recepção desta carta a intenção de estarem presentes, a fim de calcular atempadamente,quantos de vós estareis presentes.


Para os camaradas que ainda não disponibilizaram uma foto, tipo passe ou outra, agradecia que o fizessem, pois é de grande utilidade, para melhor os reconhecer, quando só o nome não chega.
Escrevam no verso o nome, posto e Companhia. Agradecido.

CONTACTO:

Constantino Neves
Telefone: 21 017 32 26
Telemóvel: 93 437 03 52
Endereço de correio electrónico > constantino.neves@gmail.com


Laranjeiro, 23 de Abril de 2007

Guiné 63/74 - P1757: Convívios (6): CART 2339 (Fá Mandinga e Mansambo,1968/69), Carvalhos, 19 de Maio de 2007 (Carlos Marques dos Santos)

Mensagem enviada pelo nosso camarada Carlos Marques Santos, ex-Fur Mil da CART 2339 (Fá Mandinga e Mansambo, 1968/69)



16.º CONVÍVIO > 19 de Maio de 2007
Guiné, Fá Mandinga e Mansambo , CART 2339 (1968/69). Celebram-se este ano os 40 anos da Companhia: em 28 de Agosto de 1967, em Évora, dava-se início à Formação da CART 2339.
O Almoço-Convívio realizar-se-á, nos Carvalhos, Vila Nova de Gaia, a 19 de Maio, pelas 13.00 horas.

Antes e pelas 11.00 h todo o pessoal deve encontrar-se na Igreja da N.ª Sr.ª da Saúde – Carvalhos, que fica próxima do local do Encontro e é um local amplo.

Portanto não esqueças. INSCREVE-TE COM TEMPO e passa palavra. Contactos:
Carlos Marques dos Santos – Telm 91 921 21 13
Rua Gago Coutinho, 17A-6.ºA
3030 – 326 Coimbra

Ernesto Ribeiro – Telm 96 649 56 02
R. Sarmento Pimentel, 376
4450-790 Leça da Palmeira

Um Grande Abraço

Marques dos Santos

domingo, 13 de maio de 2007

Guiné 63/74 - P1756: Exposição de armamento apreendido ao PAIGC, aquando da visita de Américo Tomás (Bissau, 1968) (Victor Condeço)



Guiné > Bissau > Fevereiro de 1968 > Exposição de armamento apreendido ao PAIGC, por ocasião da visita do Presidente da República, Alm Américo Tomás > Anti-aéreas Degtyarev, de origem russa.


Guiné > Bissau > Fevereiro de 1968 > Exposição de armamento apreendido ao PAIGC, por ocasião da visita do Presidente da República, Alm Américo Tomás > Espingarda com alça telescópica, V 3272, calibre 7,62. Origem: URSS.


Guiné > Bissau > Fevereiro de 1968 > Exposição de armamento apreendido ao PAIGC, por ocasião da visita do Presidente da República, Alm Américo Tomás > Em primeiro plano, Metralhadora Ligeira MG 42, Borsig, calibre 7,92. Origem: Alemanha Oriental.

Guiné > Bissau > Fevereiro de 1968 > Exposição de armamento apreendido ao PAIGC, por ocasião da visita do Presidente da República, Alm Américo Tomás > Met Lig MG 42.

Guiné > Bissau > Fevereiro de 1968 > Exposição de armamento apreendido ao PAIGC, por ocasião da visita do Presidente da República, Alm Américo Tomás > A pistola-metralhadora Sudaev, PPS, m/1943 PPS, variante da famosa costureirinha. Origem: URSS.

Segundo a Wikipedia, a PPS-43 é uma variante da PPSH-41. Foi desenhada por Aleksei Sudaev e testada, com grande eficácia, na Batalha de Estalinegrado. Foi o resultado da simplificação da PPSH-41. É considerada a melhor pistola-metralhadora da Segunda Guerra Mundial.




Guiné > Bissau > Fevereiro de 1968 > Visita do Presidente da República, Alm Américo Tomás > Passagem do cortejo junto à catedral de Bissau.

Guiné > Bissau > Fevereiro de 1968 > Visita do Presidente da República, Alm Américo Tomás > Passagem do cortejo junto à Catedral de Bissau.

Fotos: © Victor Condeço (2007). Direitos reservados.

Mensagem do Victor Condeço (ex- Fur Mil Mecânico de Armamento, CCS do BART 1913, Catió 1967/69) (1). :

Meus caros, Nuno Rubim e Luís Graça:

Logo na primeira solicitação do Nuno tinha digitalizado este material com vista ao seu envio, no entanto não o cheguei a fazê-lo por não ver nele muito interesse. Perante a lamentação de que ninguém respondeu (2), resolvi enviar o que possuo e que é muito pouco, mas diz o povo que, “quem dá o que tem a mais não é obrigado”!

Devo dizer que, embora sendo do meu álbum fotográfico, estas fotos não foram tiradas por mim, mas sim pelo delegado do BART 1913, em Bissau.

Estas fotografias retratam uma exposição de armamento capturado ao PAIGC que teve lugar na Amura em Bissau, quando da visita do Presidente da República Américo Tomás em Fevereiro de 1968 à Guiné. Duas das fotos mostram momentos dessa visita junto à catedral de Bissau.

Se considerarem que as mesmas têm algum préstimo, façam o favor de lhe dar o uso que cada um de vós entender.

Um abraço para ambos.

Victor Condeço

2. Comentário de L.G.: Obrigado, Victor, em meu nome e do Nuno. Deixo ao Nuno a tarefa de fazer uma apreciação mais detalhada deste material fotográfica. Ele é que é o especialista. Arrisquei, no entanto, pôr algumas legendas nas fotos.

3. Teor do e-mail que o Nuno Rubim acaba de mandar ao Victor:

Caro Victor Condeço:

Muito obrigado pelas imagens que enviou. Bem haja, é o primeiro camarada que me responde.

São importantes no contexto da guerra colonial e sugeria-lhe que as enviasse, (cópias) ao Arquivo Histórico Militar, pois ficariam assim resguardadas para o futuro. Lá ficariam, para sempre, registadas no seu nome.

Não tenho tido problemas com o material utilizado pelo PAIGC, visto que tenho obtido todas as informações que julgo necessárias, bem como numerosas fotografias e desenhos. Curiosamente, tenho tido mais dificuldades em obter informações e fotografias de interesse sobre as as armas, viaturas, etc..., que nós utilizámos ...

Um abraço

Nuno Rubim
__________

Notas de L.G.:

(1) Vd. post de 3 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1335: Um mecânico de armamento para a nossa companhia (Victor Condeço, CCS/BART 1913, Catió)

(2) Vd. post de 12 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1753: Diorama de Guileje, 1965/67 (Muno Rubim)

Guné 63/74 - P1755: Tabanca Grande (8): Carlos Vinhal, co-editor do nosso blogue (Carlos Vinhal / David Guimarães)

1. Mensagem do nosso co-editor Carlos Vinhal, ex-Fur Mil Art Minas e Armadilhas, CART 2732, Mansabá, 1970/72):

Caros amigos e camaradas:
Para que eu tenha algum préstimo, sugiro que todos os mails relativos ao nosso Blogue sejam enviados preferencialmente para luisgracaecamaradasdaguine@gmail.com, endereço a que tenho acesso directo.

O Luís continuará a coordenar toda a correspondência para aqui enviada, podendo eu mais facilmente cumprir as orientações dele emanadas.

Qualquer assunto de ordem mais restrita poderá continuar a ser enviado para os endereços antigos do nosso comandante Luís. Estou ao vosso dispor para, por exemplo, divulgar encontros das vossas Unidades.

Um abraço do camarada
Carlos Vinhal
Leça da Palmeira

********************

2. Comentário do David Guimarães:

Ex-camarada e meu grande amigo Carlos...

Na guerra viu-se muitas vezes mobilizações mal feitas e armas mal atribuídas... Um dos meus soldados, coitado, tivemos que finalmente lhe dar uma vassoura para varrer a parada , enfim para se ir entretendo, passar a comissão e regressar para casa são e salvo. Ele não tinha vocação, nem jeito nenhum, para as armas, é verdade...

Pegámos no homem da Pesada 2 em Vila Nova de Gaia e eu e o comandante de meu pelotão (já falecido) levámo-lo, pois já era a terceira mobilização que falhava por falta de habilidade do mínimo das habilidades. E olhem, esse sim, nem sei para que o apuraram para a tropa... Fizemos a obra, não doeu a consciência e que esteja vivo na terra dele é o que desejamos...

Era um rapaz sério, era gente boa... humilde ao máximo. Mandava-se voltar à direita e todo o pelotão voltava e ele, coitado, nunca acertou, era sempre ao contrário... Quando se marchava, lá ia um só com o passo trocado: era ele...

Em tiro, no apoiado e só , tinha que estar alguém do lado a ajudá-lo... A única coisa que ele fazia bem era beber uns copos... (isto é verdade) Não sairia mais da tropa, creio e então levámo-lo e devolvêmo-lo ao seu lar... Ao menos isso... Lá, na Guiné era o homem que dormia com dois camuflados e para o banho, lá ia sempre acompanhado senão não ia, pronto...

Agora, Carlos, tu és dos mobilizados para isto que aprovo com claps claps de palmas pois tens sido um dos grandes bloguistas e ainda bem... De intervenção oportuna - mas eu sou suspeito ao gabar-te, é que gabo um atirador de minas e armadilhas.... (Ficou bonito)...

Estás muito bem mobilizado...

Um abraço, Carlos Vinhal, anotei a direcção e vamos em frente...

David
ex-furriel miliciano
Atirador Artilharia e Minas e Armadilhas
Xitole 70/72

que... andou contigo na recruta (Caldas da Rainha), na especialidade (Vendas Novas) e em minas e armadilhas (Casal do Pote, em Tancos) e só há pouco é que nos conhecemos... A vida tem destas coisas... mas por isso, e só, é que a vida é mais bela ainda... porque é dificil acreditar que tantas vezes tropeçámos um no outro...

sábado, 12 de maio de 2007

Guiné 63/74 - P1754: Convívios (5): CART 3494 (Xime e Mansambo, 1972/74), Amarante, 9 de Junho de 2007 (Sousa de Castro)


Mensagem enviada pelo nosso camarada Sousa de Castro:

XXII Convívio CART 3494 (Fantasmas do Xime)
(Guiné, Dez 1971 / Abr 1974)

9 de Junho 2007 em AMARANTE

Restaurante Grelha - Edifício TOP
Recta de Ramos - Telões - Amarante


Programa:


10,00 horas - Concentração no Parque Florestal de Amarante

11,00 horas - Visita histórica a Amarante

12,30 horas - Almoço com animação musical

Contacto: José Carlos Mendes Pinto > TLM 937 206 088 ou Telef. 255 105 270


Sousa de Castro
(ex-1º Cabo TRMS Radio ,
CART 3494 / BART 3873 ,
1972/74)
Contacto > Viana do Castelo > sousadecastro@sapo.pt

Guiné 63/74 - P1753: Diorama de Guileje, 1965/67 (Muno Rubim)

Guiné > Região de Tombali > Guileje> Diorama do aquartelamento e tabanca (1965/67)

Fonte: Nuno Rubim (2007). Direito reservados.


Nuno Rubim, ex-capitão da CCAÇ 726, Guileje, 1964/74, um dos oficiais mais condecorados da Guiné (onde fez duas comissões), hoje coronel na reforma e historiador militar. Foi também um dos capitães do MFA, da primeira hora. É membro da nossa tertúlia. Está a colaborar com a AD - Acção para o Desenvolvimento, no âmbito do Projecto Guiledje.


Foto: © Luís Graça (2006). Direitos reservados.


1. Mensagem de 18 de Abril de 2007, enviada pelo nosso camarada e amigo Nuno Rubim (1):

Caro Luís,

Se entenderes por bem publica o seguinte no blogue:

O apelo feito no post de 27 de Março (2) não obteve qualquer resposta.

Talvez os camaradas tenham entendido que pedido se referia a armamento e viaturas em Guildeje. Ora o material era o mesmo, pintado da mesma maneira, qualquer que fosse o local onde se encontrasse. Por isso renovo o meu pedido, esperando que desta feita tenha mais sorte.

Quanto ao diorama de Guileje (3) segue em bom andamento. Ainda há "pequenas arestas a limar" ... Ainda falta, por exemplo, determinar o traçado da rede de arame farpado e a disposição da iluminação exterior.

O diorama ficará implantado numa base de 2m x 2m.

Junto envio o desenho definitivo ( espero eu ... ) do aquartelamento, em 1965-67, já que durante esse período as alterações foram mínimas ( se estou enganado, agradece-se a correcção ). O desenho, já preparado para a escala 1:72, baseou-se no levantamento topográfico efectuado em 2005, por Fidel Midana Sambú, sob os auspícios da AD (Carlos Schwarz, mais conhecido por Pepito) e 4 fotografias aéreas da época, uma das quais efectuada à vertical.

Verifiquei que o levantamento oferecia alguma pequenas distorções, naturais devido à dificuldade de circulação na zona, originada pelas destruições provocadas pelo alegado bombardeamento aéreo das FAP em Maio ou Junho de 1973 (que ainda permanece
um mistério ... ) e pelo extraordinário desenvolvimento da vegetação.

Caso curioso, a maioria das localizações das cubatas é concordante! Alguns dos camaradas poderão agora comparar este desenho com o que apresentei há tempos, de memória, e chegar à mesma conclusão que eu: o tempo não perdoa e é preciso ter algum cuidado quando se lida com as recordações do passado que não foram registadas por escrito ou fotograficamente na altura ...

Estou agora a desenhar, também à escala, os edifícios, abrigos e palhotas (estas 60 !, e de 4 diâmetros diferentes !). Já estão a ser elaboradas as miniaturas de uma DO-27 e de vários tipos de viaturas então utilizadas.

Ainda preciso de consultar os meus camaradas da altura sobre a localização de portas e janelas nos diversos edifícios. As fotografias serão fundamentais.

Para além do diorama estou a estudar a feitura de um poster sobre o ataque de Maio de 1973. Prevê-se ainda a construção de kits de armamento e viaturas, quer portuguesas, quer do PAIGC, mas em várias escalas, visto que foi necessário recorrer ao que o mercado fornece. E no caso das Fox e Unimog, estas terão de ser feitas de raiz (!), pois não existem, ao meu conhecimento, kits comercializados.

Um abraço

Nuno Rubim
2. Comentário do editor do blogue:
Parabéns ao Nuno e à sua equipa (4)... Faço daqui um apelo à colaboração dos nossos camaradas que possam ter elementos de interesse documental ou museológico (nomeadamente fotografias, plantas, relatórios...) relativos a Guileje, para os fornecerem ao Nuno, ou a mim próprio. Os originais serão cedidos (ou não) a título de empréstimo. Parabéns também ao Pepito e à AD por este esforço de preservação da memória da guerra... e da paz. LG
_____


Notas de L. G.:


(1) Vd. post de 18 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1189: O tertuliano Nuno Rubim, especialista em história militar

(2) Vd. post de 27 de Março de 2007 > Gúiné 63/74 - P1628: Projecto Guiledje: fotografias de armamento e equipamento, das NT e do PAIGC, precisam-se (Nuno Rubim)

(3) Vd. post de 12 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P870: Ideias para um diorama do quartel ou quartéis de Guileje (Nuno Rubim)
(4) Vd. post de 14 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1173: A fortificação de Guileje (Nuno Rubim, Teco e Guedes, CCAÇ 726)

Guiné 63/74 - P1752: Estórias cabralianas (22): Alfa, o fula alfacinha (Jorge Cabral)

O Fado (1910 ) > A célebre pintura a óleo de José Malhoa (1855-1933). Fonte: Wikipedia: The Free Encyclopedia.


Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Bambadinca > Um fula... em traje domingueiro, diria um tuga. Difícil é imaginá-lo em Lisboa, no Bairro Alto ou em Alfama, em bairros populares de Lisboa onde nasceu o fado há 170 anos... e com ele a nata da malandragem alfacinha. (LG).

Foto: © Humberto Reis (2007). Direitos reservados.


Estória nº 22 da série Estórias Cabralianas. Autor: Jorge Cabral , ex- Alferes Miliciano de Artilharia, comandante do Pel Caç Nat 63, Fá Mandinga e Missirá, Sector L1 - Bambadinca, Zona Leste, 1969/71. Era estudante universitário, em Lisboa, quando foi convocado para a tropa. Hoje é advogado, escritor e docente universitário, na Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias, sendo o coordenador do curso de pós-graduação em Criminologia.

_________

Alfa, o Fula Alfacinha
por Jorge Cabral

No final do ano de 1970, apresentou-se em Missirá um soldado fula – chamemos-lhe Alfa – vindo da prisão de Bissau, onde cumprira pesada pena. Razão da punição – ausência ilegítima durante cento e oitenta dias, quando após intervenção cirúrgica no Hospital Militar Principal, desaparecera em Lisboa.

Impecavelmente fardado, com blusão e tudo, usava uma vistosa popa e farfalhudas patilhas, conservando sempre um palito dependurado ao canto da boca. Falava um calão lisboeta e aparentava ser um verdadeiro rufia alfacinha.

Quando aos domingos se vestia à paisana, envergava fato completo com colete, e na gravata vermelha brilhava um alfinete de ouro. Exibia duas valiosas pulseiras e até, calculem, botões de punho.

A poucos dias de vir de férias, não tive tempo de averiguar o que fizera na Capital, embora me tivesse causado algum espanto, a profissão que me indicou – cobrador comissionista.

No início de Janeiro, na véspera da minha partida, todos fizeram uma longa fila, a fim de dizerem o que queriam, que eu lhes trouxesse de Lisboa. Ciente da impossibilidade de os satisfazer, mesmo assim, apontei escrupulosamente todos os pedidos, incluindo os treze alfinetes de gravata, os dezoito pares de botões de punho, e as catorze pulseiras. O último da fila, foi o Alfa, que ao contrário dos outros, apenas solicitou que levasse quatro mangas, oferta para umas senhoras amigas de Lisboa. Tomei nota da morada, e prometi a entrega.

Quase a acabar o mês de licença é que me lembrei das mangas, que entretanto já haviam apodrecido. Corri à Baixa tentando encontrar frutos tropicais, e à falta de melhor, consegui arranjar tâmaras. No dia seguinte fui à procura das tais senhoras. A casa ficava na Rua do Mundo em pleno Bairro Alto. Bati à porta e entrei de imediato numa sala, onde sete senhoras sentadas pareciam aguardar.

Levantou-se logo uma que me informou – “Quatrocentos escudos e só ao natural!”
Percebi então, quem eram as senhoras amigas do Alfa e como ele passara aqueles seis meses.

Cobrador pois e até comissionista… Lá lhes dei notícias e as tâmaras.

Regressado, não contei a ninguém sobre a respeitável actividade do Alfa em Lisboa, mas junto dele louvei a beleza das amigas, das quais adivinhara a excelência profissional.

Anos depois, já Advogado, também eu trabalhei para as tais senhoras. Nunca tive clientes mais honestas e cumpridoras. Pagaram sempre os meus serviços. Só que às vezes não foi em dinheiro…

Jorge Cabral
________

Nota de L.G.:

(1) Vd. último post > 24 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1696: Estórias cabralianas (21): O Amoroso Bando das Quatro em Missirá (Jorge Cabral)

Guiné 63/74 - P1751: Convívios (4): CART 1690 (Geba 1967/69): Sever do Vouga, Couto de Esteves, 2 de Junho de 2007 (A. Marques Lopes)

Mensagem enviada pelo nosso camarada A. Marques Lopes , Coronel (DFA) na situação de Reforma, ex-alferes miliciano da CART 1690 (Geba,, 1967) e da CCAÇ 3 (Barro, 1968).

CART 1690 – XIV CONVÍVIO – 2 DE JUNHO DE 2007

É verdade. Já passaram 40 anos sobre a nossa partida para a Guiné. Assiste-nos pois o direito a celebrar condignamente, data tão significativa. E vamos fazê-lo, em pleno, num local já conhecido de muitos.
Ali bem perto de Sever do Vouga, em COUTO DE ESTEVES, o restaurante O Júnior espera por nós no dia 2 de Junho, a partir das 11,00 horas.

O preço será de 25 € por pessoa e as respectivas inscrições serão recepcionadas até 25 de Maio pelos ex-furriéis:

Nogueira - telef. 219 800 687 - telem. 969 031 853
Salvado - telef. 214 313 931
Silva - telef. 217 933 682 - telem. 962 764 936
Vasconcelos - telef. 229 730 562 - telem. 962 792 507

Contamos contigo e esperamos que promovas junto ao companheiro, ainda indeciso, a ideia que não poderá faltar – é sempre gratificante haver mais um e dos Nossos – a data merece um recorde de presenças.

Até lá, um forte abraço
A. Marques Lopes

sexta-feira, 11 de maio de 2007

Guiné 63/74 - P1750: Com os Gringos de Guileje... em Nhacra (Herlander Simões)

Guiné > Região de Bissau > Nhacra > CCAÇ 3477 (1971/73) > A equipa de futebol dos Gringos


Guiné > Região de Bissau > Nhacra > CCAÇ 3477 (1971/73) > O Fur Mil Herlander Simões numa patrulha nas imediações de Nhacra.

Guiné > Região de Bissau > Nhacra > CCAÇ 3477 (1971/73) > O Fur Mil Herlander Simões 'posando' para a fotografia, na margem direita do Rio Geba.


Guiné > Região de Bissau > Nhacra > CCAÇ 3477 (1971/73) > O Fur Mil Herlander Simões (o quarto da esquerda, na fila do lado esquerdo, seguido do Alf Mil Boavida) e outros camaradas na festa de aniversário do Fur Mil Mendes (no topo da mesa).

Guiné > Região de Bissau > Nhacra > CCAÇ 3477 (1971/73) > O Fur Mil Herlander Simões, sentado, aplaudindo o discurso do Alf Mil Boavida (de pé) na festa de aniversário do Fur Mil Mendes...


Guiné > Região de Bissau > Nhacra > CCAÇ 3477 (1971/73) > O Fur Mil Herlander Simões sentado no bar do quartel.

Fotos: © Herlander Simões (2007). Direitos reservados.

1. Mensagem, com data de 1 de Março de 2007, do novo membro da nossa Tabanca Grande, Herlander Simões:

Caro camarada Luís Graça:


Tomei conhecimento do teu Blogue,durante uma das minhas buscas na Net procurando notícias dos meus antigos camaradas de armas.
Sou o ex-Furriel Miliciano Herlander Simões e estive na Guiné entre Maio de 72 e Janeiro de 74.

Fui com destino à CCAÇ 16 onde nunca cheguei a ser colocado. Fui primeiro para os Duros de Nova Sintra (1) e depois para os Gringos de Guileje [, CCAÇ 3477, 1971/73], entretanto já sediados em Nhacra.
Espero através deste nosso sítio conseguir algumas notícias dos meus antigos camaradas, colocando-me desde já totalmente dísponivel para dar o meu modesto contributo a esta nobre causa.

Vou tentar enviar algumas fotos tiradas com os Gringos nas proximidades de Nhacra.

Um abraço!

Herlander Simões

_________

Nota de L.G.:

(1) Vd. post de 10 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1747: Tabanca Grande (1): Apresenta-se o ex-Fur Mil Herlander Simões, um dos Duros de Nova Sintra (1972/74)

(2) Sobre os Gringos de Guileje, a CCAÇ 3477 (1971/73):

8 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1574: Uma estória dos Gringos de Guileje (CCAÇ 3477): Estás f..., pá! (Amaro Samúdio)

18 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1293: Guileje: do chimpanzé-bébé aos abrigos à prova do 122 mm (Amaro Munhoz Samúdio, CCAÇ 3477)

10 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1162: Guileje: CCAÇ 3477, os Gringos Açorianos (Amaro Munhoz Samúdio)

Guiné 63/74 - P1749: O Nosso Livro de Visitas: Orgulho no meu pai, da CCS do BCAÇ 2852, por ter representado bem o meu país (João Atalaia, filho)


Mensagem do João Atalaia, filho, enviada ao editor do Blogue e ao Paulo Raposo (ex-Alf Mil da CCAÇ 2405, BCAÇ 2852, Mansoa, Galomaro e Dulombi, 1968/70):

Caros amigos:

Em meu nome, e em memória do meu falecido pai [vd. foto ao lado do soldado recruta João Atalaia, em 1967, mobilizado em 1968 para a Guiné como soldado condutor auto da CCS do BCAÇ 2852] (1), escrevo-lhes para vos dizer que apreciei e me emocionei bastante com as vossas palavras e que, apesar de tudo pelo que passaram, tenho muito orgulho que o meu pai conjuntamente com outros camaradas tenham representado bem o país.

Apenas vos contactei por curiosidade, após visualizar alguns documentos que meu pai me deixou, e que hoje guardo para sempre. Tenho intenção de informar os meus dois filhos (8 anos e 6 meses) de que um dia Portugal se envolveu numa guerra, e que o seu avô participou nela.

Continuarei sempre a acompanhar o blogue.

Obrigado

João Atalaia


2. Comentário do editor do blogue:

João: Registo o seu interesse em ficar connosco. Vamos criar uma secção, na lista da nossa tertúlia, só para os filhos, netos, irmãos, viúvas e outros familiares de camararadas nossos já desaparecidos. É uma forma de honrar a sua memória, através dos vivos. (LG).

_______

Nota de L.G.:

(1) Vd. post de 10 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1744: Camaradas que já nos deixaram (1): Sold condutor auto João Atalaia, CCS / BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70) (João Atalaia, filho)

Guiné 63/74 - P1748: Operação Macaréu à Vista (Beja Santos) (45): A visita do Coronel, o Grande Inquiridor

Guiné > Zona leste > Sector L1 > Bambadinca > Missirá > Pel Caç Nat 52 > 1968 > "Quando cheguei a Missirá era este o balneário existente. As sanitas começaram a ser montadas em Outubro. Formava-se bicha à entrada para tomar banho, a água era imunda e muitas vezes cheirava a petróleo (usavam-se bidões de gasóleo para ir buscar o líquido fundamental à fonte de Cancumba). Este balneário pré-histórico foi substituido em Novembro por um conjunto de 4 bidões que mais tarde, quando chegou um sistema de 6, oferecido pela engenharia de Brá, foi oferecido à população civil, para seu uso exclusivo.

Foto e legenda: © Beja Santos (2007). (Com a devida vénia ao Luís Casanova, que foi o fotógrafo, e que era furriel miliciano no Pel Caç Nat 52). Direitos reservados.

45ª Parte da série Operação Macaréu à Vista, da autoria de Beja Santos (ex-alf mil, comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70) (1). Texto enviado a 19 de Abril de 2007. Subtítulos do editor do blogue.


Caro Luís, aqui vai o episódio 45. Neste episódio descrevo a visita do inquiridor a Missirá, na sequência do meu recurso, falo em minha defesa das deploráveis condições que encontrei, por exemplo, na higiene. Faço minhas aqui as palavras do mail anterior: tens aí em teu poder o velho balneário podre e até Ieró Djaló a brincar com as crianças. (O balneário que eu encontrei nem sequer existia na Pedreira dos Húngaros!).

Fico triste de vires como o Sócrates a Pombal, entrada por saída. Confio que estejas mesmo a falar verdade, que vais aceitar a minha hospitalidade em breve. Há muita beleza natural nesta região de floresta. Para a semana, a despeito do feriado e da excitação do nosso encontro, há novo episódio. Imagina tu que estou a reler deslumbrado o Aquilino Ribeiro que li na Guiné. Mais não fosse, eu devia estar a pagar pelo regresso a esta obras primas.

Aceita um abraço do teu amigo e admirador, Mário.


A visita do Grande Inquiridor

por Beja Santos


Para nosso desespero, a época das chuvas chegou pujante, em majestade. São águas que desabam dos céus e que se infiltram pelas goteiras do mundo, desde as botas de lona até às munições nos abrigos. Trazem mosquitos, líquenes nas costas e nas regiões húmidas do corpo, vermes que se instalam nos dedos dos pés, desfazem os tijolos de adobe, inundam as picadas desorientando a nossa vigilância quanto aos perigos das minas, e quando se afastam substituídas pelo sol ardente deixam a farda com a espessura da serapilheira apodrecida e do cartão encarquilhado.

Missirá ficava no cu de Judas, a 16 Km da sede do Batalhão

À pressa, investimos todo o dinheiro da cantina em géneros enlatados, desde a barrica de pé de porco, passando pelos hortícolas em conserva, até aos cafés e massas, isto para já não falar nos tacos de arroz para a população, o problema nº1 do calvário dos abastecimentos. Para quem não sabe, Missirá dista 16 Km de Bambadinca, atravessa-se um rio caprichoso que quando vasa deixa lama até aos nossos mamilos, uma bolanha de Finete que fica intransitável ou quase, como numa expedição do tipo das minas do Rei Salomão, trazemos a comida, as munições, os artigos de higiene, tudo o que justifica a nossa existência naquele esporão em que se afunda o mato mais ermo, tudo à cabeça, nas mãos, em padiola, às costas, em tudo quanto é bolso das nossas fardas.

Estamos em meados de Maio, nunca se viu tanta azáfama em Mato de Cão, muito provavelmente algo está a mudar nos contigentes que se deslocam para todo o Leste, é um rodopio de tropa que chega e tropa que parte, djilas que trazem panos e levam coconote e mancarra, momentos há em que os canhões das LDG perscrutam a mata para acautelar os equipamentos valiosos que levam no bojo.

A qualquer hora do dia e da noite, ouvimos o latejar destas embarcações, nós deitados ou de pé na orla dos palmeirais de Chicri, procurando avistar ou ouvir qualquer sinal da presença do inimigo. Nada entendo do terror que eles pretendem instalar em Mato de Cão: não aparecem, não há sinais de emboscada, no outro dia desesperaram com uma espera e mina anticarro, ainda ensaiaram destruir um pontão, sabe-se lá se convictos que está para ser reactivado o percurso entre Porto Gole-Enxalé-Missirá. Que andam perto, andam. De manhã cedo, ao entardecer, ouvem-se tiros isolados e Cibo Indjai sentencia:
- Cá andam eles à caça da gazela ou do porco do mato. - Além disso, usam itinerários novos, que são os velhos caminhos de quem não suspeitávamos há muito, e vêm-se abastecer aos Nhabijões e a Mero. Iremos assustá-los brutalmente na noite escura de 27 de Maio.


O longo braço do poder: apresenta-se o Senhor Coronel Inquiridor

A mensagem intrigante da vinda de uma ilustre patente acaba de chegar: "Esteja nesse amanhã para receber inquiridor justiça militar". Parto para Mato de Cão não sem primeiro dar indicações sobre as últimas obras essenciais ao Casanova e ao Pires, recordando-lhes a questão dos arrumos, mesmo na área da tabanca civil.

O Casanova está a deprimir e eu não dou por isso. É ele quem presentemente acompanha as emboscadas nocturnas (uma nova exigência de Bafatá), conto com o Pires sobretudo para a intendência e o acompanhamento das obras em Finete. É uma depressão insidiosa, o Casanova está ensimesmado, monossilábico e agreste. A tempestade irá eclodir em Agosto. Regresso ao amanhecer a Missirá, trago toda a chuvada no corpo, misturada de orvalho, lama abundante, mas venho preparado para essa justiça militar cujo fim desconheço.

A entidade de Bissau anuncia-se depois das 10h da manhã pelo zumbido do helicóptero que começa a fazer helicóides e pousa mansinho no amplo terreiro em frente à porta de armas, ainda mais amplo depois da desbastação dos cajueiros que pertenciam ao régulo Malã Soncó. Estou banhado e de farda lavada, com a agravante de ter dormido duas horas de sono ferrado.

O ilustre visitante traz galões de Coronel, é alto, esconde a calvície puxando todos o cabelo disponível na testa, tem aperto de mão enérgico, anuncia-me que vem a mando de Sua Excelência o Comandante Militar ouvir-me no recurso pela minha punição. Exige um espaço reservado para me ouvir, mas como eu sou acusado de não cuidar da higiene e limpeza, nem mesmo das regras de segurança, exige começar a visita do interior do aquartelamento para as fileiras de arame farpado. Percorre demoradamente as tarefas da população civil e vê as mulheres e as crianças a preparar o chabéu, vê o esmagar dos caroços transformados em óleo de palma, o preparar do bajiquiti (couves), do jacatu (beringela), faz perguntas sobre o milho, os mangos, o tempo das fainas .

Dou-lhe as explicações que sei, recordo que esta população depende da autoridade civil, com quem o entendimento é excelente. Quer saber o que foi feito dos grandes problemas de higiene de que fui acusado. Levo-o até ao balneário com 6 bidões, onde agora é possível tomar banho a qualquer hora do dia e digo-lhe:
- Meu Coronel, tenho ali uma fotografia para ver o escombro do velho chuveiro. Quando cheguei aqui não havia uma sanita, um mictório, era tudo em contacto com a Natureza. Vou mostrar-lhe o que entretanto se fez e pode ser observado pelos oficiais generais.

Fala-me depois da segurança e percorremos os abrigos, as valas e os taludes com bidões que garantem alguma segurança em caso de flagelação. Sinto uma moínha na cabeça, que eu sei que vem da alma, uma vergonha inenarrável de ter que me justificar do que fiz e não fiz. É um novelo espesso de raiva que procuro controlar agarrando-me ao autodomínio que não sei de onde parte nem para onde vai. O Coronel inquiridor viu o arame farpado, subiu às vigias onde se fazem os reforços, onde há sentinelas dia e noite, já foi à cantina, ouviu a ladainha do professor que discursa para as crianças, pede água engarrafada e exige ouvir-me num local fechado.


O fantasma de Kafka (2)

Começa a segunda fase da inquirição: sou identificado (aqui sinto a presença do Kafka, como se eu pudesse ter um agente duplo em Missirá), é lida a punição, o teor do meu recurso e a sua desconsideração pelo Coronel de Bafatá. Ouvido sobre a matéria, volto a defender-me: há cascas de batata em frente à messe porque todos estiveram a trabalhar até meia hora antes de eu determinar os preparativos do almoço; justifiquei os cartuchos que Sua Excelência, o Comandante Chefe encontrou no local donde partimos a qualquer hora do dia ou da noite e onde há sempre a ordem culatra à retaguarda!, o que não inibindo as nossas responsabilidades na sua recolha abona da prudência que usamos para evitar acidentes mortais; justifico as obras no arame farpado, nos abrigos, na preparação dos soldados e num dado momento não resisto a perguntar se há algum destacamento com o escasso contigente deste onde diariamente há um patrulhamento de 25 Km, uma emboscada nocturna e pequenas operações semanais, tão pequenas que têm contacto com o inimigo que é emboscado e nos trata com respeito.

Mas rapidamente volto ao essencial da matéria que é uma defesa argumentada com o conhecimento que os meus superiores de Bambadinca têm de tudo o que está a ser feito desde Agosto de 68 até passados estes 10 meses que levo de comissão ininterrupta neste ermitério. Caminha-se para a 1 da tarde e convido o meu inquiridor a almoçar connosco.

Agradece, mas vai partir para Bafatá, nunca mais saberei nada dele a não ser quando em Agosto assinar a nota de punição em que o meu recurso só parcialmente foi contemplado: continuo a ter dois dias de prisão simples por não ter dedicado o máximo do meu interesse às deficientes condições de defesa e limpeza de Missirá. Por pura coincidência, presumo, nessa mesma data o Coronel Felgas (3) presenteia-me com louvor, exaltando a mentalidade ofensiva que imprimi às tropas que comando, refere o meu destemor, a despeito das múltiplas dificuldades e carências no meio hostil que me envolve. E por pura coincidência, presumo, Sua Excelência o Comandante Militar considera dado por si este louvor.

A tragicomédia não me amesquinhou e trouxe-me um rico ensinamento: não basta fazer com denodo, tem que se aparentar, tem que se dar uma imagem de encenação e retórica, sobretudo para esconder o importante do que não se faz. Ora, no Cuor, e com tropa africana, duas coisas podem acontecer: ou fazemos e estamos de bem com a consciência e somos respeitados pelos nossos soldados e pelas populações, ou fingimos que fazemos e somos desprezados. Oiço às vezes o Queta referir-se a tantos oficiais e sargentos com quem ele conviveu na Guiné, falando deles como uns incapazes que contribuíram para levantar o ânimo do próprio inimigo. Não interessa fazer moralidade, não ajuízo ninguém, o que sempre me orientou foi ouvir a minha respiração no espelho da consciência. Aquela punição foi injusta, deixou-me a sangrar, tudo passou.

Voltámos à Aldeia do Cuor, porque houve notícia de que um grupo de homens andava a roubar vacas em Bissaque, junto a Mero, o que quer que tenha acontecido não houve sinais em terras do Cuor. Por essas noites ouvimos foguear em Amedalai, Demba Taco e Moricanhe, um dilúvio de sofrimento nessas populações civis suportadas por milícias. Para quem não sabe, os nossos relatórios não referem as crianças carbonizadas nessas flagelações.

Faz um ano que Finete foi alvo de um feroz ataque onde Braima Mané ficou estropiado, e eu temo novos castigos, acelero a preparação dos milícias com auxílio de Bacari Soncó, todas as munições disponíveis vão para Finete.

Confirma-se que terei que ir a Bissau depor no julgamento de Ieró Djaló, o nosso milícia que deixou fugir o prisioneiro de Quebá Jilã. Medito nesta contingência: Ieró é uma jóia de rapaz, mas tem um parafuso a menos. De vez em quando, pela surda, pega na G3 e vai visitar familiares a Finete e a Bambadinca. Quando me enfureço com ele, graças a uma gaguez muito especial, o rosto contrai-se como se quisesse ficar reduzido e depois explode as sílabas sacudidas. Numa rixa com Mamasaliu, enfiou-lhe um murro que o deixou inconsciente. É um gigantão que brinca com as crianças, eu não sei bem o que devo depor a seu favor, tenho que falar com juristas em Bambadinca.

O Furriel Pires veio-me mostrar cheio de orgulho o armazém recauchutado onde se guardam as nossas alfaias da reconstrução de Missirá: motoserra, catanas, machados, enxós, tesouras, por aí adiante. Está pronto o espaldão para o morteiro 81, mais largo e que permite acondicionar um maior número de granadas. Estou completamente exausto mas vivo um momento feliz com a Missirá renascida.


Palmeiras Bravas: A (re)descoberta de Faulkner em Missirá

Acaba de chegar correio. Dois concertos para piano de Mozart, os nr. 17 e 21, vêm trazer bonomia à minha existência e escuto-os na interpretação grandiosa de Géza Anda e da Camerata Académica do Mozarteum de Salzburgo. Para quem pensa que em Bafatá não é possível adquirir cultura, esclareço que comprei Monteverdi e Strauss. E fiz leituras de arromba, como passo a descrever. Primeiro Palmeiras Bravas, uma obra prima de William Faulkner. O seu tradutor, Jorge de Sena, considera este romance "um dos mais belos e audaciosos romances de amor que jamais se escreveram".

É a segunda vez que mergulho no estilo do Faulkner, gongórico, excessivo, por vezes delirante. Ele fala de Nova Orleans, dos escravos, da agricultura do Mississipi, do fim de uma aristocracia rural feita de elegâncias cavalheirescas que odeiam o pragmatismo dessa gente do Norte, que só pensa no dinheiro e no consumo. O amor de Charlotte Rittenmeyer e de Henry Wilbourne tem um nível e uma tragédia como a de Tristão e Isolda ou Romeu e Julieta. Charlotte abandona o casamento e os filhos com o médico recém formado, Henry e vão viver um amor intenso, numa atmosfera de penúria e sensualidade. Arrastam-se em fuga por metade dos Estados Unidos, galvanizados pela força do seu amor. Charlotte morre num aborto mal sucedido e Henry aceita as penas da prisão, desprezando a oportunidade de suicídio por cianeto que lhe oferece o marido de Charlotte, exigindo que a memória da mulher amada permaneça imbuída na dor mais completa.

Capa do romance Palmeiras Bravas, de Wiliam Faulkner. Lisboa: Portugal Editora. s/d. (Colecção Livro de Bolso, 19/20): Tradução, prefácio e notas de Jorge de Sena. Capa de João da Câmara Leme. (Ed. original, The Wild Palms, 1939). William Faulkner (1987-1962), é um dos grandes nomes da literatura norte-americano e mundial do Séc. XX. Foi Prémio Nobel da Literatura em 1947. (LG).

Fopto: Luís Graça & Camaradas da Guiné (2007).


Mas é o fascínio do discurso narrativo que me prende do princípio ao fim. O médico, colega de Henry, que abre o romance quando é procurado quando Charlotte entra no seu calvário de sofrimento. A apresentação de Henry a Charlotte, e o conhecimento que ficamos a ter dos seus respectivos caracteres e de um casamento reduzido à podridão e meras conveniências; a fuga dos amorosos para Chicago, os trabalhos desqualificados, uma errância que em todas as linhas ainda nos recorda a crise de 1929; as condições de trabalho abomináveis numa mina que tanto pode estar no Árctico como noutro qualquer fim do mundo. A visita de Charlotte aos filhos e a intensidade do reencontro com o marido; a gravidez e o desejo do aborto; a retoma do discurso com o médico com que inicialmente abre o romance; os diálogos pungentes entre Charlotte e Henry; a deliberada entrega de Henry à Justiça, como se aquela sentença constituísse a única saída para a redenção.

Acaba de nascer a minha admiração pela obra de Faulkner. Correndo o risco de ser tomado como um cabotino, quero dar conta do prazer com que leio Mickey Spillane. Spillane é um produto acabado do macartismo, do negrume da Guerra Fria, um apóstolo declarado do antigo comunismo. Inventou vários cavaleiros andantes, com destaque para o detective Mike Hammer, um justiceiro que persegue mafiosos com a mesma senha com que abate os inimigos da América.

Capa do romance policial A Vingança é Minha, de Mickey Spillane (1918-2006). Lisboa: Livros do Brasil, s/d. (Colecção Vampiro, 143). Capa de Lima de Freitas.

Foto: Luís Graça & Camaradas da Guiné (2007).

Dotado de um poder narrativo ímpar, escreve policiais misturando a série negra com a saga aventureira e a moral da justiça própria. Parece óbvio , mas o seu discurso é poderoso e avassalador. Oiçamo-lo logo no início deste livro que acabo de ler A Vingança é Minha: "O tipo estava absolutamente morto. Jazia no soalho, com o pijama vestido, os miolos todos espalhados por cima da carpete e a minha pistola na mão. Continuei a esfregar a cara para afastar a névoa que envolvia a mente mas os chuis não me deixaram. Um deles afastava-me a mão e gritava-me uma pergunta que ainda fazia doer-me mais a cabeça e outro dava-me na cara com um pano molhado até eu sentir que estava completamente desfeito".

Mike Hammer, como se compreende, vai desvendar a teia do crime, vai descobrir quem matou o amigo através de um vendaval de tiros, cadáveres no asfalto, estranhas beldades em agências de modelos entregues a negócios pouco claros. Pelo meio, Velda, a secretária virgem de Mike, vai ajudando à festa, sempre à espera de se entregar nos braços do seu belo justiceiro. Há quem chame esta literatura entretenimento, considero a apreciação muito discutível quando se escreve com esta mestria, este desafogo, este caudal de imagens incendiadas, às vezes a roçar o lirismo puro. Felizmente, ainda lerei muito Mickey Spillane até ao fim da comissão e ainda depois.

Prestem atenção ao que se vai seguir. Não vou conseguir iludir mais a exaustão, desmaio e o David Payne vai animar-me, obrigar-me a ter juízo. Vou emboscar, e com resultados. E a seguir, no fim do mês, Bambadinca vai ser sujeita a uma duríssima prova de fogo e vários oficiais serão castigados. A guerra mudou de rumo , um PAIGC moralizado mostra que a Operação Lança Afiada não teve quaisquer consequências, quem vai ficar encurralado somos nós. A partir de agora, nem as autodefesas concebidas por Spínola vão conseguir levar por adiante o desejo de "uma Guiné melhor" onde nós, a tropa branca e africana, aparece como o grande vigilante da paz.

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Notas de L.G.:

(1) Vd. post de 4 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1730: Operação Macaréu à Vista (Beja Santos) (44): Uma temerária e clandestina ida a Bucol

(2) Vd. post de 6 de Setembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1050: Operação Macaréu à Vista (Beja Santos) (7): O espectro de Kafka nas guerras do Cuor

(3) Rerências ao coronel Hélio Felgas e à punição ao Alf Beja Santos: Vd. posts de

13 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1365: Operação Macaréu à Vista (24): Discutindo os destinos do Cuor com o Coronel Hélio Felgas

25 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1461: Operação Macaréu à Vista (Beja Santos) (30): Spínola, o Homem Grande de Bissau, em Missirá

8 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1504: Operação Macaréu à Vista (Beja Santos) (32): Aruma Sambu, o prisioneiro de Quebá Jilã

16 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1531: Operação Macaréu à Vista (Beja Santos) (33): O Sintex: A Marinha Mercante chega até Missirá

23 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1542: Operação Macaréu à Vista (Beja Santos) (34): Uma desastrada e desastrosa operação a Madina/Belel

quinta-feira, 10 de maio de 2007

Guiné 63/74 - P1747: Tabanca Grande (8): Herlânder Simões, ex-Fur Mil, um dos Duros de Nova Sintra (1972/74)


Guiné > Região de Bolama > Nova Sintra > 1972 > Entrada do quartel dos Duros de Nova Sintra.



Guiné > Região de Bolama > Nova Sintra > Crachás das unidades que por ali passaram.



Guiné > Região de Bolama > Nova Sintra > Chegada dos piras...



Guiné > Região de Bolama > Nova Sintrra > Apresentação de boas vindas aos periquitos...


Guiné > Região de Bolama > Nova Sintra > Largada de frescos e correio, de paraquedas...


Fotos: © Herlander Simões (200). Direitos reservados.


1. Mensagem de Herlander Simões:

Assunto - Apresentação de um Ex-Combatente

Caro camarada Luís Graça:

Tomei conhecimento do teu Blogue,durante uma das minhas buscas na Net, procurando notícias dos meus antigos camaradas de armas.

Sou o ex-Furriel Miliciano Herlânder Simões e estive na Guiné entre Maio de 1972 e Janeiro de 1974.

Fui com destino à CCAÇ 16 onde nunca cheguei a ser colocado. Fuí primeiro para os Duros de Nova Sintra e depois para os Gringos de Guileje [CCAÇ 3477], entretanto já sediados em Nhacra.

Espero, através deste nosso sítio, conseguir algumas notícias dos meus antigos camaradas, colocando-me desde já totalmente dísponivel para dar o meu modesto contríbuto a esta nobre causa.

Vou tentar enviar algumas fotos tiradas com os Gringos nas proximidades de Nhacra.

Um abraço!

Herlânder Simões

PS - Já em Janeiro te tinha mandado um mail mas pelos vistos devo ter-me enganado na direcção e o mesmo deve-se ter extraviado.


2. Comentário do editor do blogue:

Camarada:

Obrigado pela documentação me mandaste. Oportunamente serão publicadas as tuas fotos sobre Nhacra, quando estiveste com os Gringos de Guileje. Já agora, vê se podes identificar a companhia onde estiveste, os Duros de Nova Sintra. Que sejas bem-vindo à nossa caserna virtual. Aparece. Um abraço.

Camaradas & amigos: De futuro, os novos camaradas (ex-combatentes do lado português) e amigos (por ex., filhos de camaradas nossos, jovens portugueses e guineenses que se interessam pela história da guerra colonial, antigos combatentes do PAIGC) entram directamente para a tabanca grande, que sempre é mais democrática que a tertúlia e mais arejada que a caserna... Sentamos-nos debaixo de um centenário poilão, fazemos as nossas apresentações e contamos as nossas estórias. As regras de convívio continuam a ser as mesmas.
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Nota de L.G.

(1) Vd. post de 10 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1162: Guileje: CCAÇ 3477, os Gringos Açorianos (Amaro Munhoz Samúdio)