quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Guiné 63/74 - P5429: Parabéns a você (49): Armandino Alves, ex-1.º Cabo Auxiliar de Enfermagem, da CCAÇ 1589, Guiné, 1966/68 (Editores)

1. O nosso camarada Armandino Alves*, ex-1.º Cabo Auxiliar de Enfermagem da CCAÇ 1589, Beli, Fá Mandinga e Madina do Boé, 1966/68, que teve a mais nobre especilalidade na guerra, completa mais um ano de vida.
Com a mesma consideração que temos pelos camaradas em geral, mais o reconhecimento do serviço prestado por ele enquanto homem do Serviço de Saúde, vimos-lhe dar um enorme abraço multiplicado por quase 390 vezes.


O Armandino não implantou minas nem andou aos tiros ao IN, pelo contrário, era capaz de socorrer qualquer combatente inimigo ferido. Eram estas acções que faziam a diferença entre os que matavam para não serem mortos e aqueles que salvavam no campo de batalha sem olhar à cor da farda.

A Tabanca em peso vem deste modo até ti desejar um dia de aniversário alegre, junto daqueles que mais prezas, familiares e amigos mais chegados. Na hora do brinde não esqueças estas centenas de amigos que se associam a ti neste dia.


2. Armandino Alves, em 30 de Maio deste anos dirigia-se assim ao nosso Blogue:

Camarada Luis Graça
Gostava de fazer parte da Grande Tabanca, mas não tenho possibilidades de enviar fotos do tempo de tropa pois como tive um grande incêndio na casa onde morava, todas as fotos desse tempo, incluindo a Caderneta Militar, se foram.

Por isso não consigo fotos antigas.
Como participar?

Armandino Marcílio Vilas Alves
Ex-1.º Cabo Auxiliar de Enfermagem
CCAÇ 1589
Guiné 1966/68



Claro que todas as resposta foram dadas com o tempo, e o Armandino, mesmo sem fotos antigas, tem participado activamente no nosso Blogue.
Não prometo que a listagem esteja completa pois o Blogue está a ficar muito complicado para pesquisar o histórico.
__________

Notas de CV:

(*) Vd. postes de:

5 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4464: Tabanca Grande (149): Armandino Alves, ex-1.º Cabo Aux de Enfermeiro da CCAÇ 1589, Guiné 1966/68

11 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4510: Memória dos lugares (31): Fá Mandinga, CCAÇ. 1589 (1966/68) (Armandino Alves)

14 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4518: Controvérsias (19): Sob a evacuação das NT de Madina do Boé (Armandino Alves)

15 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4533: Controvérsias (20): A minha análise pessoal do desastre com a jangada no Cheche, na retirada de Madina do Boé (Armandino Alves)

16 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4536: Memória dos lugares (31): Béli, CCAÇ. 1589 (1966/68) (Armandino Alves)

2 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4626: Estórias avulsas (37): Quando um cabo da PM me deu ordem de prisão, em Bissau (Armandino ALves)

6 de Setembro de 2009 > Guiné 63/74 - P4910: Os Nossos Médicos (3): Os especialistas eram poucos, e não gostavam de ir para... o mato (Armandino Alves, CCAÇ 1589, 1966/68)

7 de Setembro de 2009 > Guiné 63/74 - P4914: Os Nossos Enfermeiros (2): As malditas doenças venéreas e a bendita... penicilina (Armandino Alves, CCAÇ 1589, 1966/68)

9 de Setembro de 2009 > Guiné 63/74 - P4927: Os Nossos Enfermeiros (3): Às vezes até fazíamos o que não sabíamos (Armandino Alves)

17 de Outubro de 2009 > Guiné 63/74 - P5118: Memória dos lugares (48): Béli, Fá Mandinga e Madina do Boé - Independência & Objectos voadores (Armandino Alves)

22 de Novembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5323: Estórias avulsas (61): Reencontro de irmãos (Armandino Alves)

28 de Novembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5360: Estórias avulsas (62): “O trinta putas” (Armandino Alves)
e
6 de Dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5413: Os nossos camaradas guineenses (18): A morte do Aliu Sanda Candé (Armandino Alves)

Vd. último poste da série de 8 de Dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5421: Parabéns a você (48): Jorge Teixeira (Portojo), ex-Fur Mil do Pel Canhões S/R 2054 (Editores)

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Guiné 63/74 - P5428: O meu Natal no mato (24): Boas Festas e Prósporo Ano Novo... (José Nunes, BENG 447, 1968/70)


Guiné > Bissau > Brá > BENG 447 (1968/70) > o ex-1º Cabo José Nunes, o "homem que dava a luz"...

Foto: José Nunes (2009). Direitos reservados



1. Mensagem do José Nunes:

Camaradas encontrei este Postal de Natal, velho mas actual, pois sempre desejamos um Bom e Santo Natal, aos que nos são próximos.

Com erros e tudo, o compositor do mesmo foi um Camarada, que nos tempos livres fazia uns trocos a revelar as fotos do pessoal.

BOM NATAL.ANO NOVO CHEIO DE VENTURAS.

2. Mensagem de 7 de Setembro último:

Camaradas vamos lá ver se desta é de vez envio novas fotos.

Fui incorpurado em Abril de 1967 depoi de ter feito psicotécnicos no CICA em Elvas. Por interesses estratégicos chumbei.


Fui depois desterrado para fazer recruta em Beja, no Regimento de Infantaria. Agora todos os psicotécnicos eram para valer. Na entrevista e teste dei o máximo. Na entrevista perguntaram-me pra onde gostava de ir ? Escola Militar Electromecânica, disse eu!

Fiz recruta e aguardei, e lá fui para Paço d'Arcos, foi só reciclar e fazer boas provas de aptidão profissional. Concluído o Curso, fui indicado para Monitor de Oficina de Instalações, mas a mobilização aí estava. Do meu Curso só o Madeirense e o Açoriano não foram parar à Guiné.

Fui Transferido do B. Telegrafistas e daí para a Engenharia 1,e enviado para a Guiné em 15 de Janeiro de 1968. Estive lá té 15 de Janeiro de 1970.

Eis a minha apresentação sumária .

Saudações Cordiais, de amizade e consideração.

José Nunes
________________

Nota de L.G.:


(**) Vd. último poste desta série:



(...) Estava muito absorto a pensar quem é que raio lançava foguetes na noite de Natal, coisa que não era da tradição, quando o abanaram violentamente e lhe gritaram:
- Alferes, para a vala, para a vala! Estamos a embrulhar!

Correu, saltou para a vala, e pouco depois deu uma gargalhada. Olharam todos para ele com aquele ar de: "Agora é que o gajo se passou de vez”!!!

Então ele disse com um ar gozão:
- Então, vocês não vêm que os gajos estão enganados! Na noite de Natal já estão os presentes todos embrulhados! Não é noite de se embrulhar! (...)

Guiné 63/74 - P5427: Os nossos camaradas guineenses (23): Temos uma dívida de gratidão para com homens como o Braima Djaura (José Manuel Pechorro, CCAÇ 19, Guidaje, 1971/73)


Guiné > Região do Cacheu > Guidaje > Maio de 1973 > Cadáveres de soldados africanos da CCAÇ 19, abandonados no campo de batalha. Foto de Amílcar Mendes, ex-1º Cabo Comando. A 38ª Companhia de Comandos participou na batalha de Guidaje. O Amílcar tomou notas, no seu diário (já qui publicado), desses longos dias de inferno, em Maio de 1973.


Foto: © Amilcar Mendes (2006). Direitos reservados.




1. Mensagem de José Manuel Pechorro, membro da nossa Tabanca Grande, ex- 1.º Cabo Op Cripto da CCAÇ 19, Guidaje, 1971/73 (*)

Olá, Luís Graça,


Boa noite,

Acabo de ler as P5418 e 5419 (Braima Djaura, Sold Cond CCaç 19, Guidaje, 1972/74), UM SOBREVIVENTE (**).

O Djaura é um ex-soldado , entre outros, que se encontra em dificuldade. Soube-o recentemente. E, segundo afirmação sua, está doente há oito anos!

Venho aqui agradecer a postagem das suas mensagens e o modo como o Luís Graça o tem acarinhado.

O Braima, da Internet percebe mais do que eu, daí solicitar a inclusão na P5419, do seguinte comentário, se for possível:

Olá Braima Djaura, boa noite,


Foi com muito prazer que vi e li as postagens hoje.


Escreve e fala sobre a tua experiência e vivência na CCaç. 19, Guidaje e Guiné.


Escrever faz bem ao teu espírito e enriquecerá e ajudará quem ler...


Parabéns pela tua coragem!


Um abraço, do camarada,


José Manuel Simoa Pechorro

1º Cabo Op Cripto

CCaç 19 - Guidaje - Guiné

Luís Graça, cumprimentos e um abraço a todos,
desde já agradecido,
José Manuel Simoa Pechorro

[ Revisão / fixação de texto / título: L.G.]

2. Comentário de L.G.:

Em boa hora, pediste o teu ingresso na Tabanca Grande, depois de andares a "espiar" o nosso blogue durante um ano... Apreciei as palavras, solidárias, que dirigiste aos teus antigos camaradas da CCAÇ 19 (sobre a qual, de resto, sabemos pouco: composição, história, actividade operacional, número de baixas, etc.. Sabemos alguma coisa do cerco a Guidaje e da tentativa de romper o cerco por diversas forças que partiram de Farim, como por exemplo a 38ª CCmds do nosso camarada Amilcar Mendes) (***).

Disseste tu sobre os teus camaradas guineenses:

"Escolheram estar do nosso lado, confiando em Portugal e suas promessas. Foram abandonados! Não foi só pelo dinheiro (soldo), como alguém mencionou, referindo-se aos soldados da CCaç 19.

"À noite, o calor no colchão, e enquanto o sono não vinha, eu ia ao pé das sentinelas, onde, conversando, me diziam estar no exército português por uma Guiné Melhor. Se o PAIGCV vencesse, o futuro seria muito mau! Tinham razão. Os povos simples da Guiné mereciam melhor sorte"...

Vens agora saudar a presença, entre nós, do Braima Djaura que, como muitos outros camaradas guineenses, está só e doente. Todos nós, que tivemos camaradas guineenses nas nossas fileiras (tu, na CCAÇ 19, eu CCAÇ 12, e por aí fora), sentimos um murro no estômago quando nos chegam notícias tristes como estas, do Braima Djaura, do Malan Baldé, do Amadu Djaló e de tantos outros abandonados à sua sorte... Que podemos fazer ? ... Para já, denunciemos estes casos, sensibilizemos os nossos amigos e camaradas da Guiné, influenciemos a opinião píblica dos nossos dois países, pressionemos as respectivas autoridades. Estes homens não podem morrer sozinhos, como cães. Vê se sabes mais notícias do Braima. Obrigado, José. Um Alfa Bravo. Luís
_____________

Notas de L.G.:

(*) Vd. postes de:

19 de Novembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5300: O assédio do IN a Guidaje (de Abril a 9 de Maio de 1973) - I Parte (José Manuel Pechorrro)

21 de Novembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5310: O assédio do IN a Guidaje (de Abril a 9 de Maio de 1973) - II Parte (José Manuel Pechorrro)

1 de Outubro de 2009 > Guiné 63/74 - P5039: Tabanca Grande (176): José Manuel Pechorro, ex-1.º Cabo Op Cripto da CCAÇ 19, Guidaje (1971/73)

(**) Vd. postes de:

7 de Dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5419: Os Nossos Camaradas Guineenses (22): Muitos se salvaram pela solidariedade que existia entre todos, brancos e pretos (Braima Djaura, Sold Cond CCaç 19, Guidaje, 1972/74)

7 de Dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5418: Tabanca Grande (194): Braima Djaura, Sold Cond Auto, CCAÇ 19, Guidaje, 1972/74, um sobrevivente

(***) Vd. poste de 27 de Setembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1123: Um espectáculo macabro na bolanha de Cufeu, em 1973 (A. Mendes, 38ª Companhia de Comandos)

(...) lembraste amigo luis kuando aki a 1 ano levantei essa kestao? entao algumas vozes se levantaram kritikando me.Pois e amigo Luis eu estive por dentro desses akontecimentos. No ano de 1973 na pikada de Binta para Guidaje kuando dois grupos de combate da 38 de Comandos tentavam desesperadamente passar a bolanha do Cufeu para chegar a Guidaje depararamse kom o makabro cenario de mais de uma dezena de corpos a ser festim para os abutres.JA ALI ESTAVAM a dias e ali iriam fikar.sabes ate kuando amigo Luis?

Um condutor de um unimog ke ia konosco foi vitima de uma mina nessa pikada tendo morrido.Foi o corpo dele transportado na minha viatura ate guidaje e ali ficou.Desceu a terra pelas maos dos camaradas.porke nesse tempo (maio73) as evakuaçoes eram impossiveis em guidaje e kem la esteve sabe porke.Nos proprios tinhamos um kamerada sem perna ke na enfermaria(?) lutavava kontra a gangrena.

Amigo luis foram tempos dramatikos ke eu ainda hoje luto para nao me lembrar mas ke nunka vou eskecer.tenho tudo dukomentado.tou a tua e so tua disposiçao se kiseres saber algo mais.envio um grande abraço para todos os camaradas de guerra.mesmo para akeles ke kom menos rigor vao relatando as suas(?) experiencias de guerra.

A. Mendes (Um Comando na Guine)

Komentario de luis graca

Mendes: Estas registado na nossa tertulia mas kontinuo a espera das tuas duas prometidas fotos. fiko tambem a tua disposicao.escreve ke te faz bem. (...)

Guiné 63/74 - P5426: O mundo é pequeno e a nossa Tabanca... é grande (19): Que emoção ouvir alguém que não se vê há 40 anos (Jorge Teixeira/Portojo)

1. Mensagem de Jorge Teixeira (Portojo)*, ex-Fur Mil do Pelotão de Canhões S/R 2054, Catió, 1968/70, com data de 6 de Dezembro de 2009:


Caros amigos
Gostava que fosse publicado este texto no nosso blogue na rubrica que melhor entenderem



Quanta emoção ao ouvir o camarada Tuuobias que não vejo há 40 anos

Há dias senti que o Luís, e provavelmente por arrasto os seus editores, estavam desanimados por causa das polémicas que aqui levantamos. E com vontade de desistir.

Escrevi dizendo que nem pensassem nisso. Este blogue é a nossa casa. Por muita asneira que digamos, por muitos distúrbios que causemos, aqui vimos parar sempre.

Por ele (blogue) e através dele, pude dizer coisas que estavam guardadas cá dentro há anos. Lembrei coisas esquecidas. Encontrei camaradas que nunca vi mas com quem convivo. Fui encontrar camaradas antigos, até de outras guerras.

Mas hoje estou particularmente emocionado.

Por causa de uma polémica aqui discutida no blogue, (já nem sei qual) o camarada José Câmara, que está nos States, entrou em contacto comigo. Email para cá, email para lá, troca de numeros telefónicos e etc., ele conseguiu descobrir um dos meus açorianos também lá nos States. E hoje falei com ele.

A emoção de ouvir o Tuuobias ao fim de 40 anos, tratando-me por meu sargento. Eu sabia que ele diria isso. E que eu lhe diria, olá Tuuuobias. (Só fui sargento, sem o saber, quando recebi os retroactivos passados seis meses depois da disponibilidade, mas isso para o caso não interessa).

O que interessa, é que depois de ter contactado tanta gente, (RI15, Serviços de Pessoal militares e outros para onde me empurraram, presidentes de Juntas de Freguesia, amizades da net, etc.) ninguém conseguiu o que este espaço fez: fazer-me encontrar (para já foi o primeiro) alguém que procuro há tantos anos.

Por isso Luís, caros Vinhal e M.R. mantenham vivo este espaço. Foi mais uma alegria que senti e vocês foram os culpados. Nunca desanimem. A rapaziada é chata. Mas é a nossa natureza. Quando deixarmos de ser chatos é mau sinal. Nunca mais nos encontraremos.

Um abraço para a Tabanca Grande


2. Comentário de CV:

Face ao primeiro parágrafo do nosso caro Jorge Portojo, tenho que esclarecer umas coisas, a saber:

- Não vejo no Luís pessoa para fugir ao que quer que seja e muito menos capaz de abandonar um projecto, como o nosso Blogue, que ele criou e que tomou as proporções que toda a gente reconhece. Ele é o Blogue. Ele é o aglutinador da tertúlia.

- Quanto a mim, não desisto assim com duas tretas. O vínculo que assumi com o Luís é muito forte. Neste momente nada me faria abandoná-lo, deixando a equipa desfalcada, dando ainda por cima parte de fraco perante a mínima contariedade. Foi ele que me convidou a fazer parte da equipa, só ele me poderá fazer sair.

- Pelo camarada Magalhães Ribeiro não posso falar, mas quero reconhecer-lhe publicamente uma capacidade de trabalho e uma cooperação muito relevantes dentro da equipa editorial.

- Fiquem portanto descansados os camaradas que têm aqui uma equipa coesa que não desmoraliza por dá cá aquela palha.
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 8 de Dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5421: Parabéns a você (48): Jorge Teixeira (Portojo), ex-Fur Mil do Pel Canhões S/R 2054

Vd. último poste da série de 9 de Outubro de 2009 > Guiné 63/74 - P5084: O mundo é pequeno e o nosso blogue... é grande (18): João Augusto Silva é meu tio (Pepito)

Guiné 63/74 - P5425: Notas de leitura (42): Reportagem, Uma Antologia, de José Vegar (Beja Santos)

1. Mensagem de Mário Beja Santos* (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 2 de Dezemmbro de 2009:

Malta,
Este comandante Hussi é uma ternura, a guerra e a brutalidade têm destas coisas. Bom seria que todos nós vasculhássemos bem estas reportagens para as fixar no nosso blogue.
Um abraço do
Mário



A Guiné num livro de ouro sobre a reportagem
Beja Santos

Reportagem, uma antologia (por José Vegar, Assírio & Alvim, 2001) é um livro precioso para quem gosta deste género jornalístico. José Vegar é um conhecido jornalista com importantes trabalhos publicados em revistas como Sábado e Grande Reportagem e jornais como Semanário e Expresso. Começou preparar um arquivo pessoal onde guardou aquelas que ele considera as melhores reportagens. Entendeu publicar 20 dessas reportagens escritas por jornalistas portugueses “pela única razão de que não merecem a escuridão do arquivo ou do esquecimento. Merecem ser lidas por novos leitores ou relidas por aqueles que, certamente, não as esqueceram”. Todas elas foram publicadas na década de 90, obedecem a gosto pessoal de José Vegar, incluem histórias sobre guerra, operações militares, problemas ou acontecimentos sociais importantes (seropositividade, gangs juvenis, impunidade dos policias, homicídios cometidos por um psicopata...). Há reportagens feitas dentro e fora de Portugal. Os nomes dos seus autores são sobejamente conhecidos de todos, por exemplo: Adelino Gomes, Clara Pinto Correia, Felícia Cabrita, Fernanda Câncio, Fernando Dacosta, Joaquim Vieira, José Pedro Castanheira, Miguel Sousa Tavares.
Nesta antologia aparece uma peça impressionante intitulada “Comandante Hussi” por Jorge Araújo publicada em O Independente, numa edição de Fevereiro de 1999. De acordo com José Vegar, Jorge Araújo é um repórter experiente em cenários de guerra, é um buscador de personagens, de pessoas que possam ser um símbolo e um testemunho importante do que aconteceu em determinado momento em algum lugar do mundo. “No caso do conflito na Guiné-Bissau, Jorge Araújo, profissional na Televisão de Cabo Verde, BBC e O Independente, foi particularmente feliz. Quis o acaso que nas ruas de Bissau alguém lhe indicasse o miúdo António Hussi, o mais jovem guerrilheiro de Ansumane Mané. O repórter deixou-se ficar junto dele, ouviu-lhe confidências e narrações dos episódios da guerra. Através dele, contou a batalha de Bissau e revelou ao leitor o desejo de um miúdo recuperar a sua bicicleta”.

António Hussi era pobre mas tinha um tesouro, uma bicicleta pintada de lama, pedais amputados, selim desengonçado, os raios das rodas a contorcer-se de dor. Um dia o menino foi obrigado a abandonar a sua bicicleta, as balas caíam do céu, a guerra civil veio com toda a força, a mãe partiu e levou a família, o pai ficou a combater, ao lado de Ansumane Mané. Assim chegaram a Nhacra. Para trás ficara Bissau. As ruas desertas asfaltadas de cadáveres, casas abandonadas feridas de balas, almas penadas vestidas de medo. A fome, a tragédia, a irracionalidade. Os abutres em voo picado sobre corpos em decomposição. As famílias divididas, os bairros atingidos, as vidas destruídas. Uma cidade inteira a sangrar de dor. Uma orgia de violência que, a pouco e pouco, gangrenou o resto do país. Hussi comunicou à mãe que ia regressar a Bissau, a mãe disse que não, ele fugiu. Em Bissau pôs-se à procura do pai.

“Não viste o meu pai? Chama-se Ablei Sissé”. O pai perdeu a fala quando deu de caras com o filho, bateu-lhe muito, mas o menino não cedeu. Então o pai decidiu que o Hussi ia fazer tudo como se fosse um homem grande. “E ele fez. Transportou armas e munições para a linha da frente, fez de pombo-correio, foi ajudante cozinheiro. Não matou mas viu morrer. Passeou pelos horrores de uma guerra fratricida com a mesma inocência que antes com que antes pedalava na sua bicicleta pelas ruas de Bissau”. Depois assistiu à internacionalização da guerra, chegaram milhares de soldados do Senegal e da Guiné Conacri que morreram ao lado dos homens fiéis de Nino Vieira. Em 6 de Maio, por volta das 11 da manhã, as tropas de Ansumane Mané furaram a barreira de Nino Vieira, o ditador refugiou-se na Embaixada de Portugal. O menino Hussi assistiu a tudo, viu o vandalismo em que as tropas senegalesas deixaram as já precárias infra-estruturas de Bissau, passeou-se entre o fogo-de-artifício da artilharia, presenciou a destruição do Centro Cultural Francês. Chegou ao Palácio Presidencial que ardia como um archote. “Assistiu ao saque e à ira da população. Subiu as escadas do velho edifício colonial, atravessou as portas imponentes, vagueou pelas enormes salas abandonadas, vasculhou destroços calcinados, distribuiu abraços pelos soldados vencedores, tropeçou em Kalashknikovs que adormeciam pelo chão”. Os soldados de Ansumane Mané trataram-no como herói. É conhecido por “Comandante Hussi. Percorre a cidade de Bissau, só não vai ao hospital para não ver os meninos da sua idade massacrados pela guerra.

Assim que a guerra terminou, Hussi deu um salto até à sua casa, situada no bairro de Santa Luzia. Comoveu-se muito, o seu tesouro mais valioso estava são e salvo. “Pintado de lama, pedais amputados, selim desengonçado, os raios das rodas a contorcer-se de dor. A sua bicicleta estava suja e abandonada. Mas era a sua bicicleta”.

Quem gosta de reportagem, não pode ficar insensível a este comandante Hussi.
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Nota de CV:

(*) Vd. poste de 5 de Dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5409: Postais ilustrados (18): Postais Antigos da Guiné, de João Loureiro - O Povo e os Costumes (Beja Santos)

Vd. último poste da série de 2 de Dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5393: Notas de leitura (41): Golpes de Mão's - Memórias de Guerra, de José Eduardo Reis Oliveira, JERO, para os amigos (Belarmino Sardinha)

Guiné 63/74 - P5424: História da CCAÇ 2679 (30): Situação geral no mês de Outubro de 1970 (José Manuel M. Dinis)

1. Mensagem de José Manuel M. Dinis*, ex-Fur Mil da CCAÇ 2679, Bajocunda, 1970/71, com data de 5 de Dezembro de 2009:

Carlos, meu Caro,
Quem toca muitos instrumentos e adiciona uma pitada de preguiça no seu dia-a-dia, deixa para trás a História da Companhia. Do facto peço desculpa, mas não prometo emendar-me.
Depois desta explicação anuncio o envio de novo episódio anexo, coisa que não me deu muito trabalho, na medida em que o extaí da "História da Unidade", um apontamento dos factos que marcaram a nossa vida na Guiné.
Manda subir o pano se fazes o favor.


Situação geral durante o mês de Outubro de 1970
Por JMMD

Durante o mês de Outubro o IN manifestou-se por três vezes na área do Sub-sector com três acções de iniciativa própria:

- Flagelação ao Aquartelamento de Bajocunda em 16OUT70
- Flagelação ao Destacamento e tabanca de Copá em 26OUT70
- Flagelação à tabanca e estacionamento de Tabassi em 30OUT70

Em todas estas acções o IN retirou com bastantas baixas, abandonando no terreno diverso material, especialmente na flagelação de Tabassi em que deixou no terreno 4 mortos e 1 ferido em estado grave, que veio mais tarde a falecer.
A actividade da Companhia também se manteve bastante intensa, efectuando-se vários patrulhamentos e emboscadas nocturnas.

O Pel Mil 269 continua estacionado em AMEDALAI, em protecção à tabanca.

Ao longo do mês são referidos vinte e sete patrulhamentos, seis dos quais pelo pessoal de Copá e um pelo Pel Mil estacionado em Amedalai, que colaborou em outras duas destas acções.
Refere ainda a História da Unidade que, no dia 22OUT70 o 9. º Pel Art executou 106 tiros de obus 10,5 em fogo de retaliação contra alguns acampamentos IN sitos em território senegalês.

Relativamente às acções inimigas acima identificadas, escreve-se o seguinte:

Em 16OUT70: cerca das 02H05, 01 grupo IN de efectivo estimado em cerca de 100 elementos instalou-se e flagelou com Morteiro 82 mm, Canhão S/R B-10, LGF RPG-2 e armas ligeiras durante 35 minutos o Aquartelamento e tabanca de Bajocunda, na direcção NNE, do lado de MADINA QUETO, a cerca de 300, e 50 metros do arame farpado, dispositivo em L, junto do campo de aviação.

O fogo das armas pesadas IN (Mort 82 mm, Canhão S/RB-10 e LGF RPG-2) caíu a maior parte na tabanca e dentro do Aquartelamento. O fogo IN que se verificou estar bastante bem regulado não causou qualquer tipo de baixa às NT, mas causou dois mortos (01 mulher idosa e 01 criança de 1 ano) e três feridos graves à população. O fogo IN devido à sua boa regulação causou ainda alguns estragos materiais tanto na tabanca como no Aquartelamento: 15 moranças da população destruidas e queimadas e uma parte da cobertura do edificio das Transmissões e Messe de Oficiais destruídas, uma parede da Sala do Soldado e a base de cimento do poste da bandeira danificadas, e alguns fios da instalação eléctrica e telefónica rebentados.

As NT reagiram prontamente pelo fogo provocando a retirada desordenada do IN.

O 9. º Pel Art bateu toda a Z.A. e de retirada IN e o 8.º Pel Art, em Pirada, em acção conjugada com aquele, apoiou com fogo muito certeiro BAJOCUNDA, a pedido desta, que pelos meios rádio regulou o mesmo.
Entretanto 01 GCOMB quando cessou o fogo de artilharia, saíu procurando envolver o IN pelo lado Norte ou pelo menos interceptar-lhe a retirada, não o conseguindo porém.

No reconhecimento efectuado pelas NT de madrugada verificou-se que o IN utilizara 02 MORT 82 mm, 02 Canhões S/R B-10, 14 LGF RPG-2 e número não estimado de armas ligeiras.
Os morteiros e canhões S/R estavam colocados aproximadamente a cerca de 300 metros do arame farpado que serve de vedação ao estacionamento, no extremo norte da pista de aviação, sem que o local onde estiveram colocados denotasse quaisquer trabalhos de organização de terreno, estando apenas cobertos das vistas por arbustos e capim alto.
As armas ligeiras e alguns LGF RPG-2 haviam-nas colocado a cerca de 50 metros do arame, ao longo da pista.

Dos vestígios deixados no local de instalação IN e pela colocação do fogo das NT no mesmo, confirma-se a retirada desordenada do IN com algumas baixas e que abandonou no terreno algum material.

Em 26OUT70, pelas 20H15, 01 Grupo IN, de efectivo estimado, entre 50 a 60 elementos instalou-se e flagelou com Morteiro 82, LGF RPG-2 e armas ligeiras durante 20 minutos o Destacamento e tabanca de Copá na direcção Oeste-Leste do lado de Bajocunda a cerca de 100 e 150 metros do arame farpado, estrada de Bajocunda dum lado e outro, dispositivo em linha. Enquanto 01 Grupo IN fazia fogo sobre o Destacamento, outro Grupo IN tentou juntar vacas da população de Copá para levá-las para o Senegal conseguindo porém apenas levar uma, devido à nossa pronta reacção.

O fogo das armas pesadas IN caíu algum dentro da vedação de arame farpado do Destacamento e embora mal ajustado causou às NT 01 ferido grave (soldado milícia) que foi evacuado para HM 241 e à população 01 ferido ligeiro. O IN causou ainda alguns estragos materiais queimando 03 moranças da tabanca com todos os seus haveres.

As NT reagiram prontamente pelo fogo provocando a retirada desordenada do IN. O 19.º Pel Art em Canquelifá apoiou com fogo muito certeiro Copá. Entretanto uma força do Destacamento, comandada pelo Fur Mil Barbosa, com 18 elementos, quando cessou o fogo de artilharia, saíu procurando cortar a retirada ao IN pelo lado norte, não o conseguindo porém.

No reconhecimento efectuado pelas NT verificou-se que o IN se aproximara por POPOGE, CUNTIM COPÁ e retirara em sentido inverso. Pelos vestígios deixados no local de instalação IN, presume-se que este utilizara 01 Morteiro 82, e 07 LGF RPG-2 sem no entanto efectuar quaisquer trabalhos de organização do terreno. Destes vestígios e pela colocação do fogo das NT levando prováveis baixas e abandonando no local 01 granada de LGF RPG-2 e 02 carregadores de espingarda automática Kalashnicov.

Em 30OUT70, cerca das 23H45 01 Grupo In de efectivo estimado em cerca de 50/60 elementos, instalou-se e flagelou com LGF RPG-2 e RPG-7 e armas ligeiras, durante 30 minutos a tabanca de TABASSI, na direcção norte, a cerca de 70/80 metros do arame farpado, dispositivo em L.

O fogo das armas pesadas IN caíu a maior parte em frente dos abrigos 5, 6 e na tabanca, tendo logo o primeiro rebentamento de RPG-2 atingido o abrigo 6 onde se encontravam 04 elementos das NT ferindo dois deles gravemente.

O fogo IN não causou qualquer tipo de baixas à população mas provocou o incêndio de 02 moranças da mesma.

As NT reagiram prontamente pelo fogo provocando a retirada desordenada do IN e causando-lhes bastantes baixas, 05 das quais (04 mortos e 01 ferido) foram abandonados na ZA pelo IN.

O 9.º Pel Art bateu toda a ZA e de retirada IN, e o 8.º Pel Art em Pirada, em acção conjugada com aquele, apoiou com fogo muito certeiro TABASSI a pedido desta, que pelos meios rádio regulou o mesmo. Houve um excepcional controle da situação e reacção imediata ao fogo IN por parte de todo o pessoal em protecção e reforço à tabanca, devido em parte à acção preponderante do comandante do GCOMB que fazia a protecção à tabanca, que soube localizar logo de início o local de instalação IN e bateu com fogo muito certeiro de Morteiro 60 mm toda essa zona, ao mesmo tempo que regulava por meios rádio o fogo de apoio da artilharia. A sua acção foi secundada por todo o pessoal do seu Pelotão que reagiu prontamente, destacando-se pelo seu sangue frio, espirito combativo e valentia o Soldado ORLANDO FERDINANDO ANDRADE que apesar de ter sido ferido gravemente, logo no início da flagelação, ainda conseguiu arranjar forças para se deslocar até ao seu LGF 8,9 cm disparando-o uma vez e fazendo ainda depois, fogo de G-3, continuando sempre a encorajar os seus camaradas para prosseguirem a luta até que a dor e a gravidade dos ferimentos recebidos o obrigaram a desfalecer por completo.

Entretanto uma força da Companhia, quando cessou o fogo de artilharia saíu de Bajocunda tentando cortar a retirada IN e socorrer os feridos. Verificou-se que o IN se havia aproximado por um trilho entre o R.COLONDINTO e o R.TENQUINÃ e retirara em sentido inverso. No local de instalação IN não foi encontrado qualquer trabalho de organização de terreno. O IN tinha atiradores instalados entre 70/80 metros do arame farpado, havendo cerca de 06 LGF RPG-2 e 02 LGF RPG-7. Devido ao nosso fogo de reacção ter sido bastante ajustado o IN retirou com bastantes baixas, havendo a prová-lo 04 mortos confirmados, abandonados pelo IN no terreno e 01 ferido grave; além de bastantes vestígios de sangue e de corpos arrastados.

Segue-se uma descrição do material abandonado pelo IN.

Meu comentário:
Apesar da actividade operacional descrita, que pode corresponder à realidade, verifica-se que, só por isso, o IN não desarmou das suas investidas. Na verdade os nossos patrulhamentos de combate não passavam de passeios na mata. Nunca usámos um sistema de informações que nos desse as posições do IN e nos permitisse surpreendê-los, mesmo em território estrangeiro. Isto quer dizer, que na guerra que praticámos, nunca usámos da iniciativa. A excepção foram aqueles tiros de artilharia para o outro lado,com consequências previsíveis em civis. Um absurdo de quem comandava e coordenava as acções militares.

Quanto à descrição da História da Unidade, parece revelar algum desconhecimento do terreno por parte de quem a fez, no ripanço da Secretaria, mas com a obrigação de dar conta de operações, ataques e identificação de meios usados, caminhos de aproximação e retirada, dispositivos de ataque, e o mais que se possa ler, justificando salários chorudos para a época, fazendo afirmações sem correspondência com a verdade, por exemplo, que em Tabassi o IN atacou num dispositivo em L (presumo que um ataque em L reflete duas frentes unidas que formam um ângulo mais ou menos recto), e que a distância para o arame era de 70 metros, quando a orla da mata densa estaria a uns 20 metros do arame, e o pessoal a uns 10 metros, do lado interior.

Também no ataque a Bajocunda é referido um dispositivo suicida. Em L, com o fogo orientado de NNE, as armas pesadas a 300 metros e as ligeiras a 50. Se o dispositivo era em L, teria que haver duas direcções de fogo para não se sobreporem. Poderiam umas armas estar a norte, e as outras a leste, mas a descrição não é minimamente militar, e revela que não foram ao local da instalação IN. Escreveram o que ouviram dizer ou inventaram, mas sem preocupação de rigor. No entanto, se L se refere a dispositivo em linha, já bate melhor. Por curiosidade, nos dias em que se registaram ataques IN, não são referidos patrulhamentos. Continuo a pensar que, sem fiscalização, quer à gestão material, quer à gestão da actividade operacional, estivémos a gastar recursos públicos e humanos para uma derrota anunciada.
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 3 de Novembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5202: História da CCAÇ 2679 (29): Um dia no calendário da Guiné (José Manuel M. Dinis)

Guiné 63/74 - P5423: Patronos e Padroeiros (José Martins) (7): Transmissões - Arcanjo S. Gabriel




1. Na sua mensagem de 5 de Dezembro de 2009 o nosso camarada José Marcelino Martins (ex-Fur Mil, Trms da CCAÇ 5, Gatos Pretos, Canjadude, 1968/70) fala-nos de mais um Patrono do Exército. Desta feita Arcanjo S. Gabriel da Arma de Transmissões.





PATRONOS E PADROEIROS - VII

TRANSMISSÕES – ARCANJO S. GABRIEL



Gabriel, “o homem forte de Deus”, tornou-se conhecido por ser o mensageiro das boas novas, não só na religião católica, mas também na muçulmana, que acredita que foi através de Gabriel que Deus revelou o Corão a Maomé, assim como Gabriel é citado na obra mística de Bahá'u'lláh, dos Bahá'í.

No Evangelho, segundo S. Lucas, logo no primeiro capítulo, é São Gabriel que anuncia a Zacarias, sacerdote segundo o costume dos sacerdócio, que Isabel, sua esposa que era considerada estéril, iria ter um filho, a quem poriam o nome de João, que viria a ser conhecido por São João Baptista.

No que respeita ao nascimento de Jesus, São Lucas disse: "Foi enviado por Deus o anjo Gabriel a uma cidade da Galiléia, a uma virgem chamada Maria, e chegando junto a ela, disse-lhe: "Salve Maria, cheia de graça, o Senhor está contigo". Ela ficou confusa, mas disse-lhe o anjo: "Não tenhas medo, Maria, porque estais na graça do Senhor. Conceberás um filho a quem porás o nome de Jesus. Ele será filho do Altíssimo e seu Reino não terá fim".

A pena numa mão e o papel na outra, estes são os instrumentos necessários e suficientes para um mensageiro.

Em 12 de Janeiro de 1951, o Papa Pio XII declarou o Arcanjo São Gabriel como o Patrono das Telecomunicações, que, pela mesma razão é considerado Patrono da Arma de Transmissões.

José Marcelino Martins – 5 de Dezembro de 2009
[Organizado a partir de imagem do portal do exercito e texto da Wikipédia]


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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 1 de Dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5383: Patronos e Padroeiros (José Martins) (6): Serviço de Saúde - S. João de Deus

Guiné 63/74 - P5422: O meu Natal no mato (23): Era lá noite de se embrulhar!... (Joaquim Mexia Alves)




1. O nosso Camarada J. Mexia Alves, ex-Alf Mil Operações Especiais/RANGER, que de DEZ1971 a DEZ1973 passou pela CART 3492 (Xitole / Ponte dos Fulas) do BART 3873 (Bambadinca, 1971/74), depois ingressou no Pel Caç Nat 52 (Ponte do Rio Udunduma, Mato Cão) e acabou a sua comissão na CCAÇ 15 (Mansoa), enviou-nos uma mensagem com um conto da Natal:



Camarigos,


Quando chega o Natal a minha pobre veia "escritora" vem ao de cima.

Acabei há uns dias de escrever o meu conto de Natal para o meu blogue pessoal, onde expresso a minha vivência da fé cristã, e hoje deu-me para pensar no Natal na Guiné.

Daí, surgiu este conto, que nada tem de realmente acontecido, mas que tem muito de real com o vivido interiormente.

Foi escrito num repente, por isso pode ter erros de construção!  Perdoem-me as falhas, por favor!



Presépio do Santuário de Fátima 
(in Wikipédia, enciclopédia livre)


Noite de Natal algures na Guiné


Ele sabia lá o que fazer, ou mais do que fazer, o que viver!

Era noite de Natal, mas aquele calor que o fazia transpirar, apesar de ser já de noite, não tinha nada a ver com o Natal.

Tentou lembrar-se como estaria a família naquele momento a tantos milhares de quilómetros de distância. Na sua memória apareceu muito nítida a imagem da sua mãe e do seu pai, junto com os seus irmãos ao redor da lareira lá de casa.

A imagem da lareira fez desprender da sua testa mais uma gota de suor.  Como é que raio com um calor destes, uma pessoa havia de viver o Natal?!

Bem,  se calhar o melhor era nem o viver, nem se lembrar disso, pois a àquela distância e naquelas condições mais valia não pensar em nada e ir deixando que o tempo passasse.  Mas era difícil, porque as imagens da recordação eram tão nítidas!

Àquela hora saíam todos para a Missa do Galo.  Curioso que naquela noite até aqueles que não iam à Missa, se deslocavam alegremente para a igreja e no fim até cantavam a plenos pulmões o Adeste Fidelis.

Uma gargalhada saiu da sua boca!  Veio-lhe à ideia o que seria chamar o Mamadu Djaló, e o Seco Braima, e pedir-lhes para cantarem com ele o Adeste Fidelis!!!

Se a fama de apanhado já o perseguia, então é que o internavam mesmo!

Olha, talvez fosse uma solução para sair dali, pensou. Seria um grande presente do Menino Jesus!

Deu mais um gole no whisky e quis imaginar o sabor do peru assado, do recheio do dito cujo, das batatas fritas a estalarem na boca, mas que caraças, apenas lhe vinha o sabor do chispe de lata que tinha comido ao jantar.

Imaginava a ansiedade dos sobrinhos mais novos à espera dos presentes, a maior parte das vezes coisas tão simples e baratas, mas que davam sempre origem a uma grande festa.

Sorriu e disse entre dentes:
- Deus queira que aqueles gajos não nos presenteiem hoje com fogo de artifício!

Via agora os seus irmãos sentados à roda da mesa, contando histórias e dizendo graças. Faltava pouco para um deles começar a cantar, e todos se lhe seguiriam.  O momento foi tão intenso que quase podia jurar que os conseguia ouvir!

Algo lhe despertou a atenção naquele momento.  É que o Furriel e o resto do pessoal que estavam ao seu lado, olhavam para ele com a boca aberta de espanto!

Só então se deu conta de que tinha começado a cantar com a sua família, que estava a milhares de quilómetros!

Tossiu para disfarçar e tentou esclarecer a coisa com uma desculpa esfarrapada:
- Tá-va a ver se ainda me lembrava, para no próximo ano cantar com a família!

Eles olharam para ele com aquele olhar de quem diz:
- Pois sim,  tá bem! Tás pouco apanhado,  tás!

Pensou então para si mesmo que, se o pessoal já se tinha apercebido dos seus pensamentos, mais valia então viver um pouco mais aquelas recordações.

Fechou os olhos para melhor recordar e passado um pouco ouviu distintamente o rebentar de um foguete!

Estava muito absorto a pensar quem é que raio lançava foguetes na noite de Natal, coisa que não era da tradição, quando o abanaram violentamente e lhe gritaram:
- Alferes,  para a vala, para a vala! Estamos a embrulhar!

Correu, saltou para a vala, e pouco depois deu uma gargalhada.  Olharam todos para ele com aquele ar de: "Agora é que o gajo se passou de vez”!!!

Então ele disse com um ar gozão:
- Então,  vocês não vêm que os gajos estão enganados! Na noite de Natal já estão os presentes todos embrulhados! Não é noite de se embrulhar!

Monte Real, 7 de Dezembro de 2009.

Abraço camarigo a todos do,
Joaquim Mexia Alves
Alf Mil Op Esp/RANGER


Mini-guião de colecção: © Carlos Coutinho (2009). Direitos reservados.

[[[ Revisão / fixação de texto / título: M.R.]
__________

Nota de M.R.:


Vd. último poste desta série em:



Guiné 63/74 - P5421: Parabéns a você (48): Jorge Teixeira (Portojo), ex-Fur Mil do Pel Canhões S/R 2054 (Editores)

1- No dia 8 de Dezembro, antigamente Dia da Mãe, faz anos o nosso camarada Jorge Teixeira (Portojo)*, ex-Fur Mil do Pelotão de Canhões S/R 2054, Catió, 1968/70.

Não podíamos deixar passar este dia sem virmos dar um abraço ao Jorge, desejando-lhe ao mesmo tempo que esta data seja festejada ainda por muitos anos, mesmo combatendo as pequenas maleitas que a idade vai trazendo. Que mantenhas uma juventude interior capaz de contariar o que está impresso no Cartão de Cidadão é também o nosso desejo.


2. Jorge Teixeira dirigu-se pela primeira vez ao nosso Blogue em Abril de 2007, mas só em Julho de 2008 se alistou na Tabanca Grande.

Mensagem com data de 31 de Julho de 2007, do nosso camarada Jorge Teixeira, ex-Fur Mil que esteve na Guiné entre 1968/70.

Amigo Luís
Como disse há dias, vejo, leio e passo, com uma lágrima ao canto do olho.

Nunca tive a coragem de deixar algo escrito, embora tenha muitas lembranças, que venho refazendo desde há dois anos para cá.
Se me permites, vou deixar hoje uma, pois marcou uma viragem na minha vida emocional.
Se achares que merece figurar nos arquivos, está à vontade.

Um abraço do
Jorge Teixeira

Catió, 1969, 1 de Agosto
Por Jorge Teixeira

Estamos a comemorar os nossos 15 meses.
Conseguimos uns pesos da CCS, através da influência do Comando, para comprar uns franguitos, e como foi difícil consegui-los.
Convite feito, por gentileza, aos nossos Primeiro e Segundo Comandantes, bem como ao Primeiro da CCS, lá fomos trinchar os bichos, divinamente arranjados pelo Carrapato, na messe dos oficiais.
Convívio terminado, fomos ao posto de Catió Fula, levar umas cervejas e umas sandes ao nosso pessoal que estava de serviço.
Depois os mais resistentes ainda me acompanharam numas cervejas na messe dos sargentos

Fomos deitar nas calmas, mas ainda estava a ler o meu livro da ordem, quando cerca das 2 da manhã, estourou um fogachal tremendo dentro do Quartel e de Catió.
O maior barulho que jamais ouvi.
Eles estavam dentro de Catió.
Como habitualmente nos casos de fogachal, o meu pessoal que estava na unidade, tinha de arrancar para reforçar os postos exteriores.
Toca de arrancar debaixo daquela sinfonia de luz e cor. Pelo caminho muitas escaramuças.

Regresso ao quartel já o dia a clarear, cerca das 5 da manhã. É que o Comando se esqueceu de nós... e tudo dormia na santa paz dentro da unidade.

Fizemos o reconhecimento
Conclusão: 1 morto e um prisioneiro do lado IN e captura de razoável quantidade de armamento e munições.
Da nossa parte só escoriações.

As granadas de bazooca capturadas, com a autorização do meu pessoal, trocámo-las pelo dinheiro a que tinhamos direito. É que não tinhamos uma única granada explosiva. E as incendiárias, fora de prazo há anos, tinham apenas o efeito psicológico do barulho. As que explodiam.

O pior veio a seguir.

Fui ao banho e estava na messe a tomar o pequeno almoço, quando alguém me avisou que o Comando (?) deu ordem para expor o MORTO, juntamente com o armamento em frente à porta da unidade!!!
Eu não quis acreditar, mas era verdade. Corri ao meu quarto, peguei na máquina fotográfica e fui fotografar aquele quadro.

Às 9 horas tinha fotos reveladas e 4 delas prontas para mandar para a Metrópole para os meus amigos mais íntimos verem uma ideia miserável.
Por qualquer razão, nenhum desses amigos chegou a ver as fotos... pois nunca as receberam.

Já tinha visto vários mortos, dos dois lados, que me chocaram imenso.
Mas no momento em que enquadrei este morto na máquina, senti uma espécie de baque. A partir desse dia a minha vida passou a ser um inferno.

O medo apossou-se de mim de tal maneira, principalmente à noite, que redobrei de cuidados e de segurança. Passei a ser muito duro com o meu pessoal sobre esse aspecto.
Mas esses cuidados e os desenfianços no mato não chegaram, pois cerca de um mês depois tivemos a primeira baixa no pelotão.

E até hoje me sinto culpado dela, pois o rapaz foi-me substituir numa missão. Embora estivesse doente, a cabeça não me deixava esforçar mais. E era uma missão tão simples, tão rotineira.



3. Não tendo encontrado no nosso Blogue fotografias do Jorge Portojo em traje de guerra, achei que a melhor homenagem que lhe podia prestar era publicar algumas das sua maravilhosas fotos dedicadas à sua cidade berço, o Porto.

Permito-me ainda acrescentar duas fotos dedicadas ao Concelho de Vila do Conde, donde sou natural.

Linda fotografia, qual pintura, do Castelo do Queijo

Objectiva curiosa da Igreja dos Clérigos

As célebres "Alminhas da Ponte" que lembram a tragédia do dia 29 de Março de 1809, quando a Ponte das Barcas, que ligava Porto e Gaia, ruiu durante a fuga do povo portuense aos invasores franceses.

Linda perspectiva nocturna sobre a Ribeira do Porto.

Se Maluda pintou os Telhados de Lisboa, Portojo fotografou os Telhados do Porto

Muro dos Bacalhoeiros na Ribeira do Porto

Homenagem de Portojo a mim, fotografando a Igreja Matriz de Azurara onde fui baptizado em Abril de 1948.

Homenagem às Rendilheiras de Vila do Conde.

Fotos: © Jorge Teixeira (Portojo) (2009). Direitos reservados.


OBS:- Num dos PP dedicados a Vila do Conde, Portojo incluiu a canção "Feiticeira" interpretada pelos Trovante. Lembrei-me então dos versos de um fado de Coimbra dedicado às Rendilheiras de Vila do Conde, que o meu pai dizia ser cantado por António Menano, e onde aparece a palavra feiticeiras.

Canção das Rendilheiras de Vila do Conde

Rendilheiras que teceis
As lindas rendas à mão
Eu dou-vos se vós quereis
P´ra almofadar meu coração

Rendilheiras que teceis
As lindas rendas à mão
Eu dou-vos se vós quereis
P´ra almofadar meu coração

Oh...
Vem à janela que a noite está bela
Vem ao luar
Linda rendilheira deixa a travesseira
Vem ouvir cantar
Oh... Vem à janela que a noite está bela
Vem ao luar
Linda rendilheira deixa a travesseira
Vem ouvir cantar

Freiras da Santa Clara
Lindas monjas feiticeiras
Há restos da vossa graça
Na boca das rendilheiras



4. Jorge Teixeira faz parte da Tabanca de Matosinhos e do Bando do Café Progresso. Ainda tem o seu Blogue Portojo,Parar,Escutar,Ver,Andar, onde escreve e publica as maravilhosas fotos que só ele sabe captar da sua cidade. A ver.

http://jportojo.blogspot.com/
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Notas de CV:

(*) Sobre Jorge Teixeira (Portojo), ver postes de:

11 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1652: Tertúlia: Três novos candidatos: José Pereira, Hélder Sousa e Jorge Teixeira

7 de Setembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3180: Tabanca Grande (84): Jorge Teixeira, ex-Fur Mil, Guiné, 1968/70

5 de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3270: O meu baptismo de fogo (3): Catió, 6 de Junho de 1968 (Jorge Teixeira)

23 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3506: Tabanca de Matosinhos (6): Porto é Porto, é a minha terra (Jorge Teixeira)

9 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3587: Controvérsias (12): Chicos, furras e ripanços em Catió, 1968 (Jorge Teixeira)

16 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3636: O meu Natal no mato (15): Salsichas com arroz na messe de Sargentos, na Consoada de 1968... (Jorge Teixeira)

29 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3682: Os Combatentes e a responsabilidade do Estado. (Jorge Teixeira)

3 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P3974: Por falar em solidariedade (Jorge Teixeira)

5 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P3987: Recortes de Imprensa (14): Soldados mortos na guerra colonial terão memorial no Porto, JN de 5/3/2009 (Jorge Teixeira)

18 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4206: Estórias avulsas (29): Fur Mil Aguinaldo Pinheiro, o morto-vivo do BART 1913 (Jorge Teixeira)

18 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4548: Controvérsias (19): Como ajudei a "fabricar" três "desertores" (Jorge Teixeira/Portojo)

24 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4571: Dando a mão à palmatória (21): Irra é “AB” de Abraços, ou de Alfa Bravo e não de Almeida Bruno (Jorge Teixeira/Portojo)

30 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4614: Controvérsias (23): Milicianos… eram os peões das nicas! (Jorge Teixeira/Portojo)

30 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4760: Pensamento do dia (17): Recordando as Picas (Jorge Teixeira/Portojo)

17 de Setembro de 2009 > Guiné 63/74 - P4967: Agenda Cultural (26): Museu Militar do Porto (Jorge Teixeira/Portojo)

24 de Outubro de 2009 > Guiné 63/74 - P5149: Direito à indignação (8): Fomos forçados como presidiários a cumprir pena no degredo (Jorge Teixeira/Portojo)
e
29 de Novembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5373: Convívios (175): O Bando do Café Progresso, reune-se uma vez por mês na cidade do Porto (Jorge Teixeira (Portojo)

Vd. último poste da série de 2 de Dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5387: Parabéns a você (47): Herlander Simões, ex-Fur Mil At (Nova Sintra, Nhacra e Guileje, 1972/74) (Editores)

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Guiné 63/74 - P5420: FAP (38) : O helicóptero Alouette II ou uma arrepiante viagem na 'montanha russa' até ao HM 241 (Jorge Félix)


Guiné > Região de Tombali > Guileje > CCAÇ 726 (Out 64 / Jul 66) >  O pessoal em operações militares: na foto, acima, transporte às costas de um ferido, evacuado para o HM 241, em Bissau, por um helicóptero Alouette II (versão anterior do Alouette III, que nos era mais familiar, sobretudo para aqueles que chegaram à Guiné a partir de 1968).

Fotos: © Alberto Pires (Teco)./ AD - Acção para o Desenvolvimento, Bissau (2007) / Jorge Félix (2009). Direitos reservados.



1. Mensagem do Jorge Félix, ex-Alf Mil Pil Heli Al III, BA 12, Bissalanca, 1968/70,

Caro Luís,

Li com algum espanto o P5417 (*).

Não vou tecer qualquer comentário  por respeito aos milhares de combatentes que deram o que podiam na Guerra do Ultramar .

Como o teu Blogue, já nosso, tem antes de mais, a qualidade de recordar para tratar, vou falar do Heli onde aprendi a pilotar os "zingarelhos" e está numa foto deste P5417.

A foto do Alberto Pires [Teco] era a BW [preto e branco] e eu dei-lhe uma coloração para se perceber melhor.

O heli era o Alouette II (dois). O que está na foto já tem rodas, os que conhecia eram todos com Patins. Nesta altura, os feridos eram transportados no "caixão" que eu destaquei a amarelo. Podes imaginar como arrepiante seria vajar, amarrado e bem amarrado, naquele cubículo do lado de fora da carlinga...

Cada um de nós teve o pior da guerra, (eu felizmente tinha whisky servido de bandeja à chegada na placa), mas um ferido evacuado num Heli Al II, deve ter tido a pior experiência da sua vida.

Como é que de um Blogue  tão extenso fui dar importância a este pequeno acontecimento?

Um abraço

Jorge Félix
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Nota de L.G.:

(*) 7 de Dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5417: Dossiê Guileje / Gadamael 1973 (15): Ainda e Sempre Guileje (Victor Alfaiate, ex-Fur Mil Trms, CCAV 8350, 1972/74)

Guiné 63/74 - P5419: Os Nossos Camaradas Guineenses (22): Muitos se salvaram pela solidariedade que existia entre todos, brancos e pretos (Braima Djaura, Sold Cond CCaç 19, Guidaje, 1972/74)



Guiné > Região do Cacheu > Guidaje > Cufeu > Maio de 1973 > A caminho de Guidaje, os comandos da 38ª CCmds deparam-se com um espectáculo macabro... Cadávares de combatentes das NT e do IN abandonados, na sequência da batalha de Guidaje... Nesta imagem, brutal embora de má qualiddade, vê-se o cadáver de um elemento das NT, africano NT (provavelmente da CCAÇ 19), com a cabeça apoiada num tronco de árvore...O braço, assinalado com um círculo a amarelo, é o do 1º Cabo Cmd Mendes, à procura de documentos para identificar o cadáver.


Foto: © Amilcar Mendes (2006). Direitos reservados.

Cópia do título de caixa alta do jornal Público, "O inferno de Guidje", 5 de Novembro de 1995




Guiné > Região do Cacheu > Guidaje > CCAÇ 19 > Monumento de homenagem ao Alf Mil Op Esp António Sérgio Preto, morte em combate em 26/6/1972... A esta companhia pertenceu o Braima Djauro, Sold Cond Auto Rodas, u sobrevivente de Binta, Somaje, Cufeu, Ujeque, Guidaje... Foto do Albano Costa, que esteve em Guidaje, depois ds combates de Maio de 1973, pertecendo CCAÇ 4150 (197374).

Foto: © Albano Costa (2005). Direitos reservados.



1. Comentário, de ontem (*), do novo membro da nossa Tabanca Grande (a partir de hoje), Braima Djaura, ex-Sold Cond Auto, CCAÇ 19, Guidaje, 1972/74 (**)...


Caros Camaradas, tenho o privilégio de ver e ler esse Blogue quase diariamente. Até tive um contacto com Camarada Luis Graça por e-mail, sem êxito. Digo privilégio porque tenho um velho computador oferecido por um grande amigo que também cumpria [serviço] na Guiné, condição que me que permite ver e ler várias narrativas e fotos da Guerra e dramas da Guerra, e pós-Guerra.

Até que um dia comentei a suplicação de um Camarada que falou de Malan Baldé, com quem lutou junto por Portugal nas selvas da Guiné, lamentando a situação de esse Camarada, M. Baldé, a vaguear nas Ruas de Lisboa (***)

Percebi que esse amigo, humanamente a meu ver, ficou triste por isso, e entendo logo as palavras dele. É um Homem que se prontifificou a solidarizar-se e a ajudar Malan Baldé, se pudesse claro. Embora [haja] centenas de Malan Baldé, hoje estão na mesma situação, sem meios de sobreviver, doentes, com as sequelas da Guerra Colonial, nem sequer [podendo] tratar-se por dificuldades de acesso.

Acontece que vi neste Blogue tantos nomes na vossa Lista, muitos conhecidos, até combatemos juntos nas matas da Guiné, que não conseguiram escapar aos Fuzilamentos na Região de Mansoa. Estas pessoas já foram e estão enterradas numa vala comum.

Ora bem, Camaradas, nós fomos Militares, mandados combater juntos, sejam Brancos ou Pretos. Havia solidariedade entre todos. Vejo lista dos que não tiveram Sorte, conheço tantos na Lista, tais com Bara Dabó e Malan Sani, que eram de CCaç 14 (*) Ambos podiam ter morrido na tentativa de socorrer Guidaje, entre Samoje e Cufeu, onde morreram tantos Brancos e pretos.

Ora bem, Camaradas, li um comentário de um anónimo falar nas matérias politicas, em ajuste de contas, em Amílcar Cabral, Luís Cabral e outros. Puro desconhecimento ou tentativa de ignorar os Camaradas que combatiam juntos em Nome de Portugal, [e que estão hoje] na miséria e mendicidade. Pergunto se esse Sr. que julga saber, foi ou não Militar? E porque esqueceu da solidariedade que existia entre Pretos e Brancos em nome de Portugal, hoje da UE [União Europeia]?

Caros Camaradas, a meu ver temos que ser solidários. Tal como muitos que convivem hoje na boa, salvaram-se por solidariedade que existia entre todos.

Meu nome é Braima Djaura, Cond Auto Ccaç 19, Guidaje. Acredito que muitos conhecedores deste Blogue também me conheciam, e sabem da CCaç 3 e da CCaç 19, Guidaje. Abraços.

[ Revisão / fixação de texto: L.G.]

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Notas de L.G.:

(*) Vd. poste de 6 de Dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5415: Os nossos camaradas guineenses (20): Homenagem aos 'Comandos' africanos fuzilados na Guiné (III) (Manuel Amaro Bernardo)

(**) Vd. poste de 7 de Dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5418: Tabanca Grande (194): Braima Djaura, Sold Cond Auto, CCAÇ 19, Guidaje, 1972/74, um sobrevivente

(***) Julgo tratar-se do Malan Baldé, filho do régulo de Saré Ganá, ex-milícia, ao serviço da CART 1690 (a que pertenceram os nossos camaradas A. Marques Lopes e Domingos Maçariço), e ex-Comando africano. Vd. poste de 14 de Novembro último, no blogue Batalhão de Artilharia 1914, Tite, Guiné.Bissau > Malan Baldé (Reprodução de artigo do António Moreira, amigo do A. Marques Lopes e do Domingos Maçarico, ex-Alf da CART 1690, e hoje advogado em Torres Vedras, publicado no jornal local Badaladas, de 13/11/09, com o título Malan Baldé: onde estás, Portugal ?).

Reprodução do texto introdutório do poste (assinado por Leandro Gueses):

(...) Com a devida vénia, trago-vos hoje um artigo que espelha bem o desprezo a que foram votados os ex-combatentes, sejam eles portugueses ou nativos.


Este artigo é escrito por António Moreira, hoje advogado em Torres Vedras, e que foi alferes miliciano na cart 1690, que pertencia ao BART 1914, que esteve em Tite pouco tempo e depois marchou para a região de Empada, onde teve várias baixas, incluindo o seu capitão. Após a morte deste, o Alf Moreira foi comandante da Companhia durante muito tempo.


Foi uma companhia que sofreu bastante e daí o valor que este nosso companheiro dá à lealdade e ao respeito devido a quem se entregou de alma e coração às causas em que acreditava. Não interessam as razões.


Neste caso, Malan Baldé, um nativo integrado nas nossas tropas de então, um bravo, um herói e que agora vive em Lisboa em condições miseráveis e de grande necessidade.


Os ex-Combatentes foram mandados para o Ultramar pelos politicos e pelos políticos têm sido humilhados, desprezados e esquecidos. (...).

Guiné 63/74 - P5418: Tabanca Grande (194): Braima Djaura, Sold Cond Auto, CCAÇ 19, Guidaje, 1972/74, um sobrevivente



1. Mensagem que nos chegou, com data de 22 de Julho de 2009, através do e-mail de Ibrahimo Djaura
Caro Camarada Luis, já há vários meses que sou leitor assíduo deste Blogue, pelo que gostaria de me associar com as minhas histórias e fotos. Aliás já tinha enviado algumas fotos, mas não me parece [que tenham sido] aceites [ou recebidas].

Agradeço a sua sugestão por forma a poder ter acesso [a esse blogue] e publicar algumas histórias da minha companhia em Guidaje, CCaç 19, onde estive de 1972 a 1974.

Melhores cumprimentos, Djaura.

2. Embora com as azáfamas próprias do final do ano lectivo e início de férias, respondi-lhe telegraficamente no dia seguinte:


Camarada Djaura:

Serás bem vindo à nossa Tabanca Grande... Entra, acomoda-te, senta-te aqui ao pé dos teus camaradas, desde os mais velhinhos aos mais piras, e conta as tuas histórias, debaixo do nosso poilão..

Apresenta-te, manda por mail, para o nosso endereço, luisgracaecamaradasdaguine@gmail.com, o(s) teu(s) texto(s) e fotos digitalizadas...

Diz quem és, onde vives, etc. Um Alfa Bravo (abraço).

3. Resposta,pronta, do Braima Djaura, nesse próprio dia, 23 de Julho:


Sou natural da Guiné, onde cumpri serviço militar. Antes fui preso dez dias pela PIDE-DGS, por não querer cumprir serviço militar em 1970. Lá fui então enviado para o CIM [ Centro de Instrução Militar], em Bolama, em 1971. Concluida Instrução Militar, fui enviado para CICA, para [tirar a especialidade de] condutor Auto Rodas. Fui colocado em Guidaje em Janeiro de 1972. [Fui transportado] no Navio Alfange. Ao chegar ao Cacheu, fomos escoltados por dois outros Navios do Destacamento de Fuzileiros aí estacionados.

Foi nesta altura que percebi, quando nos juntamos com outros Camaradas comandados pelo Capitão Caramona. Foi ele que nos informou que a nossa Companhia era a CCaç 19. Já no Porto de Binta, abrimos caixas de G3 e muniçoes, prontos para fazer os 21 Km até Guidage, zona considerada Inferno.

Assim começou tudo, não sei se muitos Camaradas sabem o que eu quero dizer, [com essa expressão], mas acho que sabem prefeitamente; Bom, mas o mais importante para já é poder aceder este Site, ou a esteS Sítio e a este Blogue, pois muito sinceramente adoro ver Camaradas que que falam da Guiné, e das Aldeias que muitos Naturais da Guiné, do pós-Guerra, desconhcem.

Muito sinceramente este Bloog serve para mim como uma Terapia diária desde que tomei conhecimento [da sua existência]. A história não pode nem deve morrer lá.

Junto a minhas fotos, e há mais para enviar, relativas à minha estada em Guidajee até junho de 1974.

Caro Luis e Camaradas, há muita história entre Binta, Cufeu, Ujeque e Guidaje, a 300 Metros da Fronteira com o Senegal, a 6 Km de Cumbamori uma Base importante de IN, até ao dia da operação "Resgate" em Maio de 1973.

Bem hajam todos e muita saúde já que estamos todos F... mas não nos deixaremos ser apanhados apesar de tudo. Alfa Bravo Romeu. Djaura.

3. Comentário do editor Luís Graça:

Camarada e, a partir de agora, amigo:

Não imaginas a alegria de encontrar um camarada como tu que, apesar das terríveis dificuldade por que passa a nossa Guiné (políticas, económicas, financeiras, sociais, sanitárias, etc.), ainda consegues acompanhar regularmente o nosso blogue e inclusive comentar os nossos postes.

Foi o teu comentário ao poste P5415, de ontem (*), que me veio alertar para a nossa troca de correspondência no verão passado. Há um lapso meu, de que tenho me penitenciar, pedindo-te desculpa em primeiro lugar. De facto, já devias ter sido formalmente apresentado à nossa Tabanca Grande (nossa, de todos nós, camaradas que fizeram juntos a guerra colonial da Guiné, enter 1963 e 1974). Cumpriste os requisitos todos, falta-te apenas contar, pelo menos, uma história de Guidaje, de preferência desse tempo terrível que foi a batalha de Guidaje em Maio de 1973... Sabemos como a tua CCAÇ 19 mas também outras unidades, dos très ramos das Forças Armadas Portugueses, sofreram nessa altura com a ofensiva do PAIGC. Temo aqui falado disso. Ficarei a aguardar, com muito interesse, o(s) teu(s) depoimento(s).

Vou, entretanto, publicar à parte o teu comovente e solidário comentário, em memória dos nossos camaradas guineenses (alguns dos quais tu conheceste e eu também - gente da CCAÇ 12 , da CCAÇ 21, e da 1ª CCmds Africana). miseravelmente mortos, sem direito a um julgamento decente, de acordo com as normas mais elementares do direito internacional, e à revelia do acordo de paz assinado entre o governo português e o PAIGC. Mas sobre isso ainda há muita coisa para esclarecer e denunciar: não para reparar o irreparável, mas por "dever de memória e justiça", para que nunca se voltem a repetir, nessa terra quente, verde e vermelha que nos é tão querida, cenas trágicas como essas, as das execuções sumárias dos teus, dos meus, dos nossos antigos camaradas entre 1975 e 1980... Escreve na volta do correio, e fala um pouco mais sobre ti... (O que puderes, quiseres e souberes contar...).

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Nota de L.G.:


(*) Vd. poste de 6 de Dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5415: Os nossos camaradas guineenses (20): Homenagem aos Comandos africanos, fuzilados no pós-independência (Manuel Amaro Bernardo)